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CONTABILIDADE DE 
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.a Paula Pontes de Campos Rasera 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, apresentaremos a função da regulação bancária, 
descrevendo os Acordos de Basileia e seus princípios. Analisaremos 
historicamente os eventos econômicos que levaram à criação do Comitê de 
Basileia. Em seguida, estudaremos o Patrimônio de Referência e o Índice de 
Basileia. Abordaremos as resoluções e circulares do Banco Central do Brasil que 
divulgaram as normas de Basileia I, II e III. Entenderemos a posição regulatória 
e financeira do Brasil bem como a metodologia aplicada para o cálculo do 
Patrimônio de Referência Exigido (PRE), ponderado pelo fator de risco. 
Assim, o primeiro tema se refere ao objetivo e histórico do Acordo de 
Basileia e no segundo trataremos sobre seus princípios. Em particular, no 
terceiro tema apresentaremos o Acordo de Basileia III, e o quarto tema refere-se 
ao Patrimônio de Referência e aos limites operacionais. Por fim, finalizaremos 
esta aula com o tema sobre a metodologia de apuração do Patrimônio de 
Referência. 
CONTEXTUALIZANDO 
A possibilidade de um episódio de risco sistêmico é uma das exigências 
de regulação bancária. Em contraste com outros setores econômicos, a quebra 
de uma instituição financeira pode se espalhar para outras instituições (efeito 
contágio), convertendo um problema local em global. Esse fenômeno verifica-se 
em duas fases. 
Como primeira fase, podemos considerar a ampla rede de ligações 
interbancárias, a qual possibilita a influência no sistema bancário pela solvência 
de uma instituição financeira. Na segunda, visto que as instituições financeiras 
compõem o sistema de pagamentos de uma economia, a tendência é a 
propagação da crise do sistema bancário para a economia como um todo. Por 
essa razão, com o propósito de impedir ásperas consequências, o regulador atua 
no nível individual, bancário, apesar de que o escopo final seja evitar a crise 
sistêmica. 
Há pouco tempo, a diligência dos reguladores para cuidar da saúde do 
sistema financeiro se limitava a controlar as reservas dos bancos. O objetivo era 
reduzir os riscos oriundos da perda de confiabilidade do público na capacidade 
de cumprir suas obrigações com os clientes. Assim, de forma característica, a 
 
 
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regulação financeira foi administrada pelas autoridades nacionais – Bancos 
Centrais – com posição altamente prudencial, focada no risco de liquidez. No 
entanto, com o advento do Acordo de Basileia em 1988, criou-se um marco 
regulatório, com regras de âmbito internacional e focado no risco de crédito 
(inadimplência) dos clientes. 
Teoricamente, o princípio da regulação se fundamenta no conceito de 
poder do governo e de que o setor privado não dispõe, tal como o poder 
coercitivo e a prescrição de medidas de represália. Em consequência do 
exercício procedente do marco regulatório, o monitoramento dos bancos pelo 
governo deve ser efetuado para assegurar a conformidade às regras. Em virtude 
do alto custo desse acompanhamento, o governo pode organizar controles 
indiretos, elaborando formas de incentivo e impondo restrições e/ou definindo 
padrões prudentes de conduta (Prudential standards). Por fim, o governo tem 
como objetivo adequar uma estrutura regulatória que impeça ou, ao menos, 
controle as insolvências, limitando-as. 
TEMA 1 – ACORDO DE BASILEIA – OBJETIVO E HISTÓRICO 
Em 1971, os Estados Unidos comunicam o rompimento com o Acordo de 
Bretton Woods, encerrando, além da conversibilidade do dólar em uma taxa fixa 
em ouro e um ciclo de prosperidade econômica, financeira e comercial. Dá-se 
início a um período de instabilidade e insegurança no mercado financeiro 
internacional. Com o novo regime de taxas cambiais flutuantes, as reservas em 
moedas estrangeiras sofrem uma redução significativa nas instituições 
financeiras (IFs), provocando falências na Alemanha Ocidental (Bankhaus 
Herstatt), nos EUA (Franklin National Bank of New York), e na Inglaterra (Israel 
Bank – London) (Assaf Neto, 2018; BCBS, 2014). 
Em reação a esses eventos, no final de 1974, foi criado o Comitê de 
Basileia (Committee on Banking Regulations and Supervisory Practices) pelos 
representantes do Bancos Centrais dos países do G-10 (Alemanha, Bélgica, 
Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Países Baixos, Reino Unido e 
Suécia). Sediado no Banco de Compensações Internacionais (BIS – Bank for 
International Settlements) na Basileia (Suíça), o Comitê da Basileia foi instituído 
com o objetivo de melhorar a estabilidade financeira, aprimorando a qualidade 
da supervisão bancária globalmente e prestar serviços para aperfeiçoamento da 
supervisão bancária e cooperação regular entre seus países membros. A 
 
