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CURSO DE EDUCADOR SOCIAL SENAC FRANCISCO MATARAZZO PEDOFILIA: NÃO PODEMOS NOS CALAR WANESSA CHRYSTINA COSTA DIAS São Paulo - Setembro 2019 INDICE Entendendo o termo pedofilia ................................................................................... 3 A pedofilia na internet ................................................................................................ 6 Para que serve a educação sexual na escola? ................................................. 7 Dados divulgados pelo Ministério Publico.............................................................. 10 Estupro .............................................................................................................10 O agressor .......................................................................................................11 Os mais vulneráveis..........................................................................................11 Subnotificações .................................................................................................12 Como prevenir...................................................................................................13 Como identificar uma vítima..............................................................................13 Relatório Out of the Shadows (2019) ........................................................................16 Pedofilia: 9 maneiras de proteger seu filho..............................................................18 O papel do educador social........................................................................................19 Denuncie............................................................................................................19 Referencias bibliográficas citadas e consultadas...................................................20 Entendendo o termo pedofilia O tema é complexo, polêmico, de interesse e responsabilidade de todos, porém, nem sempre é tratado da forma que deveria ser. Antes de aprofundarmos na questão educacional, social e criminal do tema, uma observação deve ser feita com muita relevância: PEDOFILIA NÃO É CRIME! Não existe, em nosso ordenamento jurídico penal pátrio, o “crime de pedofilia”. O que muito vemos e ouvimos erroneamente no cotidiano, por meio das grandes mídias, é que alguém foi preso pelo “crime de pedofilia” e isso é inculcado na mente das pessoas como se existisse o tipo penal. Sei que muitos pensarão (e dirão) que é a mesma coisa, mas não é! A pedofilia, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), é uma doença; um transtorno psicológico onde o indivíduo possui atração sexual por crianças e adolescentes pré-púberes (até 13 anos). Questão que surge quando tratamos desse tema é: se pedofilia não é crime, como punir os pedófilos? Pedófilo é o sujeito (homem ou mulher) que padece de pedofilia – doença. Há de se ficar bem claro que ninguém pode ser punido criminalmente por ter alguma doença, porém, quando o pedófilo (quem tem pedofilia) exterioriza a sua patologia e sua conduta se amolda em alguma tipicidade penal, estará caracterizado o crime (da tipicidade incorrida e não de pedofilia). Não existe cura para a pedofilia e, por este motivo, o tratamento deve ser constante para que ela seja e se mantenha controlada. Deve-se ficar muito bem cristalino que nem todo pedófilo é um criminoso sexual, pois, como já dito, a pedofilia é uma doença e enquanto ela não for exteriorizada não há de se falar em crime e nem em criminoso. Vale, também, a observação de que nem todo criminoso que comete crimes sexuais contra crianças e/ou adolescentes é um pedófilo. A cada situação de crime sexual envolvendo criança e/ou adolescente, deve-se levar em conta o contexto fático da conduta para que seja analisada de acordo com sua peculiaridade. Como podemos observar, existe uma questão educacional/social acerca da pedofilia (e do pedófilo) que não é exercida, pois quando nos pegamos vendo, lendo, falando ou estudando tal tema, a repulsa criminal é imediata. Não estou querendo pregar o abolicionismo penal para os pedófilos que cometem crimes, porém, há de se ter cautela quanto ao tema, pois é uma questão de saúde pública antes de se tornar uma questão criminal. O imediatismo penal que se instituiu ao longo dos anos (e ainda o é assim) na cabeça das pessoas, passando a falsa imagem de que tudo se resolve da noite para o dia aumentando penas ou criando (mais) leis, nada mais é do que o reconhecimento da falência estatal em sua política