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MATERIAL DIDÁTICO PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 0800 283 8380 www.portalprominas .com.br 2 SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ............................ ..................................................... 3 UNIDADE 2 – PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ................ ...................................... 6 2.1 Definição e histórico de psicologia ................................................................... 6 2.2 Behaviorismo: contribuições essenciais ........................................................... 8 2.3 Psicanálise: contribuições essenciais ............................................................ 11 2.4 Psicologia da Educação ................................................................................. 15 UNIDADE 3 – O DESENVOLVIMENTO DO ESTUDANTE ........ ......................... 24 3.1 Concepção inatista X Concepção ambientalista ............................................ 26 3.2 Piaget e a aprendizagem................................................................................ 30 3.2.1 Conceitos principais .................................................................................... 30 3.2.2 Estágios de desenvolvimento cognitivo ....................................................... 32 3.2.3 Piaget e a aprendizagem ............................................................................. 40 3.3 Vygotsky e a aprendizagem ........................................................................... 41 3.4 Fases do desenvolvimento psicossexual de Freud e implicações na aprendizagem ....................................................................................................... 44 UNIDADE 4 – PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM ............ ............................... 52 4.1 Aprendizagem e psicologia da aprendizagem ................................................ 52 4.2 Processos psicológicos do estudante e a aprendizagem ............................... 54 4.3 Teorias da Aprendizagem: aprendizagem de crianças (Piaget e Vygotsky) X aprendizagem de adultos (Knowles): ................................................................... 59 4.4 Afetividade, autoestima, relações interpessoais e aprendizagem .................. 62 4.5 Dificuldades de aprendizagem ....................................................................... 70 4.6 Habilidades metalinguísticas .......................................................................... 71 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 73 3 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO Talvez possa parecer estranho numa apostila de Psicologia da Educação, ao invés de citarem-se as obras originais, você se deparar com o estudo de obras clássicas (tais como Freud, Piaget e Vygotsky) citados a partir de outras obras (também conceituadas, como renomados livros de Desenvolvimento humano ou Teorias da Personalidade). Isso não ocorreu devido à dificuldade em localizar o original, visto que são obras disponíveis em livrarias, para venda, em bibliotecas públicas e algumas delas ainda disponíveis no domínio público, na internet. A escolha desse tipo de consulta (fonte indireta) das obras de deu pelo seguinte critério: tempo de execução de material e limite de páginas. Como será possível observar a seguir, muitos temas serão abordados, alguns bastante densos, portanto, a leitura dos originais tornaria a compilação e redação ainda mais extensa. A pesquisa a partir de uma fonte indireta não é a opção mais recomendada, mas devido a esse caso foi a opção mais viável e, por se tratar de obras renomadas, de conteúdo fidedigno e já mais sucinto, o conteúdo se tornou mais apropriado para a redação da apostila. Também já justificamos o uso de algumas citações de citações (apuds), o que não é recomendado do ponto de vista da metodologia da pesquisa, porém, se fez necessário em algumas situações devido à dificuldade em se localizar algumas obras originais. Sugerimos que, na introdução, anotem as questões que mais despertaram sua curiosidade ou dúvidas e após o estudo da apostila revejam se as mesmas ficaram realmente claras. Enquanto orientadores, sempre orientamos a pesquisa de materiais recentes, porém, ao se utilizar obras clássicas (como nesses casos) isso não se faz possível – ainda mais em caso de livros que já possuem edições mais recentes, porém lançamos mão de cópias mais antigas. Fora isso, é sempre importante mantermos o conhecimento científico atualizado! Quando vamos estudar – ou nos aperfeiçoar – em determinada área de saber e surge uma disciplina um pouco diferente daquela de nossa formação sempre surge aquela pergunta: “Por que preciso saber isso?” No caso de vocês, profissionais da educação, essa pergunta já foi respondida durante a graduação. 4 Vocês já tiveram suas satisfações e críticas com a psicologia enquanto teoria e instrumento de aplicação prática em suas salas de aula. Nossa proposta aqui é tentar criar mais pontos de satisfação e diminuir as críticas destrutivas com essa disciplina tão próxima da educação. Tão próxima que nasceu de uma base comum com a educação e a pedagogia, que também são da área de humanas: somos irmãos, filhos de uma mesma filosofia: Normalmente os historiadores da Psicologia identificam suas primeiras raízes em duas abordagens diferentes para a compreensão da mente humana: • A Filosofia busca entender a natureza geral de muitos aspectos do mundo, parte por meio da introspecção, ou seja, o exame das ideias e experiências internas (intro = para dentro; spectione = olhar, inspecionar). • A Fisiologia busca um estudo científico das funções vitais dos organismos vivos, basicamente por meio dos métodos empíricos (baseados na observação) (STEINBERG, 2010, p.3). Convidamos vocês a partirem para esse mundo da observação – que descende da nossa herança fisiológica – e conhecer mais nosso aluno e como ele aprende. A temática “Psicologia da Educação” é muito ampla, sendo necessária, para a confecção do material, uma seleção criteriosa de temas, teorias e materiais que servissem de subsídio teórico para que o profissional da educação possa fazer uma observação criteriosa de sua prática em busca de aprimorá-la, detectar pontos de melhoria, visar a melhoria das relações interpessoais, encaminhar o aluno para acompanhamento profissional, quando necessário. Inicialmente, pretende-se conceituar a psicologia e apresentar o Behaviorismo e a Psicanálise, sempre articulando as escolas psicológicas com a educação. Em seguida, nessa mesma seção, visa-se apresentar os conceitos de psicologia educacional e escolar, assim como diferenciar a práxis do psicólogo educacional como oferecer subsídios teóricos da psicologia para a equipe multiprofissional que atua na escola. Na outra seção, inicia-se falando sobre o processo de desenvolvimento do estudante, enfatizando-se as concepções inatistas e ambientalistas. As teorias de Freud e Piaget sobre o desenvolvimento serão exploradas. Na última parte do trabalho, falaremos das teorias da aprendizagem de Piaget, Vygotsky, Freud e Knowles, visando diferenciar os processos de 5 aprendizagem da criança e do adulto. Aspectos cognitivos, afetivos e relacionais serão apresentados como facilitadores ou dificultadores do processo de aprendizagem. Os principais materiais pesquisados para a confecção dessa apostila foram Gazzaninga e Heatherton (2005), Papalia, Olds e Feldman (2006), Cole e Cole (2005), Coll, Marchesi e Palacios (2004), Cassins et al. (2007), Hall; Lindzey(1984), Schultz, Schultz (1992), dentre outros. Bons estudos! 6 UNIDADE 2 – PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 2.1 Definição e histórico de psicologia Neste momento não iremos aprofundar no estudo do histórico da psicologia, visto que isto fugiriado escopo desta apostila, apenas citaremos alguns autores, escolas e linhas de pensamento que foram significativas no contexto histórico e que, ainda hoje, são relevantes no contexto da psicologia educacional. Os teóricos e teorias citados nessa seção serão devidamente aprofundados em momentos oportunos nesse mesmo material. Recuperar a história da psicologia se faz necessário, visto que somente dessa forma compreenderemos sua diversidade hoje e sua relação com áreas do conhecimento como antropologia, sociologia, educação, filosofia, dentre outras (MAIA, 2008, p.14). A palavra “Psicologia” remete ao grego psyché, que significa “alma”, e logos, que significa “razão”. Assim, inicialmente compreende-se psicologia como o estudo da alma (MAIA, 2008). Schultz e Schultz (1992) elucidam que para a sua efetivação enquanto ciência e profissão – tal como se estabeleceu nos dias de hoje – a psicologia sofreu influência da fisiologia e da filosofia. “Sabe-se que a psicologia se desenvolveu no fim do século XIX como fruto da filosofia e da fisiologia experimental” (HALL, LINDZEY, 1984, p.3). Descartes (1596-1650) inaugurou a psicologia moderna ao sugerir que a mente influencia o corpo, ao mesmo tempo em que o corpo pode exercer sobre a mente uma influência maior do que até então se supunha, o que é um grande avanço, pois, desde as ideias de filósofos clássicos, como Platão, acreditava-se que a mente (ou alma) e o corpo possuíam naturezas diferentes. Observa-se que aqui já não se fala mais em alma, como na definição clássica de psicologia, mas em mente (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992). A ideia mais radical de Descartes foi sugerir que, embora a mente conseguisse afetar o corpo, o corpo também conseguia afetar a mente. Por exemplo, ele acreditava que paixões, como amor, ódio, tristeza, surgiam do corpo e influenciavam os estados mentais, embora o corpo agisse sobre essas paixões por meio de seus mecanismos. Dessa maneira, Descartes aproximou mente e corpo ao focalizar suas interações (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p.48). 7 Maia (2008) ressalta que a psicologia começou a se fazer presente no final do século XIX, na Alemanha. Dentre os estudiosos alemães, podemos destacar Wundt, Weber e Fechner. Wundt (1832-1920) merece destaque, reconhecido como o fundador da psicologia experimental enquanto disciplina acadêmica. Antes dos seus estudos não acreditava-se que os fenômenos psicológicos podiam ser estudados experimentalmente, apenas que esses podiam ser descritos e discutidos (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005). “A psicologia de Wundt recorreu aos métodos experimentais das ciências naturais, particularmente às técnicas usadas pelos fisiologistas [...]. O objeto de estudo de Wundt era, em uma palavra, a consciência” (SHULTZ; SCHULTZ, 1992, p.81). Os estudos sobre a psicologia não se restringiram à Alemanha, logo a corrente se espalhou pelos Estados Unidos, de onde podem se destacar os estudos de Titchner (1867-1927), que ampliou a corrente de Wundt e a denominou de Estruturalismo (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005; MAIA, 2008). James (1842-1910), também dessa corrente fora da Alemanha, criticou o Estruturalismo e criou a o Funcionalismo, outra corrente psicológica que também só será citada (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005; MAIA, 2008). A partir dessas correntes psicológicas surgiram várias outras linhas, muitas das quais de vital importância para a psicologia enquanto ciência e profissão até os dias de hoje. Entende-se que a psicologia pode ser aplicada diretamente pelo profissional da psicologia em diferentes contextos, como, por exemplo, clínico, educacional, hospitalar, jurídico, dentre outros, ao mesmo tempo que pode servir de subsídio para o entendimento do funcionamento psíquico do ser humano. Por isso, a psicologia é uma disciplina que serve como base para a formação de outros profissionais que também lidam com seres humanos – sejam das áreas da saúde, educação ou humanas, por exemplo – e carregam, desde os seus primórdios, as bases na filosofia e na fisiologia – assim como a psicologia – como pudemos observar nesse breve histórico. No decorrer do contexto histórico da psicologia, a partir desse momento histórico em que definimos até aqui, surgiram duas escolas psicológicas que são de interesse para o profissional da educação: o behaviorismo (ou comportamentalismo); e a psicanálise. Falaremos brevemente das mesmas agora 8 ao enquadrar as mesmas dentro de um contexto histórico e, logo a seguir, traremos a contribuições necessárias dessas escolas para a Educação. “Behaviorismo - Nasceu nos Estados Unidos, com Watson, elevando o status de ciência à psicologia. Seu principal representante é Skinner” (MAIA, 2008, p.16). Seu fundador foi Watson (1878-1958), mas teve também outro nome de grande importância, Skinner (1904-1990). O behaviorismo ou comportamentalismo enfatiza o papel do ambiente no comportamento (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992; GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005). “Psicanálise – Nasceu com Freud, na Áustria, a partir da sua prática médica. Postula o inconsciente como objeto de estudo. Enfatiza que determinados impulsos instintivos seriam de origem sexual” (MAIA, 2008, p.16). Segundo Freud (1856-1939), criador da psicanálise: “Todas as criações humanas, sem exceção – os esportes, as artes, a ciências, entre outras, estão ancoradas num desejo sexual indestrutível que constitui o núcleo do inconsciente” (JORGE; FERREIRA, 2002, p.7-8). 2.2 Behaviorismo: contribuições essenciais O behaviorismo ou comportamentalismo preconiza uma abordagem mais científica da psicologia e, em linhas gerais, enfatiza o papel das forças ambientais no comportamento humano. Os primeiros estudos dos behavioristas (comportamentalistas) aconteceram em laboratórios de psicologia, com animais. (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005). Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), nessa abordagem, o indivíduo mostra-se passivo perante seu desenvolvimento, já que o ambiente desempenha um papel principal, ou seja, as pessoas são reativas e o ambiente controla o comportamento. Dentre os teóricos behavioristas, merece destaque Skinner, que desenvolveu muitos estudos com animais em laboratórios de psicologia para investigar o comportamento destes. Ele desenvolveu a caixa de Skinner, local onde desenvolveu técnicas de reforço e condicionamento em ratos, as quais podiam ser adequadas posteriormente para serem aplicadas em pessoas, como técnicas de aprendizagem (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005; MAIA, 2008). 9 Segundo Maia (2008), Skinner carrega consigo a visão de que o indivíduo é uma tábula rasa e que precisará do meio para ser preenchido e moldado. Essa visão será aprofundada a seguir com a visão ambientalista. Assim, no que diz respeito à aprendizagem, para Skinner, a aprendizagem ocorre através da influência dos estímulos do meio, por isso o autor defende que os estímulos precisam ser condicionados (MAIA, 2008). Para o behaviorismo há dois tipos de comportamento que merecem destaque para nós: o respondente e o operante. Segundo Schultz e Schultz (1992), no comportamento respondente “a resposta comportamental é suscitada por um estímulo observável específico” (p.281), enquanto que no condicionamento operante “a resposta do organismo é aparentemente espontânea – no sentido de não estar relacionada com nenhum estímulo observável” (p.281). Segundo Maia (2008), relacionam-se ao comportamento respondente (reflexo) as interações estímulo-resposta entre ambiente-sujeito incondicionadas, ou seja, aqueles comportamentos provocados por estímulos antecedentes ao ambiente (exemplo: arreio de frio). Por outro lado, o comportamento operante é intencional, são aqueles relacionados diariamente de forma desejada (exemplo: ler um livro). Papalia, Olds e Feldman (2006) sintetizam a definição de comportamento operante ao afirmar que nesse tipo deaprendizagem a pessoa repete o comportamento que foi reforçado e cessa o comportamento que foi punido. “Outra diferença entre o comportamento respondente e o operante é que o comportamento operante opera no organismo, ao passo que o respondente não o faz” (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, p.281). Entende-se como reforço qualquer estímulo que possibilite o aumento da probabilidade de resposta, podendo os reforços ser positivos ou negativos. (MAIA, 2008). Os reforços são mais eficazes quando seguem um comportamento imediatamente. O reforço positivo consiste em dar uma recompensa, como comida, troféu, dinheiro, elogio – ou brincar com um bebê. O reforço negativo consiste em tirar alguma coisa que o indivíduo não gosta (conhecido como evento aversivo), como, por exemplo, um ruído intenso (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.73). 10 Importante não confundir os conceitos de reforço negativo e punição. Enquanto o reforço negativo consiste em retirar do indivíduo algo que ele não goste (o que faça com que ele se sinta beneficiado com isso), a punição é definida como um estímulo experimentado após um comportamento (bater numa criança ou aplicar um choque elétrico num animal) ou retirar um evento positivo (não permitir assistir televisão ou ir ao recreio). Skinner e seus seguidores fizeram muitas pesquisas sobre problemas de aprendizagem, tais como o papel da punição na aquisição de respostas, o efeito de diferentes problemas de reforços, a extinção da resposta operante, o reforço secundário e a generalização. [...] No caso dos seres humanos, o comportamento operante envolve a resolução de problemas, reforçada pela aprovação verbal ou pelo conhecimento de ter dado a resposta correta (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, p.281). O comportamento verbal é, segundo Skinner, a única área em que há diferenças no condicionamento entre o homem e o rato. O comportamento verbal exige a interação de duas pessoas: um falante e um ouvinte. No caso da criança que está aprendendo as primeiras palavras, o adulto – o ouvinte – pode, através do seu comportamento, reforçar, não reforçar ou punir a criança pelo que disse ou não disse, assim controlando seu comportamento subsequente. “Para Skinner, a fala é comportamento, estando, pois, sujeita, como qualquer outro comportamento, sujeita a contingências de reforço, de previsão e de controle” (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, p.284). Maia (2008) aponta práticas comportamentalistas muito presentes no dia a dia do educador como, por exemplo, reforços positivos que visam à manutenção de comportamentos, como estrelinhas no caderno, prêmios após o término das atividades, correção com “muito bem”, dentre outras mensagens motivadoras. Sendo assim, na perspectiva skinnerianna, o ensino na escola se processará através da relação estímulo-resposta, sendo o professor o responsável pelo estabelecimento de reforços positivos e negativos a fim de se estabelecerem comportamentos desejados (MAIA, 2008, p.33). Em síntese, a abordagem comportamental na educação é positiva pelos fatores elucidados na citação abaixo, porém recebe críticas por parecer excessivamente artificial, visto que em alguns momentos, o professor pode parecer um verdadeiro manipulador de comportamentos ao invés de educador. 