Buscar

Princípios da Lei Penal no Tempo e no Espaço

Prévia do material em texto

DIREITO
PENAL
Prof. Arnaldo Quaresma e 
Prof. Nidal Ahmad
 
1 
 
01) TEORIA DA NORMA 
1) DA LEI PENAL NO TEMPO 
1.1) Princípios da lei penal no tempo 
 
Há dois princípios que regem os conflitos de leis penais no tempo: 
 
1º) o da irretroatividade da lei mais severa; 
2º) o da retroatividade da lei mais benigna. 
 
Esses dois princípios podem ser resumidos em um só: o da retroatividade da 
lei mais benigna. 
 
1.2) HIPÓTESES DE CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO 
A) ABOLITIO CRIMINIS 
 
Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova já não incrimina fato que 
anteriormente era considerado como ilícito penal. A nova lei, demonstrando não haver mais, por 
parte do Estado, interesse na punição do autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo. 
(adultério era típico, mas se tornou atípico com a Lei 11.106/05) É decorrência da previsão do 
art. 5º, XL, CF, e art. 2º, do CP. 
B) NOVATIO LEGIS IN MELLIUS 
 
Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras. A lei 
posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que 
decididos por sentença condenatória transitada em julgado (Art. 2, parágrafo único do CP). 
C) NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA 
 
A lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos (novatio legis 
incriminadora): não retroage. 
 
A novatio legis incriminadora, ao contrário da abolitio criminis, considera crime fato 
anteriormente não incriminado. 
D) NOVATIO LEGIS IN PEJUS 
 
A quarta hipótese refere-se à nova lei mais severa a anterior (a nova lei de drogas, Lei 
n. 11.343/06, no art. 33, aumentou a pena do crime de tráfico de drogas). Incide, no caso, o 
princípio da irretroatividade da lei penal: "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu" 
(art. 5º, XL). 
 
1.3) CRIME PERMANENTE E CRIME CONTINUADO E LEI PENAL MAIS BENÉFICA 
 
Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do CRIME PERMANENTE, 
ainda que seja prejudicial ao réu, já que a cada momento da atividade criminosa está 
presente a vontade do agente. 
 
 
2 
 
Da mesma forma, em sendo o CRIME CONTINUADO uma ficção, considerando que 
uma série de crimes constitui um único delito para a finalidade de aplicação da pena, o agente 
responde pelo que praticou em qualquer fase da execução do crime continuado. Portanto, se 
uma lei penal nova tiver vigência durante a continuidade delitiva, deverá ser aplicada 
ao caso, prejudicando ou beneficiando. 
 
É o que diz a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime 
continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou 
da permanência”. 
 
2) LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA – Art. 3º do CP 
 
2.1) Conceito 
 
De acordo com o art. 3º do CP, as leis excepcionais ou temporárias, embora decorrido 
o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que as determinaram, aplicam-se aos 
fatos praticados durante sua vigência. 
 
São as leis autorrevogáveis. Comportam duas espécies: 
 
* LEIS EXCEPCIONAIS: são feitas para durar enquanto um estado anormal ocorrer. Cessam a 
sua vigência ao mesmo tempo em que a situação excepcional também terminar. Portanto, são 
aquelas promulgadas em caso de calamidade pública, guerras, revoluções, cataclismos, 
epidemias, etc. 
 
* LEIS TEMPORÁRIAS: São as editadas com período determinado de duração, portanto, 
dotadas de autorrevogação. É feita para vigorar em um período de tempo previamente fixado 
pelo legislador. Traz em seu bojo a data de cessação de sua vigência. É uma lei que desde a sua 
entrada em vigor está marcada para morrer. 
 
2.2) Características 
 
A) São autorrevogáveis 
 
Em regra, uma lei somente pode ser revogada por outra lei, posterior, que a revogue 
expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule integralmente a matéria nela 
tratada (art. 2º, § 1º da LICC). 
 
As leis de vigência temporária constituem exceção a esse princípio, visto que perdem 
sua vigência automaticamente, sem que outra lei as revogue. 
 
B) São ultrativas 
 
A ultratividade significa a possibilidade de uma lei se aplicar a um fato cometido durante 
a sua vigência, mesmo após a sua revogação (a lei adere ao fato como se fosse um carrapato, 
acompanhando-o para sempre, mesmo após sua morte). 
 
 
 
 
 
 
3 
 
3) DO TEMPO DO CRIME – Art. 4º 
 
3.1) CONCEITO E IMPORTÂNCIA 
 
A análise do âmbito temporal da aplicação da lei penal necessita da fixação do momento 
em que se considera o delito cometido. 
 
O CP adotou a teoria da atividade, segundo a qual se reputa praticado o delito no 
momento da conduta, não importando o instante do resultado. 
 
Ex. homicídio: o mais importante é detectar o instante da ação (desfecho dos tiros), e 
não o momento do resultado (ocorrência da morte). 
 
4) DA LEI PENAL NO ESPAÇO – Art. 5º 
4.1) INTRODUÇÃO 
 
A Lei Penal é elaborada para vigorar dentro dos limites em que o Estado exerce a sua 
soberania. 
 
Via de regra, pelo princípio da territorialidade, aplica-se as leis brasileiras aos delitos 
cometidos dentro do território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de 
soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos 
dentro do seu território. 
 
4.2) TERRITÓRIO BRASILEIRO POR EQUIPARAÇÃO (EMBARCAÇÕES E AERONAVES) 
 
Nos termos do artigo 5º, § 1º, do CP, duas situações de território brasileiro por 
equiparação: 
 
A) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro 
onde estiverem. 
 
B) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade privada, que estiverem navegando 
em alto-mar ou sobrevoando águas internacionais. 
 
Os navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras, desde que públicos, 
não são considerados parte do nosso território. Em face disso, os crimes neles cometidos devem 
ser julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. Se, entretanto, são de natureza 
privada, aplica-se a lei brasileira (art. 5º, § 2º). 
 
Territorialidade: é a regra. Ao crime cometido no território nacional, aplica-se a lei 
brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, conforme art.5º 
e seus parágrafos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
4.3) EXTRATERRITORIALIDADE 
 
Extraterritorialidade: é uma exceção. Mesmo que o crime seja cometido fora do Brasil, os agentes 
se sujeitam à lei brasileira, nas hipóteses mencionadas no art. 7º, do CP, quais sejam: 
 
 
EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente 
da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da 
União, do Distrito Federal, de Estado, de 
Território, de Município, de empresa pública, 
sociedade de economia mista, autarquia ou 
fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem 
está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for 
brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
Nestes casos, o agente é punido segundo a lei 
brasileira, ainda que absolvido ou condenado 
no estrangeiro. 
EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se 
obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade 
privada, quando em território estrangeiro e aí 
não sejam julgados. 
Nestes casos, a aplicação da lei brasileira 
depende do concurso das seguintes 
condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em 
que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles 
pelos quais a lei brasileira autoriza a 
extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no 
estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no 
estrangeiro ou, por outro motivo, não estar 
extinta a punibilidade, 
segundo a lei mais favorável. 
Cometido por estrangeiro contra brasileiro 
fora do Brasil. 
se, reunidas as condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no paísem que 
foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos 
quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no 
estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no 
estrangeiro ou, por outro motivo, não estar 
extinta a punibilidade, segundo a lei mais 
favorável. 
 + 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da 
Justiça. 
 
 
 
5 
 
Princípio da Representação ou da Bandeira: por este princípio, aplica-se aos delitos praticados no 
interior de embarcação ou aeronave a lei do país em que esteja registrada ou da bandeira adotada 
(art. 7º, II, c, do CP). 
 
4.4 Pena cumprida no estrangeiro: 
 
Segundo o art. 8º do Código Penal, a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no 
Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 
 
4.5 Eficácia de sentença estrangeira: 
 
A sentença estrangeira pode ser homologada no Brasil, quando a aplicação da lei brasileira produz 
na espécie as mesmas consequências. Pode ser homologada para: obrigar o condenado à 
reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; ou sujeitá-lo a medida de segurança. 
Entretanto, a homologação depende: 
a) de pedido da parte interessada, se for para reparar o dano; 
 
b) da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a 
sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça, nos demais casos. 
 
5) LUGAR DO CRIME – Art. 6º 
 
A determinação do lugar em que o crime se considera praticado é decisiva no tocante 
à competência penal internacional. Surge o problema quando o crime se desenrola em lugares 
diferentes. 
 
O CP adotou a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual é lugar do crime 
tanto onde houve a conduta, quanto o local onde se deu o resultado. 
 
6) CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
6.1) CONCEITO 
 
É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente aplicáveis ao 
mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato, mas é aparente, 
porque apenas uma delas acaba sendo aplicada à hipótese. 
 
6.2) PRINCÍPIOS PARA A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS APARENTES DE NORMAS 
 
A) PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 
 
A norma especial, ou seja, a que acresce elemento próprio à descrição legal do crime 
previsto na geral, prefere a esta. 
 
A norma do art. 123 do CP, que trata do infanticídio, prevalece sobre a do art. 121, que 
cuida do homicídio, porque possui, além dos elementos genéricos deste último, os seguintes 
especializantes: “próprio filho”, “durante o parto ou logo após” e “sob a influência do estado 
puerperal”. 
 
 
6 
 
B) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
B.1) Conceito de norma subsidiária 
 
Uma norma é considerada subsidiária à outra, quando a conduta nela prevista 
integra o tipo da principal, significando que a lei principal afasta a aplicação da lei secundária. 
 
Há relação de subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de violação do 
mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor gravidade 
que a da principal é absorvida por esta. 
 