educacional/social. Aumentar a pena em nada vai resolver se o ser humano permanecer o mesmo. O crime, seja ele qual for, vai continuar a existir, pois ele é o efeito do problema e não a causa (que deveria ser tratada). O tratamento do pedófilo é clínico e não criminal. Este último só o é quando a sua patologia é exteriorizada, atestando que o tratamento clínico foi inexistente ou falho. Ademais, há de se informar, por fidelidade ao bom Direito, que dependendo do grau de pedofilia do sujeito, ainda que esta seja exteriorizada e tipificada como crime, poderá ele ficar sem cumprir pena. Caso o agente seja classificado como inimputável (art. 26 do CP) deverá ser aplicada a Medida de Segurança de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, pois os crimes tipificados na exteriorização da pedofilia (como veremos) são apenados com reclusão. Outro caso a ser ressaltado é o do semi-imputável que necessitar de tratamento curativo. Neste caso a pena do sujeito poderá ser reduzida ou ser substituída pela Medida de Segurança, descrita acima, pelo prazo mínimo de 1 a 3 anos até que seja superada a necessidade do tratamento, sendo, portanto, restabelecida a pena imposta caso, ainda, não tenha sido extinta. Vale esclarecer que estamos tratando acima de transferência e não de conversão, sendo que esta é irreversível enquanto aquela pode voltar ao status quo. A pedofilia na internet Com o conhecimento adquirido com a leitura dos dispositivos acima, podemos perceber que o pedófilo que exterioriza a sua doença não comete o crime de pedofilia como já dito anteriormente, pois este inexiste, mas sim aquele que tem tipificação penal positivada na lei ordinária (CP) ou especial (ECA). Obviamente que o presente esboço não tem a pretensão de esgotar o assunto ou tratá-lo de forma técnica, porém, o caráter informativo dele deve ser levado em consideração para que futuros debates acerca do tema ocorram, seja em qualquer esfera, de forma a possibilitar um maior e sólido discernimento sobre ele. Muitas são as discussões sobre o avanço da internet e os inegáveis benefícios gerados para a sociedade, porém, com esta revolução ocorreu simultaneamente muitos crimes virtuais, bem como também novas formas de práticas de delitos existentes. A aceleração tecnológica e da internet não torna possível o acompanhamento da legislação. Nossa legislação ainda é omissa em muitos casos, mas busca adequar-se para novas abordagens trazidas por essa tecnologia. A pedofilia na era digital e seus meios de controle buscam soluções para redução da prática dos atos hediondos. A legislação está se adequando às condutas ilícitas que advêm da internet, mas não abrange ainda por completo essas condutas. A alteração do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, por meio da Lei n.º 11.829/08, alcançou determinas lacunas antes existentes e conferiu modernidade ao texto do ECA. Em contrapartida, novos tipos penais foram criados exigindo dos seus infratores uma punição, que fazem uso das“brechas” legais para se eximir de suas responsabilidades. Ajusta-se a esse fim, através do ECA, por julgar certas condutas, praticadas por pedófilos, as simulações de pornografia infantil por meio de pseudo-imagens, como lesão real e direta aos diretos fundamentais da criança e do adolescente, seja aliciando-os para a prática de abusos e atos sexuais. Se faz necessário, em caráter de urgência, aprovação de uma norma que regulamente as responsabilidades dos provedores de internet de maneira que estabeleça uma forma de acesso da Polícia Judiciária aos dados cadastrais dos usuários. Questiona-se, no entanto, se a edição de uma legislação especial acerca da pedofilia seria mais eficaz para melhor repressão e punição dos atos cometidos pelos pedófilos, haja visto que a pedofilia está associada a um transtorno mental em que a pessoa se sente atraída sexualmente pela criança, não significando a execução de qualquer delito cabível de intervenção penal. Salienta-se que, caso o indivíduo atue impelido por seus desejos sexuais e pratique qualquer infração penal não será eximido de suas responsabilidades por possuir livre arbítrio e plena capacidade de entendimento. O fato de ser diagnosticado pedófilo não faz com que seja caracterizado inimputável. Nesse contexto, a nossa legislação mostra-se adequada expondo as condutas praticas por pessoas que abusam de crianças para satisfação de seus desejos em vários tipos penais, em agravo da lei específica, haja vista as possíveis repercussões na ordem social. A pedofilia é, sem dúvida, um dos grandes males da humanidade e