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1 FACULDADE SANTA TEREZINHA – CEST CURSO DE DIREITO TAYANE MICHELLE DA SILVA CUTRIM FILIAÇÃO MULTIPARENTAL: efeitos jurídicos no ramo do Direito de Família e Direito das Sucessões São Luís 2015 2 TAYANE MICHELLE DA SILVA CUTRIM FILIAÇÃO MULTIPARENTAL: efeitos jurídicos no ramo do Direito de Família e Direito das Sucessões Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade Santa Terezinha – CEST, para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Esp. Lourival Serejo São Luís 2015 3 TAYANE MICHELLE DA SILVA CUTRIM FILIAÇÃO MULTIPARENTAL: efeitos jurídicos no ramo do Direito de Família e Direito das Sucessões Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade Santa Terezinha – CEST, para obtenção do grau de Bacharela em Direito. Aprovada em ____/_____/______. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Desembargador Lourival de Jesus Serejo Sousa (Orientador) Esp. em Direito Público, Universidade Federal do Ceará. Esp., em Direito Processual Civil, Universidade Federal de Pernambuco. ___________________________________ 1º Examinador Titulação Intituição __________________________________ 2º Examinador Titulação Intituição São Luís 2015 4 A Deus, por me dá a oportunidade de uma nova vida e uma nova história. À Alexsandro Cutrim, meu marido, por sempre me apoiar e corrigir meus erros quando se fizeram ocultos a mim. Ao Desembargador Bernardo Rodrigues, que foi e sempre será a minha inspiração para seguir em frente e ser tudo que eu sempre sonhei. Ao Desembargador Lourival Serejo, que aceitou de muito bom grado ser meu orientador e me dá a chance de aprender com ele. Por fim, mas não menos importante, a minha mãe Marisol Figueiredo e ao meu irmão Tony Wilder, que sofreram todas as dificuldades do mundo para poder me criar e educar como uma pessoa de bem, obrigada! 5 AGRADECIMENTOS A Deus que restaurou a minha vida, o meu ser e a minha história. Ao meu marido, Alexsandro Cutrim, que me segurou e ajudou a superar os problemas nos momentos difíceis de nossas vidas, sem, contudo, nunca deixar de me amar igualmente ao primeiro dia do nosso casamento. À minha mãe, Marisol Figueiredo, e ao meu irmão, Tony Wilder, que me apoiaram e possibilitaram ser a pessoa de bem que sou, bem como conseguir alçar voos maiores do que eles conseguiram obrigada por tudo! Ao Desembargador Bernardo Rodrigues, que foi e sempre será a minha inspiração para seguir em frente e ser tudo que eu sempre sonhei. Que meu deu uma oportunidade e possibilitou que eu chegasse onde estou, quando ninguém acreditava que eu seria “alguém”. Ao Desembargador Lourival Serejo, que aceitou de ser meu orientador e me deu a chance de aprender ainda mais com ele. Um homem admirável que permaneceu humilde mesmo sendo um prestigiado pesquisador na área e não nega a ninguém o conhecimento que adquiriu ao longo dos tempos. Ao professor Delsio Pavan, que não negou nunca explicações e orientações a esta aluna e sempre foi muito gentil com todos o que procurou. Em suma, só tenho a agradecer a Deus, por todas as pessoas que passaram e continuam em meu caminho, porque todas elas contribuíram para que eu me tornasse uma pessoa ainda melhor e conseguisse chegar aqui, transcendendo esta fase da minha vida para que possa desbravar caminhos insondáveis. 6 “Se o direito não está posto para ditar o modelo único de uma família, os juristas devem afastar o medo de se defrontar com o diferente, com o outro em suas múltiplas experiências de ser e de se fazer um humano.” Marcos Alves da Silva 7 RESUMO O objetivo da presente monografia é analisar a relevância da multiparentalidade e discutir os seus efeitos jurídicos no campo do Direito de Família e no Direito das Sucessões. Mostrar-se-á os efeitos da multiparentalidade e sua adequação no mundo fático. Para tanto, usa-se o método dedutivo para explanar as temáticas de forma objetiva e direta, bem como, o andamento dos casos reais de filiação multiparental no país. Comenta-se sobre o instituto familiar que passou por diversas modificações e existe um grande abismo entre as famílias contemporâneas e as modernas, apesar de ambas ainda conviverem juntas na mesma conjuntura. Isso porque, o modelo moderno de família ainda é muito formalista, tendo como base, os pais e os filhos. Aborda-se O formato da família contemporânea como é delineada de acordo com o afeto, não que deixara de existir o modelo tradicional, mas com o tempo sua aceitação foi mitigada perante a sociedade. O reconhecimento da filiação socioafetiva gera efeitos pessoais e efeitos que vão além da relação entre pais e filhos, como no caso da inelegibilidade do filho socioafetivo, enfatizando a multiparentalidade, como uma direção que aos poucos tem sido tomada pelos operadores do direitos a fim de dar efetividade a todos os laços afetivos existentes no âmbito familiar. Palavras- chave: Multiparentalidade, Efeitos, Direito de Família, Direito das Sucessões. Filiação. Casos Reais. 8 ABSTRACT The aim of this paper is to analyze the relevance of multiparentalidade and discuss its legal effects on family law field and Law of Succession. Show will be the effects of multiparentalidade and their suitability in the factual world. For this, we use the deductive method to explain the issues objectively and directly, as well as the progress of actual cases of multiparental membership in the country. It is said about family institute that has gone through several changes and there is a great gulf between contemporary and modern families, although both still socialize together in the same situation. This is because the modern model of family is still very formal, based on parents and children. It approaches The format of contemporary family as is outlined according to the affection, not that ceased to exist the traditional model, but over time its acceptance was mitigated in society. The recognition of the socio- affective affiliation generates personal effects and effects that go beyond the relationship between parents and children, as in the case of ineligibility of socio- emotional child, emphasizing the multiparentalidade as a direction that gradually has been taken for the rights of operators in order to give effectiveness of all existing bonding within the family. Words Key: Multiparentalidade. Effects. Family Law. Law of Succession. Affiliation. Real cases. 9 Cutrim, Tayane Michelle da Silva Filiação multiparental: efeitos jurídicos no ramo do Direito de Família e Direito das Sucessões./ Tayane Michelle da Silva Cutrim. – São Luís, 2015. f. 51 Orientador: Prof. Esp. Lourival Serejo Monografia (Graduação em Direito) – Faculdade Santa Terezinha, São Luís, 2015. 1. Filiação multiparental. 2. Direitode família. 3. Direito das sucessões. 4. Filiação. I. Título. CDU 347.63-055.623 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11 2 DA FORMAÇÃO DAS FAMÍLIAS ............................................................................. 14 2.1 Dos tipos de famílias ....................................................................................... 15 3 RELAÇÃO SOCIOAFETIVA RESULTANDO EM FILIAÇÃO MULTIPARENTAL ... 22 3.1 Requisitos da multiparentalidade socioafetiva ................................................. 24 3.2 Fundamentação principiológica ....................................................................... 26 3.3 Da jurisprudência pátria ................................................................................... 32 3.4 Do direito comparado ...................................................................................... 34 4 DOS EFEITOS DA MULTIPARENTALIDADE ................................................ 38 4.1 No Direito de Família ....................................................................................... 38 4.2 No direito de sucessão .................................................................................... 43 5 OS ÓRGÃOS PÚBLICOS E PRIVADOS ESTÃO PREPARADOS PARA A FILIAÇÃO MULTIPARENTAL......................................................................... 46 6 CONCLUSÃO ................................................................................................. 