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Trabalho de Criminologia e Metodologia (3)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO)
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E POLÍTICAS (CCJP)
ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
BEATRIZ SILVA DE MOURA
ANÁLISE SOBRE CORPORATIVISMO PELO OLHAR DE EDSON NUNES EM "A GRAMÁTICA POLÍTICA DO BRASIL"
Rio de Janeiro
2018
BEATRIZ SILVA DE MOURA
ANÁLISE SOBRE CORPORATIVISMO PELO OLHAR DE EDSON NUNES EM "A GRAMÁTICA POLÍTICA DO BRASIL"
Trabalho individual da disciplina Formação do Estado Brasileiro, oferecidas pelo curso de Direito da Escola de Ciências Jurídicas, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro como requisito parcial à sua avaliação.
Prof°. Luiz Otávio
Rio de Janeiro
2018
RESUMO
Trata de uma análise crítica ao Corporavismo, com base no livro "A Gramática Politica do Brasil" de Edson Nunes. 
Palavras chave: Crianças; Violência doméstica; Violência Sexual.
ABSTRACT
The thesisis about the effectof criminal investigation on children victims of domestic and sexual violence andand recovery. Children gained importance in Western society. With the Statute of Children and Adolescents, there was a concern as the process and the pre- process. First, a theoretical research on the psychoanalytic point of view of violence and recovery is performed. It is used mainly Freud's thinking. Subsequently, empirical research was conducted, which features interviews with officials of the Technical Team of the Public Ministry of the State of Rio de Janeiro. These professionals are responsible for investigating complaints of disrespect for the rights of children and adolescents. The aim is to know, through their view the research and the psychological expertise are harmful for the recovery of infants victims. 
Keyboards: Children; Domestic Violence; Sexual Violence.
SUMÁRIO
	1
	INTRODUÇÃO
	3
	2.
	CORPORATIVISMO
	4
	3.
	CRÍTICA AO SISTEMA CORPORATIVISTA
	6
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
INTRODUÇÃO
Esse estudo será desenvolvido sobre a temática do efeito da investigação criminal, especialmente da perícia psicológica, sobre a recuperação das crianças vítimas de violência doméstica ou violência sexual. Consideraremos crianças os jovens de zero a doze anos. Dentre as motivações duas se destacam. Em primeiro lugar, porque ser vítima desses crimes é, infelizmente, a realidade de uma parcela significativa dos infantes. Em segundo lugar, pois as crianças são seres humanos em construção e têm suas frágeis psiques em formação. Os cidadãos que elas serão um dia estão condicionados às fases pelas quais elas passam em seu desenvolvimento.
O objetivo do trabalho é verificar os efeitos da perícia psicológica nas crianças e em sua recuperação. Para isso, busca-se a opinião da psicanálise sobre a psique infantil e a opinião dos profissionais que realizam as perícias a cerca do tema.
A pesquisa se dará em duas etapas: etapa teórica e etapa empírica. Na primeira etapa será feita uma análise do ponto de vista psicanalítico da mente infantil e do possível efeito da investigação criminal nas crianças e nas fases seguintes de desenvolvimento. O método utilizado será a análise teórica da Obra de Sigmund Freud: O mal estar da civilização. A segunda etapa será desenvolvida visando saber pelos psicólogos e assistentes sociais responsáveis pela perícia psicológica se o modo como ela acontece é benéfico ou maléfico para as vítimas e o motivo de sua opinião. O método utilizado será a pesquisa qualitativa por meio de entrevistas. 
Os jovens no contexto social
Por volta do século XII, crianças não tinham grande importância, eram vistas como “adultos em miniatura”, não um indivíduo em desenvolvimento. Não se acreditava que estas continham dentro de si a personalidade de um adulto em formação e, desta forma, reinava certa indiferença quando morriam. Somente a partir do século XIV, surge na consciência coletiva o sentimento de infância. A tradição do retrato da criança morta, no século XVI, denota que a morte da criança não era mais uma perda inevitável, que cresce sua relevância no ambiente familiar, que passam a ser vistas como seres dotados de alma. Iniciou-se, assim, um amplo movimento de interesse em favor da infância (ARIÈS, 1973 apud NAPOLI, 2010).