não pode ser motivo para o cometimento de crimes pelo mero fato de ser uma doença. Dessa maneira, é tema preponderante o fato de o Direito acompanhar essa evolução para, com isso, ser instrumento de coação contra práticas delituosas cometidas através da internet. Para que serve a educação sexual na escola? Se por um lado somos diariamente bombardeados por referências sexuais em propagandas e conteúdos de entretenimento, por outro, falar abertamente sobre o assunto com os jovens ainda assusta pais e educadores. Apesar do tabu persistir, e para o desgosto de muitos adultos, esse é um tema que faz sim parte da vida dos jovens. Segundo a pesquisa Mosaico 2.0, de 2016, do Programa de Sexualidade, da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o laboratório Pfizer, os jovens brasileiros têm iniciado a vida sexual entre os 13 e 17 anos. Infelizmente, essa busca pela expressão da afetividade e por prazer nem sempre é amparada por uma Educação que aborde a sexualidade em seus aspectos biológicos, culturais e sociais, como recomendam os parâmetros curriculares de ciências do Ministério da Educação (MEC). O resultado disso é a continuidade de comportamentos de risco, como o não uso de proteção durante a relação sexual, por exemplo. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), em 2015, dos adolescentes do 9° ano do Ensino Fundamental sexualmente ativos, 33,8% disseram não ter usado camisinha na última relação sexual. Apesar disso, 7 em cada 10 afirmaram ter recebido informação a respeito na escola. Ou seja, apenas passar informação não é suficiente. Além disso, a falta de uma reflexão mais ampla sobre a sexualidade humana também favorece a persistência da intolerância e da violência, enfraquecendo o combate ao preconceito, ao abuso sexual infantil e à violência contra a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e contra a mulher - tópicos fundamentais para o Brasil, que ainda convive com índices alarmantes de crimes dessas naturezas. Avançar em um ensino de Educação sexual de maior qualidade nas escola é, portanto, literalmente caso de vida ou morte. Vários documentos nacionais e internacionais (veja no final do texto) dão suporte a uma Educação sexual que vá além da abordagem reprodutiva. A Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultura e Esporte (Unesco), de 2018, indica que o ensino deve servir para que os jovens desenvolvam conhecimento, habilidades e valores éticos para fazer escolhas saudáveis e respeitáveis sobre os relacionamentos, o sexo e a reprodução. O documento propõe a “educação sexual compreensiva”, cujo objetivo é nortear o processo de aprender e ensinar sobre os aspectos cognitivos, físicos, emocionais e sociais da sexualidade. O texto discute temáticas mais científicas, como fisiologia e anatomia sexual e reprodutiva, puberdade e menstruação, reprodução, métodos contraceptivos modernos, gravidez e partos, além das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Mas também trata de outras dimensões da sexualidade, como igualdade de gênero, amor, orientação sexual e identidade de gênero. Ou seja: tópicos antenados com as discussões contemporâneas e que podem afetar a saúde sexual e emocional dos jovens também aparecem como temas a serem discutidos pela escola - caso também de temas como cyberbullying e sexting (trocar mensagens de cunho sexual), por exemplo. O Brasil também tem documentos que apontam na direção de uma abordagem da sexualidade de modo mais amplo. Voltados ao Ensino Fundamental II, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Ciências, datados de 1998, já apontavam a necessidade de tratar a temática de maneira transversal, considerando que a sexualidade tem um significado muito mais amplo e variado do que simplesmente a reprodução. Entre as demais temáticas propostas pelo documento estão: levar em consideração o que os estudantes já sabem sobre sistemas reprodutores humanos masculino e feminino e os aspectos psicológicos envolvidos; abordar as emoções envolvidas na sexualidade, como os sentimentos de amor, amizade, confiança, autoestima, desejo e prazer sem julgamentos morais. Os PCNs são sugestões para as escolas, mas não explicitam objetivos de aprendizagem, tarefa da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Apesar da Base Nacional para o Ensino Fundamental apontar temas relacionados à Educação sexual, conceitos de gênero e orientação sexual foram suprimidos do documento, deixando de evidenciar uma dimensão importante do assunto. Entre as habilidades a serem desenvolvidas pelos adolescentes previstas