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APOSTILA CND - Curso Normal à Distância (21) 3347-3030 / 2446-0502 Conhecimento Didático e Pedagógico da Educação Inclusiva 2 Sumário Introdução 03 1. Um longo caminho em busca de Direitos. 05 2. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva 13 3. A escola comum na perspectiva inclusiva 19 4. As questões pedagógicas e a inclusão dos alunos especiais 25 5. O atendimento educacional especializado - AEE. 32 6. Tecnologias a serviço das crianças com necessidades especiais. 50 Referências bibliográficas 57 Anexos 60 3 INTRODUÇÃO A garantia de acesso, participação e aprendizagem de todos os alunos nas escolas é um projeto, sonho aspirado por muitas pessoas e em alguns momentos, uma realidade, na área de educação e fora dela, na sociedade como um todo. Para tanto nos ocupamos de construir uma nova cultura de valorização das diferenças. Por Educação Inclusiva entendemos o processo de inclusão de alunos com necessidades especiais ou com distúrbios de aprendizagem , na rede comum de ensino em todos os seus graus. Em termos de Brasil há um trabalho sendo realizado a partir da SECADI, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. A ação dessa Secretaria do MEC abrange um espectro que ultrapassa as questões de Educação Inclusiva, vista de forma mais pontual, para abrigar também aspectos de EJA, que já estudamos e as das ações propostas para a Educação Indígena e de Cultura Afro brasileira. As duas últimas serão tratadas mais adiante no CND. As preocupações relativas aos direitos de todos vêm de longa data. Assim já a o Art. 1º. da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, afirma: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade" A concepção contemporânea de Direitos Humanos, introduzida por essa declaração, se fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pessoas e na universalidade e indivisibilidade desses direitos; universalidade, porque a condição de pessoa é requisito único para a titularidade de direitos e indivisibilidade, porque os direitos civis e políticos são conjugados aos direitos econômicos, sociais e culturais. 4 Nesse contexto, o valor da aceitação da diferença se impõe como condição para o alcance da universalidade e a indivisibilidade dos Direitos Humanos. Num primeiro momento, a atenção aos Direitos Humanos foi marcada pela tônica da proteção geral e abstrata, com base na igualdade formal; mais recentemente, passou-se a explicitar a pessoa como sujeito de direito, respeitado em suas peculiaridades e particularidades. O respeito à diversidade, efetivado no respeito às diferenças, impulsiona ações de cidadania voltadas ao reconhecimento de sujeitos de direito, simplesmente por serem seres humanos. Suas especificidades não devem ser elemento para a construção de desigualdades, discriminações ou exclusões, mas sim, devem ser norteadoras de políticas afirmativas de respeito, voltadas para a construção de contextos sociais inclusivos. A importância de discutir esse tema, no nosso curso, se justifica pelo fato de a verdadeira inclusão, não ser uma realidade em todas as escolas, sejam elas particulares ou públicas. É preciso a garantia de acesso, participação e aprendizagem de todos os alunos nas escolas. Assim nosso material trará para a apreciação do grupo CND: aspectos ligados à conquista gradual de direitos das pessoas que apresentam deficiências, fará abordagem relativa à estruturação de ambientes inclusivos na escola comum, apresentará aspectos das escolas especiais e da preparação da escola comum para receber os alunos especiais. Esperamos que a leitura e o estudo desse material favoreçam a melhoria do trabalho de todos os que atuam ou vierem a atuar na escola inclusiva, contribuindo assim para uma sociedade mais justa. 5 1.UM LONGO CAMINHO EM BUSCA DE DIREITOS Tendo como horizonte ético os Direitos Humanos, fica evidente a necessidade de se garantir o acesso e a participação de todos, com direito a todas as oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada indivíduo e/ou grupo social. Também é preciso ressaltar que a caminhada em direção aos diretitos foi sendo construída gradativamente. Hoje vários passos foram dados . Para a constituição desse cenário serão mencionados aspectos relacionados a visão da família, comunidade, o papel da escola ,da sociedade e do sistema econômico no trato com a pessoa que tem algum tipo de deficiência, chegando-se ao momento atual, onde algumas conquistas foram sendo feitas. É oportuno transcrever um pequeno trecho do documento “Educação Inclusiva” do MEC/ SEESP (Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Especial), pois nele se reafirma as ideias que apresentamos: A consciência do direito de constituir uma identidade própria e do reconhecimento da identidade do outro traduz-se no direito à igualdade e no respeito às diferenças, assegurando oportunidades diferenciadas (equidade), tantas quantas forem Ao final da leitura do capítulo esperamos que você tenha desenvolvido as seguintes competências e habilidades: Identificar o passo a passo das conquistas realizadas pelos deficientes em busca da cidadania. Conceituar Paradigma da Institucionalização Reconhecer fatos marcantes na caminhada de garantia de direitos aos deficientes. 6 necessárias, com vistas à busca da igualdade. (MEC/SEESP, 2004). A Constituição Federal do Brasil, de 1988, assume o princípio da igualdade, como pilar fundamental de uma sociedade democrática e justa, quando expressa no Art. 5° que : Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros, residentes no país, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.( BRASIL. CONSTITUIÇÃO, 1988). Para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam garantidas as condições apropriadas de atendimento às peculiaridades individuais, de forma que todos possam usufruir as oportunidades existentes. Há que se enfatizar aqui, que tratamento diferenciado não se refere à instituição de privilégios, e sim, a disponibilização das condições exigidas, na garantia da igualdade. As pessoas com deficiência eram, inicialmente, segregadas e até afastadas da sociedade, por não poderem garantir a própria sobrevivência. Assim, as pessoas com deficiência eram estigmatizadas, por não se encontrarem dentro dos padrões de sujeitos produtivos.(Aranha, 2004) Entretanto as relações de trabalho mudaram e, concomitantemente, a política, a educação, a cultura também sofreram transformações. A compreensão das mudanças pode ajudar a entender o papel da educação e 7 da inclusão das pessoas com deficiência na sociedade. Para o capitalismo, a educação tem a função de manutenção social e o conhecimento é um produto pronto que deve garantir a continuidade de padrões sociais. Atualmente, as políticas externas e internas procuram estabelecer que a educação atue constantemente sobre o desenvolvimentodo ser humano, com o objetivo de integrá-lo como ser social, buscando a realização pessoal e os fins coletivos. A família é o primeiro espaço social da criança, no qual ela constrói referências e valores e a comunidade é o espaço mais amplo, onde novas referências e valores se desenvolvem. Com a participação da família e da comunidade o aluno traz para a escola informações, críticas, sugestões, solicitações, revelando necessidades e sinalizando rumos. A escola é um dos principais espaços de convivência social do ser humano, durante as primeiras fases de seu desenvolvimento. Ela tem papel primordial no desenvolvimento da consciência de cidadania e de direitos, já que é na escola que a criança e o adolescente começam a conviver num coletivo diversificado, fora do contexto familiar. 