A partir do século XVIII, há alterações significativas nas concepções sobre a infância. Começa a desenvolver-se uma preocupação com a saúde e o desenvolvimento infantil, que até hoje vem se mantendo em ascensão. Daí surgiu apsicologia infantil, a importância da maternidade, a pedagogia. No século XX houve elaboração de instrumentos legais em favor da criança: Declaração de Genebra, de 1924; Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas e ao Pacto de São José (Convenção Americana sobre os Direitos Humanos, em 1969); Convenção Internacional dos Direitos da Criança. (RANGEL, 2001 apud NAPOLI, 2010).
No Brasil Colonial, as crianças indígenas eram alvo da catequização jesuíta, privadas de sua identidade cultural. Já as crianças africanas ingressavam no ciclo de exploração, passando por horas intensas de trabalho forçado e torturas. Para essas crianças não existia o sentimento de infância que já havia sido desenvolvido para as crianças europeias. Há até mesmo situações de pedofilia ignoradas pela sociedade da época (DEL PRIORE, 1991 apud NAPOLI, 2010).Para o Código de Manu, o Direito Romano e o Direito Bárbaro, crianças e adolescentes eram incapazes absolutos em prestar testemunho, salvo em raríssimas exceções. Em paralelo, as Ordenações Filipinas do Brasil Colônia, os menores de quatorze anos não poderiam ser testemunhas de nenhum processo, somente em casos muito graves e na falta de outros tipos de prova (FAYET JR., 2005 apud NAPOLI, 2010).
A Constituição Brasileira de 1988 foi a primeira a disciplinar em seu próprio texto os direitos dos menores:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil;[...]
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.[...]
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade (BRASIL, 1988)
O que consolidou o amparo às crianças e aos adolescentes foi a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 estabeleceu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que viria a dar a eles o status de sujeito de direito: 
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.[...]
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (BRASIL, 1990).
Naturalmente, com o ECA e sua divulgação vieram as denúncias. Passamos assim a ter consciência do quão grave é a situação das crianças e adolescentes em nosso país. No ano de 2014, apenas pelo Disque-Denúncia, foram registradas 91.342 queixas de desrespeito aos direitos das crianças, segundo a organização Childhood Brasil. Em 25% das denúncias era relatada violência sexual, em 43% violência física e em 49% violência psicológica (geralmente, a criança sofre mais de um tipo de violência). O dado mais assustador é que 65% dos suspeitos pertencem às famílias das vítimas. Os números não expressam quanto dos casos foram comprovados, tampouco quantos crimes como esses ocorrem sem que as autoridades tomem conhecimento.
A investigação criminal
Segundo o Art. 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos contra crianças e adolescentes serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais (BRASIL, 1990).
 
Eloy complementa:
o que inclui o abuso sexual. Por conseguinte, o conselho tutelar é uma das portas de entrada da queixa e, após averiguação e constatação de risco à criança, realiza o encaminhamento para a delegacia de polícia, onde é interrogado o acusado e procedida a oitiva da vítima e das testemunhas, que pode se dar mediante interrogatório ou relato espontâneo. Com isso, inicia-se o inquérito policial caracterizado por uma sindicância a respeito da notificação e implica uma série de atos, entre os quais a inquirição, que objetiva recolher informações verbais através de perguntas direcionadas para investigação (ELOY, 2012, p. 55).