O crime de ameaça (art. 147) cabe no de constrangimento ilegal mediante ameaça (art. 
146), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158). O sequestro (art. 148) no de 
extorsão mediante seqüestro (art. 159). O disparo de arma de fogo (Lei 10.826/2003, art. 15) 
cabe no de homicídio cometido mediante disparos de arma de fogo (art. 121). Há um único fato, 
o qual pode ser maior do que a norma subsidiária, só se pode encaixar na primária. 
 
B.2) Espécies 
 
a) Subsidiariedade Expressa ou explícita 
 
Ocorre quando a própria lei indica ser a norma subsidiária de outra. Quando a 
norma, em seu próprio texto, subordina a sua aplicação à não-aplicação de outra, de maior 
gravidade punitiva. 
 
A própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, admitindo incidir 
somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade. 
 
Ex. Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. 
 
B.2) SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA 
 
Ocorre quando uma figura típica funciona como elementar ou circunstância 
legal específica de outra, de maior gravidade punitiva, de forma que esta exclui a simultânea 
punição da primeira. 
 
A norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-se a sua subsidiariedade. 
 
Ex: Estupro contendo o constrangimento ilegal. 
 
C) PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO 
C.1) Conceito 
 
Ocorre quando um ato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou 
normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui 
conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática 
atinente àquele crime. 
 
Em outras palavras, quando a infração prevista na primeira norma constituir simples 
fase de realização da segunda infração, prevista em dispositivo diverso, deve-se aplicar apenas 
a última. 
 
7 
 
 
Trata-se da hipótese de crime meio e do crime fim. 
 
Ex. é o que se dá na violação de domicílio com a finalidade de praticar furto em 
residência. A violação é mera fase de execução do delito de furto. 
 
02) TEORIA DO CRIME 
 
Segundo a concepção analítica, crime é fato típico, antijurídico e culpável. 
 
1) DO FATO TÍPICO 
 
É o fato que se amolda ao modelo legal da conduta proibida. É o fato que se 
enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contidos na lei penal. 
 
Elementos do fato típico 
 
a) a conduta 
b) o resultado 
c) o nexo de causalidade 
d) a tipicidade 
 
Ausente um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir um indiferente 
penal. É um fato atípico. 
 
1.1) CONDUTA 
 
CONDUTA é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada 
finalidade. 
 
Para a caracterização da conduta, sob qualquer prisma, é indispensável a existência do 
binômio vontade e consciência. 
 
Ausente a vontade ou consciência, não haverá conduta punível, como, por exemplo, na 
coação física irresistível, movimentos reflexos e estado de inconsciência. 
a) Coação física irresistível (“vis absoluta”) 
 
Ocorre quando o sujeito pratica o movimento em consequência de força corporal 
exercida sobre ele. Quem atua obrigado por uma força irresistível não age voluntariamente. Neste 
caso, o agente é mero instrumento realizador da vontade do coator. 
 
Assim, não havendo vontade, não há conduta. Não havendo conduta, não há fato típico. 
Não havendo fato típico, não há crime. Logo, o fato praticado mediante coação física irresistível 
é atípico. Não responde por crime nenhum. 
 
Diversa é a situação, contudo, quando se tratar de coação moral. 
 
Na coação moral, não há aplicação da força física, mas de ameaça ou intimidação, feita 
através da promessa de um mal, para que se determine o coato à realização do fato criminoso. 
 
 
8 
 
No caso da coação moral, o fato é revestido de tipicidade, mas não é culpável, em face 
da inexigibilidade de conduta diversa. 
 
Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não se há falar 
em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, do CP (causa de exclusão da 
culpabilidade). 
 
Em síntese: 
coação física irresistível: causa de exclusão da tipicidade 
coação moral irresistível: causa de exclusão da culpabilidade 
coação moral resistível: atenuante (art. 65, III, “c”, CP) 
 
b) Movimentos reflexos 
 
São atos reflexos, puramente somáticos, aqueles em que o movimento corpóreo ou sua 
ausência é determinado por estímulos dirigidos diretamente ao sistema nervoso. 
 
Nestes casos, o estímulo exterior é recebido pelos centros sensores, que o transmitem 
diretamente aos centros motores, sem intervenção da vontade, como ocorre, por exemplo, em 
um ataque epilético (ex...). 
 
Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras,secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de órgãos do corpo humano (ex. tosse, 
espirro, etc.). 
 
c) Estados de inconsciência 
 
A doutrina tem catalogado como exemplos de estados de inconsciência a hipnose, o 
sonambulismo a narcolepsia. 
 
2) DA OMISSÃO E SUAS FORMAS 
A) CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS 
 
São os que se perfazem com a simples conduta negativa do sujeito, 
independentemente da produção de qualquer consequência posterior. A norma, ao 
invés de descrever uma conduta negativa (não matarás, p. ex.), impõe um comportamento 
positivo. 
 
Nos crimes omissivos próprios basta a abstenção, é suficiente a desobediência ao dever 
de agir para que o delito se consume. A OBRIGAÇÃO DO AGENTE É DE AGIR E NÃO DE 
EVITAR O RESULTADO. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão será irrelevante 
para a consumação do crime, podendo apenas configurar uma majorante ou uma qualificadora. 
 
 
Ex.: 
Omissão de socorro 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco 
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, 
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o 
socorro da autoridade pública: 
 
9 
 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão 
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 
 
Abandono material 
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou 
de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de 
ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando 
os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia 
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de 
socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o 
maior salário mínimo vigente no País. 
 
Nesses casos, o crime se perfectibiliza a partir da conduta omissiva. A norma impõe que 
o agente pratique uma ação para que o delito não se consume. Se deixar de praticar a ação, terá 
cometido o delito omissivo. 
B) CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO 
 
Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem simplesmente a obrigação de agir, 
mas a OBRIGAÇÃO DE AGIR PARA EVITAR UM RESULTADO, isto é, deve agir com a 
finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos crimes comissivos por omissão 
há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de resultado. 
 
O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o agente assume a 
condição de garantidor. 
 
De fato, para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso 
que tenha o dever jurídico de impedir o resultado. E esse dever está previsto no artigo 
13, § 2º: 
 
a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância 
 
É um dever decorrente de lei. Dever esse que aparece numa série de situações, como, 
por exemplo, o dever de assistência que se devem mutuamente os cônjuges (art. 1564 do CC), 
que devem os pais aos filhos (art. 1634 do CC). 
 
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado 
 
A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de garantidor 
pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O importante é que 
o sujeito se coloque em posição de garante da não-ocorrência do resultado, haja 
contrato ou não, como nas hipóteses em que voluntariamente assume encargo sem mandato ou 
função tutelar. 
 
Ex: médico plantonista; salva-vidas, com relação aos banhistas; babá, em relação à 
criança. 
 
c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado 
 
 
10 
 
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo para 
bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado 
a evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão. 
 
Não importa que o tenha feito voluntariamente ou involuntariamente, dolosa ou 
culposamente; importa é que com sua ação ou omissão originou uma situação de risco ou agravou 
uma situação já existente. 
 
Ex. exímio nadador convida uma criança para nadar e se omite na hipótese de o infante 
estar se afogando. 
 
3) DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE 
 
Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no vínculo ou 
liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime. 
 
Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma direta. Trata-
se de relação de causa (conduta) e efeito (resultado): Nexo de causalidade. 
 
Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa contribua para o 
resultado. É a chamada concausa. 
 
Esta “concausa” pode ser absolutamente independente ou relativamente independente, 
dependendo se teve ou não origem na conduta do agente. 
 
3.1) CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
 
A) CONCEITO 
 
São aquelas que não têm origem na conduta do agente. O advérbio de intensidade 
“absolutamente” serve para designar que a causa não partiu da conduta, mas de fonte totalmente 
distinta. 
 
Além disso, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por si sós 
produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da conduta. 
 
Há, na verdade, uma quebra do nexo causal. 
 
B) ESPÉCIES DE CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
 
a) Preexistentes 
 
Existem antes de a conduta ser praticada e atuam independentemente de seu 
cometimento, de maneira que com ou sem a ação o resultado ocorreria do mesmo modo. 
 
Ex: “A” desfecha um tiro de revólver em “B”, que vem a falecer pouco depois, não em 
conseqüência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno. 
 
 
11 
 
b) Concomitantes 
 
São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o resultado 
independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente no instante em que 
a ação é realizada. 
 
Ex: “A” fere “B” no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente por 
força de um ataque cardíaco. 
 
c) Supervenientes 
 
São causas que atuam após a conduta. 
 
Ex: “A” ministra veneno na alimentação de “B” que, quando está tomando a refeição, 
vem a falecer em consequência de um desabamento ou posterior atropelamento. 
 
C) CONSEQUÊNCIAS DAS CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES 
 
Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o problema é 
resolvido pelo caput do art. 13: Há exclusão da causalidade decorrente da conduta. Ou seja, o 
agente responde somente por aquilo que deu causa. 
 
Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do 
agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos praticados 
antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. 
 
CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente 
responderá por aquilo que deu causa: lesão corporal (leve, grave ou gravíssima). 
 
3.2) CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES 
 
A) CONCEITO 
 
Causa relativamente independente é a que, funcionando em face da conduta anterior, 
conduz-se como se por si só tivesse produzido o resultado. 
 
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando 
dentro da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas 
relativamente independentes, encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente. 
 
Aqui não há, via de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as causas, 
que, ao final, conduzem ao resultado lesivo. 
 
B) ESPÉCIES DE CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES 
 
a) Preexistentes 
 
 
12 
 
São as que atuam antes da conduta. 
 
