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Referencia de inicio da revoluçõa industrial

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Curso de Direito Artigo de Revisão 
INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE LABORAL: UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE 
A TUTELA JURÍDICA DA SAÚDE DO TRABALHADOR 
INSALUBRITY AND DANGEROUSNESS LABOR: A REFLECTIVE LOOK ON THE LEGAL TUTORAGE OF 
HEALTH WORKER 
 
 
Jaqueline Ornelas de Oliveira¹, Nayara Santana² 
1 Aluna do Curso Direito 
2 Professora Especialista do Curso de Direito 
 
Resumo 
 
Esse artigo tem como meta, trazer à tona o debate sobre a disponibilidade da saúde do trabalhador diante da realidade contemporânea 
do mercado de trabalho. Sobre esse assunto, esse artigo procura discutir os aspectos legais que, inevitavelmente, levam o trabalhador 
formal a submeter-se a condições insalubres e perigosas no ambiente de trabalho, mercantilizando não só da sua força de trabalho, 
como também sua segurança e seu bem estar sob o argumento de uma compensação financeira. Para tanto, será feita uma ampla 
pesquisa bibliográfica dos aspectos jurídicos gerais e, eventualmente, de casos concretos, na perspectiva de mostrar o aparente 
paradoxo da disponibilidade de um bem indisponível em pról do modelo capitalista de produção, o que fere direitos alcançados após 
grandes embates históricos. Esse paradoxo é consubstanciado na existência dos adicionais de insalubridade e periculosidade que são 
pagos aos trabalhadores como forma de direitos ou compensações ao exercício de atividades insalubres ou perigosas. Assim, à saúde 
e à vida do trabalhador – bens com ampla proteção constitucional e infraconstitucional – são agregados valores definidos pelo 
mercado, de acordo com o grau de periculosidade ou insalubridade às quais são submetidas. 
 
Palavras-Chave: Insalubridade; Periculosidade; Adicional; Saúde; Trabalhador; Direitos. 
 
Abstract 
 
This article has as goal to bring up the debate about the availability of the worker heath on the contemporary reality of the labor market. 
On this subject, this article discusses the legal aspects that, inevitably, lead the formal worker to undergo to insalubrious and dangerous 
conditions in the workplace, not only commercializing his workforce, as well as their safety and well being under the argument of a 
financial compensation. To this end, there will be a wide literature research of general legal issues and eventually concrete cases, in 
order to show the apparent paradox of the availability of a good in benefit of the capitalist model of production, which injures rights 
achieved after great historical struggles. This paradox is consubstantiated in the existence of the additional health and risk premiums 
that are paid to workers as a form of compensation or rights to exercise insalubrious or dangerous activities. Thus, to the health and to 
the lives of workers - goods with wide constitutional and infra-constitutional protection - are aggregated values set by the market, 
according to the degree of dangerousness or unsalubrity which they are submitted. 
 
Keywords: Insalubrity; Dangerousness; Additional; Heath; Worker; Rights 
Contato: jaquelinepereiraornelas@gmail.com 
 
Introdução 
 
A proteção à vida é o pilar fundamental que 
justifica a proteção jurídica preconizada em vários 
institutos legais, tendo, na Constituição Federal de 
1988 e em outros institutos legais, as bases que 
estabelecem e fundamentam o seu raio de ação. 
Assim, fica clara a importância da proteção legal à 
saúde e à vida de pessoas sujeitas às intempéries 
laborais do ambiente de trabalho. 
A legislação brasileira procura adaptar-se às 
mudanças contemporâneas das relações de 
trabalho, por meio de normas e regulamentos que 
possam responder adequadamente às demandas 
dos trabalhadores no tempo e no espaço. Diante 
disso, cabe enfatizar que a vida é o bem jurídico 
maior e indisponível, até mesmo pelo seu detentor, 
não sendo toleráveis ações ou omissões que 
possam pôr em risco esse bem, cuja proteção é 
ampla e tutelada pelo Estado. 
Muitos trabalhadores desenvolvem suas 
atividades laborais rotineiras em múltiplos 
ambientes, cujas características e peculiaridades 
não afastam, de maneira absoluta, situações que 
possam colocar em risco a saúde, a integridade 
física, psíquica e mesmo a vida do trabalhador. 
Entretanto, eliminar todas as situações que 
convirjam para ambientes de trabalho perigosos e 
insalubres não parece ser uma alternativa viável 
ao se considerar atividades que têm o perigo ou a 
insalubridade como sua característica principal. 
O exercício de atividades laborais que 
oferecem riscos à saúde e à integridade física dos 
trabalhadores recebe um tratamento diferenciado 
da legislação em vigor quanto à possibilidade de 
compensação financeira em razão da iminência de 
prejuízos, danos, agravos à saúde e perigo de 
morte. De acordo com artigo 7º, inciso XXIII, da 
Constituição Federal de 1988, é garantido ao 
trabalhador submetido a atividades insalubres ou 
 
 
perigosas um adicional na sua remuneração. 
Cabe então, nesse artigo científico, definir o 
que venha a ser insalubridade e periculosidade 
sob o ponto de vista jurídico e das demais ciências 
ligadas às atividades laborais e à saúde do 
trabalhador, além dos percentuais devidos ao 
trabalhador em cada caso. 
Por exemplo, os agentes de saúde que 
trabalham diretamente na profilaxia de graves 
doenças infectocontagiosas, ficando, assim, 
expostos diretamente aos agentes patológicos ou 
os trabalhadores que exercem suas atividades 
laborais em ambientes extremamente quentes, 
como é o caso de trabalhadores que operam 
grandes caldeiras, fazem jus ao adicional de 
insalubridade. Já os trabalhadores que produzem 
ou transportam produtos inflamáveis ou 
explosivos, assim como aqueles que trabalham na 
guarda patrimonial ou segurança pública fazem jus 
ao adicional de periculosidade. 
Nesse contexto, procura-se adotar normas e 
regulamentos que minimizem esses problemas. 
Contudo, quando isso não é possível, o 
empregador, de acordo com a legislação vigente, 
deve compensar o trabalhador com um “bônus”, 
ou melhor, com adicionais de insalubridade ou 
periculosidade, que, em tese, compensem os 
malefícios que a atividade laboral cause ao 
trabalhador. 
Para o pagamento do adicional de 
insalubridade e periculosidade, faz-se necessária 
a observação de alguns requisitos previstos nas 
Normas Regulamentadoras do Ministério do 
Trabalho e Emprego (MTE), sendo relevante 
também a atuação de médicos do trabalho e de 
engenheiros do trabalho nesse contexto, 
produzindo laudos técnicos, de acordo com sua 
competência. 
Esse artigo tem por meta principal suscitar 
perguntas e incitar debates a respeito da 
disponibilidade da saúde e da vida do trabalhador, 
quando a este são pagos adicionais que procurem 
indenizar riscos iminentes à incolumidade física do 
trabalhador ou a sua vida, em razão das 
características do ambiente do trabalho ou da 
própria prática laboral. 
O foco aqui é fazer uma reflexão sobre a 
tutela jurídica da saúde do trabalhador como um 
bem cuja sua disponibilidade é vedada pela Carta 
Magna sem, no entanto, ter a pretensão de exaurir 
esse assunto com respostas definitivas que, 
certamente, não são triviais de serem alcançadas 
em um assunto passível de originar muitas 
controvérsias. 
 Para tanto, a fundamentação desse 
assunto terá o suporte de bibliografias diversas – 
livros, regulamentos, leis, normas, súmulas, 
jurisprudências, etc. –, artigos acadêmicos e 
mídias eletrônicas. 
 
 
1. Evolução Histórica do Trabalho Insalubre e 
Perigoso 
 
A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra 
nos séculos XVIII e XIX, é o ponto de partida para 
a mudança do modo de produção artesanal, que 
vigorava no feudalismo, para o modo de produção 
industrial. A principal característica, sob o ponto de 
vista da produção, é a segmentação dos 
processos de trabalho de modo a padronizar os 
produtos manufaturados e maximizar o volume 
produzido de produtos manufaturados, de acordo 
com a demanda do mercado emergente de então. 
O exemplo que bem se enquadra nessa lógica foia racionalização e estudo dos movimentos dos 
trabalhadores na linha de produção, propostos por 
Henry Ford
1
. 
Durante a Revolução Industrial, não havia 
definidos na Europa mecanismos legais ou 
regulamentos que fizessem frente aos patrões no 
sentido de proteger os operários das longas e 
exaustivas jornadas de trabalho e das condições 
continuadas de perigo iminente e insalubridade no 
ambiente de trabalho. O trabalhador se submetia a 
situações de trabalho degradantes, independe de 
sua idade ou gênero. Isso, aliado a outras 
questões que fogem ao foco desse trabalho, 
convergiram para o ponto de partida de diversas 
revoltas que explodiram por toda a Europa. 
As revoltas ocorridas no velho continente 
acabaram cominando com o reconhecimento, por 
parte dos empregadores, de algumas conquistas 
trabalhistas básicas, tais como: a redução da 
duração mínima da jornada de trabalho diário e o 
estabelecimento e pagamento de um piso salarial 
mínimo e padrão, assim como a implantação de 
alguns serviços de saúde ocupacional em alguns 
países. 
Segundo Sérgio Roberto Faraco (2010, p. 
195), até o século XVII não existia legislação que 
pudesse amparar o trabalhador em situações de 
risco à saúde, que pudesse respaldá-lo em 
patologias ligadas às atividades laborais. Em 
1802, o parlamento britânico aprovou a lei de 
Saúde Moral dos Empregados da Indústria, por 
meio da qual os trabalhadores passaram a ter 
direito à jornada diária de trabalho de 12 horas, 
proibição do trabalho noturno, obrigação do 
empregador lavar as paredes das fábricas ao 
menos duas vezes ao ano e ainda tornou 
obrigatória a ventilação mais adequada das 
dependências das fábricas. 
Michael Saddler, em 1831, denunciou as 
condições precárias e degradantes as quais os 
trabalhadores eram submetidos. Situações essas 
que deixavam “homens, mulheres e crianças 
abobalhados, doentes, deformados e degradados 
 
1
 Dado extraído do Portal da Administração. Escola 
Clássica da Administração Científica. Disponível em: 
<http://www.portal-administracao.com/2013/12/escola-
classica-administracao-cientifica.html>. Acesso em: 01 
nov. 2014. 
 