Por se tratar de crimes passíveis de punição, é necessário que sejam investigados a fim de garantir a responsabilização dos agressores e a proteção da vítima. Para a responsabilização penal é necessário duas fases: fase de inquérito policial ou pré-processual e fase processual. A primeira é presidida por um delegado de polícia e consiste na reunião de provas para identificar o autor e a ocorrência de uma infração. As provas são encaminhadas ao Ministério Público que, se elas forem suficientes, elaborará uma denúncia que será apresentada ao judiciário (TÁVORA & ALENCAR, 2010 apud GAVA, 2012). Uma ferramenta importante que pode ser requerida tanto no processo quanto no pré-processo é a perícia, como ressalta Gava (2012, p.19):
Segundo Távora e Alencar (2010), a prova é uma evidência factual que visa a estabelecer a verdade dos fatos. A perícia, enquanto meio de prova, é considerado o conjunto de procedimentos técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justiça (Taborda, 2004). No contexto criminal a prova pericial visa a trazer materialidade ao crime, buscando o reconhecimento da existência de vestígios ou indícios de sua suposta ocorrência.
O principal objetivo da perícia é investigar e definir como ocorreu determinado fato, confirmando a sua exatidão. A prova pericial, por estar fundamentada em bases científicas, pesa bastante na decisão judicial. Os peritos são profissionais com entendimento técnico do assunto que fornecem a sua verificação e interpretação dos fatos, emitidos através do laudo (SHAEFER; ROSSETTO; KRISTENSEN, 2012).
Nos casos de violência sexual, onde a conjunção carnal não é a única forma de abuso, é comum que não consigam ser constatadas provas pelo exame de corpo de delito. O mesmo ocorre em casos de violência psicológica. Por isso, as avaliações psicológicas têm sido cada vez mais solicitadas na área forense. Segundo Jean-Yves Chagnon (2010), o processo deve cumprir três objetivos: avaliar se o acusado apresenta perversão ou fabulação; determinar o grau de desenvolvimento intelectual do mesmo; e avaliar os efeitos psíquicos do ocorrido sobre a possível vítima. Para atingir esses objetivos,é necessário entender a dinâmica familiar. Não há como ter certeza que os psicólogos alcançam a verdade, mas esses profissionais detém técnica suficiente para entender ao menos parcialmente o que ocorreu (GAVA, 2012).
Para Eloy (2012) o ambiente em que ocorrem as perícias deve ser aconchegante e confortável, mas ainda assim dão à vítima a ideia de que ela está sendo avaliada. A relação entre os interlocutores determinará a abertura do jovem e, consequentemente, a qualidade do depoimento, por isso esse contato não deve sofrer interferências. Não há um método específico que se possa aplicar. Apenas experiência e o treinamento vão ensinar como proceder e como interpretar os indícios comportamentais recebidos. Como ressalta Leal (2008, p. 187 apud ELOY, p. 66): “[...] a linguagem verbal transmite informação, mas é na linguagem corporal que assenta a possibilidade de relação”. Além disso, o profissional deve evitar “conduzir” os inquiridos, embora isso costume ocorrer involuntariamente com frequência.
Os psicólogos devem se esforçar ao máximo para que não traumatizem a criança ainda mais. O ritmo das entrevistas deveria ser ditado pelo ritmo da vítima, mas os prazos e a busca pela verdade fazem com que muitas vezes o processo seja um questionário. O que nos leva ao fato de que há procedimentos legais que se chocam com a inserção da criança nessa dinâmica. As ações são disciplinadas pelo Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (BRASIL, 1941), que orienta a produção de provas e garante ao acusado o princípio da ampla defesa. (DOBKE, 2001 apud ELOY, 2012). A ampla defesa é a garantia ao acusado de provar sua inocência, mediante a apresentação de provas lícitas. 
Azambuja (2011 apud ELOY, 2012) questiona a exigência da inquirição da vítima. No Código Processual Civil, artigo 201, está assim posto: “Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração” (BRASIL, 1941). Há possibilidade de um pedido de dispensa da vítima em prestar depoimento, sustentado no fato de sua menoridade e das consequências emocionais que sofrerá. A autora destaca que a produção da prova potencializa seu possível sentimento de culpa decorrente do processo abusivo. Para tentar minimizar os efeitos negativos da inquirição, projetos de depoimento especial são elaborados, onde a criança passa por uma única intervenção realizada por psicólogos ou assistentes sociais. Altera-se o personagem da escuta, mantem-se as regras inquisitoriais.