Ex: “A” desfere um golpe de faca na vítima, que é hemofílica e vem a morrer em face 
da conduta, somada à contribuição de seu peculiar estado fisiológico. No caso, o golpe 
isoladamente seria insuficiente paraproduzir o resultado fatal, de modo que a hemofilia atuou de 
forma independente, produzindo por si só o resultado. 
 
b) Concomitantes 
 
São as causas que atuam exatamente no instante em que a ação é realizada. Ex: 
considera-se o ataque à vítima, por meio de faca, que, no exato momento da agressão, sofre 
ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a soma desses fatores (causas) produziu a 
morte, já que a agressão e o ataque cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão 
do produzir o resultado morte. 
 
c) Supervenientes 
 
São as causas que ocorrem depois da conduta praticada pelo agente. 
 
Ex. A vítima de um atentado é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo, por 
esse motivo, a falecer. A causa é independente, porque a morte foi provocada pelo acidente e 
não pelo atentado, mas essa independência é relativa, já que, se não fosse o ataque, a vítima 
não estaria na ambulância acidentada e não morreria. Tendo atuado posteriormente à conduta, 
denomina- se causa superveniente. 
 
C) CONSEQUÊNCIA DAS CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES 
 
No caso das causas preexistentes e concomitantes, como existe nexo causal, o 
agente responderá pelo resultado, a menos que não tenha concorrido para ele com dolo ou culpa. 
 
Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico- naturalístico, a 
lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º, do CP, que excepcionou a regra geral, manda 
desconsiderá-lo, não respondendo o agente jamais pelo resultado, mas tão-somente pelos fatos 
anteriores. 
 
4) DO CRIME DOLOSO E CULPOSO – Art. 18 do CP 
4.1) DOLO DIRETO 
 
No dolo direto o agente quer o resultado representado como fim de sua ação. A vontade 
do agente é dirigida à realização do fato típico. Adota-se, pois, a teoria da vontade. 
 
Ex: o agente desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se 
projeta de forma direta no resultado morte. 
 
4.2) DOLO EVENTUAL 
 
 
13 
 
Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto é, 
admite e aceita o risco de produzi-lo. 
 
O agente não quer o resultado, pois se assim fosse haveria dolo direto. Ele antevê o 
resultado e age. Percebe que é possível causar o resultado e, não obstante, realiza o 
comportamento. Entre desistir da conduta e causar o resultado, prefere que este se produza. 
 
Sobre o dolo eventual, o Código Penal adota a teoria do consentimento, segundo a qual 
o sujeito não leva em conta em conta a possibilidade do evento previsto, agindo e assumindo o 
risco de sua produção. 
 
4.3) DO CRIME CULPOSO 
 
A) CONCEITO 
 
É o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objetivo, lícito 
ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível, que podia ser evitado. 
 
B) ELEMENTOS DA CULPA 
 
a) Conduta humana voluntária 
 
O fato se inicia com a realização voluntária de uma conduta de fazer ou não fazer. O 
agente não pretende praticar um crime nem quer expor interesses jurídicos de terceiros a perigo 
de dano. Falta, porém, com o dever de cuidado exigido pela norma. 
 
b) Resultado involuntário 
 
É imprescindível que o evento lesivo jamais tenha sido desejado ou acolhido 
pelo agente. 
 
c) Nexo de causalidade 
 
Somente a ligação, através da previsibilidade, entre a conduta do agente e o resultado 
danoso pode constituir o nexo de causalidade no crime culposo, já que o agente não deseja a 
produção do evento lesivo. 
 
d) Tipicidade 
 
Deve haver atenção a este ponto, porquanto o crime culposo precisa estar 
expressamente previsto no tipo penal. Ex: não existe menção, no art. 155 do CP, à culpa, de 
forma que não há “furto culposo”. 
 
e) Previsibilidade objetiva 
 
É a possibilidade de prever o resultado lesivo, inerente a qualquer ser humano normal. 
Ausente a previsibilidade, afastada estará a culpa, pois não se exige da pessoa uma atenção 
extraordinária e fora do razoável. 
 
 
14 
 
f) Ausência de previsão 
 
É necessário que o sujeito não tenha previsto o resultado. Se o previu, não estamos no 
terreno da culpa, mas do dolo. O resultado era previsível, mas não foi previsto pelo sujeito. Daí 
falar-se que a culpa é a imprevisão do previsível. 
 
g) Inobservância do cuidado objetivo 
 
Ocorre quando o agente deixa de seguir as regras básicas de atenção e cautela, 
exigíveis de todos que vivem em sociedade. Essas regras gerais de cuidado derivam da proibição 
de ações de risco que vão além daquilo que a comunidade juridicamente organizada está disposta 
a tolerar. 
 
C) MODALIDADES DE CULPA 
 
a) Imprudência 
 
É a prática de um fato perigoso. Ex. dirigir em alta velocidade em via movimentada. 
 
b) Negligência 
 
É a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. Ex. deixar arma 
de fogo ao alcance de uma criança. 
 
c) Imperícia 
 
É a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Consiste na incapacidade ou 
falta de conhecimento necessário para o exercício de determinado mister. Ex. médico que deixa 
de tomar as cautelas devidas de assepsia em uma sala de cirurgia, demonstrando sua nítida 
inaptidão para o exercício profissional, situação que provoca a morte do paciente. 
 
5) DA CONSUMAÇÃO E TENTATIVA – Art. 14 
 
5.1) DA CONSUMAÇÃO 
A) CONCEITO 
 
Determina o artigo 14, I, do CP que o crime se diz consumado “quando nele se reúnem 
todos os elementos de sua definição legal”. 
 
É o tipo penal integralmente realizado, ou seja, quando o fato praticado pelo 
agente se enquadra no tipo abstrato. 
 
* ITER CRIMINIS 
 
 
15 
 
Iter criminis é o conjunto de fases pelas quais passa o delito. É o caminho do crime. 
Compõe-se das seguintes etapas: 
 
a) Cogitação 
 
É o momento da ideação do delito, ou seja, quando o agente tem a ideia de praticar 
o crime. 
 
A cogitação não constitui fato punível. 
 
b) Atos preparatórios 
 
É a fase de exteriorização da ideia do crime, através de atos, que começam a 
materializar a perseguição ao alvo idealizado. 
 
Os atos preparatórios também não são puníveis, salvo quando o legislador os 
define como atos executórios de outro delito autônomo. Nesses casos, o sujeito pratica 
crime não porque realizou atos preparatórios do crime que pretendia cometer no futuro, mas sim 
porque praticou atos executórios de outro delito. 
 
c) Execução 
 
É a fase da realização da conduta designada pelo núcleo da figura típica, constituída, 
como regra, de atos idôneos para chegar ao resultado, mas também daqueles que representarem 
atos imediatamente anteriores a estes, desde que se tenha certeza do plano concreto do autor. 
 
d) Consumação 
 
É o momento de conclusão do delito, reunindo todos os elementos do tipo 
penal. 
 
 
5.2) DA TENTATIVA 
 
A) CONCEITO 
 
TENTATIVA é a execução iniciada de um crime, que não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. 
 
B) INFRAÇÕES QUE NÃO ADMITEM A TENTATIVA 
 
a) Crimes culposos 
 
Os crimes culposos não admitem tentativa. 
 
Na tentativa, o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado, mas este não 
ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade. 
 
16 
 
 
Assim, no crime culposo, há evento sem intenção de provocá-lo; na tentativa, intenção 
sem resultado. Daí ser impossível tentativa em crime culposo. 
 
b) crimes preterdolosos 
 
É incompreensível a tentativa de crime preterdoloso, uma vez que neste o resultado vai 
além do que o agente desejou e naquele ele não atinge o evento pretendido. 
 
Sendo o resultado agravado punido a título de culpa, excluída fica a hipótese 
de crime tentado. 
 
c) as contravenções (art. 4º LCP); 
 
d) os crimes omissivos próprios 
 
Pois ou o agente deixa de realizar a conduta, e o delito se consuma, ou a realiza, e não 
se pode falar em crime. 
 
e) Os crimes unissubsistentes 
 
Pois se realizam por único ato. 
 
f) Os crimes habituais 
 
Pois não possuem iter, como no descrito no art. 230 (rufianismo); 
 
De fato, o que caracteriza estes crimes é a prática reiterada decertos atos que, 
isoladamente, constituem um indiferente penal. Conclusão: ou há reiteração e o crime consumou- 
se ou não há reiteração e não há crime. 
 
6) DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ – Art. 15 
 
A desistência voluntária consiste numa abstenção de atividade: o sujeito cessa o 
seu comportamento delituoso. Ex: ladrão, dentro da residência da vítima e prestes a subtrair-lhe 
valores, desiste de consumar o furto e se retira. 
 
O arrependimento eficaz ocorre entre o término dos atos executórios e a 
consumação. 
 
O agente, nesse caso, já fez tudo o que podia para atingir o resultado, mas 
resolve interferir para evitar a sua consumação. 
 
Assim, o arrependimento eficaz verifica-se quando o agente ultimou a fase executiva 
do delito e, desejando evitar o resultado, atua para impedi-lo. 
 
Ex: se estava tentando matar “A” e desiste, já tendo alvejado a vítima, responderá 
unicamente pelas lesões corporais causadas. 
 
17 
 
 
A) CONSEQUÊNCIA 
 
Nos termos da parte final do artigo 15 do CP, não obstante a desistência voluntária e o 
arrependimento eficaz, o agente responde pelos atos já praticados. Desta forma, retiram a 
tipicidade dos atos somente com referência ao crime cuja execução o agente iniciou. 
 