pelo texto estão analisar as transformações da puberdade, discutir a eficácia dos métodos contraceptivos e a responsabilidade frente à gravidez precoce e as DSTs. O documento também propõe debater as evidências das “múltiplas dimensões da sexualidade humana (biológica, sociocultural, afetiva e ética)”. Já na BNCC referente ao Ensino Médio, ainda em discussão, a temática não aparece de maneira explícita, sendo que apenas a palavra “reprodução” aparece entre os assuntos importantes do eixo Vida, Terra e Cosmos. Termos como sexo, sexualidade, gênero, entre outros, não estão presentes no texto. Por fim, vale ressaltar que, apesar de o assunto ainda deixar a desejar em termos de legislação específica, uma Educação sexual ampla que abrace os aspectos biológicos, mas também sociais e políticos da afetividade e sexualidade humana, é essencial para colocar em prática as competências transversais da BNCC, que prevê a formação dos estudantes para agir com responsabilidade, tomar decisões com base em princípios éticos, cuidar emocionalmente de si e dos outros e acolher a diversidade sem preconceitos. Dados divulgados pelo Ministério Publico Entre 2011 e 2017, o Brasil teve um aumento de 83% nas notificações gerais de violências sexuais contra crianças e adolescentes, segundo boletim epidemiológicodivulgado pelo Ministério da Saúde na segunda-feira (25). No período foram notificados 184.524 casos de violência sexual, sendo 58.037 (31,5%) contra crianças e 83.068 (45,0%) contra adolescentes. A maioria das ocorrências, tanto com crianças quanto com adolescentes, ocorreu dentro de casa e os agressores são pessoas do convívio das vítimas, geralmente familiares. O estudo também mostra que a maioria das violências é praticada mais de uma vez. Para Itamar Gonçalves da ONG Childhood Brasil, que trabalha para promover o empenho de governos e sociedade civil em combater a violência sexual contra crianças e adolescentes, faltam no Brasil ações de prevenção que trabalhem com temas como o conhecimento do corpo, questões culturais de gênero e em especial as que dizem respeito aos padrões adotados de feminilidade e masculinidade. "Para mudar este cenário é importante criar ambientes que sejam acolhedores e inclusivos nos espaços frequentados pelas crianças e adolescentes, nas famílias, escola, igrejas... Um trabalho de prevenção se faz com informação, especialmente sobre o funcionamento do corpo, a construção da sexualidade, visando empoderar nossas crianças". Estupro O Ministério da Saúde considera violência sexual os casos de assédio, estupro, pornografia infantil e exploração sexual. Dentre as violências sofridas por crianças e adolescentes, o tipo mais notificado foi o estupro (62,0% em crianças e 70,4% em adolescentes). Pela lei brasileira o estupro é classificado como o ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Segundo o boletim do Ministério da Saúde, a ocorrência do estupro provoca diversas repercussões na saúde física, mental e sexual de crianças e adolescentes, além de aumentar a Vítimas do sexo feminino são a maioria entre as vítimas de violência sexual entre crianças e adolescentes — Foto: Roos Koole/ANP/Arquivo Os mais vulneráveis Dentre os números, chama atenção a vulnerabilidade dos mais jovens. Entre as crianças, o maior número de casos de violência sexual acontece com crianças entre 1 e 5 anos (51,2%). Já entre os adolescentes, com os jovens entre 10 e 14 anos (67,8%). Negros e mulheres são maioria entre as vítimas. Tanto entre adolescentes quanto crianças, as vítimas negras tiveram a maior parte das notificações (55,5% e 45,5%, respectivamente). Segundo o Ministério, o resultado pode apontar para vulnerabilidades destes grupos. Crianças e adolescentes do sexo feminino também são maioria entre as vítimas de violência sexual. Representam 74,2% dentre as crianças e um número ainda maior dentre as adolescentes: 92,4%. Apesar disso, os meninos também sofrem com a violência sexual. Entre as crianças, são eles quem mais sofrem abusos na escola (7,1%). Já entre os adolescentes, os meninos são mais explorados sexualmente e são a maioria das vítimas de pornografia infantil. O agressor O estudo mostra que os homens são os principais autores de violência sexual tanto contra crianças quanto com adolescentes. Nos casos envolvendo adolescentes, em 92,4% das notificações o agressor era do sexo masculino. Nos casos envolvendo crianças, em 81,6%. Segundo o boletim do Ministério da Saúde, é necessário problematizar a situação, já que a violência pode ser reflexo de uma cultura do