47 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 49 11 1 INTRODUÇÃO O histórico familiar brasileiro foi alicerçado sob o prisma matrimonizado, patriarcal, heterossexual e, principalmente, patrimonialista. Devido a essa construção social, reproduzida por anos, os laços de sangue sempre foram privilegiados devido a sua função histórica na transmissão da herança. Um aspecto bem peculiar da arcaica tradição soberana do sangue se traduz no tratamento que o Código Civil de 1916 destinava ao filho adotivo, posto que a norma démodé destinava tratamento sucessório diferenciado aos filhos não consaguíneos, mesmo que fossem os únicos herdeiros do casal. Os anos de chumbo se foram e a sociedade brasileira passou a viver sob outra realidade, com paradigmas sociais e morais modernos/liberais. No tocante à unidade familiar, nos últimos anos houve um demorado processo de transformação, sendo que o modelo familiar abriu espaço para um novo modelo chamado de famílias plurais, garantindo a solidificação de um novo paradigma, não mais pautado nos laços sanguíneos, mas sim, nos laços afetivos. Como reconhecimento dos laços afetivos para fins de filiação é recente, a norma ainda não foi adequada aos novos aspectos multiparentais de alguns modelos de famílias. Com tantas reformas sociais, a maior delas oriunda da Carta Magna, atualmente, é uma visão constitucional do Direito de Família que é tão inevitável quanto indispensável, a qual vem como resposta a um anseio social que é pautado em laços de afinidade e não somente em consanguinidade. Contudo, magistrados de todo o país têm encontrado dificuldades para decidir acerca de uma socioafetividade não normatizada. Em virtude disso, os operadores do direito devem fazer uso de princípios constitucionais como os princípios da dignidade da pessoa humana e/ou do melhor interesse da criança a fim de motivar as decisões e adequar o direito à sociedade. O Poder Legislativo não conseguiu acompanhar as transformações da sociedade, talvez por não se tratar de um interesse político, e sim, de um interesse de esfera particular. Enquanto a devida norma não é produzida, os juízes de todo o país têm como respaldo o princípio do livre convencimento para garantir que o cidadão não sofra com ausência normativa. Apesar disto, a socioafetividade na doutrina pátria, tem vasta produção sobre o assunto e diversas correntes de 12 pensadores que defendem a transcendência da filiação do sangue para a socioafetiva, posto que nem sempre a herança genética garante afeto entre os membros de uma entidade familiar. Superando os aspectos introdutórios acerca da socioafetivida, passaremos a delinear o tema da multiparentalidade e seus efeitos na sociedade brasileira, bem como nos órgãos públicos e privados. O reconhecimento da posse de estado de filho a mais de uma pessoa do mesmo gênero, dois pais ou duas mães, conjuntamente ao reconhecimento da paternidade, configuram-se como requisitos para o reconhecimento filiatório multiparental, tendo como consequência uma infinidade de direitos e deveres. Objetiva-se analisar os reflexos jurídicos da filiação multiparental dentro do ordenamento jurídico brasileiro, especificamente para verificar se as instituições públicas e privadas do Brasil estão preparadas para lidar com os casos de multiparentalidade, bem como, averiguar os reflexos da filiação multiparental nos institutos do Direito de Família e Direito das Sucessões. Tendo como método de pesquisa o estudo dedutivo, técnica que foi realizada através de leitura nas mais diversas fontes doutrinárias sobre o assunto, em embasamento justificatório dos casos jurisprudenciais que concederam ou negaram o direito à filiação socioafetiva. Aborda-se a formação das famílias, explicando como cada tipo de família se apresenta na sociedade. Na oportunidade, fala-se dos princípios e requisitos fundamentadores da filiação socioafetiva multiparental. Passando então a explicação dos efeitos da filiação socioafetiva multiparental no Direito de Família e no Direito das Sucessões. Explanando, caso a caso, os questionamentos de direito existentes sobre o assunto. Faz-se uma abordagem no Direito Comparado, passando pelo entendimento do Direito Português e Francês. Em suma, o presente trabalho deseja explorar o universo da multiparentalidade com o objetivo de entender melhor como funciona a filiação socioafetiva multiparental, estudando seus efeitos e buscando respostas junto aos órgãos públicos e privados para solucionar questões práticas. 13 Esta pesquisa está organizada da seguinte forma: no primeiro item encontra-se a introdução, objetivos, justificativa e metodologia. No segundo item trata-se da formação das famílias, os tipos de famílias. No terceiro item discorre-se sobre a relação socioafetiva resultando em filiação multiparental, destacando os requisitos da multiparentalidade socioafetiva, fundamentação principiológica, falou-se direito comparado. No quarto item trata-se dos efeitos da multiparentalidade no direito da família e no direito da sucessão. No quinto item comenta-se se os órgãos públicos e privados estão preparados para a filiação multiparental. E no item seis encontra-se a conclusão. 14 2 DA FORMAÇÃO DAS FAMÍLIAS A família é uma das instituições mais antiga do mundo, praticamente surgiu com o próprio instinto de sobrevivência do homem. No Brasil, o histórico familiar brasileiro foi alicerçado sob o prisma matrimonializado, patriarcal, heterossexual e, principalmente, patrimonialista. Devido a essa construção social reproduzida por anos, os laços de sangue sempre foram privilegiados em detrimento dos laços afetivos, devido a sua função histórica na transmissão da herança o legitimado como herdeiro. Relevante citar que, atualmente, o instituto familiar passou por diversas modificações e existe um grande abismoentre as famílias contemporâneas e as modernas, apesar de ambas ainda conviverem juntas na mesma conjuntura. Isso porque, o modelo moderno de família ainda é muito formalista, tendo como base, os pais e os filhos. De outra forma, encontra-se o modelo familiar contemporâneo, em que qualquer núcleo de pessoas com afeto entre si e em convivência contínua no mesmo espaço denomina-se como entidade familiar. Deve-se ressaltar, entretanto, que o modelo moderno de família não deixou de existir, ao contrário, existe em harmonia com os modelos contemporâneos e até mesmo no modelo matrimonial não há que se falar apenas em relações sanguíneas, mas também, relativamente às afetivas parentais. O Desembargador Lourival Serejo (2014, p. 73) em seu trabalho Novos Diálogos do Direito de Família, relata o formato das famílias a seguir: Hoje, já não se fala mais em família, no singular, mas em famílias, dada a pluralidade de tipos de familiares existentes. A adjetivação das famílias reflete a multiplicidade de relações familiares ao longo do tempo. Podem-se alinhar, como exemplos dessas variações, os seguintes tipos de famílias: patriarcal, de linhagem extensa, conjugal, monógama, heterossexual, nuclear, monoparental, vivencial, unipessoal, contratual, alimentar, homossexual e família recomposta, Por derivação da parentalidade, Roudinesco classifica estes tipos de famílias: co-parentais, biparentais, multiparentais, pluriparentais e monoparentais. Desse modo, entende-se que o conceito de família hoje é extremamente largo e flexível, deixando espaço para os mais diversos entendimentos, que vão desde a família tradicional matrimonial, à homoafetiva ou simplesmente a unipessoal, que é o núcleo familiar composto de apenas uma pessoa. Hoje já não se fala tanto em laços sanguíneos, mas sim, em laços socioafetivos ou até mesmo em multiparentais. 15 2.1 Dos tipos de famílias a) Família Matrimonial - O casamento foi e até hoje é uma forma tradicional de constituição de família. Nele, pode-se agregar não somente uma família, mas a junção de bens e prestígios entre membros da sociedade. Por conta disso, a primeira família moderna se formou em torno do casamento chamando-se de família matrimonial. Berenice Dias (2011, p. 45) explana sobre o instituto em comento da seguinte forma: O Estado solenizou o casamento como uma instituição e o regulamentou exaustivamente. Os vínculos interpessoais passaram a necessitar da chancela estatal. É o Estado que celebra o matrimonio mediante o atendimento de inúmeras formalidades. Reproduziu o legislador civil de 1916 o perfil da família então existente: matrimonializada, patriarcal, hierarquizada, patrimonializada e heterossexual. Só era reconhecida a família constituída pelo casamento. O homem exercia a chefia da sociedade conjugal, sendo merecedor de respeito,devendo-lhe a mulher e os filhos obediência. A finalidade essencial era a conservação do patrimônio, precisando gerar filhos como força de trabalho. Como era fundamental a capacidade procriativa, claro que as famílias necessitavam ser constituídas por um par heterossexual e fértil. Desse modo, atualmente o casamento já não se estrutura nos dogmas de outrora, mas sim, como relação de afeto entre duas pessoas. Não significa dizer que o modelo de interesse ainda hoje não esteja presente, mas se tornou exceção à regra. Isso porque, as mulheres, em sua maioria, são independentes financeiramente e têm liberdade para escolher o parceiro sem pressões sociais do tipo econômicas para terem que sobreviver. b) Família formada pelo concubinato ou família paralela ou simultânea - Paralelamente a família matrimonial existiu e ainda existe o concubinato impuro, que se traduz naquilo que vulgarmente é chamado de “a outra”, a amante. Uma mulher que sabe que o homem é casado, mas admite conviver com mesmo às escondidas. Deve-se ressaltar que concubinato não é o mesmo que união estável, posto que aquela é relação ilícita e sob à margem da sociedade e esta é união não regularizada por questões formais, sendo que toda à sociedade reconhece o casal como legítimo apesar de não ter sido formalizado nenhum casamento ou um dos companheiros ainda permanecer casado. 