8 O conceito de cidadania em sua plena abrangência engloba direitos políticos, civis, econômicos, culturais e sociais. A exclusão ou limitação em qualquer uma dessas esferas fragiliza a cidadania, não promove a justiça social e impõe situações de opressão e violência. Exercer a cidadania é conhecer direitos e deveres no exercício da convivência coletiva, realizar a análise crítica da realidade, reconhecer as dinâmicas sociais, participar do debate permanente sobre causas coletivas e manifestar-se com autonomia e liberdade respeitando seus pares. Tais práticas se contrapõem à violência, na medida que não admitem a anulação de um sujeito pelo outro, mas fortalecem cada um, na defesa de uma vida melhor para todos. Uma proposta de educação para a paz deve sensibilizar os educandos para novas formas de convivência baseadas na solidariedade e no respeito às diferenças, valores essenciais na formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres e sensíveis para rejeitarem toda a forma de opressão e violência. A atenção educacional aos alunos com necessidades especiais, associadas ou não a deficiência, tem se modificado ao longo de processos históricos de transformação social, tendo caracterizado diferentes paradigmas, nas relações das sociedades com esse segmento populacional. A deficiência foi, inicialmente, considerada um fenômeno metafísico, determinado pela possessão demoníaca, ou pela escolha divina da 9 pessoa para purgação dos pecados de seus semelhantes. Séculos da Inquisição Católica e posteriormente, de rigidez moral e ética, da Reforma Protestante, contribuíram para que as pessoas com deficiência fossem tratadas como a personificação do mal e, portanto, passíveis de castigos, torturas e mesmo de morte. À medida que conhecimentos na área da Medicina foram sendo construídos, e acumulados, na história da humanidade, a deficiência passou a ser vista como doença, de natureza incurável, gradação de menor amplitude da doença mental. Tais ideias determinaram a caracterização das primeiras práticas sociais formais de atenção à pessoa com deficiência, quais sejam, as de segregá-las em instituições fosse para cuidado e proteção, fosse para tratamento médico. A esse conjunto de ideias e de práticas sociais denominou-se Paradigma da Institucionalização, o qual vigorou, aproximadamente por oito séculos. No Brasil, as primeiras informações sobre a atenção às pessoas com deficiência remontam à época do Império. Seguindo o ideário e o modelo ainda vigente na Europa, de institucionalização, foram criadas as primeiras instituições totais, para a educação de pessoas cegas e de pessoas surdas. Na Declaração dos Direitos Humanos de 1948,sobre a qual já fizemos referências , trata de diversos artigos e parágrafos que são 10 decisivos para o processo de inclusão. A título de exemplo transcrevemos o parágrafo 2 do Art.26 (outros artigos pertinentes ao tema estão em anexo 1). A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos. De maneira geral, esta Declaração assegura às pessoas com deficiência os mesmos direitos à liberdade, a uma vida digna, à educação fundamental, ao desenvolvimento pessoal e social e à livre participação na vida da comunidade. No tocante à Conferências Internacionais têm destaque duas A Conferência de Jomtien(1990) e a Conferência de Salamanca (1994), (já citadas também na nossa apostila sobre EJA.) A Conferência de Salamanca especificamente tratou de Necessidades Educativas Especiais. Verifique algumas recomendações feitas nessas conferências no Anexo 2. Importante estudo ocorreu em 1999, na cidade da Guatemala. Tratou-se da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Dentre as muitas e importantes discussões destaca-se a que define, no Art. 1, a deficiência como : uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária causada ou agravada pelo ambiente econômico e social. Para saber mais, acesse o Anexo 4 e você poderá ler algumas informações relevantes sobre a convenção da Guatemala. 11 Especificamente em nosso país, em tempos mais próximos, podemos considerar que a Educação Inclusiva começou a aparecer com maior destaque a partir da Constituição de 1988. Também fazem referência ao assunto: o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a LDB 9394/96.(Anexo 4). Destacamos o item III do Art. 53, do capítulo IV do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), Lei 8069 de 13 de julho de 1990: “O atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência deve ser feito preferencialmente na rede regular de ensino.” De acordo com o MEC1em termos bem atuais devemos registrar que está concentrada na SECADI - a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão- em articulação com os sistemas de ensino a implementação de políticas educacionais para a educação especial. Além da área específica de Educação Especial, a SECADI .como já enfatizamos, atende às áreas de alfabetização e educação de jovens e adultos, educação ambiental, educação em direitos humanos, do campo da educação escolar indígena, quilombola e educação para as relações étnico- raciais. O objetivo da SECADI é contribuir para o desenvolvimento inclusivo dos sistemas de ensino, voltado à valorização das diferenças e da diversidade, à promoção da educação inclusiva, dos direitos humanos e da sustentabilidade socioambiental, visando à efetivação de políticas públicas para esses segmentos. 1 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=290&Itemid=815 12 Nos tempos da Educação Inclusiva ressaltamos que a educação deve contribuir para a conscientização de direitos e proporcionar meios para que todos sejam integrados como, de fato, cidadãos de direito , caracterizando assim a educação inclusiva. Essa foi a temática desenvolvida no capítulo que transcorreu, abordando as diferentes visões sobre a forma da sociedade tratar das pessoas deficientes, ao longo do tempo. O próximo capítulo tratará dos aspectos ligados à Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva 13 2. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DAEDUCAÇÃO INCLUSIVA Em 2008 foi instituída a Política Nacional de Educação Especial , de acordo com a SECADI (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão), que passou a destacar a importância da inclusão, baseando-se na premissa da valorização das aptidões e capacidades de cada aluno e na minimização das dificuldades de alguns. A Educação Especial não substitui a escolarização de alunos com deficiência, com transtornos globais de desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação, porém, supõe uma escola que inclui alunos que não atendem a um determinado perfil. Todos devem ter oportunidades para se desenvolverem, ainda que em ritmos diferentes e nem sempre atingindo os mesmos patamares. Para isso devem ser oferecidos aos alunos recursos, serviços e estratégias que lhes permitam acesso ao conhecimento e ao ambiente escolar. Nesse contexto, deixa de ser um sistema paralelo de ensino, com níveis e etapas próprias. O mais importante é garantir o direito de todos à educação. Ao final do estudo desse capítulo você deverá ter construído e sistematizado aprendizagens tais como: Identificar as características da educação inclusiva, respeitando os direitos de todos. Perceber a necessidade da adoção de novas práticas pedagógicas para que todos tenham direito à educação e direito às diferenças. Estabelecer comparação entre “escola dos diferentes” e “escola das diferenças”, a partir da perspectiva da inclusão. 14 A intenção é esclarecer sobre a possibilidade de fazer da sala de aula comum um espaço de todos os alunos, sem exceções. Ele vai tratar da interface entre o direito de todos à educação e o direito à diferença, ou seja, da linha tênue traçada entre ambos e de como esse direito vai perpassando todas as transformações. 2.1.Sobre Identidade e Diferenças na Escola As instituições de ensino, diante das novas regulamentações, tomam caminhos diversos. Observamos que inicialmente há uma reação dos sistemas educacionais constituídos a partir da oposição entre “alunos normais” e “alunos especiais”, porque concebemos uma escola com um planejamento voltado para os alunos considerados normais, dos quais se espera determinadas atitudes, resultados e conhecimentos. As novas propostas nos apresentam a postura de que a inclusão exige mudanças, algumas vezes radicais, que rompem com paradigmas, contestam sistemas estabelecidos nas escolas. Ela questiona a fixação de modelos ideais, a normalização de perfis específicos de alunos e a seleção dos eleitos para frequentar as escolas, produzindo, com isso, identidades e diferenças, inserção e/ou exclusão. 15 Fonte da Imagem: http://slideplayer.com.br/slide/389068/ 2 De acordo com os estudos da SECADI o poder institucional que preside a produção das identidades e das diferenças define como normais e especiais não apenas os alunos, como também as suas escolas. Os alunos das escolas comuns são normais e positivamente valorados. Os alunos das escolas especiais são os negativamente concebidos e diferenciados. As escolas comuns escolhem atributos, rotulam os alunos, definem o papel dos professores na elaboração de currículos, programas e avaliações.. Aqueles que têm poder, que dirigem, decidem quem fica e quem sai, quem é incluído ou excluído dos ambientes escolares. 2 O Perfil Atual da Saúde e da Educação e o Conceito de Desenvolvimento Inclusivo Rosangela Berman Bieler Instituto Interamericano sobre Deficiência e Desenvolvimento Inclusivo. 