machismo. "Considerando que esse maior envolvimento como perpetradores das violências sexuais contra estes grupos pode ser reflexo da afirmação de uma identidade masculina hegemônica, marcada pelo uso da força, provas de virilidade e exercício de poder sobre outros corpos. Dessa forma, é relevante a promoção de novas formas de masculinidades que superem esse padrão e permitam a manifestação de diversas identidades possíveis", diz a análise. Gonçalves também lembra que no Brasil o padrão de socialização dos meninos ainda se dá pela violência, onde é reforçado o uso da força. "Eles são culturalmente estimulados a dominar as meninas e mais tarde suas mulheres. Lembram da frases: 'Homem não chora', 'Predam suas cabras, meu cabrito está solto'... O papel do cuidado, da afetividade fica para as meninas", diz. Subnotificações Apesar do aumento de 83% das notificações de casos entre 2011 e 2017, o Ministério da Saúde ainda acredita que muitos casos não são notificados. Isso acontece porque o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), desenvolvido pelo próprio ministério, ainda não foi implementado em todo o país. Desde 2011, a notificação de violências passou a ser compulsória para todos os serviços de saúde públicos e privados. Em 2014, os casos de violência sexual passaram a ter que ser imediatamente notificados, devendo ser comunicados à Secretaria Municipal de Saúde em até 24 horas após o atendimento da vítima. Outra ação obrigatória é a comunicação de qualquer tipo de violência contra crianças e adolescentes ao Conselho Tutelar, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). As regiões do Brasil que registraram o maior volume de notificações no período foram as regiões Sudeste (40,4%) e Sul (21,7%), para as crianças, e Sudeste (32,1%) e Norte (21,9%) para os adolescentes. Meninos também sofrem com abusos sexuais. Eles são a maioria das vítimas que foram violentadas em escolas. — Foto: Garo/Phanie/AFP/Arquivo Como prevenir Mudar este cenário exige esforço de governos e sociedade civil. Gonçalves lembra ainda do papel da educação sexual nas escolas, que poderiam ensinar a diferença de toques, que os corpos das criança e adolescentes pertencem a eles e ninguém tem o direito de tocar sua partes privadas e explicar o que é abuso sexual. "O importante é desmitificar a ideia que falar de sexualidade é ensinar as crianças a ter relação sexual", explica ele. Pais também podem ficar atentos a alguns sinais, já que crianças e adolescentes avisam de diversas maneiras e, segundo Gonçalves, na maioria das vezes não falam das situações de violência sexual que vem passando. "Em geral, o abusador convence a criança de que ela será desacreditada se revelar algo; que ela gosta daquilo e quer que aconteça; ou que é igualmente responsável pelo abuso e será punida por isso." Como identificar uma vítima Childhood Brasil listou 10 sinais que ajudam a identificar possíveis casos de abuso sexual infanto-juvenil. Mudanças de comportamento: O primeiro sinal é uma possível mudança no padrão de comportamento da criança. Essa alteração costuma ocorrer de maneira imediata e inesperada. Em algumas situações a mudança de comportamento é em relação a uma pessoa ou a uma atividade em específico. Proximidades excessivas: A violência costuma ser praticada por pessoas da família ou próximas da família na maioria dos casos. O abusador muitas vezes manipula emocionalmente a criança, que não percebe estar sendo vítima e, com isso, costuma ganhar a confiança fazendo com que ela se cale. Comportamentos infantis repentinos: Se o jovem voltar a ter comportamentos infantis, os quais já abandonou anteriormente, é um indicativo de que algo esteja errado. Silêncio predominante: Para manter a vítima em silêncio, o abusador costuma fazer ameaças de violência física e mental, além de chantagens. É normal também que usem presentes, dinheiro ou outro tipo de material para construir uma boa relação com a vítima. É essencial explicar à criança que nenhum adulto ou criança mais velha deve manter segredos com ela que não possam ser compartilhados com pessoas de confiança, como o pai e a mãe, por exemplo. Mudanças de hábito súbitas: Uma criançavítima de violência, abuso ou exploração também apresenta alterações de hábito repentinas. O sono, falta de concentração, aparência descuidada, entre outros, são indicativos de que algo está errado. Comportamentos sexuais: Crianças que apresentam um interesse por questões sexuais ou que façam brincadeiras de cunho sexual e usam palavras ou desenhos que se referem às partes íntimas podem estar