16 Sobre o assunto o Supremo Tribunal Federal já se posicionou segundo se vê adiante: COMPANHEIRA E CONCUBINA - DISTINÇÃO. Sendo o Direito uma verdadeira ciência, impossível é confundir institutos, expressões e vocábulos, sob pena de prevalecer a babel. UNIÃO ESTÁVEL - PROTEÇÃO DO ESTADO. A proteção do Estado à união estável alcança apenas as situações legítimas e nestas não está incluído o concubinato. PENSÃO - SERVIDOR PÚBLICO - MULHER - CONCUBINA - DIREITO. A titularidade da pensão decorrente do falecimento de servidor público pressupõe vínculo agasalhado pelo ordenamento jurídico, mostrando-se impróprio o implemento de divisão a beneficiar, em detrimento da família, a concubina. (STF - RE: 397762 BA , Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 03/06/2008, Primeira Turma, Data de Publicação: "caDJe-172 DIVULG 11- 09-2008 PUBLIC 12-09-2008 EMENT VOL-02332-03 PP-00611 RDDP n. 69, 2008, p. 149-162 RSJADV mar., 2009, p. 48-58) (GRIFO NOSSO) Em suma, o concubinato é um ato condenável a sociedade, posto que tem um terceiro intervindo na relação marital com o fim de destruir ou desmembrar o vínculo de um casal. c) Família formada pela união estável - Durante muitos anos a união estável foi confundida com o concubinato, posto que o Código Civil de 1916 só reconhecia a união através do casamento e o procedimento de divórcio era longo e caro. Por conta disto, muitas pessoas não se divorciavam de plano, mas continuavam separadas de fato e para o código de outrora qualquer relacionamento posterior sem divórcio era considerado concubinato. Sobre a temática Gonçalves (2008, p. 539) se posiciona acerca de como a união estável é retratada, posto que “a união prolongada entre o homem e a mulher, sem casamento, foi chamada, durante longo período histórico, de concubinato.” Gonçalves continua no universo da união estável, explicando os impedimentos do casamento e a união estável, vide abaixo: [...] deve-se entender que nem todos os impedidos de casar são concubinos, pois o § 1º do art. 1723 trata como união estável a convivência pública e duradoura entre pessoas separadas de fato e que mantém o vínculo do casamento, não sendo separadas de direito (2008, p. 543). Atualmente o instituto da união estável já foi devidamente regulado e reconhecido pela Constituição, garantindo assim, paridade entre a situação de companheiros e casados. 17 Vide art. 226,§ 3º, da Constituição Federal de 1988 que trata da união estável: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. No início da regulamentação da união estável haviam muitas dúvidas de como se configurar tal relação, posto que não existia documento formalizando, bem como não confundir com namoro demorado? Veja a seguir decisões de Maria Berenice sobre a configuração da união estável: AC 70000908756 UNIÃO ESTÁVEL. PRAZO. Confessada a vida em comum, ainda que por período inferior a dois anos, não há como desqualificar-se o relacionamento pelo fato de o varão afirmar que não tinha a intenção de casar. Apelo provido.(GRIFO NOSSO) AC 700000848887 UNIÃO ESTÁVEL. EXCEPTIO PLURIUM CONCUBENTIUM. A eventual infidelidade do varão durante o período de convivência com a autora não serve para desconfigurar a união estável e ensejar as seqüelas patrimoniaiscabíveis. Apelo improvido..(GRIFO NOSSO) AC 70001561406 e 70001561463 UNIÃO ESTÁVEL. DESCONSTITUIÇÃO. Tanto a constituição da união estável como sua dissolução, que se opera pelo simples rompimento da vida em comum, não estão condicionadas à chancela judicial. Não há necessidade, como ocorre no casamento, de que sua formalização e sua desconstituição ocorra pela intervenção estatal. A Constituição Federal - recepcionando a reiterada postura adotada pelo Poder Judiciário de emprestar efeitos patrimoniais aos vínculos afetivos configuradores do que era chamado de concubinato - reconheceu como entidade familiar o que denominou de união estável, ou seja, relacionamentos que nascem e se exaurem pelo simples convívio. Cabe ao juiz, tão-só, estabelecer seu período de vigência, fixando seu marco inicial e final e atribuir-lhe as conseqüências jurídicas agora definidas na legislação infraconstitucional. ACORDO. O acordo firmado pelos conviventes quando do fim da vida em comum, só pode ser desconstituído se demonstrada a ocorrência de vício do consentimento ou lesão enorme. Apelações improvidas.(GRIFO NOSSO) Como se depreende dos julgados acima, a união estável não precisa mais do lapso temporal para ser reconhecida, bastando à vontade de constituir vida a dois. Entende-se também, que não há como confundir união estável com o concubinato impuro, posto que a união estável é reconhecida pela Constituição enquanto o concubinato impuro não tem seu vinculo reconhecido nem pela sociedade e nem pelo Direito. Por tudo exposto, não há como confundir a união estável com o concubinato impuro, que não é amparado por lei, posto que a união estável é 18 equivalente ao casamento, só que sem as formalidades legais, enquanto o concubinato é uma relação paralela sem amparo legal. d) Monoparental - segundo Schmtiz (2013, p.297), o conceito de família monoparental é: “quando a pessoa, no caso homem ou a mulher acha-se sozinhos, e existe com uma ou múltiplas crianças, podendo, de tal maneira, viver recolhidos ou no domicilio de idênticos, como domicílio dos pais.” Schmtiz (2013, p.297), também cita outra forma de composição de família monoparental, conforme se vê ipsis litteris: Existem outra forma de monoparentalidade que é um dos genitores que escolhe ter uma família adotando uma criança, de acordo com o art. 42 do ECA independente do estado civil da pessoa que se encontra só tanto homem quanto a mulher se torna família ao adotar uma criança, essa união é união de afeto, respeito, carinho contendo os requisitos que se torna uma família e que através da escolha do genitor passou a ser uma família monoparental, No mundo, é o modelo de família mais crescente, posto que a sociedade vem se fragmentando de tal maneira que os casamento tendem a duram em média quatro anos. Ressalta-se que esta formação familiar não se constitui apenas através de casamentos desfeitos, mas também de relações esporádicas e em algumas vezes simultâneas, ou as “independentes”. É chamada família de mãe/pai solteiros ou divorciados, que atualmente cresce cada vez mais, posto que a liberdade sexual se acha “à flor da pele”. Dessa forma, conclui-se que o presente modelo de família se constitui de pessoas com apenas um parente em linha reta cuidando de seus filhos ou até mesmo enteados. e) Anaparental ou parental - Segundo Schmtiz (2013, p. 298) é” uma entidade familiar composta de pessoas com vínculo sanguíneo, parentes, irmãos, que moram juntos, porém, sem os pais.” Para Berenice Dias (2011, p. 298 apud Sergio Resende) [...] a convivência entre parentes ou entre pessoas, ainda que não parentes, dentro de uma estruturação com identidade de propósito, impõe o reconhecimento da existência de entidade familiar batizada com o nome de família parental ou anaparental. Tal estrutura de família tornou comum para as pessoas que moram no interior e desejam ter um meio de estudo mais apropriada a competitividade do mercado. Tem também o presente modelo no caso do falecimento dos pais, que os 19 filhos passam ser criados pelos irmãos, tios e/ou outros parentes que era mais próximo do casal. Mas como destaca Berenice Dias acima, esse tipo de modelo de família não é formado exclusivamente por pessoas do grupo familiar, podendo inclusive, ser por outras pessoas, por exemplo, amigos ou conhecidos. Deve-se ressaltar que se trata do modelo parental quando for a entidade familiar composta por pessoas com vínculo sanguíneo, por exemplo, tio e sobrinho, e quando a entidade familiar for mista, isto é, composta por amigos e parentes vai ser denominada de anaparental. f) Unipessoal - Segundo Schmtiz (2013, p. 302) é: “a família composto por apenas uma pessoa. De modo recente, o STJ lhe atribui à assistência do bem de família, como se deduz da súmula 364:” O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. A liberdade feminina trouxe como uma das conseqüências a possibilidade de tanto o homem como a mulher morarem sozinhos, sem que se encontre nas estrutura tradicional ou contemporânea de núcleo familiar, isto é, a família é formada apenas pela própria pessoa arcando com os benefícios e o ônus de uma vivência assim. Como Schmitiz fala acima, o fato de a família ser composta apenas uma pessoa não quer dizer que não deva ter proteção legal, seja em questões patrimoniais ou mesmo entre outros ramos do direito. Afinal, todo o direito deve ser respeitado e reconhecido tanto para o cidadão como perante a sociedade. g) Homoparental - a família homoparental é a formada por duas pessoas do mesmo sexo, masculino ou feminino, que se unem em prol de relação de sentimento afetivo. O núcleo pode ser diversificado, isto é, somente o casal homoafetiva ou o casal mais uma criança que pode ser filha sanguínea de um dos dois do casal ou adotivo. 20 A dificuldade desse tipo de familiar reside quanto ao aspecto da descendência, pois necessitará de adoção ou mesmo no caso de homoparentalidade feminina de inseminação artificial. Vide a seguir um julgado acerca de garantia de reconhecimento deste núcleo familiar através de concessão de benefícios compartilhados: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. UNIÃO HOMOAFETIVA. INSCRIÇÃO DE PARCEIRO EM PLANO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DA CORTE. 1.- Reconhecida a união homoafetiva como entidade familiar, aplicável o entendimento desta Corte no sentido de que "a relação homoafetiva gera direitos e, analogicamente à união estável, permite a inclusão do companheiro dependente em plano de assistência médica" (REsp nº 238.715, RS, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ 02.10.06). 2.