Buscar

ética frente a anencefalos

Prévia do material em texto

FACULDADE DE TECNOLOGIA DO NORDESTE - FATENE 
 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
 
VITÓRIA ISABEL DOS SANTOS CHISÓSTOMO 
 
 
Direito à vida e a anencefalia 
 
A gestação de fetos anencéfalos abre pauta de grandes debates atualmente, com 
grande peso em relação à bioética. Mesmo sabendo que o país é laico, essa temática acaba-
se tornando um assunto de extrema delicadeza, tendo em vista a grande pluralidade religiosa 
e política do Estado em que vivemos. O assunto é delicado por se tratar do direito à vida, 
direito que é pontuado na religião, política, regras sociais e ordenamento jurídico, de um lado 
temos o posicionamento religioso onde deve-se respeitar os ciclos da vida opondo-se à 
ciência a qual afirmam que a anomalia é mortal. Quando se fala de vida, sabemos que deve 
ser um direito inviolável (sendo protegido pela Carta Magna), mas quanto o direito à vida trata-
se de um feto com uma grave má formação no cérebro, serão as mesmas regras a serem 
seguidas ou é passível de exceção? 
Anencefalia uma doença resultante da má formação do cérebro de um feto durante a 
gestação, ela encontra-se inquestionavelmente entre as mais graves má formações durante 
a gestação, pois ela afeta o sistema nervoso central do embrião. A importância do encéfalo 
para o ser humano incide diretamente sobre toda sua vida, resultando então sérios danos 
para quem não o possui, direcionando a um final de vida rápido. 
Além dos graves danos à saúde psicológica aos progenitores, por acompanhar todo 
esse processo, em saber que o filho não vai ter muito tempo de vida, que sua saúde é 
degradante, a gestação de um feto anencéfalo traz maiores riscos sobre a mãe, podendo 
acometer hemorragias, infecções e hipertensão, capaz até de levar a morte. 
Não existe possibilidades de vida para um feto anencéfalo, pois essa doente é 
incompatível com a vida. O assunto tratado não é o aborto em si, ou a liberdade de qualquer 
mulher estar autorizada a isso, até porque no aborto o tema central é a vida, mas sim no 
aborto de um feto sem as menores condições de vida, a impossibilidade de uma vida sadia. 
O diagnóstico é feito em torno de 12 semanas de gravidez e tem precisão, pois é feito através 
de ultrassonografias. 
No Caput do Art. 5° da Constituição Federal temos a previsão da inviolabilidade do 
direito à vida e do direito à liberdade, o tamanho dessa liberdade é questionável na medida 
em que ela for colidente com a inviolabilidade do direito à vida, dessa forma questionamos se 
um feto sem cérebro deve ser mantido trazendo riscos a uma gestante, impedindo seu direito 
a vida. Pode-se ressaltar também que o direito à vida indubitavelmente é um dos mais 
importantes dentre aqueles assegurados pelo ordenamento. Assim entende-se que não é 
preciso somente viver, mas que seja preciso viver com qualidade. 
Tendo em mente que no Brasil e conceito legal de morte é exclusivamente a ausência 
de frequência cerebral, porque deveriam então negar as mulheres seus direitos em detrimento 
de um feto sem frequência cerebral? A revolta maior deveria ser com a natureza por nos 
conceder com essas proezas e não aos médicos por fazerem esses procedimentos, ou ao 
ordenamento jurídico por prezar pelo bem comum. 
Não se pode esquecer de argumentar que a legislação traz exceções e relativização 
de alguns direitos, como por exemplo estado de defesa. 
Para a lei brasileira cabem-se apenas três casos de aborto: gravidez que representa 
riscos, resultante de estupros e no caso dos encefálicos. Assim como no caso de aborto onde 
prevalece a saúde da mãe (psicológica e física) o caso dos anencéfalos também deve 
prevalecer a saúde da gestante, tendo em vista que não sentindo em deixar exposta sua 
saúde por um feto a qual não tem chances de vida. 
Em 2012, depois de dois calorosos dias de debates e argumentações, o Supremo 
Tribunal Federal decidiu que gestantes de fetos sem cérebros podem fazer a escolha de 
impedir a gestação, com o auxílio de médicos autorizados. 
É desumano e antiético obrigar que os pais segurem gestações desse tipo até seus 
Últimos instantes, uma gestação que está condenada ao desastre. Sendo o auge trocar chás 
de bebês e batizados por velórios e lutos. 
Com bons argumentos foi possível provar que a mulher pode sim decidir o futuro da 
gestação, quando ela estiver informada sobre o futuro da gestação, com suas causas e 
consequências das duas vertentes, de parar ou prosseguir com feto. Fica então claro que não 
se quer que as mulheres sejam obrigadas a interromper a gestação, o que se busca é que 
suas decisões sejam respeitadas, não é investido como um ato de violência, mas sim um ato 
de respeito as decisões individuais. 
 
Referências 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032002000200008&lang=pt 
 
http://www.cnbb.org.br/index.php?op=pagina&chaveid=236.034 
 
http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-52002008000100016&lang=pt 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Enc%C3%A9falo 
https://www.conjur.com.br/2012-abr-11/sofrimento-gestante-feto-anencefalo-comparado-
tortura

Continue navegando