Buscar

Jurisdição e Competência no Direito Processual Civil

Prévia do material em texto

1 
www.g7juridico.com.br 
 
 
 
INTENSIVO I 
Fernando Gajardoni 
Direito Processual Civil 
Aula 02 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Jurisdição e competência I 
 
1. Generalidades 
 
1.1. Jurisdição 
 
O que é jurisdição? De acordo com a doutrina brasileira, jurisdição é a capacidade de dizer o direito 
de forma definitiva. 
 
Obs. toda pessoa ou todo órgão investido da função jurisdicional tem esse poder de afirmar a 
vontade da lei de modo definitivo. Vários órgãos dizem o direito, mas somente órgãos 
vocacionados ao exercício da jurisdição é que conseguem dizer o direito de modo definitivo. 
 
Repare que o marco distintivo da jurisdição de todos os demais órgãos é o traço da definitividade. 
 
A jurisdição é uma capacidade genérica, isto é, não se analisa se exercerá ou não a jurisdição no 
caso concreto, quem tem esse atributo genérico é são todos os órgãos ou pessoas investidos da 
função jurisdicional. 
 
O fenômeno da investidura é o ato previsto na CF através do qual alguém passa a deter jurisdição. 
 
Como regra geral a jurisdição é exercida no Brasil pelo Poder Judiciário, trata-se de uma atividade 
típica desse poder. Mas, há órgãos de natureza pública e outros de natureza privada que exercem 
jurisdição, essas pessoas que exercem jurisdição fora do judiciário dizem o direito de forma 
definitiva como fosse uma decisão do próprio judiciário. Exemplo: Processo de Impeachment, pois 
o decidido pelo Senado Federal representa o direito de modo definitivo. O Senado exerce aqui uma 
atividade atípica. 
 
Há também a atividade jurisdicional privada, pois o art. 3º, §1º, do NCPC reconhece a arbitragem 
(Lei 9.307/96) no Brasil. 
 
Art. 3º do NCPC - Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º - 
É permitida a arbitragem, na forma da lei. 
 
2 
www.g7juridico.com.br 
 
Art. 16 do NCPC - A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o 
território nacional, conforme as disposições deste Código. 
 
Art. 42 do NCPC - As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua 
competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei. 
 
Art. 18 da lei 9.307/96 - O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica 
sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário. 
 
1.2. Competência 
 
A competência é a capacidade de dizer o direito de forma definitiva, porém no caso concreto. 
 
Obs. apenas existe um único juízo para uma causa. 
 
Parte da doutrina diz que a competência nada mais é do que uma distribuição administrativa da 
jurisdição, isso porque para que a jurisdição possa melhor exercer o seu papel de dizer o direito de 
forma definitiva, se faz necessário que haja uma organização. 
 
Atenção: antes de ser competente todo juiz tem jurisdição, por isso a doutrina e a jurisprudência 
admitem que na urgência cesse a competência, portanto se reconhece o fenômeno da translatio 
judici. 
 
1.3. Previsão legal sobre as regras de jurisdição e sobre as regras de competência. 
 
Estão disponíveis no art. 44 do CPC, mas esse artigo é incompleto, pois ele não traz toda a 
disciplina legal sobre jurisdição e competência. Sendo disposições: 
 
 Constituição Federal 
 Constituições Estaduais 
 CPC 
 Leis Federais extravagantes 
 Tratados Internacionais (exemplo Convenção de Haia, Tratado de Havana, etc.) 
 Leis de Organização Judiciária (da União e dos Estados) 
 
2. Divisão 
 
Estudaremos fazendo uma divisão, pois não faz muito sentido verificar dentro do Brasil quem é o órgão 
competente para solucionar determinado conflito se antes não for capaz de afirmar se o próprio Brasil 
tem jurisdição sobre o caso. 
 
As divisões são: 
 
2.1. Jurisdição nacional (ou jurisdição internacional) 
 
Temos aqui uma discussão, que diante de determinado caso, o Brasil julga? Note que caso a 
resposta for sim, observaremos o item 2.2., isto é, a competência interna do Brasil. Mas, só se a 
resposta for “sim”. 
 