indicando uma situação de abuso. Traumatismos físicos: Os vestígios mais óbvios de violência sexual em menores de idade são questões físicas como marcas de agressão, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez. Essas são as principais manifestações que podem ser usadas como provas à Justiça. Enfermidades psicossomáticas: São problemas de saúde, sem aparente causa clínica, como dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e dificuldades digestivas, que na realidade têm fundo psicológico e emocional. Negligência: Muitas vezes, o abuso sexual vem acompanhado de outros tipos de maus tratos que a vítima sofre em casa, como a negligência. Uma criança que passa horas sem supervisão ou que não tem o apoio emocional da família estará em situação de maior vulnerabilidade. Frequência escolar: Observar queda injustificada na frequência escolar ou baixo rendimento causado por dificuldade de concentração e aprendizagem. Outro ponto a estar atento é a pouca participação em atividades escolares e a tendência de isolamento social. Relatório Out of the Shadows (2019) O relatório revela como 40 países, que cobrem 70% da população global com menos de 19 anos de idade, estão enfrentando o problema. Criado com orientação de um painel internacional de especialistas, o estudo abrange, por exemplo, casamento infantil, saúde reprodutiva e sexual, diferenças de gênero, aplicação da lei, assim como o abuso sexual infantil online que, com a expansão da internet, O relatório avalia o ambiente, em itens como a segurança; as leis de proteção às crianças; compromisso e capacidade dos governos; e o engajamento do setor privado, da sociedade civil e da mídia. Desta forma, a nota é composta por 34 indicadores e 132 subindicadores. Quanto maior a pontuação, maior a probabilidade de as crianças serem protegidas. Porém, o estudo não acredita que os melhores desempenhos estejam associados à riqueza ou população de um país, mas à pontuação no Índice de Democracia da Economist. Segundo o relatório, "o estigma e a falta de uma discussão aberta sobre o sexo, direitos das crianças e gênero" podem prejudicar a capacidade de um país de proteger suas crianças. Até por que, historicamente, os casos envolvendo menores são encobertos por omissões, tabus e pelo fato da maior parte dos abusos serem cometidos por pessoas próximas as vítimas. O estudo mostra que os dez países que ocupam o topo do ranking de combate ao abuso sexual infantil e exploração, estão entre os mais ricos do mundo. No entanto, apenas três deles — Reino Unido, Suécia e Canadá — receberam uma pontuação acima de 75 (em uma escala de 100 pontos). Ele explica que a política do governo do Reino Unido para proteger as crianças é particularmente bem desenvolvida, e o país tem um alto nível de envolvimento da indústria, da sociedade civil e da mídia. O ambiente geral da Suécia para crianças e sua estrutura legal são muito fortes, assim como no Canadá. Na outra ponta, os últimos colocados são Moçambique, Egito e o Paquistão, com apenas 28,3 pontos. Já o Brasil é o 11º melhor colocado, com 62,4 pontos, ficando abaixo da Austrália, Estados Unidos, Alemanha, Coreia do Sul, Itália, França e Japão. O país está acima da média do grupo, que é de 55,4 pontos. Entre os principais destaques, segundo o estudo, estão as leis de proteção as crianças, assim como o envolvimento do setor privado, da sociedade civil e da mídia. Por outro lado, as limitações brasileiras estão na falta de programas de prevenção para abusadores em potencial, assim como na coleta e divulgação de dados sobre violência sexual contra crianças. No entanto, esse último não é exclusividade do Brasil, já que apenas metade dos países analisados coletam dados de prevalência sobre abuso sexual infantil e apenas cinco coletam esses dados em exploração sexual infantil. Outro ponto destacado pelo relatório: meninos são negligenciados. Pouco mais da metade, ou seja, 21 dos 40 países não tem proteção legal para os meninos dentro de suas leis de estupro contra crianças. Além disso, apenas 18 coletam dados de prevalência sobre abuso sexual de meninos. O estudo orienta que as iniciativas para combater o abuso de crianças devem ter em conta diferenças de gênero, mas sem que isto deixe qualquer segmento esquecido. Nas últimas décadas, os riscos aumentaram consideravelmente com a expansão da banda larga e mobilidade das comunicações, tornando mais fácil para os infratores encontrar e atrair crianças. Mas, de acordo com o relatório, a nível global, as leis de proteção as crianças são bem desenvolvidas. "É