 
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primeira reunião do Comitê da Basileia ocorreu em fevereiro de 1975 e, desde 
então, esses encontros realizam-se de três a quatro vezes por ano (BCBS, 
2014). 
No entanto, o Comitê de Basileia possui uma limitação: suas decisões não 
têm força de lei, mas apenas caráter sugestivo e norteador aos países membros 
(Anbima, 2010). Desde a sua criação, o Comitê da Basileia estabeleceu uma 
série de normas internacionais para regulamentação bancária, principalmente as 
publicações de referência dos acordos sobre adequação de capital, comumente 
conhecidas como Acordo de Basileia I, Acordo de Basileia II e, mais 
recentemente, Acordo de Basileia III (BCBS, 2014). 
No início, o propósito fundamental do trabalho do Comitê de Basileia era 
atenuar as lacunas presentes na supervisão das compensações internacionais 
para que 
1. nenhuma instituição bancária permanecesse sem supervisão; e 
2. houvesse supervisão adequada e consistente por parte dos bancos 
centrais nas instituições bancárias. 
Como estratégia inicial, o Comitê de Basileia, por intermédio das primeiras 
diretrizes da Concordata de Basileia (1975) e posteriormente revisado em 1983, 
estabeleceu princípios para: 
a. responsabilizar solidariamente países de origem e anfitriões de 
instituições bancárias estrangeiras; 
b. estabelecer a abordagem da supervisão bancária em todas as 
dependências bancárias estrangeiras; 
c. responsabilizar o país anfitrião pela liquidez da instituição bancária 
estrangeiro com sede em seu país; 
d. responsabilizar o país de origem em relação à inadimplência das 
agências, já para subsidiárias, responsabilizar o país anfitrião; 
e. participação das autoridades nacionais para troca de informações (BCBS, 
2014). 
Freitas e Prates (2006) consideram que, apesar do avanço significativo 
com a Concordata de Basileia, restava ainda o impasse entre países anfitriões e 
estrangeiros para o nível de responsabilidade exercida sobre os bancos. Essa 
situação decorria da austeridade de controle de certos países ainda resistentes 
 
 
5 
em transferir responsabilidades a autoridades estrangeiras, bem como falta de 
clareza nessas diretrizes, ocasionando interpretações divergentes e errôneas. 
Em abril de 1990, houve a emissão de um complemento à Concordata de 
Basileia de 1983, com a intenção de haver trocas de informações entre 
supervisores de participantes nos mercados financeiros. Esse complemento teve 
como objetivo aumentar o fluxo transfronteiriço de informações prudenciais entre 
os supervisores bancários. Posteriormente, em julho de 1992, alguns princípios 
da Concordata foram reformulados e publicados com os mínimos padrões de 
supervisão para instituições bancárias internacionais e seus estabelecimentos 
transfronteiriços (BCBS, 2014). 
Para Saddi (2001), esperava-se como resultado o não contágio dos 
países em desenvolvimento que enfrentavam uma situação de total insolvência. 
A particularidade inerente do sistema financeiro em relação a outros setores 
refere-se ao risco sistêmico, ou seja, há a possibilidade de um choque localizado 
em certo ponto do sistema financeiro afetá-lo comoum todo e conduzir uma 
economia inteira ao colapso. O pressuposto principal desse risco é a 
confiabilidade do setor. Em outras palavras, o mercado necessita confiar que as 
instituições financeiras cumprirão com as obrigações futuras. Portanto, uma vez 
que alguma instituição financeira sinaliza adversidades no cumprimento das 
obrigações, as demais IFs podem ser atingidas pela incerteza do mercado, e a 
retração se propaga como uma reação em cadeia (Carvalho, 2005). 
Corazza (2005) apregoa que a inquietação com a vulnerabilidade do 
sistema bancário internacional diante da reduzida capacidade regulatória global 
instaurou a passagem ao Acordo de Basileia de 1988. Com as novas regras de 
proteção, as diretrizes conduziam ao processo permanente de aperfeiçoamento 
da regulação e supervisão bancária globalizada, como se via pela constante 
inovação e transformação financeira. 
TEMA 2 – ACORDO DE BASILEIA – PRINCÍPIOS 
Após várias revisões, os princípios básicos do Comitê da Basileia para 
supervisão bancária mais recentes são de setembro de 2012 e incluem 29 
princípios. O documento revisado combina os Princípios Fundamentais e a 
metodologia de avaliação em um único documento abrangente. São abordados 
temas como poderes de supervisão, necessidade de intervenção precoce e 
 
 
6 
ações de supervisão oportunas, expectativas de supervisão dos bancos e 
conformidade com os padrões de supervisão. 
Esses princípios constituem a pedra angular da supervisão bancária e são 
uma estrutura lógica de padrões mínimos para práticas sólidas de supervisão 
além de universalmente aplicáveis. São 29 princípios básicos divididos em 2 
grupos. O primeiro grupo (princípios 1 a 13) trata dos poderes, responsabilidades 
e funções de supervisão, concentrando-se na supervisão eficaz baseada em 
riscos e na necessidade de intervenção antecipada e tempestivas ações de 
supervisão. O segundo grupo, por sua vez (princípios 14 a 29) trata da regulação 
prudencial que atende às expectativas de supervisão dos bancos e destaca a 
importância de uma boa governança corporativa e gestão de riscos, bem como 
a conformidade segundo os padrões de supervisão. 
Ademais, as boas práticas de governança corporativa sustentam uma 
eficaz gestão de riscos e proporcionam confiabilidade do mercado em 
instituições financeiras e no sistema bancário. Devido a falhas fundamentais 
apresentadas na governança corporativa das instituições financeiras durante a 
crise, um novo princípio fundamental sobre governança corporativa foi 
adicionado, reunindo critérios existentes de governança corporativa na 
metodologia de avaliação e dando maior ênfase a boas práticas de governança 
corporativa. Da mesma forma, o Comitê de Basileia reiterou o papel fundamental 
de um sistema bancário seguro e sólido, ampliando um dos princípios existentes 
em dois novos (respectivamente, maior divulgação e transparência pública), 
além de relatórios financeiros sofisticados e auditoria externa. 
Segundo o BCBS (2012), apresentamos a seguir os 29 princípios 
fundamentais para supervisão bancária: 
2.1 Poderes de supervisão 
 Princípio 1 – Responsabilidades, objetivos e poderes: um sistema efetivo 
de supervisão bancária tem responsabilidades e objetivos claros para 
cada autoridade envolvidos na supervisão de bancos e grupos bancários; 
 Princípio 2 – Independência, prestação de contas, recursos e proteção 
legal para supervisores: o supervisor possui independência operacional, 
transparência, boa governança, processos orçamentários que não 
prejudicam autonomia e é responsável pelo cumprimento de seus deveres 
e uso de seus recursos; 
 
