Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Genealogia das Ciências Aúa29 por Olavo de Carvalho coleçáo História Essencial da Filosofia Coleção Históía Essencial da Filosofâ Ácmpanha esta publicaçáo un DVD, qu e .áo pode ser vêndidô sêpdad aftnre ImpE§o.o Brâsil oütubo 2003 Copyüght O 200a bJ Olavo de Caryalho Edsón Mmóêl dê Oliv€iü Filho Mo.ique schenkels e Dagmar Rizzôlo EsLúdiôÉ ÂndÉ cavalcanie Cimenez O. diÉito3 âu torai s desa ediçào pe encen à É Reálizaçóes Ednora, LiEüia s Dis*ibuidora Ltda Vila Márida CEP 0401G002 I-mail: e@erealiz es.ón br tusomdos iodos os direilos desta obra. Pmibida toda ê qúalquer Épmduçâo deía edição por qualquer meio ou lorma, seiâ êlâ Elêaôsi.a ou nócânica, lotocópia. EBvaqáo ou qüalquer néiô. Genealogia das Ciências Ar:I,a29 por Olavo de Carvalho coleçáo História Essenciat da Filosofia ôiffi 2008 Côlesão HiíiLóüd Essêníiàl dà filosêIiil .Iâs. etências - Aulâ 29 por Olavo do Carvalho. 'IUdu€s6e sielo rnoderôo, â p{lJtu de.ReEé.De§tart4s,,é Ína$adoppr um deseio muito grãnde de enrcntrar um ripo novo de conhecimento que'se legrttqe Êor si lllesmo e qlle sêiâ maÍcado por úmà düe}snça f8dical çm rclseêq 4 túdq Q que sç tiúa..co:no cqnhgriments desde â Altigüidade qt! o Sn dqldqdê Média,  idéia dqurna noya ciên-cia,.d.e ulll& nol.?.çollstitqiéêô do.mu.]rdo dp cúheci&entq jii q9 deôlata.rorn liiâeon'ío 11Nov9 o(gênof' elom Desgartes nqs 'lFrinqlpios. da lilosqliqo, qês t'Meditaçô$ Filolqílica6 da Pximciya FilosoÍia" e no i'Dis.curso d.a Mêtqdor': é.eonttluamerrle reaÍirmqda, quardo Gâlilelr púlica suâs obseryaçõeE, elb iá publica como rovêi cl!Àcis§, e assiiÍr.por dignte. Á ii1éia de uüa no\ts ciêiciâ, ontão, §e irrlrggÍla em tod4 a átÍnosfêra eúropéia desde o sécdlo X14 até o seculo XIX, Depol§ váô considerü que úo §éq{o XIX e'ita idéia e8tâ oficializadâ e.ele poale.sêr coisiddads fuiunfants nlúr fiêíô uni- I'el.itário qtrq âli&, foi criado iurltameh'íe pâra islo: §dtiâ iíexâio tocê diz€I quà a idéíâ'dâ nova aiên(,iâ hiüifâ no,lilê;o univelsltáilú pciquê ela em páÍe €riâ:t§té fteio.üíiveͧitárioj e§§éé rm ptÓces§o,ondêrüiüÍ coisa faíÍlênlã a oútm e a oütÍá lórneíta a uríe, Iàúbéú íeda ii,iÉÍatâ a idéia Aeqle llmá idéia tdunla sot}Iê a outÍa poxqüê §ubâíteúi1éiia que gêiâçiies qiê li!éi:}rll âte§§d an liililetuo tipir de eonlÉciÍrieítõ pudêiam ôitnfúNá-lo tlrm o segwidd e a ssaolheÍam, isso nii verdado jaüais scontêCdu. Desdê {b pioirci.ôs da Âova ctêÀCia, co.llllr ô Éópíio Re,§áDescar. te§, tirdaii a§ gerÍiçôeê süb§eqüdtêê já §âo Ínrifcâa1ê§. defdé td iíírlo por uma ãdesao jnjcial ao no\o modelo que é o únjco que colhecem: quando. ten1 a.lgurEa relel€úcú ao.antigo lFÍ6hiÊnte é ümà rlte!êilçjâ I rruncada, lnuiio ncbulosa, c o conhecim€nto que tem da lilosofia anti- gâ c mcdicvâl vai se dillrindo com o tenpo. Náo só vai se diluindo. mâs ele já vai sendLr re enquadraclo den!Ío de uÍr conjunto dc modclos dc certo nrodo iá calculâdo para assinâlar a cssc conhccimcnto ântigo um ccrto lugar nuna pretensa evoluqáo hislórica já concebidâ pârâ ter a novâ ciência como o pirláculo, o cume. dâ €voluçáo. Dc mancira que é ,lu, \e ir rr\i.r \el :r gclre \. r rndn c.r. pcfl oJo no\o cunro -mJ L\Í,(!iL dc jogo dc calta marcada. Desde o início a nola ciência se auto-clecretâ como supcrior a uma ciênc;a que ela desconhece € el1l scguida invcnta um modelo hisiórico no qual a hunanidade passa de um estágio mílico (pelo rnodelo do [,,\ugusto] Comle) para unr estágio etalísico, e enfim passa para unl