16 Temos que estar atentos para não criar ambientes escolares excludentes, onde a identidade normal é tida sempre como natural, generalizada e positiva em relação às demais, e sua definição provém do processo pelo qual o poder se manifesta na escola, elegendo uma identidade específica a partir da qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Na perspectiva da inclusão escolar, as identidades são transitórias, instáveis, inacabadas e, portanto, os alunos não são categorizáveis, não podem ser reunidos e fixados em categorias, grupos, conjuntos, que se definem por certas características arbitrariamente escolhidas. Fonte da imagem: http://escolasemdiferencas.blogspot.com.br/2012/05/copy-paste- this-html-code-in-your.html A inclusão escolar, portanto, não permite atribuir a certos alunos identidades que os mantêm nos grupos de excluídos, ou seja, nos grupos dos alunos especiais, com necessidades educacionais especiais, portadores de deficiências, com problemas de aprendizagem e outros tais. É incabível fixar no outro uma identidade normal, que não só justifica a exclusão dos demais, como igualmente determina alguns privilegiados. Trata-se de uma educação que garante o direito à diferença e não à só à diversidade. A diversidade na escola permite a criação de grupos de idênticos, formados por alunos que têm uma característica comum para a realização de uma determinada atividade. O que se propõe com a nova visão inclusiva é 17 que não se agrupe alunos por uma de suas características (por exemplo, a deficiência), valorizando alguns em detrimento de outros e mantendo escolas comuns e especiais. O caminho sinalizado é outro. Fonte da Imagem: http://www.inclusive.org.br 2.2. Escola dos Diferentes ou Escola das Diferenças? As escolas inclusivas não são escolas dos diferentes e sim escolas onde todos se igualam participando das atividades, construindo o seu conhecimento, expressando as suas ideias de acordo com as suas capacidades. Assim, ainda que haja dificuldades, não há rótulos de alunos normais, alunos comuns, alunos especiais. Todos têm o direito de participar do processo escolar, não ocorrendo mecanismos de exclusão como, por exemplo, algum aluno ser excluído de uma turma. Para alcançar essa condição são necessárias novas práticas pedagógicas que dependem de transformações que ultrapassam a sala de 18 aula e até mesmo a escola. A atualização e o desenvolvimento de novos conceitos vão permitir práticas alternativas que favoreçam a inclusão e estimulem todos os alunos a caminhar sempre tentando vencer os obstáculos. Parada para a Sessão Pipoca! Quer assistir a um bom filme cuja temática está de acordo com as ideias que estamos trazendo: "Como estrelas na Terra- Toda Criança é Especial”, foi produzido por Aamir Khan,em 2007,com 2h 42min de duração. O filme conta a história de uma criança de nove anos, vista como problemática na escola. Sua vida muda quando o professor de Artes a observa , acredita nela e põe em prática um ambicioso plano para ajudá-la. A nossa abordagem no capítulo 2 teve como proposta a discussão dos conceitos recentes sobre inclusão ressaltando as possibilidades de trabalharmos numa escola dos diferentes. Registramos também o sonho possível do agrupamento de alunos , não pelas suas deficiências mas sim por características diferenciadas, que permitam a expressão de suas capacidades. Acesse também : http://www.inclusive.org.br/ O site oferece uma série de informações e acesso a documentos e entrevistas que esclarecerão dúvidas sobre as questões relativas à inclusão. 19 3. A ESCOLA COMUM NA PERSPECTIVA INCLUSIVA Cabe à escola inclusiva – a escola das diferenças – reformular práticas que resultem em exclusão. A exclusão decorre de processos de ensino- aprendizagemconsagrados pelo uso prolongado, considerados por muitos como incontestáveis. Esses processos privilegiam alunos com determinadas características, que caminham num determinado ritmo e assim excluem os que têm outros ritmos e outras necessidades. A escola inclusiva é uma escola comum que busca a participação de todos, integra os alunos através de novas práticas pedagógicas. Essa escola deve ter um ensino de qualidade no qual todos os que compõem o sistema educacional precisam estar envolvidos. Desse modo tanto professores como gestores, especialistas, pais, alunos e demais profissionais de educação devem trabalhar numa proposta comum que abrange todas as escolas, mas se individualiza em cada uma delas através do Projeto Político Pedagógico. O Projeto Político Pedagógico reflete a realidade da escola, seu plano de trabalho, as peculiaridades do grupo que constitui essa escola. Ao final do estudo desse capítulo você deverá ter construído e sistematizado aprendizagens tais como: Compreender como a escola comum se transforma numa escola inclusiva. Valorizar o papel do PPP – Projeto Político Pedagógico que reflete a realidade da escola e permite a introdução de novas práticas. Identificar o que está INSTITUÍDO em forma de leis e o INSTITUINTE como o que pode ser transformado e como pode ser transformado. 20 3.1- O já instituído e o instituinte Ao analisar a importância da escola inclusiva fica bem claro que ainda há muito a ser feito e, portanto, há necessidade de muitas mudanças. De um modo geral, cada escola precisa encontrar suas próprias soluções. O empenho de todos vai levar à descoberta dessas soluções que vão fazer parte do PPP – Projeto Político Pedagógico da escola. Cada escola terá um difícil caminho a percorrer para alcançar o perfil de escola verdadeiramente inclusiva. Os desafios das mudanças serão muitos e precisam ser assumidos pelo coletivo escolar. A organização da escola, os horários, o uso dos espaços da escola e fora dela, as horas de estudo dos professores devem ser combinados e sistematizados para que esses fins sejam alcançados. Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais, funções, diretrizes, orientações curriculares e metodológicas, oriundo das diversas instâncias burocrático-legais do sistema educacional, constitui o arcabouço pedagógico e administrativo das escolas de uma rede de ensino. Trata-se do que está INSTITUÍDO e do que Libâneo e outros autores (2003),citados por Santos(2010) analisaram pormenorizadamente. Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes curriculares, as leis, os documentos das políticas, os regimentos e demais normas do sistema. Entretanto existe um espaço e um tempo a serem construídos por todas as pessoas que fazem parte de uma instituição escolar, porque a escola não é uma estrutura pronta e acabada a ser perpetuada e reproduzida de geração em geração. A equipe da escola tem autonomia para inovar, definindo horários, criando projetos, módulos de estudo. Trata-se do INSTITUINTE Assim, confere autonomia a toda equipe escolar, acreditando no poder criativo e inovador dos que fazem e pensam a educação. 21 No PPP da escola inclusiva há possibilidade de se tratar sobre a organização do Atendimento Educacional Especializado – AEE, como um instrumento que favoreça a inclusão . 3.2. O Projeto Político Pedagógico: um horizonte de possibilidades Em materiais anteriores, do nosso curso CND, já destacamos a importância da construção coletiva do PPP. Esse destaque do PPP está no fato desse projeto representar não apenas uma exigência da burocracia e administração escolar, mas um registro da filosofia, dos objetivos e das atividades que se pretende realizar para alcançar os fins estabelecidos. Dessa maneira o PPP não pode ser apenas um documento para ser arquivado. Ele precisa alterar realmente a estrutura da escola, tornando-a uma escola de todos e para todos. No PPP precisa vir explicitado, fundamentalmente, o que quer e colocar em execução esse querer, não ficando apenas nas promessas ou nas intenções expostas no papel. Para Gadotti e Romão (1997), o PPP deve ser entendido como um horizonte de possibilidades para a escola. O Projeto imprime uma direção nos caminhos a serem percorridos pela escola. Ele se propõe a responder a um feixe de indagações de seus membros, tais como: qual educação se quer e qual tipo de cidadão se deseja, para qual projeto de sociedade? O PPP propõe uma organização que se funda no entendimento compartilhado dos professores, alunos e demais interessados em educação. Todas as intenções da escola, reunidas no Projeto Político Pedagógico, conferem-lhe o caráter POLÍTICO, porque ele representa a escolha de prioridades de cidadania em função das demandas sociais. O PPP ganha status PEDAGÓGICO ao organizar e sistematizar essas intenções em ações educativas alinhadas com as prioridades estabelecidas. 