 
7 
 Princípio 3 – Cooperação e colaboração: leis, regulamentos ou outras 
disposições proporcionam um quadro para a cooperação e colaboração 
com os autoridades nacionais e supervisores estrangeiros; 
 Princípio 4 – Atividades permitidas: as atividades permitidas e sujeitas a 
supervisão estão claramente definidas e a palavra “banco” é utilizada de 
forma controlada; 
 Princípio 5 – Critérios de licenciamento: a autoridade supervisora tem o 
poder de definir critérios e rejeitar pedidos de autorização de 
funcionamento que não atendam aos critérios; 
 Princípio 6 – Transferência de propriedade significativa: a autoridade 
supervisora tem o poder de rever, rejeitar e impor condições prudenciais 
a qualquer proposta de transferência posse ou participação em bancos 
para outras partes; 
 Princípio 7 – Principais aquisições: o supervisor tem o poder de aprovar 
ou rejeitar (ou recomendar à autoridade responsável a aprovação ou 
rejeição) e impor condições prudenciais a grandes aquisições ou 
investimentos de um banco, com base em critérios prescritos; 
 Princípio 8 – Abordagem de supervisão: um sistema eficaz de supervisão 
bancária exige que o supervisor desenvolva e mantenha uma avaliação 
prospectiva do perfil de risco de cada banco e grupo bancário, 
proporcionalmente à sua importância sistêmica; 
 Princípio 9 – Técnicas e ferramentas de supervisão: o supervisor usa uma 
gama apropriada de técnicas e ferramentas para implementar a 
supervisão; 
 Princípio 10 – Relatórios de supervisão: o supervisor coleta, revisa e 
analisa relatórios prudenciais e retornos estatísticos de bancos; 
 Princípio 11 – Poderes corretivos e sancionatórios dos supervisores: o 
supervisor age em estágio inicial para tratar de práticas inseguras ou 
atividades que possam representar riscos para os bancos ou ao sistema 
bancário; 
 Princípio 12 – Supervisão consolidada: elemento essencial da supervisão 
bancária é o supervisor que supervisiona o grupo bancário em uma base 
consolidada; 
 Princípio 13 – Relacionamentos de hospedagem domiciliar: supervisores 
de origem e do país de operação de grupos bancários transfronteiriços 
 
 
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compartilham informações e cooperam para a supervisão eficaz de as 
entidades do grupo e do grupo e o tratamento eficaz de situações de crise. 
2.2 Regulamentos e requisitos prudenciais 
 Princípio 14 – Governança corporativa: o supervisor determina que 
bancos e grupos bancários tenham políticas e processos robustos de 
governança corporativa para exame da direção estratégica; 
 Princípio 15 – Processo de gestão de risco: o supervisor determina que 
os bancos devem ter um processo abrangente de gestão de riscos para 
identificar, medir, avaliar, monitorar, relatar e controlar ou mitigar todos os 
riscos relevantes em tempo hábil e avaliar a adequação seu capital e 
liquidez em relação ao seu perfil de risco e mercado e condições 
macroeconômicas; 
 Princípio 16 – Adequação de capital: o supervisor define requisitos 
prudentes e apropriados de adequação de capital para os bancos que 
reflitam os riscos assumidos e apresentado por um banco no contexto dos 
mercados e condições macroeconômicas que opera; 
 Princípio 17 – Risco de crédito: o supervisor determina que os bancos 
tenham um processo de gestão de risco de crédito que leva em 
consideração seu apetite de risco, condições de mercado e 
macroeconômicas; 
 Princípio 18 – Ativos problemáticos, provisões e reservas: o supervisor 
determina aos bancos que tenham políticas e processos adequados para 
identificação e gestão de ativos problemáticos, e a manutenção de 
provisões e reservas; 
 Princípio 19 – Risco de concentração e grandes limites de exposição: o 
supervisor determina que os bancos tenham políticas e processos 
adequados para identificar, medir, avaliar, monitorar, relatar e controlar ou 
mitigar concentrações de risco em tempo hábil base; 
 Princípio 20 – Transações com partes relacionadas: para evitar abusos 
decorrentes de transações com partes relacionadas e para enfrentar o 
risco de conflito de juros, o supervisor exige que os bancos celebrem 
quaisquer transações com partes em condições de plena concorrência; 
 
