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MONOGRAFIA 29 05 2015 ÍNTEGRA

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Prévia do material em texto

1 
 
FACULDADE SANTA TEREZINHA – CEST 
CURSO DE DIREITO 
 
 
TAYANE MICHELLE DA SILVA CUTRIM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILIAÇÃO MULTIPARENTAL: 
 efeitos jurídicos no ramo do Direito de Família e Direito das Sucessões 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís 
2015 
 
 
2 
 
TAYANE MICHELLE DA SILVA CUTRIM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILIAÇÃO MULTIPARENTAL: 
efeitos jurídicos no ramo do Direito de Família e Direito das Sucessões 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Faculdade Santa Terezinha – CEST, para 
obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
 
Orientador: Prof. Esp. Lourival Serejo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís 
2015
 
3 
 
TAYANE MICHELLE DA SILVA CUTRIM 
 
 
 FILIAÇÃO MULTIPARENTAL: 
efeitos jurídicos no ramo do Direito de Família e Direito das Sucessões 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Faculdade Santa Terezinha – CEST, para 
obtenção do grau de Bacharela em Direito. 
 
 
 
Aprovada em ____/_____/______. 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
___________________________________________________ 
Desembargador Lourival de Jesus Serejo Sousa (Orientador) 
Esp. em Direito Público, Universidade Federal do Ceará. 
Esp., em Direito Processual Civil, Universidade Federal de Pernambuco. 
 
 
___________________________________ 
1º Examinador 
Titulação 
Intituição 
 
 
__________________________________ 
2º Examinador 
Titulação 
Intituição 
 
 
 
 
São Luís 
2015 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, por me dá a oportunidade de 
uma nova vida e uma nova história. 
À Alexsandro Cutrim, meu marido, por 
sempre me apoiar e corrigir meus erros 
quando se fizeram ocultos a mim. 
Ao Desembargador Bernardo Rodrigues, 
que foi e sempre será a minha inspiração 
para seguir em frente e ser tudo que eu 
sempre sonhei. 
Ao Desembargador Lourival Serejo, que 
aceitou de muito bom grado ser meu 
orientador e me dá a chance de aprender 
com ele. 
Por fim, mas não menos importante, a 
minha mãe Marisol Figueiredo e ao meu 
irmão Tony Wilder, que sofreram todas as 
dificuldades do mundo para poder me 
criar e educar como uma pessoa de bem, 
obrigada! 
 
 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
A Deus que restaurou a minha vida, o meu ser e a minha história. 
Ao meu marido, Alexsandro Cutrim, que me segurou e ajudou a superar 
os problemas nos momentos difíceis de nossas vidas, sem, contudo, nunca deixar 
de me amar igualmente ao primeiro dia do nosso casamento. 
À minha mãe, Marisol Figueiredo, e ao meu irmão, Tony Wilder, que me 
apoiaram e possibilitaram ser a pessoa de bem que sou, bem como conseguir alçar 
voos maiores do que eles conseguiram obrigada por tudo! 
Ao Desembargador Bernardo Rodrigues, que foi e sempre será a minha 
inspiração para seguir em frente e ser tudo que eu sempre sonhei. Que meu deu 
uma oportunidade e possibilitou que eu chegasse onde estou, quando ninguém 
acreditava que eu seria “alguém”. 
Ao Desembargador Lourival Serejo, que aceitou de ser meu orientador e 
me deu a chance de aprender ainda mais com ele. Um homem admirável que 
permaneceu humilde mesmo sendo um prestigiado pesquisador na área e não nega 
a ninguém o conhecimento que adquiriu ao longo dos tempos. 
Ao professor Delsio Pavan, que não negou nunca explicações e 
orientações a esta aluna e sempre foi muito gentil com todos o que procurou. 
Em suma, só tenho a agradecer a Deus, por todas as pessoas que 
passaram e continuam em meu caminho, porque todas elas contribuíram para que 
eu me tornasse uma pessoa ainda melhor e conseguisse chegar aqui, 
transcendendo esta fase da minha vida para que possa desbravar caminhos 
insondáveis. 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Se o direito não está posto para ditar o modelo 
único de uma família, os juristas devem afastar o 
medo de se defrontar com o diferente, com o outro 
em suas múltiplas experiências de ser e de se 
fazer um humano.” 
 Marcos Alves da Silva 
 
7 
 
RESUMO 
O objetivo da presente monografia é analisar a relevância da multiparentalidade e 
discutir os seus efeitos jurídicos no campo do Direito de Família e no Direito das 
Sucessões. Mostrar-se-á os efeitos da multiparentalidade e sua adequação no 
mundo fático. Para tanto, usa-se o método dedutivo para explanar as temáticas de 
forma objetiva e direta, bem como, o andamento dos casos reais de filiação 
multiparental no país. Comenta-se sobre o instituto familiar que passou por diversas 
modificações e existe um grande abismo entre as famílias contemporâneas e as 
modernas, apesar de ambas ainda conviverem juntas na mesma conjuntura. Isso 
porque, o modelo moderno de família ainda é muito formalista, tendo como base, os 
pais e os filhos. Aborda-se O formato da família contemporânea como é delineada 
de acordo com o afeto, não que deixara de existir o modelo tradicional, mas com o 
tempo sua aceitação foi mitigada perante a sociedade. O reconhecimento da filiação 
socioafetiva gera efeitos pessoais e efeitos que vão além da relação entre pais e 
filhos, como no caso da inelegibilidade do filho socioafetivo, enfatizando a 
multiparentalidade, como uma direção que aos poucos tem sido tomada pelos 
operadores do direitos a fim de dar efetividade a todos os laços afetivos existentes 
no âmbito familiar. 
 
Palavras- chave: Multiparentalidade, Efeitos, Direito de Família, Direito das 
Sucessões. Filiação. Casos Reais. 
 
 
 
 
8 
 
ABSTRACT 
The aim of this paper is to analyze the relevance of multiparentalidade and discuss 
its legal effects on family law field and Law of Succession. Show will be the effects of 
multiparentalidade and their suitability in the factual world. For this, we use the 
deductive method to explain the issues objectively and directly, as well as the 
progress of actual cases of multiparental membership in the country. It is said about 
family institute that has gone through several changes and there is a great gulf 
between contemporary and modern families, although both still socialize together in 
the same situation. This is because the modern model of family is still very formal, 
based on parents and children. It approaches The format of contemporary family as 
is outlined according to the affection, not that ceased to exist the traditional model, 
but over time its acceptance was mitigated in society. The recognition of the socio-
affective affiliation generates personal effects and effects that go beyond the 
relationship between parents and children, as in the case of ineligibility of socio-
emotional child, emphasizing the multiparentalidade as a direction that gradually has 
been taken for the rights of operators in order to give effectiveness of all existing 
bonding within the family. 
Words Key: Multiparentalidade. Effects. Family Law. Law of Succession. Affiliation. 
Real cases. 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cutrim, Tayane Michelle da Silva 
 
Filiação multiparental: efeitos jurídicos no ramo do Direito de Família e 
Direito das Sucessões./ Tayane Michelle da Silva Cutrim. – São Luís, 2015. 
 
f. 51 
Orientador: Prof. Esp. Lourival Serejo 
Monografia (Graduação em Direito) – Faculdade Santa Terezinha, São 
Luís, 2015. 
1. Filiação multiparental. 2. Direitode família. 3. Direito das sucessões. 
4. Filiação. I. Título. 
 
CDU 347.63-055.623 
 
 
10 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11 
2 DA FORMAÇÃO DAS FAMÍLIAS ............................................................................. 14 
2.1 Dos tipos de famílias ....................................................................................... 15 
3 RELAÇÃO SOCIOAFETIVA RESULTANDO EM FILIAÇÃO MULTIPARENTAL ... 22 
3.1 Requisitos da multiparentalidade socioafetiva ................................................. 24 
3.2 Fundamentação principiológica ....................................................................... 26 
3.3 Da jurisprudência pátria ................................................................................... 32 
3.4 Do direito comparado ...................................................................................... 34 
4 DOS EFEITOS DA MULTIPARENTALIDADE ................................................ 38 
4.1 No Direito de Família ....................................................................................... 38 
4.2 No direito de sucessão .................................................................................... 43 
5 OS ÓRGÃOS PÚBLICOS E PRIVADOS ESTÃO PREPARADOS PARA A 
FILIAÇÃO MULTIPARENTAL......................................................................... 46 
6 CONCLUSÃO ................................................................................................. 47 
 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1 INTRODUÇÃO 
O histórico familiar brasileiro foi alicerçado sob o prisma matrimonizado, 
patriarcal, heterossexual e, principalmente, patrimonialista. Devido a essa 
construção social, reproduzida por anos, os laços de sangue sempre foram 
privilegiados devido a sua função histórica na transmissão da herança. 
Um aspecto bem peculiar da arcaica tradição soberana do sangue se 
traduz no tratamento que o Código Civil de 1916 destinava ao filho adotivo, posto 
que a norma démodé destinava tratamento sucessório diferenciado aos filhos não 
consaguíneos, mesmo que fossem os únicos herdeiros do casal. 
Os anos de chumbo se foram e a sociedade brasileira passou a viver sob 
outra realidade, com paradigmas sociais e morais modernos/liberais. No tocante à 
unidade familiar, nos últimos anos houve um demorado processo de transformação, 
sendo que o modelo familiar abriu espaço para um novo modelo chamado de 
famílias plurais, garantindo a solidificação de um novo paradigma, não mais pautado 
nos laços sanguíneos, mas sim, nos laços afetivos. Como reconhecimento dos laços 
afetivos para fins de filiação é recente, a norma ainda não foi adequada aos novos 
aspectos multiparentais de alguns modelos de famílias. 
Com tantas reformas sociais, a maior delas oriunda da Carta Magna, 
atualmente, é uma visão constitucional do Direito de Família que é tão inevitável 
quanto indispensável, a qual vem como resposta a um anseio social que é pautado 
em laços de afinidade e não somente em consanguinidade. Contudo, magistrados 
de todo o país têm encontrado dificuldades para decidir acerca de uma 
socioafetividade não normatizada. Em virtude disso, os operadores do direito devem 
fazer uso de princípios constitucionais como os princípios da dignidade da pessoa 
humana e/ou do melhor interesse da criança a fim de motivar as decisões e adequar 
o direito à sociedade. 
O Poder Legislativo não conseguiu acompanhar as transformações da 
sociedade, talvez por não se tratar de um interesse político, e sim, de um interesse 
de esfera particular. Enquanto a devida norma não é produzida, os juízes de todo o 
país têm como respaldo o princípio do livre convencimento para garantir que o 
cidadão não sofra com ausência normativa. Apesar disto, a socioafetividade na 
doutrina pátria, tem vasta produção sobre o assunto e diversas correntes de 
12 
 