22 O caráter coletivo e a necessidade de participação de todos é inerente ao PPP, pois ele não se resume a um mero plano ou projeto burocrático, que cumpre as exigências da lei ou do sistema de ensino. Trata-se de um documento norteador das ações da escola que, ao mesmo tempo, cr5ia oportunidades para um exercício reflexivo . Há uma série de pequenos detalhes da organização da prática pedagógica., capazes de proporcionar das atividades de forma interativa, numa tentativa de evitar. práticas excludentes. O salto da escola dos diferentes para a escola das diferenças demanda conhecimento, determinação, decisão. As propostas de mudança variam e dependerão de disposição, discussões, estudos, levantamento de dados e iniciativas a serem compartilhadas pelos seus membros, enfim, de gestões democráticas das escolas, que favoreçam essa mudança. Muitas decisões precisam ser tomadas pelas escolas ao elaborarem seus PPP, entre as quais são destacadas3 o fazer da aprendizagem o eixo das escolas, garantindo o tempo necessário para que todos possam aprender o abrir espaço para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam praticados por seus professores, gestores, funcionários e alunos o valorizar e formar continuamente o professor, para que ele possa atualizar-se e ministrar um ensino de qualidade. No nível da sala de aula e das práticas de ensino, a mobilização do professor e/ou de uma equipe escolar em torno de uma mudança educacional como a inclusão não acontece de modo semelhante em todas as escolas. Mesmo quando há um PPP que orienta as ações educativas da escola, é necessário o empenho, uma disposição individual e grupal da equipe, para 3 Ropoli, Edilene Aparecida. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar : a escola comum inclusiva . 23 se expor a uma experiência educacional diferente das que estão habituados a viver. Para que qualquer transformação ou mudança seja verdadeira, as pessoas têm de ser tocadas pela experiência. Precisam ser receptivas, disponíveis e abertas a vivê-la, baixando suas guardas, submetendo-se, entregando-se à experiência (BONDÍA, apud SANTOS, p.14, 2010). As mudanças não ocorrem pela mera adoção de práticas diferentes de ensinar. Elas dependem da elaboração dos professores sobre o que lhes acontece no decorrer da experiência educacional inclusiva que eles necessitam viver. O reconhecimento de que os alunos aprendem segundo suas capacidades nãosurge de uma hora para a outra, só porque as teorias assim afirmam. Acolher as diferenças terá sentido para o professor e fará com que ele rompa com seus posicionamentos sobre o desempenho escolar padronizado e homogêneo dos alunos, se ele tiver percebido e compreendido por si mesmo essas variações, ao se submeter a uma experiência que lhe perpassa a existência. O professor, então, desempenhará o seu papel formador, que não se restringe a ensinar somente a uma parcela dos alunos que conseguem atingir o desempenho exemplar esperado pela escola. Ele ensina a todos, indistintamente. O caráter de imprevisibilidade da aprendizagem é constatado por professores que aproveitam as ocasiões para observar, abertamente e sem ideias pré-concebidas, a curiosidade do aluno que vai atrás do que quer conhecer, que questiona, duvida, que se detém diante do que leu, do que lhe respondemos, procurando resolver e encontrar a solução para o que lhe perturba e desafia com avidez, possuído pelo desejo de chegar ao que pretende. 24 Ao se deixar levar por uma experiência de ensinar dessa natureza, querendo entender o que ela revela e compartilhando-a com seus colegas, o professor poderá deduzir que certas práticas e aparatos pedagógicos, como os métodos especiais e o ensino adaptado para alguns alunos, não correspondem, completamente, ao que se espera deles. Por outro lado,opor-se a inovações educacionais, resguardando-se no despreparo para adotá-las, resistir e refutá-las simplesmente, distancia o professor da possibilidade de se formar e de se transformar pela experiência. Oposições e contraposições à inclusão incondicional são frequentes entre os professores e adiam projetos do ensino comum e especial focados na inserção das diferenças nas escolas. A interação entre colegas de turma, a aprendizagem colaborativa, a solidariedade entre alunos e entre estes e o professor devem ser estimuladas. Os professores, quando buscam obter o apoio dos alunos e propõem trabalhos diversificados e em grupo, desenvolvem formas de compartilhamento e difusão dos conhecimentos nas salas de aula. Muitas vezes os professores ainda rejeitam ou aceitam com restrições práticas educacionais inclusivas que derivam dos propósitos de se ensinar à turma toda, sem discriminações. Essa rejeição ou as restrições se devem, na maioria das vezes à insegurança na aplicação das novas práticas e à falta de condições para a aplicação das mesmas. 25 4. AS QUESTÕES PEDAGÓGICAS E A INCLUSÃO DOS ALUNOS ESPECIAIS A grande questão, e muitas vezes fonte de angústia, para os professores das escolas comuns é estabelecer sobre o que e como avaliar pedagogicamente os alunos que têm deficiências. Podemos considerar que é preciso reinventar os princípios e práticas escolares, para tornar a escola um ambiente inclusivo. Esse será o foco principal do capítulo. 4.1. Diferentes enfoques sobre o mesmo tema Enquanto os pedagogos, psicopedagogos, responsáveis pelas políticas públicas, gestores e professores discutem aspectos mais gerais a respeito de Direitos, Diferenças e Inclusão, as divergências de posicionamento são menos claras. Porém, quando o assunto é o trabalho na sala de aula, as posições apresentadas podem ser opostas. Ao final da leitura do capítulo esperamos que você tenha desenvolvido as seguintes competências e habilidades: Identificar os direitos assegurados pela Lei 9394/96 aos alunos com necessidades educacionais especiais. Conceituar flexibilização em educação no tempo, espaço, recurso e conteúdo. Estabelecer uma linha de trabalho na qual as práticas escolares inclusivas não impliquem em um ensino adaptado para alguns alunos, mas sim num ensino diferente para todos. Reconhecer formas práticas para registrar características dos alunos visando facilitar o trabalho do professor, na escola dos diferentes 26 De acordo com Pechi4 não existe um currículo específico para a inclusão de alunos com deficiência, uma vez que cada criança é única em suas possibilidades de aprendizagem. Porém, há documentos que ajudam a orientar o planejamento dos professores. Atendendo a Lei 9394/96 a escola deve assegurar aos alunos com necessidades educacionais especiais currículos, métodos, recursos educativos e organização específica para atender às suas necessidades, bem como o documento de terminalidade específica. Esse documento é um certificado de conclusão de escolaridade fundamentado em avaliação pedagógica - com histórico escolar que apresente, de forma descritiva, as habilidades e competências atingidas pelos alunos com grave deficiência mental ou múltipla, para aqueles que não puderem atingir o nível mínimo exigido para a conclusão do Ensino Fundamental, em virtude da situação pessoal de desvantagem. De acordo com Santos (2010),5ao contrário do que se pensa e se faz, as práticas escolares inclusivas não implicam em um ensino adaptado para alguns alunos, mas sim um ensino diferente para todos, em que os alunos tenham condições de aprender, segundo suas próprias capacidades, sem discriminações e adaptações. A ideia do currículo adaptado, de acordo com a autora, estaria mais associada à exclusão, pois só seria aplicado aos alunos que não conseguem acompanhar o progresso dos demais colegas na aprendizagem. Currículos 4 http://revistaescola.abril.com.br/formacao/existem-parametros-curriculares-nacionais- promover-inclusao-escolas-636411.shtml 5 A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar - A Escola Comum Inclusiva 27 adaptados e ensino adaptado negam a aprendizagem diferenciada e individualizada. Para a autora, ensino escolar é coletivo e deve ser o mesmo para todos. É o aluno que se adapta ao currículo, quando se admitem e se valorizam as diversas formas e os diferentes níveis de conhecimento de cada um. Para Santos .(2010) a aprovação e a certificação por terminalidade específica, como propõe a LDB 9394/96, não faz sentido, quando se entende que a aprendizagem é diferenciada de aluno para aluno, constituindo-se em um processo que não pode obedecer a uma terminalidade prefixada com base na condição intelectual de alguns. Outra crítica feita pela autora se refere à prática usual nas escolas do ensino dos conteúdos das áreas disciplinares (Matemática, Língua Portuguesa, Geografia, Ciências, etc.) como fins em si mesmos e tratados de modo fragmentado nas salas de aulas. Para a mesma, nem proposta de interdisciplinaridade é capaz de romper a compartimentalização do saber. A sugestão , no entender da mesma autora, seria o desenvolvimento de um trabalho com a transversalidade. Segundo Gallo (2002),citado por Santos ( 2010), a transversalidade em educação e currículo não disciplinar tem a ver com processos de ensino e de aprendizagem em que o aluno transita pelos saberes escolares, integrando-os e construindo pontes entre eles, que podem parecer caóticas, mas que refletem o modo como aprendemos e damos sentido ao novo. 4.2.A flexibilização é indicada De acordo com a sugestão de Ramos (2011) o desafio é um recurso usado em qualquer boa proposta de ensino. E não há por que não aproveitá-lo com alunos que tenham necessidades educacionais especiais (NEE). 