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Unidade I ANTROPOLOGIA: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Profa. Lia Lemos Estruturalismo de Lévi-Strauss Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009), principal referência para a Antropologia Estrutural, pesquisou tribos e mitos de diversas sociedades sem Estado. Foco da abordagem: estrutura de pares binários ou opostos como homem/mulher, campo/cidade, dia/noite, cru/cozido, etc. Cada cultura elabora regras diferentes para a construção da identidade de gênero masculino e feminino, dessas regras surgem as estruturas elementares de parentesco, que compõe a regras como: proibição do incesto, relações de parentesco e casamento, sociedades patrilineares ou matrilineares. O que é uma estrutura para Lévi-Strauss 1. A estrutura funciona como um sistema, no qual a modificação de um elemento, provoca a modificação em todos os outros. 2. Os modelos pertencem a um grupo de transformações, cada transformação corresponde a um modelo da mesma família, o conjunto das transformações constitui um grupo de modelos. 3. Os elementos, as transformações e os modelos permitem prever o que acontecerá dentro do modelo caso ocorra uma modificação de um elemento. 4. O funcionamento do modelo construído deve explicar todos os fatos observados. Assim, é possível explicar como pensam e agem as pessoas da cultura estudada. O papel do mito Ao estudar os mitos, temos que nos ater à significação do mito, é ali que se encontrará a organização lógica e o sentido dos elementos fundantes da estrutura social. O mito está na linguagem e além dela, possui uma língua e palavras que pertencem a um tempo passado, ou seja, possui um sistema temporal e, ao mesmo tempo, forma uma estrutura permanente que se relaciona ao passado, ao presente e ao futuro que pode ser estudado e compreendido. Exemplo de mitos sobre os astros Sol e Lua: cada tribo atribui gêneros e características diferentes e, nessas relações, pode- se perceber o papel e características do homem e da mulher em cada sociedade, ou ainda as relações incestuosas. Exemplo sobre o gênero dos astros Sol e Lua “Ou os astros não são distintos, ou o são. Se eles não são distintos, o sol é um modo da lua, ou o contrário. Se eles são distintos, a diferença é sexual, ou não sexual. Se ela é sexual, o sol é macho e a lua fêmea, ou o inverso, e em cada caso, os astros podem ser marido e mulher, irmão e irmã, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Se a diferença não afeta o sexo, eles podem ser duas mulheres ou dois homens, que se opõem então por seu caráter ou por seu poder. Esta última oposição se enfraquece às vezes a tal ponto que um dos germanos perde sua individualidade e se torna uma espécie de cópia do outro.” (LÉVI-STRAUSS, “Antropologia Estrutural 2”, 1993, p. 225) Críticas ao Estruturalismo Antony Giddens (1938 –) revela que a estrutura são regras ou práticas sociais que orientam os comportamentos, mas que existe também a ação do sujeito que não foi trabalhada na teoria de Lévi-Strauss. Os agentes sociais escolhem seguir ou não as regras e a estrutura social e isso traz novidades e mudanças à sociedade, ou seja, os indivíduos legitimam, constroem e modificam a estrutura. Pierre Bourdieu (1930 – 2002) chama a atenção para o habitus, que são as estruturas e mecanismos que fazem cada indivíduo reproduzir ou transformar a sociedade, cada indivíduo tem competência para fazer escolhas que seguem ou não as regras sociais. Interatividade Os mitos estudados por estruturalistas: I. Trazem em si a estrutura do pensamento da linguagem e da organização social de um povo. II. Revelam as histórias do passado do povo estudado, mas não tem relação com a vida presente dos mesmos. Sobre as duas afirmativas, é correto afirmar que: a) As duas são verdadeiras. b) As duas são falsas. c) A primeira é falsa e a segunda é verdadeira. d) A primeira é verdadeira e a segunda é falsa. e) A segunda confirma a primeira. Resposta Os mitos estudados por estruturalistas: I. Trazem em si a estrutura do pensamento da linguagem e da organização social de um povo. II. Revelam as histórias do passado do povo estudado, mas não tem relação com a vida presente dos mesmos. Sobre as duas afirmativas, é correto afirmar que: a) As duas são verdadeiras. b) As duas são falsas. c) A primeira é falsa e a segunda é verdadeira. d) A primeira é verdadeira e a segunda é falsa. e) A segunda confirma a primeira. Antropologia interpretativa Clifford Geertz (1926 – 2006) entende que o antropólogo