pensadores que defendem a transcendência da filiação do sangue para a 
socioafetiva, posto que nem sempre a herança genética garante afeto entre os 
membros de uma entidade familiar. 
Superando os aspectos introdutórios acerca da socioafetivida, 
passaremos a delinear o tema da multiparentalidade e seus efeitos na sociedade 
brasileira, bem como nos órgãos públicos e privados. O reconhecimento da posse 
de estado de filho a mais de uma pessoa do mesmo gênero, dois pais ou duas 
mães, conjuntamente ao reconhecimento da paternidade, configuram-se como 
requisitos para o reconhecimento filiatório multiparental, tendo como consequência 
uma infinidade de direitos e deveres. 
Objetiva-se analisar os reflexos jurídicos da filiação multiparental dentro 
do ordenamento jurídico brasileiro, especificamente para verificar se as instituições 
públicas e privadas do Brasil estão preparadas para lidar com os casos de 
multiparentalidade, bem como, averiguar os reflexos da filiação multiparental nos 
institutos do Direito de Família e Direito das Sucessões. 
Tendo como método de pesquisa o estudo dedutivo, técnica que foi 
realizada através de leitura nas mais diversas fontes doutrinárias sobre o assunto, 
em embasamento justificatório dos casos jurisprudenciais que concederam ou 
negaram o direito à filiação socioafetiva. 
Aborda-se a formação das famílias, explicando como cada tipo de família 
se apresenta na sociedade. Na oportunidade, fala-se dos princípios e requisitos 
fundamentadores da filiação socioafetiva multiparental. 
Passando então a explicação dos efeitos da filiação socioafetiva 
multiparental no Direito de Família e no Direito das Sucessões. Explanando, caso a 
caso, os questionamentos de direito existentes sobre o assunto. Faz-se uma 
abordagem no Direito Comparado, passando pelo entendimento do Direito 
Português e Francês. 
Em suma, o presente trabalho deseja explorar o universo da 
multiparentalidade com o objetivo de entender melhor como funciona a filiação 
socioafetiva multiparental, estudando seus efeitos e buscando respostas junto aos 
órgãos públicos e privados para solucionar questões práticas. 
13 
 
Esta pesquisa está organizada da seguinte forma: no primeiro item encontra-se a 
introdução, objetivos, justificativa e metodologia. No segundo item trata-se da 
formação das famílias, os tipos de famílias. No terceiro item discorre-se sobre a 
relação socioafetiva resultando em filiação multiparental, destacando os requisitos 
da multiparentalidade socioafetiva, fundamentação principiológica, falou-se direito 
comparado. No quarto item trata-se dos efeitos da multiparentalidade no direito da 
família e no direito da sucessão. No quinto item comenta-se se os órgãos públicos e 
privados estão preparados para a filiação multiparental. E no item seis encontra-se a 
conclusão. 
 
 
14 
 
2 DA FORMAÇÃO DAS FAMÍLIAS 
A família é uma das instituições mais antiga do mundo, praticamente 
surgiu com o próprio instinto de sobrevivência do homem. 
No Brasil, o histórico familiar brasileiro foi alicerçado sob o prisma 
matrimonializado, patriarcal, heterossexual e, principalmente, patrimonialista. Devido 
a essa construção social reproduzida por anos, os laços de sangue sempre foram 
privilegiados em detrimento dos laços afetivos, devido a sua função histórica na 
transmissão da herança o legitimado como herdeiro. 
Relevante citar que, atualmente, o instituto familiar passou por diversas 
modificações e existe um grande abismoentre as famílias contemporâneas e as 
modernas, apesar de ambas ainda conviverem juntas na mesma conjuntura. Isso 
porque, o modelo moderno de família ainda é muito formalista, tendo como base, os 
pais e os filhos. De outra forma, encontra-se o modelo familiar contemporâneo, em 
que qualquer núcleo de pessoas com afeto entre si e em convivência contínua no 
mesmo espaço denomina-se como entidade familiar. 
Deve-se ressaltar, entretanto, que o modelo moderno de família não 
deixou de existir, ao contrário, existe em harmonia com os modelos contemporâneos 
e até mesmo no modelo matrimonial não há que se falar apenas em relações 
sanguíneas, mas também, relativamente às afetivas parentais. 
O Desembargador Lourival Serejo (2014, p. 73) em seu trabalho Novos 
Diálogos do Direito de Família, relata o formato das famílias a seguir: 
Hoje, já não se fala mais em família, no singular, mas em famílias, dada a 
pluralidade de tipos de familiares existentes. A adjetivação das famílias 
reflete a multiplicidade de relações familiares ao longo do tempo. Podem-se 
alinhar, como exemplos dessas variações, os seguintes tipos de famílias: 
patriarcal, de linhagem extensa, conjugal, monógama, heterossexual, 
nuclear, monoparental, vivencial, unipessoal, contratual, alimentar, 
homossexual e família recomposta, Por derivação da parentalidade, 
Roudinesco classifica estes tipos de famílias: co-parentais, biparentais, 
multiparentais, pluriparentais e monoparentais. 
Desse modo, entende-se que o conceito de família hoje é extremamente 
largo e flexível, deixando espaço para os mais diversos entendimentos, que vão 
desde a família tradicional matrimonial, à homoafetiva ou simplesmente a 
unipessoal, que é o núcleo familiar composto de apenas uma pessoa. Hoje já não se 
fala tanto em laços sanguíneos, mas sim, em laços socioafetivos ou até mesmo em 
multiparentais. 
15 
 
2.1 Dos tipos de famílias 
a) Família Matrimonial - O casamento foi e até hoje é uma forma 
tradicional de constituição de família. Nele, pode-se agregar não somente uma 
família, mas a junção de bens e prestígios entre membros da sociedade. Por conta 
disso, a primeira família moderna se formou em torno do casamento chamando-se 
de família matrimonial. 
Berenice Dias (2011, p. 45) explana sobre o instituto em comento da 
seguinte forma: 
O Estado solenizou o casamento como uma instituição e o regulamentou 
exaustivamente. Os vínculos interpessoais passaram a necessitar da 
chancela estatal. É o Estado que celebra o matrimonio mediante o 
atendimento de inúmeras formalidades. Reproduziu o legislador civil de 
1916 o perfil da família então existente: matrimonializada, patriarcal, 
hierarquizada, patrimonializada e heterossexual. 
Só era reconhecida a família constituída pelo casamento. O homem exercia 
a chefia da sociedade conjugal, sendo merecedor de respeito,devendo-lhe a 
mulher e os filhos obediência. A finalidade essencial era a conservação do 
patrimônio, precisando gerar filhos como força de trabalho. Como era 
fundamental a capacidade procriativa, claro que as famílias necessitavam 
ser constituídas por um par heterossexual e fértil. 
Desse modo, atualmente o casamento já não se estrutura nos dogmas de 
outrora, mas sim, como relação de afeto entre duas pessoas. Não significa dizer que 
o modelo de interesse ainda hoje não esteja presente, mas se tornou exceção à 
regra. Isso porque, as mulheres, em sua maioria, são independentes 
financeiramente e têm liberdade para escolher o parceiro sem pressões sociais do 
tipo econômicas para terem que sobreviver. 
 
b) Família formada pelo concubinato ou família paralela ou 
simultânea - Paralelamente a família matrimonial existiu e ainda existe o 
concubinato impuro, que se traduz naquilo que vulgarmente é chamado de “a 
outra”, a amante. Uma mulher que sabe que o homem é casado, mas admite 
conviver com mesmo às escondidas. 
Deve-se ressaltar que concubinato não é o mesmo que união estável, 
posto que aquela é relação ilícita e sob à margem da sociedade e esta é união não 
regularizada por questões formais, sendo que toda à sociedade reconhece o casal 
como legítimo apesar de não ter sido formalizado nenhum casamento ou um dos 
companheiros ainda permanecer casado. 
16 
 
Sobre o assunto o Supremo Tribunal Federal já se posicionou segundo se vê 
adiante: 
COMPANHEIRA E CONCUBINA - DISTINÇÃO. Sendo o Direito uma 
verdadeira ciência, impossível é confundir institutos, expressões e 
vocábulos, sob pena de prevalecer a babel. UNIÃO ESTÁVEL - 
PROTEÇÃO DO ESTADO. A proteção do Estado à união estável 
alcança apenas as situações legítimas e nestas não está incluído o 
concubinato. PENSÃO - SERVIDOR PÚBLICO - MULHER - CONCUBINA 
- DIREITO. A titularidade da pensão decorrente do falecimento de servidor 
público pressupõe vínculo agasalhado pelo ordenamento jurídico, 
mostrando-se impróprio o implemento de divisão a beneficiar, em 
detrimento da família, a concubina. 
(STF - RE: 397762 BA , Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 
03/06/2008, Primeira Turma, Data de Publicação: "caDJe-172 DIVULG 11-
09-2008 PUBLIC 12-09-2008 EMENT VOL-02332-03 PP-00611 RDDP n. 
69, 2008, p. 149-162 RSJADV mar., 2009, p. 48-58) (GRIFO NOSSO) 
Em suma, o concubinato é um ato condenável a sociedade, posto que tem um 
terceiro intervindo na relação marital com o fim de destruir ou desmembrar o vínculo 
de um casal. 
 