Assim, se o ladrão, dentro da casa da vítima, desiste de consumar o furto, responde 
por violação de domicílio (art. 150). Se desiste de consumar o homicídio, responde por lesão 
corporal (art. 129) se antes ferira a vítima. 
 
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz excluem a tipicidade da 
tentativa. Assim, nesses casos jamais o agente responderá pelo crime 
tentado, mas somente pelos atos até então praticados. 
 
Desistência voluntária e arrependimento eficaz: não consumação do delito 
por força de conduta voluntária. 
 
Tentativa: não consumação do delito por circunstâncias alheias à vontade do 
agente. 
 
Logo, são institutos incompatíveis. 
 
7) ARREPENDIMENTO POSTERIOR – Art. 16 
 
A) CONCEITO 
 
Trata-se da reparação do dano causado ou da restituição da coisa subtraída nos delitos 
cometidos sem violência ou grave ameaça, desde que por ato voluntário do agente, até o 
recebimento da denúncia ou da queixa. 
 
É causa obrigatória de redução de pena, pois o artigo 16 é imperativo: “a pena será 
reduzida”. 
 
8) CRIME IMPOSSÍVEL – Art. 17 
 
A) CONCEITO 
 
É a tentativa não punível, porque o agente se vale de meios absolutamente ineficazes 
ou volta-se contra objetos absolutamente impróprios, tornando impossível a consumação do 
crime. 
 
É uma causa de exclusão da tipicidade. 
 
B) DELITO IMPOSSÍVEL POR INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO 
 
Ocorre quando o meio empregado pelo agente, pela sua própria natureza, é 
absolutamente incapaz de produzir o resultado. 
 
Ex. o agente querendo matar a vítima mediante veneno, ministra açúcar na 
alimentação, supondo ser arsênico. 
 
18 
 
 
Ex. pretender atirar na vítima com arma defeituosa, sem condições de efetuar disparos. 
 
Obs: a ineficácia do meio, quando relativa, leva à tentativa e não ao crime impossível. 
 
Há ineficácia relativa do meio quando, não obstante eficaz à produção do resultado, 
este não ocorre por circunstâncias acidentais. É o caso do agente que pretende desfechar um 
tiro de revólver contra a vítima, mas a arma nega fogo. 
 
Ex: uma porção de açúcar é ineficaz para matar uma pessoa normal, mas apta a eliminar 
um diabético. 
 
C) DELITO IMPOSSÍVEL POR IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO MATERIAL 
 
Ocorre quando inexiste o objeto material sobre o qual deveria recair a conduta, ou 
quando, pela sua situação ou condição, torna impossível a produção do resultado visado pelo 
agente. 
 
A pessoa ou a coisa sobre que recai a conduta é absolutamente inidônea para a 
produção de algum resultado lesivo. 
 
Ex: “A”, pensando que seu desafeto está a dormir, desfere punhaladas, vindo a provar-
se que já estava morto. 
 
 
 
9) ERRO DE TIPO – Art. 20 
 
9.1) CONCEITO 
 
A figura típica (ou tipo legal) é composta de elementos específicos ou elementares. Em 
outras palavras, os “elementos constitutivos do tipo” tratam de cada componente que constitui o 
modelo legal de conduta proibida. 
 
Ex. No crime de lesão corporal temos os seguintes elementos: ofender + integridade 
corporal + saúde + outrem. O engano sobre qualquer desses elementos pode levar ao erro de 
tipo. 
 
O erro de tipo pode recair sobre uma circunstância qualificadora. 
 
Ex. No crime de lesão corporal seguida de aborto, o sujeito não responde por este crime 
se desconhecia o estado de gravidez da vítima. É que neste caso ele supõe inexistente uma 
circunstância do crime (o estado de gravidez da vítima), subsistindo o tipo fundamental doloso 
(lesão corporal leve). 
 
 
9.2) ERRO DE TIPO ESSENCIAL 
 
É o erro que incide sobre as elementares e circunstâncias do tipo. 
 
 
19 
 
Daí o nome erro essencial: incide sobre situação de tal importância para o tipo que, se 
o erro não existisse, o agente não teria cometido o crime, ou, pelo menos, não naquelas 
circunstâncias. 
 
Portanto, há erro de tipo essencial quando a falsa percepção da realidade impede o 
sujeito de compreender a natureza criminosa do fato. 
 
O erro de tipo essencial se subdivide em: INVENCÍVEL OU VENCÍVEL 
 
I) INVENCÍVEL (OU ESCUSÁVEL) 
 
Ocorre quando não pode ser evitado pela normal diligência. Qualquer pessoa, 
empregando a diligência ordinária exigida pelo ordenamento jurídico, nas condições em que se 
viu o sujeito, incidiria em erro. 
 
Ex. o agente se embrenha em mata virgem e fechada, distante de qualquer centro 
urbano, com a intenção de caçar capivara. Pelas tantas, vislumbra um vulto se movimentando 
pela intensa vegetação. Supondo ser um animal, efetua um disparo. Atinge o alvo e constata, 
para sua surpresa, que abateu não um animal, mas um ser humano que, por coincidência, 
também caçava por ali. 
 
O erro de tipo essencial invencível exclui o dolo e a culpa, pois o sujeito não age 
dolosa ou culposamente. 
 
II) ERRO VENCÍVEL (OU INESCUSÁVEL) 
 
Ocorre quando pode ser evitado pela diligência ordinária, resultando de 
imprudência ou negligência. Qualquer pessoa, empregando a prudência normal exigida pela 
ordem jurídica, não cometeria o erro em que incidiu o sujeito. 
 
É o erro evitável, indesculpável ou inescusável (cuidado: vencível = inescusável): 
poderia ter sido evitado se o agente empregasse mediana prudência. 
 
Ex. Suponha-se que o agente vá caçar em mata próxima a zona urbana, onde costumam 
passar pessoas, e efetua um disparo de arma de fogo contra um vulto pensando ser um animal, 
atingindo, na verdade, uma pessoa que passava pelo local, matando-a. No caso, não obstante 
ter se verificado o erro de tipo, o erro, pelas circunstâncias, não era plenamente justificável, 
porquanto o agente agiu com imprudência, sem o devido cuidado objetivo, devendo responder 
por homicídio culposo. 
 
O erro de tipo essencial vencível exclui o dolo, mas não a culpa, desde que previsto 
em lei o crime culposo. 
 
9.3) ERRO DE TIPO ACIDENTAL 
 
Incide sobre dados irrelevantes da conduta típica. Não impede o sujeito de compreender 
o caráter ilícito de seu comportamento. Mesmo que não existisse, ainda assim a conduta seria 
antijurídica. 
 
São casos de erro acidental: 
 
 
20 
 
a) erro sobre o objeto 
 
b) erro sobre pessoa 
 
c) erro na execução (aberratio ictus) 
 
d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) 
 
A) ERRO SOBRE OBJETO 
 
Há erro sobre objeto quando o sujeito supõe que sua conduta recai sobre determinada 
coisa, sendo que, na realidade, ela incide sobre outra. 
 
É o caso do sujeito subtrair farinha pensando ser açúcar. O erro é irrelevante, 
pois a tutela penal abrange a posse e a propriedade de qualquer coisa, pelo que o agente 
responde por furto. 
 
B) ERRO SOBRE PESSOA – Art. 20, § 3º 
 
Ocorre quando há erro de representação, em face do qual o sujeito atinge uma 
pessoa supondo tratar-se da que pretendia ofender. Ela pretende atingir certa pessoa, 
vindoa ofender outra inocente pensando tratar-se da primeira. 
 
Nos termos do art. 20, § 3º, 2ª parte, reza o seguinte: “Não se consideram, neste caso” 
(erro sobre pessoa), “as condições ou qualidades da vítima, senão as de pessoa contra quem o 
agente queria praticar o crime”. Significa que no tocante ao crime cometido pelo sujeito não 
devem ser considerados os dados subjetivos da vítima efetiva, mas sim esses dados em 
relação à vítima virtual (que o agente pretendia ofender). 
 
Exs: 
 
a) O agente pretende cometer homicídio contra Pedro. Coloca-se de tocaia e, 
pressentindo a aproximação de um vulto e supondo tratar-se da vítima, atira e vem a matar o 
próprio pai. Sobre o fato não incide a agravante genérica prevista no art. 61, II, “e”, 1ª figura 
(ter cometido o crime contra ascendente). 
 
b) o agente pretende praticar um homicídio contra o próprio irmão. Põe-se de 
emboscada e, percebendo a aproximação de um vulto e o tomando pelo irmão, efetua disparos 
vindo a matar um terceiro. Sobre o fato incide a agravante do art. 61, II, “e”, 3ª figura (ter sido 
o crime cometido contra irmão). 
 
C) ERRO NA EXECUÇÃO (aberratio ictus) – Art. 73 
 
I) CONCEITO 
 
Aberratio ictus significa aberração no ataque ou desvio do golpe. Ocorre quando o 
sujeito, pretendendo atingir uma pessoa, vem a ofender outra. 
 
Aqui a relação é entre pessoa e pessoa. Ou seja, o agente pretende atingir uma pessoa 
e acerta outra. 
 
 
21 
 
II) ABERRATIO ICTUS COM UNIDADE SIMPLES 
 
Existe a aberratio ictus com resultado único quando em face de erro na conduta causal 
um terceiro vem a sofrer o resultado, que pode ser lesão corporal ou morte. 
 
O Código Penal vê na aberratio ictus com unidade de resultado um só delito (tentado 
ou consumado). Nesse caso, de acordo com o que preceitua o art. 73, 1ª parte, in fine, deve ser 
atendido ao disposto no art. 20, § 3º, 2ª parte, ou seja, o agente responde como se tivesse 
atingido a pessoa pretendida. 
 