- Agravo Regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp: 1298129 SP 2011/0297270-0, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento: 13/08/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 05/09/2013) A entidade familiar homoafetiva é diferente, mas nem por isso deve ser desconsiderada como família. O preconceito é a ignorância humana na cabeça dos homens, maculando seus corações com perversas atitudes e cruéis sentimentos. Dessa forma, de todos os núcleos familiares existentes, a entidade homoafetiva é ainda a mais estigmatizada e desrespeitada por se tratar de uma minoria, tão pequena como o pensamento de que não acredita nesta união. h) Eudemonista - Segundo Schmtiz (2013, p. 300), a família eudomonista consiste: [...] uma apreciação atual que menciona à família que procura a efetivação total de suas partes, distinguindo-se pela comunhão de amor mútuo, a estima e a consideração recíprocas em meio aos elementos que a compõe,livre da amarração biológica. Para Berenice (apud Schmtiz 2013, p.300), trata-se de família eudemonista: A família identifica-se pela comunhão de vida, de amor e de afeto no plano da igualdade, da liberdade, da solidariedade e da responsabilidade recíproca. No momento em que o formato hierárquico da família cedeu à sua democratização, em que as relações são muito mais de igualdade e de respeito mútuo, e o traço fundamental é a lealdade , não mais existem razões morais, religiosas, políticas, físicas ou naturais que justifiquem a excessiva e indevida ingerência do Estado na vida das pessoas. O ideal eudemonista é o que é perseguido atualmente em todos os modelos de família. Na família em que é reconhecida a multiparentalidade é necessário que exista o eudemonismo a fim de que a criança possa conviver e aproveitar o carinho e amor tanto da ascendência biológica quanto da socioafetiva. 21 Para Fabíola Santos Albuquerque (2012, p. 92), “Família base da sociedade, locus privilegiado e espaço de realização de todos os seus membros, independente do modelo familiar escolhido.Relações de afeto lastreadas nos princípios da dignidade da pessoa humana e na solidariedade.” Dessa forma, o modelo eudemonista é o idealizado por todas as composições de entidades familiares e por todos aqueles que almejam um lar sem problemas e perseguido por amor, harmonia, felicidade e alegria, em suma, a família eudemonista é a família plenamente feliz e completa, é o próprio conceito de felicidade. Por fim, na família eudemonista o foco principal de seus integrantes será o afeto e não necessariamente o vinculo biológico, posto que pode ser constituída por pessoas parentes ou não. i) Pluriparental, composta, mosaico ou MULTIPARENTAL - Para Berenice (2011, 49-50), família mosaico é: [...] são caracterizadas pela estrutura complexa decorrente da multiplicidade de vínculos, ambiguidade das funções dos novos casais e forte grau de interdependência. A administração de interesses visando equilíbrio assume relevo indispensável á estabilidade das famílias. Mas a lei esqueceu delas! A especificidade decorre da peculiar organização do núcleo , resconstruído por casais onde um ou ambos são egressos de casamento ou uniões anteriores. Eles trazem para a nova família seus filhos, e muitas vezes, tem filhos em comum. É a clássica expressão: os meus, os teus, os nossos (...) Trata-se de família que os responsáveis do núcleo familiar se deu outra oportunidade de vida com novo casamento, misturando assim, duas famílias com patriarcas diferentes no comando ao mesmo tempo, posto que ao se aglutinarem as chefias das famílias foram divididas. Acontece que com o tempo os laços de afetividade são maiores que os laços sanguíneos, necessitando, assim, de reconhecimento judicial para poder ser regularizada a situação perante os seus corações e suas mentes como também perante a sociedade. Tal modelo de família se encontra em crescimento atualmente, com vários julgados reconhecendo os vínculos afetivos decorrentes da convivência e do sólido vínculo de afeto. Baseando-se nos princípios da dignidade da pessoa humana e do melhor interesse da criança e do adolescente. 22 Dessa forma, a família multiparental se caracteriza pela existência de dois pais e/ou duas mães, isto é, o parentesco socioafetivos e o biológico. 3 RELAÇÃO SOCIOAFETIVA RESULTANDO EM FILIAÇÃO MULTIPARENTAL A filiação no Brasil tinha como parâmetro basilar as relações de parentesco e genética para indicar o portador do patronímico familiar. Com a evolução da sociedade e, naturalmente, a do Direito, outros parâmetros têm sido empregados; dentre eles, recentemente, o afeto. No Dicionário Aurélio (2008, p.99), afeto é ”afeição, amizade, amor.” O formato da família contemporânea é delineada de acordo com o afeto, não que deixara de existir o modelo tradicional, mas com o tempo sua aceitação foi mitigada perante a sociedade. A ordem, no Direito Constitucional da Família, são as relações de afeto e felicidade entre seus membros, daí o termo socioafetividade e eudemonismo, que segundo Fabíola Santos Albuquerque, (2012, p. 92), eudemonismo é: É a afeição ínsita na família. O amor entre pais e filhos, se refere aos cuidados que um tem para com o outro. Portanto, família é aquela fundada no amor que traduz essa atenção especial entre pais e filhos. Esse é o verdadeiro sentido da família eudomonista. Família base da sociedade, lócus privilegiado e espaço de realização de todos os seus membros, independentemente do modelo familiar escolhido de afeto lastreadas nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. De forma semelhante Renato Maia (2008, p. 68-69): Partindo da premissa de que a identidade pessoal da criança e do adolescente tem ligação direta com sua identidade no grupo familiar e social, tratada por Tânia da Silva Pereira, entende-se que o estabelecimento de seu estado de filiação e em oposição, a fixação da relação jurídica de paternidade da forma adequada é o modo de garantir-lhe dignidade, respeito, convivência familiar condizente, além de ser o modo devido de colocá-lo a salvo de discriminação. A doutrina reconhece à criança e ao adolescente a titularidade de direitos de personalidade, possibilitando até a indenização por danos morais sempre que estes forem lesionados e deve também, reconhecer o direito à fixação de sua filiação de maneira condizente com seu melhor interesse como forma de proteção. Outro ponto que merece destaque é o direito ao conhecimento de sua ascendência, nato a cada individuo, o qual se denomina direito à identidade genética. Conforme a lição do mestre Lôbo (2004. p. 524), acerca do direito à identidade genética: O objeto da tutela do direito ao conhecimento da origem genética é assegurar o direito da personalidade, na espécie direito à vida, pois os 23 dados da ciência atual apontam para necessidade de cada indivíduo saber a história de saúde de seus parente biológicos próximos para a prevenção da própria vida. Desse modo, a proteção do afeto visa garantir a permanência da família da forma como foi sendo estruturada. Já o direito à identidade genética traz ao individuo a possibilidade de conhecer o seu “eu biológico”, isto é, de quem herdou as suas características aparentes e qual o histórico de doenças na família, bem como outros pontos de natureza biológica; com isso, o indivíduo não se vê mais no escuro quanto à sua genética. A tendência do Direito de Família Contemporâneo é da prevalência da filiação socioafetiva sobre a biológica. Contudo, entendimentos recentes de parte da doutrina e de alguns tribunais do país é que não se deve excluir uma em favor da outra, mas sim, somá-las. Nesses casos, ocorre o que se convencionou chamar de multiparentalidade. A multiparentalidade é a junção/união registral de duas filiações em um mesmo documento de registro de nascimento, ou seja, nos casos de registro multiparental constará no documento a filiação biológica e a decorrente da filiação socioafetiva. Dessa maneira, haverá a proteção do direito à herança genética e a proteção do laço socioafetivo. A multiparentalidade forma a chamada família mosaico ou pluriparental, pois para que permaneça a configuração deste tipo de família é necessária a concordância de ambos os indivíduos envolvidos, assumindo os seus efeitos, caso contrário haverá a sobreposição de uma filiação a outra. Destarte, deve-se ressaltar que para a configuração da multiparentalidade é necessário que ambos os vínculos sejam reconhecidos, isto é, a verdade biológica e a relação socioafetiva. 24 3.1Requisitos da multiparentalidade socioafetiva a) Laços de afetividade e sólido vínculo afetivo - Os laços de afetividade são os alicerces que dão força às famílias, sem o afeto não há que se falar em uma família feliz e plena. Versa Maria Helena Diniz (apud Cassettari, 2014, p. 29), que a “relação de afeto, gerada pela convivência”. De fato, o tempo de convivência é que faz surgir o amor ou o ódio entre certo grupo ou o faz permanecer unido em prol de um objetivo maior. A afetividade no Direito de Família é tão importante que se traduz como princípio, elevando ao grau máximo a cultura do amor. Em seu trabalho de Direito de Família, Tartuce (2014 p. 25), leciona: Os princípios estruturam o ordenamento, gerando consequências concretas, por sua marcante função para a sociedade. E não restam dúvidas de que a afetividade constitui um código forte no Direito Contemporâneo, gerando alterações profundas na forma de se pensar a família brasileira [...] E continua em sua obra de Direito de Família, Tartuce (2014p. 26): De toda sorte, deve ser esclarecido que o afeto equivale à interação entre as pessoas, e não necessariamente ao amor, que é apenas uma de suas facetas. O amor é o afeto positivo por excelência. Todavia, há também o ódio, que constitui o lado negativo dessa fonte de energia do Direito de Família Contemporâneo. Concretizando o princípio da afetividade, a sua valorização prática remonta ao brilhante trabalho de João Baptista Villela, jurista de primeira grandeza, escrito em 1979, tratado da desbiotização da paternidade. Na essência, o trabalho procura dizer que o vínculo familiar constitui mais um vinculo de afeto do que um vínculo biológico. Assim surge uma nova forma de parentesco civil, a parentalidade socioafetiva, baseada na posse de estado de filho. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul foi um dos precursores ao se posicionar sobre o tema do afeto nas relações de família, conforme se denota da jurisprudência a seguir: INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. INVESTIGANTE QUE JÁ POSSUI PATERNIDADE CONSTANTE EM SEU ASSENTO DE NASCIMENTO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 362, DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. MUDANÇA DE ENTENDIMENTO DO AUTOR DO VOTO VENCEDOR. Os dispositivos legais continuam vigorando em sua literalidade, mas a interpretação deles não pode continuar sendo indefinidamente a mesma. A regra que se extrai da mesma norma não necessariamente deve permanecer igual ao longo do tempo. Embora a norma cotinue a mesma, a sua fundamentação ética, arejada pelos valores dos tempos atuais, passa a ser outra, e, por isso, a regra que se extrai dessa norma é também outra. Ocorre que a família nos dias que correm é informada pelo valor do AFETO. É a família eudemonista, em que a realização plena de seus integrantes passa a ser a razão e a 25 justificação de existência desse núcleo. Daí o pretígio do aspecto afetivo da paternidade, que prepondera sobre o vínculo biológico, o que explica que a filiação seja vista muito mais como um fenômeno social do que genético. E é justamente essa nova perspectiva dos vínculos familiares que confere outra fundamentação ética à norma do art. 362 do Código Civil de 1916 (1614 do novo Código), transformando-a em regra diversa, que objetiva agora proteger a preservação da posse do estado de filho, expressão da paternidade socioafetiva. Posicionamento revisto para entender que esse prazo se aplica também à impugnação motivada da paternidade, de tal modo que, decorrido quatro anos desde a maioridade, não é mais possível desconstituir o vínculo constante no registro, e, por conseqüência, inviável se torna investigar a paternidade com relação a terceiro.DERAM PROVIMENTO, POR MAIORIA, VENCIDO O RELATOR. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70005246897, SÉTIMA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR JOSÉ CARLOS TEIXEIRA GIORGIS, JULGADO EM 12/03/2003). Deve-se ressaltar que não basta ter laços afetivos, existe a necessidade de ser um sólido vínculo afetivo. Vínculo afetivo que se traduz na duradoura convivência e pautado na posse de estado de filho e na posse do estado de pais. b) Tempo de convivência - Dizem que o tempo apaga tudo ou constrói novamente o que foi quebrado ou destruído. Nas relações interpessoais o tempo é fundamental para avaliar se conhece ou não uma pessoa e se tem afeto ou ódio pela mesma. Mas o mesmo tempo que leva coisas ruins, também constrói coisas boas e marcantes. Versando sobre o tempo de convivência e seus reflexos na multiparentalidade, o autor Cassetari (2014, p. 31), dimensiona a importância desse requisito para a multiparentalidade bem como sua proximidade com o desenvolvimento da afetividade, vejamos: [...] a convivência é o que faz nascer o carinho, o afeto e a cumplicidade nas relações humanas, motivo pelo qual há que se ter prova de que o afeto existe com algum tempo de convivência. Não será fácil verificar qual o tempo mínimo de convivência, e nem o momento exato do nascimento da socioafetividade, mas, analisando caso a caso, podemos verificar, em razão do fator tempo, nasceu esse tipo de parentalidade. O tempo de convivência deve ser assimilado a outros dois requisitos: laços de afetividade e sólido vínculo afetivo, posto que são um tripé que sustentar a parentalidade socioafetiva e por conseguinte multiparental. Tais requisitos propriciam a existência da multiparentalidade no mundo fático, posto que formam um ciclo de coexistência, em que o próprio desenvolvimento de um dos requisitos resultará na ampliação dos demais, ao passo que os princípios da dignidade da 26 pessoa humana e do melhor interesse da criança fundamentam a existência da multiparentalidade no panorama jurídico. 3.2 Fundamentação principiológica a) Dignidade da pessoa humana - A constituição Federal elevou o princípio da dignidade da pessoa humana como um dos basilares do Estado Democrático de Direito. Como não poderia ser diferente, nos outros ramos do Direito, tal princípio se faz presente como garantidor do “Estado Mínimo”, e no Direito de Família , por exemplo, usa-se o princípio da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos para configuração da filiação socioafetiva em casos que as pessoas já se encontram em plena maturidade formal. Sobre o tema, Maria Berenice (2011, p.62), versa que: [...] o principio da dignidade da pessoa humana é o mais universal de todos os princípios. É um macropríncipio do qual se irradiam todos os demais: liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade e solidariedade, uma coleção de princípios éticos. Falar em dignidade da pessoa humana no Direito de Família é falar em sua própria essência e fundamentos de sua existência. O direito de Família é todo balizado no princípio da dignidade humana, tendo como sua principal essência o bem-estar das famílias e de seus membros. Em prol da dignidade da pessoa humana, os Tribunais e Doutrinadores se lançaram no tema da multiparentalidade , visto que com o desenvolvimento do Direito de Família, bem como o surgimento de uma família pluriparental, inúmeros casos envolvendo múltipla parenalidade apresentam-se ao Direito,seja no ramo do Direito de Família, sob o aspecto da filiação, seja no Direito das Sucessões, sob o aspecto da partilha e herança, dessa forma, em cumprimento ao princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, os operadores do Direito passam a analisar o tema, visando garantir a satisfação do anseios pessoais do individuo, como sua herança genética, a garantia do nome, reconhecimento do estado de filho perante a sociedade, entre outros. 27 b) Pluralismo das entidades familiares - A entidade familiar formada unicamente pelo vínculo do casamento cedeu para uma vasta gama de arranjosfamiliares, isto porque inúmeras mudanças ocorreram na sociedade, gerando, sobremaneira, por fortalecimento das instituições jurídicas, que asseguram conquistas à grupos sociais minitários, como homossexuais, por exemplo. O TRF/RJ, sob a relatoria do Desembargador Federal Sergio Schwaitzer, em meados de 2007, proferiu acórdão garantindo direitos à minorias, in casu, à uma companheira homossexual, vejamos: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – PENSÃO ESTATUTÁRIA – CONCESSÃO – COMPANHEIRA HOMOSSEXUAL – LEI DE REGÊNCIA – LEI Nº. 8.112/90 (ART. 217, I, “C”) – DESIGNAÇÃO EXPRESSA – DISPENSABILIDADE – DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DA COMPANHEIRA – PRESUNÇÃO – ART. 241, DA LEI Nº. 8.112/90 – UNIÃO ESTÁVEL HOMOSSEXUAL – NATUREZA DE ENTIDADE FAMILIAR – ART. 226, § 3º C/C ART. 5º, CAPUT E ART. 3º, IV, DA CONSTITUIÇÃO – COMPROVAÇÃO – MEIOS IDÔNEOS DE PROVA – ATOS ADMINISTRATIVOS – PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE E LEGITIMIDADE – PAGAMENTO – ATRASADOS – TERMO INICIAL – INDEFERIMENTO DO PEDIDO NA VIA ADMINISTRATIVA – VERBAS HONORÁRIAS – PERCENTUAL – REDUÇÃO – ART. 20, § 4º, DO CPC. I – A atual Constituição não vinculou a família ao casamento, pois abarcou outros modelos de entidades familiares, como as uniões estáveis (art. 226, § 3º) e as famílias monoparentais (art. 226, § 4º). Porém, essa pluralidade de entidades familiares não se esgota nos modelos antes mencionados. O conceito de família não se restringe mais à união formada pelo casamento, visando à procriação, e, portanto, limitada à heterossexualidade do casal, pois, hodiernamente, sendo a afetividade o elemento fundante da família, outras formas de convivência, além da proveniente do modelo tradicional, devem ser reconhecidas. II – Ainda que não haja previsão legal para o reconhecimento das uniões homossexuais como entidades familiares, devem ser respeitados os princípios e garantias fundamentais da Constituição – um sistema aberto de princípios e regras (imperfeitas e inacabadas) que deve se manter vivo, atento à evolução da realidade –, cujas normas não podem ser analisadas isoladamente, devendo se subsumir completamente aos princípios constitucionais para obter seu sentido último. III – Observe-se que a própria Constituição veda a discriminação (art. 5º, caput), inclusive a fundada na orientação sexual do indivíduo, hipótese de diferenciação que, por resultar da combinação dos sexos das pessoas envolvidas, é, por isso, apanhada pela proibição de discriminação por motivo de sexo. Outrossim, ao reconhecer a dignidade da pessoa humana como um de seus elementos centrais e fundantes, o Estado Democrático de Direito, além de proteger os indivíduos de invasões