c) Família formada pela união estável - Durante muitos anos a união 
estável foi confundida com o concubinato, posto que o Código Civil de 1916 só 
reconhecia a união através do casamento e o procedimento de divórcio era longo e 
caro. Por conta disto, muitas pessoas não se divorciavam de plano, mas 
continuavam separadas de fato e para o código de outrora qualquer relacionamento 
posterior sem divórcio era considerado concubinato. 
Sobre a temática Gonçalves (2008, p. 539) se posiciona acerca de como 
a união estável é retratada, posto que “a união prolongada entre o homem e a 
mulher, sem casamento, foi chamada, durante longo período histórico, de 
concubinato.” 
Gonçalves continua no universo da união estável, explicando os 
impedimentos do casamento e a união estável, vide abaixo: 
[...] deve-se entender que nem todos os impedidos de casar são 
concubinos, pois o § 1º do art. 1723 trata como união estável a convivência 
pública e duradoura entre pessoas separadas de fato e que mantém o 
vínculo do casamento, não sendo separadas de direito (2008, p. 543). 
Atualmente o instituto da união estável já foi devidamente regulado e 
reconhecido pela Constituição, garantindo assim, paridade entre a situação de 
companheiros e casados. 
17 
 
Vide art. 226,§ 3º, da Constituição Federal de 1988 que trata da união 
estável: 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável 
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua 
conversão em casamento. 
No início da regulamentação da união estável haviam muitas dúvidas de 
como se configurar tal relação, posto que não existia documento formalizando, bem 
como não confundir com namoro demorado? 
Veja a seguir decisões de Maria Berenice sobre a configuração da união 
estável: 
AC 70000908756 
UNIÃO ESTÁVEL. PRAZO. Confessada a vida em comum, ainda que por 
período inferior a dois anos, não há como desqualificar-se o relacionamento 
pelo fato de o varão afirmar que não tinha a intenção de casar. Apelo 
provido.(GRIFO NOSSO) 
AC 700000848887 
UNIÃO ESTÁVEL. EXCEPTIO PLURIUM CONCUBENTIUM. A eventual 
infidelidade do varão durante o período de convivência com a autora não 
serve para desconfigurar a união estável e ensejar as seqüelas patrimoniaiscabíveis. Apelo improvido..(GRIFO NOSSO) 
AC 70001561406 e 70001561463 
UNIÃO ESTÁVEL. DESCONSTITUIÇÃO. Tanto a constituição da união 
estável como sua dissolução, que se opera pelo simples rompimento da 
vida em comum, não estão condicionadas à chancela judicial. Não há 
necessidade, como ocorre no casamento, de que sua formalização e sua 
desconstituição ocorra pela intervenção estatal. A Constituição Federal - 
recepcionando a reiterada postura adotada pelo Poder Judiciário de 
emprestar efeitos patrimoniais aos vínculos afetivos configuradores do que 
era chamado de concubinato - reconheceu como entidade familiar o que 
denominou de união estável, ou seja, relacionamentos que nascem e se 
exaurem pelo simples convívio. Cabe ao juiz, tão-só, estabelecer seu 
período de vigência, fixando seu marco inicial e final e atribuir-lhe as 
conseqüências jurídicas agora definidas na legislação infraconstitucional. 
ACORDO. O acordo firmado pelos conviventes quando do fim da vida em 
comum, só pode ser desconstituído se demonstrada a ocorrência de vício 
do consentimento ou lesão enorme. Apelações improvidas.(GRIFO NOSSO) 
Como se depreende dos julgados acima, a união estável não precisa mais 
do lapso temporal para ser reconhecida, bastando à vontade de constituir vida a 
dois. Entende-se também, que não há como confundir união estável com o 
concubinato impuro, posto que a união estável é reconhecida pela Constituição 
enquanto o concubinato impuro não tem seu vinculo reconhecido nem pela 
sociedade e nem pelo Direito. 
Por tudo exposto, não há como confundir a união estável com o 
concubinato impuro, que não é amparado por lei, posto que a união estável é 
18 
 
equivalente ao casamento, só que sem as formalidades legais, enquanto o 
concubinato é uma relação paralela sem amparo legal. 
 
d) Monoparental - segundo Schmtiz (2013, p.297), o conceito de família 
monoparental é: “quando a pessoa, no caso homem ou a mulher acha-se sozinhos, 
e existe com uma ou múltiplas crianças, podendo, de tal maneira, viver recolhidos ou 
no domicilio de idênticos, como domicílio dos pais.” 
Schmtiz (2013, p.297), também cita outra forma de composição de família 
monoparental, conforme se vê ipsis litteris: 
Existem outra forma de monoparentalidade que é um dos genitores que 
escolhe ter uma família adotando uma criança, de acordo com o art. 42 do 
ECA independente do estado civil da pessoa que se encontra só tanto 
homem quanto a mulher se torna família ao adotar uma criança, essa união 
é união de afeto, respeito, carinho contendo os requisitos que se torna uma 
família e que através da escolha do genitor passou a ser uma família 
monoparental, 
No mundo, é o modelo de família mais crescente, posto que a sociedade 
vem se fragmentando de tal maneira que os casamento tendem a duram em média 
quatro anos. Ressalta-se que esta formação familiar não se constitui apenas 
através de casamentos desfeitos, mas também de relações esporádicas e em 
algumas vezes simultâneas, ou as “independentes”. 
É chamada família de mãe/pai solteiros ou divorciados, que atualmente 
cresce cada vez mais, posto que a liberdade sexual se acha “à flor da pele”. 
Dessa forma, conclui-se que o presente modelo de família se constitui de 
pessoas com apenas um parente em linha reta cuidando de seus filhos ou até 
mesmo enteados. 
 
e) Anaparental ou parental - Segundo Schmtiz (2013, p. 298) é” uma 
entidade familiar composta de pessoas com vínculo sanguíneo, parentes, irmãos, 
que moram juntos, porém, sem os pais.” 
Para Berenice Dias (2011, p. 298 apud Sergio Resende) 
[...] a convivência entre parentes ou entre pessoas, ainda que não parentes, 
dentro de uma estruturação com identidade de propósito, impõe o 
reconhecimento da existência de entidade familiar batizada com o nome de 
família parental ou anaparental. 
 
Tal estrutura de família tornou comum para as pessoas que moram no 
interior e desejam ter um meio de estudo mais apropriada a competitividade do 
mercado. Tem também o presente modelo no caso do falecimento dos pais, que os 
19 
 
filhos passam ser criados pelos irmãos, tios e/ou outros parentes que era mais 
próximo do casal. 
Mas como destaca Berenice Dias acima, esse tipo de modelo de família 
não é formado exclusivamente por pessoas do grupo familiar, podendo inclusive, 
ser por outras pessoas, por exemplo, amigos ou conhecidos. 
Deve-se ressaltar que se trata do modelo parental quando for a entidade 
familiar composta por pessoas com vínculo sanguíneo, por exemplo, tio e sobrinho, 
e quando a entidade familiar for mista, isto é, composta por amigos e parentes vai 
ser denominada de anaparental. 
 
f) Unipessoal - Segundo Schmtiz (2013, p. 302) é: 
“a família composto por apenas uma pessoa. De modo recente, o STJ lhe 
atribui à assistência do bem de família, como se deduz da súmula 364:” O conceito 
de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a 
pessoas solteiras, separadas e viúvas. 
A liberdade feminina trouxe como uma das conseqüências a possibilidade 
de tanto o homem como a mulher morarem sozinhos, sem que se encontre nas 
estrutura tradicional ou contemporânea de núcleo familiar, isto é, a família é formada 
apenas pela própria pessoa arcando com os benefícios e o ônus de uma vivência 
assim. 
Como Schmitiz fala acima, o fato de a família ser composta apenas uma 
pessoa não quer dizer que não deva ter proteção legal, seja em questões 
patrimoniais ou mesmo entre outros ramos do direito. 
Afinal, todo o direito deve ser respeitado e reconhecido tanto para o 
cidadão como perante a sociedade. 
 
g) Homoparental - a família homoparental é a formada por duas pessoas 
do mesmo sexo, masculino ou feminino, que se unem em prol de relação de 
sentimento afetivo. 
O núcleo pode ser diversificado, isto é, somente o casal homoafetiva ou o 
casal mais uma criança que pode ser filha sanguínea de um dos dois do casal ou 
adotivo. 
20 
 
A dificuldade desse tipo de familiar reside quanto ao aspecto da 
descendência, pois necessitará de adoção ou mesmo no caso de 
homoparentalidade feminina de inseminação artificial. 
Vide a seguir um julgado acerca de garantia de reconhecimento deste 
núcleo familiar através de concessão de benefícios compartilhados: 
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. UNIÃO HOMOAFETIVA. 
INSCRIÇÃO DE PARCEIRO EM PLANO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA. 
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DA CORTE. 1.- Reconhecida a união 
homoafetiva como entidade familiar, aplicável o entendimento desta Corte 
no sentido de que "a relação homoafetiva gera direitos e, analogicamente à 
união estável, permite a inclusão do companheiro dependente em plano de 
assistência médica" (REsp nº 238.715, RS, Relator Ministro Humberto 
Gomes de Barros, DJ 02.10.06). 2.- Agravo Regimental improvido. 
(STJ - AgRg no REsp: 1298129 SP 2011/0297270-0, Relator: Ministro 
SIDNEI BENETI, Data de Julgamento: 13/08/2013, T3 - TERCEIRA 
TURMA, Data de Publicação: DJe 05/09/2013) 
A entidade familiar homoafetiva é diferente, mas nem por isso deve ser 
desconsiderada como família. O preconceito é a ignorância humana na cabeça dos 
homens, maculando seus corações com perversas atitudes e cruéis sentimentos. 
Dessa forma, de todos os núcleos familiares existentes, a entidade 
homoafetiva é ainda a mais estigmatizada e desrespeitada por se tratar de uma 
minoria, tão pequena como o pensamento de que não acredita nesta união. 
 