eslágio cienlílico ou posiiivo no qual o distinto crnissor dateoia se en conira. E após ter fcilo cstâ opção iniciâl e ter construiclo esle modelo legitinlador, o que se trata é de Íecortar os dâdos da ciência antiga para que eles se adapiem a este modelo. Tudo isto quândo visto no conjunto é assim, pensando bem, dc unl ridículo aúoz, e é um processo de auto ocultâçáo no quíl as pesso.rs escondem âqrilo que elas náo qucren ver. E cu.josênente esie processo v€m iunto com um grânde orgulho cientííico, umâ idéia dc quc nós tcmos o conhccimento obietivo e os antigos só iinham mitos, erlos nretaisicos, eic., etc., qüândo iusta- nente o que eles estão lazelldo é construir um univcrso mítico que os coloca no topo da evoluçáo, no topo dc urnâ suposta evoluçio, e em seg idâ, suprimir os dados quc podedan ser conlroDtados com este nodelo. Pensando bem. tudo isso é umâ historinha pâra crianças, e o nú rero de pessoas que ainda acrcdita nisto no mundo. nmilo telrpo depois dc cntrc os histori.rdores isto já ter sjdo complela enie estou- rado. ajnda é Inuinr irnpressionântê. Nós podeúros dizcr que â cultura bmsileirâ inieira, a clâsse supcrior intcira do Brâsil aindà vive dentro destc mito dos trôs cstágios do Àugusto Conrle, acredila nisso piamen- ó 1r e lica mcsmo chocada se alguén cofiestâ isso, eles âcreditam quc isio ó uma âtiiucle muito polêmica. É polôrnica para eJes porquc sáo ( ripiras, nunca ouviran fâlâr dis1o. I)esde o comcço do século XX não exisie nênhum historiador pro' llssional qlre acredite nesta seqüência de acontecimentos tal como rLt)ârcccm na lendâ comteâna. Eu digo comteâna porque o Conte foi i, suieito que fcz a lbnnulaçáo expressa nlâis simples dcssa niiologiâ, iras não podemos dizet quc o Comte a inventou, é Lrn1â coisâ que foi se l,)ü ando ao longo dos séculos, e quando Comte enuncia a lci dos três (s1ágios ele náo faz outra coisâ senáo dizer algo no qual todo nundo iá rslava âcrcditando laz;â dois séculos. Um âspecio curioso dessa lendâ I quc ttlo logo ela alcança uma expressão simples e declarâda como na l.i dos três esiágios do Conle, imediatamente ela iá comcça a ser des- rrr)ralizada. Dcsmorâlizada, não no plano da discussáo, nlr piano das trscs filosóficas, ffas dcsmoralizacla pelâ mâneirâ nlais sinrplcs que é a docu,nentaçáo. Porque também estâ efusâo de enlusiâsmo pcla ciência pn)duz de fato âlgun eteito positivo; e un1 dos efeitos posili\'os é que isso lonenta mujto a investiga(iio histórica. Quer dizeÍ qúe as pcssoâs {tuc ouve aquela propâganda ioda da idéia de cjênciâ, aquela ideali zrçáo da idéiâ de ciência, algumas se cntusiasmam pclâ coisa com toda r slnc€ridacle e levam o negócio â sério e âcrcditam que é parâ fâzer riôncia n1esno, e acabam âlé làzendo. Essa é uma das caracteristicas dâ linglragem dcmoniacâ, é que quando ele püece falar a vcrdade, eslá rrrcniindo. c quando paÍece quc está nlentindo, €stá lãlando a verdadc, c você se aiÍapalha justanente por causâ disso Se fossc a mcntira simples. a mentirâ simples é simplesmenie huffanai agorâ, â menti_ ra dlrptâ c concordante, dupla e comple entar, já é umâ aÍlimanha do Dcmônio. A gente pode dar unr eÍemplo: no "FáLUsto", de llohânn wollgang vonl Goethe, o Demônio - lquândol se conffonta com  Irase biblic.r, a frâs€ dc Sâo Joáo: "No princípilr era o Logos" ou "No pÍincí. v pio era oVerbo" '- diz: "Não, náo é nâdâ disso, no princípio era aaçáo Iam Anfang war die Aktion]". O que quer dizcr isso? por um lâdo se é â açáo, entáo, a açáo