legítimas de suas esferas pessoais, promete a promoção positiva de suas liberdades. IV – O legislador constituinte adotou, ainda, o princípio da igualdade de direitos, sendo pacífico na doutrina que, dependendo das inúmeras diferenças existentes entre as pessoas e situações, poderá haver tratamento desigual para elas, desde que essa diferenciação seja fundada em justificativa racional. No caso das uniões homossexuais, não há justificativa racional, mas verdadeiro preconceito, o qual não tem o condão de legitimar a diferenciação por orientação sexual, especialmente em face da norma inserta no art. 3º, IV, que o proíbe expressamente. V – Não se pode, assim, negar o caráter de entidade familiar das uniões homossexuais alicerçadas no amor mútuo, na convivência pública e duradoura e na assistência recíproca, sendo inadmissível que tais uniões, por serem 28 formadas por pessoas do mesmo sexo, sejam tratadas como meras sociedades de fato, sem a possibilidade de equiparação ao companheirismo. VI – Tendo em vista a presunção de legalidade e legitimidade atribuída aos atos administrativos, presume-se, até prova em contrário, que a concessão de pensão previdenciária pelo INSS à autora, em razão do óbito de sua companheira, foi realizada em estrita observância à lei, o que, aliado ao fato de os documentos constantes dos autos – como escritura pública declaratória de dependência econômica e de convivência more uxório há mais de 15 (quinze) anos, extrato bancário de conta- corrente em nome da falecida servidora (titular) e da autora (2ª titular) e contas telefônicas comprovando o mesmo domicílio – serem mais do que suficientes à comprovação da relação de companheirismo entre a autora e a falecida servidora, mais do que razoável é garantir àquela o direito à pensão por morte desta, a contar da data do indeferimento do pedido na esfera administrativa, conforme requerido na inicial. VII – A designação expressa, contida no art. 217, I, “c”, da Lei nº. 8.112/90, visa tão-somente a facilitar a comprovação, junto ao órgão administrativo competente, da vontade do (a) falecido (a) servidor (a) em indicar o companheiro, ou companheira, como beneficiário da pensão por morte, sendo, portanto, desnecessária caso a comprovação da união estável venha a ser suprida por outros meios idôneos de prova. VIII – Em nenhum momento, a Lei nº. 8.112/90 estabelece que a companheira somente fará jus à pensão estatutária se comprovar, além da designação expressa e da união estável como entidade familiar, a dependência econômica com relação ao instituidor. Ademais, se a companheira que comprove união estável como entidade familiar se equipara ao cônjuge, nos termos do parágrafo único do art. 241, é certo que, assim como ele, está dispensada de comprovar tal dependência. IX – Devido à simplicidade e a pouca repercussão da causa, não caracterizando a “importância” de que trata o Código de Processo Civil, bem assim por ter sido dispensável deslocamento ou exigido muito tempo do procurador para a prestação de seu serviço, reduzo o percentual arbitrado pelo juízo a quo a título de honorários advocatícios para 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação, a teor do art. 20, § 4º, do CPC. X – Apelação e remessa necessária parcialmente providas. (TRF-2 - AC: 200251010195768 RJ 2002.51.01.019576-8, Relator: Desembargador Federal SERGIO SCHWAITZER, Data de Julgamento: 04/07/2007, SÉTIMA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - Data::25/09/2007 - Página::478) A diversidade dos arranjos familiares, ou seja, os inúmeros modos de composição familiar equivalem ao pluralismo das entidades familiares, termo de grande relevância na Constituição atual, alçando o patamar de principio constitucional do Direito de Família, posto que se concretiza como uma garantia constitucional, a qual protege todos os núcleos familiares, pautando-se principalmente no critério afetivo existente entre os membros da família. Destarte, o princípio do pluralismo das entidades familiares é a garantia e ao mesmo tempo reconhecimento que o legislador constituinte aferiu aos diversos arranjos familiares, os quais evoluem dinamicamente com a sociedade. 29 c) Proibição do retrocesso social - A proibição do retrocesso familiar é o principio constitucional que tem como fim não permitir que direitos já garantidos sejam desrespeitados, por exemplo, o direito de união estável entre pessoas do mesmo sexo. Versa Berenice Dias (2011, p. 69, Família): A consagração constitucional da igualdade, tanto entre homens como mulheres, como entre filhos, e entre as próprias entidades familiares, constitui simultaneamente garantia constitucional e direito subjetivo. Assim, não podem sofrer limitações ou restrições da legislação ordinária. É o que se chama de principio constitucional da proibição de retrocesso social. O presente princípio serve como um escudo para garantir a efetividade dos direitos conquistados ao longo do tempo no Direito de Família. Não obstante a conquista de direitos sociais ser de extrema relevância para a sociedade, manter os direitos já conquistados revela-se extremante desafiador,talvez por isso o legislador constituinte, ao tratar dos direitos pertinentes à família, elegeu tais direitos como direitos fundamentais, garantindo assim sua manutenção e obrigatoriedade pelo legislador infraconstitucional. Digna de ser mencionada é a lição de Berenice Diais (2013,69): A partir do momento em que o Estado, em sede constitucional, garante direitos sociais, a realização desses direitos não se constitui somente em uma obrigação positiva para a sua satisfação – passa a haver também uma obrigação negativa de não se abster de modo a assegurar a sua realização. O legislador infraconstitucional precisa ser fiel ao tratamento isonômico assegurado pela Constituição, não podendo estabelecer diferenciações ou revelar preferências. Do mesmo modo, todo e qualquer tratamento discriminatório levado a efeito pelo Judiciário mostra-se flagrantemente inconstitucional. A proibição do retrocesso social, que possui natureza principiologica, contempla aspectos positivos e negativos, ou sob outros termos, comissivos e omissivos, isso porque a norma em estudo obriga o legislador a progredir nas conquistas sociais, alcançando novos patamares de direitos sociais, bem como também obriga o legislador, ao elaborar normas, respeitar os direitos já alcançados, não suprimindo ou reduzindo-os. 30 d) Afetividade - O afeto não se encontra positivado na Constituição Federal, nem em outra codificação, contudo, não se pode negar a importância de tal principio nas relações familiares contemporâneas. Para configuração da parentalidade socioafetiva e vinculação filial desta, é necessário que se prove um sólido vinculo afetivo, caso contrário, não há que se falar em parentalidade socioafetiva. Acontece que o afeto ganhou proporções tão grandes no direito de família, que hoje a maioria dos casos relacionam-se com as relações afetivas. Como versa Berenice Dias (p. 70, Familia), “houve a constitucionalização de um modelo de família eudemonista e igualitário, com maior espaço para o afeto e a realização individual”. O princípio da afetividade encontra respaldo no trabalho do multicitado João Baptista Villela (apud Tartuce, p. 26), “desbiologização da paternidade, escrito em 1979, o trabalho procura dizer que o vínculo familiar constitui mais um vínculo de afeto do que um vínculo biológico.” Com a valorização do afeto, houve uma quebra nas correntes que defendem a filiação biológica sobre a socioafetiva. Isso porque, hoje leva-se mais em conta o bem- estar das entidades familiares e não um mero vínculo biológico. e) Melhor interesse do menor - Com o início dos caso de parentalidade socioafetiva, dois princípios sempre foram os fundamentadores: a dignidade da pessoa humana e o melhor interesse do menor. Como já abordado neste trabalho monográfico, dignidade da pessoa humana fundamentando os casos de pessoas já adultas que desejam ter seu vínculo afetivo reconhecido, já o melhor interesse do menor fundamenta os casos de menores de idades que se encontram envolvidos em casos de socioafetividade. O melhor interesse do menor versa sobre o bem-estar da criança, bem como, o menor impacto afetivo e emocional que a realidade socioafetiva trará. Daí a necessidade da prevalência do caráter socioafetivo sobre o biológico, pois uma criança pode ter o amor de um padrasto que não tem de um pai “verdadeiro”. Apesar de ser fundamental importância para o tema da multiparentalidade, o princípio do melhor interesse da criança transcende o Direito de Família e das Sucessões, alcança todo o ordenamento jurídico brasileiro, conforme depreende-se da jurisprudência colecionada abaixo: 31 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ADOÇÃO C/C DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR MOVIDA PELOS ASCENDENTES QUE JÁ EXERCIAM A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. SENTENÇA E ACÓRDÃO ESTADUAL PELA PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. MÃE BIOLÓGICA ADOTADA AOS OITO ANOS DE IDADE GRÁVIDA DO ADOTANDO. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. SUPOSTA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 39, § 1º, 41, 42, §§ 1º E 43, TODOS DA LEI N.