h) Eudemonista - Segundo Schmtiz (2013, p. 300), a família eudomonista 
consiste: 
[...] uma apreciação atual que menciona à família que procura a efetivação 
total de suas partes, distinguindo-se pela comunhão de amor mútuo, a 
estima e a consideração recíprocas em meio aos elementos que a compõe,livre da amarração biológica. 
Para Berenice (apud Schmtiz 2013, p.300), trata-se de família 
eudemonista: 
A família identifica-se pela comunhão de vida, de amor e de afeto no plano 
da igualdade, da liberdade, da solidariedade e da responsabilidade 
recíproca. No momento em que o formato hierárquico da família cedeu à 
sua democratização, em que as relações são muito mais de igualdade e de 
respeito mútuo, e o traço fundamental é a lealdade , não mais existem 
razões morais, religiosas, políticas, físicas ou naturais que justifiquem a 
excessiva e indevida ingerência do Estado na vida das pessoas. 
O ideal eudemonista é o que é perseguido atualmente em todos os 
modelos de família. Na família em que é reconhecida a multiparentalidade é 
necessário que exista o eudemonismo a fim de que a criança possa conviver e 
aproveitar o carinho e amor tanto da ascendência biológica quanto da socioafetiva. 
21 
 
Para Fabíola Santos Albuquerque (2012, p. 92), “Família base da 
sociedade, locus privilegiado e espaço de realização de todos os seus membros, 
independente do modelo familiar escolhido.Relações de afeto lastreadas nos 
princípios da dignidade da pessoa humana e na solidariedade.” 
Dessa forma, o modelo eudemonista é o idealizado por todas as 
composições de entidades familiares e por todos aqueles que almejam um lar sem 
problemas e perseguido por amor, harmonia, felicidade e alegria, em suma, a família 
eudemonista é a família plenamente feliz e completa, é o próprio conceito de 
felicidade. 
Por fim, na família eudemonista o foco principal de seus integrantes será 
o afeto e não necessariamente o vinculo biológico, posto que pode ser constituída 
por pessoas parentes ou não. 
 
i) Pluriparental, composta, mosaico ou MULTIPARENTAL - Para 
Berenice (2011, 49-50), família mosaico é: 
[...] são caracterizadas pela estrutura complexa decorrente da multiplicidade 
de vínculos, ambiguidade das funções dos novos casais e forte grau de 
interdependência. A administração de interesses visando equilíbrio assume 
relevo indispensável á estabilidade das famílias. Mas a lei esqueceu delas! 
 
A especificidade decorre da peculiar organização do núcleo , resconstruído 
por casais onde um ou ambos são egressos de casamento ou uniões 
anteriores. Eles trazem para a nova família seus filhos, e muitas vezes, tem 
filhos em comum. É a clássica expressão: os meus, os teus, os nossos (...) 
Trata-se de família que os responsáveis do núcleo familiar se deu outra 
oportunidade de vida com novo casamento, misturando assim, duas famílias com 
patriarcas diferentes no comando ao mesmo tempo, posto que ao se aglutinarem as 
chefias das famílias foram divididas. 
Acontece que com o tempo os laços de afetividade são maiores que os 
laços sanguíneos, necessitando, assim, de reconhecimento judicial para poder ser 
regularizada a situação perante os seus corações e suas mentes como também 
perante a sociedade. 
Tal modelo de família se encontra em crescimento atualmente, com vários 
julgados reconhecendo os vínculos afetivos decorrentes da convivência e do sólido 
vínculo de afeto. Baseando-se nos princípios da dignidade da pessoa humana e do 
melhor interesse da criança e do adolescente. 
22 
 
Dessa forma, a família multiparental se caracteriza pela existência de dois 
pais e/ou duas mães, isto é, o parentesco socioafetivos e o biológico. 
 
3 RELAÇÃO SOCIOAFETIVA RESULTANDO EM FILIAÇÃO MULTIPARENTAL 
A filiação no Brasil tinha como parâmetro basilar as relações de 
parentesco e genética para indicar o portador do patronímico familiar. Com a 
evolução da sociedade e, naturalmente, a do Direito, outros parâmetros têm sido 
empregados; dentre eles, recentemente, o afeto. 
No Dicionário Aurélio (2008, p.99), afeto é ”afeição, amizade, amor.” O 
formato da família contemporânea é delineada de acordo com o afeto, não que 
deixara de existir o modelo tradicional, mas com o tempo sua aceitação foi mitigada 
perante a sociedade. A ordem, no Direito Constitucional da Família, são as relações 
de afeto e felicidade entre seus membros, daí o termo socioafetividade e 
eudemonismo, que segundo Fabíola Santos Albuquerque, (2012, p. 92), 
eudemonismo é: 
É a afeição ínsita na família. O amor entre pais e filhos, se refere aos 
cuidados que um tem para com o outro. Portanto, família é aquela fundada 
no amor que traduz essa atenção especial entre pais e filhos. 
Esse é o verdadeiro sentido da família eudomonista. Família base da 
sociedade, lócus privilegiado e espaço de realização de todos os seus 
membros, independentemente do modelo familiar escolhido de afeto 
lastreadas nos princípios da dignidade da pessoa humana e da 
solidariedade. 
De forma semelhante Renato Maia (2008, p. 68-69): 
Partindo da premissa de que a identidade pessoal da criança e do 
adolescente tem ligação direta com sua identidade no grupo familiar e 
social, tratada por Tânia da Silva Pereira, entende-se que o estabelecimento 
de seu estado de filiação e em oposição, a fixação da relação jurídica de 
paternidade da forma adequada é o modo de garantir-lhe dignidade, 
respeito, convivência familiar condizente, além de ser o modo devido de 
colocá-lo a salvo de discriminação. A doutrina reconhece à criança e ao 
adolescente a titularidade de direitos de personalidade, possibilitando até a 
indenização por danos morais sempre que estes forem lesionados e deve 
também, reconhecer o direito à fixação de sua filiação de maneira 
condizente com seu melhor interesse como forma de proteção. 
Outro ponto que merece destaque é o direito ao conhecimento de sua 
ascendência, nato a cada individuo, o qual se denomina direito à identidade 
genética. Conforme a lição do mestre Lôbo (2004. p. 524), acerca do direito à 
identidade genética: 
O objeto da tutela do direito ao conhecimento da origem genética é 
assegurar o direito da personalidade, na espécie direito à vida, pois os 
23 
 
dados da ciência atual apontam para necessidade de cada indivíduo saber 
a história de saúde de seus parente biológicos próximos para a prevenção 
da própria vida. 
 
Desse modo, a proteção do afeto visa garantir a permanência da família 
da forma como foi sendo estruturada. Já o direito à identidade genética traz ao 
individuo a possibilidade de conhecer o seu “eu biológico”, isto é, de quem herdou as 
suas características aparentes e qual o histórico de doenças na família, bem como 
outros pontos de natureza biológica; com isso, o indivíduo não se vê mais no escuro 
quanto à sua genética. 
A tendência do Direito de Família Contemporâneo é da prevalência da 
filiação socioafetiva sobre a biológica. Contudo, entendimentos recentes de parte da 
doutrina e de alguns tribunais do país é que não se deve excluir uma em favor da 
outra, mas sim, somá-las. Nesses casos, ocorre o que se convencionou chamar de 
multiparentalidade. 
A multiparentalidade é a junção/união registral de duas filiações em um 
mesmo documento de registro de nascimento, ou seja, nos casos de registro 
multiparental constará no documento a filiação biológica e a decorrente da filiação 
socioafetiva. Dessa maneira, haverá a proteção do direito à herança genética e a 
proteção do laço socioafetivo. 
A multiparentalidade forma a chamada família mosaico ou pluriparental, 
pois para que permaneça a configuração deste tipo de família é necessária a 
concordância de ambos os indivíduos envolvidos, assumindo os seus efeitos, caso 
contrário haverá a sobreposição de uma filiação a outra. 
Destarte, deve-se ressaltar que para a configuração da multiparentalidade 
é necessário que ambos os vínculos sejam reconhecidos, isto é, a verdade biológica 
e a relação socioafetiva. 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
3.1Requisitos da multiparentalidade socioafetiva 
a) Laços de afetividade e sólido vínculo afetivo - Os laços de 
afetividade são os alicerces que dão força às famílias, sem o afeto não há que se 
falar em uma família feliz e plena. 
Versa Maria Helena Diniz (apud Cassettari, 2014, p. 29), que a “relação 
de afeto, gerada pela convivência”. De fato, o tempo de convivência é que faz surgir 
o amor ou o ódio entre certo grupo ou o faz permanecer unido em prol de um 
objetivo maior. 
A afetividade no Direito de Família é tão importante que se traduz como 
princípio, elevando ao grau máximo a cultura do amor. Em seu trabalho de Direito de 
Família, Tartuce (2014 p. 25), leciona: 
Os princípios estruturam o ordenamento, gerando consequências concretas, 
por sua marcante função para a sociedade. E não restam dúvidas de que a 
afetividade constitui um código forte no Direito Contemporâneo, gerando 
alterações profundas na forma de se pensar a família brasileira [...] 
E continua em sua obra de Direito de Família, Tartuce (2014p. 26): 
De toda sorte, deve ser esclarecido que o afeto equivale à interação entre 
as pessoas, e não necessariamente ao amor, que é apenas uma de suas 
facetas. O amor é o afeto positivo por excelência. Todavia, há também o 
ódio, que constitui o lado negativo dessa fonte de energia do Direito de 
Família Contemporâneo. 
Concretizando o princípio da afetividade, a sua valorização prática remonta 
ao brilhante trabalho de João Baptista Villela, jurista de primeira grandeza, 
escrito em 1979, tratado da desbiotização da paternidade. Na essência, o 
trabalho procura dizer que o vínculo familiar constitui mais um vinculo de 
afeto do que um vínculo biológico. Assim surge uma nova forma de 
parentesco civil, a parentalidade socioafetiva, baseada na posse de estado 
de filho. 
 
