Buscar

Relações de parentesco- Filiação-Reconhecimento dos Filhos


Continue navegando


Prévia do material em texto

Direito de família 
Profa. Dra. Eliane Goulart Martins Carossi 
Aula do dia: 
 
 
RELAÇÕES DE PARENTESCO 
Arts. 1.591/1595 
Conceito: Parentesco é a relação existente entre pessoas que descendem umas 
das outras, sendo ligadas por laços de sangue, entre cônjuges e os parentes do 
outro, entre adotante e adotado, entre companheiros e os parentes do outro. 
 
1. Espécies de parentesco : 
a) Por consangüinidade (natural)- Pai, filho, irmão. 
b) Por afinidade - Linha reta: sogro/nora; sogra/genro, padrasto/enteada; 
madrasta/enteado. 
 Linha colateral -até o 2º grau= cunhados. 
c) Civil = outra origem, cf. art. 1.593 C.C. (paternidade socioafetiva, adoção, 
inseminação artificial heteróloga). 
 
 
2. Ordem de parentesco = linha: 
1ª) reta – não há limite . Art. 1591. 
a) ascendente – Pai, avô, bisavô. 
b) descendente – Filho, neto, bisneto. 
2ª) colateral = Irmãos, tios, sobrinhos. Limite – art. 1.592- 4ºgrau. 
 
3. Contagem = por graus = distância de uma geração a outra(1º, 2º, 3º...) Art. 
1594, 1ª parte. 
 
4. Conseqüências ou efeitos – direitos/deveres 
 
FILIAÇÃO = CF/88 = Art. 227, § 6º = Art. 1596 CC. 
 
Conceito = “ A filiação é, destarte, um estado, o status familiae, tal como 
concebido pelo antigo direito. Todas as ações que visam o seu reconhecimento, 
modificação ou negação são, portanto, ações de estado. O termo filiação 
exprime a relação entre o filho e seus pais, aqueles que o geraram ou o 
adotaram. ... Utiliza-se o termo paternidade de forma genérica para expressar a 
relação do pai e da mãe com relação aos filhos” (Silvio Venosa, Direito de 
Família, 9ª.ed.,2009, p. 218). 
Silvio Rodrigues: é “a relação de parentesco, em primeiro grau e em linha reta, 
ligando uma pessoa àquelas que a geraram ou a receberam como se a tivesse 
gerado.”(Direito Civil, p. 297). 
 
Classificação: 
1. Biológica = verdade real. Filiação natural .Art. 1.593 C.C. 
2. Registral= Art. 1.603 C.C. O registro de nascimento torna público e 
incontestável o nascimento (art. 1.609 CC. 
3. Assistida= Art. 1.597, III, IV e V. Evolução da biotecnologia. Casos de 
inseminação artificial. Inclui todas as técnicas de reprodução assistida. 
Pode ser: 
a) Concepção homóloga 
b) Concepção heteróloga 
Embriões Excedentários = A sobra dos embriões não utilizados são 
armazenados na clínica de fertilização.. O marido deve concordar com a 
inseminação(art. 1.597C.C.) Resolução do Conselho Federal de Medicina nr. 
2121/2015. 
4. Gestação de Substituição ou Doação temporária de Útero = é uma forma 
de gestação por outrem. É vedada pelo art. 199, parágrafo 4º, da C.F.. A 
Resolução admite a cessão temporária do útero, sem fins lucrativos, 
desde que a cedente seja parente até 4º. Grau (mãe, avó, neta, cunhada, 
tia, prima, sobrinha, irmã), sendo os demais casos sujeitos à autorização 
do Conselho Federal de Medicina ( VII,1). Res. 2121/2015. Documentos 
necessários para o registro estão no Provimento 52 /2016 do Conselho 
Nacional de Justiça. 
a) Socioafetiva = parentesco civil significa outra origem (art. 1.593 C.C.). 
Está baseada na posse do estado de filho. A paternidade se constitui pelo 
fato e possui três elementos: tractatus= tratamento de filho; nomen = usa 
o nome da família e assim se apresenta e, reputatio = é conhecido como 
daquela família pela sociedade, fama. 
5. Homoparental – É o caso de o pai e o companheiro exercerem a função 
parental. Casais homossexuais que fazem uso de banco de material 
reprodutivo, permitindo a um deles ser o pai ou a mãe biológica. Res. 
2121/2015, II , 2 e 3. Documentos necessários para o registro estão no 
Provimento 52 /2016 do Conselho Nacional de Justiça. 
6. Multiparental- Pai ou mãe biológicos e pai ou mãe socioafetivos no mesmo 
registro de nascimento. A multiparentalidade, segundo Chistiano 
Cassetari” pressupões três ou mais pessoas no registro de nascimento.” 
Exemplos: A pessoa poderá ter dois ou mais pais e uma mãe ou duas ou 
mais mães e um pai no registro ou ainda, dois ou mais pais e duas ou 
mais mães aos mesmo tempo no registro de nascimento. |Existem 
algumas decisões dos Tribunais nesse sentido. A mais recente e mais 
importante é a decisão do STF, -Supremo Tribunal Federal de 22 de 
setembro de 2016, que reconheceu a paternidade socioafetiva e a 
multiparentalidade. A decisão admitiu a paternidade socioafetiva e a 
paternidade biológica ao mesmo tempo, admitindo a pluralidade de 
vínculos parentais, que configura a multiparentalidade. A filha já possuía 
um pai socioafetivo no seu registro de nascimento e requereu, após 
muitos anos, que fosse reconhecida a sua paternidade biológica, 
inserindo-a concomitantemente no seu registro de nascimento.O que 
ocorreu no STF, com seguinte tese: 
 