 
na sua qualidade humana”. Em virtude disso, 
surgiu a Lei das Fábricas em 1833, que foi a 
primeira legislação realmente factível no campo 
trabalhista. (FARACO 2010, p.195). 
A lei das Fábricas consistia na proibição de 
trabalho noturno aos menores de 18 anos, 
restrição da jornada de trabalho para 69 horas 
semanais e obrigou os empregadores a 
disponibilizarem escolas para os menores de 13 
anos, além de proibir o trabalho para os menos de 
9 anos de idade. Já em 1867, essa lei abarcou as 
doenças ocupacionais e normatizou algumas 
medidas de proteção ao trabalhador no campo das 
fábricas, como a questão da proteção junto as 
máquinas, o uso de ventilação mecânica no 
controle da poeira e a proibição de ingestão de 
alimentos em ambientes com atmosfera nociva à 
saúde do trabalhador (FARACO, 2010, p. 196). 
No Brasil, a história das relações de 
trabalho têm episódios conturbados que deram 
impulso a grandes conquistas trabalhistas tanto no 
meio urbano quanto no meio rural. Mas até chegar 
a esse ponto, foram décadas de embates entre 
patrões e empregados, em que interesses 
conflitantes denotavam certo maniqueísmo nas 
relações de trabalho, em que o trabalhador era o 
protagonista do sofrimento infligido pelo patrão. 
A primeira força laboral que começou a 
impulsionar a economia brasileira veio por meio do 
sofrimento dos escravos negros traficados da 
África e também nascidos no Brasil. Com o 
declínio da escravidão e a necessidade de mão-
de-obra para as fazendas, o Brasil começou a 
importar trabalhadores europeus, principalmente 
italianos. Entretanto, as condições de trabalho 
ainda eram muito degradantes. 
Somente com o surgimento das primeiras 
legislações trabalhistas no exterior, e com a 
adesão do Brasil a acordos e tratados que tinham 
como fundamento a proteção ao trabalhador, 
levando em conta as condições do ambiente de 
trabalho – tais como a higiene e as condições 
reais de salubridade e segurança a que os 
trabalhadores são submetidos – é que a situação 
começou a tomar novos rumos. Mas o que foi 
fundamentalmente decisivo para as bases 
modernas do direito trabalhista foi a inserção do 
trabalho nas constituições brasileiras. 
De acordo com Maurício Godinho Delgado 
(2003, p. 75), “O Direito Constitucional é o campo 
decisivo no processo de inserção justrabalhista no 
universo geral do Direito”. Essa afirmação 
temerária é o reflexo da tendência internacional de 
constitucionalização do ramo juslaborativo que se 
deu com as Cartas Máximas de 1917, no México e 
1919, na Alemanha. No Brasil, essa tendência 
iniciou-se significativamente com a promulgação 
das Cartas Magnas de 1934, de 1946, de 1967 e a 
Constituição Democrática de 1988. Antes disso, 
em 1919, foi criada a Organização Internacional 
do Trabalho – OIT, cuja função era promover o 
trabalho seguro, produtivo e com equidade e 
dignidade. Além disso, a Declaração Nacional dos 
Direitos Humanos (1948) prevê que “todo ser 
humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de 
emprego, a condições justas e favoráveis de 
trabalho e a proteção contra o desemprego”
2
. 
É nesse contexto que surge o adicional de 
insalubridade, mas com acepção diferente da 
adotada atualmente. Foi criado para suprir as 
necessidades calóricas de alimentação dos 
empregados. Contudo, não houve adesão dos 
empregadores quanto ao oferecimento de um 
ambiente de trabalho salubre, sem riscos que 
pudessem provocar morbidades. 
De acordo com Maurício Godinho (2003, 
p.76), no Brasil foi verificada a mesma tendência 
de constitucionalização das relações de trabalho. 
Isso prevaleceu nas constituições tanto de caráter 
democrático quanto autocrático, ou seja, nas 
constituições de 1934, 1937, 1967 e 1969. 
Contudo, os preceitos constitucionais mais 
modernos ganharam corpo com a Constituição de 
1988, que deu maior importância jurídica à pessoa 
humana que passou a ser o centro das forças de 
atuação estatais. Nesse aspecto, o trabalho 
adquiriu uma importância de destaque no cenário 
jurídico, com ênfase para sua importância na 
matriz de reconstrução da sociedade, tal como 
ocorreu na Europa após a Segunda Guerra 
Mundial. 
Com o surgimento das primeiras legislações 
trabalhistas brasileiras e com a adesão do Brasil a 
acordos e tratados internacionais que tinham como 
princípios fundamentais a proteção do trabalhador 
– levando em consideração as condições do 
ambiente de trabalho relativas à salubridade, 
segurança e higiene –, é que surgem as 
conquistas trabalhistas notáveis. Seguindo essa 
tendência mundial, em 1936 foi criado o adicional 
de insalubridade. Em 1943 a Consolidação das 
Leis do Trabalho ganhou um capítulo sobre 
higiene do trabalho. Em 1978 foi criada a norma 
regulamentadora número 15 (NR 15) que regula 
as atividades insalubres e vigora até os dias 
atuais. Em 1955 é criado o adicional de 
periculosidade equivalente a um acréscimo de 
30% sobre o salário do trabalhador que tivesse em 
contato permanente com inflamáveis. 
 
 
2. Conceito de Insalubridade e Periculosidade 
 
De acordo com o Dicionário Houaiss
3
, 
disponível na versão online, “insalubridade” 
significa “particularidade ou estado de insalubre”. 
 
2
 Adicional de periculosidade e adicional de 
insalubridade. Disponível em: <http://nilzamestieri.jus 
brasil.com.br/artigos/112358312/adicional-de-periculo 
sidade-e-adicional-de-insalubridade> . Acesso em: 15 
out. 2014 
3
 Dicionário online disponível em: www.dicio.com.br. 
Acesso em: 15 out. 2014. 
 
 
Por sua vez, “insalubre” é aquilo “que pode causar 
danos à saúde do trabalhador; diz-se das 
circunstâncias de trabalho”. 
Sob o ponto de vista legal, a Consolidação 
das Leis do Trabalho (CLT), no artigo 189, estatui: 
“Serão consideradas atividades ou 
operaçõesinsalubres aquelas que, por sua 
natureza, condições ou métodos de trabalho, 
exponham os empregados a agentes nocivos à 
saúde, acima dos limites de tolerância fixados em 
razão da natureza e da intensidade do agente e do 
tempo de exposição aos seus efeitos”. 
Já o conceito de “periculosidade”, segundo 
o Dicionário Houaiss, disponível online, significa: 
“característica ou condição do que é periculoso; 
particularidade do que é perigoso”. 
A CLT, no artigo 193 e incisos I e II 
conceitua periculosidade como sendo toda 
atividade laboral que, por sua natureza ou 
métodos de trabalho, impliquem no contato 
permanente do trabalhador com inflamáveis ou 
explosivos, condições estas que potencializam o 
risco da atividade ou do local de trabalho. 
Por fim, a Constituição Federal de 1988, no 
artigo 7º, inciso XXIII, diz: 
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores 
urbanos e rurais, além de outros que visem à 
melhoria de sua condição social:” 
“XXIII - adicional de remuneração para as 
atividades penosas, insalubres ou perigosas, na 
forma da lei;”. 
É importante ressaltar que essas definições 
não denotam nenhuma ambiguidade que possa 
produzir algum prejuízo ao trabalhador urbano ou 
rural. Historicamente, estas definições já foram 
consolidadas em normatizações e leis. Quanto a 
isso, as normas regulamentadoras do Ministério do 
Trabalho e Emprego de números 15 e 16 trazem 
um rol taxativo de atividades insalubres e 
perigosas que foram incorporadas a essas NRs ao 
longo do tempo, procurando dar uma resposta 
eficaz às demandas mais contemporâneas dos 
trabalhadores. 
As Normas Regulamentadoras 15 e 16 
definem, além do rol taxativo de atividades e 
operações insalubres e perigosas, os percentuais 
indenizatórios a que fazem jus os trabalhadores 
urbanos e rurais dos seus empregadores, de 
acordo com as atividades laborais exercidas pelos 
trabalhadores nos casos concretos. Mais adiante, 
em um momento oportuno, esse assunto será 
tratado. 
 
 
3. Princípios e Fontes 
 
Quanto às fontes do direito do trabalho, 
tem-se as constituições, leis, decretos, costumes, 
sentenças normativas, acordos, convenções, 
regulamentos de empresa e contratos de trabalho. 
De acordo com a Constituição de 1988, em 
seu artigo 22: “é competência privativa da União 
legislar sobre direitos trabalhistas”. A Constituição 
estatui ainda, em seu artigo 59, que não há o que 
se falar em hierarquia entre as normas que 
abordam o Direito do Trabalho. A hierarquia só é 
possível quando a regulamentação de uma norma 
depender de outra norma regulando a forma de 
criação da primeira. Por exemplo, a Constituição 
de 1988 em seu Capítulo II dispõe sobre 
segurança e saúde dos trabalhadores, neste caso, 
ela é hierarquicamente superior as outras normas, 
pois o processo de validades dessas normas é 
regulado pela primeira, i.e., pela Constituição 
Federal de 1988. 
De acordo com Maurício Godinho Delgado 
(2003, p. 186), a construção das normas e regras 
de caráter jurídico são respaldadas em princípios 
gerais do direito e em princípios específicos de um 
ramo do direito. Esses princípios se consolidam 
como fontes materiais que norteiam o legislador na 
elaboração de uma norma. 
Todo o ordenamento jurídico deve ser 
construído à luz do princípio da dignidade da 
pessoa humana, i.e., toda pessoa deve ter seus 
direitos fundamentais assegurados e garantidos, 
independentemente de raça, sexo, idade, religião, 
estado civil, condição social ou econômica, entre 
outros. A Constituição Federal de 1988 tem como 
uma de suas finalidades a dignidade, a promoção 
e proteção da pessoa humana. Isso infere ampla 
proteção aos direitos e garantias fundamentais, 
além dos direitos sociais como o direito a 
educação, a saúde, ao trabalho, segurança, ao 
lazer, a moradia, a previdência social, a 
alimentação, proteção à maternidade e à infância, 
assistência aos desamparados. Em sua 
integralidade, esses direitos se traduzem na 
concretização de uma vida digna. 
De acordo com Carlos F. Zimmermann 
(2006, p. 43), “Existem princípios que fazem parte 
do Direito como um todo, e que se estende a 
todos os ramos indistintamente: a dignidade da 
pessoa humana; a boa-fé; a honra; o nome; o uso 
não abusivo do direito; o direito universal de 
defesa, entre tantos outros princípios, os quais 
amparam também o direito do trabalho”. 
É importante resaltar que existem princípios 
gerais do direito, assim como princípios 
específicos para cada direito tutelado. As relações 
de emprego são fundamentadas por princípios 
gerais e também específicos do Direito do 
Trabalho. Como visto, a dignidade da pessoa 
humana é um princípio fundamental dentro das 
relações laborais. Já no Direito do trabalho, o 
princípio que se destaca e abriga todos os demais 
princípios é o princípio da proteção, também 
chamado de princípio tutelar. 
O desequilíbrio, sob o ponto de vista 
econômico e social, entre o empregado e o 
empregador acaba por colocar aquele em uma 
posição passiva perante este. Nesse embate entre 
empregado e empregador, o direito do trabalho se 
faz importante na implementação de uma relação 
 