Esse item é disciplinado no CPC do art. 21 a 41. 
 
2.2. Competência interna 
.
 
3 
www.g7juridico.com.br 
 
Aqui estudaremos quem no Brasil julgará determinado caso. 
 
As regras de competência interna estão no art. 42 a 69 do CPC. 
 
3. Jurisdição nacional 
 
3.1. Princípios ou critérios de direito internacional 
 
Esses três critérios são observados por quase todos os países. Mas, cada país adota com maior ou 
menor intensidade cada um desses critérios, eles escolhem o que julgam. Como exemplo, o Brasil 
adota esses três critérios. 
 
a) Critério da Efetividade 
 
Ordinariamente os países julgar ou aceita julgar aquilo que eles são capazes de cumprir. 
 
b) Critério do Interesse 
 
Significa que ordinariamente os países apenas julgam aquilo que eles tenham interesse em 
julgar. Como exemplo, o Brasil pelo critério do interesse, faz questão de julgar ações sobre 
bens situados no Brasil (afirmação de sua soberania). 
 
c) Critério da Submissão (arts. 22, III + 25 CPC) (Código de Bustamante) 
 
Por esse critério, ordinariamente os países respeitam a vontade das partes. Os países 
respeitam a eleição de jurisdição estrangeira, positivo ou negativo. 
 
Art. 22 do CPC - Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar 
as ações: III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição 
nacional. 
 
Art. 25 do CPC - Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o 
julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em 
contrato internacional, arguida pelo réu na contestação. 
 
 Jurisdição estrangeira, positivo é aquela em que as partes escolhem o local de julgamento. 
 
 Jurisdição estrangeira, negativo é aquela em que as partes escolhem eleição de foro 
exclusivo estrangeiro em contrato internacional (art. 25 do CPC). 
 
3.2. Dois critérios 
 
No Brasil a jurisdição nacional se divide em duas grandes partes, à luz desses três critérios (á 
estudados acima). 
 
a) Exclusiva (art. 23 CPC e art. 12, §1º, da LINDB) 
 
Aqui o Brasil julga o caso e ele não aceita que nenhum outro país julgue, mas caso esse outro 
país também julgue, essa decisão não valerá no Brasil. 
 
 
 
.
 
4 
www.g7juridico.com.br 
b) Concorrente (arts. 21 e 22 do CPC e art. 12, caput, da LINDB) 
 
Nessa jurisdição o Brasil julga, mas ele deixa outros países julgarem também, com isso, depois 
estudaremos qual decisão valerá. 
 
3.3. Jurisdição nacional exclusiva (art. 23 CPC e art. 12, §1º, da LINDB) 
 
De acordo com o art. 23 do CPC e art. 12, §1º, da LINDB, existem três temas que em razão da 
soberania nacional brasileira apenas os juízes brasileiros poderão julgar, vejamos: 
 
Art. 23 do CPC - Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer 
outra: 
 
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
 
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e 
ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de 
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; 
 
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de 
bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha 
domicílio fora do território nacional. 
 
Art. 12 da LINDB - É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu 
domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. 
 
1º Só à autoridade judiciária brasileira competeconhecer das ações relativas a imóveis 
situados no Brasil. 
 
Cuidado com o art. 5º, XXXI, da CF: 
 
Art. 5º, XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei 
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais 
favorável a lei pessoal do "de cujus"; 
 
Note que esse dispositivo é uma regra de aplicação de lei e não uma regra de competência. Pois a 
regra de competência para bens no Brasil é do Poder judiciário. Significa dizer que sobre o bem no 
Brasil apenas o Juiz brasileiro julgará, em princípio aplicando a lei brasileira e excepcionalmente 
aplica a lei estrangeira quando essa for melhor para o cônjuge e filhos brasileiro. 
 
3.4. Jurisdição nacional concorrente (arts. 21 e 22 do CPC e art. 12, caput, da LINDB) 
 
Aqui temos seis hipóteses, três delas no art. 21 do CPC e três no art. 22 também do CPC. 
 
Art. 21 do CPC - Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em 
que: 
 
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; 
 
Essa regra também é válida para filial. Isso ocorre pela observância do principio ou 
critério da efetividade, isto é, quando o réu esta domiciliado no Brasil, em princípio o país 
conseguirá executar a decisão. 
 