28 Como ocorre com todas as crianças, esse procedimento ajuda a promover a aprendizagem. Quem tem na sala um estudante com algum tipo de deficiência geralmente conhece suas limitações,mas não tem claro o que, de fato, ele é capaz de fazer. Como descobrir isso? Flexibilizando as atividades e propondo situações de aprendizagem desafiadoras. Assim, seguindo o que propõe Ramos (2011) elabore as aulas pensando em como ele pode participar delas, sem tratá-lo como alguém a ser posto a parte. Para tanto é preciso adaptar as propostas para que ele seja protagonista e possa resolvê-las individualmente ou em dupla. A flexibilização pode se dar em diferentes dimensões: tempo, espaço, recursos ou conteúdo. É necessário também diferenciar os meios para garantir os mesmos direitos e deveres para todos. Observar os avanços de cada estudante e adaptar o planejamento são recomendações, até porque, independentemente de ter ou não necessidade educacional especial (NEE), um aluno nunca é igual ao outro. Para saber mais Em novaescola.org.br/extras, há mais informações sobre como trabalhar flexibilizando as aulas. 4.3. Uma ficha para auxiliar nos registros Em termos práticos, o que fazer para facilitar o trabalho do professor, na escola dos diferentes? Buscamos sugestões diversas e apresentamos, primeiramente, uma forma de registrar para melhor conhecer os alunos. A ficha de acompanhamento que se segue pode ser acessada em: 29 Modelo de proposta educativa para alunos de inclusão Fonte: http://gestaoescolar.abril.com.br/pdf/modelo-ficha-inclusao.pdf 1 – Identificação ---------------- Aqui entram os dados pessoais do aluno e os contatos da família Nome: Data de Nascimento: Endereço: Telefone: Filiação: 2 – Dados relevantes sobre a família e histórico pessoal do aluno ------- Espaço para relatar aspectos importantes sobre o desenvolvimento do aluno e informações sobre a família que possam auxiliar os profissionais que o acompanharão. 3 – Dados sobre a escolarização --------------- Escolas que o aluno frequentou, com seus respectivos contatos telefônicos 4 – Atendimentos fora da escola ------- Informar instituições que o aluno frequenta ou já frequentou, bem como os profissionais (como fonoaudiólogos e terapeutas) que o atendem ou atenderam. 5 – Necessidades especiais identificadas |--------Itens para enumerar dificuldades tais como:comprometimento cognitivo e restrições motoras), bem como aspectos que podem auxiliar o processo de aprendizagem (como gosto pela escola e boa parceria com a família) 5.1 Identificação da(s) dificuldade(s) 5.2 Possíveis fatores associados ao(s) problema(s) 5.3 Fatores de positividade 6 – Objetivos pedagógicos |------ Listar, de acordo com as possibilidades do aluno, o que se espera que ele aprenda em um determinado período em diferentes áreas do conhecimento. 6.1 Leitura 6.2 Escrita 6.3 Matemática 6.4 Natureza e Sociedade 6.5 Psicomotricidade 6.7. Autoestima 30 6.8. Atenção e Concentração 6.9. Recursos Humanos/ Materiais 7 – Objetivos gerais |------ Listar, de acordo com as possibilidades do aluno, as diversas habilidades que ele pode adquirir no período e conquistas que pode atingir. OBS: A avaliação será feita e acordo com cada objetivo. 8 – Responsáveis pela construção do plano - Professor referência ------- (Da turma regular) - Professor especialista ---( Do Atendimento Educacional Especializado (AEE) - Pedagogo - Fonoaudiólogo - Psicólogo - Cuidador - Terapeuta Ocupacional Um estudo de caso: Vamos relatar uma experiência que vem sendo desenvolvida, há vários anos, num colégio da rede pública federal, situado na cidade do Rio de Janeiro: Alunos com deficiência visual ou com visão baixa têm um atendimento especial. Pela manhã, assistem às aulas regulares e, à tarde, vão para uma escola especializada, o Instituto Benjamim Constant. Nas aulas regulares, recebem material em Braille e um atendimento mais próximo do professor. O mais importante, porém, é a inclusão. Eles se sentem totalmente participantes da turma, recebem o apoio, a amizade e a ajuda dos colegas. Também costumam se deslocar, sem necessidade de ajuda, pelo espaço do colégio. No Benjamim Constant eles recebem o atendimento especializado que essa instituição tem condições de dar, caracterizando assim a educação inclusiva na sua melhor expressão. 31 Atividade: Apresente, num pequeno texto, uma experiência semelhante que você tenha observado ou tido conhecimento; comente o resultado dessa experiência, com base no que você já leu neste material. De acordo com a nossa proposta para o capítulo o que visamos foi tratar da questão da inclusão , na perspectiva do professor de escola comum, que recebe alunos diferentes, sendo que alguns apresentam necessidades educacionais especiais, enquanto não se efetiva por completo a sonhada escola da diferença. Assim apresentamos um diálogo entre autores com diferentes visões sobre o processo de ensino para as classes com alunos que tenham necessidades educacionais especiais e variadas. Como contribuição foram sugeridas atividades desafiadoras e flexíveis, de forma a atender a todos. Outra sugestão visa registrar a caminhada mais específica dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais e reafirmamos que a base de um trabalho inclusivo ressalta a prioridade do conhecimento de cada aluno. O próximo capítulo procurará apresentará dados sobre o atendimento educacional especializado ou AEE. 32 5. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO - AEE. Uma das propostas trazidas pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) é o Atendimento Educacional Especializado - AEE. Como AEE se entende: um serviço da Educação Especial que "[...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas" (SEESP/MEC, 2008). Os alunos público-alvo da educação especial são atendidos nas Salas de Recursos Multifuncionais, conforme estabelecido na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e no Decreto N.6.571/2008. Esse atendimento - AEE- complementa e/ou suplementa a formação do aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela, constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. Portanto, deve ser parte integrante do projeto político pedagógico da escola. Sobre que alunos estamos falando? Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas barreiras, podem obstruir Ao final do estudo desse capítulo você deverá ter construído e sistematizado aprendizagens tais como: Caracterizar o AEE – Atendimento Educacional Especializado Refletir sobre a importância da articulação entre Educação Especial e escola comum, na perspectiva da inclusão. 33 sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (ONU, 2006). Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. (MEC/SEESP, 2008). Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles quedemonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. (MEC/SEESP, 2008). De acordo com o que propõe a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) , para que o aluno receba esse atendimento – AEE , ele deve estar matriculado no ensino regular. Esse atendimento pode ser oferecido em Centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou privada sem fins lucrativos. Tais centros, contudo, devem estar de acordo com as orientações dessa citada política. bem como das Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica da Resolução Nº 4, DE 2 DE OUTUBRO DE 2009 .6 Na perspectiva da educação inclusiva, o processo de reorientação de escolas especiais e centros especializados requerem a construção de uma proposta pedagógica que institua nesses espaços, principalmente, serviços de 6 http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf 34 apoio às escolas para a organização das salas de recursos multifuncionais e para a formação continuada dos professores do AEE. Há preferência pela escola comum como o local do serviço de AEE, já definida no texto constitucional de 1988, e reafirmada pela nessa proposta. O motivo principal do AEE ser realizado na própria escola do aluno está na possibilidade de que suas necessidades educacionais específicas possam ser atendidas e discutidas no dia a dia escolar e com todos os que atuam no ensino regular e/ou na educação especial, aproximando esses alunos dos ambientes de formação comum a todos. Para os pais, quando o AEE ocorre nessas circunstâncias, propicia- lhes viver uma experiência inclusiva de desenvolvimento e de escolarização de seus filhos, sem ter de recorrer a atendimentos exteriores à escola. 