A VISÃO DA PSICANÁLISE
Será feita aqui uma análise do ponto de vista psicanalítico da mente infantil e do possível efeito da investigação criminal nas crianças e nas fases seguintes de desenvolvimento. Será desenvolvido um estudo do Livro de Sigmund Freud: O mal estar da civilização, escrito em 1930 e, porteriormente, uma análise articulada com o assunto. 
Principais aspectos da obra de Freud
O Eu (interior, autônomo e autoritário) desenvolve-se no ser humano, não é inato, ele afasta desprazeres do exterior e do interior. No mundo da mente, o sentimento primitivo, que deu origem ao Eu, continua preservado, ou seja, o que se passa nas etapas de desenvolvimento continua guardado na memória. Da mesma forma se dá o desenvolvimento humano, as fases primeiras foram absorvidas pelas posteriores. Só na mente é possível preservartodas as etapas anteriores do desenvolvimento. Para Freud (1930) o princípio de realidade consiste na separação entre o Eu e o mundo exterior. As patologias vêm dos problemas em realizar essa separação.
O chamado sentimento oceânico representa uma sensação de eternidade, fonte das necessidades religiosas: na infância, pai; na vida adulta, destino. São tentativas de consolação diante de desamparos. Uma maneira do Eu nos afastar das decepções. A religião
tem a função de personificar um “pai”, uma figura a quem prestar contas, em substituição aos pais da infância. Respondemos e nos dirigimos a Deus do mesmo jeito que nos retratávamos aos nossos pais quando criança. Diante de sofrimentos, usamos algumas medidas paliativas :
Existem três desses recursos, talvez: poderosas diversões, que nos permitem fazer pouco de nossa miséria, gratificações substitutivas, que a diminuem, e substâncias inebriantes, que nos tornam insensíveis a ela (FREUD, 1930, p. 20).
 Isto é: os primeiros são distrações (ciência), que extraem luz da nossa desgraça; outra são as satisfações substitutivas (arte), que a diminuem; e a última são as substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis à realidade (alteram a química do corpo).
O que decide o propósito da vida é o princípio do prazer, que domina o funcionamento do aparelho psíquico. Felicidade provém da satisfação de necessidades represadas em alto grau, é apenas uma manifestação episódica. Só entendemos o prazer por haver um contraste, por isso nossas possibilidades de felicidade são restringidas por nossa própria constituição (FREUD, 1930).
A infelicidade é menos difícil de experimentar, pode vir do nosso próprio corpo, do mundo externo e dos nossos relacionamentos com os outros homens. Contra o sofrimento que pode advir dos seres humanos, a defesa mais imediata é o isolamento voluntário. Outras formas são: buscar prazer ou beleza; deslocar a libido; satisfazer-se pelas ilusões; e romper com a realidade, cria-se um mundo à parte. Outra técnica de obter felicidade e afastar o sofrimento é a “arte de viver” (FREUD, 1930, p.26), o indivíduo passa a ser independente do destino, e localiza a satisfação nos processos mentais internos, pelo apego aos objetos do mundo externo. Esta é a modalidade de vida que faz do amor o centro de tudo, que busca toda a satisfação em amar e ser amado; é a forma mais vulnerável.
Assim há três tipos de homem: o predominantemente erótico, que dará preferência aos relacionamentos; o narcisista, que é autossuficiente, procura suas satisfações em processos mentais internos; e o homem de ação, que nunca abandonará o mundo externo, onde pode testar sua força. Não devemos, entretanto, buscar a felicidade em uma única fonte. A religião impõe um único caminho para a busca da felicidade, com isso, poupa muitas pessoas da neurose individual, mas nenhuma forma de buscar a felicidade é perfeitamente segura (FREUD, 1930).