 
9 
 Princípio 21 – País e riscos de transferência: o supervisor determina aos 
bancos quetenham políticas e processos adequados para identificar, 
medir, avaliar, monitorar, informar e controlar ou mitigar o risco-país e o 
risco de transferência de seus empréstimos e investimentos em tempo 
hábil; 
 Princípio 22 – Riscos de mercado: o supervisor determina que os bancos 
tenham processo adequado de gestão de risco de mercado que leva em 
conta seu risco apetite, perfil de risco, condições de mercado e 
macroeconômicas e o risco de deterioração significativa da liquidez do 
mercado; 
 Princípio 23 – Risco de taxa de juros na carteira bancária: o supervisor 
determina os bancos tenham sistemas adequados para identificar, medir, 
avaliar, monitorar, relatar e controlar ou mitigar o risco da taxa de juros na 
carteira bancária em tempo hábil; 
 Princípio 24 – Risco de liquidez: o supervisor estabelece liquidez prudente 
e apropriada requisitos aos bancos que refletem as necessidades de 
liquidez do banco, determinando aos bancos que tenham uma estratégia 
que permita uma gestão prudente da liquidez risco e cumprimento dos 
requisitos de liquidez; 
 Princípio 25 – Risco operacional: o supervisor determina que os bancos 
tenham adequada estrutura de gestão de risco operacional que leve em 
consideração seu apetite de risco, perfil de risco e condições 
mercadológicas e macroeconômicas; 
 Princípio 26 – Controle interno e auditoria: o supervisor determina que os 
bancos tenham estruturas de controle interno adequadas para 
estabelecer e manter um ambiente operacional controlado para a 
condução de seus negócios, levando em conta o seu perfil de risco; 
 Princípio 27 – Relatórios financeiros e auditoria externa: o supervisor 
determina que bancos e grupos bancários mantenham registros 
adequados e confiáveis, preparem demonstrações financeiras de acordo 
com as políticas e práticas contábeis que são amplamente aceitas 
internacionalmente e publiquem anualmente informações que reflitam sua 
condição financeira e desempenho e que tenham uma participação 
externa opinião do auditor; 
 
 
10 
 Princípio 28 – Divulgação e transparência: o supervisor determina que 
bancos e grupos bancários publicam regularmente informações sobre 
uma base consolidada e quando apropriado, base individual; 
 Princípio 29 – Abuso de serviços financeiros: o supervisor determina que 
os bancos tenham políticas e processos adequados, incluindo regras 
estritas de devida diligência ao cliente promovendo elevados padrões 
éticos e profissionais. 
TEMA 3 – ACORDO DE BASILEIA – O ACORDO DE BASILEIA III 
A eclosão da crise financeira internacional de 2007-2008, denominada 
crise do subprime (mercado de financiamento imobiliário), que conduziu ao 
colapso um dos maiores bancos americanos com atuação global, Leman 
Brothers, provocou sérias dúvidas sobre a efetividade do novo padrão mundial 
de regulação bancária prudencial, Basileia II, a qual assegurava a estabilidade e 
a solvência dos sistemas bancários (Romantini, 2012). 
A crise no mercado americano de financiamento imobiliário subprime 
propagou para além da economia norte-americana, contaminando demais 
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não obstante a vigência da 
regulação prudencial e dos Acordos de Basileia I e II, o contágio e risco sistêmico 
permaneceu evidenciado. 
Segundo o BCBS (2014), ainda antes da falência do Lehman Brothers, 
era aparente a necessidade de fortalecimento na estrutura fundamental do 
Acordo de Basileia II. O BCBS (2014) argumenta os motivos que desencadearam 
a crise no setor bancário: elevada alavancagem e inadequados amortecedores 
de liquidez. Esses fatores receberam influência de irregulares governança e 
gestão de riscos bem como estruturas de incentivos indevidos. A combinação 
arriscada desses fatores foi ratificada pela precificação incorreta dos riscos de 
crédito e liquidez e pelo crescimento excessivo do crédito. 
Após uma fase de intensas críticas, em setembro de 2010, o Grupo de 
Governadores e Chefes de Supervisão (GHOS) anunciou padrões mais altos de 
capital mínimo global às instituições financeiras, por meio do acordo alcançado 
em julho sobre o desenho geral do pacote de reforma de capital e liquidez, 
chamado Acordo de Basileia III. Em novembro de 2010, os novos padrões de 
capital e liquidez foram endossados pelos Líderes do G20 em Seul e 
 
 
11 
posteriormente acordados na reunião do Comitê de Basileia em dezembro 
(BCBS, 2018). 
Saiba mais 
O Grupo de Governadores e Autoridades de Supervisão (GHOS) é 
responsável pela supervisão do Comitê de Basileia. O Comitê de Basileia deve 
informar suas decisões e programa de trabalho ao GHOS, para que estes sejam 
aprovados (BIS, 2013a) 
Basileia III, divulgado em dezembro de 2010, é composto por dois 
documentos: 
 Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and 
banking systems (BCBS, 2011); e 
 Basel III: International framework for liquidity risk measurement, standards 
and monitoring (BCBS, 2014). 
As medidas trazidas por Basileia III são apresentadas pelo Comitê com 
base em uma interessante novidade em termos de estratégia regulatória: a 
distinção entre medidas de natureza microprudencial, de um lado, e medidas de 
natureza macroprudencial, de outro. As medidas microprudenciais têm como 
foco o banco individual. Por meio de medidas regulatórias dessa natureza, 
procura-se garantir a solvência de cada banco individualmente e, por 
consequência, a solidez do sistema bancário como um todo. Esse tipo de medida 
constitui a essência da estratégia regulatória inerente aos acordos anteriores: 
Basileia I e Basileia II. De acordo com Clement (2010), o objetivo de uma 
abordagem regulatória microprudencial seria definido de forma mais adequada 
em termos de proteção do depositante e do investidor. 
No Brasil, a adoção de Basileia III foi anunciada em março de 2013 pelo 
Banco Central, com o objetivo de “aperfeiçoar a capacidade das instituições 
financeiras de absorver choques, fortalecendo a estabilidade financeira e a 
promoção do crescimento econômico sustentável” (Oliveira, 2015). 
Segundo Basileia III, as inovações em relação à Basileia II fundamentam-
se no 
i. reforço dos requisitos de capital próprio das instituições de crédito; 
ii. aumento considerável da qualidade desses fundos próprios; e 
 