deve interpretar os significados da cultura, essa cultura se expressa pela linguagem e pela ação dos indivíduos dentro de um “drama social”. O antropólogo é um telespectador de uma interação social que pode ser interpretada como uma peça de teatro, uma cena de filme, ou um livro. A metodologia etnográfica permite ao pesquisador vivenciar, observar, descrever, explicar, interpretar e traduzir uma cultura, revelando as informações implícitas, regras e códigos introjetados no inconsciente. Função da antropologia interpretativa A observação participante do antropólogo cria um relato microscópico da realidade social do qual se pode tirar conclusões gerais. Com esse conhecimento, podemos relativizar nossa compreensão do outro e nos afastarmos de posturas e relações etnocêntricas. Olhar pelo ponto de vista do outro. Evidenciar as particularidades culturais. A antropologia passa a explicar e compreender o outro, e não apenas a descrever o outro, como na antropologia clássica. Exemplo da piscada de olho, a descrição densa revela as informações implícitas da cultura estudada. Pesquisa etnográfica Não torna o pesquisador em nativo. Dá pontos de referência sobre a cultura do outro. Permite conversar e compreender a cultura diferente, ampliando o discurso humano. Revela o sentido da ação humana dentro do seu contexto cultural. É uma interpretação do sistema simbólico do outro, não é a realidade. É a compreensão do antropólogo sobre a compreensão dos agentes sociais, ou seja, uma interpretação de segunda ou terceira mão, mas com base e dados científicos. Interpretação sem julgamentos. Síntese das abordagens antropológicas Estruturalista: objetivista, explica a macroestrutura, as regras de funcionamento geral. Interpretativa: subjetivista, explica a microesfera, compreende a ação particular. Ambas transformam a realidade em conhecimento, dão sentido ao todo e compreendem as partes da sociedade estudada. As duas abordagens são complementares. Novidades da antropologia contemporânea Modelo de Cardoso de Oliveira (2006, p. 105): Tanto Lévi-Strauss como Geertz possuem uma visão dialética para explicar a cultura. Porém, em ambas, falta a voz do autor, a voz do nativo. EXPLICAÇÃO COMPREENSÃO VISÃO EPISTEMOLÓGICA NÃO NÃO CÉTICA NÃO SIM ROMÂNTICA SIM NÃO NOMOLÓGICA OU ETNOCIENTÍFICA SIM SIM DIALÉTICA Interatividade No livro-texto, temos a seguinte citação: “A vocação essencial da antropologia interpretativa não é responder as nossas questões mais profundas, mas colocar a nossa disposição as respostas que outros deram (...) e assim incluí-las no registro de consultas sobre o que o homem falou.” (GEERTZ, 2008, p. 21) Tendo essa citação como inspiração, uma das características da Antropologia Interpretativa é: a) Registrar o que foi dito e realizado, dar uma interpretação sobre a cultura do outro e revelar o que está implícito. b) Encontrar nas outras culturas respostas para as questões que não sabemos sobre a nossa existência. c) Levar às outras culturas o conhecimento sobre a cultura doantropólogo para que possam se comunicar. d) Descrever e explicar cenas do cotidiano de outras culturas para que possam ser usadas em filmes e livros de ficção. e) Conhecer a cultura do outro e revelar as particularidades que fazem uma cultura ser mais avançada que outra. Resposta No livro-texto, temos a seguinte citação: “A vocação essencial da antropologia interpretativa não é responder as nossas questões mais profundas, mas colocar a nossa disposição as respostas que outros deram (...) e assim incluí-las no registro de consultas sobre o que o homem falou.” (GEERTZ, 2008, p. 21) Tendo essa citação como inspiração, uma das características da Antropologia Interpretativa é: a) Registrar o que foi dito e realizado, dar uma interpretação sobre a cultura do outro e revelar o que está implícito. b) Encontrar nas outras culturas respostas para as questões que não sabemos sobre a nossa existência. c) Levar às outras culturas o conhecimento sobre a cultura do antropólogo para que possam se comunicar. d) Descrever e explicar cenas do cotidiano de outras culturas para que possam ser usadas em filmes e livros de ficção. e) Conhecer a cultura do outro e revelar as particularidades que fazem uma cultura ser mais avançada que outra. Antropologia da História Interconexões entre história, tempo, temporalidade e cultura. A etnografia estuda as particularidades de uma sociedade no tempo presente e não é possível relacionar essas particularidades com culturas antigas. Já a etnologia é capaz de reconstruir