 
mais equilibrada em que pese uma maior proteção 
ao economicamente mais frágil na relação de 
emprego, que é o empregado. Esse princípio da 
proteção tem como principal desdobramento 
reduzir o desequilíbrio econômico e financeiro 
entre empregado e empregador, buscando uma 
maior equidade nas relações entre os sujeitos do 
contrato, reforçando o peso de maior proteção 
jurídica ao hipossuficiente da relação trabalhista, a 
fim de reduzir essa distância existente entre 
empregado e empregador. A doutrina majoritária 
entende que o princípio da proteção é manifesto 
em dois outros princípios peculiares ao direito do 
trabalho, que são o princípio da norma mais 
favorável e o princípio da condição mais benéfica. 
Zimermann (2006, p. 43) entende que a 
norma mais benéfica será utilizada em caso de 
conflito de normas, prevalecendo a norma que for 
mais favorável ao trabalhador e ficando 
prejudicada as demais que lhe estejam em 
oposição, independentemente de hierarquia. 
Diante do exposto, fica o jurista obrigado a 
optar pela aplicação da norma cujo conteúdo seja 
mais favorável ao trabalhador. Esse princípio nos 
demonstra que a hierarquia das fontes trabalhistas 
são flexíveis. 
O Princípio da condição mais benéfica não 
trata de normas em conflito, mas de atos 
praticados pelas partes e que não são passiveis 
de alteração ou de serem suprimidas em prejuízo 
daquelas já adquiridas (NETO, 2006, p.43). 
No direito do trabalho, em caso de dúvida, 
interpreta-se favoravelmente ao empregado de 
acordo com o princípio In dubio pro operário. 
O trabalhador jamais poderá renunciar aos 
seus direitos, mesmo que seja forçado a isso ou 
até mesmo ameaçado, estando o trabalhador 
amparado pelo princípio da irrenunciabilidade. Ex. 
Os trabalhadores que exercem funções perigosas 
e insalubres não podem se negar a receber os 
adicionais correspondentes a essas funções, 
assim como não podem deixar de utilizar 
equipamentos individuais que lhes sejam 
fornecidos para maior segurança na execução das 
atividades laborais, já que esses são direitos 
amparados por legislação específica. 
Nos conflitos trabalhistas, prevalecerá o 
princípio da primazia e da realidade, isto é, 
prevalecerão os fatos reais e não os documentais. 
Ex: Um trabalhador contratado para executar 
atividades em ambientes seguros e salubres, mas 
que na realidade executa atividades em ambientes 
insalubres ou perigosos. Ainda que as reais 
condições de execução do trabalho não possam 
ser comprovadas mediante prova documental, o 
trabalhador fará jus ao recebimento dos 
respectivos adicionais correspondentes a essas 
atividades. Nesse caso, pode ocorrer a 
impugnação da prova documental com o 
depoimento testemunhal. 
Existem muitos princípios do Direito do 
Trabalho. Contudo, o foco aqui são princípios que 
regem os direitos relativos ao meio ambiente de 
trabalho em condiçõessalubres e seguras para o 
trabalhador. O direito que o trabalhador tem em 
receber os adicionais de insalubridade e 
periculosidade se materializa quando este mantém 
contato com ambientes de trabalho não 
adequados às condições de salubridade e 
segurança. 
 
 
4. Do Adicional de Insalubridade e 
Periculosidade 
4.1 Adicional 
 
Os adicionais consistem na contraprestação 
de parcelas suplementares devidas ao empregado 
em razão do exercício do trabalho em situações e 
circunstâncias mais gravosas. 
A legislação trabalhista já garante uma 
jornada de trabalho não excessiva, assim como 
um meio ambiente de trabalho seguro e salubre ao 
trabalhador. Contudo, não sendo possível oferecer 
essas garantias, o trabalhador terá direito aos 
adicionais que, nessa situação, funcionam como 
uma forma de compensação ao dano ao qual o 
trabalhador está exposto. 
De acordo com Delgado (2003, p. 730), o 
que melhor distingue os adicionais de outras 
parcelas salariais são o fundamento e o objetivo 
de incidência da figura jurídica. Os adicionais 
correspondem à parcela salarial deferida 
suplementarmente ao obreiro por este se 
encontrar, no plano do exercício contratual, em 
circunstâncias tipificadas mais gravosas. A parcela 
adicional é, assim, contraprestativa: paga-se um 
plus em virtude do desconforto, desgaste ou risco 
vivenciados, da responsabilidade e encargos 
superiores recebidos. 
Ressalte-se que o trabalhador só fará jus ao 
adicional, enquanto estiver exposto a uma 
condição de trabalho gravosa, ou seja, esse 
adicional não será incorporado em definitivo ao 
salário do trabalhador. Dessa forma, ao cessar a 
situação especial a que o trabalhador é submetido, 
ele não mais perceberá o adicional. 
A irredutibilidade é um dos princípios 
constitucionais que regem o Direito do Trabalho, 
sendo prevista no artigo 7, VI, da Constituição 
Federal. No entanto, há exceções. O artigo 7, XIII, 
prevê que a redução salarial encontra amparo se 
resultante de acordo ou convenção coletiva de 
trabalho, ou ainda, mediante redução da jornada 
de trabalho e do correspondente salário se tal 
negociação for acertada junto ao sindicato da 
categoria (PIMENTEL; LOURIVAL, 2009, p. 52). 
Entretanto, pode-se verificar que deixando 
de existir situação gravosa, o trabalhador deixará 
de receber o adicional. Nesse caso, não há que se 
falar de irredutibilidade salarial já que ambos não 
se confundem. 
 
 
 
 
4.2 Adicional de Insalubridade 
 
Para Pimentel; Lourival (2009, p.47), o 
adicional de insalubridade é devido ao empregado 
que se ativa em atividades insalubres. 
O adicional, para o trabalho exercido em 
condições insalubres, deve ser pago em caráter 
compensatório e seu valor sofre variação de 
acordo com o tipo de insalubridade. O Ministério 
do Trabalho e Emprego é responsável pela 
identificação e classificação das atividades 
insalubres, estabelecendo o grau de intensidade, 
que pode ser de 10% (grau mínimo), 20% (grau 
médio) e 40% (grau máximo), calculado sobre o 
salário mínimo, como disposto no art 192 da CLT. 
Não obstante o disposto no art. 192 da CLT, o 
referido adicional poderá ser calculado sobre o 
salário profissional, caso previsto em lei, 
convenção coletiva ou sentença normativa. 
Acrescente-se ainda o entendimento 
jurisprudencial de que a base de cálculo do 
adicional pode ser o salário contratual, o que é 
entendido com fundamento no art. 7°, IV, da 
CF/88, que veda expressamente a vinculação ao 
salário mínimo para qualquer fim (NETO, 2006, p. 
118). 
Renato Saraiva (2005, p. 356) afirma que, 
apesar da constituinte vedar qualquer tipo de 
vinculação ao salário mínimo, o Tribunal Superior 
do Trabalho continua mantendo o entendimento de 
fixar o respectivo adicional, tomando como base 
de cálculo o salário mínimo. 
Ainda existem muitas controvérsias sobre a 
base de cálculo, essa discussão gira em torno do 
salário mínimo ou do salário base do trabalhador. 
A CLT, em seu artigo 192, diz que esse cálculo 
ocorrerá sobre o salário mínimo vigente de cada 
região. Entretanto, a CF/88 veda cálculos 
vinculados ao salário mínimo. A partir do advento 
da nova carta constituinte, foi levantada a 
discussão sobre a validade do artigo 192 da CLT, e 
verificou-se que, de fato, a previsão constitucional 
tornou o artigo192 da CLT inconstitucional. Em 
2003 o TST estabeleceu um parâmetro para essa 
discussão, determinando que o percentual para o 
cálculo do adicional insalubridade incidiria ainda 
sobre o salário mínimo, ou seja, como estava 
previsto na CLT. No entanto o problema dessa 
discussão foi ressuscitado pela Súmula Vinculante 
n° 4 do Supremo Tribunal Federal. 
“Súmula Vinculante 4 STF – Salvo nos 
casos previstos na constituição, o salário mínimo 
não pode ser usado como indexador de base de 
cálculo de vantagem de servidor público ou de 
empregado, nem ser substituído por decisão 
judicial”. 
Ato contínuo, a Súmula 228 teve sua 
redação alterada para adequar-se à Súmula 
Vinculante n° 4 do STF, determinando que o 
salário básico do empregado fosse tomado como 
base do adicional. Diz a Súmula nº 228 TST: 
Súmula nº 228 TST - adicional de 
insalubridade. Base de cálculo: 
 “A partir de 9 de maio de 2008, data da 
publicação da Súmula Vinculante nº 4 do Supremo 
Tribunal Federal, o adicional de insalubridade será 
calculado sobre o salário básico, salvo critério 
mais vantajoso fixado em instrumento coletivo.”
4
 
Isso infere que a Súmula nº do TST permite 
a substituição do salário mínimo pelo salário 
básico no cálculo do adicional de insalubridade, 
salvo se houver critério mais vantajoso, fixado por 
meio de convenção coletiva. 
Ocorre que a Súmula Vinculante nº 4 do 
STF também determina que a base de cálculo não 
pode ser substituída por decisão judicial. Isso 
acabou levando a uma decisão liminar do STF 
suspendendo a eficácia da súmula 228. 
Estabelece a decisão liminar proferida pelo 
Ministro Gilmar Mendes: 
"..... com base no que ficou decidido no RE 
565.714/SP e fixado na Súmula Vinculante nº 4, 
este Tribunal entendeu que não é possível a 
substituição do salário mínimo, seja como base de 
cálculo, seja como indexador, antes da edição de 
lei ou celebração de convenção coletiva que 
regule o adicional de insalubridade. Logo, à 
primeira vista, a nova redação estabelecida para 
Súmula nº 228/TST revela aplicação indevida da 
Súmula Vinculante nº 4, porquanto permite a 
substituição do salário mínimo pelo salário básico 
no cálculo adicional de insalubridade sem base 
normativa". 
Enfim, a base de cálculo do adicional 
necessita ser definida via legislação específica, o 
que só pode ser feito por meio do poder 
legislativo. Enquanto isso não ocorre, a base de 
cálculo mais aceita continua sendo o salário 
mínimo. Segundo matéria da revista eletrônica do 
Tribunal Regional da 4° Região, a justificativa para 
esse entendimento é de que o STF fez uma 
declaração de inconstitucionalidade do artigo 192 
da CLT, mas sem pronunciar ou declarar a sua 
nulidade, ou seja, o artigo 192 da CLT continuará 
sendo aplicado até que seja alterado por um novo 
dispositivo legal
5
. 
Observe as súmulas 17 – que foi restaurada 
pela resolução do TST 121/2003 – e 228 – com 
nova redação dada pela resolução do TST 
121/2003 – in verbis: 
Súmula 17 do TST – Adicional de 
insalubridade. “O adicional de insalubridade 
devido a empregado que, por força de lei, 
convenção coletiva ou sentença normativa, 
percebe salário profissional será sobre este 
calculado”. 
Súmula 228 do TST – Adicional de 
insalubridade – Base de cálculo. “O Percentual 
do adicional de insalubridade incide sobre o 
salário mínimo de que cogita o art. o art. 76 da 
 
4
 Súmula nº 228 – Tribunal Superior do Trabalho. 
5
 Min. Gandra Filho - Fonte revista eletrônica TRT 4° 
região. Ano IV, número 57, Jun. 2008. 
 