como efetividade se opôe ao que é mera potência. cstá dizendo que o ato precedê a potência. Isso é exâtâmente como está enÀristóteles, enião, não tcm novidade, isso é perfeitâmente ver dâde, e isto nâo é de maneira âlguma o contnírio do "No princípio erâ o Logos". Então, no princípio erâ o ato divino e em Deus não existe nadâ potencial. tudo é perieitam€ntc cm ato porque Deus é cterno. Deus náo tenl a passâgem da potência ao ato. Nesse sentido está certo, mâs qlrando Mefistólêles diz isso, ele sabe que as pessoas nào sabem, náo conhecem a "Metafísica" de Aristóteles c que vão enrender esta "açào' no sentido de tbrça física, un1â espécic de foÍça no sentido ga- lilcano [de] lorqâ lisica. Ele diz a verdàde porque ele sabe que eles vào inicrprctar efoneàmentc c cair na rnentira. Tambóm deniÍo do desen\.olvimento histórico vocô vê que nuitas vezes uma óbviâ mentira é interprciada no sentido da verdade e assu- nida positivamenle, quer dizcf a mentim acâba funcionando con1o veÍdade, não no sentido de que as pcssoas acreditam. mâs nosentido de que dào unl outro sentido. e este scntido por suâ vez ó vcrdadeiro. Então, o enornc cstimulo que â idealizaÇão da ciência dcLr à pesqui, sa hisróiica no século XIX acabâ por jusiamenle mostrar a falsidade dcsta mesna concepÇáo evolutiva que coloca os cientistas do século XIX no topo da evoiuçâo. E isso acontece principalmente porquc co- mcçam a aparecer todos os texlos de todas âs civilizações e este mate- rial imenso colocado à nossa disposição, pela sua simples presenqê, já mostra quc a idéia de un1â evoluÇão ern três estágios, a evoluçáo que passa do cstágio mitico, vai do estágio mítico até o cstágio cientifico é idal ente furada. A idéia de unâ infânciâ da humanidadc, quer dizer üll1a épocâ eú que a§ pessoas peúsavam só por imagens míticas c acre_ ditavam em histórias da carochinha ou quando tinham uma lógica pri_ nriliva como a idéia do Lucien LóqI-Brühl, antropólogo que escrevelt ,, livro 'A Mentalidadc Primitiva"'? tentando mostrdr que â lógica dos )rimitivos náo em a nossa lógica. Estas nresmas idéiâs, à medida que apnrec€m os textos e documcnios. sáo denolidas automâticanente e Lr gente vê que não existe nada disso c que é absolutamentc impossível você lalar de uma cvoluçáo linear nestc sentido. Mesmo porquc você câha vendo que até mesmo a idéia da evoluçáo enl três eslágios iá tinha sido enunciâdâ na eiapa que Comte diria meiafisica, pelos três cstágios do Joaquim de Flora, â era do Pâi, a erâ do Filho, e a cra do Espírito Sanlo. Enião, quando Comte acredita que esiá enunciando unrâ lei cicntíficâ e supetando os nitos metalísicos, ele está apenas re- pctindo um outro mito que já foi €nunciâdo seiscentos ânos antcs dele E esta idéia também da evoluçáo em três ctapâs aparece muilâs vczcs, âparecc no Hegel, aparêce no Mârx, etc.i etc. E quando vocé vai ver aquilo é apenas a repetiçáo de um csquenê nítico iá muito antigo. De rnaneira que esra difcrcnça que o século XIX fâz entre ciência e miio é cla própià un mito. Essa difer€nçâ a dgor náo cxiste, existe unra ouüa diferençâ que nós podercmos até explicar brevemente. Existen duas noções muito antigas arespeito da inteligência humana. das vias de acesso qüe o scr h,rÍr"no rer'r .ru co4hecinc.lro oc\ rcdlidaJe.'n"iôreç: urno e a que se chama propriamente [de] a inteligência, o Àrisióteles a chamava de ,.roús (,,oiç), e, por out.o lado. aquilo se chamaiâ [de] espírito ou pneúma (Ívipl). Entif,, a lamosa distinçáo iá clássiú entre a via no- éiicâ € a via pneumática de acesso ao conhecimento transcendente A noéticâ é aquela que apêrece no nível das intelecçóes. no nível do co nhecimento dos primeiros princípios, e o acesso pneumático ó aquele l1'ro I r: .