5.1. As reais possibilidades de articulação entre escola comum e a de educação especial. Com os novos rumos estabelecidos pela Política de Inclusão, a Educação Especial deve se articular com a escola comum. Trata-se de um novo olhar uma vez que tempos atrás, se propunha substituir a escola comum para alguns alunos que não correspondiam às exigências do ensino regular. Dessa forma a escola das diferenças aproxima a escola comum da Educação Especial, porque, na concepção inclusiva, os alunos devem estar juntos, em uma mesma sala de aula, em todos os níveis e etapas do ensino básico e do superior. Para oferecer as melhores condições possíveis de inserção no processo educativo formal. Uma aproximação do ensino comum com a Educação Especial vai se constituindo à medida que as necessidades de alguns alunos provocam o encontro, a troca de experiências e a busca de condições favoráveis ao desempenho escolar dos mesmos. 35 Os professores comuns e os da Educação Especial precisam se envolver para que seus objetivos específicos de ensino sejam alcançados, compartilhando um trabalho interdisciplinar e colaborativo. As frentes de trabalho de cada professor são distintas. Ao professor da sala de aula comum é atribuído o ensino das áreas do conhecimento, e ao professor do AEE cabe complementar/suplementar a formação do aluno com conhecimentos e recursos específicos que eliminam as barreiras as quais impedem ou limitam sua participação com autonomia e independência nas turmas comuns do ensino regular. As funções do professor de Educação Especial são abertas à articulação com as atividades desenvolvidas por professores, coordenadores pedagógicos, supervisores e gestores das escolas comuns, tendo em vista o benefício dos alunos e a melhoria da qualidade de ensino. É importante o desenvolvimento em parceria de recursos e materiais didáticos para o atendimento do aluno em sala de aula e o acompanhamento conjunto da utilização dos recursos e do progresso do aluno no processo de aprendizagem, assim como também se torna essencial a formação continuada dos professores e demais membros da equipe escolar, entremeando tópicos do ensino especial O que é Tecnologia Assistiva? É um termo ainda novo, (1988) utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover a vida Independente e a inclusão. É também definida como uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiências. Fonte: http://www.assistiva.com.br/ tassistiva.html#topo 36 e comum, como condição da melhoria do atendimento aos alunos em geral e do conhecimento mais detalhado de alguns alunos em especial, por meio do questionamento das diferenças e do conhecimento de tudo o que possa promover a exclusão escolar. Dentre as possibilidades de atendimento ao AEE são apresentadas: no horário oposto ao período escolar do aluno; projetos escolares interdisciplinares que incluam a necessidade da tecnologia assistiva - TA; Fonte da imagem: http://futurotaqui.blogspot.com.br/2013/02/a-tecnologia-assistiva-faz-fazer.html planejamento para alterações na acessibilidade física da escola entre outros . Ainda é preciso citar uma proposta das Diretrizes para atendimento a AEE. As verbas do governo federal irão contemplar. Conforme as Diretrizes, para o financiamento do AEE são exigidas as seguintes condições: a) matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncional da mesma escola pública; b) matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncional de outra escola pública; 37 c) matrícula na classe comum e em centro de atendimento educacional especializado público; d) matrícula na classe comum e no centro de atendimento educacional especializado privado sem fins lucrativos. De acordo com Santos(2010) continua havendo certa dificuldade de se articular serviços dentro da escola. O que se entende equivocadamente por articulação entre a Educação Especial e a escola comum tem descaracterizado a interlocução entre ambas. 5.2. Que perfil mais usuais têm os alunos assistidos pela AEE e presentes na sala de aula da escola comum? Embora não nos caiba, como professores, diagnosticar as dificuldades pessoais apresentadas pelos alunos especiais incluídos ou não nas classes comuns, utilizaremos uma abordagem feita pela Prefeitura Municipal da Cidade de São Paulo7 para orientar seus professores. São destacadas no documento quatro grupo de dificuldades ou deficiências: .deficiência física, deficiência mental,deficiência auditiva e deficiência visual. ... Como deficiência física se entende a alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, abrangendo, dentre outras condições, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou 7 http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Documentos/BibliPed/EdEspecial/Referencial_AvaliacaoAprendizag em_NecessidadesEspeciais.pdf 38 adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho das funções (BRASIL, MEC/SEESP,2006). A deficiência física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende os sistemas ósteo-articular, muscular e o nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações físicas de grau e gravidade variáveis, segundo o(s) segmento(s) corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida (<www.entreamigos.com.br>. Acesso em 2006). A paralisia cerebral é um tipo de deficiência física definida por muitos autores como:uma desordem do movimento e da postura devido a um defeito ou lesão do cérebro imaturo (...). A lesão cerebral não é progressiva e provoca debilitação variável na coordenação da ação muscular, com resultante incapacidade da criança em manter posturas e realizar movimentos normais (Bobath, 1984, p. 1). Se você quiser saber mais sobre os diferentes tipos de paralisia cerebral Acesse: Referencial sobre avaliação da aprendizagem de Alunos com Necessidades Especiais, da PMSR(2008) Algumas considerações sobre pessoas com deficiência física Será que uma criança muito prejudicada fisicamente é também deficiente intelectual? Não existe relação entre o prejuízo motor da criança e a deficiência intelectual. O que acontece é que crianças com paralisia cerebral apresentam atrasos ou dificuldades em conseqüência do déficit motor que interfere e prejudica as possíveis experiências da criança, tanto em relação ao mundo físico como social. Uma parcela dessas crianças apresenta déficits sensitivo- sensoriais associados (visão e audição) que, se não forem detectados e tratados a tempo, poderão acarretar em atraso escolar. 39 Mesmo quando há somente o comprometimento motor, há prejuízo no desenvolvimento da cognição e na aquisição de mecanismos culturais básicos, porque a dificuldade de manipular, explorar e controlar o ambiente empobrece as experiências por ela vividas. Isso pode ser um empecilho para o desenvolvimento da inteligência sensório-motora e, consequentemente, para o posterior desenvolvimento do raciocínio operador e formal. Como possibilitar a inclusão de uma criança com deficiência física na escola? A pessoa com deficiência física tem necessidade de conviver, interagir, trocar, aprender, brincar e ser feliz como qualquer outra, só que, muitas vezes, por caminhos ou formas diferentes. Há pessoas, que precisam ser mediadas no processo de interação. O ritmo de interação e de execução de suas ações apresenta formas diferentes de manipulação e experimentação, pois podem ser dependentes motoramente. Alguns , para participar, precisam de um mediador. Ele quer participar, pois só por meio da participação poderá sentir-se parte do grupo. A colaboração é fator fundamental para sua participação, pois precisa de um mediador para experimentar e construir seus conceitos proporcionando a troca entre o organismo e o meio. Só com o fortalecimento das potencialidades da criança, que através da sua intencionalidade seja capaz de descobrir, agir sobre, transformar o ambiente e se integrar é que ela poderá demonstrar suas reais possibilidades. É comum a criança muito dependente mostrar-se insegura nas relações e apresentar comportamento de teimosia ou amuo, em função das dificuldades normalmente apresentadas pela família e por ela própria no reconhecimento de suas potencialidades; portanto, é fundamental que a postura e as atitudes dos professores e pais para com a criança conduzam a um desenvolvimento saudável em que todos cresçam juntos. A criança gosta de ser compreendida, quer participar; contudo, desempenha tarefas e papéis 40 de acordo com suas possibilidades. A participação proporciona um sentimento de pertencimento ao grupo, garantindo, assim, melhor interação com o grupo e com o conteúdo trabalhado. A criança quer ser tratada da mesma forma que os outros. Segundo definição proposta pela Associação Americana de Retardo Mental (AAMR, 1992), que também foi utilizada no documento Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994), “deficiência mental” (intelectual) refere-se a limitações substanciais no funcionamento atual do indivíduo. É caracterizado por um funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, existindo concomitante com relativa limitação a duas ou mais áreas de conduta adaptativa indicadas a seguir: comunicação, cuidados pessoais, vida no lar, habilidades