Duas das três fontes de infelicidade são reconhecidascomo inevitáveis. Já a terceira, a fonte social, não a admitimos, não entendemos por que regulamentos estabelecidos por nós mesmos não nos beneficiam. Civilização é o conjunto de realizações e regulamentosque nos distinguem de nossos antepassados animais. Seu aspecto relevante é regulação do relacionamento dos homens (cultura). Primeiro se reúne uma maioria coesa e mais forte do que qualquer outro indivíduo isolado substitui poder do indivíduo pelo poder da comunidade: “então o poder dessa comunidade se estabelece como ‘Direito’, em oposição ao poder do indivíduo, condenado como ‘força bruta’.” (FREUD, 1930, p. 37). 
Depois que o homem primitivo se deu conta de que sua sobrevivência estava em suas mãos, percebeu a vantagem de se unir a outros homens. Dessa forma surgiu a família: o macho sentiu necessidade de estar ao lado da fêmea e esta a necessidade de ficar junto de seus filhos e com o macho mais forte. A vida comunitária dos seres humanos teve, portanto, um fundamento duplo: a compulsão para o trabalho, por necessidades externas; e o poder do amor. Para Freud (1930, p. 41), Eros e Ananke (amor e necessidade) se tornam os pais da cultura humana.
O amor que fundou a família continua a operar na civilização, reunindo pessoas de um modo mais intensivo do que o que o interesse pelo trabalho em comum. O amor genital forma de novas famílias e o amor inibido cria amizades. No entanto, com o tempo, o amor se opõe à sociedade: “quanto maior for acoesão dos membros da família, mais frequentemente eles tenderão a se apartar dos outros, e mais dificilmente ingressarão no círculo mais amplo da vida.” (FREUD, 1930, p.43). Por outro lado, a sociedade ameaça o amor com restrições substanciais. A energia psíquica da libido é direcionada a outras áreaseconomicamente vantajosas. 
O amor, porém, foi usado para manter a sociedade unida, “a pista nos pode ser fornecida por uma das chamadas exigências ideais da sociedade civilizada. ‘Ama teu próximo como a ti mesmo’” (FREUD, 1930, p.47). No entanto, é difícil sentir amor por algum desconhecido, só é possível quando há identificação. Esse estranho pode provocar mais o sentimento de ódio do que de amor, só por ser estranho, por medo do inesperado. 
A existência da tendência para a agressão constitui o fator que perturba nossos relacionamentos. “Se a cultura impõe tais sacrifícios não apenas à sexualidade, mas também ao pendor agressivo do homem, compreendemos melhor por que para ele é difícil ser feliz nela.” (FREUD, 1930, p.52). O homem primitivo se acha em situação melhor sem conhecer as restrições de instinto, masseus momentos de felicidade eram muito tênues. O homem civilizado trocou uma parcela de suas felicidades pela segurança. Podemos efetuar em nossa civilização alterações que satisfaçam melhor nossas necessidades.
Deveria haver outro instinto buscando dissolver essas unidades e conduzi-las de volta a seu estado primitivo e inorgânico: instinto de morte, de destruição. O instinto de morte é mais reprimido, por isso mais difícil de ser observado. Uma parte dele é desviada ao mundo externo e vem à luz como um sentido de agressividade. Segundo Freud, “domado e moderado, como que inibido em sua meta, o instinto de destruição deve, dirigido para os objetos, proporcionar ao Eu a satisfação das suas necessidades vitais e o domínio sobre a natureza.” (1930, p. 57). Qualquer tentativa de barrar essa agressividade estaria fadada a se tornar autodestruição.