ü,rpil i i iólc k(ii)ár(r]lÍpà!:à,&i, rei&\iróún0! Vcrbúin e( \?Íhum.ni apud Deun er DcusoraiVcrLnn) 8 ,!éw.BriilrL l,uci rn El rlna PÍimiriva, ndicn,ncr 62 que aparece sob a forma de experiência exisiencial como, por exenrplo, quando São Paulo Apóstolo, no caminho de Dâmâsco perseguindo os cristáos, de repente ó fulminado pela compreensáo de que ele cstavâ perseguindo â coisa erÍada e de que o Deus dâq!eles camaradas erâ o verdadeiro Dcus e no fundo o mesmo Deus dele.r Ele nâo compreen- de isto como intuiqáo no scntklo inteleotual da coisa, é algo que ihe âconiece, ele é existcncia|nente Iulminado pelâvisáo daquilo. Vocô vai ver que a diferençâ que existe entr€ a tradiçáo lilosótica e as tradiçÕes religiosas ó cssâ, quer dizet da apreensáo jniuitivâ ou noética ou da aprccnsáo exisiencial ou pneümá1ica. Mas acontece que essâs duas não sáo historicamcnte sucessivâs, a êprcensáo pneumática, naiural- mente, como ela nâo é intelectualmcnte diferenciada. elas dc €xpres sân em simbolos narrâtivos, símbolos poéticos, toda narrativa no lim das conias é poética; e a apreensão noética ao contrário se exprcssa cm símbolos e numa linguâgem ânâlítica. Mas acontece que essas nâo sáo historicâmcnte sLrcessivas. elas são simuliâne:rs. Qucr dizer, âlguns dos antigos filósofos gregos cstavâm tendo as suas inielecçires noé, ticas âo mesmo tempo em que os profetas hcbrâicos tinhanr as suas virênci.ts pneumáticas. Então. colno é quc você vai aí lalâr dc uma vivência, dc um conhecimento mítico que aniecede o conhecimento racional, inielectuâl'l Eles viemm âo mesmo tempo, só que aí depende das circunslâncias, nâo háevolução histórica, há âpenas umâ diiercnie nlodalidade de compreensáo das coisas. Passêdos. êÍ, cntâo, seiam 2404 anos desse negócio. ainda continua havendo a possibiiidade de conhccimento pelas duas \.ias, âindâ acontece é igualzinho. O queAugusto Comte está fâzendo, ou todo o século XIX faz. coln e,sa.dei- u( e\uu.ao hi.rori(r'rr\crdade elegqr po \-r \1,, uÍr símbolo mí1ico e sem tcr a compreensào de qual é a experiência rcal, qual éa realidade que aquilo está tcntando expressa! ele pcga o próprio r0 ! nrbr)lo como se fosse rcalidade e o transforma numa tese Íilosófica iLLrc afirma a veracidadc do sínbolo, qlre ó a lãmos;r divisáo tripaftite. ( ) Itai, o l,ilho e o Espírito Santo nào são entidades sucessivas; quem ,rLcrpretou assim ibi o Ioaquim clc Florê: o pâi, o Filho e o EspíÍito Srrto sáo clr exisientcs. ele apenas achou que no plano dâ hisióia n traduziÍian em três etapas. Náo há nenhum motivo para acreditar rtuc isso seja verdade. Sobretudo porque a Tlindade nâo é uma teoria risiórica; se o loaquim de Flora viu como umâ teoda lrisiórica, cle viu n)rque quis. A pariir daí. então, esta divisáo tripârtiie translbrmada rnr teoriâ hislódca, que é senr dúvida um simbolo mitico amputado da cxpcriôncia qlre ele €xprcssa se tornâ enião um fetiche, e esse fetiche ro século XIX se tornâ uma crença cicntíÍicâ inabalável il claro quc é um processo dc cstupiditicação, um processo de im_ bccilizaçáo nuiiissimo gravc. E evideúte rentc nâo há nenhum his_ toriâdor profissional no mundo quc hoje deiênderia a idéia de uma cvoluçáo tal como o século XIX a entendiê. Não, obstante. esia jdéia dâ evoluçào