11 [...] trabalha com modificações de comportamento, utilizando-se de técnicas próprias. É especialmente utilizada quando é necessário clarificar e estabelecer limites, extinguir comportamentos inadequados ou para desenvolver comportamentos novos. Geralmente suas técnicas, de forte impacto, são utilizadas juntamente com outras abordagens complementares. O Behaviorismo salienta a importância do planejamento da ação pedagógica de forma a fazer com que a aprendizagem do aluno gere consequências naturalmente reforçadoras (positivas) ao aprender. (CASSINS et al., 2007, p.28) 2.3 Psicanálise: contribuições essenciais Como a psicanálise será um dos referenciais teóricos mais abordados nesta apostila, nesta seção, enfocaremos alguns dos conceitos principais da teoria psicanalítica que possuem aplicabilidade na educação. Em outras seções desse material, iremos abordar o desenvolvimento psicossexual proposto por Freud, além de considerações do mesmo acerca da inteligência e afetividade. Breve trajetória de Freud Freud (1856-1939) foi um grande pensador e uma personalidade que muito influenciou a psicologia do século XX – mesmo que sua psicanálise seja alvo de crítica de muitas linhas de abordagem da atualidade. Em linhas gerais, pelo método da psicanálise, ele buscava trazer os conteúdos do inconsciente para o consciente para assim trabalhar os conflitos de forma construtiva (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005; JORGE; FERREIRA, 2002; SCHULTZ; SCHULTZ, 1992; HALL, LINDZEY, 1984). Estudou medicina, porém também estudou biologia (zoologia e fisiologia) em Viena. Após formado e desinteressado da clínica médica foi começar sua carreira em neurologia clínica junto com pacientes que apresentavam sintomas de paralisia em várias partes do corpo e observou que o tratamento dispensado a essas pacientes no momento era a hipnose. Dando continuidade aos seus estudos em Paris, ouviu de Charcot – o médico que seria o seu tutor, a explicação de que a denominação para esses males neurológicos sem causa definida que acometia as mulheres era histeria e que a causa dos mesmos era sexual. A partir de então, Freud resolveu aprofundar nesses estudos. (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005; SCHULTZ; SCHULTZ, 1992). 12 Freud deduziu que grande parte do comportamento humano é determinada por processos mentais que operam abaixo do nível do conhecimento consciente, no nível do inconsciente. Freud acreditava que as forças mentais inconscientes muitas vezes entravam em conflito, o que produzia desconforto psicológico e, em alguns casos inclusive, alguns transtornos mentais aparentes (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p.53). No decorrer de sua prática, Freud foi ficando insatisfeito com a hipnose e, ao invés de sugestionar a paciente a um estado alterado de consciência, adotou como técnica a associação livre: “o analisando é convidado a falar tudo o que lhe passa na cabeça, sem exercer o crivo da censura” (JORGE; FERREIRA, 2002, p.21). Ele observava que com a hipnose, muitos sintomas podiam ser aliviados ou eliminados, porém não eram curados, além do que, nem todos os pacientes se mostravam em condições de ser hipnotizáveis. Na associação livre, o paciente era convidado a se deitar no divã e falar livremente, sem se preocupar em estabelecer um nexo em suas ideias. O objetivo da psicanálise freudiana é trazer à percepção consciente lembranças ou pensamentos reprimidos, que ele supunha ser a fonte do comportamento anormal do paciente. [...] Mediante a livre associação, Freud descobriu que as lembranças do paciente iam invariavelmente à infância, e que muitas das experiências reprimidas de que o paciente se recordava tinham relação com questões sexuais (SCHULTZ; SCHULTZ, 1992, p.335). Inicialmente, Freud acreditava que todas as pacientes histéricas haviam sido realmente vítimas de algum tipo de situação traumática relacionada à sexualidade na infância, porém, com o avanço de seus estudos sobre a teoria psicanalítica, ele reviu este ponto e concluiu que em muitos casos o ponto chave para as neuroses eram fantasias de traumas sexuais infantis, e não traumas propriamente ditos (SCHULTZ, SHULTZ, 1992). A obra de Freud é muito extensa, aqui apenas iremos ressaltar o que pode ser de interesse para o estudo da psicologia escolar. Além dos estudos com as pacientes histéricas, que foram brevemente ilustrados aqui, Freud, no decorrer de sua carreira, estudou “Interpretação dos Sonhos”, o desenvolvimento psicossexual infantil (que será detalhado em outra seção), textos sobre a técnica psicanalítica, “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” “Mal estar na cultura”,dentre outros temas que estão catalogados em sua “Coleção Standard das Obras 13 Completas de Sigmund Freud”. Morreu em 23 de Setembro de 1939, em consequência de um câncer de boca (JORGE; FERREIRA, 2002). Conceitos principais Desde o início, ressaltamos a importância que o inconsciente possui para a teoria psicanalítica, porém, Freud não fez menção a apenas essa estrutura. Na primeira tópica da personalidade, Freud propôs o modelo topográfico da mente, em que comparou a mente com um iceberg: Figura 1: Modelo topográfico da mente Fonte: EXPANDIR A MENTE (2009) . Em síntese, pode-se compreender sobre cada uma dessas instâncias que compõem a primeira tópica do aparelho psíquico (LAPLANCHE; PONTALIS, 1988; FADIMAN; FRAGER, 2002): 14 • Consciente – contém pensamentos dos quais as pessoas estão cientes. Recebe informações do mundo exterior e interior (percepção, atenção, raciocínio – processos cognitivos); • pré-consciente – zona intermediária que abriga conteúdos que não estão corretamente no consciente, mas podem ser trazidos à consciência com um certo esforço; • inconsciente – parte maior, mais importante e mais profunda do iceberg. O inconsciente contém desejos e motivos que estão associados a conflitos, ansiedade, sofrimento e o mecanismo de recalque (ou repressão) os deixam inacessíveis, protegendo a pessoa da angústia. Os conteúdos inconscientes são impossíveis de serem lembrados de forma voluntária. Formas de se acessar o inconsciente: sonhos, chistes, atos falhos (chistes e atos falhos são lapsos da linguagem), associação livre, sintoma (como foi visto na histeria). O mecanismo de recalque (ou repressão) é compreendido como um mecanismo de defesa do ego, opera inconscientemente, de modo que a pessoa não tem consciência do que está acontecendo. Ao reprimir (recalcar) um conteúdo, a pessoa está enviando para o inconsciente algum tipo de conteúdo que causa dor, sofrimento, vergonha, repulsa ou medo muito grandes a ela, de forma que o sofrimento de ligar com esses sentimentos iriam trazer prejuízos muito grandes ao seu ego. Hall e Lindzey (1984, p.39) ilustram sobre o processo de reclaque (repressão): As repressões, uma vez formadas, são difíceis de desfazer. A pessoa procura assegurar-se de que o perigo não existe mais, o que só consegue quando a repressão é suspensa e a realidade pode ser encarada de frente. É como um círculo vicioso. Essa é a razão por que o adulto conserva medos infantis. Nunca tem a possibilidade de descobrir que esses medos têm base na realidade. Para Freud, a personalidade é composta por três sistemas: id, ego e superego. Segundo Hall e Lindzey (1984): • o id é formado pelos aspectos psicológicos inatos, herdados, inclusive os instintos. Funciona de forma a descarregar a tensão interna do organismo e ocasionar prazer – o que ele denominou princípio do prazer; 15 • o ego seleciona a quais aspectos do meio reagirá, além de decidir quais instintos devem ser satisfeitos e de que modo. “A diferença básica entre o id e o ego reside em que o primeiro conhece somente a realidade subjetiva da mente, enquanto que o segundo faz a distinção entre as coisas da mente e as do mundo exterior” (HALL; LINDZEY, 1984, p.27); • o superego é o representante interno dos valores da sociedade, os quais são transmitidos pelos pais e reforçados pelos castigos e recompensas que foram impostos à criança “De modo geral, podemos considerar o id como o componente biológico da personalidade, o ego como o componente psicológico e o superego como o componente social” (HALL; LINDZEY, 1984, p.28). A partir desses conceitos da teoria psicanalítica Cassins et al. (2007) argumentam que esta é uma base teórica de aplicabilidade no meio educacional, pois: O sujeito, que é um ser singular, único e dotado de um psiquismo regido por uma lógica específica, é também um indivíduo que participa das relações interpessoais e ocupa um lugar, estabelecendo laços com o contexto social no qual está incluído. Sendo assim, a Psicanálise está muito atenta para a relação que se constrói entre professor e aluno, que é o que estabelece as condições para o aprender, com vistas à transmissão e apreensão do conhecimento. Cabe ao educador, na atividade educativa, a responsabilidade por construir e transmitir o mundo da convivência humana em que seu aluno está ou estará inserido. Esta é a tarefa daquele que quer educar, humanizar o mundo dos seres humanos e, de alguma maneira, implicar os sujeitos que o habitam (CASSINS et al., 2007, p.29) 2.4 Psicologia da Educação Psicologia da Educação e Psicologia Escolar A existência da psicologia da educação como uma área conhecimento e de saberes teóricos e práticos claramente identificável, relacionado com outros ramos e outras especialidades da psicologia e das ciências da educação, mas, ao mesmo tempo, distintos delas, tem sua crença racional na convicção profunda de que a educação e o ensino podem melhorar sensivelmente com a utilização adequada dos conhecimentos psicológicos. Tal convicção, que tem suas raízes nos grandes sistemas de pensamento e nas teorias filosóficas anteriores ao surgimento da psicologia científica, foi objeto de múltiplas interpretações (COLL, 2004, p.21). O conceito de Psicologia Escolar/Educacional engloba os conceitos de psicologia na escola e da educação. Dentre as variações, sobre as reais 16 atribuições relacionadas à Psicologia Escolar e à Psicologia Educacional, compreende-se que a psicologia escolar possui uma aplicação mais voltada à prática, enquanto que a psicologia educacional é mais voltada à área acadêmica, à pesquisa. Entretanto, vale a pena destacar que ambas se complementam, portanto essa dicotomia é uma mera distinção acadêmica, conceitual (CASSINS et al., 2007). Dando prosseguimento a essa discussão, Coll (2004) enfatiza que diversos autores propõem diferentes conceituações para a psicologia da educação, entretanto, todas essas definições levam em consideração a importância dos componentes psicológicos para se explicar e compreender os fenômenos educacionais. Ao longo do percurso histórico da psicologia da educação observam-se duas vertentes distintas: a psicologia da educação entendida como um âmbito de aplicação da psicologia e a psicologia da educação entendida como uma disciplina-ponte entre a psicologia e a educação. Na atualidade, percebe-se que a psicologia da educação tende para essa segunda vertente, a qual será explorada nessa seção. Em linhas gerais, o objetivo da Psicologia Educacional/Escolar é auxiliar o desenvolvimento global do estudante através de um trabalho em equipe multiprofissional com diretores, professores, orientadores, pais e supervisores. Seu trabalho visa à prevenção, avaliação, orientação psicológica e acompanhamento, aplicados preferencialmente no contexto institucional, em detrimento do atendimento individual, que só é realizado nos casos onde há realmente essa necessidade (CASSINS et al., 2007). A Psicologia Escolar tem como referência conhecimentos científicos sobre desenvolvimento emocional, cognitivo e social, utilizando-os para compreender os processos e estilos de aprendizagem e direcionar a equipe educativa na busca de um constante aperfeiçoamento do processo ensino/aprendizagem. Sua participação na equipe multidisciplinar é fundamental para respaldá-la com conhecimentos e experiências científicas atualizadas na tomada de decisões de base, como a distribuição apropriada de conteúdos programáticos (de acordo com as fases de desenvolvimento humano), seleção de estratégias de manejo de turma, apoio ao professor no trabalho com a heterogeneidade presente na sala de aula, desenvolvimento de técnicas inclusivas para alunos com dificuldades de aprendizagem e/ou comportamentais, programas de desenvolvimento de habilidades sociais e outras questões relevantes no dia-a-diada sala de aula, nas quais os fatores psicológicos tenham papel preponderante. (CASSINS et al., 2007, p.17) 17 Coll (2004) aprofunda um pouco mais nessa discussão ao elucidar os objetivos da psicologia da educação como disciplina-ponte entre a psicologia e a educação, tal como foi mostrado anteriormente. Os objetivos são estudar os processos de mudanças psicológicas que ocorrem nas pessoas em decorrência de sua participação em atividades educativas. Subentendem-se como processos de mudanças a aprendizagem, o desenvolvimento e a socialização (todos esses fatores serão abordados ao longo desta apostila), sendo importante destacar que a psicologia da educação se interessa pela natureza, as teorias e os aspectos implicados entre esses processos. Compreende-se aqui a importância da abordagem multidisciplinar dos fenômenos educacionais, os quais precisam ser abordados como um todo. Dentre as finalidades da psicologia escolar podem-se destacar (CASSINS et al., 2007, p.23-24): • Incentivar os educadores (incluídos os próprios psicólogos) para tomada de posições políticas em relação aos problemas sociais que afligem a todos; • Estimular a escolha deliberada e conscientemente assumida de uma atuação profissional sustentada por teorias psicológicas, cuja visão contemple o homem em suas múltiplas determinações e relações histórico-sociais; • Assessorar a escola no desenvolvimento de uma concepção de educação, na compreensão e amplitude de seu papel, em seus limites e possibilidades, utilizando os conhecimentos da Psicologia; • Desenvolver uma concepção de Psicologia voltada a um compromisso social; • Propor uma concepção do fracasso escolar não como um processo individual; • Mediar os processos de reflexão sobre as ações educativas a partir da atuação com os diversos profissionais da educação; • Propor e apoiar a construção de novas alternativas sociais para auxiliar na administração de possíveis deficiências escolares; • Compreender e elucidar os processos de desenvolvimento biopsicossocial dos envolvidos com a escola; • Compreender e elucidar os processos diferenciados de desenvolvimento da aprendizagem (aprender a aprender) de cada aluno e de cada professor; • Compreender e clarificar a construção da subjetividade (construção do Eu) em cada ambiente educacional; • Assessorar a escola na busca da humanização do sujeito, através do encontro da cognição com a motricidade, os afetos e as emoções na educação; • Cultivar o enfoque preventivo: trabalhar as relações interpessoais na escola, visando à reflexão e conscientização de funções, papéis e responsabilidades dos envolvidos; • Buscar ser o mediador do processo reflexivo e não o solucionador de problemas; 18 • Conscientizar o indivíduo da importância de sua participação e responsabilidade nos grupos em que está inserido, como a família, a escola, o trabalho e a sociedade. Antes de elucidarmos o papel específico do psicólogo escolar, convém esclarecer que a psicologia educacional é uma atividade que só pode ser desempenhada pelo psicólogo – profissional graduado em psicologia e devidamente inscrito no Conselho Regional de Psicologia da sua localidade. Porém, a psicologia escolar é uma área de interesse dos profissionais da área da educação – como o pedagogo, o profissional graduado em normal superior, os licenciados em diferentes áreas – pois serve de subsídio para o entendimento de processos cognitivos, afetivos, psicossociais e relacionais envolvidos ao ensino- aprendizagem. Como será exposto na seção a seguir, algumas atividades são privativas do psicólogo, como, por exemplo, a aplicação de testes, inventários e avaliações psicológicas. Outras atividades são compartilhadas pelos profissionais que atuam na escola visando o bem-estar da comunidade escolar em geral. O psicólogo escolar A psicologia escolar busca um trabalho em parceria com a coordenação da escola, professores, familiares e demais profissionais da educação que acompanham o aluno dentro e fora do ambiente escolar. Para a realização deste trabalho, o psicólogo desenvolve atividades preventivas ou direcionadas a indivíduos/grupos que já possuem problemas instalados de alunos, professores e funcionários. Suas estratégias de atuação visam, de maneira geral, contribuir para o desenvolvimento cognitivo, humano e psicossocial de toda a comunidade escolar (CASSINS et al., 2007). O trabalho do psicólogo escolar/educacional tem como diretriz o desenvolvimento do viver em cidadania. Busca instrumentos para apoiar o progresso acadêmico adequado do aluno, respeitando diferenças individuais. É pautado na promoção da saúde da comunidade escolar a partir de trabalhos preventivos que visem um processo de transformação pessoal e social. Para tanto, baseia-se nos conhecimentos referentes aos estágios de desenvolvimento humano, estilos de aprendizagem, aptidões e interesses individuais e a conscientização de papéis sociais (CASSINS et al., 2007, p.23) Percebe-se, a partir da descrição de tarefas a serem desempenhadas pelo psicólogo escolar, que o trabalho desse profissional precisa ser realizado em 19 equipe, juntamente com os demais profissionais da escola (professor, diretor, coordenador pedagógico, supervisor, dentre outros) e fora da escola, quando for o caso (médico, psicólogo, fonoaudiólogo, assistente social, dentre outros). Juntos, esses profissionais atuarão compondo uma equipe multidisciplinar, que pode ser compreendida como especialistas que podem interagir entre si no trabalho de reabilitação ou educação de pessoas com deficiências. Esses profissionais procuram uma interseção de conhecimentos de suas especialidades para uma ação terapêutica, clínica ou educativa unificada (ANDRADE, 1999). Convém ressaltar que o autor em questão aborda somente a questão da deficiência, mas as equipes