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CONTABILIDADE DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS AULA 6 Prof.a Paula Pontes de Campos Rasera 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, apresentaremos a função da regulação bancária, descrevendo os Acordos de Basileia e seus princípios. Analisaremos historicamente os eventos econômicos que levaram à criação do Comitê de Basileia. Em seguida, estudaremos o Patrimônio de Referência e o Índice de Basileia. Abordaremos as resoluções e circulares do Banco Central do Brasil que divulgaram as normas de Basileia I, II e III. Entenderemos a posição regulatória e financeira do Brasil bem como a metodologia aplicada para o cálculo do Patrimônio de Referência Exigido (PRE), ponderado pelo fator de risco. Assim, o primeiro tema se refere ao objetivo e histórico do Acordo de Basileia e no segundo trataremos sobre seus princípios. Em particular, no terceiro tema apresentaremos o Acordo de Basileia III, e o quarto tema refere-se ao Patrimônio de Referência e aos limites operacionais. Por fim, finalizaremos esta aula com o tema sobre a metodologia de apuração do Patrimônio de Referência. CONTEXTUALIZANDO A possibilidade de um episódio de risco sistêmico é uma das exigências de regulação bancária. Em contraste com outros setores econômicos, a quebra de uma instituição financeira pode se espalhar para outras instituições (efeito contágio), convertendo um problema local em global. Esse fenômeno verifica-se em duas fases. Como primeira fase, podemos considerar a ampla rede de ligações interbancárias, a qual possibilita a influência no sistema bancário pela solvência de uma instituição financeira. Na segunda, visto que as instituições financeiras compõem o sistema de pagamentos de uma economia, a tendência é a propagação da crise do sistema bancário para a economia como um todo. Por essa razão, com o propósito de impedir ásperas consequências, o regulador atua no nível individual, bancário, apesar de que o escopo final seja evitar a crise sistêmica. Há pouco tempo, a diligência dos reguladores para cuidar da saúde do sistema financeiro se limitava a controlar as reservas dos bancos. O objetivo era reduzir os riscos oriundos da perda de confiabilidade do público na capacidade de cumprir suas obrigações com os clientes. Assim, de forma característica, a 3 regulação financeira foi administrada pelas autoridades nacionais – Bancos Centrais – com posição altamente prudencial, focada no risco de liquidez. No entanto, com o advento do Acordo de Basileia em 1988, criou-se um marco regulatório, com regras de âmbito internacional e focado no risco de crédito (inadimplência) dos clientes. Teoricamente, o princípio da regulação se fundamenta no conceito de poder do governo e de que o setor privado não dispõe, tal como o poder coercitivo e a prescrição de medidas de represália. Em consequência do exercício procedente do marco regulatório, o monitoramento dos bancos pelo governo deve ser efetuado para assegurar a conformidade às regras. Em virtude do alto custo desse acompanhamento, o governo pode organizar controles indiretos, elaborando formas de incentivo e impondo restrições e/ou definindo padrões prudentes de conduta (Prudential standards). Por fim, o governo tem como objetivo adequar uma estrutura regulatória que impeça ou, ao menos, controle as insolvências, limitando-as. TEMA 1 – ACORDO DE BASILEIA – OBJETIVO E HISTÓRICO Em 1971, os Estados Unidos comunicam o rompimento com o Acordo de Bretton Woods, encerrando, além da conversibilidade do dólar em uma taxa fixa em ouro e um ciclo de prosperidade econômica, financeira e comercial. Dá-se início a um período de instabilidade e insegurança no mercado financeiro internacional. Com o novo regime de taxas cambiais flutuantes, as reservas em moedas estrangeiras sofrem uma redução significativa nas instituições financeiras (IFs), provocando falências na Alemanha Ocidental (Bankhaus Herstatt), nos EUA (Franklin National Bank of New York), e na Inglaterra (Israel Bank – London) (Assaf Neto, 2018; BCBS, 2014). Em reação a esses eventos, no final de 1974, foi criado o Comitê de Basileia (Committee on Banking Regulations and Supervisory Practices) pelos representantes do Bancos Centrais dos países do G-10 (Alemanha, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Países Baixos, Reino Unido e Suécia). Sediado no Banco de Compensações Internacionais (BIS – Bank for International Settlements) na Basileia (Suíça), o Comitê da Basileia foi instituído com o objetivo de melhorar a estabilidade financeira, aprimorando a qualidade da supervisão bancária globalmente e prestar serviços para aperfeiçoamento da supervisão bancária e cooperação regular entre seus países membros. A 4 primeira reunião do Comitê da Basileia ocorreu em fevereiro de 1975 e, desde então, esses encontros realizam-se de três a quatro vezes por ano (BCBS, 2014). No entanto, o Comitê de Basileia possui uma limitação: suas decisões não têm força de lei, mas apenas caráter sugestivo e norteador aos países membros (Anbima, 2010). Desde a sua criação, o Comitê da Basileia estabeleceu uma série de normas internacionais para regulamentação bancária, principalmente as publicações de referência dos acordos sobre adequação de capital, comumente conhecidas como Acordo de Basileia