proibida a prostituição de menores do gênero feminino em todos os países, com exceção de um, assim como a produção ou reprodução de imagens de atividades sexuais envolvendo menores. Mas lacunas notáveis permanecem na legislação para abusos sexuais: engajar-se em atividade sexual na frente de uma criança é proibido em 19 dos 40 países, enquanto leis que proíbem explicitamente o toque sexual em menores existem em pouco mais da metade dos países", revela o estudo. Ainda segundo o relatório, o abuso e exploração infantil tem sérias consequências emocionais e de saúde, por isso, é fundamental combater esse tipo de violência. Lembrando que discutir e implementar ações é perfeitamente possível mesmo quando os recursos são limitados. Pedofilia: 9 maneiras de proteger seu filho Confira as orientações de Daniela Pedroso, psicóloga do Hospital Pérola Byington: 1. Explique que o corpo da criança é só dela e que ninguém tem o direito de mexer nele. Deixe claro que, se qualquer algum adulto tentar fazer algo estranho com ela, você precisa saber. 2. O agressor, na maioria dos casos, é um conhecido. Se o seu filho reclamar que não gosta de alguém com quem vocês convivam, tente entender o motivo. “Muitas vezes, pode não ser uma fantasia”, diz Daniela. 3. Ainda que a maior parte dos casos seja praticada por pessoas conhecidas, é importante manter a orientação de que seu filho não deve falar com estranhos. 4. Uma das maneiras de aproximação dos agressores é a internet. Por isso, se o seu filho tem um perfil em alguma rede social ou usa serviços de troca de mensagens, não deixe os dados liberados para quem não é amigo e não coloque muitas fotos. 5. Converse com seu filho sobre o uso da internet. Se precisar, ative filtros de segurança no computador. 6. Fique sempre por perto quando seu filho estiver navegando e saiba quais são os sites que ele visita. Se for necessário, verifique o histórico com alguma frequência. 7. Fique atento ao comportamento de seu filho. Mudanças bruscas, apesar de não comprovarem que algo de errado está acontecendo, podem representar fortes indícios. Voltar a fazer xixi na cama, ter brincadeiras violentas com bonecas e medo de ficar sozinho com adultos, apresentar comportamento mais “sexualizado” e problemas na escola são alguns destes sinais. 8. Ensine seu filho a nomear as partes do corpo corretamente e diga quais delas não devem ser tocadas por outras pessoas. 9. Acredite no seu filho, se ele disser que está sendo vítima de abuso. Criar uma relação de confiança é fundamental. O papel do educadorsocial Cabe a nos educadores sociais ser multiplicadores de conhecimento. Seja nas escolas, em órgão públicos ou privados, mostrar que há leis, que não estamos desamparados, que o culpado é o agressor e não a vitima. Para auxiliar na divulgação deste assunto tão triste e importante, criei uma pagina no facebook (rede social utilizado por população mais carente e jovens) para divulgar noticias, estudos e mostrar que a vitima não esta sozinha, que há mais casos aqui no Brasil e no mundo e não podemos nos calar, nunca! A página é https://www.facebook.com/N%C3%83O-Podemos-NOS-CALAR- 100228204706772/?view_public_for=100228204706772 Denuncie! As denuncias devem ser feitas no Disque 100. De acordo com uma campanha divulgada na internet pela Fundação Abrinq, só em 2014, foram 24 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. Desse total, cerca de 19 mil foram de abuso e 5 mil de exploração sexual. Nem sempre é fácil tocar no assunto ou até mesmo admitir que acontece. A omissão facilita a vida do agressor e permite que os casos continuem acontecendo. Para estimular as pessoas a denunciarem os casos, há várias campanhas nas redes sociais. Organizações e grupos têm usado as hashtags #NãoFecheosOlhos, #FaçaBonito e #Disque100 ao fazer o alerta. Referencias bibliográficas citadas e consultadas http://www.conselhodacrianca.al.gov.br/sala-de- imprensa/publicacoes/ECA%20ATUALIZADO.pdf/view https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/maioria-dos-casos-de-violencia-sexual- contra-criancas-e-adolescentes-ocorre-em-casa-notificacao-aumentou-83.ghtml https://deniscaramigo.jusbrasil.com.br/artigos/406255800/vamos-falar-corretamente- sobre-pedofilia http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm https://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2019/01/brasil-e-o-11-no- ranking-de-abuso-e-exploracao-sexual-infantil-revela-relatorio-mundial.html https://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2016/05/pedofilia-9- maneiras-de-proteger-seu-filho.html