a história de povos antigos, mas não de deduzir um evolucionismo entre tribos. Categorias de Lévi-Strauss (1993): 1. sociedades arcaicas, culturas que viveram em outro tempo e espaço; 2. sociedades primitivas, culturas que nos antecedem no tempo, mas se manifestam no mesmo espaço; 3. sociedades contemporâneas, culturas que vivem no mesmo tempo, mas em outro espaço. Antropologia X História transformações temporais; critica documento de diversos observadores; observa expressões conscientes; apoia-se em documentos originais e reconhecidos; estuda uma linha contínua no tempo. diversidade cultural; leitura de um único observador; observa condições inconscientes da vida social; apoia-se na tradição oral, na memória social; compara diversidades culturais, dispensando o tempo. Similaridades entre Antropologia e História Objeto de estudo: estudam sociedades que não a que se vive, havendo um afastamento temporal ou espacial. Objetivo: querem reconstruir o que se passa ou se passou na sociedade estudada. Método: a reconstrução é parcial, trazendo experiências individuais vividas para o conhecimento geral. As diferenças das leituras e perspectivas tornam as disciplinas uma complementar à outra. Noção de História e temporalidade Sociedades arcaicas e primitivas não documentaram ou escreveram suas história, por isso, nos são desconhecidas, mas possuem histórias e se transformaram. Diversas sociedades arcaicas, primitivas e contemporâneas coexistiram e coexistem com tecnologias diferentes e não é possível traçar uma linha evolucionista entre elas. A noção de tempo é uma referência etnocêntrica e subjetiva, a velocidade do tempo para quem está inserido na globalização parece mais rápida do que para aqueles que não estão, apesar de viverem contemporaneamente no mesmo território. História são blocos de tempo construídos na ideologia ocidental, outras culturas percebem a temporalidade de modos diferentes. Ideias ocidentais e pontos de vista etnocêntricos história progressiva e blocos históricos; história estacionária ou cumulativa; tempo lento ou rápido; evolução entre sociedades arcaicas e primitivas; noção de progresso e civilização nas colonizações europeias; pensamento de sistema pré e pós-político. Conclusão: O progresso cultural é uma coligação entre culturas, no contato com a diferença ocorre a troca de conhecimento e a criação do novo. Visão dos nativos A Antropologia trouxe para a discussão da História o ponto de vista dos nativos, dos índios e dos negros que foram trazidos para o Brasil. Antes, a História oficial contava a partir do ponto de vista dos portugueses. Índios criaram mitos sobre o contato com os brancos, isso faz parte da história desses povos e da história do Brasil. Os mitos, antes do contato com os brancos, possuem noção de temporalidade, como na origem dos astros. Porém, o pensamento mítico está entrelaçado ao processo histórico, pois a consciência temporal, nesse caso, privilegia a continuidade. Lógica temporal As sociedades possuem a lógica totêmica e a lógica historicista, porém, cada sociedade privilegia uma em detrimento da outra, que fica no inconsciente. Nossa sociedade ocidental, por exemplo, apresenta a lógica totêmica nas torcidas de futebol, que possuem seus símbolos e mascotes (às vezes, são animais) e as diversidades entre os times, símbolos, ritos, músicas mostra a lógica totêmica de pertencimento a um grupo e não ao outro. Outro exemplo, metáforas que assemelham o comportamento humano a de animais como “brigar como gato e rato”. Os mitos sobre a chegada do homem branco marca a lógica historicista entre as culturas indígenas que privilegiam a lógica totêmica. Interatividade “Tudo que é humano é do homem e o homem está realizado em todas as manifestações sociais encontradas em todas as sociedades, de todos os tempos e lugares. Do mesmo modo que não existem formas sociais perfeitas, pois em cada uma delas está relacionada a outras formas, formando configurações específicas, também não existe uma sociedade mais acabada que a outra.” Essa citação de DaMatta contradiz a visão: a) Antropológica. b) Histórica. c) Etnocêntrica. d) Indígena. e) Humanista. Resposta “Tudo que é humano é do homem e o homem está realizado em todas as manifestações sociais encontradas em todas as sociedades, de todos os tempos e lugares. Do mesmo modo que não existem formas sociais perfeitas, pois em cada uma delas está relacionada a outras formas, formando configurações específicas, também não existe uma sociedade mais acabada que a outra.” Essa citação de