I, Acordo de Basileia II e, mais recentemente, Acordo de Basileia III (BCBS, 2014). No início, o propósito fundamental do trabalho do Comitê de Basileia era atenuar as lacunas presentes na supervisão das compensações internacionais para que 1. nenhuma instituição bancária permanecesse sem supervisão; e 2. houvesse supervisão adequada e consistente por parte dos bancos centrais nas instituições bancárias. Como estratégia inicial, o Comitê de Basileia, por intermédio das primeiras diretrizes da Concordata de Basileia (1975) e posteriormente revisado em 1983, estabeleceu princípios para: a. responsabilizar solidariamente países de origem e anfitriões de instituições bancárias estrangeiras; b. estabelecer a abordagem da supervisão bancária em todas as dependências bancárias estrangeiras; c. responsabilizar o país anfitrião pela liquidez da instituição bancária estrangeiro com sede em seu país; d. responsabilizar o país de origem em relação à inadimplência das agências, já para subsidiárias, responsabilizar o país anfitrião; e. participação das autoridades nacionais para troca de informações (BCBS, 2014). Freitas e Prates (2006) consideram que, apesar do avanço significativo com a Concordata de Basileia, restava ainda o impasse entre países anfitriões e estrangeiros para o nível de responsabilidade exercida sobre os bancos. Essa situação decorria da austeridade de controle de certos países ainda resistentes 5 em transferir responsabilidades a autoridades estrangeiras, bem como falta de clareza nessas diretrizes, ocasionando interpretações divergentes e errôneas. Em abril de 1990, houve a emissão de um complemento à Concordata de Basileia de 1983, com a intenção de haver trocas de informações entre supervisores de participantes nos mercados financeiros. Esse complemento teve como objetivo aumentar o fluxo transfronteiriço de informações prudenciais entre os supervisores bancários. Posteriormente, em julho de 1992, alguns princípios da Concordata foram reformulados e publicados com os mínimos padrões de supervisão para instituições bancárias internacionais e seus estabelecimentos transfronteiriços (BCBS, 2014). Para Saddi (2001), esperava-se como resultado o não contágio dos países em desenvolvimento que enfrentavam uma situação de total insolvência. A particularidade inerente do sistema financeiro em relação a outros setores refere-se ao risco sistêmico, ou seja, há a possibilidade de um choque localizado em certo ponto do sistema financeiro afetá-lo comoum todo e conduzir uma economia inteira ao colapso. O pressuposto principal desse risco é a confiabilidade do setor. Em outras palavras, o mercado necessita confiar que as instituições financeiras cumprirão com as obrigações futuras. Portanto, uma vez que alguma instituição financeira sinaliza adversidades no cumprimento das obrigações, as demais IFs podem ser atingidas pela incerteza do mercado, e a retração se propaga como uma reação em cadeia (Carvalho, 2005). Corazza (2005) apregoa que a inquietação com a vulnerabilidade do sistema bancário internacional diante da reduzida capacidade regulatória global instaurou a passagem ao Acordo de Basileia de 1988. Com as novas regras de proteção, as diretrizes conduziam ao processo permanente de aperfeiçoamento da regulação e supervisão bancária globalizada, como se via pela constante inovação e transformação financeira. TEMA 2 – ACORDO DE BASILEIA – PRINCÍPIOS Após várias revisões, os princípios básicos do Comitê da Basileia para supervisão bancária mais recentes são de setembro de 2012 e incluem 29 princípios. O documento revisado combina os Princípios Fundamentais e a metodologia de avaliação em um único documento abrangente. São abordados temas como poderes de supervisão, necessidade de intervenção precoce e 6 ações de supervisão oportunas, expectativas de supervisão dos bancos e conformidade com os padrões de supervisão. Esses princípios constituem a pedra angular da supervisão bancária e são uma estrutura lógica de padrões mínimos para práticas sólidas de supervisão além de universalmente aplicáveis. São 29 princípios básicos divididos em 2 grupos. O primeiro grupo (princípios 1 a 13) trata dos poderes, responsabilidades e funções de supervisão, concentrando-se na supervisão eficaz baseada em riscos e na necessidade de intervenção antecipada e tempestivas ações de supervisão. O segundo grupo, por sua vez (princípios 14 a 29) trata da regulação prudencial que atende às expectativas de supervisão dos bancos e destaca a importância de uma boa governança corporativa e gestão de riscos, bem como a conformidade segundo os padrões de supervisão. Ademais, as boas práticas de governança corporativa sustentam uma eficaz gestão de riscos e proporcionam confiabilidade do mercado em instituições financeiras e no sistema bancário. Devido a falhas fundamentais apresentadas na governança corporativa das instituições financeiras durante a crise, um novo princípio fundamental sobre governança corporativa foi adicionado, reunindo critérios existentes de governança corporativa na metodologia de avaliação e dando maior ênfase a boas práticas de governança corporativa. Da mesma forma, o Comitê de Basileia reiterou o papel fundamental de um sistema bancário seguro e sólido, ampliando um dos princípios existentes em dois novos (respectivamente, maior divulgação