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul foi um dos precursores ao se 
posicionar sobre o tema do afeto nas relações de família, conforme se denota da 
jurisprudência a seguir: 
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. INVESTIGANTE QUE JÁ POSSUI 
PATERNIDADE CONSTANTE EM SEU ASSENTO DE NASCIMENTO. 
INTERPRETAÇÃO DO ART. 362, DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. MUDANÇA 
DE ENTENDIMENTO DO AUTOR DO VOTO VENCEDOR. Os dispositivos 
legais continuam vigorando em sua literalidade, mas a interpretação deles 
não pode continuar sendo indefinidamente a mesma. A regra que se extrai 
da mesma norma não necessariamente deve permanecer igual ao longo do 
tempo. Embora a norma cotinue a mesma, a sua fundamentação ética, 
arejada pelos valores dos tempos atuais, passa a ser outra, e, por isso, a 
regra que se extrai dessa norma é também outra. Ocorre que a família nos 
dias que correm é informada pelo valor do AFETO. É a família eudemonista, 
em que a realização plena de seus integrantes passa a ser a razão e a 
25 
 
justificação de existência desse núcleo. Daí o pretígio do aspecto afetivo da 
paternidade, que prepondera sobre o vínculo biológico, o que explica que a 
filiação seja vista muito mais como um fenômeno social do que genético. E 
é justamente essa nova perspectiva dos vínculos familiares que confere 
outra fundamentação ética à norma do art. 362 do Código Civil de 1916 
(1614 do novo Código), transformando-a em regra diversa, que objetiva 
agora proteger a preservação da posse do estado de filho, expressão da 
paternidade socioafetiva. Posicionamento revisto para entender que esse 
prazo se aplica também à impugnação motivada da paternidade, de tal 
modo que, decorrido quatro anos desde a maioridade, não é mais possível 
desconstituir o vínculo constante no registro, e, por conseqüência, inviável 
se torna investigar a paternidade com relação a terceiro.DERAM 
PROVIMENTO, POR MAIORIA, VENCIDO O RELATOR. 
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 70005246897, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR JOSÉ CARLOS TEIXEIRA 
GIORGIS, JULGADO EM 12/03/2003). 
Deve-se ressaltar que não basta ter laços afetivos, existe a necessidade 
de ser um sólido vínculo afetivo. 
Vínculo afetivo que se traduz na duradoura convivência e pautado na 
posse de estado de filho e na posse do estado de pais. 
 
b) Tempo de convivência - Dizem que o tempo apaga tudo ou constrói 
novamente o que foi quebrado ou destruído. Nas relações interpessoais o tempo é 
fundamental para avaliar se conhece ou não uma pessoa e se tem afeto ou ódio 
pela mesma. Mas o mesmo tempo que leva coisas ruins, também constrói coisas 
boas e marcantes. 
Versando sobre o tempo de convivência e seus reflexos na 
multiparentalidade, o autor Cassetari (2014, p. 31), dimensiona a importância desse 
requisito para a multiparentalidade bem como sua proximidade com o 
desenvolvimento da afetividade, vejamos: 
[...] a convivência é o que faz nascer o carinho, o afeto e a cumplicidade nas 
relações humanas, motivo pelo qual há que se ter prova de que o afeto 
existe com algum tempo de convivência. 
Não será fácil verificar qual o tempo mínimo de convivência, e nem o 
momento exato do nascimento da socioafetividade, mas, analisando caso a 
caso, podemos verificar, em razão do fator tempo, nasceu esse tipo de 
parentalidade. 
O tempo de convivência deve ser assimilado a outros dois requisitos: 
laços de afetividade e sólido vínculo afetivo, posto que são um tripé que sustentar a 
parentalidade socioafetiva e por conseguinte multiparental. Tais requisitos 
propriciam a existência da multiparentalidade no mundo fático, posto que formam um 
ciclo de coexistência, em que o próprio desenvolvimento de um dos requisitos 
resultará na ampliação dos demais, ao passo que os princípios da dignidade da 
26 
 
pessoa humana e do melhor interesse da criança fundamentam a existência da 
multiparentalidade no panorama jurídico. 
3.2 Fundamentação principiológica 
a) Dignidade da pessoa humana - A constituição Federal elevou o 
princípio da dignidade da pessoa humana como um dos basilares do Estado 
Democrático de Direito. 
Como não poderia ser diferente, nos outros ramos do Direito, tal princípio 
se faz presente como garantidor do “Estado Mínimo”, e no Direito de Família , por 
exemplo, usa-se o princípio da dignidade da pessoa humana como um dos 
fundamentos para configuração da filiação socioafetiva em casos que as pessoas já 
se encontram em plena maturidade formal. 
Sobre o tema, Maria Berenice (2011, p.62), versa que: 
[...] o principio da dignidade da pessoa humana é o mais universal de 
todos os princípios. É um macropríncipio do qual se irradiam todos os 
demais: liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade e solidariedade, 
uma coleção de princípios éticos. 
Falar em dignidade da pessoa humana no Direito de Família é falar em sua 
própria essência e fundamentos de sua existência. 
O direito de Família é todo balizado no princípio da dignidade humana, 
tendo como sua principal essência o bem-estar das famílias e de seus membros. 
Em prol da dignidade da pessoa humana, os Tribunais e Doutrinadores se 
lançaram no tema da multiparentalidade , visto que com o desenvolvimento do 
Direito de Família, bem como o surgimento de uma família pluriparental, inúmeros 
casos envolvendo múltipla parenalidade apresentam-se ao Direito,seja no ramo do 
Direito de Família, sob o aspecto da filiação, seja no Direito das Sucessões, sob o 
aspecto da partilha e herança, dessa forma, em cumprimento ao princípio da 
inafastabilidade do controle jurisdicional, os operadores do Direito passam a analisar 
o tema, visando garantir a satisfação do anseios pessoais do individuo, como sua 
herança genética, a garantia do nome, reconhecimento do estado de filho perante a 
sociedade, entre outros. 
 
27 
 
b) Pluralismo das entidades familiares - A entidade familiar formada 
unicamente pelo vínculo do casamento cedeu para uma vasta gama de arranjosfamiliares, isto porque inúmeras mudanças ocorreram na sociedade, gerando, 
sobremaneira, por fortalecimento das instituições jurídicas, que asseguram 
conquistas à grupos sociais minitários, como homossexuais, por exemplo. 
O TRF/RJ, sob a relatoria do Desembargador Federal Sergio Schwaitzer, 
em meados de 2007, proferiu acórdão garantindo direitos à minorias, in casu, à uma 
companheira homossexual, vejamos: 
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – PENSÃO ESTATUTÁRIA – 
CONCESSÃO – COMPANHEIRA HOMOSSEXUAL – LEI DE REGÊNCIA – 
LEI Nº. 8.112/90 (ART. 217, I, “C”) – DESIGNAÇÃO EXPRESSA – 
DISPENSABILIDADE – DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DA COMPANHEIRA 
– PRESUNÇÃO – ART. 241, DA LEI Nº. 8.112/90 – UNIÃO ESTÁVEL 
HOMOSSEXUAL – NATUREZA DE ENTIDADE FAMILIAR – ART. 226, § 3º 
C/C ART. 5º, CAPUT E ART. 3º, IV, DA CONSTITUIÇÃO – 
COMPROVAÇÃO – MEIOS IDÔNEOS DE PROVA – ATOS 
ADMINISTRATIVOS – PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE E LEGITIMIDADE – 
PAGAMENTO – ATRASADOS – TERMO INICIAL – INDEFERIMENTO DO 
PEDIDO NA VIA ADMINISTRATIVA – VERBAS HONORÁRIAS – 
PERCENTUAL – REDUÇÃO – ART. 20, § 4º, DO CPC. I – A atual 
Constituição não vinculou a família ao casamento, pois abarcou outros 
modelos de entidades familiares, como as uniões estáveis (art. 226, § 3º) e 
as famílias monoparentais (art. 226, § 4º). Porém, essa pluralidade de 
entidades familiares não se esgota nos modelos antes mencionados. O 
conceito de família não se restringe mais à união formada pelo casamento, 
visando à procriação, e, portanto, limitada à heterossexualidade do casal, 
pois, hodiernamente, sendo a afetividade o elemento fundante da família, 
outras formas de convivência, além da proveniente do modelo tradicional, 
devem ser reconhecidas. II – Ainda que não haja previsão legal para o 
reconhecimento das uniões homossexuais como entidades familiares, 
devem ser respeitados os princípios e garantias fundamentais da 
Constituição – um sistema aberto de princípios e regras (imperfeitas e 
inacabadas) que deve se manter vivo, atento à evolução da realidade –, 
cujas normas não podem ser analisadas isoladamente, devendo se 
subsumir completamente aos princípios constitucionais para obter seu 
sentido último. III – Observe-se que a própria Constituição veda a 
discriminação (art. 5º, caput), inclusive a fundada na orientação sexual do 
indivíduo, hipótese de diferenciação que, por resultar da combinação dos 
sexos das pessoas envolvidas, é, por isso, apanhada pela proibição de 
discriminação por motivo de sexo. Outrossim, ao reconhecer a dignidade da 
pessoa humana como um de seus elementos centrais e fundantes, o Estado 
Democrático de Direito, além de proteger os indivíduos de invasões 
legítimas de suas esferas pessoais, promete a promoção positiva de suas 
liberdades. IV – O legislador constituinte adotou, ainda, o princípio da 
igualdade de direitos, sendo pacífico na doutrina que, dependendo das 
inúmeras diferenças existentes entre as pessoas e situações, poderá haver 
tratamento desigual para elas, desde que essa diferenciação seja fundada 
em justificativa racional. No caso das uniões homossexuais, não há 
justificativa racional, mas verdadeiro preconceito, o qual não tem o condão 
de legitimar a diferenciação por orientação sexual, especialmente em face 
da norma inserta no art. 3º, IV, que o proíbe expressamente. V – Não se 
pode, assim, negar o caráter de entidade familiar das uniões homossexuais 
alicerçadas no amor mútuo, na convivência pública e duradoura e na 
assistência recíproca, sendo inadmissível que tais uniões, por serem 
28 
 