º 8.069/90, BEM COMO DO ART. 267, VI, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INEXISTÊNCIA. DISCUSSÃO CENTRADA NA VEDAÇÃO CONSTANTE DO ART. 42, § 1º, DO ECA. COMANDO QUE NÃO MERECE APLICAÇÃO POR DESCUIDAR DA REALIDADE FÁTICA DOS AUTOS. PREVALÊNCIA DOS PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO INTEGRAL E DA GARANTIA DO MELHOR INTERESSE DO MENOR. ART. 6º DO ECA. INCIDÊNCIA. INTERPRETAÇÃO DA NORMA FEITA PELO JUIZ NO CASO CONCRETO. POSSIBILIDADE. ADOÇÃO MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. 1. Ausentes os vícios do art. 535, do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração. 2. As estruturas familiares estão em constante mutação e para se lidar com elas não bastam somente as leis. É necessário buscar subsídios em diversas áreas, levando-se em conta aspectos individuais de cada situação e os direitos de 3ª Geração. 3. Pais que adotaram uma criança de oito anos de idade, já grávida, em razão de abuso sexual sofrido e, por sua tenríssima idade de mãe, passaram a exercer a paternidade socioafetiva de fato do filho dela, nascido quando contava apenas 9 anos de idade. 4. A vedação da adoção de descendente por ascendente, prevista no art. 42, § 1º, do ECA, visou evitar que o instituto fosse indevidamente utilizado com intuitos meramente patrimoniais ou assistenciais, bem como buscou proteger o adotando em relação a eventual "confusão mental e patrimonial" decorrente da "transformação" dos avós em pais. 5. Realidade diversa do quadro dos autos, porque os avós sempre exerceram e ainda exercem a função de pais do menor, caracterizando típica filiação socioafetiva. 6. Observância do art. 6º do ECA: na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. 7. Recurso especial não provido. (STJ - REsp: 1448969 SC 2014/0086446-1, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento: 21/10/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/11/2014) A proteção aos direitos da criança além de constituir direitos fundamentais, também possui reconhecimento internacional em decorrência da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito da Criança, dessa forma, o princípio do melhor interesse da criança alcança ainda maior repercussão, garantindo, por conseguinte, uma ampliação dos fundamentos da multiparentalidade. 32 3.3 Da jurisprudência pátria A construção da parentalidade socioafetiva foi realizada através da jurisprudência pátria e com o decorrer do tempo a doutrina e mesmo as recomendações do IBDFAM concluíram para aceitar socioafetividade. Depois a prevalência do afeto sobre verdade biológica. Vide abaixo alguns julgados sobre o assunto: EMENTA: MATERNIDADE SOCIOAFETIVA Preservação da Maternidade Biológica Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do parto, e de sua família - Enteado criado como filho desde dois anos de idade Filiação socioafetiva que tem amparo no art. 1.593 do Código Civil e decorre da posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, aliado ao afeto e considerações mútuos, e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se trata de parentes - A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base na afetividade e nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade Recurso provido. STJ: DIREITO DE FAMÍLIA. AÇAO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. EXAME DE DNA NEGATIVO. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. Em conformidade comos princípios do Código Civil de 2002 e da Constituição Federal de 1988, o êxito em ação negatória de paternidade depende da demonstração, a um só tempo, da inexistência de origem biológica e também de que não tenha sido constituído o estado de filiação, fortemente marcado pelas relações socioafetivas e edificado na convivência familiar. Vale dizer que a pretensão voltada à impugnação da paternidade não pode prosperar, quando fundada apenas na origem genética, mas em aberto conflito com a paternidade socioafetiva. 2. No caso, as instâncias ordinárias reconheceram a paternidade socioafetiva (ou a posse do estado de filiação), desde sempre existente entre o autor e as requeridas. Assim, se a declaração realizada pelo autor por ocasião do registro foi uma inverdade no que concerne à origem genética, certamente não o foi no que toca ao desígnio de estabelecer com as então infantes vínculos afetivos próprios do estado de filho, verdade em si bastante à manutenção do registro de nascimento e ao afastamento da alegação de falsidade ou erro. 3. Recurso especial não provido. STF: Ementa RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ASSENTO DE NASCIMENTO. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. IMPRESCRITIBILIDADE. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO. PATERNIDADE BIOLÓGICA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. CONTROVÉRSIA GRAVITANTE EM TORNO DA PREVALÊNCIA DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA EM DETRIMENTO DA PATERNIDADE BIOLÓGICA. ART. 226, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PLENÁRIO VIRTUAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. Decisão Decisão: O Tribunal, por maioria, reputou constitucional a questão, vencido o Ministro Marco Aurélio. Não se manifestaram os Ministros Gilmar Mendes, 33 Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. O Tribunal, por maioria, reconheceu a existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada, vencido o Ministro Marco Aurélio. Não se manifestaram os Ministros Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. Ministro LUIZ FUX Relator Ante o exposto e considerando as jurisprudências colecionadas acima, depreende-se que a socioafetividade deve ser elevada ao grau máximo sob a verdade biológica, posto que está não garante emanação do afeto entre as partes. 34 3.4 Direito comparado O instituto da socioafetivida está presente no mundo de diferentes formas, porém, algumas muito parecidas com o modo brasileiro, por exemplo, o Francês. Cassetari (2014) em seu livro MULTIPARENTALIDADE E PARENTALIDADE SOCIAFETIVA explana como a parentalidade socioafetiva tem se apresentado no mundo e explica quais são os requisitos necessários para a configuração da mesma. Deve-se ressaltar que com o avanço para o reconhecimento socioafetivo, brevemente, apresentar-lhe-ão a configuração da multiparentalidade. O direito Italiano caminha a passos lentos para a sociafetividade, posto que a socioafetividade ainda não possui efeitos de âmbito sucessório Cassettari versa em seu livro que o instituto no direito italiano é chamado de afilhadagem e explica que seria uma espécie de adoção recebido de institutos assistencialistas no qual o menor recebe um lar, mas não o status de filho. Além do mais, a afilhadagem pode ser extinta ou revogada em determinadas situações. O direito Francês possui mais afinidade com o direito brasileiro no que tange ao instituto de socioafetividade. Cassetari (2014, 87-97), explica que no direito francês a “verdade” não o principal objetivo, mas sim, o que o autor denomina de “o coração das escolhas de filiação carnais”. Explica ainda, que para a configuração da socioafetividade os principais fatos são: Que a pessoa tenha sido tratada por este ou aqueles em que é dito como um filho e que depois ela os tenha tratado como seus pais; Que tenham essa qualidade, desde sua formação, manutenção ou instalação; Que esta pessoa seja reconhecida como filho na sociedade e na família; Que seja considerada como tal pela autoridade pública; Que seja reconhecida na sociedade pelo apelido. Tais regramentos são complementares para quem tem a posse do estado e deve ser contínua, pacífica, pública e inequívoca. 35 Na Bélgica, Cassetari (2014, 87-97), tem previsão bem semelhante, a filiação deve ser estabelecida através dos seguintes requisitos: O filho ter sido sempre chamado pelo nome dele,conhecido na sociedade; Ter sido tratado como filho; Ter o pai de fato contribuído para a sua manutenção e educação; A criança reconhecer a pessoa como seu pai ou mãe. Como na codificação francesa, Cassetari (2014, 87-97), explana que a Bélgica também exige que a posse seja contínua e estabelecida pelos fatos que, em conjunto ou separadamente, revelem a relação de filiação, tais como: A criança ter usado o sobrenome da família (nomen); Ter sido tratada como filho (tratactus); O adotante ter contribuído para a sua manutenção e educação; A criança ter tratado os adotantes como se fossem o seu pai ou a sua mãe (reciprocidade do afeto na nossa opinião); Ter sido apresentada como filho para a sociedade (fama); E, finalmente, que o poder público o considere como tal. Na Alemanha já existem vários julgados que conduzem a socioafetividade, a exemplo do julgado a seguir retirado do livro de Christiano Cassetari (2014, 87-97): O senhor Ahrenz manteve um relacionamento com uma mulher, que vivia na época com outro homem. A mulher engravidou e teve uma filha em 2005. Em outubro de 2005, o senhor Ahrenz ingressou em juízo para se ver declarado como pai da criança, dado ser biologicamente o responsável pela concepção. O pai legítimo contestou e afirmou assumir integralmente as responsabilidades parentais, fosse ele ou não o pai biológico. O caso foi julgado em primeiro grau favoravelmente ao senhor Ahrenz, após realização de perícia hematológica, que o apontou como pai da menina. Em grau de recurso, o Tribunal de Justiça anulou o julgamento, por considerar a prevalência da paternidade jurídica e social em detrimento da paternidade biológica. As relações familiares seriam profundamente abaladas com esse