A tese firmada no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 898060, 
com repercussão geral reconhecida, de que “ a paternidade 
socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o 
reconhecimento do vínculo de filiação concomitante, baseada na 
origem biológica, com efeitos jurídicos próprios. “ ( Rel. Min. Luiz 
Fux) 
Na prática, o STF reconheceu a multiparentalidade. 
Assim, se faz necessário admitir o reconhecimento extrajudicial da paternidade 
socioafetiva perante o Oficial do Registro Civil das Pessoas Naturais. 
Vários Estados já possuem regulamentação nesse sentido, editando 
provimentos, são eles: Pernambuco, Ceará, Maranhão, Amazonas e Santa 
Catarina. 
 
Prova da Filiação= Certidão de nascimento, - 1603. 
Na falta : a) qualquer modo admissível em direito, desde que: a) haja começo de 
prova por escrito – Art. 1605, I ; 
 b) Presunções resultantes de fatos já certos: – posse do estado de 
filho= Elementos: Nomen, tractatus e reputatio = presunção juris tantum de 
filiação. Art. 1.605,II . 
 
Ação de prova da filiação é pessoal , cabe filho , passando aos herdeiros se 
falecer menor ou incapaz, que podem prosseguir na ação, que é imprescritível 
conforme art. 1606 do C.C. 
 
Espécies de filhos: 
 
1. FILHOS HAVIDOS NO CASAMENTO 
 
Presunção legal dos filhos concebidos no casamento de acordo com o art. 
1.597, I a V , CC. “Pater ist est quem nuptia demonstrat” Pai é quem o casamento 
determina. Presunção “iuris tantum” de paternidade. Cabe prova em contrário. 
 
Ação Negatória de Paternidade /Maternidade– excluir presunção de que é o 
pai.ou a mãe). 
Legitimidade ativa – privativa do marido- Art. 1601. (Herdeiros – Art. 1.601, p. ú). 
Legitimidade passiva – filho. 
Art. 1601= imprescritível. 
Provar circunstâncias previstas na lei – arts. 1599, 1600, 1602 e 1597, V, p. final 
A mãe, poderá contestar a maternidade constante do registro nascimento do 
filho, se provar a falsidade do termo – art. 1608. 
 