 
12 
iii. redução do risco sistêmico e um período de transição que seja suficiente 
para acomodar essas exigências. 
Leite e Reis (2013, p. 172) citam alguns objetivos do Acordo de Basileia 
III destacados pelo Comitê de Basileia: 
 Aumentar a qualidade do capital disponível para assegurar que os 
bancos enfrentem melhor as perdas; 
 Aumentar os requerimentos mínimos de capital, incluindo um aumento 
no capital principal de 2% para 4,5%; 
 Criar um colchão de conservação de capital e de um colchão anticíclico 
de capital, ambos em 2,5% cada; 
 Diversificar a cobertura do risco, incorporando as atividades de trading, 
securitizações, exposições fora do balanço e derivativos; 
 Introduzir uma taxa de alavancagem para o sistema e medidas sobre 
requerimentos mínimos de liquidez, tanto para o curto quanto para o 
longo prazo; 
 Aumentar a importância dos pilares II e III do acordo anterior no 
processo de supervisão e de transparência. Para isso, o Comitê propõe 
práticas para a gestão de liquidez, realização dos testes de estresse, 
governança corporativa e práticas de avaliação de ativos. Ainda, há a 
preocupação com a gestão e concentração de risco além da promoção 
de incentivos para que os bancos tenham uma melhor administração 
do risco e retorno orientados para o longo prazo. 
Em outras palavras, o propósito de Basileia III é colocar as seguintes 
obrigações aos bancos: 
 Retenção de maior volume de capital e ativos de alta qualidade para 
limitar os riscos que estão relacionados à concessão de crédito, bem 
como à negociação de ativos; 
 Aperfeiçoamento de seus processos de gerenciamento de risco; Disponibilização de ativos de alta qualidade; 
 Aumento de liquidez para provimento de cobertura de desencaixes em 
períodos de estresse e crises, e 
 Ampliação da transparência e disponibilidade de informações. 
Sob um ponto de vista macroeconômico, outro objetivo fundamental de 
Basileia III é obter “um sistema bancário mais forte e estável, além de diminuir a 
alocação ineficiente de recursos que acontece em períodos de excessivo 
crescimento de crédito” (Wellink, 2010, citado por Leite; Reis, 2013, p. 172). 
TEMA 4 – PATRIMÔNIO DE REFERÊNCIA E OS LIMITES OPERACIONAIS 
De acordo com a Basileia I, a Resolução n. 2.099/1994 do Banco Central 
do Brasil estabeleceu limites para as instituições financeiras que operam no 
mercado brasileiro. Esses limites referem-se ao valor mínimo para a constituição 
 
 
13 
do Patrimônio Líquido Exigido (PLE) das Instituições Financeiras que 
corresponde a 8% dos ativos ponderados por fatores de risco. Posteriormente, 
por meio da Circular n. 2.784/1997, esse índice é alterado para 11%. 
Esta é a principal característica de Basileia I: determinar o volume de 
capital para a provisão a ser mantida pela instituição financeira, de acordo com 
o nível de risco da operação ativa realizada. 
Os fatores de ponderação dos ativos de riscos são compostos pelas 
principais contas patrimoniais das instituições bancárias, conforme apresentado 
na Tabela 1: 
Tabela 1 – Ativo Ponderado pelo Risco (APR) 
Tipo de 
risco 
Fator de 
ponderação 
Principais ativos 
Nulo 0% Aplicações em operações compromissadas; 
aplicações com recursos próprios em CDI 
(instituições ligadas) e aplicações em títulos de 
renda fixa (títulos públicos federais e de 
instituições ligadas); disponibilidades de caixa; 
reservas livres depositadas em espécie no Banco 
Central etc. 
Reduzido 20% Aplicações em ouro físico (temporárias); cheques 
enviados ao Serviço de Compensação; créditos 
fiscais; disponibilidades em moedas estrangeiras 
etc. 
Médio 50% Aplicações em certificados de depósitos 
interfinanceiros (CDI) com recursos próprios em 
instituições financeiras e aplicações em títulos de 
renda fixa de outras instituições financeiras; 
aplicações em títulos emitidos por governos de 
outros países; financiamentos habitacionais etc. 
Normal 100% Aplicações em ações no exterior; operações de 
crédito; aplicações em títulos de renda fixa 
(debêntures e outros); negociações na bolsa de 
mercadorias e de futuros; empréstimos e títulos 
descontados; arrendamentos a receber etc. 
Fonte: Assaf Neto, 2018. 
Assim, para um capital próprio mínimo de 11% calculado sobre os ativos 
ponderados pelo risco (APR) mantidos pelos bancos, isso significa que, para 
cada R$ 100 de aplicações realizadas, a instituição deverá manter, no mínimo, 
R$ 11 (11%) em capital próprio. 
 