Ex: O agente pretende matar o próprio pai, que se acha conversando com Pedro, 
estranho. Atira e mata o terceiro (Pedro). Sobre o fato incide a circunstância agravante. 
 
II) ABERRATIO ICTUS COM RESULTADO DUPLO 
 
Ocorre quando o agente atinge a vítima virtual e terceira pessoa. Aplica-se a 2ª parte 
do art. 73: “(...) No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, 
aplica-se a regra do art. 70 deste Código”, ou seja, a regra do concurso formal de crimes. 
 
D) RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO (aberratio criminis) – Art. 74 
 
I) CONCEITO 
 
Significa desvio do crime. Enquanto na aberratio ictus, o agente quer atingir uma pessoa 
e ofende outra (ou ambas). Na aberratio criminis, o agente quer atingir um bem jurídico e ofende 
outro (de espécie diversa). 
 
Ex: o agente joga uma pedra contra uma vidraça e acaba acertando uma pessoa, em 
vez do vidro. 
 
II) ESPÉCIES 
 
1º) Com unidade simples ou resultado único: 
 
Só atinge o bem jurídico diverso do pretendido. Ou seja, o agente quer atingir uma 
coisa e atinge uma pessoa. Responde pelo resultado produzido a título de culpa (homicídio ou 
lesão corporal culposos). 
 
Portanto, a consequência é a seguinte: responde só pelo resultado produzido, se 
previsto como crime culposo. 
 
2º) Com unidade complexa ou resultado duplo: 
 
São atingidos tanto o bem visado quanto um diverso. 
 
O agente quer atingir uma coisa, vindo a ofender esta e uma pessoa. Responde por 
dois crimes: dano (art. 163) e homicídio ou lesão corporal culposa em concurso formal (concurso 
 
22 
 
entre crime doloso e culposo). Aplica-se a pena do crime mais grave com o acréscimo de 1/6 até 
metade (regra do concurso formal de crimes – art. 70). 
 
10) DESCRIMINANTES PUTATIVAS – Art. 20, § 1º 
 
A) CONCEITO 
 
É a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Ela não existe 
na realidade, mas o sujeito pensa que sim, porque está errado. Só existe, portanto, na mente, 
na imaginação do agente. Por essa razão, é também conhecida como descriminante imaginária 
ou erroneamente suposta. 
 
Logo, é possível que o sujeito, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias do 
caso concreto, suponha encontrar-se em estado de necessidade, legítima defesa, estrito 
cumprimento do dever legal ou em exercício regular do direito. Quando isso ocorre, aplica-se o 
disposto no art. 20, § 1º, 1ª parte. 
 
Em relação às consequências, o Código Penal, tendo adotado a teoria limitada da 
culpabilidade, disciplina o tema da seguinte forma: 
 
Quando o erro incide sobre os pressupostos de fato da excludente, trata-se de erro de 
tipo, aplicando-se o disposto no art. 20, § 1º. 
 
Se invencível, há exclusão do dolo e da culpa. Exemplos acima. 
 
Se vencível, fica excluído o dolo, podendo o sujeito responder por crime culposo. (matar 
o vigia pensando ser o ladrão). 
 
Quando, entretanto, o erro do sujeito recai sobre os limites legais (normativos) da causa 
de justificação, aplicam-se os princípios do erro de proibição: se inevitável, há exclusão da 
culpabilidade; se evitável, não se exclui a culpabilidade, subsiste o crime doloso atenuando-se a 
pena (art. 21). 
 
11) ERRO PROVOCADO POR TERCEIRO – Art. 20, § 2º 
 
Existe o erro provocado quando o sujeito a ele é induzido por conduta de terceiro. A 
provocação pode ser dolosa ou culposa. 
 
A posição do terceiro provocador é a seguinte: 
 
Responde pelo crime a título de dolo ou culpa, de acordo com o elemento subjetivo do 
induzimento. 
 
A posição do provocado é a seguinte: 
 
a) Tratando-se de erro invencível, não responde pelo crime cometido, quer a título de 
dolo, quer de culpa. 
 
b) tratando-se de provocação de erro vencível, não responde pelo crime a título de 
dolo, subsistindo a modalidade culposa, se prevista na lei penal incriminadora. 
 
 
23 
 
12) ERRO DE PROIBIÇÃO – Art. 21 
 
12.1) CONCEITO 
 
Surge o erro de proibição: O erro de proibição é o erro que incide sobre a ilicitude 
do fato. O sujeito, diante do erro, supõe lícito o fato por ele cometido. Ele sabe o que faz, mas 
supõe inexistir a regra de proibição. 
 
12.2) FORMAS DE ERRO DE PROIBIÇÃO 
 
O erro de proibição pode ser: Escusável ou Inescusável. 
 
A) ESCUSÁVEL OU INEVITÁVEL: 
 
Quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo-se 
o ser humano da sua diligência ordinária, trata-se de uma hipótese de exclusão da 
culpabilidade. 
 
Ex. um jornal de grande circulação, por engano, divulga que o novo CP foi aprovado, 
trazendo como excludente de ilicitude a eutanásia. Um leitor apressa a morte de um parente, 
crendo agir sob o manto da causa de justificação inexistente. Trata-se de erro escusável. 
 
B) INESCUSÁVEL OU EVITÁVEL: 
 
Trata-se de erro sobre a ilicitude do fato que não se justifica, pois, se tivesse 
havido um mínimo de empenho em se informar, o agente poderia ter tido conhecimento da 
realidade. 
 
Ex. abstendo-se do seu dever de se manter informado, o agente deixa de tomar 
conhecimento de uma lei, divulgada na imprensa, que transforma em crime determinada conduta. 
Praticando o ilícito, não há exclusão da culpabilidade, embora haja redução da pena, variando 
de um 1/6 a 1/3. 
 
 
13) DA ANTIJURIDICIDADE 
 
13.1) CONCEITO 
 
É a contrariedade de uma conduta com o direito, causando lesão a um bem 
juridicamente protegido. 
 
É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação ou omissão 
típicas tornam-se ilícitas. 
 
São causas de exclusão da antijuricidade, previstas no artigo 23 do CP: 
 
a) Estado de necessidade; 
b) legítima defesa; 
c) estrito cumprimento do dever legal 
d) exercício regular de direito. 
 
24 
 
 
13.2) ESTADO DE NECESSIDADE – Art. 24 
 
I) CONCEITO 
 
É a causa de exclusão da ilicitude da conduta de quem, não tendo o dever legal de 
enfrentar o perigo atual, a qual não provocou por sua vontade, sacrifica um bem jurídico 
ameaçado por esse perigo para salvar outro, próprio ou alheio, cuja perda não era razoável exigir. 
 
II) EXEMPLOSDE ESTADO DE NECESSIDADE 
 
a) danos materiais produzidos em propriedade alheia para extinguir um incêndio e salvar 
pessoas. 
b) Subtração de um carro para transportar um doente em perigo de vida ao hospital. 
c) Violação de domicílio para salvar vítimas de desastres 
d) Subtração de alimentos para salvar alguém da morte por inanição. 
 
13.3) LEGÍTIMA DEFESA – Art. 25 
 
I) CONCEITO 
 
É uma causa de exclusão da ilicitude que consiste em repelir injusta agressão, atual ou 
iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos meios necessários. 
 
II) REQUISITOS 
 
1) agressão injusta, atual ou iminente 
2) agressão a direito próprio ou de terceiro 
3) repulsa com os meios necessários 
4) uso moderado dos meios 
5) conhecimento da agressão e da necessidade da defesa (vontade de defender-se). 
 
A ausência de qualquer dos requisitos exclui a legítima defesa. 
 
13.4) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL 
 
O fundamento reside no fato de que não há crime quando o agente pratica o fato no 
“estrito cumprimento de dever legal”. Quem cumpre um dever legal dentro dos limites impostos 
pela lei obviamente não pode estar praticando ao mesmo tempo um ilícito penal, a não ser que 
aja fora daqueles limites. 
 
Ex: o policial que prende o agente em flagrante ou cumprindo mandado de prisão, 
embora atinja o seu direito de liberdade, não comete o crime previsto no art. 148 do CP, porque 
cumpre o dever que lhe é imposto por lei. 
 
 
25 
 
13.5) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO 
 
É o desempenho de uma atividade ou a prática de uma conduta autorizada por lei, 
que torna lícito um fato típico. 
 
É uma causa de exclusão da ilicitude que consiste no exercício de uma prerrogativa 
conferida pelo ordenamento jurídico, caracterizado como fato típico. 
 
Ex: prisão em flagrante realizada por um particular; 
 
Qualquer pessoa pode exercitar um direito subjetivo ou uma faculdade previstos em lei 
(penal ou extrapenal). 
 
13.6) EXCESSO – Art. 23, parágrafo único 
 
A condição essencial para que exista excesso é a preexistência de uma situação objetiva 
de legítima defesa. Deve haver uma agressão injusta, de modo que o excesso se refere aos 
limites da conduta do agredido, não à sua inicial ilicitude. Por isso, chama-se de excesso à 
intensificação desnecessária de uma conduta inicialmente justificada. 
 
Os nossos tribunais admitem o excesso quer na imoderação, quer no emprego de meios 
desnecessários. 
 
a) Excesso doloso 
 
Ocorre quando o agente, ao se defender de uma injusta agressão, emprega meio que 
sabe ser desnecessário ou, mesmo tendo consciência de sua desproporcionalidade, atua com 
imoderação. 
 
Ex: já prostrado seu agressor, que não pode continuar a agressão, o agredido 
prossegue na conduta de feri-lo. De uma conduta lícita passa a um comportamento ilícito. 
Responde por crime doloso (art. 23, parágrafo único). 
 