Ação anulatória do reconhecimento(ou do registro) ou impugnação da 
paternidade – por erro ou falsidade do registro- Art. 1604 CC (113LRP). 
Legitimidade = filho reconhecido, qualquer pessoa interessada - mãe, irmãos, 
verdadeiro pai, herdeiros, MP. Ação imprescritível 
 
 
 
 
 
 
 
 
RECONHECIMENTO DOS FILHOS 
 
 
 
 
FILHOS HAVIDOS FORA DO CASAMENTO 
 
- Não é certa a paternidade. Não há presunção de paternidade. Há vínculo 
biológico, mas falta o vínculo jurídico, que só surge com o reconhecimento. 
- Arts. 25 a 27 ECA e Lei 8.560/92.CC 1.607/1617. 
- Os filhos extramatrimoniais dependem do reconhecimento que pode ser: 
 
- 1. VOLUNTÁRIO . O pai ou a mãe, se casados. faz a declaração que gerou 
o filho. Mãe não pode colocar nome do pai no registro se não for casada, só 
se ele estiver presente ou se tiver procuração (LRP, art. 59). Não há restrição 
para o lançamento do nome da mãe, eis que se considera a maternidade 
sempre certa(mater semper certa est). 
- Pode ser feito(cinco formas): Art. 1.609 C.C. 
- a) No próprio termo de nascimento 
- b) Por escriturapública 
- c) Por testamento 
- d) Por escrito particular 
- e) Por manifestação expressa e direta perante o juiz 
 
 
2. RECONHECIMENTO DE FORMA OFICIOSA – pela Lei 8.560/92, no art. 1º, 
trouxe a possibilidade de reconhecimento particular e a declaração perante 
qualquer juízo da paternidade = Averiguação Oficiosa de Paternidade. No 
registro de nascimento o Oficial do registro civil tem o dever de questionar a 
genitora e comunicar ao juiz sobre a identidade do suposto pai. 
- O juízo competente é a Direção do Foro. 
- O juiz, depois de ouvir a mãe,notificará o pai da alegação de paternidade. Há 
comarcas que marcam audiência p/ ele vir se posicionar quanto a alegação. 
Se o suposto pai não comparecer ou negar a paternidade o procedimento é 
remetido ao Ministério Público para que ele decida se ajuizará ação de 
Investigação de Paternidade. 
 
- O reconhecimento é irrevogável e irretratável. Pode haver por parte do filho 
ação investigatória posteriormente. 
- Reconhecimento exige capacidade. Loucos e menores de 16 não podem. 
Relativamente incapazes podem, sem assistência dos pais, cf. Provimento 
16 CNJ e Estatuto da Pessoa com Deficiência. 
- O filho maior deve consentir. Filho menor tem 4 anos após a maioridade para 
impugnar o reconhecimento (ação de contestação ou impugnação do 
reconhecimento).Pode alegar incapacidade de quem reconheceu ou 
falsidade da afirmação da paternidade ou maternidade) Art. 1.614 C.C. 
- Reconhecimento pode ser feito sem qualquer discriminação, sem restrições, 
em segredo de justiça, mesmo os pais sendo casados. Art. 27 ECA. 
 
Como a Lei 8.560/92, não conseguiu reverter os dados estatísticos do registro 
de nascimento de quase quatro milhões de crianças e adolescentes, 
matriculados em escolas brasileiras, que possuem apenas o nome da mãe no 
registro foi editado o 
 
Provimento nr. 12/2010 do Conselho Nacional de Justiça = Programa Pai 
Presente, determina as Corregedorias de Justiça dos Tribunais de todos os 
estados que encaminhem aos juízes os nomes dos alunos matriculados sem o 
nome do pai, para que dêem início ao procedimento de averiguação de 
paternidade e, o 
 
3. RECONHECIMENTO PELO PROVIMENTO No. 16 de 17/02/2012, do CNJ, 
que faculta à mãe e o filho maior de idade, comparecerem diante de qualquer 
cartório do registro civil indicar o suposto pai. O oficial deverá lavrar um termo e 
encaminhar ao juiz, que ouvirá a mãe e notificará o suposto pai. Não havendo o 
reconhecimento espontâneo tanto o Ministério Público, quanto a Defensoria 
Pública proporão a ação de investigação de paternidade. É assegurado que a 
notificação do pai seja feita em segredo de justiça. 
 