multidisciplinares não visam apenas a esse público-alvo, mas a todas as pessoas, independente de suas condições gerais. Além das escolas, os psicólogos escolares/educacionais encontram campo de atuação em ouras instituições, tais como clínicas especializadas, consultorias a órgãos governamentais, clínicas de acessória com projetos para escolas, serviços públicos de saúde e educação, ONGs, projetos de extensão universitária, onde se visa promover a educação no trabalho e pelo trabalho (CASSINS et al., 2007). Martinez (2009) acrescenta que, além desses espaços já mencionados, também podem ser considerados locais para a prática do psicólogo educacional e escolar as casas abrigos, as penitenciárias, as universidades coorporativas, dentre outros espaços diversificados. Cassins et al. (2007, p.24) elucidam algumas atividades desempenhadas pelo psicólogo escolar, as quais são: • assessorar a escola na construção do Projeto Político-Pedagógico; • apoiar a escola em seu trabalho de resgate do valor e da autonomia do professor; • assessorar o professor na articulação entre a teoria de aprendizagem adotada e a prática pedagógica; • trabalhar com políticas públicas; • conscientizar pais e professores sobre necessidades básicas de crianças e adolescentes; • mobilizar a comunidade educacional em torno de propostas de intervenção com utilização de recursos da comunidade; • pesquisar, desenvolver, aplicar e divulgar os conhecimentos relacionados com Psicologia Escolar/Educacional. Frente a essas tarefas possíveis de ser executadas no contexto educacional, Martinez (2009) divide a atuação do psicólogo educacional/escolar 20 em dois grandes grupos de atividades: as formas de atuação tradicionais e as formas de atuação emergentes. Essas duas formas de atuação serão descritas a seguir. Compreendem-se por formas de atuação tradicionais aquelas associadas à dimensão psicoeducativa, como, por exemplo, problemas de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, os quais encontram na atuação do profissionalda psicologia uma possível resolução e resposta. Dentre as possíveis formas de atuação, podemos destacar (MARTINEZ, 2009): Tabela 01: Formas de atuação tradicional do psicólo go escolar / educacional Forma de atuação tradicional Descrição da atividade Avaliação, diagnóstico e encaminhamento de alunos com dificuldades de aprendizagem • Mudança de uma situação onde um avaliador externo aplicava testes padronizados e rotuladores para uma nova realidade, onde o aluno é avaliado em seu próprio contexto de aprendizagem, visando compreender as reais causas das dificuldades de aprendizagem. • As condições de avaliações tornam-se mais naturais para a criança. • Impera o trabalho em equipe, onde o professor tem um importante papel. • O psicólogo escolar só encaminha o aluno com dificuldades de aprendizagem para acompanhamento com profissionais externos à escola como última alternativa de ajuda, visto que essa atitude pode ser segregatória e reforçar mais na criança e seus familiares o estigma de suas dificuldades, ou seja, dificultar mais do que ajudar. Orientação de pais e alunos • Propõe-se a orientação individual ou grupal no sentido de fornecer informações acerca das dificuldades escolares e outros assuntos referentes ao desenvolvimento do aluno. Orientação profissional • Também, observam-se mudanças do antigo paradigma da aplicação de testes 21 padronizados para caracterizar habilidades e interesses dos alunos a partir dos resultados para um espaço promotor do autoconhecimento, reflexão e elaboração de projetos profissionais. Orientação sexual • “A orientação em relação ao sentido atribuído à sexualidade, à responsabilidade para com o outro, às dúvidas e inquietações sobre desejos e afetos, assim como, a contribuição para o desenvolvimento do autoconhecimento, a autorreflexão, a capacidade de antecipar consequências e a tomada de decisões éticas, se constituem em um objeto significativo do trabalho do psicólogo escolar tanto na sua expressão individual quanto grupal” (MARTINEZ, 2009, p.171-172). Formação e orientação de professores • Uma das formas de auxiliar os professores, seja através de sua orientação ou formação, envolve os processos subjetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Elaboração e coordenação de projetos educativos específicos • O psicólogo escolar participa junto com a equipe multidisciplinar da escola em projetos como resposta a problemas concretos que surgem na escola e na comunidade (por exemplo, violência, uso de drogas, gravidez precoce, preconceito, dentre outros). • Atualmente, entende-se que esses projetos devem ter mais um caráter preventivo que para intervir em problemas já instalados. Fonte: Martinez (2009). Como a tabela anterior já deixa sugerir há um processo de mudança na práxis do psicólogo escolar/educacional e, atualmente, já se observa uma atuação mais criativa, como se pode observar na tabela a seguir. 22 Tabela 02: Formas de atuação emergentes do psicólog o escolar / educacional Forma s de atuação emergentes Descrição da atividade Diagnóstico, análise e intervenção a nível institucional especialmente no que diz respeito à subjetividade social da escola visando delinear estratégias de trabalho favorecedoras das mudanças necessárias para a otimização do processo educativo • O psicólogo precisa reconhecer não apenas a dimensão psicoeducacional da escola, como também sua dimensão psicossocial. • A partir do diagnóstico e análise das necessidades institucionais o psicólogo pode sugerir e traçar estratégias de intervenção para potencializar o trabalho em equipe, propor mudanças positivas, aprimorar a comunicação, mediar conflitos, dentre outras ações que visam à melhoria do funcionamento organizacional. Participação na construção, acompanhamento e avaliação da proposta pedagógica da escola • Sabe-se que o projeto político- pedagógico de muitas instituições é um documento que fica apenas no papel, ou que, ao contrário do que deveria, não é uma construção coletiva que se relaciona com a realidade escolar. • Quanto ao trabalho do psicólogo escolar: “Seu trabalho pode ser especialmente importante na integração e na coesão da equipe escolar; na coordenação do trabalho em grupo; na mudança de representações, de crenças e mitos, na definição coletiva de funções e, ainda no processo de negociação e resolução de conflitos, os quais são frequentes em qualquer tipo de trabalho coletivo que implique no encontro de pontos de vistas diferentes.” (MARTINEZ, 2009, p.173) Participação no processo de seleção dos membros da equipe pedagógica e no processo de avaliação dos resultados do trabalho • Atuação mais comum no ensino particular, onde o psicólogo atua junto aos demais gestores em processos seletivos (lembrando-se que esse é um dos campos de atuação do psicólogo nas empresas). • Importante trabalhar a questão da avaliação, importante instrumento já adotado em muitas empresas, por que não também nas escolas, para que não 23 seja visto como algo negativo, mas como oportunidade de crescimento. Contribuição para a coesão da equipe de direção pedagógica e para a sua formação técnica • É essencial que a equipe da escola trabalhe em equipe, mas o psicólogo deve começar seu trabalho com a formação técnica da equipe de direção, atingindo todos os outros coletivos possíveis da escola. Coordenação de disciplinas e de oficinas direcionadas ao desenvolvimento integral do aluno • Com a inclusão de propostas pedagógicas “não tradicionais” de cunho psicológico, como autoconhecimento, desenvolvimento de habilidades interpessoais, criatividade, dentre outros, o psicólogo encontra espaço para o desenvolvimento de projetos. Contribuir para a caracterização da população infantil com o objetivo de subsidiar o ensino personalizado • O psicólogo, juntamente com o professor e o orientador educacional, devem buscar compreender os aspectos da subjetividade individual de cada aluno envolvidos nos processos de aprendizagem para assim promover o melhor processo de aprendizagem e desenvolvimento. Realização de pesquisas diversas com o objetivo de aprimorar o processo educativo • Importante não se fazer separação entre pesquisa e trabalho na escola. • Relevância de pesquisa com equipe de trabalho, pais, alunos e membros da comunidade. Facilitar, de forma crítica, reflexiva e criativa, a implementação das políticas públicas • A efetivação de qualquer mudança ou inovação idealizada fora do contexto escolar passa, necessariamente, na forma pela qual os atores do processo assumem-na. • Nesse sentido o psicólogo tem papel de destaque por considerar não apenas a dimensão psicoeducativa da aprendizagem, mas também a dimensão psicossocial. Fonte: Martinez (2009). O caráter qualitativo, processual, comunicativo e construtivo do diagnóstico e da avaliação das dificuldades escolares vai superando, não sem dificuldades, o diagnóstico rotulador e estático que caracterizou o diagnóstico das dificuldades escolares durante muitos anos (MARTINEZ, 2009, p.171). 24 UNIDADE 3 – O DESENVOLVIMENTO DO ESTUDANTE Compreender o desenvolvimento do estudante se faz essencial para avançar no estudo da Psicologia da Educação – tema desta apostila. O profissional da educação precisa entender que o aluno de dois anos apresenta padrões cognitivos e biopsicossociais diferentes dos alunos de três anos, diferentes dos de quatro anos e assim sucessivamente. Porém, antes de tentarmos compreender um pouco mais como se dá o processo de desenvolvimento do aluno e conhecer algumas das teorias que explicam esse processo é importante entender o conceito de desenvolvimento humano. O desenvolvimento humano envolve o estudo de variáveis afetivas, cognitivas, sociais e biológicas em todo ciclo da vida. Desta formafaz interface com diversas áreas do conhecimento como: a biologia, antropologia, sociologia, educação, medicina, entre outras. (MOTA, 2005, p.106) Em síntese, o desenvolvimento humano é o estudo científico das mudanças e das continuidades que ocorrem durante todo o ciclo vital do indivíduo (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Já Oliveira e Davis (1994) definem desenvolvimento como “o processo através do qual o indivíduo constrói ativamente, nas relações que estabelece com o ambiente físico e social, suas características” (p.19). A autora defende que as características humanas são historicamente herdadas. De geração em geração acumulamos conhecimentos, os quais são herdados e transmitidos, o que influencia, desde o nascimento, na percepção do indivíduo sobre o mundo à sua volta. Assim, compreende-se que para a apropriação dessas características humanas faz-se necessária a interação do indivíduo com o meio. Essas questões sobre a hereditariedade e o ambiente serão mais detalhadas a seguir. Inicialmente, acreditava-se que o desenvolvimento ocorria apenas na infância, visto que até o início do século XX, a adolescência não era compreendida como um período separado da infância. Atualmente, fala-se em desenvolvimento no ciclo vital, ou seja, o desenvolvimento acontece por toda a vida, do nascimento à morte (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). 25 Mota (2005), afirma que a Psicologia do Desenvolvimento aumenta sua área de abrangência e inclui outras áreas, como a psicologia social, cognitiva, personalidade e, finalmente, a educacional, que é a nossa área de interesse nesta apostila. Alguns teóricos, como Freud (desenvolvimento psicossexual) e Piaget (desenvolvimento cognitivo) postulam que o processo de desenvolvimento humano ocorre em etapas. De acordo com essa linha de raciocínio, em cada etapa, os indivíduos lidam com diferentes tipos de problemas e desenvolvem diferentes tipos de capacidades para a resolução dos mesmos. Cada etapa fundamenta-se nas anteriores e prepara o caminho para a seguinte. Já numa linha de raciocínio bem diferente, outros teóricos, como Baltes (teoria do curso de vida) apregoam que o desenvolvimento é um processo vitalício e contínuo. O desenvolvimento é governado sempre pelos mesmos processos, permitindo a predição de comportamentos posteriores a partir da observação dos comportamentos anteriores. Essa abordagem do ciclo vital é bastante importante e, em termos de educação, o educador consegue refletir que, como alguns teóricos como Knowles apregoam, a pedagogia é a forma de ensinar direcionada às crianças, porém precisamos apropriar a didática para pessoas de diferentes idades, pois elas têm condições de aprender – andragogia. A necessidade de se integrar ao estudo do desenvolvimento humano uma perspectiva interdisciplinar, que adote uma metodologia de pesquisa própria, faz com que alguns autores sugiram que o estudo do desenvolvimento humano constitua um campo de atuação independente da Psicologia, que tem sido chamado de ‘Ciência do Desenvolvimento Humano’ (ASPESI, DESSEN & CHAGAS, 2005; BRONFRENBRENNER & EVANS, 2000, apud MOTA, 1995, p.106). Tendo tudo isso em vista, Oliveira e Davis (1994) fazem uma relevante articulação entre a psicologia do desenvolvimento humano e a pedagogia. Segundo as autoras, o estudo da psicologia do desenvolvimento humano, dentre outros fatores já explícitos aqui, estuda a evolução da capacidade física, psíquica, cognitiva, sociabilidade e afetividade do ser humano. O estudo do desenvolvimento humano torna possível compreender que as manifestações complexas das atividades do adulto – sejam elas físicas, psíquicas, dentre outras – são resultado de um longo processo, que se inicia antes mesmo do nascimento. 26 Isto é de extrema importância para a Pedagogia, para subsidiar a organização das condições para a aprendizagem infantil, ativando, assim, processos internos de desenvolvimento na criança, os quais serão transformados em aquisições individuais. 3.1 Concepção inatista X Concepção ambientalista Natureza X Ambiente Antes de estudarmos as duas concepções propriamente ditas, iremos dar continuidade ao estudo do desenvolvimento humano, visto que as concepções estão diretamente associadas com um importante princípio do desenvolvimento. O estudo do desenvolvimento humano abre margem para alguns questionamentos bastante importantes que levaram os estudiosos a compreender ou pelo menos tentar entender como se dá o processo de crescimento e desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. Para tentarmos compreender melhor o nosso aluno e como ocorre o processo de aprendizagem, faz-se necessário conhecer o debate sobre as fontes de desenvolvimento: inato X ambiente – expressões que serão explicadas a seguir. Cole e Cole (2004) elucidam que há uma interação entre os fatores geneticamente determinados (inatos) e os fatores ambientais, resultando no desenvolvimento de cada indivíduo. Este debate é também denominado de nature (natureza) x nurture (educação), de onde fica subentendido que a natureza refere- se ao que é herdado e a educação faz menção às influências do ambiente social e cultural (família e comunidade). Ressalta-se que, na prática, torna-se difícil estudar a influência isolada de cada um desses aspectos no desenvolvimento das crianças, já que a interação constante entre o organismo e o ambiente constitui um único processo de vida. As crenças sobre as contribuições da natureza e da educação para o desenvolvimento podem ter efeitos de longo alcance sobre como a sociedade trata as crianças. Se, por exemplo, supõe-se que as meninas, por natureza, têm pouco interesse por matemática e ciências, não é provável que sejam encorajadas por seus pais, professores e outros membros da sociedade a se tornarem matemáticas ou cientistas. Se, por outro lado, supõe-se que os talentos matemático e científico são, em grande parte, resultado da educação, uma sociedade pode treinar meninos e meninas igualmente nessas atividades (COLE; COLE, 2004, p.35). 27 Papalia, Olds e Feldman (2006), outros importantes teóricos sobre o assunto, também afirmam que a hereditariedade e o ambiente são importantes influências sobre o desenvolvimento. Os autores acrescentam ainda que a maturação do corpo e do cérebro é responsável por muitas das mudanças típicas da primeira e da segunda infância. Sobre maturação compreende-se: [...] o desdobramento de uma sequencia natural geneticamente influenciada de mudanças físicas e padrões de comportamento incluindo a prontidão para adquirir novas habilidades, como caminhar e falar. À medida que as crianças transformam-se em adolescentes e depois em adultos, as diferenças nas características inatas e na experiência de vida desempenham um papel mais importante (p.54). Carvalho (1996) acrescenta que atribuir a aprendizagem e a maturação como fatores determinantes do desenvolvimento é fator polêmico. Esclarece que as funções filogenéticas – aquelas próprias da espécie, como engatinhar, ficar de pé e caminhar – são mais influenciadas pela maturação, enquanto que as funções ontogenéticas – aquelas próprias de cada indivíduo – são mais influenciadas pela aprendizagem. Verifica-se também que as funções filogenéticas têm cronologias mais definidas (por exemplo, sabemos o período aproximado que um bebê humano normalmente começa a engatinhar e a dar os primeiros passos), enquanto que as funções ontogenéticas apresentam variação individual em relação à época de aquisição. Diferentes estudos realizados onde tentaram privar grupos experimentais e controle de alguma dessas variáveis (sendo a aprendizagem muito mais simples de se isolar) mostram que ambas são imprescindíveis ao processo de desenvolvimento. A ausência de uma ou outra impede o desenvolvimento integral do organismo. ‘É necessário que a maturação tenha instalado suasbases para que o processo de aprendizagem seja mais eficaz. Por outro lado, não se pode prescindir da aprendizagem se se quiser obter um desenvolvimento integral’ (CARVALHO, 1996, p.31). No que diz respeito aos aspectos psicológicos, o debate sobre a influência da natureza ou do ambiente é muito antigo e vem desde a Grécia antiga. As características psicológicas são biologicamente inatas, mas também adquiridas pela educação, experiência ou cultura. Entende-se como cultura as crenças, regras, valores e costumes de determinado grupo de pessoas que compartilham uma mesma língua e ambiente, de onde é possível supor que aspectos culturais são transmitidos entre gerações através da aprendizagem (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005). 