formadas por pessoas do mesmo sexo, sejam tratadas como meras 
sociedades de fato, sem a possibilidade de equiparação ao 
companheirismo. VI – Tendo em vista a presunção de legalidade e 
legitimidade atribuída aos atos administrativos, presume-se, até prova em 
contrário, que a concessão de pensão previdenciária pelo INSS à autora, 
em razão do óbito de sua companheira, foi realizada em estrita observância 
à lei, o que, aliado ao fato de os documentos constantes dos autos – como 
escritura pública declaratória de dependência econômica e de convivência 
more uxório há mais de 15 (quinze) anos, extrato bancário de conta-
corrente em nome da falecida servidora (titular) e da autora (2ª titular) e 
contas telefônicas comprovando o mesmo domicílio – serem mais do que 
suficientes à comprovação da relação de companheirismo entre a autora e a 
falecida servidora, mais do que razoável é garantir àquela o direito à pensão 
por morte desta, a contar da data do indeferimento do pedido na esfera 
administrativa, conforme requerido na inicial. VII – A designação expressa, 
contida no art. 217, I, “c”, da Lei nº. 8.112/90, visa tão-somente a facilitar a 
comprovação, junto ao órgão administrativo competente, da vontade do (a) 
falecido (a) servidor (a) em indicar o companheiro, ou companheira, como 
beneficiário da pensão por morte, sendo, portanto, desnecessária caso a 
comprovação da união estável venha a ser suprida por outros meios 
idôneos de prova. VIII – Em nenhum momento, a Lei nº. 8.112/90 
estabelece que a companheira somente fará jus à pensão estatutária se 
comprovar, além da designação expressa e da união estável como entidade 
familiar, a dependência econômica com relação ao instituidor. Ademais, se 
a companheira que comprove união estável como entidade familiar se 
equipara ao cônjuge, nos termos do parágrafo único do art. 241, é certo 
que, assim como ele, está dispensada de comprovar tal dependência. IX – 
Devido à simplicidade e a pouca repercussão da causa, não caracterizando 
a “importância” de que trata o Código de Processo Civil, bem assim por ter 
sido dispensável deslocamento ou exigido muito tempo do procurador para 
a prestação de seu serviço, reduzo o percentual arbitrado pelo juízo a quo a 
título de honorários advocatícios para 5% (cinco por cento) sobre o valor da 
condenação, a teor do art. 20, § 4º, do CPC. X – Apelação e remessa 
necessária parcialmente providas. 
 (TRF-2 - AC: 200251010195768 RJ 2002.51.01.019576-8, Relator: 
Desembargador Federal SERGIO SCHWAITZER, Data de Julgamento: 
04/07/2007, SÉTIMA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - 
Data::25/09/2007 - Página::478) 
 
A diversidade dos arranjos familiares, ou seja, os inúmeros modos de 
composição familiar equivalem ao pluralismo das entidades familiares, termo de 
grande relevância na Constituição atual, alçando o patamar de principio 
constitucional do Direito de Família, posto que se concretiza como uma garantia 
constitucional, a qual protege todos os núcleos familiares, pautando-se 
principalmente no critério afetivo existente entre os membros da família. 
Destarte, o princípio do pluralismo das entidades familiares é a garantia e 
ao mesmo tempo reconhecimento que o legislador constituinte aferiu aos diversos 
arranjos familiares, os quais evoluem dinamicamente com a sociedade. 
 
 
29 
 
c) Proibição do retrocesso social - A proibição do retrocesso familiar é 
o principio constitucional que tem como fim não permitir que direitos já garantidos 
sejam desrespeitados, por exemplo, o direito de união estável entre pessoas do 
mesmo sexo. 
Versa Berenice Dias (2011, p. 69, Família): 
A consagração constitucional da igualdade, tanto entre homens como 
mulheres, como entre filhos, e entre as próprias entidades familiares, 
constitui simultaneamente garantia constitucional e direito subjetivo. Assim, 
não podem sofrer limitações ou restrições da legislação ordinária. É o que 
se chama de principio constitucional da proibição de retrocesso social. 
O presente princípio serve como um escudo para garantir a efetividade 
dos direitos conquistados ao longo do tempo no Direito de Família. 
Não obstante a conquista de direitos sociais ser de extrema relevância 
para a sociedade, manter os direitos já conquistados revela-se extremante 
desafiador,talvez por isso o legislador constituinte, ao tratar dos direitos pertinentes 
à família, elegeu tais direitos como direitos fundamentais, garantindo assim sua 
manutenção e obrigatoriedade pelo legislador infraconstitucional. 
Digna de ser mencionada é a lição de Berenice Diais (2013,69): 
A partir do momento em que o Estado, em sede constitucional, garante 
direitos sociais, a realização desses direitos não se constitui somente em 
uma obrigação positiva para a sua satisfação – passa a haver também 
uma obrigação negativa de não se abster de modo a assegurar a sua 
realização. O legislador infraconstitucional precisa ser fiel ao tratamento 
isonômico assegurado pela Constituição, não podendo estabelecer 
diferenciações ou revelar preferências. Do mesmo modo, todo e qualquer 
tratamento discriminatório levado a efeito pelo Judiciário mostra-se 
flagrantemente inconstitucional. 
A proibição do retrocesso social, que possui natureza principiologica, 
contempla aspectos positivos e negativos, ou sob outros termos, comissivos e 
omissivos, isso porque a norma em estudo obriga o legislador a progredir nas 
conquistas sociais, alcançando novos patamares de direitos sociais, bem como 
também obriga o legislador, ao elaborar normas, respeitar os direitos já alcançados, 
não suprimindo ou reduzindo-os. 
 
 
 
30 
 
d) Afetividade - O afeto não se encontra positivado na Constituição 
Federal, nem em outra codificação, contudo, não se pode negar a importância de tal 
principio nas relações familiares contemporâneas. 
Para configuração da parentalidade socioafetiva e vinculação filial desta, 
é necessário que se prove um sólido vinculo afetivo, caso contrário, não há que se 
falar em parentalidade socioafetiva. 
Acontece que o afeto ganhou proporções tão grandes no direito de 
família, que hoje a maioria dos casos relacionam-se com as relações afetivas. 
Como versa Berenice Dias (p. 70, Familia), “houve a constitucionalização 
de um modelo de família eudemonista e igualitário, com maior espaço para o afeto e 
a realização individual”. 
O princípio da afetividade encontra respaldo no trabalho do multicitado 
João Baptista Villela (apud Tartuce, p. 26), “desbiologização da paternidade, escrito 
em 1979, o trabalho procura dizer que o vínculo familiar constitui mais um vínculo de 
afeto do que um vínculo biológico.” 
Com a valorização do afeto, houve uma quebra nas correntes que 
defendem a filiação biológica sobre a socioafetiva. Isso porque, hoje leva-se mais 
em conta o bem- estar das entidades familiares e não um mero vínculo biológico. 
 
e) Melhor interesse do menor - Com o início dos caso de parentalidade 
socioafetiva, dois princípios sempre foram os fundamentadores: a dignidade da 
pessoa humana e o melhor interesse do menor. 
Como já abordado neste trabalho monográfico, dignidade da pessoa 
humana fundamentando os casos de pessoas já adultas que desejam ter seu 
vínculo afetivo reconhecido, já o melhor interesse do menor fundamenta os casos de 
menores de idades que se encontram envolvidos em casos de socioafetividade. 
O melhor interesse do menor versa sobre o bem-estar da criança, bem 
como, o menor impacto afetivo e emocional que a realidade socioafetiva trará. Daí a 
necessidade da prevalência do caráter socioafetivo sobre o biológico, pois uma 
criança pode ter o amor de um padrasto que não tem de um pai “verdadeiro”. 
Apesar de ser fundamental importância para o tema da 
multiparentalidade, o princípio do melhor interesse da criança transcende o Direito 
de Família e das Sucessões, alcança todo o ordenamento jurídico brasileiro, 
conforme depreende-se da jurisprudência colecionada abaixo: 
31 
 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. 
AÇÃO DE ADOÇÃO C/C DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR MOVIDA 
PELOS ASCENDENTES QUE JÁ EXERCIAM A PATERNIDADE 
SOCIOAFETIVA. SENTENÇA E ACÓRDÃO ESTADUAL PELA 
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. MÃE BIOLÓGICA ADOTADA AOS OITO 
ANOS DE IDADE GRÁVIDA DO ADOTANDO. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA 
DE VIGÊNCIA AO ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, 
OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. 
SUPOSTA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 39, § 1º, 41, 42, §§ 1º E 43, TODOS DA 
LEI N.º 8.069/90, BEM COMO DO ART. 267, VI, DO CÓDIGO DE 
PROCESSO CIVIL. INEXISTÊNCIA. DISCUSSÃO CENTRADA NA 
VEDAÇÃO CONSTANTE DO ART. 42, § 1º, DO ECA. COMANDO QUE 
NÃO MERECE APLICAÇÃO POR DESCUIDAR DA REALIDADE FÁTICA 
DOS AUTOS. PREVALÊNCIA DOS PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO 
INTEGRAL E DA GARANTIA DO MELHOR INTERESSE DO MENOR. ART. 
6º DO ECA. INCIDÊNCIA. INTERPRETAÇÃO DA NORMA FEITA PELO 
JUIZ NO CASO CONCRETO. POSSIBILIDADE. ADOÇÃO MANTIDA. 
RECURSO IMPROVIDO. 1. Ausentes os vícios do art. 535, do CPC, 
rejeitam-se os embargos de declaração. 2. As estruturas familiares estão 
em constante mutação e para se lidar com elas não bastam somente as 
leis. É necessário buscar subsídios em diversas áreas, levando-se em conta 
aspectos individuais de cada situação e os direitos de 3ª Geração. 3. Pais 
que adotaram uma criança de oito anos de idade, já grávida, em razão de 
abuso sexual sofrido e, por sua tenríssima idade de mãe, passaram a 
exercer a paternidade socioafetiva de fato do filho dela, nascido quando 
contava apenas 9 anos de idade. 4. A vedação da adoção de descendente 
por ascendente, prevista no art. 42, § 1º, do ECA, visou evitar que o instituto 
fosse indevidamente utilizado com intuitos meramente patrimoniais ou 
assistenciais, bem como buscou proteger o adotando em relação a eventual 
"confusão mental e patrimonial" decorrente da "transformação" dos avós em 
pais. 5. Realidade diversa do quadro dos autos, porque os avós sempre 
exerceram e ainda exercem a função de pais do menor, caracterizando 
típica filiação socioafetiva. 6. Observância do art. 6º do ECA: na 
interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se 
dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e 
coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas 
em desenvolvimento. 7. Recurso especial não provido. 
 (STJ - REsp: 1448969 SC 2014/0086446-1, Relator: Ministro MOURA 
RIBEIRO, Data de Julgamento: 21/10/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data 
de Publicação: DJe 03/11/2014) 
 