 
 
 4.. RECONHECIMENTO JUDICIAL = forçado ou compulsório. 
 
Através de ação investigatória de paternidade. Art. 1.607 e sgts.CC. 
- Fundamentos para investigatória = Art. 27 ECA 
- Provas: Documentais, testemunhais e periciais: a) Exame de sangue(HLA-
sistema leucocitário-ABO/Rh) positivo = possibilidade de o réu ser o pai, não 
afirma a paternidade com certeza absoluta. Negativo = paternidade é 
excluída de forma incontestável. b) DNA = Ácido desoxirribonucleico. 
Realizado no núcleo das células brancas, dentro dos cromossomos. 
Encontrado na pele, sêmen, raíz do cabelo, ossos, tecidos e músculos. Hoje 
é possível afirmar c/ grau quase absoluto de certeza – 99,9999 %. Artigo no 
xerox sobre o Exame de DNA do geneticista Salmo Raskin, para maiores 
esclarecimentos técnicos ou na internet). 
 
- Ação é imprescritível 
 
- Legitimidade ativa = filho, se menor representado p/mãe ou tutor. Se filho 
morrer antes de iniciar ação, seus sucessores não podem ajuizá-la, se tiver 
iniciado terão legitimação p/ prosseguir.. 
 
- Legitimidade passiva = suposto pai. Se já falecido ação deve ser promovida 
contra os seus herdeiros. Contra a esposa, se ela for herdeira. 
- Ação é personalíssima – art. 27 ECA. 
- Contestação – Provas. 
- Investigatória de paternidade pode ser cumulada com alimentos. Tutela de 
urgência. Arts. 300 e seguintes do C.P.C. 
- Os alimentos começam a ser devidos a partir da citação segundo TJRS – Lei 
5478/68, art 13. 
 Súmula 277 do STJ : Julgada procedente a investigação de paternidade, os 
alimentos são devidos a partir da citação. 
 
- Se o suposto pai negar-se a fazer o exame há presunção de paternidade, 
mas não pode ser obrigado, a Lei interpreta de forma desfavorável, 
especialmente se houverem outros elementos indiciários. 
 
- A propósito a Súmula 301 do STJ: Em ação investigatória, a recusa do 
suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum 
de paternidade. Os artigos: 
 
Art. 231 C.C. : Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário 
não poderá aproveitar-se de sua recusa. 
Art. 232 C.C.: A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova 
que se pretendia obter com o exame. E, a 
 
A Lei nr. 8.560/92, no art. 2º.-A e parágrafo único, possuem a seguinte 
redação: 
 
Art. 2º.-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, 
bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos 
fatos. 
 
Parágrafo único. A recusa do réu em se submeter ao exame de código 
genético –DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em 
conjunto com o contexto probatório. 
 
- O reconhecimento produz efeitos ex tunc – a partir de sua realização e é 
retroativo, retroage a data do nascimento, sendo de natureza declaratória. 
 
 
Ação de investigação de maternidade = é rara. É reconhecida ao filho contra 
a mãe ou seus herdeiros. Pode o filho hoje, mesmo incestuoso ou adulterino 
ajuizar esta ação, sem qualquer restrição, seja a mãe solteira ou casada. 
 
 
ALIMENTOS GRAVÍDICOS – Lei nr. 11.804, de 5 de novembro de 2008- 
Disciplina o direito a alimentos gravídicos e a forma como será concedido. 
- Confere direito a alimentos à mulher gestante (art. 1º.) 
- Despesas de gravidez da concepção ao parto: alimentos, exames, internações, 
parto, medicamentos (art. 2º.) 
- Os alimentos referem-se à parte das despesas que deverão ser custeadas pelo 
futuro pai. A mulher grávida também deverá contribuir, na proporção dos 
recursos de ambos (parágrafo único, art. 2º.). 
- Art. 3º., 4º. E 5º. – vetados. 
- Art. 6º. Convencido pelos indícios da paternidade o juiz fixará alimentos 
gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança de acordo com a 
necessidade do autor e possibilidade do réu. 
- Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos serão convertidos em 
pensão alimentícia em favor do menor até que as partes solicitem revisão.