 
CLT”. 
Súmula 228 – Adicional de insalubridade 
- Base de cálculo (nova redação) Res. 148/2008 
Dj 04 e 07.07.2008 – republicadaDj 08, 09 e 
10.07.2008 ( Súmula cuja eficácia está suspensa 
por decisão liminar do Supremo Tribunal Federal) 
Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 
27.09.2012. 
A nossa Lei Maior traz expresso em seu 
artigo 7°, inciso XXIII, a proteção ao adicional de 
insalubridade na forma da lei. 
O adicional de insalubridade é pago a todo 
empregado que exerce atividades ou operações 
insalubres, expostos a agentes químicos, físicos 
ou biológicos nocivos a saúde que ultrapasse os 
limites toleráveis. Essas atividades estão definidas 
em quadro aprovado pelo Ministério do Trabalho e 
Emprego e se encontram mencionadas na NR 15. 
Pode-se então definir o adicional de 
insalubridade como sendo o valor pago ao 
trabalhador em decorrência do exercício de 
atividade laboral realizada submetido a riscos de 
doenças no local de trabalho, doenças que estão 
previstas em legislação. Para que o trabalhador 
tenha direito ao recebimento do adicional de 
insalubridade, é necessário que a previsão do 
risco que gera insalubridade esteja prevista na 
legislação própria. 
Define a Orientação Jurisprudencial 
número 4 Adicional de Insalubridade. “Lixo 
Urbano (nova redação em decorrência da 
incorporação da Orientação Jurisprudencial n° 170 
da SBDI – 1) DJ 20.04.2005I – Não basta a 
constatação da insalubridade por meio de laudo 
pericial para que o empregado tenha direito ao 
respectivo adicional, sendo necessária a 
classificação da atividade insalubre na relação 
oficial elaborada pelo Ministério do Trabalho
6
”. 
A Orientação Jurisprudencial 4, que trata do 
adicional de insalubridade e do lixo urbano, 
estabelece que para se caracterizar a 
insalubridade, deve ocorrer a constatação, por 
meio de perícia, no meio ambiente do trabalho, e a 
existência ou previsão do risco na relação 
elaborada pelo Ministério do Trabalho. Por 
exemplo, constatado por perícia o contato do 
trabalhador com lixo urbano, verifica-se que essa 
atividade também está prevista no anexo 14 da 
norma regulamentadora 15. Portanto, esses 
profissionais farão jus ao recebimento do adicional 
de insalubridade. 
O mesmo não pode ser dito, por exemplo, 
da limpeza em residências e escritórios e a 
respectiva coleta de lixo. Essas atividades não 
podem ser consideradas insalubres, ainda que 
constatadas em laudo pericial, porque não se 
encontram dentre as classificadas como lixo 
urbano pela Portaria do Ministério do Trabalho (ex. 
 
6
 Fonte: 
Retirado do endereço: www.tst.jus.br/sumulas. 
Acessado em: 17 out. 2014 
OJ n° 170 da SDI – 1 – inserida em 08.11.2000). 
Portanto, os profissionais que exercem tais 
atividades não farão jus, neste caso, ao adicional 
de insalubridade advindo de recolhimento de lixo. 
Entretanto, é importante salientar que se for 
constatado outro agente de risco, e este fizer parte 
das listas e quadros do Ministério do Trabalho e 
Emprego, a situação então será de recebimento 
do adicional. É o que diz o artigo 190 da CLT, “O 
Ministério do Trabalho aprovará o quadro das 
atividades e consideradas operações insalubres e 
adotará normas sobre a caracterização da 
insalubridade (...)”. 
De acordo com Saraiva (2005, p. 357), “Os 
efeitos pecuniários decorrentes do trabalho em 
condições de insalubridade ou periculosidade 
serão devidos a contar da data da inclusão da 
respectiva atividade nos quadros aprovados pelo 
Ministério do Trabalho, conforme preceitua o artigo 
196 consolidado”. 
Súmula de N° 80 do TST Insalubridade 
(mantida) RES.121/2003, DJ 19, 20 e 21-11-2003. 
“A eliminação da insalubridade mediante 
fornecimento de aparelhos protetores aprovados 
pelo órgão competente do Poder Executivo exclui 
a percepção do respectivo adicional
7
”. 
O artigo 191 da CLT trata dos casos de 
eliminação ou neutralização da insalubridade. No 
caso da primeira hipótese, não há do que se falar 
do direito de percepção do adicional ao 
empregado que não mais está exposto à situação 
de risco para sua saúde. No último caso, onde a 
neutralização pode ser feita por meio da utilização 
de equipamentos de proteção individual que 
diminuem a intensidade dos agravos causados 
pelo agente agressivo a limites de toleráveis, 
ainda existe a obrigatoriedade do pagamento do 
adicional, já que os danos a saúde são apenas 
minimizados, mas não eliminados. Lembramos 
que o inciso I do mesmo artigo diz que a 
insalubridade também pode ser eliminada por 
meio da adoção de medidas de proteção coletiva, 
e esta é a recomendação mais importante sob o 
ponto de vista da prevenção. É importante 
observar, porém que a Súmula 289 também trata 
do mesmo assunto. 
Súmula nº 289 do TST 
INSALUBRIDADE. ADICIONAL. 
FORNECIMENTO DO APARELHO DE 
PROTEÇÃO. EFEITO (mantida) - Res. 121/2003, 
DJ 19, 20 e 21.11.2003. 
“O simples fornecimento do aparelho de 
proteção pelo empregador não o exime do 
pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-
lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição 
ou eliminação da nocividade, entre as quais as 
 
7
 Fonte: 
Súmula retirada de www.tst.jus.br/sumulas. Essa 
Súmula tem relação com o artigo 191 da CLT, em seu 
inciso II. Acesso em: 17 out. 2014 
 
 
 
relativas ao uso efetivo do equipamento pelo 
empregado”. 
Em resumo, esta súmula diz que para se 
eximir do pagamento do adicional através de 
medidas de proteção individual, não basta dar o 
equipamento de proteção individual, mas adotar 
todas as medidas necessárias para que realmente 
o equipamento de proteção individual seja 
eficiente. Entre elas, as relativas ao uso efetivo. 
Existe ainda a necessidade da indicação criteriosa 
do equipamento, o treinamento ao risco e ao uso 
do equipamento, os procedimentos de 
manutenção, limpeza e conservação desses 
dispositivos, bem como outras recomendações 
pertinentes e técnicas sobre o uso de 
equipamento de proteção individual. 
Está expresso de forma explicita no artigo 
194 da CLT: 
“O Direito do empregado ao adicional de 
insalubridade e periculosidade cessará com 
eliminação do risco à sua saúde ou integridade 
física, nos termos dessa seção e das normas 
expedidas pelo o Ministério do Trabalho”. 
Súmula n° 248 adicional de 
insalubridade. Direito Adquirido (mantida) RES. 
121/2003, Dj 19, 20 e 21-11-2003. “A 
reclassificação ou descaracterização da 
insalubridade, por ato da autoridade competente, 
repercute na satisfação do respectivo adicional, 
sem ofensa a direito adquirido ou ao principio da 
irredutibilidade salarial”. 
Temos como exemplo da situação 
contemplada nessa súmula: A insalubridade por 
níveis inadequados de iluminação ou 
iluminamento que fazia parte do anexo 4 da norma 
regulamentadora 15 foi revogado em 1990 porque 
através de estudos científicos ficou verificado que 
não poderia ocorrer adoecimentos unicamente por 
níveis insuficientes de iluminação. Revogado o 
anexo, cessou percepção do direito ao adicional 
de insalubridade. Essas questões de iluminamento 
atualmente estão relacionadas ao conforto visual e 
estão regulamentadas em anexos da NR 17. 
De acordo com Saraiva (2005, p. 356), 
“caso o empregado seja removido do setor ou 
passe a laborar em outro estabelecimento que não 
exista insalubridade, perderá o direito ao adicional 
de insalubridade”. 
Súmula n ° 47 do TST Insalubridade 
(mantida) – RES. 121/2003 “O Trabalho 
executado em condições insalubres, em caráter 
intermitente, não afasta, só por essa circunstância, 
o direito à percepção do respectivo adicional”. 
Entende-se que a intermitência por si só 
não afasta o direito ao recebimento do adicional, 
pois também não afasta por si só o risco de 
adoecimento. Ex. Pessoas que trabalham na 
limpeza de esgoto não ficam o tempo todo 
executando esse trabalho. Entretanto, o tempo 
que ficam nessa atividade fazendo 
desentupimento é o suficiente para colocá-las em 
contato com produtos biológicos altamente 
insalubres. Portanto não é necessária a exposição 
durante toda a jornada de trabalho para 
caracterizara insalubridade. 
Súmula n° 293 Adicional de 
Insalubridade. Causa de Pedir. Agente diverso 
do apontado na inicial (mantida) – Res. 
121/2003, Dj 19, 20 e 21-11-2003. “A verificação 
de perícia de prestação de serviços em condições 
nocivas, considerado agente insalubre diverso do 
apontado na inicial, não prejudica o pedido de 
adicional de insalubridade”. 
A Súmula mostra que o apontamento de um 
agente insalubre, por exemplo, ruído, mas 
constatado durante a perícia que o agente 
insalubre era vibração, o processo não fica 
prejudicado. 
Orientação Jurisprudencial 173 - 
Adicional de Insalubridade atividade a céu 
aberto exposição ao sol e ao calor. (redação 
alterada na sessão do tribunal pleno realizada 
em 14.09.2012 – Res 186/2012 DEJT divulgado 
em 25, 26 e 27.09.2012. “Ausente previsão legal, 
indevido o adicional de insalubridade ao 
trabalhador em atividade a céu aberto por sujeição 
a radiação solar (Art.195 da CLT e anexo 7da NR 
15 da portaria n ° 3214/ 78 do MTE)”. 
No entanto, se houver carga solar a ponto 
das atividades extrapolarem os limites de 
tolerância para calor, limites estes que estão 
previstos na norma regulamentadora n° 15, em 
seu anexo 3, então neste caso o trabalhador fará 
jus ao recebimento do adicional. 
Por fim, temos a Orientação Jurisprudencial 
165 que reforça o artigo 195 da CLT, dizendo que 
a perícia para a classificação e caracterização da 
insalubridade pode ser feita por médico do traba-
lho ou engenheiro do trabalho, ou seja, segundo a 
orientação o artigo 195 não faz distinção entre 
médico ou engenheiro. 
Orientação Jurisprudencial 103/SDI – 
I/TST – Adicional de Insalubridade. “O adicional 
de insalubridade já remunera os dias de repouso 
semanal e feriados
8
”. 
 