Consequência: constatado o excesso doloso, o agente responde pelo resultado 
dolosamente. Ex: aquele que mata quando bastava tão-somente a lesão responde por homicídio 
doloso. 
 
b) Excesso culposo 
 
Ocorre quando o agente, diante do temor, aturdimento ou emoção provocada pela 
agressão injusta, acaba por deixar a posição de defesa e partir para um verdadeiro ataque, após 
ter dominado o seu agressor. 
 
Não houve intensificação intencional, pois o sujeito imaginava-se ainda sofrendo o 
ataque, tendo seu excesso decorrido de uma equivocada realidade. 
 
O agente responderá pelo resultado produzido, a título de culpa. 
 
14) DA CULPABILIDADE 
 
 
26 
 
14.1) CONCEITO 
 
Doutrinariamente, a culpabilidade é considerada um juízo de censurabilidade e 
reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com 
potencial consciência da ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de atuar de modo 
diverso. 
 
14.2) CAUSAS EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE 
 
I) INIMPUTABILIDADE 
 
INIMPUTÁVEL é o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado, não possui, ao tempo da prática do fato, capacidade de entender o seu 
caráter ilícito ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
 
São causas de exclusão da imputabilidade previstas no Código Penal: 
 
a) doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26 do CP) 
 
b) menoridade (art. 27 do CP e 228 da CF/88) 
 
c) embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28, § 1º, do CP) 
 
Em relação à inimputabilidade pela enfermidade mental, o Código Penal adotou o 
critério biopsicológico. Só é imputável o sujeito que, em consequência da anomalia mental, 
não possui capacidade de compreender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de 
acordo com essa compreensão. 
 
A) DA INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL OU DESENVOLVIMENTO MENTAL 
INCOMPLETO OU RETARDADO (ART. 26) 
 
Para que seja considerado inimputável não basta que o agente seja portador de “doença 
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado”. É necessário que, em consequência 
desses estados, seja “inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento” (no momento da conduta). 
 
* Diminuição da capacidade de entendimento e de vontade – Semi-imputabilidade – 
Art. 26, parágrafo único, CP 
 
É a perda de parte da capacidade de entendimento e autodeterminação, em razão de 
doença mental ou de desenvolvimento incompleto ou retardado. Alcança os indivíduos em que 
as perturbações psíquicas tornam menor o poder de autodeterminação e mais fraca a resistência 
interior em relação à prática do crime. 
 
A responsabilidade diminuída, como o próprio nome indica, não constitui causa de 
exclusão da culpabilidade. O agente responde pelo crime com pena privativa de liberdade 
atenuada ou medida de segurança. E a sentença é condenatória. 
 
 
27 
 
B) DA INIMPUTABILIDADE POR EMBRIAGUEZ COMPLETA PROVENIENTE DE CASO 
FORTUITO OU FORÇA MAIOR – Art. 28, § 1º, do CP 
 
a) Conceito 
 
É a causa capaz de levar à exclusão da capacidade de entendimento e vontade do 
agente, em virtude de uma intoxicação aguda e transitória causada por álcool ou qualquer 
substância de efeitos psicotrópicos, sejam eles entorpecentes (morfina, ópio), estimulantes 
(cocaína) ou alucinógenos (ácido lisérgico). 
 
b) embriaguez acidental 
 
A EMBRIAGUEZ É ACIDENTAL quando não voluntária nem culposa. Pode ser 
proveniente de: 
 
a) CASO FORTUITO: ocorre quando o sujeito desconhece o efeito inebriante da 
substância que ingere, ou quando, desconhecendo uma particular condição fisiológica, ingere 
substância que possui álcool (ou substância análoga), ficando embriagado. 
 
b) FORÇA MAIOR: há embriaguez proveniente de força maior no caso, p. ex., de o 
sujeito ser obrigado a ingerir bebida alcoólica. 
 
Quando a embriaguez acidental, proveniente de CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR, 
é COMPLETA, em consequência da qual, ao tempo da ação ou da omissão, o agente ERA 
INTEIRAMENTE INCAPAZ de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com 
esse entendimento, HÁ EXCLUSÃO DA IMPUTABILIDADE (art. 28, § 1º). 
 
c) Embriaguez acidental: casos de diminuição da pena – Art. 28, § 2º, do CP 
 
Quando a embriaguez acidental, proveniente de CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR, 
é INCOMPLETA, não há exclusão da imputabilidade. O sujeito responde pelo crime com a pena 
atenuada, desde que haja redução de sua capacidade intelectiva ou volitiva. A sentença é 
condenatória. Aplica-se o disposto no art. 28, § 2º. 
 
Tratando-se de EMBRIAGUEZ PREORDENADA não há exclusão da imputabilidade. O 
agente responde pelo crime, incidindo sobre a pena a agravante prevista no artigo 61, II, l, CP. 
 
d) Embriaguez voluntária ou culposa – art. 28, II, CP 
 
Não só a embriaguez proveniente de álcool não exclui a imputabilidade, mas também 
a derivada de outras substâncias de consequências semelhantes, como a maconha, éter, ópio, 
etc. sendo irrelevante que seja completa ou incompleta.Se o sujeito comete uma infração penal sob efeito de embriaguez voluntária ou culposa, 
não há exclusão da imputabilidade e, por consequência, não fica excluída a culpabilidade. Ele 
responde pelo crime. 
 
II) FALTA DE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE – Art. 21 
 
 
28 
 
A) CONCEITO 
 
É a consciência ou conhecimento atual ou possível da ilicitude da conduta, ou seja, a 
possibilidade de valoração da conduta que toda pessoa possui, independentemente de ser ou 
não afeita às ciências jurídicas. 
 
Trata-se, em suma, da possibilidade de o agente poder conhecer o caráter 
ilícito da sua ação. 
 
A potencial consciência da ilicitude pode ser excluída no caso de erro de proibição. 
Excluindo-se, nesse caso, a própria culpabilidade. 
 
Quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo- se o ser 
humano da sua diligência ordinária, trata-se de uma hipótese de exclusão da culpabilidade. 
 
Ex. um jornal de grande circulação, por engano, divulga que o novo CP foi aprovado, 
trazendo como excludente de ilicitude a eutanásia. Um leitor apressa a morte de um parente, 
crendo agir sob o manto da causa de justificação inexistente. Trata-se de erro escusável. 
 
III) INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 
 
Além dos dois primeiros elementos, exige-se que nas circunstâncias do fato tivesse o 
agente possibilidade de realizar outra conduta, de acordo com o ordenamento jurídico. 
 
Só há culpabilidade quando, devendo e podendo o sujeito agir conforme o direito, 
realiza conduta diversa. 
 
Ao contrário, quando não lhe era exigível comportamento diverso, não incide o juízo de 
reprovação, excluindo a culpabilidade. 
 
Isso ocorre na coação moral irresistível e a obediência hierárquica. Ou seja, coação 
moral irresistível e a obediência hierárquica excluem a exigibilidade de conduta diversa. 
 
A) COAÇÃO MORAL IRRESTÍVEL – Art. 22 
 
Coação moral é o emprego de grave ameaça contra alguém, no sentido de 
que realize um ato ou não. Ex. o sujeito constrange a vítima, sob ameaça de morte, a assinar 
um documento falso. 
 
Assim, se o sujeito é coagido a assinar um documento falso, responde pelo crime de 
falsidade o autor da coação. O coato não responde pelo crime, uma vez que sobre o fato incide 
a causa de exclusão da culpabilidade. Logo, quando o sujeito comete o fato típico e antijurídico 
sob coação moral irresistível não há culpabilidade em face da inexigibilidade de outra 
conduta (não é reprovável o comportamento). A culpabilidade desloca-se da figura do coato 
para a do coator. 
 
Quando o sujeito pratica o fato sob coação física irresistível, não praticará crime por 
ausência de conduta, aplicando-se o disposto no art. 13, “caput”, do CP. Trata-se de causa 
excludente da tipicidade. 
 
 
29 
 
A coação moral deve ser irresistível. Tratando-se de coação moral resistível não 
há exclusão da culpabilidade, incidindo uma circunstância atenuante (CP, art. 65, III, 
c, 1ª figura). 
 
B) OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA – Art. 22 
 
Ordem de superior hierárquico é a manifestação de vontade do titular de uma função 
pública a um funcionário que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta (positiva 
ou negativa). 
 
A ordem ilegal pode ser: a) manifestamente ilegal; b) não manifestamente ilegal. 
 
Quando a ordem é MANIFESTAMENTE ILEGAL, RESPONDEM pelo crime o 
SUPERIOR E O SUBORDINADO. 
 
Ex. o delegado de polícia determina ao soldado que exija do autor de um crime 
determinada quantia, a fim de não ser instaurado inquérito policial. Os dois respondem pelo crime 
de concussão. Em relação subordinado há uma atenuante genérica (art. 65, III, c). 
 
No caso de a ordem não ser manifestamente ilegal, embora a conduta do 
subordinado constitua fato típico e antijurídico, não é culpável, em face de incidir um relevante 
erro de proibição. Diante disso, o subordinado não responde pelo crime, em face da 
ausência de culpabilidade. A obediência hierárquica constitui, assim, causa de 
exclusão da culpabilidade. 
 
15) CONCURSO DE PESSOAS (OU CONCURSO DE AGENTES) – Arts. 29/31 
 
15.1) CONCEITO DE CONCURSO DE PESSOAS 
 
Trata-se de contribuição entre dois ou mais agentes para o cometimento de uma 
infração penal. 
 
Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços, reúnem-se para a 
prática de um ou mais delitos. 
 
A doutrina utiliza também as expressões concurso de agentes e codelinquência. 
 