e transparência pública), além de relatórios financeiros sofisticados e auditoria externa. Segundo o BCBS (2012), apresentamos a seguir os 29 princípios fundamentais para supervisão bancária: 2.1 Poderes de supervisão Princípio 1 – Responsabilidades, objetivos e poderes: um sistema efetivo de supervisão bancária tem responsabilidades e objetivos claros para cada autoridade envolvidos na supervisão de bancos e grupos bancários; Princípio 2 – Independência, prestação de contas, recursos e proteção legal para supervisores: o supervisor possui independência operacional, transparência, boa governança, processos orçamentários que não prejudicam autonomia e é responsável pelo cumprimento de seus deveres e uso de seus recursos; 7 Princípio 3 – Cooperação e colaboração: leis, regulamentos ou outras disposições proporcionam um quadro para a cooperação e colaboração com os autoridades nacionais e supervisores estrangeiros; Princípio 4 – Atividades permitidas: as atividades permitidas e sujeitas a supervisão estão claramente definidas e a palavra “banco” é utilizada de forma controlada; Princípio 5 – Critérios de licenciamento: a autoridade supervisora tem o poder de definir critérios e rejeitar pedidos de autorização de funcionamento que não atendam aos critérios; Princípio 6 – Transferência de propriedade significativa: a autoridade supervisora tem o poder de rever, rejeitar e impor condições prudenciais a qualquer proposta de transferência posse ou participação em bancos para outras partes; Princípio 7 – Principais aquisições: o supervisor tem o poder de aprovar ou rejeitar (ou recomendar à autoridade responsável a aprovação ou rejeição) e impor condições prudenciais a grandes aquisições ou investimentos de um banco, com base em critérios prescritos; Princípio 8 – Abordagem de supervisão: um sistema eficaz de supervisão bancária exige que o supervisor desenvolva e mantenha uma avaliação prospectiva do perfil de risco de cada banco e grupo bancário, proporcionalmente à sua importância sistêmica; Princípio 9 – Técnicas e ferramentas de supervisão: o supervisor usa uma gama apropriada de técnicas e ferramentas para implementar a supervisão; Princípio 10 – Relatórios de supervisão: o supervisor coleta, revisa e analisa relatórios prudenciais e retornos estatísticos de bancos; Princípio 11 – Poderes corretivos e sancionatórios dos supervisores: o supervisor age em estágio inicial para tratar de práticas inseguras ou atividades que possam representar riscos para os bancos ou ao sistema bancário; Princípio 12 – Supervisão consolidada: elemento essencial da supervisão bancária é o supervisor que supervisiona o grupo bancário em uma base consolidada; Princípio 13 – Relacionamentos de hospedagem domiciliar: supervisores de origem e do país de operação de grupos bancários transfronteiriços 8 compartilham informações e cooperam para a supervisão eficaz de as entidades do grupo e do grupo e o tratamento eficaz de situações de crise. 2.2 Regulamentos e requisitos prudenciais Princípio 14 – Governança corporativa: o supervisor determina que bancos e grupos bancários tenham políticas e processos robustos de governança corporativa para exame da direção estratégica; Princípio 15 – Processo de gestão de risco: o supervisor determina que os bancos devem ter um processo abrangente de gestão de riscos para identificar, medir, avaliar, monitorar, relatar e controlar ou mitigar todos os riscos relevantes em tempo hábil e avaliar a adequação seu capital e liquidez em relação ao seu perfil de risco e mercado e condições macroeconômicas; Princípio 16 – Adequação de capital: o supervisor define requisitos prudentes e apropriados de adequação de capital para os bancos que reflitam os riscos assumidos e apresentado por um banco no contexto dos mercados e condições macroeconômicas que opera; Princípio 17 – Risco de crédito: o supervisor determina que os bancos tenham um processo de gestão de risco de crédito que leva em consideração seu apetite de risco, condições de mercado e macroeconômicas; Princípio 18 – Ativos problemáticos, provisões e reservas: o supervisor determina aos bancos que tenham políticas e processos adequados para identificação e gestão de ativos problemáticos, e a manutenção de provisões e reservas; Princípio 19 – Risco de concentração e grandes limites de exposição: o supervisor determina que os bancos tenham políticas e processos adequados para identificar, medir, avaliar, monitorar, relatar e controlar ou mitigar concentrações de risco em tempo hábil base; Princípio 20 – Transações com partes relacionadas: para evitar abusos decorrentes de transações com partes relacionadas e para enfrentar o risco de conflito de juros, o supervisor exige que os bancos celebrem quaisquer transações com partes em condições de plena concorrência; 9 Princípio 21 – País e riscos de transferência: o supervisor determina aos bancos quetenham políticas e processos adequados para identificar, medir, avaliar, monitorar, informar e controlar ou mitigar o risco-país e o risco de transferência de seus empréstimos e investimentos em tempo hábil; Princípio 22 – Riscos de mercado: o supervisor determina que os bancos tenham processo adequado de gestão de risco de mercado que leva em conta seu risco apetite, perfil de risco, condições de mercado e macroeconômicas e o risco de