A proteção aos direitos da criança além de constituir direitos 
fundamentais, também possui reconhecimento internacional em decorrência da 
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito da Criança, dessa forma, o princípio 
do melhor interesse da criança alcança ainda maior repercussão, garantindo, por 
conseguinte, uma ampliação dos fundamentos da multiparentalidade. 
 
32 
 
3.3 Da jurisprudência pátria 
A construção da parentalidade socioafetiva foi realizada através da 
jurisprudência pátria e com o decorrer do tempo a doutrina e mesmo as 
recomendações do IBDFAM concluíram para aceitar socioafetividade. Depois a 
prevalência do afeto sobre verdade biológica. 
Vide abaixo alguns julgados sobre o assunto: 
EMENTA: MATERNIDADE SOCIOAFETIVA Preservação da Maternidade 
Biológica Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do 
parto, e de sua família - Enteado criado como filho desde dois anos de 
idade Filiação socioafetiva que tem amparo no art. 1.593 do Código Civil e 
decorre da posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, 
aliado ao afeto e considerações mútuos, e sua manifestação pública, de 
forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se trata de 
parentes - A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base 
na afetividade e nos princípios da dignidade da pessoa humana e da 
solidariedade Recurso provido. 
 
STJ: 
DIREITO DE FAMÍLIA. AÇAO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. EXAME 
DE DNA NEGATIVO. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE 
SOCIOAFETIVA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 
1. Em conformidade comos princípios do Código Civil de 2002 e da 
Constituição Federal de 1988, o êxito em ação negatória de paternidade 
depende da demonstração, a um só tempo, da inexistência de origem 
biológica e também de que não tenha sido constituído o estado de filiação, 
fortemente marcado pelas relações socioafetivas e edificado na convivência 
familiar. Vale dizer que a pretensão voltada à impugnação da paternidade 
não pode prosperar, quando fundada apenas na origem genética, mas em 
aberto conflito com a paternidade socioafetiva. 
2. No caso, as instâncias ordinárias reconheceram a paternidade 
socioafetiva (ou a posse do estado de filiação), desde sempre existente 
entre o autor e as requeridas. Assim, se a declaração realizada pelo autor 
por ocasião do registro foi uma inverdade no que concerne à origem 
genética, certamente não o foi no que toca ao desígnio de estabelecer com 
as então infantes vínculos afetivos próprios do estado de filho, verdade em 
si bastante à manutenção do registro de nascimento e ao afastamento da 
alegação de falsidade ou erro. 
3. Recurso especial não provido. 
STF: 
Ementa 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE 
ANULAÇÃO DE ASSENTO DE NASCIMENTO. INVESTIGAÇÃO DE 
PATERNIDADE. IMPRESCRITIBILIDADE. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO. 
PATERNIDADE BIOLÓGICA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. 
CONTROVÉRSIA GRAVITANTE EM TORNO DA PREVALÊNCIA DA 
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA EM DETRIMENTO DA PATERNIDADE 
BIOLÓGICA. ART. 226, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 
PLENÁRIO VIRTUAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. 
Decisão 
Decisão: O Tribunal, por maioria, reputou constitucional a questão, vencido 
o Ministro Marco Aurélio. Não se manifestaram os Ministros Gilmar Mendes, 
33 
 
Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. O Tribunal, por 
maioria, reconheceu a existência de repercussão geral da questão 
constitucional suscitada, vencido o Ministro Marco Aurélio. Não se 
manifestaram os Ministros Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa, Ricardo 
Lewandowski e Cármen Lúcia. Ministro LUIZ FUX Relator 
Ante o exposto e considerando as jurisprudências colecionadas acima, 
depreende-se que a socioafetividade deve ser elevada ao grau máximo sob a 
verdade biológica, posto que está não garante emanação do afeto entre as partes. 
 
34 
 
3.4 Direito comparado 
O instituto da socioafetivida está presente no mundo de diferentes formas, 
porém, algumas muito parecidas com o modo brasileiro, por exemplo, o Francês. 
Cassetari (2014) em seu livro MULTIPARENTALIDADE E 
PARENTALIDADE SOCIAFETIVA explana como a parentalidade socioafetiva tem se 
apresentado no mundo e explica quais são os requisitos necessários para a 
configuração da mesma. Deve-se ressaltar que com o avanço para o 
reconhecimento socioafetivo, brevemente, apresentar-lhe-ão a configuração da 
multiparentalidade. 
O direito Italiano caminha a passos lentos para a sociafetividade, posto 
que a socioafetividade ainda não possui efeitos de âmbito sucessório 
Cassettari versa em seu livro que o instituto no direito italiano é chamado 
de afilhadagem e explica que seria uma espécie de adoção recebido de institutos 
assistencialistas no qual o menor recebe um lar, mas não o status de filho. Além do 
mais, a afilhadagem pode ser extinta ou revogada em determinadas situações. 
O direito Francês possui mais afinidade com o direito brasileiro no que 
tange ao instituto de socioafetividade. 
Cassetari (2014, 87-97), explica que no direito francês a “verdade” não o 
principal objetivo, mas sim, o que o autor denomina de “o coração das escolhas de 
filiação carnais”. Explica ainda, que para a configuração da socioafetividade os 
principais fatos são: 
 Que a pessoa tenha sido tratada por este ou aqueles em que é dito 
como um filho e que depois ela os tenha tratado como seus pais; 
 Que tenham essa qualidade, desde sua formação, manutenção ou 
instalação; 
 Que esta pessoa seja reconhecida como filho na sociedade e na 
família; 
 Que seja considerada como tal pela autoridade pública; 
 Que seja reconhecida na sociedade pelo apelido. 
Tais regramentos são complementares para quem tem a posse do estado 
e deve ser contínua, pacífica, pública e inequívoca. 
35 
 
Na Bélgica, Cassetari (2014, 87-97), tem previsão bem semelhante, a 
filiação deve ser estabelecida através dos seguintes requisitos: 
 O filho ter sido sempre chamado pelo nome dele,conhecido na 
sociedade; 
 Ter sido tratado como filho; 
 Ter o pai de fato contribuído para a sua manutenção e educação; 
 A criança reconhecer a pessoa como seu pai ou mãe. 
Como na codificação francesa, Cassetari (2014, 87-97), explana que a 
Bélgica também exige que a posse seja contínua e estabelecida pelos fatos que, 
em conjunto ou separadamente, revelem a relação de filiação, tais como: 
 A criança ter usado o sobrenome da família (nomen); 
 Ter sido tratada como filho (tratactus); 
 O adotante ter contribuído para a sua manutenção e educação; 
 A criança ter tratado os adotantes como se fossem o seu pai ou a sua 
mãe (reciprocidade do afeto na nossa opinião); 
 Ter sido apresentada como filho para a sociedade (fama); 
 E, finalmente, que o poder público o considere como tal. 
Na Alemanha já existem vários julgados que conduzem a 
socioafetividade, a exemplo do julgado a seguir retirado do livro de Christiano 
Cassetari (2014, 87-97): 
O senhor Ahrenz manteve um relacionamento com uma mulher, que vivia 
na época com outro homem. A mulher engravidou e teve uma filha em 
2005. Em outubro de 2005, o senhor Ahrenz ingressou em juízo para se ver 
declarado como pai da criança, dado ser biologicamente o responsável pela 
concepção. O pai legítimo contestou e afirmou assumir integralmente as 
responsabilidades parentais, fosse ele ou não o pai biológico. O caso foi 
julgado em primeiro grau favoravelmente ao senhor Ahrenz, após realização 
de perícia hematológica, que o apontou como pai da menina. 
Em grau de recurso, o Tribunal de Justiça anulou o julgamento, por 
considerar a prevalência da paternidade jurídica e social em detrimento da 
paternidade biológica. As relações familiares seriam profundamente 
abaladas com esse reconhecimento de paternidade. A matéria foi levada ao 
Tribunal Constitucional, que não conheceu da reclamação. 
O senhor Ahrenz alegou que a decisão ofendeu os artigos 14 e 8º da 
Convenção Européia de Direitos Humanos e recorreu à CEDH. O tribunal 
europeu rejeitou o recurso. Na fundamentação, concorreram dois 
fundamentos: a) não há uma posição unânime nos Estados europeus sobre 
o conflito de direitos entre o pai biológico e o pai jurídico; b) haveria uma 
margem de apreciação para as jurisdições locais, conforme os 
ordenamentos internos; c) o tribunal alemão fez uma escolha legítima pela 
precedência das relações familiares e pela manutenção dos vínculos entre a 
filha e seu pai jurídico, no que não ofendeu o artigo 8º da Convenção. 
O senhor Schneider manteve, entre maio de 2002 e setembro de 2003, uma 
relação amorosa com uma mulher casada. O filho dessa mulher nasceu em 
36 
 