28 Ainda que inegável a presença de fatores de maturação e de aprendizagem no processo evolutivo, acreditamos que o indivíduo que cresce participa cada vez mais ativamente de sua própria evolução. Ao maior controle dos órgãos ligados à fonação, do diafragma e, consequentemente, da quantidade do ar inspirado e expirado, que levam a um maior domínio das cordas vocais e à emissão de diferentes sons, ao final do primeiro ano de vida – maturação –, somam-se as influências ambientais, reforçando diferencialmente os sons, que culminam na formação de palavras, inicialmente globais, mas que possibilitam o início da comunicação semântica – aprendizagem. Segue-se a isso uma fase de perguntas, variável de uma criança para outra, mais ou menos intensa, que por si mesma enriquece o vocabulário, amplia o conhecimento e a possibilidade de uma comunicação mais ampla. E desta forma fatores endógenos, exógenos e pessoais se entrelaçam e realimentam num complexo de interações (CARVAHO, 1996, p.29). Como foi possível observar em Carvalho (1996), Cole e Cole (2004) e Gazzaninga e Heatherton (2005), é indiscutível a importância dos fatores inatos e do ambiente do desenvolvimento do indivíduo, porém os últimos autores são enfáticos ao afirmarem que, atualmente, torna-se relevante para os cientistas conhecerem como natureza e ambiente interagem, além do que “é a relativa importância da natureza e do ambiente na determinação da mente e do comportamento que atrai o interesse dos cientistas psicológicos” (p.47). Concepção Inatista A concepção inatista parte do pressuposto de que os eventos que ocorrem após o nascimento não são essenciais e/ou importantes para o desenvolvimento. As qualidades e capacidades básicas de cada ser humano – sua personalidade, seus valores, hábitos e crenças, sua forma de pensar suas reações emocionais e mesmo sua conduta social – já se encontrariam basicamente prontas e em forma final por ocasião do nascimento, sofrendo pouca diferenciação qualitativa e quase nenhuma transformação ao longo da existência. O papel do ambiente (e, portanto, da educação e do ensino) é tentar interferir o mínimo possível no processo do desenvolvimento espontâneo da pessoa (OLIVEIRA; DAVIS, 1994, p.27). Suas origens foram embasadas em interpretações da Teologia, do Darwinismo e da Embriologia, em visões muitas das vezes equivocadas ou não aplicáveis para o estudo de humanos. Não há bases empíricas para a psicologia quem comprovem a visão inatista. Em síntese, o inatismo apregoa que o homem já nasce pronto, portanto, o educador tem a visão, muitas das vezes pessimista, de que a criança ou adolescente será do jeito que chegou até ele, independente do que ele tentar fazer no sentido de promover uma educação melhor. Essa visão até os dias de hoje aparece em sala de aula, camuflada sobre ideias de aptidões, 29 prontidão e coeficientes de inteligência e é bastante preconceituosa (OLIVEIRA; DAVIS, 1994). Concepção Ambientalista Ao contrário da concepção inatista, que apregoa que o ser humano já nasce pronto, para a concepção ambientalista, o homem é compreendido como um ser dotado de grande plasticidade, ou seja, ele nasce dotado de condições de moldar-se segundo as características do meio onde ele se encontra inserido. Segundo Oliveira e Davis (1994), essa corrente sofreu influência do empirismo e do behaviorismo de Skinner, corrente psicológica que já foi abordada anteriormente. Recapitulando, segundo a teoria comportamentalista, os indivíduos buscam maximizar o prazer, ao mesmo tempo em que evitam a dor. Dessa forma, é possível manipular estímulos ambientais para assim controlar o comportamento. Na visão ambientalista, a ênfase está em proporcionar novas aprendizagens, por meio da manipulação dos estímulos que antecedem e sucedem o comportamento. Para tanto, é preciso uma análise rigorosa da forma como os indivíduos atuam em seu ambiente, identificando os estímulos que provocam o aparecimento do comportamento-alvo e as consequências que o mantém. A esta análise dá-se o nome de análise funcional do comportamento. Nela defende-se o planejamento das condições ambientais para a aprendizagem de determinados comportamentos (OLIVEIRA; DAVIS, 1994, p.33). A concepção ambientalista coloca o professor em papel de destaque, pois a ele cabe planejar bem as aulas e dar reforços positivos aos seus alunos (como elogios, notas) para que os mesmos possam ter um bom desempenho. Por outro lado, a concepção inatista deixava o professor com um papel mais passivo, já que como o estudante já chegava até à escola pronto, nada adiantava fazer para que seu desempenho se modificasse. Por outro lado, a concepção ambientalista enxerga os seres humanos como criaturas possíveis de serem manipuladas e controladas, deixando de ser a aprendizagem algo mais espontâneo (OLIVEIRA; DAVIS, 1994). A partir do entendimento do debate natureza X ambiente e, consequentemente, das concepções inatista e ambientalista da aprendizagem prosseguiremos os estudos de alguns teóricos que investigaram o desenvolvimento humano. A partir da compreensão do processo de desenvolvimento – seja ele físico, psicológico, social ou cognitivo – podemos 30 articular esse conhecimento com o processo educacional. Teremos como principal teoria de aprendizagem a Teoria Construtivista. 3.2 Piaget e a aprendizagem Assim como foi mencionado na teoria de Freud, Piaget também será um dos referenciais teóricos principais desse material. Nessa seção, serão abordados alguns conceitos de sua obra (convém ressaltar que devido às limitações de espaço não será possível aprofundar no estudo desses temas) e, em outros momentos, será abordado o desenvolvimento cognitivo pela perspectiva do autor, além de considerações do mesmo acerca da inteligência e afetividade. 3.2.1 Conceitos principais Piaget defende uma linha muito importante para a psicologia e para a educação: o construtivismo. Segundo essa linha, tanto a natureza, quanto a educação são importantes para o desenvolvimento da criança e, além disso, defende-se que o papel do ambiente vai além de apenas desencadear o potencial inato da criança, ao contrário do que se poderia imaginar. As crianças constroem seu conhecimento, em níveis cada vez mais elevados, sendo essa construção uma relação ativa com o ambiente. “São seres biossociais, porque tanto as circunstâncias do amadurecimento quanto as circunstâncias ambientais estão reciprocamente envolvidas no processo de mudança” (COLE; COLE, 2005, p.58). A influência que o ambiente exerce sobre as crianças varia de acordo com o estágio de desenvolvimento no qual as mesmas se encontram, mas esses processos de mudança desenvolvimental – como será visto no próximo item – são universais na espécie humana. Piaget (1973 apud COLE; COLE, 2005) apregoa que a sociedade na qual o indivíduo encontra-se imerso desde o nascimento, em certo sentido, pode modificar a própria estrutura do indivíduo. A influência das relações sociais na vida das pessoas é tão grande quanto a influência do ambiente físico. O que distingue especialmente as teorias construtivistas das teoriasmaturacionais e das de aprendizagem é a importância que os construtivistas dão ao papel ativo das crianças na moldagem do seu próprio desenvolvimento (COLE; COLE, 2005, p.58). 31 Coll (2004b) elucida que a ideia original do construtivismo reside no fato de que conhecimento e aprendizagem são, em boa parte, resultado de uma dinâmica ativa do sujeito entre conhecer e aprender. Assim, conhecimento e aprendizagem nunca são o resultado de uma leitura direta da experiência, mas sim o resultado da atividade mental construtiva através da qual as pessoas leem e interpretam a experiência. Vale a pena destacar que essa é a ideia original defendida por Piaget e os colaboradores da epistemologia genética nos anos de 1940-1950, porém a partir desses estudos atualmente surgiram outros enfoques teóricos cuja base é o construtivismo, mas que apresentam outras características peculiares. Retomando às ideias base de Piaget, o desenvolvimento cognitivo – que será explicado detalhadamente na subseção a seguir – ocorre através de três princípios inter-relacionados, os quais são pontos-chave na teoria piagetiana: organização, adaptação e equilibração. Organização : Tendência para criar estruturas cognitivas (esquemas) cada vez mais complexas. Com o desenvolvimento, naturalmente a criança adquire mais informações e os esquemas vão se tornando mais complexos (PAPALIA: OLDS: FELDMAN, 2006). Adaptação : É o processo pelo qual a criança ajusta as novas informações sobre o ambiente que entram em conflito com aquelas que ela já sabe. Envolve duas etapas: assimilação e adaptação. Assimilação é a incorporação de novas informações a uma estrutura cognitiva já existente (PAPALIA: OLDS: FELDMAN, 2006). Maia (2008, p.59) acrescenta que “por assimilação, compreende-se o mecanismo que o sujeito aplica ao procurar compreender o seu mundo”. Acomodação consiste nas mudanças nas estruturas cognitivas existentes para se incluir novas informações (PAPALIA: OLDS: FELDMAN, 2006). Por acomodação, podemos compreender o movimento de ajustamento dos esquemas ou estruturas cognitivas às resistências provocadas pelas novas situações, não passíveis de uma assimilação pura. Surge a partir 32 das perturbações provocadas pelas situações que o sujeito enfrenta (MAIA, 2008, p.59). Segundo Carvalho (1996), assimilação e acomodação são dois aspectos do processo de adaptação. Toda assimilação pressupõe uma acomodação anterior do organismo e toda acomodação uma modificação assimilativa do objeto ao qual o organismo deve se acomodar. A equilibração é a tendência para se buscar um equilíbrio entre elementos cognitivos do próprio organismo, assim como entre o organismo e o mundo exterior (PAPALIA: OLDS: FELDMAN, 2006). Segundo Carvalho (1996), a equilibração pode ser comparada a uma homeostase, porém se difere da biológica, visto que a equilibração visa a um nível cada vez superior de funcionamento mental. Em síntese, o desenvolvimento cognitivo acontece através de constantes desequilíbrios e equilibrações. O surgimento do novo – sejam novas possibilidades orgânicas no organismo ou mesmo características diferentes no ambiente – quebram o estado anterior de equilíbrio, gerando desequilíbrio. Em busca de atingir novo estado de equilíbrio os mecanismos de assimilação e acomodação são acionados (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). 3.2.2 Estágios de desenvolvimento cognitivo Piaget tinha uma visão organísmica das crianças, considerando-as seres ativos em crescimento, com seus próprios impulsos internos e padrões de desenvolvimento. Ele via o desenvolvimento cognitivo como produto dos esforços das crianças para compreender e atuar sobre o seu mundo (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.73). Piaget estudou o desenvolvimento cognitivo que, segundo ele, se inicia com a capacidade inata do ser humano de se adaptar ao ambiente. Sua metodologia de estudo visou investigar as mudanças ocorridas em cada estágio de desenvolvimento, ou seja, as mudanças na qualidade do funcionamento cognitivo da criança e do adolescente. A teoria piagetiana visa investigar como a mente estrutura suas atividades e adapta-se ao ambiente. A teoria de Piaget foi desenvolvida a partir da observação de seus próprios filhos. O pesquisador inicialmente aplicou testes padronizados em crianças e ficou curioso ao observar os padrões de erros cometidos pelas 33 mesmas, muitos dos quais associados aos padrões de pensamento esperados pela idade. A partir desses erros, iniciou essa observação mais intensiva em seus filhos e outras crianças desde os seus primeiros anos de vida, de onde pôde concluir que o padrão de pensamento das crianças é qualitativamente diferente do modo de pensar dos adultos. Segundo o pesquisador, essas sequências de pensamento são universais e, ao contrário do que outros teóricos acreditavam, os padrões de pensamento infantil não se caracterizam como erros, apenas como padrões característicos de determinada faixa etária (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo em quatro estágios: sensório- motor, pré-operacional, operações concretas e operações formais. O primeiro desses estágios, o sensório-motor, é dividido em seis subestágios. A tabela a seguir sintetiza brevemente os principais acontecimentos de cada um desses estágios e subestágios e, após a tabela, serão feitas mais algumas considerações específicas a respeito de alguns desses estágios. Tabela 03: Síntese dos estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget Estágio (Estádio) Faixa etária Principais C aracterísticas Sensório-motor 0 – 2 anos • Aprendizagem através dos seus sentidos e da atividade motora. • Estimulação ambiental essencial. • Dividido nos 6 subestágios abaixo: • Subestágio 1 Nascimento ao 1° mês • Reflexos inatos. • Certo controle sobre estes reflexos. • Subestágio 2 1 – 4 meses • Reações circulares primárias: os bebês aprendem a repetir sensações agradáveis primeiramente obtidas por acaso. • Atentam-se para os sons. • Começam a coordenar diferentes tipos de informações sensoriais. • Subestágio 3 4 – 8 meses • Interesse em manipular objetos e aprender sobre suas propriedades. • Reações circulares secundárias: ações intencionais repetidas não apenas pelo 34 seu próprio valor, mas para obter resultados além do próprio corpo. • Subestágio 4 8 – 12 meses • Coordenação de esquemas secundários: os bebês já elaboraram os poucos esquemas com os quais nasceram. • Generalização a partir da experiência passada para resolver novos problemas. • Independência: engatinham ou afastam o que é indesejado. • Início do comportamento intencional. • Subestágio 5 12 – 18 meses • Experimentam novos comportamentos para ver o que acontece. • Reações circulares terciárias: variam uma ação para obter um resultado parecido. • Originalidade na resolução de problemas. • Subestágio 6 12 a 24 meses • Capacidade de representar mentalmente objetos e ações na memória. • Imitação diferida: imitam ações que não estão vendo no momento. Pré-operacional 2 – 7 anos (Educação infantil) • Pensamento simbólico mais sofisticado, porém não são capazes de utilizar a lógica. • Simbolização: as crianças são capazes de imaginar objetos, mesmo sem contato com ele. • Compreensão de identidades. • Compreensão de números. Operacional concreto 7 – 11 anos (Educação básica) • Desenvolvimento do pensamento lógico, mas não do abstrato. • As operações fazem parte de um conjunto de atos inter-relacionados: operações lógicas de adição, subtração, multiplicação, classificação, operações envolvendo quantidade, tempo, mensuração, espaço. Operações formais 11 – 19 anos (Adolescênc ia) • Etapa final do desenvolvimento cognitivo, caracterizada pela capacidade de pensar em termos abstratos. • Pensam em termos do “poderiaser” e não apenas no “é”. 35 • Capacidade de pensar de maneira abstrata possui implicações emocionais. • Raciocínio hipotético-dedutivo: capacidade de desenvolver, considerar e testar hipóteses. • Interesse em ideias científicas e abstratas. Fonte: Adaptado de Papalia; Olds; Feldman (2006). A seguir, teceremos alguns esclarecimentos extra acerca do que foi exposto na tabela anterior. Estágio sensório-motor : Como foi ilustrado na tabela, esse estágio é dividido em seis subestágios. A passagem de um estágio para o outro ocorre à medida em que os esquemas do bebê vão se tornando mais complexos. Em termos de desenvolvimento cognitivo conceituam-se esquemas como “estruturas cognitivas básicas que consistem de padrões organizados de comportamento utilizados em diferentes tipos de situações” (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.197). Outros termos que também foram apenas citados na tabela, porém sem maiores explicações foram as “reações circulares ”, as quais acontecem durante esse estágio. Piaget definiu essas reações por situações agradáveis que o bebê aprende a produzir, inicialmente por acaso, fazendo com que ele deseje repeti- las. A partir daí, as repetições se retroalimentam, formando uma espécie de ciclo, ou seja, um comportamento inicialmente casual se consolida num novo esquema. “As ações desse tipo são chamadas primárias, porque os objetos aos quais elas são dirigidas são partes do próprio corpo do bebê; eles são chamados circulares porque conduzem apenas de volta a si mesmos” (COLE; COLE, 2004, p.184). Já as reações secundárias envolvem algo fora do corpo do bebê. As reações circulares terciárias são mais complexas, o bebê experimenta diferentes maneiras de produzir determinada resposta que foi descoberta por ele de maneira acidental. 36 A figura a seguir ilustra os exemplos das reações circulares primárias, secundárias e terciárias, as quais ocorrem nos subestágios 2, 3 e 5 respectivamente, como foi demonstrado anteriormente na tabela. Figura 02: Reações circulares primárias, secundárias e terciárias Fonte: Papalia, Olds, Feldman (2006, p.199). Estágio pré-operacional : A primeira infância é uma fase de transição entre a fase de bebê – marcada pelos esquemas sensórios motores – e os pensamentos mais complexos da segunda infância que serão explorados a seguir. O padrão de pensamento pré-operatório é caracterizado por uma série de “erros” devido à 37 incapacidade da criança dessa fase de descentrar seu pensamento, ou seja, a criança ainda não é capaz de direcionar sua atenção para mais de um aspecto de qualquer situação sobre a qual estejam querendo pensar. Piaget percebeu a descentração numa experiência simples, a qual pode ser realizada em sala de aula. Inicialmente, a criança recebia dois recipientes idênticos com a mesma quantidade de água. Enquanto a criança observa, a água de um dos recipientes é derramada até um terceiro, mais estreito e mais alto, de forma que dê a impressão de que este terceiro tenha mais água que o original. Ao serem arguidas sobre o que aconteceu com a água é comum que as crianças de 3 a 4 anos respondam que a quantidade de água aumentou (COLE; COLE, 2004). A figura a seguir, retirada de um blog direcionado à área da Psicologia da Educação, ilustra recipientes que podem ser utilizados para se fazer essa experiência em sala de aula e suas instruções detalhadas (assim como instruções de como realizar outras provas piagetianas). Figura 03: Material para prova piagetiana de conservação de líquidos (irreversibilidade) Fonte: LAPSI (2014). Piaget considerava outras características marcantes no pensamento da primeira infância: o egocentrismo, a confusão entre a aparência e a realidade e o raciocínio não lógico. Assim como a descentração, essas características também explicam os erros que a criança pré-operacional comete normalmente, ou seja, as limitações comuns ao seu padrão de pensamento. 