deterioração significativa da liquidez do mercado; Princípio 23 – Risco de taxa de juros na carteira bancária: o supervisor determina os bancos tenham sistemas adequados para identificar, medir, avaliar, monitorar, relatar e controlar ou mitigar o risco da taxa de juros na carteira bancária em tempo hábil; Princípio 24 – Risco de liquidez: o supervisor estabelece liquidez prudente e apropriada requisitos aos bancos que refletem as necessidades de liquidez do banco, determinando aos bancos que tenham uma estratégia que permita uma gestão prudente da liquidez risco e cumprimento dos requisitos de liquidez; Princípio 25 – Risco operacional: o supervisor determina que os bancos tenham adequada estrutura de gestão de risco operacional que leve em consideração seu apetite de risco, perfil de risco e condições mercadológicas e macroeconômicas; Princípio 26 – Controle interno e auditoria: o supervisor determina que os bancos tenham estruturas de controle interno adequadas para estabelecer e manter um ambiente operacional controlado para a condução de seus negócios, levando em conta o seu perfil de risco; Princípio 27 – Relatórios financeiros e auditoria externa: o supervisor determina que bancos e grupos bancários mantenham registros adequados e confiáveis, preparem demonstrações financeiras de acordo com as políticas e práticas contábeis que são amplamente aceitas internacionalmente e publiquem anualmente informações que reflitam sua condição financeira e desempenho e que tenham uma participação externa opinião do auditor; 10 Princípio 28 – Divulgação e transparência: o supervisor determina que bancos e grupos bancários publicam regularmente informações sobre uma base consolidada e quando apropriado, base individual; Princípio 29 – Abuso de serviços financeiros: o supervisor determina que os bancos tenham políticas e processos adequados, incluindo regras estritas de devida diligência ao cliente promovendo elevados padrões éticos e profissionais. TEMA 3 – ACORDO DE BASILEIA – O ACORDO DE BASILEIA III A eclosão da crise financeira internacional de 2007-2008, denominada crise do subprime (mercado de financiamento imobiliário), que conduziu ao colapso um dos maiores bancos americanos com atuação global, Leman Brothers, provocou sérias dúvidas sobre a efetividade do novo padrão mundial de regulação bancária prudencial, Basileia II, a qual assegurava a estabilidade e a solvência dos sistemas bancários (Romantini, 2012). A crise no mercado americano de financiamento imobiliário subprime propagou para além da economia norte-americana, contaminando demais países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não obstante a vigência da regulação prudencial e dos Acordos de Basileia I e II, o contágio e risco sistêmico permaneceu evidenciado. Segundo o BCBS (2014), ainda antes da falência do Lehman Brothers, era aparente a necessidade de fortalecimento na estrutura fundamental do Acordo de Basileia II. O BCBS (2014) argumenta os motivos que desencadearam a crise no setor bancário: elevada alavancagem e inadequados amortecedores de liquidez. Esses fatores receberam influência de irregulares governança e gestão de riscos bem como estruturas de incentivos indevidos. A combinação arriscada desses fatores foi ratificada pela precificação incorreta dos riscos de crédito e liquidez e pelo crescimento excessivo do crédito. Após uma fase de intensas críticas, em setembro de 2010, o Grupo de Governadores e Chefes de Supervisão (GHOS) anunciou padrões mais altos de capital mínimo global às instituições financeiras, por meio do acordo alcançado em julho sobre o desenho geral do pacote de reforma de capital e liquidez, chamado Acordo de Basileia III. Em novembro de 2010, os novos padrões de capital e liquidez foram endossados pelos Líderes do G20 em Seul e 11 posteriormente acordados na reunião do Comitê de Basileia em dezembro (BCBS, 2018). Saiba mais O Grupo de Governadores e Autoridades de Supervisão (GHOS) é responsável pela supervisão do Comitê de Basileia. O Comitê de Basileia deve informar suas decisões e programa de trabalho ao GHOS, para que estes sejam aprovados (BIS, 2013a) Basileia III, divulgado em dezembro de 2010, é composto por dois documentos: Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and banking systems (BCBS, 2011); e Basel III: International framework for liquidity risk measurement, standards and monitoring (BCBS, 2014). As medidas trazidas por Basileia III são apresentadas pelo Comitê com base em uma interessante novidade em termos de estratégia regulatória: a distinção entre medidas de natureza microprudencial, de um lado, e medidas de natureza macroprudencial, de outro. As medidas microprudenciais têm como foco o banco individual. Por meio de medidas regulatórias dessa natureza, procura-se garantir a solvência de cada banco individualmente e, por consequência, a solidez do sistema bancário como um todo. Esse tipo de medida constitui a essência da estratégia regulatória inerente aos acordos anteriores: Basileia I e Basileia II. De acordo com Clement (2010), o objetivo de uma abordagem regulatória microprudencial seria definido de forma mais adequada em termos de proteção do depositante e do investidor. No Brasil, a adoção de Basileia III foi anunciada em março de 2013 pelo Banco Central, com o objetivo de “aperfeiçoar a