O significado de civilização, segundo Freud (1930, p. 58), diz que “ela nos apresenta a luta entre Eros e morte, instinto de vida e instinto de destruição, tal como se desenrola naespécie humana”. Uma das formas de inibir a agressividade (e permitir a civilização) é internalizá-la, enviar de volta para o lugar de onde proveio, ou seja, ela é dirigida no sentido do próprio Eu. Surge então daí o Super-eu, que se coloca contra o resto do ego, e sob a forma de consciência luta contra ele:
A agressividade é introjetada, internalizada, mas é propriamente mandada de volta para o lugar de onde veio, ou seja, é dirigida contra o próprio Eu. Lá é acolhida por uma parte do Eu que se contrapõe ao resto como Super-eu, e que, como “consciência”, dispõe-se a exercer contra o Eu a mesma severa agressividade que o Eu gostaria de satisfazer em outros indivíduos. À tensão entre o rigoroso Super-eu e o Eu a ele submetido chamamos consciência de culpa; ela se manifesta como necessidade de punição (FREUD, 1930, 59).
Deste modo a civilização consegue desarmar o indivíduo enfraquecendo-o e estabelecendo dentro de seu interior um agente para cuidar dele. Tal sentimento de culpa pode vir não só quando uma pessoa cometer um ato que esta considere má, como também apenas por ter a intenção de fazer algum ato ruim. O que uma pessoa considera bom ou mau não é necessariamente o que pode ser bom ou mau para ela, para seu ego, e o que ela considera como mau pode até ser bom para seu ego. Está aí presente então uma influência estranha, uma influência externa que nos diz o que é bom e o que é mau (FREUD, 1930).
Um desses fatores externos é o medo da perda de amor. Se esta pessoa perde o amor de uma pessoa que é dependente, fica desprotegida. O sentimento de culpa é, portanto, aquilo que faz os homens se sentirem ameaçados. No entanto este perigo só se instaura quando a autoridade descobre a atitude má. As pessoas só se sentem seguras a fazer alguma coisa má se as autoridades não descobrem, no caso da criança são os próprios pais e do adulto a sociedade como um todo. Uma grande
mudança só se realiza então quando a autoridade é internalizada através do conhecimento do superego, pois os fenômenos da consciência atingem um estado mais elevado (FREUD, 1930).
O superego fica à espera de oportunidades para fazê-lo ser punido pelo mundo externo. Neste estágio de desenvolvimento, quanto mais virtuosa uma pessoa é, mais severo e desconfiado é seu comportamento. Outro fator que acentua a influência do superego é a má sorte, isto é, a frustração externa. Quando o infortúnio lhe sobrevém, ele busca sua alma, reconhece seu pecado e se castiga com penitências. Neste caso o Destino é encarado como um substituto do agente parental. Se um homem tem má sorte, ele não é mais amado por esse poder supremo. “Conhecemos, então, duas origens para o sentimento de culpa: o medo da autoridade e, depois, o medo ante o Super-eu.” (FREUD, 1930, p. 62). 
Há duas teorias que explicam então o sentimento vingativo do Super-Eu: pode vir do próprio instinto agressivo do homem ou pode ser internalizado devido aos mecanismos punitivos que a sociedade impõe. Neste sentido, a agressividade vingativa da criança será determinada pela quantidade de agressão punitiva que espera do pai. Portanto, na formação do Super-eu e no surgimento da consciência, fatores constitucionais inatos e influências do ambiente atuam de forma combinada (FREUD, 1930). 
O preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma perda de felicidade pela intensificação do sentimento de culpa. Quando uma tendência instintiva encontra repressão, seus elementos libidinais são transformados em sintomas e seus componentes agressivos em sentimentos de culpa. O desenvolvimento do indivíduo parece ser um produto da interação entre duas premências: a premência no sentido da felicidade e a premência no sentido da união com os outros da comunidade. É daí que provém grande parte de sua atual inquietação, de sua felicidade e de sua ansiedade, a origem do mal-estar da civilização (FREUD, 1930).
Considerações 
O desenvolvimento da estrutura psíquica humana se dá na infância em que ocorre a delimitação entre o interior e o exterior, as etapas do desenvolvimento se preservam na memória. O Super-eu é um agente que foi por nós concebido e constitui a função de manter a vigilância sobre as ações e as intenções do Eu e julgá-las, exercendo sua censura. A severidade do Super-eu é, portanto, a mesma que a severidade da consciência. A infelicidade externa foi transformada em infelicidade interna pelo sentimento de culpa.(FREUD, 1930).