4.3 Adicional de Periculosidade 
Para Pimentel; Lourival (2009, p.47), “O adi-
cional de periculosidade é devido ao empregado 
que se ativa em contato permanente com elemen-
tos inflamáveis ou explosivos (CLT, art. 193, § 1°). 
Os empregados que trabalham no setor de ener-
gia elétrica também fazem jus ao adicional de 
periculosidade. O empregado ao exercer suas 
funções em condições perigosas, tem direito ao 
adicional de 30% sobre seu salário, de forma inte-
gral, mesmo que se ative de maneira intermitente”. 
Súmula 364 – TST – “Tem direito ao adicio-
nal de periculosidade o empregado exposto per-
manentemente ou que de forma intermitente, se 
sujeita a condições de risco. Indevido, apenas, 
 
8
 Renato Saraiva. Direito do Trabalho. Página 357. 
 
 
quando o contato dá-se de forma eventual, assim 
considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, 
dá-se por tempo extremamente reduzido. ( ex- Ojs 
da SBDI – 1 n°s 05 – inserida em 14.03.1994 e 
280 – DJ 11.08.2003)”. 
De acordo com Carlos F. Zimmermann Neto 
(2006, p. 119), o adicional de periculosidade pode 
ser inferior ao legal e proporcional ao tempo de 
exposição ao risco, caso seja fixado em acordo ou 
convenção coletiva. 
Conforme ensina (SARAIVA, 2005), se a 
exposição à atividade perigosa é permanente ou 
intermitente, não ocorrendo diariamente, mas com 
certa regularidade, então o trabalhador fará jus ao 
adicional de periculosidade. Contudo, em caso de 
exposição eventual ou ocasional (esporádica, em 
raras situações ou por reduzido tempo), o traba-
lhador não fará jus ao respectivo adicional de peri-
culosidade. O adicional de periculosidade corres-
ponde a um valor complementar ao salário do 
empregado que exerce atividades ou realiza ope-
rações perigosas que se caracterizam por risco de 
morte ou lesão súbita ou imediata. 
A periculosidade não se traduz a uma expo-
sição contínua do trabalhador a um risco que age 
biologicamente contra o seu organismo, mas que, 
pode tirar-lhe a vida ou mutilá-lo (SARAIVA, 2005 
p.359). Contudo, o pagamento do adicional de 
periculosidade só será pago a trabalhadores que 
exerçam atividades ou operações perigosas que já 
estejam definidas pela legislação. 
O adicional de periculosidade está previsto 
na Constituição Federal – Título II: “Dos Direitos e 
Garantias Fundamentais. Capítulo II – Dos direitos 
sociais (...)”. 
Art 7° São direitos dos trabalhadores urba-
nos e rurais, além de outros que visem à melhoria 
de condição social: 
(...) 
XXIII – Adicional de remuneração para ativi-
dades penosas, insalubres ou perigosas na for-
ma da lei
9
. 
Em dezembro de 2012 foi alterado o artigo 
193 da CLT, por meio da lei 12.740. 
A nova redação do artigo define as novas a-
tividades e operações que passam a ser conside-
radas perigosas, para fim de percepção do adicio-
nal de periculosidade. Sendo relacionadas aquelas 
que exponham a riscos acentuados a inflamáveis, 
explosivos e energia elétrica. Aqui temos uma 
novidade que diz respeito aos roubos ou outras 
espécies de violência física nas atividades de se-
gurança patrimonial ou pessoal, é nítido que esta 
última atividade apresenta risco iminente e cons-
tante de morte e de periculosidade. Entretanto, 
essas atividades não gozavam do direito ao rece-
 
9
 Os adicionais de insalubridade e periculosidade já 
estão previstos na legislação infraconstitucional, 
enquanto o adicional por atividades penosas aguarda 
regulamentação específica. 
 
bimento do adicional de periculosidade, pois não 
estavam previstas na legislação. O que havia, 
habitualmente, era uma negociação por meio de 
acordos ou convenções coletivas em que os traba-
lhadores percebiam percentuais variáveis, de a-
cordo com sua convenção ou acordo sobre uma 
rubrica similar. Por isso, a nova lei prevê em seu 
parágrafo 3° que “serão descontados ou compen-
sados do adicional outros da mesma natureza 
eventualmente já concedidos ao vigilante por meio 
de acordo coletivo”. 
Mesmo com a nova redação do artigo 193, 
continuam em vigência os parágrafos 1°e 2°. O § 
1° trata do valor do adicional, que é de 30% sobre 
o salário, sem os acréscimos de gratificação, prê-
mios ou participação nos lucros e o § 2° que diz 
que o empregado que trabalha em ambiente peri-
goso e insalubre simultaneamente, poderá optar 
por aquele adicional que lhe for mais vantajoso, já 
que, por regra, a CLT não admite o acúmulo dos 
dois adicionais. 
O art. 194 da CLT diz que “Cessa o direito 
com a eliminação do risco”. Já o art. 195 da CLT 
estabelece “que o adicional de periculosidade 
deverá ser caracterizado por perícia a cargo de 
médico ou engenheiro do trabalho”. 
Verifica-se que tanto a legislação anterior 
quanto a atual prevê a regulamentação das ativi-
dades ou operações perigosas pelo Ministério do 
Trabalho. Esta regulamentação já existia quanto 
às atividades com explosivos ou inflamáveis por 
meio da norma regulamentadora número 16 (NR 
16) da portaria 3214/78 do MTE e suas alterações 
posteriores, que referem, em seu anexo 1, as ati-
vidades e operações com explosivos; em seu 
anexo 2 as atividades e operações com inflamá-
veis e as atividades e operações com radiações 
ionizantes ou substâncias radioativas
10
. 
Orientação Jurisprudencial 345 – TST – 
Radiação Ionizante. “A exposição do empregado 
a radiação ionizante ou a substância radioativa 
enseja a percepção do a adicional de periculosi-
dade, pois a Regulamentação Ministerial (portaria 
do Ministério do Trabalho 3.393 de 17.12.87 e 518 
de 07.04.2003) ao reputar perigosa a atividade, 
reveste-se de plena eficácia, porquanto expedido 
por força de delegação legislativa contida no artigo 
200 caput e inciso VI da CLT. No período de 
12.12.2002 a 06.04.2003, enquanto vigeu a porta-
ria496 do MTE, o empregado faz jus ao adicional”. 
Seguindo esse entendimento, desde o dia 3 
de dezembro de 2013, os empregados de empre-
sas de pessoal e patrimonial adquiriram o direito 
de receber o adicional de periculosidade no valor 
de 30% sobre o salário, sem acréscimos resultan-
tes de gratificações, prêmios ou participação nos 
lucros. Essa mudança foi consubstanciada com a 
alteração do artigo 193 da CLT,proposta pela Lei 
nº 12.740, de 08/12/2012, que criou o Anexo 3 da 
Norma Regulamentadora 16. Embora a lei seja de 
 
10
 Anexo adotado pela portaria 518, 04.04.2003. 
 
 
dezembro de 2012, ela passou a ter eficácia após 
a regulamentação aprovada pelo Ministério do 
Trabalho e Emprego (MTE), que determinou o 
enquadramento das atividades ou operações que 
são consideradas perigosas. A publicação dessa 
regulamentação é datada de 09/12/2013, por meio 
da Portaria MTE 1.885, de 02/12/2013, após con-
sulta pública pela sociedade. 
A consulta foi iniciada em abril de 2013, por 
meio da Portaria da Secretaria de Inspeção do 
Trabalho e do Departamento de Segurança e Sa-
úde no Trabalho do MTE, sob o nº 367. Na opor-
tunidade, o SINDHOSP e a FEHOESP encaminha-
ram sugestões, previamente debatidas pelo Comi-
tê de Segurança e Saúde Ocupacional e pelo 
Grupo de Técnicos de Segurança do Trabalho do 
ABC
11
. 
No caso de atividade por exposição a risco 
de energia elétrica a situação é um pouco diferen-
te, pois embora não fosse previsto no texto da 
CLT, o adicional era previsto na lei 7369/85, que 
era regulamentado pelo decreto 9341/86. Essa lei 
foi expressamente revogada pela nova lei 12.740, 
de dezembro de 2012, que incluiu o risco no artigo 
193 da CLT. Sendo assim, esse adicional também 
deverá passar por regulamentação pelo MTE e 
constar em nova redação da NR 16. 
Outro ponto que deve ser observado é a 
base de cálculo do adicional de periculosidade por 
exposição a risco elétrico. Na lei 7369/85 que foi 
expressamente revogada, o adicional correspon-
dia a 30% sobre o salário a perceber, ou seja, 
sobre todo o salário. No artigo 193 da CLT, o adi-
cional corresponde a 30% sobre o salário sem 
acréscimos resultantes de gratificação, prêmios ou 
participação nos lucros da empresa. 
Orientação Jurisprudencial 259 – TST – ba-
se de cálculo do adicional noturno. O adicional de 
PERICULOSIDADE deve compor a base de cálcu-
lo do adicional noturno, já que também neste horá-
rio o trabalhador permanece sob as condições de 
risco. 
Súmula 132 TST Indenização, horas extras, 
sobreaviso. Adicional de periculosidade. Integra-
ção (incorporada as orientações jurisprudências 
números 174 e 267 da SBDI 1) Res129/2005, DJ 
20, 22 e 25.04.2005. 
I - Adicional de periculosidade pago em ca-
ráter permanente integra o cálculo de indenização 
e de horas extras (ex. prejulgado n° 3). (ex-súmula 
132 – RA 102/1982, DJ 11.10.1982/ Dj 15.10.1982 
e ex Oj n° 267 da SBDI 1 inserida em 27.09.2002). 
 II - Durante as horas de sobreaviso o em-
pregado não se encontra em condições de risco, 
razão pela qual é incabível a integração do adicio-
 