 
14 
No anexo IV à Resolução n. 2.099/1994, seu art. 2° retrata o cálculo do 
PLE (Patrimônio líquido exigida): 
PLE = 8% do APR 
APR = total do produto dos títulos do Ativo Circulante e Realizável a 
Longo Prazo (código 1.0.0.00.00-7 do COSIF) pelos fatores de risco 
correspondentes (+) produto do Ativo Permanente (código 2.0.0.00.00-
4 do COSIF) pelo fator de risco correspondente (+) produto dos títulos 
de Coobrigações e Riscos em Garantias Prestadas (código 
3.0.1.00.00-4 do COSIF) pelos fatores de risco correspondentes 
(Brasil, 1994) 
Essa adequação do capital das instituições financeiras quanto ao ativo 
ponderado pelo risco (APR) chama-se de índice de capitalização (Capital 
Próprio/APR) e tem por finalidade proteger os depositantes de: volatilidade dos 
indicadores; crises das IFs; novos instrumentos financeiros sofisticados; e, 
exposição das IFs a riscos inerentes à novos negócios. Dessa maneira, quanto 
maior o Índice de Basileia de uma instituição financeira, menor será a sua 
probabilidade de insolvência. Instituições financeiras com índices baixos 
costumam auferir taxas de retorno mais altas, porém convivem com maiores 
riscos de insolvência (Assaf Neto, 2018). 
Basileia II sustenta-se sobre três pilares básicos: 
1. exigência de capital; 
2. inspeção regulatória; e 
3. disciplina de mercado. 
Por meio da Circular n. 3.360/2007, ao adotar o Acordo de Basileia II, o 
BCB manteve em 11% o fator de ponderação aplicado ao ativo, ao passo que os 
padrões internacionais assumiam 8% para este parâmetro (Brasil, 2007). Por 
conseguinte, o índice de Basileia exigido das instituições financeiras brasileiras 
foi consecutivamente superior ao internacional. Esse fato contribuiu para a 
constituição de um colchão de conservação, assegurando solidez e resiliência 
das instituições financeiras brasileiras ao longo desse período (Anbima, 2010). 
Como já vimos há pouco, o Acordo de Basileia III apresenta em seu 
escopo uma interessante novidade em termos de estratégia regulatória: a 
distinção entre medidas de natureza microprudencial, com foco na instituição 
financeira, de um lado, e medidas de natureza macroprudencial, com visão 
sistêmica para regulação bancária, de outro (Romantini, 2012). 
Nesse contexto, cabe ressaltar as principais medidas apresentadas pela 
Basileia III, cujos instrumentos regulatórios dividem-se em dois grandes grupos: 
 
 
15 
i. fortalecimento da adequação de capital; 
ii. introdução de um padrão global de liquidez. 
Para o fortalecimento da adequação de capital, Basileia III divulga cinco 
conjuntos de medidas: 
a. aumento da qualidade da base de capital; 
b. melhora na cobertura de risco; 
c. introdução de um índice de alavancagem; 
d. introdução de colchões contra cíclicos; 
e. enfrentamento do risco decorrente da interconexão de instituições 
sistemicamente importantes. 
Ao passo que, para o segundo grupo, introdução global de liquidez, 
Basileia III evidencia dois índices para responder ao risco de liquidez: 
i. o Índice de Cobertura de Liquidez (LCR – Liquidity Coverage Ratio); e o 
ii. Índice de Financiamento Líquido Estável (NSFR – Net Stable Funding 
Ratio) (BCBS, 2011). 
Ao retratar a adequação de capital, o capital regulatório passa a ser 
formado por dois níveis, o capital de nível 1 (Tier1) e o capital de nível 2 (Tier2), 
eliminando o capital de nível 3 (BCBS, 2011). O mínimo do nível 1 deverá 
corresponder a 6% dos ativos ponderados pelo risco, e o mínimo do nível 2 
deverá ser 2%. Portanto, a soma dos dois níveis (Tier1+Tier2) representará no 
mínimo 8% dos ativos ponderados pelos riscos (Romantini, 2012). 
Podemos notar que, de acordo com os objetivos de Basileia III, o foco da 
regulação passou do capital regulamentar para o capital principal que representa 
relevante parcela na capacidade de absorção de choques pelas instituições bem 
como melhor qualidade. A Figura 1 detalha a nova categorização. 
Figura 1 – Representação do capital nos acordos Basileia II e III 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Anbima, 2010. 
Capital 
regulamentar 
Nível I 
Nível II 
Capital 
regulamentar 
Capital 
principal 
Capital 
adicional 
Nível I 
Nível I 
Basileia II Basileia III 
 
 
16 
A Figura 2 apresenta a nova estrutura de capital e respectivas alíquotas 
mínimas do ativo ponderado pelo risco, conforme apresentado em Basileia III. 
Figura 2 – Nova estrutura de capital e respectivas alíquotas mínimas do ativo 
ponderado pelo risco 
 Fonte: PWC, 2013 
Com a adoção de Basileia III, o Bacen está promovendo a convergência 
dos requerimentos aplicados no Brasil aos padrões internacionais, que, como 
veremos adiante, irão exigir dos bancos a manutenção de um índice mínimo de 
Basileia no intervalo de 10,5% a 13,0% (ou 15% para instituições de maior 
relevância sistêmica). 
TEMA 5 – METODOLOGIA DE APURAÇÃO DO PATRIMÔNIO DE 
REFERÊNCIA 
Conforme estudamos no tema anterior, o Patrimônio de Referência 
corresponde ao Capital Regulamentar composto pelos Capital Nível I (Capital 
Principal + Capital Adicional) e Capital Nível II (Resolução n. 4.192/2013) (Brasil, 
2013b). 
De maneiraque, neste início, precisamos identificar a base de cálculo do 
Patrimônio de Referência. Em outras palavras, precisamos saber quais 
entidades estão incluídas no conglomerado prudencial para fins de cálculo. O 
 