capacidade das instituições financeiras de absorver choques, fortalecendo a estabilidade financeira e a promoção do crescimento econômico sustentável” (Oliveira, 2015). Segundo Basileia III, as inovações em relação à Basileia II fundamentam- se no i. reforço dos requisitos de capital próprio das instituições de crédito; ii. aumento considerável da qualidade desses fundos próprios; e 12 iii. redução do risco sistêmico e um período de transição que seja suficiente para acomodar essas exigências. Leite e Reis (2013, p. 172) citam alguns objetivos do Acordo de Basileia III destacados pelo Comitê de Basileia: Aumentar a qualidade do capital disponível para assegurar que os bancos enfrentem melhor as perdas; Aumentar os requerimentos mínimos de capital, incluindo um aumento no capital principal de 2% para 4,5%; Criar um colchão de conservação de capital e de um colchão anticíclico de capital, ambos em 2,5% cada; Diversificar a cobertura do risco, incorporando as atividades de trading, securitizações, exposições fora do balanço e derivativos; Introduzir uma taxa de alavancagem para o sistema e medidas sobre requerimentos mínimos de liquidez, tanto para o curto quanto para o longo prazo; Aumentar a importância dos pilares II e III do acordo anterior no processo de supervisão e de transparência. Para isso, o Comitê propõe práticas para a gestão de liquidez, realização dos testes de estresse, governança corporativa e práticas de avaliação de ativos. Ainda, há a preocupação com a gestão e concentração de risco além da promoção de incentivos para que os bancos tenham uma melhor administração do risco e retorno orientados para o longo prazo. Em outras palavras, o propósito de Basileia III é colocar as seguintes obrigações aos bancos: Retenção de maior volume de capital e ativos de alta qualidade para limitar os riscos que estão relacionados à concessão de crédito, bem como à negociação de ativos; Aperfeiçoamento de seus processos de gerenciamento de risco; Disponibilização de ativos de alta qualidade; Aumento de liquidez para provimento de cobertura de desencaixes em períodos de estresse e crises, e Ampliação da transparência e disponibilidade de informações. Sob um ponto de vista macroeconômico, outro objetivo fundamental de Basileia III é obter “um sistema bancário mais forte e estável, além de diminuir a alocação ineficiente de recursos que acontece em períodos de excessivo crescimento de crédito” (Wellink, 2010, citado por Leite; Reis, 2013, p. 172). TEMA 4 – PATRIMÔNIO DE REFERÊNCIA E OS LIMITES OPERACIONAIS De acordo com a Basileia I, a Resolução n. 2.099/1994 do Banco Central do Brasil estabeleceu limites para as instituições financeiras que operam no mercado brasileiro. Esses limites referem-se ao valor mínimo para a constituição 13 do Patrimônio Líquido Exigido (PLE) das Instituições Financeiras que corresponde a 8% dos ativos ponderados por fatores de risco. Posteriormente, por meio da Circular n. 2.784/1997, esse índice é alterado para 11%. Esta é a principal característica de Basileia I: determinar o volume de capital para a provisão a ser mantida pela instituição financeira, de acordo com o nível de risco da operação ativa realizada. Os fatores de ponderação dos ativos de riscos são compostos pelas principais contas patrimoniais das instituições bancárias, conforme apresentado na Tabela 1: Tabela 1 – Ativo Ponderado pelo Risco (APR) Tipo de risco Fator de ponderação Principais ativos Nulo 0% Aplicações em operações compromissadas; aplicações com recursos próprios em CDI (instituições ligadas) e aplicações em títulos de renda fixa (títulos públicos federais e de instituições ligadas); disponibilidades de caixa; reservas livres depositadas em espécie no Banco Central etc. Reduzido 20% Aplicações em ouro físico (temporárias); cheques enviados ao Serviço de Compensação; créditos fiscais; disponibilidades em moedas estrangeiras etc. Médio 50% Aplicações em certificados de depósitos interfinanceiros (CDI) com recursos próprios em instituições financeiras e aplicações em títulos de renda fixa de outras instituições financeiras; aplicações em títulos emitidos por governos de outros países; financiamentos habitacionais etc. Normal 100% Aplicações em ações no exterior; operações de crédito; aplicações em títulos de renda fixa (debêntures e outros); negociações na bolsa de mercadorias e de futuros; empréstimos e títulos descontados; arrendamentos a receber etc. Fonte: Assaf Neto, 2018. Assim, para um capital próprio mínimo de 11% calculado sobre os ativos ponderados pelo risco (APR) mantidos pelos bancos, isso significa que, para cada R$ 100 de aplicações realizadas, a instituição deverá manter, no mínimo, R$ 11 (11%) em capital próprio. 