38 O egocentrismo na visão de Piaget pode ser compreendido como a tendência da criança dessa faixa etária de considerar o mundo apenas a partir de seu próprio ponto de vista, ou seja, elas ainda são incapazes de descentrar (COLE; COLE; 2005). Dentre as outras limitações do pensamento pré-operacional, podemos destacar o animismo (atribuir vida a objetos inanimados, como, por exemplo, desenhar o sol com rosto) e a incapacidade de distinguir o que é aparência de realidade (não saber diferenciar, por exemplo, se a estátua de um enorme dinossauro no cinema como propaganda de um filme é real ou apenas um “boneco”) (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Estágio das operações concretas : Na segunda infância, os avanços nas habilidades cognitivas da criança tornam as mesmas aptas a ingressarem no ambiente da educação básica, visto que suas operações mentais já são capazes de resolver problemas concretos. A criança demonstra capacidade de pensamento espacial, consegue compreender relações de causa e efeito, possui capacidade de realizar classificações e categorizações, sabe fazer inferências a partir de raciocínio indutivo e dedutivo, compreende princípios da conservação das matérias, além de já conseguir dominar números e conceitos matemáticos. Por outro lado, as crianças ainda apresentam limitações para pensar em situações reais no aqui e no agora (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). A imagem a seguir ilustra a conservação: semelhante ao que foi feito com os líquidos com a criança pré-operacional, mostra-se à criança duas quantidades iguais de massinha, porém, molda-se uma delas com formato de salsicha. Ao indagar a criança qual das duas pesa mais a criança já compreende que o peso é o mesmo. 39 Figura 04: Prova piagetiana da conservação Fonte: Ler e Escrever Certo (2009). Além das habilidades cognitivas, Piaget elucida que o desenvolvimento moral está ligado ao desenvolvimento cognitivo. A criança começa a fazer julgamentos morais em torno dos 7 anos, ainda em estágio pré-operacional, porém, nessa fase, ela ainda pensa de maneira muito rígida sobre os conceitos morais, são muito egocêntricas e não conseguem ver uma situação moral sobre mais de um ponto de vista, acreditam que qualquer infração merece punições rígidas, exceto quanto ela comete a infração. Já acima dos 7 anos, a criança torna-se mais flexível para elaborar o seu próprio código moral a partir da sua interação com outras pessoas. O interesse das crianças pelos jogos com regras nessa fase relaciona-se com o desenvolvimento do julgamento moral (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Estágio das operações formais Não mais limitados ao aqui e agora, são capazes de compreender o tempo histórico e o espaço extraterrestre. Podem utilizar símbolos para representar outros símbolos (por exemplo, utilizar a letra X para representar um número, como 15) e, assim, podem aprender álgebra e cálculo. Podem apreciar melhor a metáfora e a alegoria e, assim, descobrir significados mais ricos na literatura. São capazes de pensar em termos do que poderia ser, e não apenas do que é. São capazes de imaginar possibilidades e de gerar e testar hipóteses (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.455). 40 Os estudos de Piaget para demonstrar o pensamento de operações formais foram nos campos da ciência e da lógica, porém esse padrão de pensamento ocorre em diferentes padrões de pensamento do adolescente e é esperado encontrar o mesmo em adolescentes e adultos de diferentes culturas (COLE; COLE, 2005). 3.2.3 Piaget e a aprendizagem Dentre os conteúdos que foram apresentados sobre a teoria de Piaget, alguns pontos se fazem relevantes para a educação, os quais são: • compreender a natureza interacionista da aprendizagem; • conhecer os estágios do desenvolvimento cognitivo da criança; • entender que determinados “erros” são, na verdade, típicos do padrão de desenvolvimentodo pensamento infantil; • compreender que, a partir dessa teoria, há embasamentos que justifiquem as idades adequadas para a aprendizagem de determinados conteúdos; • entender como se dá o processo de introjeção do código moral. A partir desses pontos de reflexão, é possível concluir que, para Piaget, o objetivo da educação seria potencializar a construção de estruturas cognitivas, contribuindo, assim, para o desenvolvimento dos estágios anteriormente apresentados. O professor pode colaborar com esse processo associando os conteúdos escolares à competência cognitiva dos alunos, de forma que a metodologia de ensino torne claro que o conhecimento é um processo de construção por parte do sujeito, ou seja, não é simplesmente transmitido pelo professor. É papel dos educadores e familiares proporem aos educandos atividades lúdicas, experiências físicas sobre os objetos (como aquelas descritas por Piaget e exemplificadas nesse material), pois, dessa forma, o estudante pode agir de maneira ativa sobre esses materiais, construindo conceitos, assimilando, acomodando e equilibrando (MAIA, 2008). 41 3.3 Vygotsky e a aprendizagem Assim como Freud e Piaget, Vygotsky é o terceiro teórico da aprendizagem escolhido para ser um de nossos principais referenciais nesses materiais. Nesse momento iremos abordar brevemente algumas de suas ideias centrais sobre a aprendizagem e, posteriormente, em outra seção, apresentaremos algumas de suas ideias sobre a afetividade. [...] Vygotsky tem como um de seus pressupostos básicos a ideia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem (OLIVEIRA, 1992, p.24). Assim como Piaget, Vygotsky (1896-1934) também enfatiza a importância da interação ativa da criança com o ambiente para o seu desenvolvimento cognitivo. O teórico postula que a aprendizagem das crianças se dá através das interações sociais, ou seja, as crianças adquirem habilidades cognitivas a partir das interações sociais, especialmente com adultos (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Vygotsky defende a ideia de contínua interação entre as mutáveis condições sociais e a base biológica do comportamento humano. Partindo de estruturas orgânicas elementares, determinadas basicamente pela maturação, formam-se novas e mais complexas funções mentais, a depender da natureza das experiências sociais a que as crianças se acham expostas (OLIVEIRA; DAVIS, 1994, p.49). Para Vygotsky, os adultos devem dirigir e organizar a aprendizagem da criança até que ela tenha condições de aprender e internalizar seu próprio aprendizado. (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). O papel da linguagem é essencial para introduzir a criança no contexto social ao qual ela pertence, o que normalmente é feito pelos adultos e pelas crianças mais velhas. Esse processo de internalização é ativo e a criança apropria-se do social de uma forma muito particular (OLIVEIRA; DAVIS, 1994). Maia (2008, p.69) caracteriza internalização como: “reconstrução interna de uma operação externa”. O sujeito, ao mesmo tempo em que se integra no social, posiciona-se frente ao meio e é capaz de transformá-lo; à medida que as crianças crescem elas vão necessitando menos da ajuda externa para o processo de internalização, assim como para transformar o meio ao seu redor (OLIVEIRA; DAVIS, 1994). 42 Através da fala, é possível aprender sobre o meio, além de modificar a qualidade de conhecimento e pensamento que se tem sobre o mundo no qual o sujeito está inserido. Segundo Vygotsky, ao internalizar instruções, as crianças acabam por modificar os seus processos psicológicos básicos – tais como percepção, atenção e memória – essenciais ao processo de aprendizagem e que serão apresentados numa outra seção da apostila (OLIVEIRA; DAVIS, 1994). Os mecanismos de mudanças individuais têm suas raízes na cultura e na sociedade, sendo a linguagem um processo extremamente social que, através da interação social, transforma-se em um processo puramente pessoal, precedindo, dessa forma, o pensamento (MAIA, 2008, p.69). Por meio desse processo, torna-se possível compreender que os processos mentais superiores como a capacidade de resolver problemas e o complexo uso da memória, dentre outros, aparecem, a princípio, no plano do social, pois estão relacionados com a interação de outras pessoas, para só com o decorrer do desenvolvimento surgirem no plano psicológico, individual. Dessa forma, é possível afirmar que a apropriação que a criança faz da experiência social (construção da sua realidade) parte primeiramente do social e depois é internalizada por ela (OLIVEIRA; DAVIS, 1994). Vygotsky não postula que o desenvolvimento cognitivo aconteça em etapas, como fez Piaget. Segundo ele, os fatores biológicos são mais importantes que os sociais apenas na ocasião do nascimento e, ao longo do desenvolvimento, são as múltiplas e variadas situações sociais que irão influenciar o desenvolvimento do pensamento e do raciocínio infantil (OLIVEIRA; DAVIS, 1994). As postulações de Vygotsky sobre os fatores biológicos e sociais no desenvolvimento psicológico apontam para dois caminhos complementares e investigação: de um lado, o conhecimento do cérebro como substrato material da atividade psicológica e, de outro lado, a cultura como parte essencial da constituição do ser humano, num processo em que o biológico transforma-se no sócio-histórico (OLIVEIRA, 1992, p.33). Já foi atribuída a grande importância da linguagem em sua teoria, no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo. Central nas teorias de Vygotsky é a ideia de que o contexto social influencia o desenvolvimento da linguagem, que, por sua vez, influencia o desenvolvimento cognitivo. As crianças começam dirigindo sua fala para comunicações específicas com os outros, tal como pedir comida ou 43 quando se dão instruções ou conversam consigo mesmo enquanto brincam. Finalmente, as crianças internalizam as palavras em uma fala interior, que compreende pensamentos verbais que dirigem o comportamento e a cognição. Nossos pensamentos baseiam-se na linguagem que adquirimos por meio da cultura, e essa fala interior constante reflete processos cognitivos de ordem superior (GAZANINGA; HEARTHETON, 2005, p.370). Para ele, pensamento e linguagem são circuitos interligados – o que pode ser observado, por exemplo, quando se observa uma criança de menos de três anos narrar o seu comportamento, padrão que se modifica ao longo do desenvolvimento (OLIVEIRA; DAVIS, 1994). Com essa orientação, elas podem ultrapassar a ZDP – zona de desenvolvimento proximal, que é a distância entre o que a criança já é capaz de fazer sozinha e aquilo que ela ainda não está totalmente pronta para alcançar sem auxílio (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). A teoria de Vygotsky tem importantes implicações para a educação e para os testes cognitivos. Testes baseados na ZDP, que focalizam o potencial de uma criança, oferecem uma alternativa valiosa para os testes de inteligência padrão que avaliam o que uma criança já aprendeu; muitas crianças beneficiam-se com o tipo de orientação especializada prescrita por Vygotsky (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.83). Oliveira e Davis (1994) também elucidam a importância da teoria de Vygotsky para a educação. Segundo os autores, o educador precisa entender a importância da linguagem no processo de aprendizagem, já que através da relação verbal entre professor e alunos, as crianças tornam seu padrão de pensamento mais complexo e conseguem processar mais informações. Além disso, ao se compreender o conceito de ZDP, o educador pode entender o que a criança é capaz de conseguir com e sem ajuda externa, podendo, assim, planejar as situações de ensino e avaliaros progressos individuais de seus alunos. Além disso, Maia (2008) acrescenta que a interação social propiciada pela exploração linguística é indispensável à construção da ZDP do estudante, por isso ela sugere que o educador trabalhe filmes, músicas, histórias, desenhos, brincadeiras que envolvam a linguagem, a atenção, a memória, explorando sempre as diversas variações linguísticas presentes nesses diferentes canais. Finalizamos com a reflexão de Oliveira (1992, p.33): “[...] a aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento desde o nascimento da criança. A 44 aprendizagem desperta processos internos de desenvolvimento que só podem ocorrer quando o indivíduo interage com outras pessoas.” 3.4 Fases do desenvolvimento psicossexual de Freud e implicações na aprendizagem Após, no capítulo anterior, tomarmos conhecimento de conceitos centrais da teoria psicanalítica como inconsciente, id, ego e superego é o momento de apresentarmos outro ponto de central importância para o educador: as fases do desenvolvimento psicossexual propostas por Freud e suas consequentes implicações para o processo educacional. Assim como Piaget e Erikson, Freud também postulava que o desenvolvimento humano se dá através de estágios. Piaget estudou o desenvolvimento cognitivo, enquanto Freud defendeu a teoria do desenvolvimento psicossexual. Para ele, os primeiros anos de vida são de extrema importância na estruturação da personalidade da criança, já que, para a sua teoria, a criança passa por três estágios durante os seus cinco primeiros anos de vida, em seguida, ocorre o período de latência, o qual dura aproximadamente cinco anos de relativa estabilidade e, com o advento da adolescência, surge a última fase do desenvolvimento psicossexual (HALL; LINDZEY, 1984). A tabela a seguir sintetiza os principais acontecimentos ocorridos em cada uma das fases ou estágios descritos por Freud: Tabela 04: Estágios psicossexuais de Freud e princi pais características Estágio Psicossexual Idade aproximada Principais Características Fase oral 0 – 1 ano e meio aproximadamente • Boca: comer é fonte de prazer pela estimulação dos lábios e boca. • Reflexo de sucção: sobrevivência, prazer. • Fixação nesta fase: “engole” tudo que dizem; prazer da aquisição de conhecimentos e de bens; sarcasmo ou tendência à discussão (morder), roer unhas, transtornos 45 alimentares, compulsão pelo cigarro. • Base do desenvolvimento da personalidade, atitudes e traços de caráter. Fase anal 1 a 3 anos aproximadamente • Prazer: retenção e expulsão das fezes. • Treino higiênico: controle dos esfíncteres marca o controle externo de um impulso instintivo. • Método educativo e postura da mãe em relação às fezes pode produzir efeitos prolongados na formação de traços na criança. • Mãe rigorosa e repressiva: retenção das fezes; conduta de caráter retentivo: obstinação, avareza, defecação em horas impróprias, crueldade, destrutividade, obsessão pela limpeza, rigidez com horários e rotinas, desleixo excessivo. • Mãe que exige para que a criança defeque e elogia intensamente: noção de que a expulsão das fezes é extremamente importante: base da criatividade e produtividade. • Fezes: valor simbólico de presente. Fase fálica 3 – 6 anos aproximadamente • Zona de prazer: órgãos genitais. • Sensações sexuais e de agressividade associada aos órgãos genitais. • Presença de masturbação, fantasias, autoerotismo, descoberta do próprio corpo e do corpo do outro (as diferenças sexuais). • Eventos importantes: Complexo de Édipo e complexo de castração. • Vivências diferentes nos meninos e nas meninas. • O Complexo de Édipo marca a estruturação da personalidade do indivíduo, mesmo após ser reprimido. • As relações com as pessoas do sexo oposto e com pessoas que simbolizem autoridade são condicionadas por este complexo. 46 Latência 6 anos à puberdade aproximadamente • Repressão dos impulsos. • Diminuição das atividades sexuais. • Mecanismo de defesa: sublimação. • Realizações escolares, alfabetização, socialização. • Fase relativamente calma. Fase genital Puberdade à idade adulta • Órgãos genitais. • Mudanças físicas e hormonais da puberdade despertam a libido. • Nos estágios pré-genitais há o autoerotismo. • Na fase genital, o adolescente já realiza escolhas objetais. • Amam o outro por motivos altruístas e não apenas por razões narcisistas ou egoístas. • Atração sexual, socialização, atividades de grupo, interesse profissional, preparação para o casamento e interesse em constituir família. • Mecanismos de sublimação, identificação. • Função biológica: reprodução. • Aspectos psicológicos: estabilidade e segurança. Fontes: compilações de Hall e Lindzey (1984); Papalia, Olds e Feldman (2006); Fadiman e Frager (2002). Para uma melhor compreensão da tabela anterior, algumas observações serão realizadas a seguir: Importante destacar que dentre os autores que estudam personalidade, como Hall e Lindzey (1984); Fadiman e Frager (2002), quanto os que estudam o desenvolvimento humano como Papalia, Olds e Feldman (2006), Cole e Cole (2004), ao fazerem menção à teoria de Freud, os mesmos ressaltam que os estágios acontecem em idades aproximadas, visto que temos que considerar as diferenças individuais. Isso deve ser ressaltado ainda mais se considerarmos que a teoria de Freud foi descrita há bastante tempo. Por exemplo, o texto sobre o Complexo de Édipo data de 1897 e se considerarmos as diferenças ocorridas nas 47 esferas sócio-históricas e culturais nessa época há de se esperar que pequenas diferenças podem ocorrer (era mais fácil compreender a expressão “inveja do pênis” na sociedade da época extremamente machista, onde a mulher ainda era extremamente reprimida educacionalmente e sexualmente, não era garantido a ela o direito de voto do que na atualidade, quando a igualdade dos sexos prega uma realidade diferente). Observa-se que a libido (prazer sexual) modifica-se de uma zona corporal para a outra. Freud causou um grande impacto na sociedade científica e leiga ao afirmar que a sexualidade fazia parte da vida infantil, já que as crianças eram consideradas verdadeiros anjos, isentos de uma dimensão sexual. Houve uma verdadeira interpretação errônea, não se está afirmando que a dimensão sexual a qual o adulto está acostumado se faz presente na vida das crianças, apenas que a sexualidade, na forma de energia, de libido, é um impulso que se faz presente desde o nascimento e é responsável pela sobrevivência do ser humano. Inicialmente, a libido está concentrada na boca, região relacionada à sobrevivência, à nutrição. Se sugar não fosse também fonte de prazer talvez o bebê não tivesse, por si só, condições de mamar e garantir sua sobrevivência. Observa-se que o bebê acalma ao mamar, ao chupar os dedos, a chupeta, ou seja, alivia tensões associadas à zona oral. Quando essa libido não migra para outras zonas, ou seja, quando acontecem as denominadas fixações, as consequências persistem até anos posteriores, conforme mostra a tabela. Se o desenvolvimento segue seu curso normal, a libido passa para o ânus, ocasião em que, por esse motivo, é indicado retirar as fraldas da criança. Retirar as fraldas antes dessa idade não é recomendado, visto que a libido normalmente ainda não foi deslocada para a região anal, por isso a atenção da criança não está direcionada para a retenção e eliminação das fezes e o ato de controlar as idas ao banheiro pode ser difícil. Quando a libido é deslocada para os órgãos genitais, na fase fálica, é muito comum observarmos as crianças, sejam elas meninos ou meninas, num processo constante de conhecimento do próprio corpo e curiosidade com o corpo do outro. A criança descobre que obtém prazer pela estimulação dela mesma em determinadas zonas de seu corpo,em especial as zonas genitais, o que costuma gerar constrangimentos por parte de professores e familiares. Freud denominava 48 esse processo de autoerotismo. Nesse período, a criança passa por conflitos inconscientes entre seus impulsos biológicos inatos e as exigências sociais, já que as pessoas reprimem essa manipulação. Convém ressaltar que o processo de descoberta do corpo e do prazer que o mesmo proporciona nesta fase é normal e os adultos devem tentar intervir com naturalidade para minimizar os comportamentos exploratórios excessivos e públicos por parte da criança. Observa-se que nas fases anteriores só os impulsos biológicos estavam em jogo. Os mecanismos de defesa foram definidos por Freud como medidas extremas para se aliviar a tensão quando o ego se vê sob a pressão excessiva da angústia. Segundo Hall e Lindzey (1984, p.38): Todos os mecanismos de defesa possuem duas características em comum: 1) negam, falsificam ou distorcem a realidade; 2) operam inconscientemente, de sorte que a pessoa não tem consciência do que está ocorrendo. Citamos que na latência, o mecanismo de defesa característico é a sublimação, que consiste, em linhas gerais, no fato da criança, neste momento, ter suas pulsões sexuais da fase anterior – fase fálica – canalizadas para outras atividades, como as acadêmicas e culturais (LAPLANCHE; PONTALIS, 1988). Assim, compreendemos porque do ponto de vista psicossexual, da libido, da energia, é por volta dos 6 anos – fase da latência – que a criança encontra-se em condições de ingressar-se na educação básica e de ser alfabetizada. Antes dessa fase, sua libido estaria toda direcionada à região genital, seu prazer seria atingido pela curiosidade e pelo autoerotismo, portanto, a aprendizagem não seria satisfatória. Por outro lado, na fase da latência, observa-se na tabela que a libido não está localizada em nenhum órgão do corpo, ou seja, a libido se desloca para fora do corpo, permitindo à criança a satisfação por vias exteriores a ele, como as intelectuais. Outro mecanismo de defesa citado na tabela anterior que acontece na fase genital é a identificação que consiste, em linhas gerais, num processo inconsciente, em que o indivíduo assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desta pessoa. Convém destacar que a personalidade constitui-se e diferencia-se por uma série de identificações (HALL; LINDZEY, 1984). 