março de 2004. O senhor Schneider ajuizou uma ação alegando ser o pai 
biológico dessa criança. Os cônjuges optaram por não realizar o exame de 
paternidade em ordem a preservar o interesse da família, que seria 
fortemente abalado acaso se provasse a parentalidade de Schneider. 
O suposto pai biológico requereu ao juízo de primeiro grau que se lhe 
deferisse o direito de visitas à criança e que recebesse informações 
regulares sobre seu desenvolvimento. A Justiça rejeitou o pedido, 
entendendo que a mera alegação de paternidade biológica não inseria o 
senhor Schneider no rol de pessoas autorizadas pelo Código Civil alemão a 
ter o direito por ele pretendido em relação ao menor. As cortes superiores 
mantiveramesse entendimento, sempre levando em conta a primazia do 
interesse da criança e a preservação dos laços familiares. 
O senhor Schneider recorreu à CEDH, com alegações de que foi violado o 
artigo 8º da Convenção. Na CEDH, entendeu-se que o senhor Schneider e 
a mãe da criança, apesar de nunca terem vivido sob o mesmo teto, 
mantiveram uma longa relação amorosa (de um ano e quatro meses), o que 
não se constituía em algo meramente casual. Além disso, o comportamento 
do suposto pai biológico denotou interesse extremo pela criança, ao 
acompanhar a futura mãe em exames pré-natais e ao demonstrar 
disposição em assumir a paternidade antes mesmo do nascimento do filho. 
Desse modo, reconheceu-se a ofensa ao artigo 8º, porquanto os tribunais 
alemães não prestigiaram os interesses de todos os envolvidos e não 
deram tratamento equilibrado à pretensão do suposto pai biológico, o que 
poderia se traduzir em julgamento de conteúdo discriminatório. 
Digno de menção são as jurisprudências da Bulgária e da Croácia, 
traduzidas no livro Multiparentalidade e Parentalidade Socioafetiva, Cassetari (2014, 
87-97), conforme se denota abaixo: 
Chavdarov v. Bulgária, n. 3465/03, julgado em 21 de dezembro de 2010 
Em 1989, o senhor Chavdarov passou a viver sob o mesmo teto com uma 
mulher casada que, no entanto, se encontrava separada de fato de seu 
marido. A mulher deu a luz a três crianças nos anos de 1990, 1995 e 1998, 
durante sua união com o senhor Chavdarov. O interessante é que o marido 
da mãe foi indicado nas certidões de nascimento como pai das três 
crianças, as quais receberam seu sobrenome. No final de 2002, o senhor 
Chadvdarov e sua companheira terminaram a união estável. Sua ex-
companheira passou a viver com outro homem, levando consigo os filhos. 
Em 2003, o senhor Chavdarov consultou um advogado com intenção de 
ajuizar uma ação de reconhecimento de paternidade. O advogado disse-lhe 
que, com base na legislação búlgara, não era possível arguir essa tese, 
aconselhando-o a propor diretamente uma reclamação à CEDH, com base 
no artigo 8º da Convenção, o que terminou por ser feito. 
Ao julgar o caso, a CEDH considerou que há uma margem de apreciação 
aos Estados-membros para definir, em suas legislações locais, os limites da 
relação parental, o que, até agora, se converte em algo muito relevante, em 
face da ausência de um padrão comum. Declarou-se que, a despeito da 
necessidade de se preservar os vínculos familiares, não ficou bem 
estabelecida a responsabilidade do Estado búlgaro no caso, o que levou à 
declaração de não ofensa ao artigo 8º da Convenção. 
Não é possível sintetizar a orientação da CEDH sobre o tema. Parece haver 
um certo constrangimento em se invadir a esfera dos direitos locais sobre a 
questão da paternidade biológica em oposição à paternidade legítima, como 
de resto, em muitos pontos sensíveis das relações familiares. As críticas à 
invasão da soberania dos Estados europeus pelos juízos da CEDH, a 
despeito de sua posição mais cautelosa aqui, avolumam-se em face da 
ausência de princípios ou de um “sistema”, quando se examina mais a 
fundo alguns de seus julgados. Particularmente no Direito Civil, que é uma 
província muito ciosa da observância desses cânones, essa deficiência 
argumentativa é ainda mais notável. 
37 
 
Krušković v. Croácia, n. 46185/08, julgado em 21 de junho de 2011 
Um homem foi interditado em fevereiro de 2003, após padecer de 
problemas mentais decorrentes de longo período de drogadição. Em 2006, 
sua mãe foi designada como sua curadora e, posteriormente, seu pai e um 
empregado de um centro de apoio social. Em 2007, o curatelado, com a 
anuência de sua mãe, assumiu a paternidade de uma criança nascida em 
junho desse ano. O pretendido registro foi denegado por conta de sua 
incapacidade civil. 
Sob alegada ofensa ao artigo 8º da Convenção Europeia de Direitos 
Humanos, o caso foi levado à CEDH, que o acolheu sob o fundamento de 
que a criança tem o direito à informação genética, que lhe permite conhecer 
“a verdade sobre um importante aspecto de sua identidade pessoal, que é a 
identidade de seus pais biológicos”. 
Em Portugal, segundo Cassetari (2014, 87-97), ainda não há lei expressa 
acerca da socioafetividade, já existem casos encaminhados ao Poder Judiciário 
português sobre o tema. 
António (nome fictício) tem uma „filha' de 17 anos com o seu apelido, mas 
sabe que não é o pai, por ser infértil e nem sequer ter tido relações sexuais 
com a mãe desta. Para repor a "verdade biológica" e retirar o seu nome da 
certidão de nascimento, recorreu ao tribunal, mas o seu pedido não foi 
aceite, por ter sido feito fora de prazo. Ainda tentou provar a 
inconstitucionalidade dessa norma, mas de nada lhe valeu. 
O queixoso, que reside no concelho de Condeixa-a-Nova, era casado, mas 
a mulher (e mãe da rapariga) „recusava-se a ter relações sexuais" com ele, 
pois "mantinha um relacionamento amoroso e sexual" com outro homem. 
António sempre soube que a menor não era sua filha. Acabaria por se 
divorciar da mulher, mas nessa altura o seu nome já figurava na certidão de 
nascimento como sendo o pai. Foi deixando passar o tempo, e quando 
apresentou, junto do Tribunal de Condeixa, uma acção de impugnação da 
paternidade, a menor já tinha 13 anos, quando a lei prevê um prazo de três 
anos para o fazer,‟ contados desde a data em que teve conhecimento. 
 
No caso de Portugal, por exemplo, ainda não existe uma legislação 
disciplinando os casos de filiação socioafetiva, contudo, assim como no Brasil, os 
tribunais de justiça estão tentando adequar a realidade ao mundo jurídico, com o 
intuito de não deixar de assegurar o direito da dignidade da pessoa humana de lado. 
Como vimos no presente tópico, Direito Comparado, cada país 
mencionado está se adequando aos casos de filiação socioafetiva a fim de sanar a 
problemática nos casos em concreto e garantir que cada cidadão que busca o 
Judiciário não o deixe sem que seus direitos sejam assegurados. 
38 
 
4 DOS EFEITOS DA MULTIPARENTALIDADE 
4.1 No Direito de Família 
A implantação da democracia depois da vivência ditatorial deu outra visão 
à ciência do Direito, a qual tem o seu enfoque pautado sobre a ideia de 
constitucionalização do Direito em todos os seus ramos. 
Costuma-se dizer que o Direito é reflexo do momento da sociedade, 
máxima predominante nas decisões da maioria dos tribunais do país quanto à filiação 
socioafetiva multiparental, posto que os operados do direito tentam adequar o Direito 
à sociedade preenchendo as lacunas legislativas. 
Maria Helena Diniz (2003, p.448) leciona que na ausência de produção 
legislativa deve-se fazer uso de analogia, in verbis: "aplicar, a um caso não 
contemplado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma norma 
prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado". 
Considerando a técnica da analogia e o principio do livre convencimento 
motivado, os tribunas brasileiros e o Instituto Brasileiro de Direito de Família 
(IBDFAM), versam que deve prevalecer o vínculo afetivo sobre o biológico. Em 
consonância com isso, a seguir decisão do Egrégio Tribunal de Santa Catarina: 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. 
PRETENSÃO DE RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL DE 
NASCIMENTO. EXAME DE DNA EXCLUDENTE DO VÍNCULO GENÉTICO 
ENTRE AS PARTES. FILHO ADVINDO NA CONSTÂNCIA DO 
MATRIMÔNIO. DÚVIDA, DESDE O PRINCÍPIO, ACERCA DO LIAME 
CONSANGUÍNEO. AUSÊNCIA DE VÍCIO NA MANIFESTAÇÃO DE 
VONTADE. RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO DA FILIAÇÃO. ATO 
IRREVOGÁVEL. INTELIGÊNCIA DO ART. 1.610 DO CÓDIGO CIVIL. 
PATERNIDADE SÓCIO-AFETIVA PLENAMENTE CONFIGURADA. 
PREVALÊNCIA, NO CASO CONCRETO, DO LAÇO AFETIVO AO 
BIOLÓGICO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. O 
reconhecimento voluntário da filiação somente pode ser contestado acaso 
comprovado vício na manifestação

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