.
 
5 
www.g7juridico.com.br 
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; 
 
O Brasil aqui julga pela observância do princípio do interesse. 
 
III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. 
 
O Brasil aqui julga também pela observância do princípio do interesse. 
 
Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a 
pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. 
 
Art. 22 do CPC - Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as 
ações: 
 
I - de alimentos, quando: 
 
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; 
 
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, 
recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; 
 
Aqui vale no Brasil o critério da efetividade. 
 
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência 
no Brasil; 
 
Esse dispositivo entrou no NCPC por causa do comércio eletrônico, pois certas empresas 
internacionais não têm nem filial, agência ou sucursal no Brasil. 
 
 III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. 
 
Cuidado, pois essa adoção pode ser expressa (por escrito) ou tácita (caso de alguém entrar 
com ação no Brasil e não houver impugnação). 
 
3.5. Critério de prevalência das sentenças estrangeiras na jurisdição nacional concorrente (art. 24 CPC) 
 
Existe duas regras para descobrir qual decisão valerá: 
 
a) Não há litispendência 
 
Repare que se houverem duas ações iguais no Brasil ocorrerá a extinção de uma delas, mas 
cuidado pois quando houver uma ação no Brasil e outra no estrangeiro, o artigo 24 do CPC é 
claro em dizer que não há litispendência. 
 
Art. 24 do CPC - A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência 
e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que 
lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e 
acordos bilaterais em vigor no Brasil. 
 
Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a 
homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no 
Brasil. 
 
.
 
6 
www.g7juridico.com.br 
Nesse caso das duas ações (uma no Brasil e outra fora) poderá ocorrer decisões diferentes, 
nesse caso teremos a segunda regra. 
 
b) Valerá a decisão que transitar em julgado primeiro 
 
Mas, quando é que a decisão brasileira transitará em julgado no juizado? Quando não couber 
mais recurso da sentença. 
 
Quando que a decisão estrangeira transitará em julgado? A decisão estrangeira transita em 
julgado no Brasil Quando ela for homologada no STJ como indica o art. 960 do CPC. 
 
4. Competência interna 
 
4.1. Critérios (sem mudança no NCPC) 
 
Para entender os critérios, deve-se conhecer a organização judiciária brasileira, temos: 
 
 
 
4.1.1. Hierárquico ou funcional (ratione personae) 
 
É um critério determinado conforme a função que a pessoa que é parte no processo ou a 
função que o juiz exerce no processo para determinar a sua atividade ou competência. 
 
Basicamente esse critério no Brasil é utilizado para firmar a competência em três situações; 
 
a) Ações originárias (CNJ e CNMP) (ADI, ADC, ADPF) (arts. 102, I, 105, I, 108, I, 
114, V, da CF + Constituições Estaduais) 
 
São as ações que não começa no “piso”, elas começam a partir da segunda instancia. 
 
As regras sobre ações originárias estão previstas nos arts. 102, I, 105, I, 108, I, 114, 
V, da CF + Constituições Estaduais. 
 
É entendimento uniforme da doutrina de que a ação originária depende de previsão 
constitucional, Estadual ou Municipal. 
 
b) Foros privilegiados (MS, HD e MI) (arts. 102, I, 105, I, 108, I, 114, V da CF + 
Constituições Estaduais) 
.
 
7 
www.g7juridico.com.br 
 
Existem algumas pessoas que em razão do cargo que ocupam, ao cargo que eles 
ocupem foi garantido o direito de s.r. julgado, pelas instancias superiores. 
 
Os dispositivos referentes ao foro privilegiado, são os mesmos utilizados na letra (a), 
 
Temos três observações sobre o foro privilegiado: 
 
 É uniforme o entendimento de que foro privilegiado apenas pode ser tratado 
pelas Constituições Federal / Estadual. 
 
 O foro privilegiado protege o cargo, isto é acabou o cargo, acabou o foro 
privilegiado. 
 