 
17 
conceito Conglomerado Prudencial representa as instituições financeiras 
integradas no contexto do cálculo do Patrimônio de Referência. 
De acordo com a Resolução n. 4.280/2013, o BCB divulgou as entidades 
que devem elaborar as demonstrações contábeis consolidadas, localizadas no 
País ou no exterior, sobre as quais a instituição detenha controle direto ou 
indireto. A Tabela 2 apresenta as instituições que fazem parte do Conglomerado 
Prudencial: 
Tabela 2 – Conglomerado Prudencial 
I – instituições financeiras; 
II – demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil; 
III – administradoras de consórcio; 
IV – instituições de pagamento; 
V – sociedades que realizem aquisição de operações de crédito, inclusive imobiliário, 
ou de direitos creditórios, a exemplo de sociedades de fomento mercantil, 
sociedades securitizadoras e sociedades de objeto exclusivo; e 
VI – outras pessoas jurídicas sediadas no País que tenham por objeto social exclusivo 
a participação societária nas entidades mencionadas nos incisos de I a V. 
Fonte: Brasil, 2013a. 
Podemos notar na Tabela 2 que o cálculo do Patrimônio de Referência é 
realizado de forma consolidada para as instituições pertencentes ao mesmo 
conglomerado financeiro. Em conformidade com a Resolução n. 4.192/2013, o 
BCB elaborou dispositivos que definem os conceitos de Capital Principal e 
Adicional (Nível I) e Nível II e assim apurar seus respectivos valores (Brasil, 
2013b). A formação dos valores está discriminada na Figura 3. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
Figura 3 – Capital Principal e Adicional (Nível I) e Nível (II) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Brasil, 2013b. 
 
O Patrimônio de Referência Exigido corresponde ao capital regulatório 
para cobertura dos riscos a que estão expostos os conglomerados financeiros. 
As exigências de capital são provisões, calculadas com base nas operações 
ativas das instituições financeiras que envolvem riscos, para cobrir possíveis 
perdas. Além dessas exigências de capital, outras exigências são alocadas aos 
conglomerados financeiros, no entanto ponderadas pelos riscos. 
NÍVEL 1 
CAPITAL PRINCIPAL 
 Capital social 
 Quotas, quotas-partes, ou por ações não resgatáveis e sem mecanismos de 
cumulatividade de dividendos 
 Reservas 
 Reserva de capital 
 Reserva de reavaliação 
 Reserva de lucros 
 Ganhos não realizados 
 decorrentes dos ajustes de avaliação patrimonial de combinações de negócios e 
de TVM classificados na categoria títulos disponíveis para venda 
 Sobras ou lucros acumulados 
 Contas de resultado credoras 
 Depósito em conta vinculada para suprir deficiência de capital 
 Saldo de ajuste positivo ao valor de mercado dos instrumentos financeiros 
derivativos utilizados para hedge de fluxo de caixa 
 Menos deduções 
 
NÍVEL 1 
CAPITAL ADICIONAL 
 Instrumentos híbridos de capital e 
dívida autorizados que atendam aos 
requisitos de absorção de perdas 
durante o funcionamento da instituição 
financeira, de subordinação, de 
perpetuidade e de não cumulatividade 
de dividendos. 
 
NÍVEL 2 
 Instrumentos híbridos de capital e 
dívida que não se qualifiquem para 
integrar o Capital Adicional 
 Instrumentos de dívida subordinada 
autorizados 
 Ações preferenciais que não se 
qualifiquem para compor o Nível I. 
 
 
19 
Podemos citar alguns destes riscos: risco de crédito das operações de 
empréstimo, risco das operações de swap, risco de mercado, risco cambial e o 
risco de juros. Todos esses riscos derivam de perdas decorrentes da variação 
de operações remuneradas a taxas prefixadas. Ao somar esses riscos e após 
aplicar a cada um determinado fator de exigência de capital, dá-se origem ao 
Patrimônio de Referência Exigido (PRE). 
Castro (2007, p. 304) argumenta que o Patrimônio de Referência Exigido 
corresponde ao “capital próprio que uma instituição bancária deve possuir, dado 
um fator máximo de alavancagem, de tal forma a suportar o risco de perdas 
extremas em uma dada carteira de exposições de crédito. 
Para base de cálculo utiliza-se o cálculo do Patrimônio de Referência, ou 
seja, o mesmo cálculo que utilizamos para o conceito de Conglomerado 
Prudencial. Agora, verificaremos a apuração do PRE. Por meio da soma dos 
itens apresentados na Tabela 3, temos os ativos ponderados pelo risco (RWA – 
risk-weighted assets): 
Tabela 3 – Apuração do valor dos ativos ponderados pelo risco 
RWACPAD exposições ao risco de crédito sujeitas ao cálculo do requerimento de 
capital mediante abordagem padronizada. 
RWACIRB exposições ao risco de crédito sujeitas ao cálculo do requerimento de 
capital mediante sistemas internos de classificação do risco de crédito 
(abordagens IRB) autorizados pelo Banco Central do Brasil. 
RWAMPAD exposições ao risco de mercado sujeitas ao cálculo do requerimento de 
capital mediante abordagem padronizada. 
RWAMINT exposições ao risco de mercado sujeitas ao cálculo do requerimento de 
capital mediante modelo interno autorizado pelo Banco Central do Brasil. 
RWAOPAD cálculo do capital requerido para o risco operacional mediante 
abordagem padronizada. 
RWAOAMA cálculo do capital requerido para o risco operacional mediante modelo 
interno autorizado pelo Banco Central do Brasil. 
Fonte: Brasil, 2013c. 
Assim, temos: 
 𝑅𝑊𝐴 = 𝑅𝑊𝐴𝐶𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝐶𝐼𝑅𝐵 + 𝑅𝑊𝐴𝑀𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝑀𝐼𝑁𝑇 + 𝑅𝑊𝐴𝑂𝑃𝐴𝐷 +
𝑅𝑊𝐴𝑂𝐴𝑀𝐴 
 