49 As fases oral, anal, genital e de latência ocorrem de maneira semelhante em ambos os sexos. Na fase fálica acontecem dois eventos marcantes – o Complexo de Édipo e o Complexo de Castração – os quais apresentam história e destino diferentes nos meninos e nas meninas. É muito importante conhecer os dois complexos para tentar compreender que as diferenças entre meninos e meninas não são apenas anatômicas e começam a ficar mais evidentes em sua personalidade na ocasião da elaboração desses complexos. O termo Complexo de Édipo foi citado por Freud a partir da leitura da “Trilogia Tebana”, em que Édipo matou seu pai e se casou com a mãe (JORGE; FERREIRA, 2002). Entende-se que, a partir de seus escritos sobre o complexo de Édipo e o complexo de castração, devemos fazer uma leitura crítica e realizar interpretações cuidadosas, para não corrermos o cuidado de cair naquela visão crítica de que “Freud afirmou que as crianças desejavam conscientemente manter relações sexuais com suas mães”. Como já foi explicado anteriormente, o sentido não é esse, ele teorizou a respeito de libido, de energia, de desejos inconscientes, portanto, aqui não iremos fugir da ideia inicial. Inicialmente, há o interesse precoce da criança pelos órgãos genitais. Aqui, a diferença genital não conta, porque a criança fabrica a fantasia de que todos os seres humanos têm o mesmo genital: o órgão sexual masculino. Depois, vem o período em que ela se depara com a diferença entre os sexos: tanto ela quanto os adultos se dividem entre aqueles que têm pênis e aqueles que não têm. Dessa constatação advêm fantasias: ameaça de perder o pênis para os meninos e esperança de vir a tê-lo para as meninas. Freud afirma que essa fantasia tem a função de reparar a decepção de um deslocamento: existem seres humanos desprovidos de uma parte preciosa. O desmoronamento da prevalência do órgão sexual masculino inaugura o complexo de castração. Desta forma, o complexo de castração se apresenta indissociável do complexo de Édipo (JORGE; FERREIRA, 2002, p.47-48). a) Complexo de Édipo e angústia de castração no menino: A síntese a seguir mostra o caminho que o menino percorre para a resolução de seu complexo de Édipo e para lidar com a angústia de castração. • O menino deseja possuir a mãe e afastar o pai. • Alternância entre amor e ódio pelos pais. • Mãe: primeiro objeto de amor. • Teme ser castigado pelo pai (por desejar a mãe): angústia de castração. 50 • Reprime o desejo sexual em relação à mãe e sua hostilidade em relação ao pai. • Identificação com o pai. • Repressão do Complexo de Édipo: superego: garantia contra o incesto e a agressão. No menino, o drama edípico se articula com a entrada no complexo de castração: “Se alguns têm pênis e outros não, logo eu que tenho, posso perdê-lo”. Aqui, entra em cena a função do pai que é interditar a mãe. Essa proibição, núcleo do sentimento de culpa, conduz o menino à renúncia da mãe e à identificação com o pai. Logo, identificação viril – que se realiza pela internalização do pai como ideal do eu – e substituição da mãe pelas mulheres resultam na resolução do complexo de Édipo e na saída encontrada para o complexo de castração (JORGE; FERREIRA, 2002, p.48-49). b) Complexo de Édipo e complexo de castração na menina A síntese a seguir mostra o caminho que a menina percorre para a resolução do drama edípico e para lidar com a constatação da sua castração. • Objeto de amor inicial: mãe. • Descobre que o menino tem o pênis e ela não tem. • Culpa a mãe por sua castração. • Deslocamento para o pai, pois ele possui o falo. • Amor pelo pai e pelos homens: mesclado pela inveja do pênis. • Complexo de castração: ela imagina que teve um pênis e o perdeu. • Compensação da falta do pênis com o nascimento de um filho homem. • O complexo de castração dá início ao Complexo de Édipo, que tende a persistir. • Na menina o complexo não é tão fortemente reprimido como no menino, fundamentando as diferenças psicológicas entre os sexos. Em relação à menina, a resolução do drama edípico se efetua não pela saída encontrada pelo menino para o complexo de castração, mas com o fato de se deparar com sua própria condição anatômica, experimentada como castração: “Nunca tive pênis, logo nunca poderei vir a tê-lo”. Isto implica numa dupla renúncia: ao pênis e à fantasia erótica de ter um filho com o pai (JORGE; FERREIRA, 2002, p.49). 51 Compreender essas diferenças entre menino e menina, assim como o que acontece com a libido no processo de latência e alguns mecanismos de defesa é muito pouco diante da extensa teoria psicanalítica, mas é um pouco necessário ao profissional da educação, que irá lidar com crianças em diferentes fases de desenvolvimento. Essas breves pinceladas sobre a psicanálise não deixarão o educador atônito ao se deparar com uma criança na fase fálica explorando seus órgãos genitais, ou, ao mesmo tempo, compreenderá, por via de uma outra teoria, não pedagógica, por que forçar a alfabetização antes da idade recomendada pode não ser benéfico para a criança, assim como pode não ser recomendável a retirada das fraldas por volta dos oito meses, como muitos pais o faziam. Associando-se a psicanálise à educação pode-se refletir que: O trabalho educativo orientado pela Psicanálise reconhece a individualidade de cada aluno e que não existe modelo único, nem um sistema fixo de representações.Utiliza-se uma ética baseada no respeito às diferenças individuais como único meio de se atingir a igualdade social. A ética do respeito e do reconhecimento (CASSINS, 2007, p.29). 52 UNIDADE 4 – PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM Até este momento, procurou-se definir a psicologia e seu campo de estudo; o Behaviorismo e a Psicanálise, que trazem importantes contribuições para a formação teórica e, consequente, aplicação prática do educador. Definiu- se também a psicologia da educação e escolar, procurando estabelecer uma diferenciação entre a práxis do psicólogo escolar e as contribuições que a psicologia da educação têm a oferecer para o educador e os profissionais que atuam na escola. Para isso, precisamos compreender um pouco mais o processo de desenvolvimento humano e algumas teorias psicológicas, como a psicanálise de Freud, e as que fazem ponte entre a psicologia e a educação, como as teorias de Piaget e Vygotsky. A partir de agora, pretende-se enfocar o aluno dentro do paradigma da psicologia da aprendizagem, compreendendo esta dentro de um viés cognitivo, social e afetivo. Serão enfocados conceitos, teorias, dificuldades de aprendizagem e possibilidades que podem ser oferecidas pela psicologia sempre em interface com a educação. A aprendizagem acontece desde o momento do nascimento, mas a escola é o local destinado à educação formal. A citação a seguir ilustra isso: A aquisição da linguagem escrita é um objetivo básico a ser alcançado na fase inicial de escolarização e dela depende o sucesso da aprendizagem escolar nas fases posteriores da escolarização. Desde o momento em que a criança inicia sua vida escolar, a aprendizagem da leitura e da escrita se torna o objetivo principal, inicialmente em função da alfabetização, que marca a entrada da criança em um novo mundo, onde ela pode ser mais autônoma, por ser capaz de ler informações importantes e entender melhor o que está à sua volta, como também, a partir desse conhecimento, buscar formas de desenvolver essa nova capacidade. Assim, após a aprendizagem dessas habilidades, no decorrer dos anos da vida acadêmica, a leitura/escrita continua sendo fundamental para o ensino e a aprendizagem de diversas disciplinas. (HAGEN; MIRANDA; MOTA, 2010, p.149). 4.1 Aprendizagem e psicologia da aprendizagem Gazzaninga e Heatherton (2005) definem aprendizagem como uma mudança relativamente duradoura de comportamento que acontece quando os indivíduos se beneficiam da experiência para assim tornarem seus 53 comportamentos futuros mais adaptados ao ambiente. Há mecanismos biológicos similares envolvidos na aprendizagem e na memória. Como já foi apresentado anteriormente nesta apostila (quando se estudou o behaviorismo), a aprendizagem pode ocorrer através de reforços – que são estímulos posteriores a uma determinada resposta e que aumentam a probabilidade desta resposta ser repetida. Esse tipo de aprendizagem, ou condicionamento, pode acontecer tanto em humanos, quanto em animais. Recapitulando a aprendizagem por condicionamento: O condicionamento clássico envolve a associação aprendida entre estímulos neutros e reflexivos. O condicionamento operante é uma forma de aprendizagem em que os estímulos que se seguem a comportamentos determinam a probabilidade de os comportamentos serem repetidos. Os reforços positivos aumentam o comportamento ao proporcionar uma recompensa, ao passo que os reforços negativos aumentam o comportamento ao remover um estímulo aversivo. O reforço contínuo é melhor para a aquisição de um novo comportamento, enquanto o reforço parcial, especialmente o reforço de razão variável, é mais resistente à extinção. A punição só é efetiva quando é aplicada imediatamente após o comportamento indesejado. A punição muitas vezes é utilizada de modo inefetivo e tem uma série de consequências indesejáveis. A biologia impõe limites para que os animais podem aprender, e os animais têm dificuldades em adquirir comportamentos que são incompatíveis com respostas adaptativas evolutivas (GAZANINGA; HEATHERTON, 2005, p.198). Ensinar através de condicionamentos é uma forma eficaz, porém, aprender através de condicionamento, reforços e punições não é a única estratégia existente. Bandura propôs a teoria da aprendizagem social, a qual postula que a aprendizagem, em especial das crianças, ocorre pela observação e imitação de modelos. Nessa teoria, o aprendiz aparece com um papel ativo sobre o ambiente. De acordo com a teoria de Bandura, as crianças escolhem quem irão observar, mesmo que o modelo não esteja presente no momento, sendo que a escolha do modelo a imitar é influenciada pelas características do modelo, pela escolha, pelo ambiente, ou, por exemplo, se o comportamento é valorizado pela cultura. Segundo a teoria da aprendizagem social, a imitação de modelos é o elemento mais importante na forma como as crianças aprendem uma língua, lidam com a agressividade, desenvolvem um senso moral e aprendem comportamentos apropriados ao gênero (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.73-74). 54 Essa linha teórica é importante para embasar teoricamente, por exemplo, os estágios de observação, onde, após estudar teoricamente, o próximo passo do estagiário é observar os profissionais executarem as tarefas para que apenas futuramente ele possa desempenhá-las. Num momento anterior desse material, fornecemos definições sobre psicologia da educação e escolar e qual o papel do psicólogo educacional/escolar na equipe multiprofissional da escola. Porém, temos também a psicologia da aprendizagem, cuja definição está mais voltada para os processos psicológicos relacionados à aprendizagem em si, como mostra a citação a seguir. A Psicologia da Aprendizagem estuda o complexo processo pelo qual as formas de pensar e os conhecimentos existentes numa sociedade são apropriados pela criança. Para que se possa entender esse processo é necessário reconhecer a natureza social da aprendizagem (OLIVEIRA; DAVIS, 1994, p.21). 4.2 Processos psicológicos do estudante e a aprendi zagem Definimos brevemente o que é a aprendizagem – um campo de estudo da psicologia e também área de interesse do educador. Entender como ocorre a aprendizagem é essencial para compreendermos, por exemplo, o que causam as dificuldades de aprendizagem. Porém, antes de pensarmos nas dificuldades de aprendizagem, iremos aprofundar um pouco mais na questão de como as pessoas aprendem, ou melhor, como as pessoas pensam. A área da psicologia que estuda esse campo não é a psicologia escolar, mas a psicologia cognitiva, que é “o estudo de como as pessoas percebem, aprendem, lembram-se e pensam sobre a informação” (STERNBERG, 2010, p.1). Em linhas gerais, pode-se afirmar que a Psicologia Cognitiva preocupa-se com os processos internos envolvidos em extrair sentido do ambiente e decidir que ação deve ser apropriada. São processos cognitivos a atenção, a percepção, a aprendizagem, a memória, a linguagem, a resolução de problemas, o raciocínio e o pensamento. Como os temas são bastante extensos e não haveria espaço disponível para abordarmos todos aqui nesta apostila, limitaremo-nos a discorrer acerca da atenção, memória e inteligência, processos cognitivos esses que estão muito próximos da prática do educador. Importante ressaltar que esses processos 55 cognitivos atuam conjuntamente a nível cerebral, sendo, muitas vezes, difícil compreender o funcionamento de um processo cognitivo isolado do outro. Atenção A atenção refere-se tipicamente à seletividade do processamento. É a direção da consciência, focalização. É a aplicação seletiva da sensibilidade a uma determinada porção dos fenômenos que nos afetam. Para estar atento, o indivíduo precisa abdicar a percepção de determinados estímulos para assim lidar de maneira eficaz com outros. “O estudo da atenção é o estudo de como o cérebro seleciona quaisestímulos sensoriais descartar e quais transmitir para níveis superiores de processamento” (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p. 175). Para Sternberg (2008, p. 71), a atenção tem papel importante no funcionamento psicológico do ser humano, ou seja, é fundamental para sobrevivência e adaptação. “Os fenômenos psicológicos da atenção nos possibilitam usar nossos recursos mentais limitados de forma sensata” (p. 72). O autor acrescenta que assim podemos nos focar em estímulos do nosso interesse e responder de forma mais rápida e precisa a esses estímulos, ou seja, interesse faz menção a uma característica que depende da vontade, da afetividade, que iremos aprofundar num outro momento. A atenção está também estreitamente ligada à memória. “É mais provável que nos lembremos de informações às quais prestamos atenção do que das que ignoramos.” (STERNBERG, 2008, p. 72) A atenção pode ser de dois tipos: focalizada (seletiva) ou dividida. • Atenção focalizada (seletiva): dentre mais de um estímulo, a pessoa seleciona aquele ao qual irá direcionar sua atenção. Exemplo: quando abrimos mão de músicas e conversas no celular para nos dedicar a estudar uma apostila. • Atenção dividida: dentre mais de um estímulo, a pessoa direciona sua atenção a todos eles. Exemplo: atenção necessária para dirigir (necessidade de prestar atenção a todos os retrovisores, volante, pedais, marchas, sons, entre outros). 