14 No anexo IV à Resolução n. 2.099/1994, seu art. 2° retrata o cálculo do PLE (Patrimônio líquido exigida): PLE = 8% do APR APR = total do produto dos títulos do Ativo Circulante e Realizável a Longo Prazo (código 1.0.0.00.00-7 do COSIF) pelos fatores de risco correspondentes (+) produto do Ativo Permanente (código 2.0.0.00.00- 4 do COSIF) pelo fator de risco correspondente (+) produto dos títulos de Coobrigações e Riscos em Garantias Prestadas (código 3.0.1.00.00-4 do COSIF) pelos fatores de risco correspondentes (Brasil, 1994) Essa adequação do capital das instituições financeiras quanto ao ativo ponderado pelo risco (APR) chama-se de índice de capitalização (Capital Próprio/APR) e tem por finalidade proteger os depositantes de: volatilidade dos indicadores; crises das IFs; novos instrumentos financeiros sofisticados; e, exposição das IFs a riscos inerentes à novos negócios. Dessa maneira, quanto maior o Índice de Basileia de uma instituição financeira, menor será a sua probabilidade de insolvência. Instituições financeiras com índices baixos costumam auferir taxas de retorno mais altas, porém convivem com maiores riscos de insolvência (Assaf Neto, 2018). Basileia II sustenta-se sobre três pilares básicos: 1. exigência de capital; 2. inspeção regulatória; e 3. disciplina de mercado. Por meio da Circular n. 3.360/2007, ao adotar o Acordo de Basileia II, o BCB manteve em 11% o fator de ponderação aplicado ao ativo, ao passo que os padrões internacionais assumiam 8% para este parâmetro (Brasil, 2007). Por conseguinte, o índice de Basileia exigido das instituições financeiras brasileiras foi consecutivamente superior ao internacional. Esse fato contribuiu para a constituição de um colchão de conservação, assegurando solidez e resiliência das instituições financeiras brasileiras ao longo desse período (Anbima, 2010). Como já vimos há pouco, o Acordo de Basileia III apresenta em seu escopo uma interessante novidade em termos de estratégia regulatória: a distinção entre medidas de natureza microprudencial, com foco na instituição financeira, de um lado, e medidas de natureza macroprudencial, com visão sistêmica para regulação bancária, de outro (Romantini, 2012). Nesse contexto, cabe ressaltar as principais medidas apresentadas pela Basileia III, cujos instrumentos regulatórios dividem-se em dois grandes grupos: 15 i. fortalecimento da adequação de capital; ii. introdução de um padrão global de liquidez. Para o fortalecimento da adequação de capital, Basileia III divulga cinco conjuntos de medidas: a. aumento da qualidade da base de capital; b. melhora na cobertura de risco; c. introdução de um índice de alavancagem; d. introdução de colchões contra cíclicos; e. enfrentamento do risco decorrente da interconexão de instituições sistemicamente importantes. Ao passo que, para o segundo grupo, introdução global de liquidez, Basileia III evidencia dois índices para responder ao risco de liquidez: i. o Índice de Cobertura de Liquidez (LCR – Liquidity Coverage Ratio); e o ii. Índice de Financiamento Líquido Estável (NSFR – Net Stable Funding Ratio) (BCBS, 2011). Ao retratar a adequação de capital, o capital regulatório passa a ser formado por dois níveis, o capital de nível 1 (Tier1) e o capital de nível 2 (Tier2), eliminando o capital de nível 3 (BCBS, 2011). O mínimo do nível 1 deverá corresponder a 6% dos ativos ponderados pelo risco, e o mínimo do nível 2 deverá ser 2%. Portanto, a soma dos dois níveis (Tier1+Tier2) representará no mínimo 8% dos ativos ponderados pelos riscos (Romantini, 2012). Podemos notar que, de acordo com os objetivos de Basileia III, o foco da regulação passou do capital regulamentar para o capital principal que representa relevante parcela na capacidade de absorção de choques pelas instituições bem como melhor qualidade. A Figura 1 detalha a nova categorização. Figura 1 – Representação do capital nos acordos Basileia II e III Fonte: Anbima, 2010. Capital regulamentar Nível I Nível II Capital regulamentar Capital principal Capital adicional Nível I Nível I Basileia II Basileia III 16 A Figura 2 apresenta a nova estrutura de capital e respectivas alíquotas mínimas do ativo ponderado pelo risco, conforme apresentado em Basileia III. Figura 2 – Nova estrutura de capital e respectivas alíquotas mínimas do ativo ponderado pelo risco Fonte: PWC, 2013 Com a adoção de Basileia III, o Bacen está promovendo a convergência dos requerimentos aplicados no Brasil aos padrões internacionais, que, como veremos adiante, irão exigir dos bancos a manutenção de um índice mínimo de Basileia no intervalo de 10,5% a 13,0% (ou 15% para instituições de maior relevância sistêmica). TEMA 5 – METODOLOGIA DE APURAÇÃO DO PATRIMÔNIO DE REFERÊNCIA Conforme estudamos no tema anterior, o Patrimônio de Referência corresponde ao Capital Regulamentar composto pelos Capital Nível I (Capital Principal + Capital Adicional) e Capital Nível II (Resolução n. 4.192/2013) (Brasil, 2013b). De maneiraque, neste início, precisamos identificar a base de cálculo do Patrimônio de Referência. Em outras palavras, precisamos saber quais entidades estão incluídas no conglomerado prudencial para fins de cálculo. O 17 conceito Conglomerado Prudencial representa as instituições financeiras integradas no contexto do cálculo do Patrimônio de Referência. De acordo com a Resolução n. 4.280/2013, o BCB divulgou as entidades que devem elaborar as demonstrações contábeis consolidadas, localizadas no País ou no exterior, sobre as quais a instituição detenha controle direto ou indireto. A Tabela 2 apresenta as instituições que fazem parte do Conglomerado Prudencial: Tabela 2 – Conglomerado Prudencial I – instituições financeiras; II – demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil; III – administradoras de consórcio; IV – instituições de pagamento; V – sociedades que realizem aquisição de operações de crédito, inclusive imobiliário, ou de direitos creditórios, a exemplo de sociedades de fomento mercantil, sociedades securitizadoras e sociedades de objeto exclusivo; e VI – outras pessoas jurídicas sediadas no País que tenham por objeto social exclusivo a participação societária nas entidades mencionadas nos incisos de I a V. Fonte: Brasil, 2013a. Podemos notar na Tabela 2 que o cálculo do Patrimônio de Referência é realizado de forma consolidada para as instituições pertencentes ao mesmo conglomerado financeiro. Em conformidade com a Resolução n. 4.192/2013, o BCB elaborou dispositivos que definem os conceitos de Capital Principal e Adicional (Nível I) e Nível II e assim apurar seus respectivos valores (Brasil, 2013b). A formação dos valores está discriminada na Figura 3. 