Na ocorrência de violência, a criança pode culpar a si mesma pelo que sofreu. Como se o crime fosse um castigo por algum comportamento punível dela. A resposta dada pelo seu Super-eu seria tão forte quanto esses crimes, mas em forma de culpa. No caso de tomar consciência de que foi vítima, pode ser tomada por revolta e essa agressividade poderá ser reprimida pelo superego. O instinto de destruição reprimido se manifestará de forma destrutiva para a própria criança. Todas essas formas de repressão podem traduzir-se como neuroses: apresentação de sintomas clínicos como forma de autopunição (FREUD, 1930).
Além disso, o Eu, na tentativa de protegê-la da verdade, pode mantê-la imersa em uma realidade fantasiosa, omitindo de si mesma o que aconteceu; ou, para evitar novas decepções, poderá se fechar para as relações sociais. Pode, quando tiver idade, se entregar ao vício em substâncias químicas que quebrem a conexão com a realidade (FREUD, 1930).
Se o testemunho da criança for tomado de forma a reviver o ocorrido, consequente mente, ocorre o retrocesso na recuperação e é revivida toda a culpa. De acordo com Eloy (2012, p. 77) é comum ocorrer a revitimização nos inquéritos, onde “o questionamento sobre a metodologia utilizada na tomada de depoimento da vítima, nas instituições policiais e judiciárias, motivou pesquisas, reflexões e práticas denunciantes do atendimento revitimizante”. Também segundo Napoli (2010), o sistema de oitiva é considerado revitimizante, uma vez que a criança tem que relatar a agressão que vivenciou, o que representaria um trauma a mais. A situação se agrava em casos onde o autor do crime é alguém próximo a criança toma consciência de que, ao contar ao psicólogo o que foi feito a ela, está ajudando a imputar-lhe uma punição.
Baseada na psicanálise freudiana e influenciada pelos demais autores citados, a investigação criminal, por mais que busque resguardar a criança ao máximo, devido à necessidade de obter provas, não pode esperar o tempo natural da criança. Isso levaria a reviver precocemente o ocorrido e implicaria em sua revitimização, representando um regresso em sua recuperação. 
EXPERIMENTO 
Esta etapa visa comprovar a hipótese proposta. Para isso, buscamos saber o ponto de vista de profissionais responsáveis por etapas do processo investigativo como ele acontece. Busca-se saber se o modo como ocorre é benéfico ou maléfico para as vítimas e o motivo que os fazem pensar dessa forma. 
Método
Conduzi uma pesquisa baseada em entrevistas com assistentes sociais e psicólogos que contribuem com processos de investigação com crianças vítimas em potencial de violência sexual e doméstica. O objeto é a equipe técnica do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro que atua na região de São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá e Rio Bonito. Como amostra, teremos dois assistentes sociais e um psicólogo que nela trabalham. O objetivo específico será saber pela opinião dos próprios profissionais da área a cerca do trabalho que desenvolvem com as crianças.
A Equipe Técnica do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
Dentre as atribuições do Ministério Público na área da Infância e da Juventude, estão: a promoção do inquérito civil e da ação civil pública para a proteção dos interesses das crianças e dos adolescentes; a instauração de sindicâncias, a requisição de diligências investigatórias e a determinação da instauração de inquérito policial para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à juventude. A investigação se dá através da união de equipes que compõem a promotoria, dentre elas, estão envolvidas a equipe técnica, grupamento policial, além dos órgãos da rede municipal de atendimentos.[0: Disponível em: <http://www.mprj.mp.br/areas-de-atuacao/infancia>]
Uma vez recebida uma denúncia de violação de Direitos, o Ministério Público pode solicitar o parecer da Equipe Técnica no sentido de orientá-lo quanto a que ações pode empreender junto à família denunciada. A equipe é composta por profissionais formados em Psicologia e Serviço Social que atuam na avaliação dos riscos sofridos por crianças e adolescentes, através de avaliação psicológica e sociológica. Eles devem buscar clarezaao relatar para o promotor a situação vivenciada pelas famílias, de modo que ele consiga determinar que medida legal tomar.