56 Atualmente, ouve-se muito falar no TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – em alunos. Os sintomas principais são desatenção, hiperatividade ou ambos, o que pode influenciar negativamente no desempenho escolar do aluno. Quando é do tipo hiperativo costuma causar desajustes em toda a classe. Há a necessidade de avaliação por equipe multidisciplinar, composta principalmente por médico e neuropsicólogo, pois, atualmente, há vários casos de crianças com diagnóstico impreciso e que são medicadas de forma desnecessária, o que pode acarretar numa série de prejuízos. Importante destacar que o professor tem um importante papel no diagnóstico do TDAH, pois, na maioria das vezes, ele percebe os primeiros sintomas antes mesmo dos pais e deve relatar que há algo de errado com a criança. A grande questão é tentar não confundir TDAH, um transtorno real, biológico, que necessita de tratamento, com falta de limites, uma questão comportamental, que precisa ser corrigida, sem o uso de medicação (COUTINHO et al., 2009). Memória Assim como a atenção, a memória é imprescindível para o desempenho de tarefas escolares, de atividades cotidianas, assim como para a nossa sobrevivência em geral. Gazaninga e Heatherton (2005, p.216) definem memória como: [...] a capacidade do sistema nervoso de adquirir e reter habilidades e conhecimentos utilizáveis, permitindo que os organismos se beneficiem da experiência. [...] Todo nosso senso de self é aquilo que sabemos por nossa memória, nossas lembranças de experiências pessoais. Os autores levantam um ponto extremamente importante, o qual iremos reforçar: a memória é nossa identidade, pois somos aquilo que lembramos. A linguagem exerce um importante papel por ser um processo cognitivo relacionado com a memória e, além disso, por, junto dessa, atuar na formação da identidade de cada um. Izquierdo, na citação a seguir, reforça essa ideia: Memória é a aquisição, a formação, a conservação e a evocação de informações. O conjunto das memórias de cada um determina aquilo que se denomina personalidade ou forma de ser. Um humano ou um animal criado no medo será mais cuidadoso, introvertido, lutador ou ressentido, dependendo mais de suas lembranças específicas do que de suas 57 propriedades congênitas. Nem sequer as lembranças específicas dos seres clonados (como os gêmeos univitelinos) são iguais; as experiências de vida de cada um são diferentes. [...] O acervo das memórias de cada um nos converte em indivíduos. Em seu sentido mais amplo, então, a palavra “memória” abrange desde os mecanismos que operam nas placas de meu computador, até a história de cada cidade, país, povo ou civilização, e as memórias individuais dos animais e das pessoas. [...] Os seres humanos utilizam, a partir dos 2 ou 3 anos de idade, a linguagem para adquirir, codificar, guardar ou evocar memórias, as demais espécies animais, não (IZQUIERDO, 2006, p.9-12). Os estudiosos da memória dividem-na em diferentes sistemas, o que não será abordado aqui. Apenas iremos ressaltar dois tipos de armazenamento na memória que devem ser conhecidos pelo educador: a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. A memória de curto prazo possui capacidade limitada e contém informações na consciência por um período de tempo muito breve. Caso essas informações não sejam direcionadas para a memória de longo prazo elas serão perdidas (GAZANINGA; HEARTHETON, 2005). Já a memória de longo prazo contém informações que foram transferidas da memória de curto prazo, as quais pareceram úteis para o indivíduo que as armazenou. Para que a informação seja armazenada e mantida, alguns aspectos devem ser considerados, como, por exemplo, a repetição – estratégia bastante conhecida pelos estudantes (GAZANINGA; HEARTHETON, 2005). A emoção e o interesse afetivo também estão diretamente relacionados a uma boa memória, da mesma forma que a ansiedade prejudica o bom funcionamento da mesma (STERNBERG, 2010). Inteligência [...] inteligência é a capacidade para aprender com a experiência, usando processos metacognitivos para incrementar a aprendizagem e a capacidade de adaptar-se ao meio ambiente que nos cerca. Pode exigir adaptações diferentes no âmbito de contextos sociais e culturais diferentes (STERNBERG, 2010, p.474). Essa é uma definição bastante genérica sobre inteligência, conceito que não é unificado. Há testes para medir a inteligência, mas hoje em dia acredita-se que nem tudo pode ser testado e quantificado. Gazzaninga e Heatheton (2005) elucidam que uma série de estudos aponta que a inteligência sofre influência dos fatores genético e ambiental. 58 Pesquisadores acreditam que a inteligência é um construto unificado, ou seja, existem pessoas muito inteligentes de maneira geral ou pouco inteligentes de maneira geral; por outro lado, outros teóricos enfatizam a existência de inteligências múltiplas, o que torna a definição menos segregatória. Há também o conceito de inteligência emocional, o qual, em linhas gerais, articula emoção e pensamento, bastante utilizado na atualidade. Compreender a inteligência e como ela se manifesta de diferentes formas, em diferentes níveis, nos estudantes é um grande desafio para o professor. Um desses modelos de inteligência, proposto por Gardner, denominado como teoria de inteligências múltiplas (STERNBERG, 2010), apregoa que a inteligência engloba vários constructos independentes, os quais juntos constituem a inteligência. As nove inteligências de Gardner estão expressas no quadro a seguir: Tabela 05: Inteligências múltiplas de Gardner e des crição Fonte: Henneman (2012). Em relação às inteligências múltiplas e o papel do educador Maia (2008, p.89) conclui que: Com sua teoria, Gardner busca salientar a pluralidade da mente e a ineficácia da medição, da classificação e da hereditariedade. Diferentes inteligências fazem partes da constituição do sujeito, o que significa que os sujeitos possuem inteligências diferenciadas a serem trabalhadas e 59 valorizadas. Cabe à família, à sociedade e ao educador, principalmente, desenvolvê-las e respeitá-las. Seria positivo falar nesse material sobre os outros processos cognitivos, já que todos possuem relação com a aprendizagem, porém, devido às limitações de espaço isso se torna inviável. O professor precisa ter em mente que todos os processos cognitivos – percepção, atenção, memória, inteligência, linguagem – sãoprocessos complexos e inter-relacionados. Devido a essa relação íntima entre os processos cognitivos, conseguimos compreender, por exemplo, que uma queixa de falta de memória pode ser, na verdade, um problema da ordem da atenção. Mesmo sendo processos cognitivos, sofrem influência dos estados emocionais do indivíduo, o que justifica, por exemplo, o “branco” que acontece na hora da prova mesmo após horas de estudo e conhecimento da matéria. 4.3 Teorias da Aprendizagem: aprendizagem de crianç as (Piaget e Vygotsky) X aprendizagem de adultos (Knowles): Quando verificamos as teorias construtivista (Piaget) e sócio-histórica (Vygotsky), é possível perceber que as mesmas enfocam a aprendizagem da criança e do adolescente. Piaget refere-se ao desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente, embasou sua teoria com a observação de crianças, enquanto que Vygotsky teorizou acerca de questões desenvolvimentais que ocorrem na infância (como a aquisição da linguagem). O construtivismo, como já foi citado em outras seções desse material, é um referencial muito difundido para o ensino e a aprendizagem e pode ser compreendido como: A interpretação construtivista em sentido estrito dá ênfase aos processos individuais e endógenos de construção do conhecimento e apresenta a atividade autoestruturante do aluno – atividade cuja origem, organização e planejamento correspondem ao aluno, para que este possa realizar uma verdadeira aprendizagem. Desde modo, a ação pedagógica terá como finalidade criar um ambiente rico e estimulante no qual ele possa se desenvolver sem limitações à sua atividade autoestruturante (COLL; MARTI, 2004, p.57). 60 Autores como Osterman e Cavalcanti (2010) afirmam que as ideias de Piaget são utilizadas para o ensino de Física e Ciências em geral, pois ele mostrou que as crianças aprendem espontaneamente sobre o mundo físico em determinadas fases de seu desenvolvimento cognitivo (o que foi ilustrado na seção sobre os estágios de Piaget). Porém, mesmo com esse exemplo sobre o ensino de física, outros autores mostram como o construtivismo de Piaget continua sendo uma preferência para os anos iniciais de escolarização: A interpretação construtivista em sentido estrito da aprendizagem escolar inspirou programas pedagógicos dirigidos fundamentalmente à educação pré-escolar e aos primeiros anos do ensino fundamental. [...] A maioria dos conteúdos que se trabalham na escola, sobretudo a partir de um certo nível de escolaridade, possuem um nível de complexidade tal que é muito difícil sua assimilação sem um tipo de ajuda muito mais direta e focalizada que aquela que parece sugerir a formulação exposta (COLL; MARTI, 2004, p.57). Ao recapitular a perspectiva sócio-histórica de Vygotsky, observa-se que o teórico enfatizou a importância da mediação, dos signos, da formação de conceitos, da linguagem, da zona de desenvolvimento proximal, da afetividade. É destacada, portanto, a importância da figura professor como identificação/modelo e como elemento-chave nas interações sociais do estudante. Os sistemas de signos, a linguagem, os diagramas que o professor utiliza têm um papel relevante na psicologia vygotskyana, pois a aprendizagem depende da riqueza do sistema de signos transmitido e como são utilizados os instrumentos. O objetivo geral da educação, na perspectiva vygotskyana, seria o desenvolvimento da consciência construída culturalmente (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010, p.28). Até aqui discutimos várias teorias a respeito de como se ensinar crianças, mas será que apenas os pequenos desejam aprender? Os adultos também não apresentam os mesmos processos cognitivos e os mesmos interesses? Será que os métodos para ensinar as crianças são os mesmos para ensinar os adultos? Carvalho et al. (2010) fazem uma relevante diferenciação entre a pedagogia e a andragogia. Enquanto a pedagogia, em linhas gerais, pode ser compreendida como educação para crianças – indivíduos que, devido às características de seu desenvolvimento, são mais dependentes de cuidados por partes de terceiros, como, por exemplo, a atenção dispensada por seus professores, por outro lado, a andragogia consiste na arte de ensinar o adulto a aprender (apud KNOWLES, 1970). A tabela a seguir expõe algumas diferenciações básicas entre a pedagogia e a andragogia: 61 Tabela 06: Modelo Andragógico X Modelo Pedagógico Fonte: Noffs, Rodrigues (2011, p.287). Mesmo com essa conceituação defendida por teóricos como Knowles, ainda há um debate equivocado de teóricos que falam sobre a pedagogia do adulto, criando um grande equívoco contextual, como apontam Carvalho e colaboradores (2010), os quais afirmam a importância dos profissionais da educação investigarem o tema para terem subsídios teóricos suficientes e não cometerem enganos como esse. O adulto, diferentemente da criança, é mais independente, carrega consigo uma bagagem maior de experiências de vida – a qual não pode ser descartada no processo de aprendizagem. Assim, a metodologia de ensino direcionada ao adulto deve ser mais centrada no aluno, que pode ser autogestor de sua aprendizagem. O aluno, a partir de suas vivências, tem condições de escolher o que deseja aprender, de modo mais prático e aplicado à sua realidade. Cabe ao professor buscar aplicar os conteúdos à realidade de seus alunos (CARVALHO et al., 2010; NOFFS; RODRIGUES, 2011). Quando se olha a aprendizagem de adultos através da andragogia, vê- se que o papel do professor como é tradicionalmente conhecido, deve ser revisto. Os alunos adultos são conscientes de suas habilidades e experiências, e exigem seu maior envolvimento no processo de aprendizagem. O professor deve transformar-se em facilitador, em agente de transformação (CARVALHO et al., 2010, p.88). 62 4.4 Afetividade, autoestima, relações interpessoais e aprendizagem Além da importância dos processos cognitivos – tais como a atenção, a percepção, a memória, a linguagem, a inteligência, a criatividade, a resolução de problemas – para a aprendizagem, a psicologia também enfatiza a relevância de outros aspectos, tais como a afetividade, a autoestima e os relacionamentos interpessoais (com o professor, com os familiares e os colegas) para uma boa aprendizagem. Assim como os aspectos cognitivos, esses assuntos, por si só, poderiam ser temas de uma única apostila e não são os únicos fatores que não possuem relação direta com a cognição e influenciam na aprendizagem, porém, devido às limitações de espaço, os mesmo serão explorados de maneira sucinta nessa seção do material. Afetividade Importante partir do pressuposto de que a afetividade e a cognição possuem, cada uma delas, sua parcela de importância no que diz respeito à aprendizagem. Investigando diferentes referenciais teóricos, é comum observar que, a exemplo do que acontecia com a antiga discussão entre corpo e alma, razão e emoção, as duas entidades acabam por parecer antagônicas, ou uma extremamente dependente da outra. A citação a seguir explica melhor esse debate: Podemos notar, então, que, para algumas abordagens, a razão parece estar submetida à afetividade (conforme algumas interpretações do modelo freudiano, por exemplo), ou vice-versa (conforme algumas críticas feitas à abordagem piagetiana do assunto). Assim, consideramos muito importante rever os estatutos e os papéis atribuídos aos aspectos afetivos e cognitivos, nas diferentes teorias para empreender uma com- preensão para além da visão dicotômica da natureza humana (SOUZA, 2011, p.50). Souza (2011) disserta sobre a questão das relações entre a afetividade e a inteligência no desenvolvimento psicológico nas teorias de Piaget, Vygotsky, Freud e Wallon. Como nesta apostila optamos por não abordar a teoria de Wallon, iremos compilar algumas das importantes considerações da pesquisadora a respeito das teorias dos outrostrês teóricos. 63 Vygotsky realizou uma crítica a esta separação entre os aspectos intelectuais e afetivos, propondo uma união entre os dois processos. Segundo ele, o pensamento origina-se na motivação, que inclui necessidades, interesses, afeto e emoção. Desta forma, ele explica que uma das bases do pensamento é afetiva (OLIVEIRA, 1992b). O ponto onde se encontram afetividade e inteligência, para Vygotsky, é na palavra, quanto aos seus dois componentes essenciais: o significado e o sentido. Sabemos que o estudo das funções cognitivas superiores tomando como referência a intervenção da mediação cultural, especialmente aquela propiciada pela linguagem e tendo como objeto de estudo a consciência humana, foi o foco de Vygotsky. [...] A palavra possui, então, dois elementos: o significado e o sentido. O primeiro refere-se a um sistema de relações objetivas que formam uma espécie de núcleo estável, o qual pode ser compartilhado com outros indivíduos do mesmo grupo cultural. O significado está, assim, para Vygotsky, mais relacionado ao desenvolvimento dos processos cognitivos superiores. O sentido, por sua vez, se refere ao significado para cada indivíduo, que está, portanto, diretamente relacionado às suas vivências particulares, sendo assim o polo mais afetivo da palavra. A palavra reúne, então, de acordo com a teoria vygotskyana, subjetividade e intersubjetividade, razão e emoção, afetividade e cognição [...] (SOUZA, 2011, p.251-252) Segundo Souza (2011), Piaget define que o afeto é essencial, porém não suficiente no funcionamento da inteligência. Segundo ele, a inteligência depende dos afetos, pois, sem eles, não haveria motivação e interesses e, consequentemente, a formulação de problemas, necessária à inteligência. La Taille (1992b) acrescenta que a articulação entre inteligência e afeto realizada por Piaget envolve a questão do juízo moral. Já em relação à teoria freudiana, como elucidamos anteriormente, Freud discorreu muito sobre as pulsões, e não enfatizou a questão da inteligência. Nesse sentido, Souza (2011, p.252) conclui que: Se tivermos que estabelecer para o modelo freudiano uma tendência quanto às relações entre afetividade e inteligência, diríamos que se trata de uma relação de preponderância dos impulsos inconscientes sobre o funcionamento cognitivo e afetivo consciente. Foi possível concluir que Vygotsky postula uma relação de complementaridade entre afetividade e Inteligência, enquanto Piaget defende a ideia de correspondência entre ambas, ao passo que Freud apregoa que aspectos da ordem das pulsões (instintos) influenciam no funcionamento afetivo e cognitivo (SOUZA, 2011). 64 O profissional da educação deve compreender a importância da afetividade frente à aprendizagem. A afetividade não se reduz à positiva administração das relações interpessoais (assunto também importante e que será tratado a seguir), porém relaciona-se ao interesse, à motivação. Torna-se mais fácil compreender que o aluno tem maior facilidade em aprender o conteúdo que ele gosta mais, ou aquela matéria do professor que ele se identifica mais, ou presta mais atenção quando o professor fala um assunto que lhe desperta o interesse. Desta forma, torna-se mais fácil compreender que afetividade e cognição caminham juntas e podem facilitar ou dificultar a aprendizagem. Cabe ao professor saber usar a afetividade e a motivação como instrumentos de aproximação do aluno, não de repulsa do mesmo. Autoestima [...] a autoestima é o aspecto avaliativo do autoconceito, referindo-se a se a pessoa se percebe como tendo valor ou não, sendo boa ou má. São as respostas emocionais das pessoas ao contemplar e avaliar diferentes características suas (GAZZANINGA; HEARTHETON, 2005, p.416). A autoestima está relacionada ao autoconceito – o conhecimento que a pessoa possui sobre si mesma – e à consideração social percebida – ou seja, por exemplo, quando pessoas que ocupam lugar de importância na vida de determinadas pessoas as rejeitam ou humilham isso poderá resultar em baixa autoestima. O oposto também é verdadeiro (GAZZANINGA; HEARTHETON, 2005). Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), autoestima significa gostar de si mesmo de modo genuíno e altruísta; não se trata de excesso de valorização de si mesmo ou de arrogância e egocentrismo. Gostamos do que realmente somos, aceitando nossas próprias habilidades e limitações. O papel do outro é importante no desenvolvimento da autoestima, sejam eles familiares, amigos, ou mesmo desconhecidos. Afirmar que um sujeito possui uma autoestima elevada é o mesmo que dizer que ele tem um julgamento positivo de si mesmo. Miras (2004) acrescenta que alguns componentes do autoconceito, como a autoimagem e a aceitação social parecem ser determinantes no nível de autoestima e na citação abaixo, é possível observar como a autoestima relaciona-se diretamente com a aprendizagem. 