 O foro privilegiado no civil é excepcionalidade (são raras as hipóteses em que 
a CF dá foro privilegiado para pessoas em virtude do cargo, no Civil) 
 
No civil basicamente as ações constitucionais que possuem foro privilegiado 
são; I) Mandado de Segurança; II) Habeas data; Mandato de Injunção. 
 
Obs. o Mandado de Segurança contra juiz de primeiro grau não pode um outro 
juiz no mesmo patamar julgar, se faz necessário um órgão superior julgar, 
nesse caso julga o TJ. 
 
Mas nos demais casos aplica-se a dica do TOP julga TOP. 
 
Caso não tenha ação originária e nem foro privilegiado, já temos uma 
conclusão parcial (a ação é na 1ª instância), utilizaremos a terceira regra. 
 
c) Relação de acessoriedade ou dependência (arts. 61 e 286 CPC) 
 
Existem determinados tipos de ações que quando serão ajuizadas, elas já são 
ajuizadas porque elas são acessórias ou dependem de outra ação já existente. Há entre 
essas ações (a que foi ajuizada e a que já existe) uma relação de acessoriedade que 
impõe que ambas as ações sejam julgadas pelo mesmo juízo. 
 
Agora só precisamos saber aonde (1ª instância) distribuirá a demanda, por isso 
precisamos saber a matéria (competência material). 
 
4.1.2. Material (ratione materiae) 
 
A competência material diz respeito à matéria. 
 
Obs. Tem que seguir essa ordem para encontrar a justiça competente. 
 
a) Justiça Eleitoral (art. 121 da CF + Código Eleitoral) (causa de pedir) 
 
Essa competência é definida pela causa de pedir. 
 
O regramento da CF consta no art. 121 da CF, mas esse dispositivo diz que a Lei 
Complementar definirá a competência da justiça eleitoral. O problema é que não tem 
lei complementar depois da CF/88 definindo essa competência. 
 
.
 
8 
www.g7juridico.com.br 
Ocorre que antes da CF/88 existia uma lei (Código Eleitoral) que é uma lei Ordinária. 
A doutrinaaqui reconhece que o Código Eleitoral faz o papel descrito no art. 121 da 
CF, sendo recepcionado pela CF como Lei Complementar. 
 
A justiça eleitoral compete julgar basicamente dois tipos de causa de pedir: 
 
 Ações relacionadas a sufrágio popular. 
 
São ações relacionadas às eleições, plebiscitos, referendos. 
 
 As Questões político-partidárias 
 
Aqui constam as discussões de criação de partidos políticos, desmembramento 
de partido político, perda do mandato no caso de infidelidade partidária. 
 
Não sendo matéria da justiça eleitoral, iremos a diante. 
 
b) Justiça do Trabalho (art. 114 CF) (súmula 736 STF) (causa de pedir) 
 
A competência da justiça do trabalho também se á em relação a causa de pedir. O art. 
114 da CF sofreu uma reforma através da EC 45/04, que estabeleceu várias hipóteses 
que configuram competência para justiça do Trabalho. Vejamos os principais incisos 
do art. 114 da CF. 
 
 
 Inciso I - Relação de trabalho (ADI 3395 e 3684) 
 
Esse inciso I foi objeto de ADI, já julgadas pelo STF. O autor dessas ADI, 
dizia que esse inciso I tinha um vício de inconstitucionalidade formal. O 
Supremo ao julgar essas ADI’s, decidiu pela inconstitucionalidade parcial 
desse dispositivo dando ao art. 114, I, da CF uma interpretação conforme a 
Constitucional. 
 
O STF decidiu que se tratar de servidor público celetista (empregado público) 
a competência será da Justiça do Trabalho, como diz o art. 114, I, CF. O STF 
continua dizendo que se tratar de servidor público ocupante de cargo público 
(estatutário), a competência não é trabalhista, mas sim, competência comum. 
 
 Inciso II e III - Direito à greve e direito sindical 
 
Esses incisos seguem a mesma regra do anterior. Isto é, caso discuta direito de 
greve – celetista - (sempre será competente a Justiça do Trabalho), mas se 
tratar de servidor público em sentido lato – estatutários - (segue orientação do 
Supremo) quem julga é a Justiça Estadual. 
.

Continue navegando