 
 
20 
Após a realização do cálculo do ativo ponderado pelo risco (RWA), o 
conglomerado deverá aplicar o fator sobre o valor encontrado (Fator “F”) para 
obter os valores. A título de exemplificação, aplicaremos o Fator “F” referente ao 
Patrimônio de Referência no ano de 2019, que corresponde a 8%. Logo, o 
conglomerado financeiro deve aplicar esse fator aos ativos ponderados pelo 
risco para completar o cálculo do Patrimônio de Referência Exigido (PRE). 
A Tabela 4 demonstra os requerimentos para o Capital Regulamentar, 
comparativamente aos atualmente adotados no Brasil, considerando o Adicional 
de Capital Principal. 
Tabela 4 – Comparação Basileia II, Brasil e Basileia III 
 
Basileia II 
Brasil 
(hoje) 
Basileia III 
(requerimento mínimo + 
adicional) 
Capital Principal 2%* 4,7%* 7% - 9,5% 
Nível I 4%* 5.5%* 8,5% - 11% 
Patrimônio de 
Referência (PR) 
8% 11% 10,5% - 13% 
* limite implícito 
Fonte: PWC, 2013. 
Ao observar a Tabela 4, nota-se que o Banco Central do Brasil tem um 
calendário e percentuais de exigência de capital diferentes do Acordo de Basileia 
III internacional. O órgão regulador brasileiro está sendo mais rigoroso. 
TROCANDO IDEIAS 
Durante a exposição dos temas sobre os acordos de Basileia, citamos as 
crises financeiras desencadeadas pela precária supervisão bancária e deficiente 
gestão de riscos de crédito. Verificamos, igualmente, relevantes mudanças na 
regulação do sistema financeiro que direcionaram novas premissas às normas 
regulatórias para as instituições financeiras. 
Diante disso, quais foram as mudanças ocorridas entre os Acordos de 
Basileia I, II e III? 
 
 
21 
NA PRÁTICA 
Responda à seguinte questão da Cespe: 
(CESPE/2013) Julgue o item que se segue, relativo à regulamentação 
prudencial. Para fins de apuração do patrimônio de referência exigido, o fator de 
ponderação de risco dos instrumentos cambiais é de 50%. 
(A resposta se encontra após as Referências, no final deste texto) 
FINALIZANDO 
Ainda que os conceitos e métodos apresentados nesta aula carreguem 
características complexas, os fundamentos que os baseiam são simples. 
Em função da inerente não estabilidade do sistema financeiro e dos 
problemasdaí decorrentes, os reguladores solicitam exigências de capital às 
instituições financeiras para que efetuem provisões, calculadas com fundamento 
em riscos das operações ativas (ativos ponderados pelo risco), e assim cobrir 
potenciais perdas. Para tanto, é necessário calcular esses ativos ponderados 
pelo risco. Como apresentado em aula, o modo de execução refere-se ao cálculo 
do RWA, índice que representa o Patrimônio de Referência Exigido. 
Cabe destacar em relação à Basileia III que, sob a ótica de Wray (2011), 
a questão sobre esse novo acordo consiste no fato de que os reguladores estão 
trabalhando às margens do problema, pois ainda acolhem as atividades 
correntes dos bancos como adequadas. É importante notar o diferencial entre o 
que deveriam fazer as instituições financeiras e o que realmente fazem 
atualmente. Nesse cenário, Kregel (1993) e Turner (2011) apoiam Wray, 
argumentando que as atividades bancárias vigentes são diferentes daquelas 
consideradas estáveis para o sistema financeiro. Assim, podemos dizer que 
temos muito a aprender para conter os excessos cometidos nos anos 2000. 
 
 
 
 
22 
REFERÊNCIAS 
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Capitais. Basileia III: novos desafios para a adequação da regulação bancária. 
Rio de Janeiro: Amnbima, 2010. 
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_____. Circular n. 3.360 de 12 de setembro de 2007. Diário Oficial da União, 
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de liquidez aos Acordos de Basileia. In: SOBREIRA, R. (Org.). Regulação 
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23 
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<http://www.levyinstitute.org/pubs/wp_655.pdf>. Acesso em: 30 out. 2019. 
 
 
 
25 
RESPOSTA 
 
NA PRÁTICA 
 
O Patrimônio de Referência Exigido tem como finalidade a verificação do 
cumprimento dos limites operacionais das instituições financeiras e demais 
instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil (Conglomerado 
Prudencial). É composto por itens relacionados aos riscos de crédito, de câmbio, 
de taxa de juros, de commodities, de ações e operacional, cuja expressão tem a 
seguinte forma: 
𝑅𝑊𝐴 = 𝑅𝑊𝐴𝐶𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝐶𝐼𝑅𝐵 + 𝑅𝑊𝐴𝑀𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝑀𝐼𝑁𝑇 + 𝑅𝑊𝐴𝑂𝑃𝐴𝐷
+ 𝑅𝑊𝐴𝑂𝐴𝑀𝐴 
Conforme a Circular Bacen 3.644/2013, o fator de ponderação de risco 
dos instrumentos cambiais é de 0%. 
Gabarito: Errado.

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