65 A inegável influência dos êxitos e dos fracassos acadêmicos no autoconceito e na autoestima do aluno tende a ser concebida muitas vezes de maneira excessivamente lógica e racional, esquecendo que as representações que se tem sobre si mesmo, e em particular as crenças sobre suas capacidades, estão estreitamente ligadas às necessidades básicas de controle e à habilidade de sentir-se bem consigo mesmo. Desse modo, a necessidade de manter um autoconceito e uma autoestima aceitáveis leva a pessoa a procurar modelar o ambiente para que se adapte às próprias expectativas e necessidades, evitando, na medida do possível, os fatos e as situações que podem fazer com que se sinta mal consigo mesma. Esse viés autoprotetor explicaria em parte por que os alunos com um autoconceito acadêmico pobre e um nível de autoestima baixo são os mais reticentes em pedir ajuda ao professor, ou também por que as normas do grupo de iguais, em particular o grau em que valorizam ou se mostram hostis diante do êxito acadêmico, determinam a interação e a busca de ajuda no contexto da sala de aula (KENNEDY, 1997 apud MIRAS, 2004, p.219-220). Cabe ao educador refletir sobre como o autoconceito de seu aluno e sua autoestima influenciam em sua aprendizagem ou em suas dificuldades de aprendizagem. Mais que isso, ele deve entender que a autoestima não depende apenas do autoconceito, mas de todo o contexto socioeconômico e cultural no qual o aluno está inserido, o que pode acabar por reforçar sentimentos positivos ou negativos acerca de si mesmo. Uma análise acerca da relação entre autoestima e a aprendizagem / fracasso escolar aponta que diferentes linhas de raciocínio foram traçadas até o presente momento, de onde é possível concluir que: Nesse momento, parece ser importante retomar os caminhos e descaminhos trilhados pela autoestima e aprendizagem até o presente momento. Destacamos, assim, algumas análises: a) as estritamente psicológicas; b) as que pautam a discussão, quase que exclusivamente, no plano sociológico; c) as atuais, que discutem o fato da produção do fracasso produzir, também, baixa autoestima que, por sua vez, mantém o fracasso escolar. Pensamos, portanto, que se a autoestima influencia a aprendizagem escolar, esta também incide sobre a autoestima e ambas são construídas na relação com o outro. (FRANCO, 2009, p.328) Quando se fala da não aprendizagem escolar, deve-se compreender que as crianças e jovens que vivem esses problemas necessitam de condições de vida – biopsicossociais – que lhe proporcionem a formação de uma linha de raciocínio mais organizada, ou seja, pensar apenas na autoestima sem considerar toda a rede de relações na qual o estudante está inserido é simplista demais. É importante construir uma imagem positiva de si enquanto aluno, porém, mais que isso, a educação deve também “formar indivíduos capazes de perceber o real e de superar a realidade” (FRANCO, 2009, p.332). 66 A autoestima é um assunto que já fazparte do senso comum, porém o educador deve tentar aprofundar os estudos sobre o tema em sua prática diária, ciente de que irá lidar com alunos de autoestima elevada, média e fraca. Como o professor é uma pessoa marcante para o aluno, certas atitudes e falas do mesmo poderão influenciar a autoestima do mesmo de maneira positiva ou negativa, o que pode ser perigoso, especialmente se estiver em jogo um aluno já com uma autoestima muito baixa. Uma visão mais detalhada do fracasso escolar será feita numa outra seção, porém fica a reflexão de que a baixa autoestima pode ser tanto causa como consequência desse fenômeno devastador para o aluno, o professor, a sociedade e a educação em geral. Relacionamentos interpessoais Os reacionamentos interpessoais – ou relações humanas – dependendo da denominação do autor são, como afirma Weil (2002), especialidades do psiquiatra, psicólogo, sociólogo, assistente social e educador especializado, porém esses relacionamentos se encontram presentes onde se encontram pessoas reunidas, sejam nas famílias, no trabalho, na educação, nas organizações em geral, enfim, em todos os locais. O estudo das relações humanas constitui, hoje, verdadeira ciência complementada por uma arte – a de obter e conservar a cooperação e a confiança dos membros do grupo […] Problemas de relações humanas se encontram nas relações do indivíduo com o grupo, dos indivíduos entre si, do grupo com outros grupos, do líder com o grupo, do indivíduo com o líder. Onde se encontram dois indivíduos há problema de relações humanas. Nas escolas, se o professor não for um líder dos seus alunos, quer dizer, se os alunos não gostarem dele e não o seguirem como Mestre, terá ele perdido a metade do seu trabalho. A Pedagoia Moderna utiliza-se dos trabalhos em grupos para conseguir maior interesse dos alunos e, por conseguinte, maior rendimento na aprendizagem (WEIL, 2002, p. 15). O autor ilustra de maneira explícita que o trabalho do professor não seria completo se este não souber administrar as relações humanas que se estabelecem no ambiente da sala de aula, ou seja, mais uma vez, a partir de um referencial teórico completamente diferente, que dessa vez não enfoca as teorias de aprendizagem abordadas anteriormente, compreendemos que a aprendizagem não se dá apenas pelos fatores cognitivos, mas também pela via da afetividade. 67 A citação a seguir serve para iniciar a discussão sobre o relacionamento interpessoal e a aprendizagem. O aluno é o maior interessado, o foco desse contexto, porém, uma série de relações é estabelecida para que uma via de comunicação eficaz seja executada: professores, familiares, diretores, supervisores, assistentes educacionais, comunidade, o aluno, dentre outros profissionais irão se relacionar em busca de atingir seus objetivos. E qual é esse objetivo? A aprendizagem, a educação, um bom relacionamento interpessoal. Quando a família e a escola mantêm boas relações, as condições para um melhor aprendizado e desenvolvimento da criança podem ser maximizadas. Assim, pais e professores devem ser estimulados a discutirem e buscarem estratégias conjuntas e específicas ao seu papel, que resultem em novas opções e condições de ajuda mútua (LEITE & TASSONI, 2002). A escola deve reconhecer a importância da colaboração dos pais na história e no projeto escolar dos alunos e auxiliar as famílias a exercerem o seu papel na educação, na evolução e no sucesso profissional dos filhos e, concomitantemente, na transformação da sociedade (POLONIA; DESSEN, 2005, p.304). A frase bastante conhecida do senso comum “O homem é um ser social” traz relevantes implicações para o estudo sobre as relações humanas. Iremos fazer uma reflexão sobre ela. Desde quando nos tornamos seres sociais? Bowlby desenvolveu importantes estudos sobre o vínculo estabelecido entre os bebês e seus cuidadores. Segundo ele, os bebês necessitam de cuidados de adultos para sobreviver, porém seu choro desencadeia no cuidador reações psicológicas, fisiológicas e comportamentais que os obriga a fornecer cuidados e consolo a esse recém-nascido. Como resposta a esse cuidado, com o desenvolvimento, o bebê começa e demonstrar reações de sorriso frente ao cuidador, criando assim a primeira interação social. Esse vínculo é denominado apego e se define como uma conexão emocional forte, íntima e persistente, que leva ao sentimento de segurança do bebê (GAZZANINGA; HEARTHETON, 2005). O educador deve compreender que o apego é a primeira interação social que a criança estabelece com alguém, normalmente com a mãe ou a cuidadora principal. Mesmo que essa criança não vá para a creche logo nos primeiros anos de vida é importante ter em mente que as implicações do apego em sua vida – a segurança, a confiança – provavelmente permanecerão como traços marcados 68 nas relações interpessoais que ele irá estabelecer ao longo de sua vida (GAZZANINGA; HEARTHETON, 2005). Essas primeiras relações da criança com os pais, posteriormente irão se aprimorar em relações sociais cada vez mais complexas, constituindo-se no processo de socialização primária, que é realizado pela família. Já no decorrer do desenvolvimento infantil, os contatos da criança se expandem além dos domínios domésticos e ocorre o processo de socialização secundária na escola, onde acontecem relações interpessoais com professores, colegas, ou seja, com pessoas fora do convívio familiar. Nesse sentido, Polonia e Dessen (2005) afirmam que tanto a família quanto a escola são instituições que atuam como impulsoras ou inibidoras do crescimento físico, intelectual e social das crianças. Cabe à família, a socialização da criança, ou seja, inserir a mesma no mundo adulto a partir do ensino da língua materna, dos símbolos e das regras de convivência em grupo. Já à escola cabe transmitir o saber formal, diferente do saber informal, repassado pelas famílias. A partir dos primeiros anos de vida a criança passa a se interessar pela companhia de crianças da mesma idade. A rejeição por parte dos colegas pode ser causa de violência escolar, por isso os programas de treinamento de habilidades sociais podem se mostrar positivos. Iremos aprofundar um pouco a respeito das habilidades sociais. Atualmente, já é de conhecimento das áreas afins da psicologia e da educação que o estudo e a promoção das habilidades sociais pode ser benéfica para todas as crianças, relacionando-se com a aprendizagem, o bom desempenho escolar, o desenvolvimento sócio-emocional e o ajustamento na escola (ROSIN-PINOLA et al., 2007). O termo habilidades sociais, geralmente utilizado no plural, aplica-se às diferentes classes de comportamentos sociais do repertório de um indivíduo, que contribuem para a competência social, favorecendo um relacionamento saudável e produtivo com as demais pessoas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005; p. 31). Ao mesmo tempo em que pais, professores e demais profissionais da área da educação sentem-se confusos diante dos comportamentos de crianças e adolescentes, estes também vivem numa sociedade marcada por uma série de cobranças, pressões e permissividade. Assim, para lidar com estas características 69 da sociedade atual, a criança precisa desenvolver um vasto repertório de habilidades sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005). Os programas de Treinamento de Habilidades Sociais na infância visam prevenir problemas nas crianças e atuam em duas vertentes: como alternativa de prevenção através da integração entre escola e família e sua associação com intervenções clínicas que visem à superação das dificuldades interpessoais e dos problemas relacionados (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005). Se o indivíduo consegue tornar-se mais competente, seu bem-estar psicológico aumenta e, consequentemente, ele terá maior capacidade para lidar com os fatores passíveis de provocar algum tipo de mal-ajustamento, assimcomo também poderá resistir a estes fatores de risco (DURLAK; WELLS, 1997). As interações que se desenvolvem no contexto educacional não são emocionalmente neutras, professores e alunos experimentam emoções positivas e negativas, ainda que os alunos acabem aprendendo a esconder suas emoções negativas para se adaptarem ao ambiente escolar (BOEKAERTS, 1996 apud MIRAS, 2004). Quando esses estados emocionais das relações interpessoais atingem certa intensidade em sala de aula, é provável que as partes envolvidas concentrem-se mais nos estados emocionais que nos aspectos cognitivos da tarefa desempenhada. Como assinalam Ratner e Settner (1991), a interação entre professores e alunos requer uma mutualidade e uma coordenação tanto de caráter cognitivo como afetivo e, nesse sentido, do mesmo modo que as emoções que experimentamos cumprem uma importante função autorreguladora, as emoções que percebemos nos outros proporcionam uma informação de vital importância para interpretar e regular nossas relações (MIRAS, 2004, p.221). A família pode ser responsável tanto pela aprendizagem quanto pelo fracasso do aluno, portanto, faz-se necessário que as escolas busquem cada vez mais a interação com as famílias, mesmo sabendo que isso não será fácil, que haverá resistências, porém o resultado final pode ser positivo para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo do aluno. A parceria pais- educadores deve ser buscada, mesmo com todas as diferenças encontradas, visando sempre adaptar-se uns aos outros e concentrar seus investimentos na criança (POLONIA; DESSEN, 2005). 70 4.5 Dificuldades de aprendizagem Definir dificuldades de aprendizagem não é tarefa simples. É um problema que atinge um número significativo de crianças e apresenta-se em diferentes tipos. A dificuldade pode ser específica, em apenas uma área (como, por exemplo, apenas na leitura ou apenas na matemática), ou pode ser geral, como no caso em que a criança apresenta um aprendizado mais lento em várias tarefas. Importante destacar que o diagnóstico das dificuldades de aprendizagem se dá através de avaliações e, caso alguma dificuldade seja realmente detectada, faz-se necessária a adoção de um programa de intervenção com o objetivo de sanar ou apenas minimizar a dificuldade (DOCKRELL; MCSHANE, 2000). As dificuldades podem ser transitórias ou permanentes, podem ser devido a condições orgânicas ou sensoriais (por exemplo, uma baixa visão que leva a uma consequente dificuldade na leitura). Deve-se compreender que os fatores do meio podem ser agravantes dessa dificuldade, estratégias educacionais ineficientes, dentre outros fatores (DOCKRELL; MCSHANE, 2000). Falar em dificuldades de aprendizagem implica em abordar a temática do fracasso escolar (já mencionada anteriormente, que se associa a múltiplos fatores, dentre eles à autoestima do estudante) e, consequentemente, da evasão dos estudos. De acordo com Carraher, Carraher e Schliemann (1988), a evasão e o fracasso escolar são grandes desafios do sistema educacional. Vários pesquisadores estudam a produção do fracasso escolar, sendo que há diferentes pontos de vista acerca dos responsáveis pelo problema, como o próprio indivíduo, a classe social, o sistema sociopolítico econômico e, finalmente, o fracasso é produzido pela própria escola. As crianças inseridas num contexto de privação cultural podem apresentar desajustes de natureza cognitiva, afetiva ou social. Nestas crianças é comum observar deficiências nas funções psiconeurológicas, embasamento para o desempenho de atividades de leitura, linguagem, matemática, autoconceito negativo, sentimentos de culpa e vergonha, problemas familiares e desconhecimento de sua própria cultura. Segundo esta concepção, os processos psicológicos desenvolvem-se em função da experiência do sujeito, em especial nos seus primeiros anos de vida. Outros fatores como os biológicos também 71 devem ser avaliados nesta visão mais ampla do fracasso escolar. Pode-se perceber que estes estão inter-relacionados, pois os efeitos da privação cultural, da má-alimentação e de uma saúde deficiente caminham paralelamente, mas não se podem generalizar os malefícios destes fatores em todas as crianças pertencentes a classes sociais menos abastadas. Carneiro, Martinelli e Sisto (2003) também fazem uma reflexão sobre os múltiplos fatores que resultam no fracasso escolar: Dentre as situações externas mais arroladas, podemos citar as causas de ordem socioeconômica das famílias dos estudantes, acarretando a necessidade do trabalho infantil, e as causas de ordem sócio- institucional, que vão desde as condições da estrutura física da escola quanto às questões administrativas, salariais, pedagógicas passando também pela formação do professor . Dentre os fatores de ordem interna ao indivíduo, destacam-se os relacionados ao desenvolvimento cognitivo e os de ordem afetivo-emocionais, motivacionais e de relacionamento (p.428). Quanto não resultam em fracasso ou abandono da escola, as dificuldades de aprendizagem nos primeiros anos de escolarização giram em torno da matemática ou da linguística – grandes aquisições relacionadas a essa fase inicial. Em relação à escrita, Carneiro, Martinelli e Sisto (2003) listaram estudos de autores que investigaram que as dificuldades podem ocorrer no campo da codificação e da composição da escrita, outros apontam as dificuldades relacionadas às habilidades metalinguísticas (tema que será abordado na seção a seguir). Sabemos não existir uma causa única ou um fator exclusivo que possa determinar as dificuldades de aprendizagem, porém, atualmente, tem-se reconhecido que as alterações do tipo afetivo-emocionais, motivacionais e de relacionamento interpessoal têm contribuído para o surgimento dos problemas de aprendizagem (BORUCHOVITCH, 2001; MARTINELLI, 2001; apud CARNEIRO; MARTINELLI; SISTO 2003, p.428). 4.6 Habilidades metalinguísticas A aprendizagem da leitura e da escrita é uma tarefa bastante complexa, visto que as duas habilidades são distintas e cada uma delas pode ser avaliada em vários níveis. 72 O termo “habilidade metalinguística” pode ser brevemente definido como a habilidade de refletir sobre a língua como objeto do pensamento (PRATT; GRIEVE, 1984 apud MOTA, 2009). Marec-Breton e Gombert (2004) afirmam que a escrita é composta de dois princípios: o princípio fonográfico, relacionado à correspondência entre as letras e os sons que compõem as palavras e o princípio semiográfico, que envolve a questão da constituição das palavras a partir dos seus morfemas. O princípio fonográfico relaciona-se aos fonemas a habilidade metalinguística relacionada é a consciência fonológica. Já o princípio semiográfico relaciona-se aos morfemas e a habilidade metalinguística relacionada é a consciência morfológica. A consciência fonológica é a capacidade de refletir intencionalmente sobre os sons que compõem a fala e manipular estes segmentos (ANTHONY; FRANCIS, 2005, CAPOVILLA; CAPOVILLA, 1998, 2000), sendo uma habilidade extremamente importante para a aprendizagem da leitura e da escrita de línguas alfabéticas (ANTHONY; FRANCIS, 2005). Por outro lado, a consciência morfológica é a habilidade de refletir sobre os morfemas que compõem as palavras e manipulá-los (CARLISLE, 1995), sendo uma habilidade metalinguística que contribui para a aprendizagem da escrita (CARLISLE, 1995; NUNES; BRYANT, 2006) como também na leitura de palavras individuais, na compreensão de textos (DEACON; KIRBY, 2004). Miranda e Mota (2011) realizaram um estudo e perceberam que muitos dos erros cometidos pelas crianças em tarefas de ditado eram devido às estratégias fonológicas, ou seja, as crianças escrevem como falam. Se as mesmas aprendessem a escrever a partir dos morfemas esses erros poderiam ser minimizados. O estudo das habilidades metalinguísticas, em especiala consciência morfológica, no Brasil ainda não é muito numeroso. As estratégias de alfabetização enfatizam, em sua maioria, estratégias fonológicas e parece ser um recurso válido, como acontece em várias línguas, como a inglesa, ensinar as crianças a respeito dos morfemas. Esta linha de pesquisa é uma área de 73 REFERÊNCIAS ANDRADE, Jorge Márcio Pereira de. Glossário. Banco de dados para e sobre pessoas com deficiência. Rio de Janeiro, 1999. Disponível em: http://www.defnet.org.br/ Acesso em 18 set. 2009. ANTHONY, J. L.; FRANCIS, D. J. Development of phonological awareness. Current Directions in Psychological Science, v.14, n.5, p.255-259, 2005. CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F. C. Treino de consciência fonológica de pré 1 a segunda série: Efeitos sobre habilidades fonológicas, leitura e escrita. Temas sobre Desenvolvimento, v.7, n.40, p5-15, 1998. CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F. C. Efeitos do treino de consciência fonológica em crianças com baixo nível sócio-econômico. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.13, n.1, p.7-24, 2000. CARLISLE, J.F. Morphological awareness and early reading achievement. In L.B. FELDMAN (Ed.), Morphological aspects of language processing (p. 189–209). Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1995. 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