18 Figura 3 – Capital Principal e Adicional (Nível I) e Nível (II) Fonte: Brasil, 2013b. O Patrimônio de Referência Exigido corresponde ao capital regulatório para cobertura dos riscos a que estão expostos os conglomerados financeiros. As exigências de capital são provisões, calculadas com base nas operações ativas das instituições financeiras que envolvem riscos, para cobrir possíveis perdas. Além dessas exigências de capital, outras exigências são alocadas aos conglomerados financeiros, no entanto ponderadas pelos riscos. NÍVEL 1 CAPITAL PRINCIPAL Capital social Quotas, quotas-partes, ou por ações não resgatáveis e sem mecanismos de cumulatividade de dividendos Reservas Reserva de capital Reserva de reavaliação Reserva de lucros Ganhos não realizados decorrentes dos ajustes de avaliação patrimonial de combinações de negócios e de TVM classificados na categoria títulos disponíveis para venda Sobras ou lucros acumulados Contas de resultado credoras Depósito em conta vinculada para suprir deficiência de capital Saldo de ajuste positivo ao valor de mercado dos instrumentos financeiros derivativos utilizados para hedge de fluxo de caixa Menos deduções NÍVEL 1 CAPITAL ADICIONAL Instrumentos híbridos de capital e dívida autorizados que atendam aos requisitos de absorção de perdas durante o funcionamento da instituição financeira, de subordinação, de perpetuidade e de não cumulatividade de dividendos. NÍVEL 2 Instrumentos híbridos de capital e dívida que não se qualifiquem para integrar o Capital Adicional Instrumentos de dívida subordinada autorizados Ações preferenciais que não se qualifiquem para compor o Nível I. 19 Podemos citar alguns destes riscos: risco de crédito das operações de empréstimo, risco das operações de swap, risco de mercado, risco cambial e o risco de juros. Todos esses riscos derivam de perdas decorrentes da variação de operações remuneradas a taxas prefixadas. Ao somar esses riscos e após aplicar a cada um determinado fator de exigência de capital, dá-se origem ao Patrimônio de Referência Exigido (PRE). Castro (2007, p. 304) argumenta que o Patrimônio de Referência Exigido corresponde ao “capital próprio que uma instituição bancária deve possuir, dado um fator máximo de alavancagem, de tal forma a suportar o risco de perdas extremas em uma dada carteira de exposições de crédito. Para base de cálculo utiliza-se o cálculo do Patrimônio de Referência, ou seja, o mesmo cálculo que utilizamos para o conceito de Conglomerado Prudencial. Agora, verificaremos a apuração do PRE. Por meio da soma dos itens apresentados na Tabela 3, temos os ativos ponderados pelo risco (RWA – risk-weighted assets): Tabela 3 – Apuração do valor dos ativos ponderados pelo risco RWACPAD exposições ao risco de crédito sujeitas ao cálculo do requerimento de capital mediante abordagem padronizada. RWACIRB exposições ao risco de crédito sujeitas ao cálculo do requerimento de capital mediante sistemas internos de classificação do risco de crédito (abordagens IRB) autorizados pelo Banco Central do Brasil. RWAMPAD exposições ao risco de mercado sujeitas ao cálculo do requerimento de capital mediante abordagem padronizada. RWAMINT exposições ao risco de mercado sujeitas ao cálculo do requerimento de capital mediante modelo interno autorizado pelo Banco Central do Brasil. RWAOPAD cálculo do capital requerido para o risco operacional mediante abordagem padronizada. RWAOAMA cálculo do capital requerido para o risco operacional mediante modelo interno autorizado pelo Banco Central do Brasil. Fonte: Brasil, 2013c. Assim, temos: 𝑅𝑊𝐴 = 𝑅𝑊𝐴𝐶𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝐶𝐼𝑅𝐵 + 𝑅𝑊𝐴𝑀𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝑀𝐼𝑁𝑇 + 𝑅𝑊𝐴𝑂𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝑂𝐴𝑀𝐴 20 Após a realização do cálculo do ativo ponderado pelo risco (RWA), o conglomerado deverá aplicar o fator sobre o valor encontrado (Fator “F”) para obter os valores. A título de exemplificação, aplicaremos o Fator “F” referente ao Patrimônio de Referência no ano de 2019, que corresponde a 8%. Logo, o conglomerado financeiro deve aplicar esse fator aos ativos ponderados pelo risco para completar o cálculo do Patrimônio de Referência Exigido (PRE). A Tabela 4 demonstra os requerimentos para o Capital Regulamentar, comparativamente aos atualmente adotados no Brasil, considerando o Adicional de Capital Principal. Tabela 4 – Comparação Basileia II, Brasil e Basileia III Basileia II Brasil (hoje) Basileia III (requerimento mínimo + adicional) Capital Principal 2%* 4,7%* 7% - 9,5% Nível I 4%* 5.5%* 8,5% - 11% Patrimônio de Referência (PR) 