15.2) AUTORIA 
 
I. CONCEITO 
 
Para se compreender o instituto do concurso de pessoas, mostra-se imprescindível 
estabelecer o conceito de autoria criminal, já que repercutirá na identificação da conduta de cada 
agente na prática delituosa. 
 
Várias teorias buscam definir o conceito de autor, merecendo destaque duas posições 
apontadas pela doutrina: 
 
A) Teoria do domínio do fato 
 
 
30 
 
De acordo com a teoria do domínio do fato, autor é quem tem o controle final do fato. 
É quem domina o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e circunstâncias. O 
partícipe não tem o domínio do fato, pois apenas coopera, induz e incita a prática do delito. 
 
Por essa razão, o mandante, embora não realize o núcleo da ação típica, deve ser 
considerado autor, uma vez que detém o controle final do fato até a sua consumação, 
determinando a prática delitiva. 
 
Diante da sua natureza conceitual e hipótese de incidência, poder-se-ia cogitar da 
aplicação da teoria do domínio do fato somente aos delitos dolosos, porquanto somente esses 
exigem voluntariedade e, portanto, domínio em relação ao resultado final. 
 
Os crimes culposos, por se caracterizarem pela ausência de vontade em relação ao 
resultado final, não estão adstritos à teoria do domínio do fato, por absoluta incompatibilidade. 
 
B) Teoria restritiva 
 
Segundo essa teoria, autor é aquele que pratica a ação descrita no verbo nuclear do 
tipo penal, isto é, o que pratica o verbo nuclear do tipo: mata, subtrai, constrange, etc. 
 
Em síntese, autor é aquele que realiza a conduta descrita no verbo nuclear do tipo, ao 
passo que partícipe seria o agente que contribui para a prática delituosa, induzindo, instigando 
ou auxiliando materialmente seu autor. 
 
Para a maioria da doutrina1, a teoria restritiva é a aplicada pelo Código Penal. 
 
Sinala-se, por fim, que a coautoria é a realização conjunta, por mais de uma pessoa, 
de uma mesma infração penal. É, em última análise, a própria autoria. 
 
15.3) PARTICIPAÇÃO 
 
I. CONCEITO E FORMAS DE PARTICIPAÇÃO – Art. 31 
 
Conforme a teoria restritiva de autoria, partícipe é quem contribui para que o autor ou 
coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo nuclear do tipo, 
concorre de algum modo para a produção do resultado. 
 
A participação pode ser: 
 
A) Moral 
 
A determinação (ou induzimento) e a instigação são as formas de 
participação moral. 
A.1) Induzimento ou determinação 
 
Ocorre a determinação ou induzimento quando uma pessoa faz surgir na mente de 
outra a intenção delituosa. 
 
1 Guilherme de Souza Nucci; André Estefam; Fernando Capez, Aníbal Bruno, Mirabete, René Ariel Dotti, dentre outros. 
 
31 
 
 
Ex: Rafa incute na mente de Iuri a ideia homicida contra Jonas. A característica da 
determinação é a inexistência da resolução criminosa na pessoa do autor principal. Se Iuri matar 
Jonas, Rafa responde por homicídio na condição de partícipe. 
 
A.2) Instigação 
 
Instigar é reforçar uma idéia já existente. O agente já a tem em mente, sendo apenas 
reforçada pelo partícipe. 
 
No caso do exemplo acima, Iuri já tinha em mente matar Jonas. Rafa apenas reforçou 
a ideia homicida. Rafa é partícipe do crime de homicídio, enquanto Iuri responde pelo crime na 
condição de autor. 
 
B) Material 
 
Ocorre na forma de auxílio. Considera-se, assim, partícipe aquele que presta ajuda 
efetiva na preparação ou execução do delito. 
 
Auxilia na preparação quem fornece a arma ou informações úteis à realização do crime. 
Auxilia na execução quem permanece de atalaia,no sentido de avisar o autor da aproximação de 
terceiro, leva o ladrão em seu veículo ao local do furto, carrega a arma do homicida. 
 
II) NATUREZA JURÍDICA DA PARTICIPAÇÃO 
 
A participação é acessória a um fato principal. Significa que não se pode falar em 
participação sem que haja uma ação principal, ou seja, sem que alguém realize atos de execução 
de um crime consumado ou tentado. 
 
Como a conduta do partícipe não descrita no tipo penal, faz-se necessária uma norma 
de extensão que viabilize a adequação típica da conduta do partícipe à norma incriminadora. 
Trata-se de uma norma de ligação entre a conduta do partícipe e o tipo penal. E essa norma se 
encontra no artigo 29 do Código Penal, segundo o qual quem concorrer, de qualquer forma, para 
um crime por ele responderá. 
 
Nesse sentido, o artigo 29 do Código Penal viabiliza que o agente que contribuiu para 
um resultado sem praticar a ação descrita no tipo penal seja enquadrado no crime praticado por 
conta de uma conduta principal (do autor). Assim, quem ajudou a matar não praticou a conduta 
descrita no art. 121 do Código Penal, mas, como concorreu para o seu cometimento, será 
alcançado pelo tipo do homicídio, graças à regra do art. 29. 
 
III) PARCIPAÇÃO IMPUNÍVEL – Art. 31 
 
Para a participação ser punível, afigura-se imprescindível que o ato executório do crime 
tenha sido iniciado. 
 
Ex: Fabrício contrata Félix para matar Mafalda. Félix sai em busca de Mafalda e, ao 
avistá-la, apiedado, não dá início ao intento executório. Nesse caso, tanto Fabrício quanto Félix 
não respondem pelo delito de homicídio, pois sequer foi dado início ao ato executório. 
 
 
32 
 
IV) PARTICIPAÇÃO POSTERIOR AO CRIME 
 
A participação em concurso de pessoas exige que a conduta acessória tenha sido 
praticada antes ou durante a execução do delito. 
 
A contribuição posterior à consumação do crime, conforme o caso, pode configurar o 
crime de favorecimento pessoal (art. 348 do CP) ou real (art. 349 do CP), além de outros... 
 
15.4) TEORIAS DO CONCURSO DE PESSOAS 
 
Estabelecida a distinção entre autoria e participação, importa aqui verificar se as 
condutas praticadas em concurso de pessoas ensejam a incidência de vários crimes ou se 
revestem em crime único, ou seja, se todos os agentes devem responder pelo mesmo crime. 
 
Todos os que contribuem para a prática do delito cometem o mesmo crime, não 
havendo distinção quanto ao enquadramento típico entre autor e partícipe. 
 
Daí decorre o nome da teoria: todos respondem por um único crime (Teoria 
unitária). 
 
A teoria pluralista foi adotada, como exceção, no § 2º do art. 29 do CP, que dispõe: “se 
algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste...”. 
 
15.5) REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS 
 
I) PLURALIDADE DE CONDUTAS 
 
Trata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a concorrência de mais de 
uma pessoa na execução de uma infração penal. 
 
Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha 
realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser em coautoria, onde há duas condutas 
principais; ou autoria e participação, onde há uma conduta principal e outra acessória, praticadas, 
respectivamente, por autor e partícipe. 
 
II) RELEVÂNCIA CAUSAL DAS CONDUTAS 
 
Para justificar a punição de duas ou mais pessoas em concurso, afigura-se necessário 
que a conduta do agente tenha efetivamente contribuído, ainda que minimamente, para a 
produção do resultado. 
 
Em outras palavras, se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não contribuiu 
em nada para a produção do resultado, não pode ser considerada como integrante do concurso 
de pessoas. 
 
A simples manifestação de adesão a uma prática delituosa não configura 
participação. 
 
 
33 
 
Assim, se Tereza Cristina simplesmente diz que vai concorrer no homicídio a ser 
cometido por Ferdinand não há participação. Agora, se Tereza Cristina instiga Ferdinand a matar, 
ocorrendo pelo menos tentativa de homicídio, existe participação. 
 
III) DO LIAME SUBJETIVO E NORMATIVO (Vínculo subjetivo e normativo entre os 
participantes) 
 
Exige-se homogeneidade de elemento subjetivo-normativo. Significa que autor e 
partícipe devem agir com o mesmo elemento subjetivo (dolo + dolo) ou normativo (culpa + 
culpa). 
 
As várias condutas não são suficientes para a existência da participação ou coautoria. 
Imprescindível é o elemento subjetivo, pelo qual cada concorrente tem consciência 
de contribuir para a realização do resultado. 
 
Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que 
não tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico inviabiliza o 
concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas. 
 
Assim, não há participação dolosa em crime culposo. Ex. Anastácio, desejando 
matar Grizelda, sua paciente, alcança a Januária, enfermeira contratada para cuidar da velha 
senhora, uma substância dizendo ser medicamento, quando, na verdade, tratava-se de veneno. 
Mesmo percebendo a dosagem inadequada e a coloração diferente, a enfermeira, sem maiores 
cautelas, de forma negligente, ministra a substância à paciente, causando-lhe a morte. Não há, 
no caso, concurso de pessoas, por ausência de vínculo subjetivo, já que Anastácio agiu com dolo 
e Januária a título de culpa. Há, portanto, dois delitos: homicídio doloso em relação a 
Anastácio; homicídio culposo em relação a Januária. 
 
Importante lembrar que a lei não requer acordo prévio entre agentes, sendo suficiente 
a consciência por parte das pessoas que de algum modo contribuem com o fato. 
 
Ex. uma empregada doméstica, percebendo a presença de um ladrão, para vingar-se 
do patrão, deliberadamente deixa a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há participação 
e, não obstante, o ladrão desconhecia a colaboração da empregada. Por consequência, a 
empregada também responderá pelo crime de furto. 
 