DaMatta contradiz a visão: a) Antropológica. b) Histórica. c) Etnocêntrica. d) Indígena. e) Humanista. Ética da Antropologia Código de Ética do Antropólogo e da Antropologia, criado na gestão de 1986/1988 e alterado na gestão 2011/2012: Direitos dos pesquisadores, direitos dos pesquisados e responsabilidades dos pesquisadores. Resolução 196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. Em 2012, a ABA conseguiu uma resolução complementar à 196, específica para as pesquisas em Ciências Sociais, mas continua vinculada ao Ministério da Saúde. Desafios do pesquisador Observar com neutralidade e imparcialidade apesar das relações de proximidade com o interlocutor. A proximidade não pode ultrapassar o limite da intimidade, ou ser uma relação de poder. Comissão Nacional de Ética em pesquisa possui uma visão biocêntrica: pesquisa em seres humanos, como cobaias; enquanto que a metodologia de pesquisa antropológica trata-se de pesquisa com seres humanos, eles são atores. Questiona-se o termo de consentimento informado do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), que torna impossível a pesquisa antropológica. Papel atual do antropólogo Mediador imparcial entre a sociedade nacional e comunidades étnicas, respeitando as diversidades e em busca da autonomia dos grupos. Manter-se como “cordão umbilical” entre os grupos: manter o vínculo com a sociedade nacional e o conhecimento que tem sobre as culturas diversas (Roberto Oliveira). Dar voz e autonomia aos povos estudados, permitir que eles sejam autores e coautores das interpretações sobre suas culturas. Antropologia urbana Estudo da cultura em sociedades urbanizadas, das diversidades locais. Anos 60, estudo das favelas de Gilberto Velho. Posteriormente, estudo das diversidades de classe, das culturas populares, das minorias, de grupos marginalizados, dos uso da tecnologia, dos lazer, dos bairros, etc. Criar a possibilidade de comunicação e interação entre os grupos sociais coexistentes nas sociedades urbanas. Superar os estereótipos que mapeiam e hierarquizam a cidade. Visão relativista Importância de manter um distanciamento e manter a imparcialidade na pesquisa. Na cidade, existe o multipertencimento e a fragmentação. Muitos estudos vão revelar as relações de poderes desde a família até o Estado, cada qual com sistemas simbólicos diferentes do que vivem os indivíduos. Antropologia urbana usa de diversas abordagens antropológicas para compreender as diversas identidades. Violência urbana e jogo de poderes são também estudos em que devem se manter a visão relativista, sem assumir a visão de uma das partes. O distanciamento Existe o distanciamento social e psicológico, estamos próximos de nossos vizinhos, mas não necessariamente nos identificamos com eles. Os estereótipos que mapeiam bairros, grupos urbanos, espaços parecem o suficiente para trazer familiaridade, mas, ao mesmo tempo, possuem preconceitos. O antropólogo urbano tem de vencer essas fronteiras simbólicas e participar desse “outro” ambiente social, revelando suas crenças, mitos, regras, jogos de poderes. Potencial de confrontar estudos sobre mesmos grupos sociais. Desconstruir estereótipos e encontrar suas origens históricas. Interatividade Visto que a Antropologia se difere da ética da Biologia e traz novidades nos estudos urbanos, qual o papel do antropólogo contemporâneo? a) Proteger as minorias a fim de preservar sua identidade e mantê-los afastados das sociedades globalizadas. b) Evidenciar para as autoridades os grupos que violam os direitos das minorias. c) Explicar para as minorias quais as políticas públicas que serão oferecidas a elas. d) Levar às minorias a lógica ocidental para que eles possam se inserir na sociedade nacional ou global. e) Mediar a relação entre grupos culturais, respeitando as diversidades e buscando suas autonomias. Resposta Visto que a Antropologia se difere da ética da Biologia e traz novidades nos estudos urbanos, qual o papel do antropólogo contemporâneo? a) Proteger as minorias a fim de preservar sua identidade e mantê-los afastados das sociedades globalizadas. b) Evidenciar para as autoridades os grupos que violam os direitos das minorias. c) Explicar para as minorias quais as políticas públicas que serão oferecidas a elas. d) Levar às minorias a lógica ocidental para que eles possam se inserir na sociedade nacional ou global. e) Mediar a relação entre grupos culturais, respeitando as diversidades e buscando suas autonomias. ATÉ A PRÓXIMA!
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