11
 Fonte: 
http://www.sindhosp.com.br/noticias/6753/Vigilantes-
ganham-direito-de-receber-adicional-de-periculosidade. 
Acessado em: 13 nov. 2014. 
 
nal de periculosidade sobre as mencionadas horas 
(ex. OJ n° 174 da SBDI 1 inserida em 08.11.2000). 
Nesse sentido, de acordo com Saraiva 
(2005, p. 359), “não há o que se falar em direito 
adquirido ao recebimento do adicional de periculo-
sidade. Então, quando eliminado o risco à saúde 
ou a integridade física do trabalhador, cessa o 
pagamento do atinente adicional”. 
Recentemente mais um alteração foi incor-
porada ao artigo 193 da CLT, que se refere ao 
adicional de periculosidade para motoboy. Para 
garantir maior segurança a esses profissionais, o 
Congresso Nacional editou a lei 12.997/14, que foi 
publicada em 20/06/2014 e sancionada pela presi-
dente Dilma. 
De acordo com o senador Marcelo Crivela, 
autor do projeto de lei, esse adicional tem como 
objetivo proporcionar a esses trabalhadores um 
maior investimento em equipamentos de seguran-
ça, cursos de aperfeiçoamento e manutenção 
regular em suas motocicletas
12
. 
 O artigo 2° da nova lei determina sua apli-
cação imediata, a partir de sua publicação. Entre-
tanto, de acordo com o que dispõe o artigo 196 da 
CLT “os efeitos pecuniários decorrentes do traba-
lho em condições de insalubridade ou de pericu-
losidade serão devidos a contar da data da inclu-
são da respectiva atividade nos quadros aprova-
dos pelo Ministério do Trabalho”. 
A nova lei precisa ainda ser regulamentada 
pelo MTE. Por essa razão, os empregadores ainda 
não estão obrigados a fazer o pagamento de 30% 
sobre o salário referente ao adicional de periculo-
sidade
13
”. 
 
 
4.4 Acúmulo do Adicional de Insalubridade e 
periculosidade 
 
Na hipótese de o empregado trabalhar em 
situações insalubres e perigosas, ao mesmo tem-
po, terá direito a apenas um dos adicionais, ca-
bendo-lhe escolher o que lhe for mais vantajoso 
(CLT, art. 193, § 2º). 
Ao se estudar a definição de insalubridade e 
periculosidade, percebe-se que ambos se distin-
guem, pois aquele gera dano à saúde e este gera 
risco a integridade física e a vida. Assim sendo, 
fica nítido que o fato gerador de ambos adicionais 
são totalmente distintos, o que justifica que o a-
créscimo financeiro também deveria ser. A não 
 
12
 Texto retirado na íntegra da página web Migalhas. 
Matéria de Arnaldo Barros Neto: “Adicional de 
periculosidade para motoboy depende de 
regulamentação do Ministério do Trabalho e Emprego”. 
Acessado em 13 nov. 2014. 
13
 Texto retirado na íntegra da página web Migalhas. 
Matéria de Arnaldo Barros Neto: “Adicional de 
periculosidade para motoboy depende de 
regulamentação do Ministério do Trabalho e Emprego”. 
Acessado em 13 nov. 2014. 
 
 
acumulação é injusta ao trabalhador que está ex-
posto a ambas as situações. 
A CLT veda a acumulação dos adicionais de 
insalubridade e periculosidade, assim como diver-
sas doutrinas defendem a impossibilidade da a-
cumulação. Entretanto vários tribunais têm decidi-
do de maneira diversa, entendendo que o empre-
gado pode sim acumular os adicionais de insalu-
bridade e periculosidade. Foi o que decidiu a 2ª 
Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª 
Região – RS no Acórdão de número 0000280-
19.2012.5.04.0761 RO proferido na sessão de 
julgamento do dia 8 de maio de 2014, com argu-
mento de que o acúmulo do adicional de insalubri-
dade com o de periculosidade é legal, pois o dis-
positivo da Consolidação das Leis do Trabalho 
(CLT) que não permitia esta acumulação não foi 
recepcionado pela Constituição de 1988 e, de 
qualquer forma, foi modificado quando o Brasil 
ratificou a Convenção 155 da Organização Inter-
nacional do Trabalho (OIT), em 1994
14
. 
Veja o seguinte caso: 
TRABALHADOR FAZ JUS AO RECEBI-
MENTO CUMULATIVO DE PERICULOSIDADE 
E INSALUBRIDADE
15
. 
A 1ª Câmara do TRT de Santa Catarina 
manteve decisão da 1ª Vara do Trabalho de Rio 
do Sul reconhecendo o direito de trabalhador de 
receber, cumulativamente, os adicionais 
de insalubridade e de periculosidade quando as 
causas e as razões forem diferentes. 
O adicional de periculosidade é devido pelo 
risco de acontecer, a qualquer tempo, um acidente 
de trabalho. O de insalubridade deve ser pago ao 
trabalhador que está exposto a um agente nocivo 
durante a jornada de trabalho. 
O autor, que já tinha conseguido o adicional 
de insalubridade em outro processo por ter sido 
exposto a ruídos excessivos e agentes químicos, 
ingressou com nova ação trabalhista contra o 
mesmo réu. Na segunda, requereu adicional de 
periculosidade por abastecer microtrator com óleo 
diesel e fazer a mistura de óleos lubrificantes com 
gasolina para o abastecimento de roçadeira. 
Na decisão de primeiro grau, o juiz Alessan-
dro da Silva entendeu “ser devidos, de forma cu-
mulativa, ambos os adicionais quando coexisten-
tes as condições de insalubridade e periculosida-
de”. O magistrado fundamentou sua sentença no 
art. 11, b, da Convenção 155 da Organização In-
ternacional do Trabalho (OIT), em que consta que, 
para efeitos de danos à saúde do trabalhador, 
devem ser considerados, simultaneamente, os14
 Fonte: 
http://www.conjur.com.br/2014-jul-09/empregado-
receber-adicionais-insalubridade-periculosidade. 
Acessado em: 13 nov. 2014 
 
15
 Fonte: 
www.jurisway.org.br/v2/noticia.asp?idnoticia=51221. 
Acessado em: 13 nov. 2014. 
vários agentes e substâncias nocivas ao organis-
mo humano. 
Inconformada, a ré recorreu ao Tribunal, 
com a alegação da impossibilidade de cumulação 
desses adicionais. Mas a 1ª Câmara também en-
tendeu que se os dois adicionais têm causas e 
razões diferentes, “logicamente devem ser pagos 
cumulativamente, sempre que o trabalhador se 
ativar concomitantemente em atividade insalubre e 
perigosa”, redigiu, no acórdão, a juíza Águeda 
Maria Lavorato Pereira, relatora do processo. 
TURMA MANTÉM ACUMULAÇÃO DE ADI-
CIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSI-
DADE
16
. 
Um empregado da Amsted Maxion Fundição 
e Equipamentos Ferroviários S. A. vai receber 
acumuladamente os adicionais de insalubridade e 
periculosidade. A Sétima Turma do Tribunal Su-
perior do Trabalho afastou a argumentação de que 
o artigo 193, parágrafo 2º, da CLT prevê a opção 
pelo adicional mais favorável ao trabalhador e 
negou provimento ao recurso da empresa, sob o 
entendimento de que normas constitucionais e 
supralegais, hierarquicamente superiores à CLT, 
autorizam a cumulação dos adicionais. 
De acordo com o relator do recurso, ministro 
Cláudio Brandão, a Constituição da República, no 
artigo 7º, inciso XXIII, garantiu de forma plena o 
direito ao recebimento dos adicionais de penosi-
dade, insalubridade e periculosidade, sem qual-
quer ressalva quanto à cumulação, não recepcio-
nando assim aquele dispositivo da CLT. Em sua 
avaliação, a acumulação se justifica em virtude de 
os fatos geradores dos direitos serem diversos e 
não se confundirem. 
Segundo o ministro, a cumulação dos adi-
cionais não implica pagamento em dobro, pois a 
insalubridade diz respeito à saúde do empregado 
quanto às condições nocivas do ambiente de tra-
balho, enquanto a periculosidade "traduz situação 
de perigo iminente que, uma vez ocorrida, pode 
ceifar a vida do trabalhador, sendo este o bem a 
que se visa proteger". 
Normas internacionais 
O relator explicou que a opção prevista na 
CLT é inaplicável também devido à introdução no 
sistema jurídico brasileiro das Convenções 
148 e 155 da Organização Internacional do Traba-
lho (OIT), "que têm status de norma materialmente 
constitucional ou, pelo menos, supralegal", como 
foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal. A 
Convenção 148 "consagra a necessidade de atua-
lização constante da legislação sobre as condi-
ções nocivas de trabalho", e a 155 determina que 
sejam levados em conta os "riscos para a saúde, 
decorrentes da exposição simultânea a diversas 
substâncias ou agentes". 
Tais convenções, afirmou o relator, supera-
ram a regra prevista na CLT e na Norma Regula-
mentadora 16 do Ministério do Trabalho e Empre-
 
16
 Processo: RR-1072-72.72.2011.5.02.0384. 
http://www.guiatrabalhista.com.br/guia/insalubridade.htm
http://www.guiatrabalhista.com.br/guia/periculosidade.htm
http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/acidente_resp_empregador.htm
http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/acidente_resp_empregador.htm
http://www.conjur.com.br/2014-jul-09/empregado-receber-adicionais-insalubridade-periculosidade
http://www.conjur.com.br/2014-jul-09/empregado-receber-adicionais-insalubridade-periculosidade
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
file:///C:/carmem.feijo/Downloads/Constituição%20da%20República
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D93413.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D93413.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D1254.htm
http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-regulamentadoras-1.htm
http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-regulamentadoras-1.htm
 
 
go, no que se refere à percepção de apenas um 
adicional quando o trabalhador estiver sujeito a 
condições insalubres e perigosas no trabalho. 
"Não há mais espaço para a aplicação do artigo 
193, parágrafo 2º, da CLT", assinalou. 
A decisão foi unânime. 
(Mário Correia/CF). 
 