reconhecimento de paternidade. A matéria foi levada ao Tribunal Constitucional, que não conheceu da reclamação. O senhor Ahrenz alegou que a decisão ofendeu os artigos 14 e 8º da Convenção Européia de Direitos Humanos e recorreu à CEDH. O tribunal europeu rejeitou o recurso. Na fundamentação, concorreram dois fundamentos: a) não há uma posição unânime nos Estados europeus sobre o conflito de direitos entre o pai biológico e o pai jurídico; b) haveria uma margem de apreciação para as jurisdições locais, conforme os ordenamentos internos; c) o tribunal alemão fez uma escolha legítima pela precedência das relações familiares e pela manutenção dos vínculos entre a filha e seu pai jurídico, no que não ofendeu o artigo 8º da Convenção. O senhor Schneider manteve, entre maio de 2002 e setembro de 2003, uma relação amorosa com uma mulher casada. O filho dessa mulher nasceu em 36 março de 2004. O senhor Schneider ajuizou uma ação alegando ser o pai biológico dessa criança. Os cônjuges optaram por não realizar o exame de paternidade em ordem a preservar o interesse da família, que seria fortemente abalado acaso se provasse a parentalidade de Schneider. O suposto pai biológico requereu ao juízo de primeiro grau que se lhe deferisse o direito de visitas à criança e que recebesse informações regulares sobre seu desenvolvimento. A Justiça rejeitou o pedido, entendendo que a mera alegação de paternidade biológica não inseria o senhor Schneider no rol de pessoas autorizadas pelo Código Civil alemão a ter o direito por ele pretendido em relação ao menor. As cortes superiores mantiveramesse entendimento, sempre levando em conta a primazia do interesse da criança e a preservação dos laços familiares. O senhor Schneider recorreu à CEDH, com alegações de que foi violado o artigo 8º da Convenção. Na CEDH, entendeu-se que o senhor Schneider e a mãe da criança, apesar de nunca terem vivido sob o mesmo teto, mantiveram uma longa relação amorosa (de um ano e quatro meses), o que não se constituía em algo meramente casual. Além disso, o comportamento do suposto pai biológico denotou interesse extremo pela criança, ao acompanhar a futura mãe em exames pré-natais e ao demonstrar disposição em assumir a paternidade antes mesmo do nascimento do filho. Desse modo, reconheceu-se a ofensa ao artigo 8º, porquanto os tribunais alemães não prestigiaram os interesses de todos os envolvidos e não deram tratamento equilibrado à pretensão do suposto pai biológico, o que poderia se traduzir em julgamento de conteúdo discriminatório. Digno de menção são as jurisprudências da Bulgária e da Croácia, traduzidas no livro Multiparentalidade e Parentalidade Socioafetiva, Cassetari (2014, 87-97), conforme se denota abaixo: Chavdarov v. Bulgária, n. 3465/03, julgado em 21 de dezembro de 2010 Em 1989, o senhor Chavdarov passou a viver sob o mesmo teto com uma mulher casada que, no entanto, se encontrava separada de fato de seu marido. A mulher deu a luz a três crianças nos anos de 1990, 1995 e 1998, durante sua união com o senhor Chavdarov. O interessante é que o marido da mãe foi indicado nas certidões de nascimento como pai das três crianças, as quais receberam seu sobrenome. No final de 2002, o senhor Chadvdarov e sua companheira terminaram a união estável. Sua ex- companheira passou a viver com outro homem, levando consigo os filhos. Em 2003, o senhor Chavdarov consultou um advogado com intenção de ajuizar uma ação de reconhecimento de paternidade. O advogado disse-lhe que, com base na legislação búlgara, não era possível arguir essa tese, aconselhando-o a propor diretamente uma reclamação à CEDH, com base no artigo 8º da Convenção, o que terminou por ser feito. Ao julgar o caso, a CEDH considerou que há uma margem de apreciação aos Estados-membros para definir, em suas legislações locais, os limites da relação parental, o que, até agora, se converte em algo muito relevante, em face da ausência de um padrão comum. Declarou-se que, a despeito da necessidade de se preservar os vínculos familiares, não ficou bem estabelecida a responsabilidade do Estado búlgaro no caso, o que levou à declaração de não ofensa ao artigo 8º da Convenção. Não é possível sintetizar a orientação da CEDH sobre o tema. Parece haver um certo constrangimento em se invadir a esfera dos direitos locais sobre a questão da paternidade biológica em oposição à paternidade legítima, como de resto, em muitos pontos sensíveis das relações familiares. As críticas à invasão da soberania dos Estados europeus pelos juízos da CEDH, a despeito de sua posição mais cautelosa aqui, avolumam-se em face da ausência de princípios ou de um “sistema”, quando se examina mais a fundo alguns de seus julgados. Particularmente no Direito Civil, que é uma província muito ciosa da observância desses cânones, essa deficiência argumentativa é ainda mais notável. 37 Krušković v. Croácia, n. 46185/08, julgado em 21 de junho de 2011 Um homem foi interditado em fevereiro de 2003, após padecer de problemas mentais decorrentes de longo período de drogadição. Em 2006, sua mãe foi designada como sua curadora e, posteriormente, seu pai e um empregado de um centro de apoio social. Em 2007, o curatelado, com a anuência de sua mãe, assumiu a paternidade de uma criança nascida em junho desse ano. O pretendido registro foi denegado por conta de sua incapacidade civil. Sob alegada ofensa ao artigo 8º da Convenção Europeia de Direitos Humanos, o caso foi levado à CEDH, que o acolheu sob o fundamento de que a criança tem o direito à informação genética, que lhe permite conhecer “a verdade sobre um importante aspecto de sua identidade pessoal, que é a identidade de seus pais biológicos”. Em Portugal, segundo Cassetari (2014, 87-97), ainda não há lei expressa acerca da socioafetividade, já existem casos encaminhados ao Poder Judiciário português sobre o tema. António (nome fictício) tem uma „filha' de 17 anos com o seu apelido, mas sabe que não é o pai, por ser infértil e nem sequer ter tido relações sexuais com a mãe desta. Para repor a "verdade biológica" e retirar o seu nome da certidão de nascimento, recorreu ao tribunal, mas o seu pedido não foi aceite, por ter sido feito fora de prazo. Ainda tentou provar a inconstitucionalidade dessa norma, mas de nada lhe valeu. O queixoso, que reside no concelho de Condeixa-a-Nova, era casado, mas a mulher (e mãe da rapariga) „recusava-se a ter relações sexuais" com ele, pois "mantinha um relacionamento amoroso e sexual" com outro homem. António sempre soube que a menor não era sua filha. Acabaria por se divorciar da mulher, mas nessa altura o seu nome já figurava na certidão de nascimento como sendo o pai. Foi deixando passar o tempo, e quando apresentou, junto do Tribunal de Condeixa, uma acção de impugnação da paternidade, a menor já tinha 13 anos, quando a lei prevê um prazo de três anos para o fazer,‟ contados desde a data em que teve conhecimento. No caso de Portugal, por exemplo, ainda não existe uma legislação disciplinando os casos de filiação socioafetiva, contudo, assim como no Brasil, os tribunais de justiça estão tentando adequar a realidade ao mundo jurídico, com o intuito de não deixar de assegurar o direito da dignidade da pessoa humana de lado. Como vimos no presente tópico, Direito Comparado, cada país mencionado está se adequando aos casos de filiação socioafetiva a fim de sanar a problemática nos casos em concreto e garantir que cada cidadão que busca o Judiciário não o deixe sem que seus direitos sejam assegurados. 38 4 DOS EFEITOS DA MULTIPARENTALIDADE 4.1 No Direito de Família A implantação da democracia depois da vivência ditatorial deu outra visão à ciência do Direito, a qual tem o seu enfoque pautado sobre a ideia de constitucionalização do Direito em todos os seus ramos. Costuma-se dizer que o Direito é reflexo do momento da sociedade, máxima predominante nas decisões da maioria dos tribunais do país quanto à filiação socioafetiva multiparental, posto que os operados do direito tentam adequar o Direito à sociedade preenchendo as lacunas legislativas. Maria Helena Diniz (2003, p.448) leciona que na ausência de produção legislativa deve-se fazer uso de analogia, in verbis: "aplicar, a um caso não contemplado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado". Considerando a técnica da analogia e o principio do livre convencimento motivado, os tribunas brasileiros e o Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), versam que deve prevalecer o vínculo afetivo sobre o biológico. Em consonância com isso, a seguir decisão do Egrégio Tribunal de Santa Catarina: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. PRETENSÃO DE RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL DE NASCIMENTO. EXAME DE DNA EXCLUDENTE DO VÍNCULO GENÉTICO ENTRE AS PARTES. FILHO ADVINDO NA CONSTÂNCIA DO MATRIMÔNIO. DÚVIDA, DESDE O PRINCÍPIO, ACERCA DO LIAME CONSANGUÍNEO. AUSÊNCIA DE VÍCIO NA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE. RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO DA FILIAÇÃO. ATO IRREVOGÁVEL. INTELIGÊNCIA DO ART. 1.610 DO CÓDIGO CIVIL. PATERNIDADE SÓCIO-AFETIVA PLENAMENTE CONFIGURADA. PREVALÊNCIA, NO CASO CONCRETO, DO LAÇO AFETIVO AO BIOLÓGICO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. O reconhecimento voluntário da filiação somente pode ser contestado acaso comprovado vício na manifestação
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