sociais, desempenho na comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança,habilidades acadêmicas funcionais, lazer e trabalho . (p. 59 do documento da Prefeitura de São Paulo). Segundo D’Antino, citado no Referencial sobre avaliação da aprendizagem de Alunos com Necessidades Especiais, da PMSP(2008) o grau de comprometimento intelectual das crianças com deficiência mental (aspectos internos) abrange uma variada escala. Pode-se dizer que, em uma das extremidades, encontram-se aquelas crianças que desenvolvem habilidades sociais e de comunicação eficientes e funcionais, tem um prejuízo mínimo nas áreas sensório-motoras e podem apresentar comportamentos similares às crianças de sua idade não portadoras de deficiência. Este grupo constitui-se na maioria, aproximadamente 85% dos casos. No centro da escala, encontram-se aquelas crianças com nível de comprometimento intelectual mais acentuado, porém capazes de adquirir 41 habilidades sociais e de comunicação, necessitando de apoio e acompanhamento mais constante para a sua aprendizagem e desenvolvimento, e representam um índice próximo aos 10% desta população. Apenas cerca de 5% apresentam significativo rebaixamento intelectual e normalmente associado a outros comprometimentos. Durante os primeiros anos da infância, essas crianças adquirem pouca, ou até nenhuma, fala comunicativa e apresentam prejuízos graves no desenvolvimento sensório-motor. Elas se beneficiam de estimulação multissensorial, requerendo ambientes estruturados, favoráveis ao seu desenvolvimento e aprendizagem com apoio e acompanhamento constantes (apud MANTOAN, 1997). Durante muito tempo acreditou-se que a aprendizagem dos deficientes intelectuais acontecia somente pelo uso de materiais concretos. O aluno deveria ter contato com o objeto e a partir disso iniciar os treinos insistentes, alienantes e descontextualizados. O grande equívoco de uma pedagogia que se baseia nessa lógica do concreto e da repetição alienante é negar o acesso da pessoa com deficiência intelectual ao plano abstrato e simbólico da compreensão Ao contrário do que se acreditava no passado, o enfoque no trabalho com essa população deve ser voltado ao desenvolvimento das funções cognitivas superiores. A pessoa com deficiência intelectual costuma apresentar uma característica de recusa ou de negação do saber e dessa maneira assume uma posição passiva e dependente do outro. Se o professor faz tudo pelo aluno ou oferece todas as respostas, ele reforça a posição de “débil” e de inibição não permitindo que ele construa qualquer tipo de conhecimento. 42 Hoje já existem estudos que constatam que as pessoas com deficiência intelectual elaboram os mesmos esquemas de interpretação da linguagem e escrita e passam pelos mesmos conflitos cognitivos das demais. Segundo Vygotsky (1988 apud Voivodic, 2004), “para minorar a defasagem das crianças com deficiência mental, o enfoque deve estar apropriado ao desenvolvimento das funções cognitivas superiores, ao contrário do que se acreditava ao se basear o ensino dessas crianças no uso de métodos concretos”(p. 46 e 47). Alfabetizar uma pessoa com deficiência intelectual, não é um fim em si mesmo, mas um meio de possibilitar modificações mais amplas no seu repertório comportamental, contribuindo ao mesmo tempo para que melhore o que se chama a sua “autoestima” e para que o mesmo também possa ter acesso ao conhecimento e consequentemente o desenvolvimento do seu potencial cognitivo. Para isso é importante entender como se processa a aquisição do conhecimento, e hoje já sabemos que ela se dá por meio das interações do sujeito com o meio e suas experiências anteriores. Portanto, é necessário que essa pessoa traga sua vivência e se posicione de forma autônoma e criativa diante do conhecimento. Em relação às atividades em sala de aula é preciso alguns cuidados. Assim afirmamos que deixar um aluno com deficiência intelectual à margem da aprendizagem é um grande equívoco. A escola é responsável pela aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual utilizando-se de alguns procedimentos simples: realizar atividades em duplas ou grupos, em que se garanta a participação dos alunos com necessidades educacionais especiais. Essa estratégia contribui para que os alunos se ajudem mutuamente, trocando informações e colaborando na execução das atividades. 43 A deficiência auditiva acontece quando há uma diminuição da audição e produz uma redução na percepção de sons, o que dificulta a compreensão das palavras. As dificuldades aumentam com o grau de perda. O deficiente auditivo é aquele que com a utilização de uma prótese auditiva (aparelho de amplificação sonora individual poderá reconhecer os sons do meio ambiente, inclusive os sons da fala. A surdez pode ser caracterizada pela impossibilidade de se ouvir mesmo com a utilização de próteses. O que significa então ter uma perda auditiva? De acordo com o documento da PMSP ( p. 65),significa que o sujeito que a possui acaba por não ter acesso à comunicação oral, aquela utilizada mais comumente pela nossa sociedade, o que muitas vezes pode gerar atraso em seu desenvolvimento, não por problemas cognitivos, mas pela impossibilidade da participação no mundo linguístico. Há diferentes graus de surdez que são classificadas em leve,moderada e severa. A pessoa com esse grau de surdez, em geral, utiliza naturalmente a Língua de Sinais. A grande dificuldade da pessoa com surdez é poder participar do mundo sonoro. Quando nascemos, somos colocados em um mundo que não entendemos, mas vamos aprendendo a compreender. A criança aprenderá o significado das palavras a partir de seu uso social. Para a pessoa com surdez ter acesso ao mundo linguístico, precisa vivenciar situações reais nas quais possa compreender o idioma a partir de seu uso social. Utilizar gestos indicativos e desenhos para explicar-lhe o que deseja ajuda. 44 Quando trabalhamos com alunos com surdez, devemos pensar que sua memória é principalmente visual, o que significa que ele terá maior facilidade de guardar elementos visuais; portanto, se lhe oferecermos um objeto novo, necessitamos mostrá-lo e nomeá-lo, auxiliando-o a compreender seu significado. É importante também que se desenvolva em conjunto com as imagens e gestos indicativos, a língua de sinais. Esta irá auxiliar o aluno surdo e os outros alunos da classe a desenvolverem real comunicação, o que favorecerá a expressão de ideias, argumentações e relatos de histórias. É importante que o grupo turma perceba que pessoas surdas sabem se comunicar, e respeitem sua organização linguística. Os alunos devem ser estimulados a se comunicar através do aprendizado gradativo da língua de sinais (sinal do nome, sinal de referência de cada pessoa, sinais de cumprimentos, etc.). Além disso, em todas as oportunidades possíveis, os sinais podem ser instalados na sala de aula. ... Deficiência visual é a perda total ou parcial, congênita ou adquirida da visão,variando de acordo com o nível ou acuidade visual da seguinte forma: Cegueira é a perda total ou o resíduo mínimo de visão que leva a pessoa a necessitar do sistema Braille como meio de leitura e escrita. É considerado com baixa visão o indivíduo que apresenta alteração da capacidade funcional da visão .Trata-se de baixa acuidade visual significativa, e é decorrente de inúmeros fatores isolados que provocam redução importante no campo visual, e que limitam o desempenho visual do indivíduo. (SMSP, p.71) Dentre os recursos e cuidados que podemos utilizar para facilitar o aprendizado dos alunos de baixa visão são sugeridos:: 45 Uma base de papel cartão preto embaixo do caderno para causar contraste, facilitando a localização do caderno. Outro recurso bem simples é usar caneta hidrocor preta de ponta média ou lápis 6B para auxiliar na discriminação visual. As cores de giz branca e amarela proporcionam melhor contraste em relação ao fundo de lousa preto ou verde escuro, enquanto a utilização de várias cores de giz dificulta o contraste de cores para o aluno com baixa visão. O fato de se colocar à disposição dos alunos materiais táteis facilita a compreensão de determinados conceitos pelos alunos com baixa visão. Para ter informações sobre importantes trabalhos com os deficientes visuais e auditivos e preparo de profissionais para lidar com os alunos consulte o Anexo 5 ao final da apostila. 46 Fonte da imagem: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf(p.23) 47 5.3. Conhecendo mais sobre as possibilidades de trabalhar com o aluno com NEE Há no site da Revista Nova Escola, alguns links que respondem a indagações a respeito dos alunos com NEE. . Acesse e informe-se. http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/ O que é e como lidar com a deficiência física? O que é e como lidar com a deficiência auditiva? O que é e como lidar com a deficiência visual? O que é e como lidar com a surdo-cegueira? O que é a Síndrome de Asperger? O que é a Síndrome de Williams? O que é a Síndrome de Rett? O que são os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)? O que é paralisia cerebral? O que é o autismo? O que é Síndrome de Down? Como funciona o sistema Braille? Como passar informações de alunos com deficiência para a coordenação? 