IV) IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PARA TODOS OS PARTICIPANTES 
 
Nos termos do artigo 29, todos que concorrem para o crime respondem pelo 
mesmo delito. 
 
Ex: Alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto um desvia 
a atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de evadir-
se do local com o produto do furto. 
 
É uma exemplar divisão de trabalho constituída de várias atividades, convergentes, 
contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel. Respondem todos por um 
único tipo penal, qual seja, furto. 
 
15.6) ESPÉCIES DE AUTORIA 
 
 
34 
 
I) AUTORIA MEDIATA 
 
Trata-se de uma modalidade de autoria, que ocorre quando o agente se vale de pessoa 
não culpável, ou que atua sem dolo ou culpa, para executar o delito. 
 
Ex: o médico que, dolosa e insidiosamente, entrega uma injeção de morfina, em dose 
demasiadamente forte, para enfermeira, que, sem desconfiar de nada, a aplica em enfermo, 
matando-o. 
 
O médico é autor mediato de homicídio doloso, pois usou sua assistente como 
instrumento de sua agressão, ao passo que a enfermeira não será partícipe deste delito, 
respondendo por crime culposo, desde que tenha atuado com imprudência ou negligência, ou 
por crime nenhum, se o seu erro tiver sido inevitável. 
 
II) AUTORIA COLATERAL 
 
Ocorre quando os agentes desconhecendo cada um a conduta do outro, realizam 
atos voltados à produção do resultado visado por eles, mas que decorre da conduta de 
apenas um dos agentes. 
 
Ex. Suponha-se que “A” e “B”, pretendendo matar “C” com tiros, postam-se de 
emboscada, ignorando cada um o comportamento do outro. Ambos atiram na vítima, que 
vem a falecer unicamente em razão dos ferimentos causados pela arma de “A”. Não há 
coautoria nem participação. “A” responde por homicídio consumado; “B” por tentativa 
de homicídio. 
 
III) AUTORIA INCERTA 
 
Dá-se a autoria incerta quando, na autoria colateral, não se apura a quem atribuir 
a produção do resultado. Suponha-se a hipóteseacima. Não foi descoberto de quem partiu o 
tiro fatal. A solução é punir os agentes como autores de tentativa de homicídio, 
abstraindo-se o resultado, cuja autoria não se apurou. 
 
15.7) PUNIBILIDADE DO CONCURSO DE PESSOAS 
 
A ressalva “na medida da sua culpabilidade” feita aos limites da culpabilidade no art. 
29 diz respeito somente à graduação da pena para os agentes que praticaram o mesmo crime. 
 
Portanto, todos respondem pelo mesmo crime (teoria monista ou unitária). Todavia, a 
unidade criminosa não importa necessariamente na aplicação de pena idêntica a todos os que 
contribuíram para a prática do crime, pois cada um deverá responder na medida da sua 
culpabilidade. 
 
I) PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA – ART. 29, §1º 
 
A participação aqui referida diz respeito exclusivamente ao partícipe. Isso porque, ainda 
que tenha sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de menor 
importância, uma vez que atuou diretamente na execução do crime. A sua culpabilidade, 
naturalmente superior à de um simples partícipe, será avaliada nos termos do art. 29, caput, do 
CP, e a pena a ser fixada obedecerá aos limites abstratos previstos pelo tipo penal infringido. 
 
35 
 
 
II) DA COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA OU DESVIOS SUBJETIVO ENTRE OS 
PARTICIPANTES – ART. 29, § 2º 
 
O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a concretização 
de crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele imputar 
outra conduta indesejada, sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva. 
 
Esse dispositivo cuida da hipótese de o autor principal cometer delito mais grave que o 
pretendido pelo partícipe ou coautor. 
 
Ex. “A” determina “B” a espancar “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2º, “A” 
responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se a morte da 
vítima lhe era previsível. 
 
15.8) COMUNICABILIDADE DAS ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME – 
Art. 30 
 
Via de regra, as circunstâncias e condições pessoais relacionadas a um dos agentes não 
se comunica aos outros que contribuíram para a prática delituosa. 
 
Todavia, há determinadas circunstâncias ou condições pessoais que compõem, 
integram o tipo penal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. Nesse caso, 
quando também constituem o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo penal, as 
circunstâncias ou condições pessoais relacionadas a um dos sujeitos se comunicam aos demais 
coautores ou partícipes. 
 
Ex: “A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a participação 
de “B”, não funcionário público. A condição pessoal (funcionário público) é elementar do crime 
de peculato, comunicando-se, portanto, ao agente que não é funcionário público. Logo, os dois 
respondem por crime de peculato. 
 
 
 
3) TEORIA DA PENA 
 
1) CONCEITO DE PENA 
 
Pena é a sanção imposta pelo Estado, por meio de ação penal, ao criminoso como 
retribuição ao delito perpetrado e prevenção a novos crimes. 
 
1.2) FINALIDADE 
 
Teoria mista ou eclética 
 
A pena tem a dupla função de punir o criminoso e prevenir a prática do crime, pela 
reeducação e pela intimidação coletiva. 
 
 
36 
 
De acordo com a doutrina hoje dominante, a pena estatal não se justifica só porque 
seria retribuição ao delito cometido (teorias absolutas) nem só porque seria meio de prevenção 
de futuros delitos (teorias relativas). 
 
Segundo o Código Penal, sobretudo diante da parte final do artigo 59, a pena 
apresenta natureza mista: é retribuitiva e preventiva. 
 
1.3) CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS 
 
De acordo com o CP, as penas são privativas de liberdade; restritivas de direitos e de 
multa (art. 32). 
 
As penas privativas de liberdade são as penas de reclusão, detenção e prisão simples. 
As duas primeiras constituem decorrência da prática de crimes e a terceira à aplicada às 
contravenções penais. 
 
São penas restritivas de direito (art. 43 do CP). 
 
a) prestação pecuniária 
b) perda de bens e valores 
c) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas 
d) interdição temporária de direito 
e) limitação de fim de semana 
 
2) REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA – Art. 33 
 
Ao proferir a sentença condenatória, o juiz deve, após fixar a quantidade de pena, 
determinar a espécie de regime para início de cumprimento da pena, observando as regras 
previstas no artigo 33 do Código Penal e os crimes apenados com reclusão e detenção. 
 
 
 
I) CRIMES APENADOS COM RECLUSÃO – Art. 33, § 2º 
 
No momento de proferir a sentença, o juiz, ao se deparar com um crime apenado com 
reclusão, detém, desde logo, a informação de que poderá fixar o regime inicial de cumprimento 
da pena fechado, semiaberto e aberto. Deverá, no entanto, observar determinados requisitos: 
 
a) Quantidade da pena 
 
a) Se o agente for condenado a pena superior a 08 anos deverá começar a cumpri-la 
em regime fechado; 
 
b) o agente não reincidente, cuja pena seja superior a 04 anos e não exceda a 08, 
poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto; 
 
c) o agente não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 04 anos, poderá, desde 
o início, cumpri-la em regime aberto. 
 
 
37 
 
Nos termos da Súmula 269 do STJ: “É admissível a adoção do regime prisional semi-
aberto aos reincidentes condenados à pena igual ou inferior a 04 anos se favoráveis as 
circunstâncias judiciais”. 
 
b) Circunstâncias judiciais para fixação do regime carcerário 
 
Mesmo para o condenado a pena inferior a 04 anos, não reincidente, pode ser fixado o 
regime inicial fechado ou semiaberto de acordo com as circunstâncias judiciais reveladas no 
processo. 
 
Não se tratando de pena superior a 08 anos (art. 33, § 2º, letra “a”, do CP), a imposição 
de regime inicial fechado depende de fundamentação adequada em face do que dispõem as 
alíneas “b”, “c” e “d” do mesmo parágrafo (2º) e também o § 3º c/c o art. 59 do mesmo diploma. 
 
Nesse sentido é o teor da Súmula 719 do STF: “a imposição do regime de 
cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”. 
 
Merece, ainda, destaque a Súmula 718 do STF, segundo a qual “a opinião do julgador 
sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de 
regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.” 
 
Súmula 440 do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o 
estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, 
com base apenas na gravidade abstrata do delito”. 
 
II) CRIMES APENADOS COM DETENÇÃO 
 
a) Se a pena for superior a 04 anos: inicia em regime semiaberto. 
 
b) Se a pena for igual ou inferior a 04 anos: inicia em regime aberto 
 
c) Se o condenado for reincidente: inicia no regime mais gravoso existente, 
ou seja, no semiaberto. 
 
d) Se as circunstâncias do art. 59 do Código Penal forem desfavoráveis ao condenado: 
inicia no regime mais gravoso existente, ou seja, no regime semiaberto. 
 
e) importante: não existe regime inicial fechado na pena de detenção (art. 33, caput), 
a qual começa obrigatoriamente em regime semiaberto ou aberto. 
 
III) REGIME INICIAL NOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS 
 
Conforme prevê o artigo 2º, § 1º, da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), os 
condenados por crimes hediondos, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e tortura devem 
necessariamente iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, mesmo sendo a pena 
imposta inferior a 08 anos. 
 
Ocorre, contudo, que, no dia 27 de junho de 2012, o STF, por oito votos contra três, 
declarou inconstitucional tal dispositivo, por considerar que a obrigatoriedade do regime inicial 
fechado viola o princípio constitucional da individualização da pena (HC 111.840/ES e Informativo 
670). 
 
38 
 
 
3) SISTEMA PROGRESSIVO BRASILEIRO 
 
Nos termos do artigo 33, § 2º, do Código Penal, as penas privativas de liberdade devem 
ser executadas de

Continue navegando