8% 11% 10,5% - 13% * limite implícito Fonte: PWC, 2013. Ao observar a Tabela 4, nota-se que o Banco Central do Brasil tem um calendário e percentuais de exigência de capital diferentes do Acordo de Basileia III internacional. O órgão regulador brasileiro está sendo mais rigoroso. TROCANDO IDEIAS Durante a exposição dos temas sobre os acordos de Basileia, citamos as crises financeiras desencadeadas pela precária supervisão bancária e deficiente gestão de riscos de crédito. Verificamos, igualmente, relevantes mudanças na regulação do sistema financeiro que direcionaram novas premissas às normas regulatórias para as instituições financeiras. Diante disso, quais foram as mudanças ocorridas entre os Acordos de Basileia I, II e III? 21 NA PRÁTICA Responda à seguinte questão da Cespe: (CESPE/2013) Julgue o item que se segue, relativo à regulamentação prudencial. Para fins de apuração do patrimônio de referência exigido, o fator de ponderação de risco dos instrumentos cambiais é de 50%. (A resposta se encontra após as Referências, no final deste texto) FINALIZANDO Ainda que os conceitos e métodos apresentados nesta aula carreguem características complexas, os fundamentos que os baseiam são simples. Em função da inerente não estabilidade do sistema financeiro e dos problemasdaí decorrentes, os reguladores solicitam exigências de capital às instituições financeiras para que efetuem provisões, calculadas com fundamento em riscos das operações ativas (ativos ponderados pelo risco), e assim cobrir potenciais perdas. Para tanto, é necessário calcular esses ativos ponderados pelo risco. Como apresentado em aula, o modo de execução refere-se ao cálculo do RWA, índice que representa o Patrimônio de Referência Exigido. Cabe destacar em relação à Basileia III que, sob a ótica de Wray (2011), a questão sobre esse novo acordo consiste no fato de que os reguladores estão trabalhando às margens do problema, pois ainda acolhem as atividades correntes dos bancos como adequadas. É importante notar o diferencial entre o que deveriam fazer as instituições financeiras e o que realmente fazem atualmente. Nesse cenário, Kregel (1993) e Turner (2011) apoiam Wray, argumentando que as atividades bancárias vigentes são diferentes daquelas consideradas estáveis para o sistema financeiro. Assim, podemos dizer que temos muito a aprender para conter os excessos cometidos nos anos 2000. 22 REFERÊNCIAS ANBIMA – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. Basileia III: novos desafios para a adequação da regulação bancária. Rio de Janeiro: Amnbima, 2010. ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. São Paulo: Atlas, 2018. BCBS – Basel Committee on Banking Supervision. Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and banking systems. Basileia: Bank for International Settlements, 2011. Disponível em: <https://www.bis.org/publ/bcbs189.htm>. Acesso em 30 out. 2019. _____. Core principles for effective banking supervision. Basileia: Bank for International Settlements, 2012. Disponível em: <https://www.bis.org/publ/bcbs213.pdf>. Acesso em: 30 out. 2019. _____. Basel III: International framework for liquidity risk measurement, standards and monitoring. Basileia: Bank for International Settlements, 2014. Disponível em: <https://www.bis.org/publ/bcbs188.htm. Acesso em 20 out. 2019. _____. Basel Committee Charter. BCBS, 5 jun. 2018. Disponível em: <https://www.bis.org/bcbs/charter.htm>. Acesso em 30 out. 2019. BRASIL. BCB – Banco Central do Brasil. Resolução n. 4.192 de 1 de março de 2013. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 mar. 2013b. _____. _____________. Resolução n. 2.099 de 17/8/1994. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 18 ago. 1994. _____. Resolução n. 4.193 de 1 de março de 2013. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 mar. 2013c. _____. Resolução n. 4.280, de 31 de outubro de 2013. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 nov. 2013a. _____. Circular n. 3.360 de 12 de setembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 set. 2007. CARVALHO, F. J.C. Inovação prudencial e regulação prudencial: da regulação de liquidez aos Acordos de Basileia. In: SOBREIRA, R. (Org.). Regulação financeira e bancária. São Paulo: Atlas, 2005. 23 CASTRO, L. B. Regulação financeira – discutindo os acordos da Basileia. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 14, n. 28, p. 277-304, dez. 2007. CLEMENT, P. The term ‘macroprudential’: origins and evolution. 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Disponível em: <http://www.levyinstitute.org/pubs/wp_655.pdf>. Acesso em: 30 out. 2019. 25 RESPOSTA NA PRÁTICA O Patrimônio de Referência Exigido tem como finalidade a verificação do cumprimento dos limites operacionais das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil (Conglomerado Prudencial). É composto por itens relacionados aos riscos de crédito, de câmbio, de taxa de juros, de commodities, de ações e operacional, cuja expressão tem a seguinte forma: 𝑅𝑊𝐴 = 𝑅𝑊𝐴𝐶𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝐶𝐼𝑅𝐵 + 𝑅𝑊𝐴𝑀𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝑀𝐼𝑁𝑇 + 𝑅𝑊𝐴𝑂𝑃𝐴𝐷 + 𝑅𝑊𝐴𝑂𝐴𝑀𝐴 Conforme a Circular Bacen 3.644/2013, o fator de ponderação de risco dos instrumentos cambiais é de 0%. Gabarito: Errado.
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