48 Que tal conhecer uma turminha muito especial através das histórias em quadrinho? Turma da Febeca – História em quadrinhos, inspirada na vida real de duas estudantes cadeirantes As pessoas com deficiência estão ganhando espaço em áreas importantes, e com isso as pessoas estão descobrindo como é a vida e o cotidiano de um deficiente. Com linguagem simples e bem divertida a Turma da Febeca chegou para mostrar um pouquinho disso tudo. A história foi inspirada na vida real de duas estudantes cadeirantes com as quais o autor teve contato pelo antigo Orkut. A ideia é do cartunista carioca Victor Klier . Ele trabalhou por 17 anos com o Ziraldo, escrevendo as histórias do Menino Maluquinho e pensou em escrever/desenhar quadrinhos com essa turma. A turma conta com 15 personagens especiais e com diversas deficiências, cada um com um perfil diferente e com uma alegria infinita 49 Para conhecer esses personagens vale acessar o blog do jornalista Victor Klier, criador da turminha ou ainda acessar http://eficienciaespecial.blogspot.com.br/2013/07/conheca-inclusiva-turma-da- febeca.html: Concluindo o capítuloressaltamos a necessidade de articular o atendimento do AEE no PPP das escolas comuns. Uma vez considerado esse serviço da Educação Especial como parte constituinte do Projeto, os demais eixos de articulação entre ensino comum e especial serão envolvidos e contemplados, e o ensino comum e especial terão seus propósitos fundidos em uma visão inclusiva de educação. Dada a necessidade de um trabalho que atenda às especificidades dos alunos, o próximo capítulo abordará as possibilidades das tecnologias de atendimento a alunos com necessidades especiais. 50 6. TECNOLOGIAS A SERVIÇO DAS CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS. A Educação Especial desenvolve-se em torno da igualdade de oportunidades, em que todos os indivíduos, independentemente das suas diferenças, deverão ter acesso a uma educação com qualidade, capaz de responder as suas necessidades. 6.1.As tecnologias de comunicação e informação :possibilidades de uso Promover a utilização de computadores pelas crianças e jovens com necessidades especiais integrados no ensino regular é uma possibilidade concreta. De acordo com Zulian e Freitas (2001): Os ambientes de aprendizagem baseados nas tecnologias da informação e da comunicação, que compreendem o uso da informática, do computador, da Internet, das ferramentas para a Educação a Distância e de outros recursos e linguagens digitais, proporcionam atividades com propósitos educacionais, interessantes e desafiadoras, favorecendo a construção do conhecimento, no qual o aluno busca, explora, questiona, tem curiosidade, procura e propõe soluções. O computador é um meio de atrair o aluno com NEE à escola, pois, à medida que ele tem contato com este equipamento, consegue abstrair e verificar a aplicabilidade do que está sendo estudado, sem medo de errar, construindo o Ao final do estudo desse capítulo você deverá ter construído e sistematizado aprendizagens tais como: Identificar as características necessárias às salas de recursos multifuncionais. Entender as formas de apoio governamental à implantação dessas salas. Citar diferentes recursos acessíveis a vários tipos de deficiência. Refletir sobre o que se pode adaptar nas escolas comuns para facilitar a inclusão. 51 conhecimento pela tentativa de ensaio e erro.( disponível em http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2001/02/a5.htm) 6.2.As salas de recursos multifuncionais. Uma novidade recente no tocante tecnologias assistivas são as salas de recursos multifuncionais . Esses são espaços localizados nas escolas de Educação Básica, onde se realiza o AEE. Essas salas são organizadas com mobiliários, materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para o atendimento aos alunos da educação especial, em geral no turno contrário ao da escolarização. O Ministério da Educação, com o objetivo de apoiar as redes públicas de ensino na organização e na oferta do AEE e contribuir com o fortalecimento do processo de inclusão educacional nas classes comuns de ensino, instituiu o Programa de implantação de salas de recursos multifuncionais, por meio da Portaria Nº. 13, de 24 de abril de 2007. Nesse processo, o Programa atende a demanda das escolas públicas que possuem matrículas de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotados/altas habilidades, disponibilizando as salas de recursos multifuncionais de dois tipos As salas de recursos multifuncionais do tipo I são constituídas de microcomputadores, monitores, fones de ouvido e microfones, scanner, impressora laser, teclado e colmeia, mouse e acionador de pressão, laptop, materiais e jogos pedagógicos acessíveis, software para comunicação 52 alternativa, lupas manuais e lupa eletrônica, plano inclinado, mesas, cadeiras, armário, quadro melanínico. As Salas de Recursos Multifuncionais tipo II têm os recursos da sala tipo I, acrescidos de outros recursos específicos para o atendimento de alunos com cegueira, tais como impressora Braille, máquina de datilografia Braille, reglete de mesa, punção para escrita Braile, , soroban, guia de assinatura, globo terrestre acessível, kit de desenho geométrico acessível, calculadora sonora, software para produção de desenhos gráficos e táteis. Além desse material variado podemos citar alguns recursos acessíveis como a maquete da planta baixa que pode ser confeccionada com diferentes materiais, como o papel cartão, o papel camurça e outros. Esse material proporciona a percepção do ambiente, a orientação espacial e a mobilidade. O Jogo da velha e dominó são constituídos de peças e tabuleiro em diferentes materiais, texturas, cores e formas geométricas que permitem acessibilidade para alunos com cegueira ou com baixa visão. A colmeia é um recurso da tecnologia assistiva feita em acrílico transparente com furos coincidentes às teclas do teclado comum. A colmeia 53 facilita a digitação do aluno com dificuldade motora. O acionador de pressão, conectado ao mouse, é utilizado por alunos com deficiência física. Por exemplo, em casos em que os alunos apresentam amputação de braços, o acionador poderá ser ativado com o queixo ou, se o aluno apresenta dificuldades motoras nas mãos, o acionador poderá ser ativado com o movimento do cotovelo. A Aranha-mola é produzida com um arame revestido, onde os dedos e a caneta são encaixados. O objetivo deste recurso é estabilizar ou auxiliar nos movimentos de pessoas com deficiência física nas atividades em que utilizam lápis, caneta ou pincel. Concluindo o capítulo e a apostila sobre a Educação Inclusiva ressaltamos que a evolução das tecnologias permite cada vez mais a integração de crianças com necessidades especiais nas escolas, facilitando seu processo educacional e visando a sua formação integral. 54 As possibilidades aumentam não só em termos tecnológicos , mas também e principalmente, no olhar acolhedor que a sociedade vem tendo , de forma crescente com relação aos cidadãos que apresentam algum tipo de dificuldade. É importante afirmar que até mesmo em termos de garantia de emprego para as pessoas que apresentam deficiência, já há toda uma legislação que as ampara. Não estamos apenas apresentando sonhos, já há uma caminhada na busca de direitos vem sendo atendida. Lamentamos, no entanto, que a muitas barreiras sejam as arquitetônicas , ou as de aspecto psicológico , as barreiras atitudinais ainda precisem ser removidas. (Carvalho,1998). Você aluno do CND - IECS, futuro professor, deve se integrar na luta para o rompimento dessas barreiras. Observe os quadrinhos e sinta seu potencial de ação. Uma aluna buscou a Direção da escola que frequentava e reivindicou uma série de alterações arquitetônicas de modo a que todos os alunos pudessem estar bem atendidos.. Após um tempo ela, com apoio do grupo, conseguiu:: 55 Fonte da imagem: http://eficienciaespecial.blogspot.com.br/2013/07/conheca- inclusiva-turma-da-febeca.html 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, Maria Salete Fabio. Educação Inclusiva. Brasília: MEC/ SEESP, 2004./2005 Volumes 1, 2 e 3. Disponível em : http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/fundamentacaofilosofica.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aescola.pdf Acesso em jan 2015 _________Projeto Escola Viva : garantindo o acesso e permanência de todos os alunos
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