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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO Centro de Ciências Biológicas e da Saúde - CCBS Escola de Nutrição - EN Departamento de Ciência de Alimentos – DTA Bioquímica de alimentos Maria Gabriela Bello Koblitz Bioquímica da Carne INTRODUÇÃO Transformação do músculo em carne carne de caça X carne de açougue/supermercado Conjunto de transformações bioquímicas Instalação do rigor mortis Impede o consumo do produto – principal defeito: dureza Resolução do rigor mortis Melhoria da qualidade sensorial - maciez 1. Estrutura do Músculo Conhecimentos Básicos – Informações preliminares Dois tecidos principais – muscular e conjuntivo armazena glicogênio como fonte de energia Tecido Conjuntivo Colágeno e Elastina Tecido muscular Músculo esquelético estriado, cardíaco e liso Fibras vermelhas, brancas e intermediárias Células (Fibras) Musculares - Altamente especializadas Membrana plasmática = SarcolemaTúbulos T (impulsos nervosos) Retículo Sarcoplasmático – vesículas que controlam os níveis de Ca+2 Proteínas responsáveis pela contração: miofibrilas – miofilamentos ACTINA: filamentos finos MIOSINA: filamentos grossos 2. Contração/Relaxamento Muscular Estímulo nervoso: liberação de Ca+2 para dentro da célula Miosina – Atividade de ATPase – hidrólise de ATP Actina + Miosina = Actino-miosina Deslizamento dos miofilamentos redução do tamanho do sarcômero = Contração muscular Fim do impulso nervoso retículo sarcoplasmático recolhe Ca+2 Fim da atividade de ATPase acúmulo de ATP Fim do complexo actino-miosina = músculo em repouso No músculo em repouso: ATP impede a ligação da actina com a miosina SÍNTESE DE ATP 1. Respiração celular – mitocôndrias = ATP + CO2 + H2O 2.Glicólise – citoplasma: acontece na ausência de O2 gera: ATP + ácido lático No animal vivo: ácido lático fígado: re-síntese de glicose Fosfocreatina Cinase 1. ADP + Fosfocreatina ATP + creatina Adenilato cinase 2. 2ADP ATP + AMP REGENERAÇÃO DE ATP “Colapso Circulatório” – fim do transporte de gases e substâncias pelo sangue Conseqüência fim do aporte de O2 – consumo do glicogênio do músculo via glicólise: produção de ATP e ácido lático – queda (acidificação) do pH Porém - Atividade de ATPase sarcoplasmática não cessa: lise (CONSUMO) de ATP Transformações Bioquímicas Post Mortem Transformação do Músculo em Carne 1. Instalação do Rigor Mortis Fim do ATP – nada mais separa actina de miosina combinação entre actina e miosina de forma irreversível Complexo actino-miosina = Rigidez Cadavérica Rigor Mortis Fim da síntese de ATP – 2 possibilidades: a) fim do glicogênio armazenado b) pH < 5,5 – paralização das enzimas da glicólise Observação Importante Em animais saudáveis, o rigor mortis coincide com o menor valor de pH do músculo (em torno de 5,4) No entanto, o rigor depende apenas da ausência de ATP e ocorrerá independente do valor de pH do músculo 2. Resolução do Rigor Mortis Maturação da Carne X Carne Maturada Alterações de textura No rigor = extrema dureza; após a resolução = maciez e mastigabilidade Causas 1. pH ácido Desnaturação das proteínas miofibrilares (actino-miosina) 2. Ação de proteases endógenas CALPAÍNAS Ação sobre as proteínas da linha Z = colapso do sarcômero Ativadas por Ca+2; controladas pela Calpastatina (inibidor específico) Antigamente – Catepsinas lisossomais, ação sobre actina e miosina Outras Alterações da Carne Maturada Alterações de sabor Transformação de AMP para IMP ou GMP – agentes de sabor Produção de hipoxantina (degradação de IMP) – sabor amargo – mais comum em pescado Alterações da cor Mioglobina Oximioglobina = vermelha brilhante Desnaturação da globina = metamioglobia – vermelha escuro Carne cozida = marrom – metamioglobina + Reação de Maillard Tempo para instalação do Rigor Frango: menos de 30 min. Peru: menos de 1 hora Suínos: entre 25 min. e 3 horas Bovinos: entre 6 e 12 horas. Acidificação Até 24 horas mais rápida em suínos pH volta à neutralidade durante a resolução liberação de aminas Acidificação Auxilia a conservação post mortem (contaminação microbiana) Auxilia a resolução do rigor Resolução sob refrigeração (até -1,5ºC) controle microbiológico retarda a velocidade das transformações bioquímicas Congelamento paraliza as transformações Carnes Defeituosas Causas ante mortem Alterações ligadas ao Estresse Fatores de Estresse Temperatura e Umidade Jejum prolongado Luz e Barulho Medo Exercício físico 1. Carnes DFD: Dark; Firm; Dry bovinos, suínos e ovinos Estresse pré-abate = consumo do glicogênio Rigor sem acidificação do pH Aumento da CRA não reflexão da luz - dark pior resolução do rigor – firm não exudação – dry Pela alta CRA – pode ser industrializada; alta contaminação microbiana (pH pouco ácido) 2. Carnes PSE: Pale; Soft; Exsudative [suínos selecionados para carne magra] Rápido consumo do glicogênio pós-abate redução extrema de pH na carne ainda quente desnaturação e insolubilização das proteínas Redução da CRA reflexão da luz - pale liberação da água - soft exudação - exsudative carne descartada – não serve para industrialização nem para comercialização 7,2 7,2 Suíno Peito de frango A - DFD B - PSE C - Normal Carneiro Encurtamento pelo frio bovinos e ovinos Causa: temperatura baixa (inferior a 8 – 10ºC) antes da instação do rigor Frio paraliza as proteínas de transporte do retículo sarcoplasmático Liberação de Ca+2 e inativação do sistema de recolhimento Alta concentração de Ca+2 ativação da miosina = contração muscular Conseqüência: Contração muito intensa difícil resolução do rigor Carne muito dura Controle: não resfriar abaixo de 10ºC até 10h após a sangria. Causas post mortem Rigor do Descongelamento Causa: congelamento antes do Rigor paraliza as transformações bioquímicas + formação de cristais de gelo Conseqüência: Após descongelamento rompimento do retículo sarcoplasmático liberação de Ca++ = ativação da miosina = contração intensa Controle: descongelamento lento reduz a velocidade das transformações