 
5. Tutela do Meio Ambiente do Trabalho 
 
“Meio ambiente do trabalho é aquele que 
está diretamente relacionado com a segurança do 
trabalhador em seu local de trabalho. O local de 
trabalho é o ambiente onde o trabalhador está 
diretamente exposto aos riscos dos produtos peri-
gosos ou a uma atividade insalubre. Esse ambien-
te deve também ser protegido, dando-se uma qua-
lidade de vida digna ao trabalhador. O direito am-
biental não se preocupa somente com a poluição 
emitida pelas indústrias, mas também deve preo-
cupar-se com a exposição direta dos agentes a-
gressivos aos trabalhadores” (SIRVINSKAS, 2003, 
p. 303). 
Diante do exposto verifica-se que o meio 
ambiente do trabalho é local onde o trabalhador 
desenvolve suas atividades. Contudo, o meio am-
biente laboral não está restrito apenas ao espaço 
interno da fábrica ou da empresa, se estende tam-
bém ao próprio local de moradia ou ao ambiente 
urbano. 
Na Constituição Federal encontramos fun-
damentação jurídica para a proteção ao meio am-
biente do trabalho. 
Diz o art. 200 da CF: “Ao sistema único de 
saúde compete, além de outras atribuições, nos 
termos da lei (...) VII – Participar do controle e 
fiscalização da produção, transporte, guarda e 
utilização de substâncias e produtos psicoativos, 
tóxicos e radioativos. VIII – Colaborar na proteção 
do meio ambiente, nele compreendido o do traba-
lho”. 
Diz ainda o art. 7°, XXII, da CF: “São direi-
tos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de 
outros que visem a melhoria de sua condição so-
cial: (...) XXII – redução dos riscos inerentes ao 
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e 
segurança”. 
O Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) 
é responsável pela fiscalização do cumprimento da 
legislação trabalhista, tem um caráter repressivo 
podendo aplicar multas por descumprimentos das 
normas de proteção ao meio ambiente de traba-
lho. Já o Ministério Público do Trabalho tem uma 
ação proativa, promocional, atuação essa que não 
se dá tão somente na esfera administrativa, os 
procuradores atuam também judicialmente reque-
rendo da justiça do trabalho a defesa dos direitos 
sociais individuais dos trabalhadores, para tal 
promoção utilizam ações cabíveis em especial a 
ação civil pública. 
Súmula 15 do CSMP 
O Conselho Superior do Ministério Público 
do Estado de São Paulo firmou entendimento de 
que: “O meio ambiente do trabalho também pode 
envolver a defesa de interesses difusos, coletivos 
ou individuais homogêneos, estando o Ministério 
Público em tese legitimado à sua defesa”. 
Fundamento: O inquérito civil e a ação civil 
pública ou coletiva podem ser utilizados para a 
defesa do meio ambiente do trabalho, desde que a 
lesão tenha caráter metaindividual (difusa, coletiva 
ou individual homogênea – cf. Pt. N. 2849/94)
17
. 
Diante dessa perspectiva, vislumbra-se que 
o trabalhador tem direito garantido, via dispositivos 
legais, a um ambiente salubre e seguro para de-
senvolver suas atividades laborais. Isso é um des-
dobramento da proteção constitucional garantida 
ao bem mais precioso: a vida. No entanto, diante 
de impossibilidade de tornar factível a proteção 
ampla à saúde em primeiro plano, é dado ao tra-
balhador o direito a uma forma de compensação 
financeira por essa lacuna na relação patrão-
empregado, e ao empregador não é dada alterna-
tiva que não seja oferecer um ambiente de traba-
lho salubre e seguro ou, na impossibilidade disso, 
compensar esse mal ao trabalhador da forma que 
a legislação vigente estabelecer. 
O paradoxo que se estabelece quando do 
pagamento de qualquer parcela remuneratória que 
vise compensar situações que ponham em risco a 
saúde e a vida, é o fato de se disponibilizar um 
bem indisponível, já que a garantia constitucional 
à vida é ampla e tem em seu bojo a garantia à 
saúde. Então,abrir precedente na inviabilização 
do cumprimento integral do que é estabelecido 
pela Constituição afronta diretamente conquistas 
históricas que protegem a vida, a saúde e a digni-
dade do ser humano em sua plenitude. Assim, não 
parece razoável que legislação infraconstitucional 
crie subterfúgios que não estejam sob a égide dos 
pilares dos direitos da pessoa humana. 
Na obra “Fundamentação da Metafísica dos 
Costumes e Outros Escritos”
18
, Immanuel Kant diz: 
“[...] no reino dos fins, tudo tem um preço ou uma 
dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode 
pôr-se em vez dela qualquer outra como equiva-
lente; por outro lado, mas quando uma coisa está 
acima de todo o preço, e por isso não admite 
qualquer equivalência, compreende uma dignida-
de”. A partir dessa premissa, pode-se compreen-
der que não há argumento que torne digno estabe-
lecer preço à saúde e à segurança, parcelas essas 
vinculadas à vida. 
O art. 191 da CLT estatui que a adoção, por 
parte do empregador, de medidas que conservem 
o ambiente do trabalho dentro dos limites tolerá-
veis e a adoção de equipamentos de proteção 
 
17
 Luís Paulo Sirvinskas. Manual de Direito Ambiental. 
2ª Ed.Editora Saraiva. São Paulo. p. 306. 
18
 KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos 
Costumes. Trad. Leopoldo Holzbach. São Paulo: Martin 
Claret, 2004, p. 58. 
 
 
individual ao trabalhador, que diminuam a intensi-
dade do agente agressivo a limites de tolerância 
eliminam ou neutralizam a insalubridade. Por outro 
lado, essa suposta eliminação ou neutralização da 
insalubridade e do perigo não é bem aceita pelo 
trabalhador que não entende o cerne da origem 
dessa indenização e a sua real representação no 
salário pago ao trabalhador. 
Não é factível ao trabalhador receber menos 
quando uma situação de insalubridade ou pericu-
losidade é eliminada. Para o trabalhador, há a 
percepção equivocada de uma “diminuição” do 
seu salário, o que leva o mesmo a não querer que 
determinadas condições de trabalho sejam elimi-
nadas, pois isso significaria uma “redução” salarial. 
Já para o empregador, a manutenção de um meio 
ambiente de trabalho equilibrado, salubre e seguro 
representa, em muitos casos, uma demanda maior 
de capital financeiro. Assim, para o empregador, é 
mais viável pagar os adicionais de insalubridade 
ou periculosidade. 
“[...] o capital não se preocupa em nada com 
a saúde e o tempo de vida do trabalhador, se a 
isso não for obrigado pela sociedade
19
”. Karl Max. 
Essa afirmação suscita a reflexão de que o 
modo capitalista de produção é implacável com 
quem quer que esteja em seu caminho, até mes-
mo a ferramenta da sua razão de existir: o traba-
lhador. 
 
 
6. Das Normas de Medicina e Segurança do 
Trabalho 
 
A Constituição de 1988 assegura aos tra-
balhadores urbanos e rurais a redução ao risco 
inerente ao trabalho, por meio de normas de saú-
de, higiene e segurança. 
Seguindo essa mesma lógica, a CLT prevê 
em seu artigo 160. 
“Nenhum estabelecimento poderá iniciar 
suas atividades sem prévia inspeção e aprovação 
das respectivas instalações pela autoridade regio-
nal competente em matéria de segurança e medi-
cina do trabalho”. 
Isso enfatiza o posicionamento legal quan-
to à garantia de um meio ambiente de trabalho 
seguro e salubre para o trabalhador que, sob essa 
ótica, é colocado a salvo de agravos a sua saúde 
e riscos a sua vida. 
A Consolidação das Leis do Trabalho de-
dica o seu capítulo V à Segurança e Medicina do 
Trabalho. 
O Ministério do Trabalho, por meio da Por-
taria n 3.214, de 8 de Junho de 1978, aprovou as 
Normas Regulamentadoras previstas na CLT. 
Essa mesma portaria estabeleceu que as altera-
 
19
 RAMAZZINI, Bernardino. As Doenças dos 
Trabalhadores (De Morbis Artificum Diatriba). Trad. 
Raimundo Estrela. São Paulo: Fundacentro, 
1992. p.157. 
ções posteriores das NRs fossem determinadas 
pelo Ministério do Trabalho e Emprego (FARACO, 
2010, p. 199). 
Ainda, de acordo com Faraco (2010, p. 
214), as Normas Regulamentadoras são de obser-
vância obrigatória pelas empresas privadas e pú-
blicas e pelos órgãos públicos da administração 
direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Po-
deres Legislativo e Judiciário, que possuam em-
pregados regidos pela Consolidação das Leis do 
Trabalho. 
Segundo Faraco (2010, p. 221), na NR-15 
as atividades e operações insalubres são definidas 
segundo critérios quantitativos (por meio da ado-
ção de Limites de Tolerância) e critérios qualitati-
vos (por meio de laudo de inspeção no local de 
trabalho) e os percentuais referentes ao adicional 
de insalubridade, quando cabível. Já a NR-16 e 
Portaria nº 3.393, de 17 dez. 1987 trazem como 
definição de atividades e operações perigosas 
aquelas relacionadas com explosivos, inflamáveis, 
radiações ionizantes ou substâncias radioativas, e 
os respectivos adicionais de periculosidade, quan-
do cabível. 
No que se refere aos Limites de Tolerância 
supracitados, eles são definidos de acordo com 
estudos e critérios técnicos que levam em conta a 
dinâmica da realidade laboral do trabalhador. Con-
tudo, ao se comparar tais limites com aqueles 
estabelecidos em legislações estrangeiras já se-
dimentadas, há grandes discrepâncias na regula-
mentação brasileira. 
Comparando-se a NR-15 com a American 
Conference of Governamental Industrial Hygienists 
(ACGIH), as discrepâncias são gritantes. Tem-se, 
por exemplo, que cerca de 2% dos Limites de 
Tolerância expressos na NR-15 são mais de 100 
vezes superiores ao recomendado; 13% dos limi-
tes de tolerância são mais de 30 vezes superiores 
ao recomendado; 16 % dos limites de tolerância 
são mais de 10 vezes superiores ao recomendado 
e 24% dos limites de tolerância são mais de 3 
vezes superiores ao recomendado
20
. 
O agravante dessa situação é que, além 
dos Limites de Tolerância para os trabalhadores 
brasileiros serem muito superiores aos limites 
estabelecidos para os trabalhadores americanos, 
os trabalhadores brasileiros chegam a ter uma 
jornada de trabalho de até 48 horas semanais 
contra 40 horas semanais do trabalhador america-
no. Isso leva a sérios questionamentos sobre a 
real valorização que é dispensada à saúde do 
trabalhador brasileiro. 
É importante esclarecer que o trabalhador 
somente fará jus ao pagamento, a título de indeni-
 
20
 Dados extraídos da carta de moção aos congressistas. 
Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais – 
ABHO e outras entidades de cunho prevencionista 
dirigida ao Ministério do Trabalho e Emprego em 
setembro de 2010. 
 