Violência Física, Psicológica, Abuso Sexual, Negligência e abandono são os crimes mais comuns com os quais esses assistentes sociais e psicólogos têm contato. É também muito comum casos nos quais os pais são dependentes químicos. Quando questionados a cerca dos efeitos da investigação criminal sobre as crianças, todos concordam que há diversos casos de revitimização. Ou seja, a criança, ao longo do processo investigativo acaba revivendo o drama e postergando sua recuperação.
Foi chamada atenção ao fato de que não é só o infante que revive o drama, mas também a família em sua totalidade. Torna-se um desafio a mais à recuperação da criança sua reintegração. A família, embora seja de onde muitas vezes vem o agressor, é, ainda, o único refúgio da criança e, diante da precariedade dos abrigos públicos, é o melhor lugar para ela. Em casos de negligência e alguns casos considerados leves de violência, ocorre uma medida disciplinar e a guarda retorna aos pais. Em casos mais sérios, busca-se o afastamento do agressor do convívio familiar, ou a guarda se transfere para um parente mais distante. O abrigo é a última opção.
Diante disso, o processo deveria visar
não só a recuperação da vítima, mas a rápida reestruturação do âmbito familiar que é diretamente afetado pelo processo. No entanto, não é isso o que ocorre, pois é necessário que a investigação ocorra de forma a privilegiar a constatação e não a recuperação. Privilegia-se o trabalho técnico. Ao perguntar aos entrevistados de que forma o trabalho deles poderia ser mais humanizado, a resposta mais recorrente foi que, a promotoria deveria buscar entender melhor o social, que deveria ir além das “letras frias da lei”. Ficou evidente que os psicólogos e assistentes sociais da Equipe Técnica enfrentam dificuldade em operar de forma a gerar benefícios à recuperação da vítima. 
CONCLUSÃO
Ao longo da modernidade, as crianças e seu bem estar ganharam importância na sociedade ocidental. A percepção do mundo sobre eles foi de adultos em miniatura para seres humanos em construção. A percepção das famílias, em sua maioria, sobre eles foi de herdeiros cuja perda, de tão recorrente, era tratada como comum, aos entes mais queridos e dignos de proteção e afeto. O Direito acompanhou as demandas da sociedade e foram elaboradas leis para garantir os direitos dos infantes; no Brasil, o destaque fica com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Com as novas regras vieram à fiscalização, a denúncia e a investigação. Diante disso, surgiu a preocupação de como o processo e o pré-processo afetam as crianças.
Freud, considerado o pai da psicanálise, mostra o quão devastador é o efeito dos crimes nas vítimas. Se potencializarmos isso, forçando a criança a reviver o drama, estaremos perpetuando o trauma. O trauma, traduzido em agressividade e sentimento de culpa se volta contra a criança sob a forma do Super-eu, punindo-a com sintomas físicos, e o Eu, para protegê-la, tende a afastá-la da realidade e do convívio social. A perícia psicológica, quando não respeita o tempo da criança pode provocar esse efeito, o que a necessidade de obter provas e o relato de alguns autores nos faz crer que ocorra com frequência.
Após entrevistar alguns funcionários da Equipe Técnica do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, responsáveis por investigar denúncias de desrespeito aos direitos da criança e do adolescente, foi possível ter certeza que há casos recorrentes de revitimização. Além disso, surgiu uma nova questão a ser estudada: a questão da guarda e dificuldade de reintegração familiar após o término do processo, especialmente quando a agressão parte de um membro da família. Através da pesquisa, constatou-se que o efeito da investigação criminal sobre as crianças vítimas de violência doméstica e sexual e sua recuperação, pode e tende a ser devastador, graças ao rigor técnico e desumanização que, infelizmente, ainda caracterizam o procedimento.
REFERÊNCIAS
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