 
 
zação, dos adicionais de insalubridade ou pericu-
losidade se estas estiverem expressamente dis-
criminadas nas NRs 15 e 16. O mesmo não ocorre 
nos Estados Unidos, em que o trabalhador sujeito 
às intempéries de ambientes insalubres ou perigo-
sos não têm qualquer direito de adicional na sua 
parcela remuneratória em razão de riscos ou Peri-
gos no ambiente de trabalho, mas, somente a uma 
posterior indenização caso ocorra morte ou algum 
agravo a sua saúde em razão da atividade laboral. 
É nessa seara que o papel do médico do 
trabalho e do engenheiro do trabalho torna-se 
essencial. São esses profissionais que acompa-
nham a dinâmica das relações de trabalho e, por 
meio de estudos, esses profissionais podem pro-
por mudanças nas NRs com vistas a atualizá-las 
às novas situações que se estabelecem nas rela-
ções de trabalho. Contudo, essa tarefa não é sim-
ples de ser realizada. 
De acordo com Faraco (2010, p. 214), “a 
Portaria nº 393/96, do então Ministério do Traba-
lho, estabeleceu as regras para a elaboração ou 
alteração de Normas Regulamentadoras, adotan-
do-se o Sistema Tripartide Paritário (Governo, 
empregadores e empregados), cabendo à Secre-
taria de Segurança e Saúde do Trabalho (MTE) 
instituir e coordenar a Comissão Tripartide Paritá-
ria Permanente, envolvendo representantesdos 
empregadores por intermédio das confederações 
(comércio, agricultura, transporte e instituições 
financeiras) e representantes dos trabalhadores 
(Centrais Sindicais). Os temas a serem desenvol-
vidos deverão considerar pesquisas científicas e 
sugestões da sociedade”. 
A situação ideal seria que não houvesse ris-
cos à vida e à saúde do trabalhador. No entanto, 
isso é impossível diante da multiplicidade de ativi-
dades laborais que têm em seu bojo o risco à vida 
e à saúde, sendo, então, imprescindível que sejam 
adotadas fiscalizações mais eficazes no que tan-
gue ao cumprimento de regras e normas que mi-
nimizem esses riscos. 
É preciso que o trabalhador tome a consci-
ência de que está disponibilizando sua saúde e, 
portanto, deve exigir que sejam adotadas pelo 
empregador medidas que minimizem os riscos da 
atividade laboral. Por exemplo, é inerente ao exer-
cício das atividades dos profissionais de saúde a 
exposição a patógenos e situações de agravo à 
saúde. O mesmo pode ser dito dos profissionais 
que lidam diariamente com o recolhimento e pro-
cessamento de lixo urbano e dos profissionais que 
trabalham na manutenção das redes elétricas de 
alta tensão. 
Na mesma lógica, é preciso que o empre-
gador tome uma postura diversa da adotada atu-
almente, na qual é preferível pagar os adicionais 
de insalubridade ou periculosidade e, até mesmo 
multas, do que adotar medidas que eliminem ou 
minimizem os riscos aos trabalhadores, quando 
possível. Para tanto, o cerco de uma fiscalização 
intensa e constante e uma ação estatal mais rígida 
com relação ao empregador que insiste em não 
cumprir os dispositivos de legais de proteção ao 
trabalhador são necessárias no processo de que-
bra de paradigmas. 
 
 
DISCUSSÃO 
 
A lógica da sobrevivência do modo de pro-
dução capitalista e da cultura consumista contem-
porânea leva o trabalhador a entregar sua saúde a 
quem melhor pagar por ela, ou seja, ele dispõe de 
parcela irrenunciável da vida, que é um bem indis-
ponível. 
Esse processo de monetização da força de 
trabalho é implacável, à medida que oculta do 
trabalhador o fato de ele estar comercializando a 
sua saúde e a sua segurança à prestação. 
A saúde do trabalhador é algo imprescindí-
vel para o gozo do seu bem maior: a vida. Sem 
saúde, as demais garantias constitucionais per-
dem um pouco do sentido. A falta da saúde aprisi-
ona a pessoa humana em uma subcondição de 
vida, não lhe permitindo o acesso amplo e irrestrito 
aos direitos de primeira dimensão, como o direito à 
liberdade e à igualdade material, aos direitos de 
segunda dimensão como o lazer e a própria saúde 
que fica comprometida e aos direitos de terceira 
dimensão, que têm em seu corpo o direito a um 
meio ambiente equilibrado (aqui está inserido tam-
bém o meio ambiente de trabalho). 
O texto constitucional veda o tratamento 
degradante à pessoa humana, mas ratifica em seu 
texto a permissão da disponibilidade da segurança 
e da saúde do trabalhador ao pagamento de adi-
cionais de insalubridade e periculosidade, o que é, 
no mínimo, antagônico. É importante destacar que 
não é viável afastar completamente, de todas as 
atividades laborais, riscos a elas inerentes. 
Diante da impossibilidade de afastar por 
completo o trabalhador de situações que gerem 
riscos para a sua incolumidade física, para a sua 
saúde e para a sua vida, é necessário que o em-
pregador adote medidas eficazes de minimização 
dos riscos por meio do oferecimento de um ambi-
ente de trabalho com insalubridade e perigo mini-
mizados ao máximo com o fornecimento de Equi-
pamentos de Proteção Individual e Coletiva, mas 
nem sempre essa é a melhor opção. 
A Proteção Individual não tira os riscos das 
atividades laborais, ela apenas os minimiza. Con-
tudo, para que isso ocorra de forma efetiva, faz-se 
necessário adotar uma política de fiscalização 
interna e externa, algo que não é feito com fre-
quência ideal. Quanto aos equipamentos de prote-
ção coletiva, esses são mais onerosos aos empre-
gadores quando da compra de máquinas e equi-
pamentos, sendo, portanto, menos adotados pelos 
empregadores. 
É importante destacar que os indicadores 
de saúde oficiais norteiam e delimitam a inserção 
de determinadas atividades laborais nas Normas 
 
 
Regulamentadoras do MTE, sendo, portanto, ne-
cessários amplos estudos e participação sinérgica 
de médicos e engenheiros do trabalho quando da 
proposição de inserção de atividade laboral em 
NR, com o objetivo de eliminar ou minorar de ris-
cos ou, quando da não possibilidade, servir como 
fundamentação para os operadores do direito plei-
tearem o pagamento de adicional de insalubridade 
e periculosidade ao trabalhador. 
A lei e a fiscalização isoladamente são efeti-
vas como elementos de proteção ao trabalhador. 
Elas precisam agir sinergicamente na construção 
de condições dignas de trabalho, isto é, sem lei 
não há justificativa legal para realizar fiscalizações, 
e sem uma fiscalização competente, efetiva e bem 
aplicada, a lei se torna letra morta. 
A ironia dessa discussão é a ideia que o 
trabalhador faz desses adicionais. É comum al-
guns trabalhadores serem terminantemente contra 
a adoção de medidas que cessem situações de 
insalubridade e periculosidade, pois isso enseja a 
não percepção dos adicionais, ou seja, na visão 
do trabalhador, ele está perdendo parte da sua 
parcela remuneratória, o que não é interessante 
para ele. O trabalhador vê esses adicionais como 
direitos adquiridos dos quais ele não abre mão, o 
que está completamente equivocado. 
Diferentemente do Brasil, a maioria dos paí-
ses não pagam adicionais de insalubridade ou 
periculosidade. Em vez disso, caso aconteça algo 
com o trabalhador, o empregador é obrigado a 
pagar uma indenização de acordo com especifici-
dade do caso concreto, pois o investimento maior 
é na eliminação dos riscos. 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
As relações de trabalho no Brasil são dinâ-
micas e complexas. Contudo, os mecanismos 
legais e fiscalizadores de proteção ao trabalhador 
não acompanham essa dinâmica, deixando, em 
muitos casos, o trabalhador desamparado. 
As lacunas de proteção ao trabalhador pro-
curam ser supridas por meio de pagamentos, a 
título de indenização, de adicionais de insalubrida-
de e periculosidade. Algo que é nocivo ao traba-
lhador sob a perspectiva de proteção à vida. 
A dinâmica das relações de trabalho e a 
forma como são pagos esses adicionais, levam 
alguns trabalhadores a encararem o pagamento 
desses adicionais como um “bônus” incorporado 
ao seu salário e ao qual eles não estão dispostos 
a abandonar. Isso alimenta um ciclo em que não é 
interesse do trabalhador, tampouco do emprega-
dor, sanar esse tipo de situação. 
Para o trabalhador, os riscos significam um 
maior salário; para o empregador, o pagamento 
desses adicionais o desobriga a investir na mini-
mização de riscos, se isso for muito oneroso para 
ele, e, assim, se constrói as relações de trabalho 
no Brasil. A isso, junte-se a ineficácia do Estado 
em cobrar, fiscalizar e fazer cumprir o que a lei 
determina na sua integralidade. Diante disso, te-
mos armada uma realidade na qual todos os anos 
centenas de trabalhadores urbanos e rurais são 
vítimas de acidentes de trabalho responsáveis por 
deixá-los em situação de invalidez temporária e 
definitiva, além daqueles que perdem a própria 
vida. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus, autor da 
vida e da minha salvação. Obrigada, Senhor por 
todo amor dispensado a mim e por ter tornado 
possível a concretização desse sonho. Mais uma 
vez cumprindo Suas promessas. 
Agradeço aos meus filhos, Gustavo e Mile-
na, fonte de inspiração, forças para lutar e amor 
incondicional. 
Agradeço ao meu amado esposo e amigo. 
Essa vitória também é sua. Obrigada, meu amor 
por sempre estar ao meu lado, incentivando-me, 
apoiando-me e acreditando no meu sucesso. Por 
todo investimento que fez, sem nunca reclamar. 
Agradeço aos meus pais pelo trabalho ár-
duo e continuo na construção

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