hisiórica ainda continua impregnada na cultura geral ao nlcsnlo tempo em que essa culiurâ gcral se exp.tnd€ lormidavelmenle através do ensino público, das universidades, do movimento editoriâI, do rádio, cinema, televisão e internet, agoÍa não dá mais paratiraressa idéia dâ câbeçâ dâs pcssoas. OLr seja. iustamente na época em qucvocê sabe qüe ela ó furâda, ela já alcançolr Lrma dilusáo táo grande que eu lalo: há possibilidade de vocô irânsmitir um conhecimento hislórico efctivo a esta muliidáo qlre já lbi alimentada de besteira conr o rclbrço de acreditar que esta besieira ó o pináculo do conhecimenio? Agora, cono é quc você vâi lazcr? Prineiro. quem prova que tantos bilhócs de pessoas tênr capacidade para iÍaiar desses âs§un1os? Normalmenle nâo 1êm; a idóia de que iodos possam tratar dlsso, isso é muiio dili cil. Mas a 1ãmosa democratizâçáo do conh€cimcnio, no lundo €la só dcmocrâtiza mentirinha boba, você invcnta un1 pseudo_conh€cimenlo ll de quintê calegoÍia parâ você espalhar para a multidáo. você espalha aquilo e ela fica contcntinha, é como o índio que recebia um espelhi- nho €m iroca da terrâ dele, nttis â mulher, mais os filhos, tudo o que iinha, e saíâ contente nrosirando o esp€lho. O pessoal que estudâ hoje, â classe leirada hoie é isso, está levando espelhinho de índio e acredi- tando que esrá âgradando. Sc você pegar um programa de lestibular hoje, você vê que é um negócio terlível. são milhões de coisas, o quânto complica Pela com- plicaçáo e pcla dificuldade da sua aquisição, dá a iÍnpressáo dc que é um r cgociu 'eíir'\:rnú: quJrdo\u(ê\ar \e,.'rdôc Lcompli.rduru pelo aspecto quantiiaiivo. no fundo náo tem nâdâ de complicado, é nruito si ples. Mâs como aquele pouquinho de conheciinento quasc insübstantivo que está sendo transnitido é subdividido em milhões dc capÍtulos, cadâ um de aquisiçáo Íelaiivamentc dificultosa, eniáo, o sujeiio gradua, pela dificuldade da aquisiçáo, â qualidade do conheci- mento. Náo é isso? !l disso qlle sealimentaaío sistcma cducacional e culiural da mídiâ. Quer você pegue um progranâde ginásio, um programa de qualqüer disciplina do ginásio. quer você pegue a Íevista Supetíntercssante, quer locê Iigue no canal Futura, é esla bobâgem que você vai adquirir, quer dize! houve ümâ época mítica e hojc nós temos o conheclmen- to científico, nós escapanos disso; isto é âbsolutamcnte indelênsáveI em iennos de ciência, qualquer estudioso labe que as coisas náo sâo âssim. Agorá, para lnventâr uma outra culiura popular baseada nos conhecimentos que nós temos agora lcvâ mais quinhentos anos; se for possívcl. porque enquânto isso este sistemâ baseado no reino dâ babaqülce já s€ expandiu quantitativamente mais airda. O fato é quc a expânsáLr da edücâçao criou uma espécie de reprodlrçáo endêmicâ da ignorância. É como é qlre vai corrigir isso? Eu digo que nào dá, porque o númcro dc pcssoas que tên1 acesso aos conhecimentos cfctivos é ne- tz .cssariamente pequeno porque depende de vocaçâo pessoal. depende dc o süjeito ir buscar. O sistema nunca vai lhe oferecer isso ai. E mes- nro quc os materiais estejamà disposiçâo e o professor acrediie em làse rnítica. fase metafísica e làse científica, basta você ler o livro do Mirceâ liliâde, 'A História das Crenças e das Idéias Religiosas"a, você já vai vcr que nào bate, não é possível. Embora o livro estejâ aí à disposiÇão .lcsde o comeÇo do século xx, vâi ser muito ditícil que ele sc integre n0 sistema da cultura popular Quando você pcga a cronologia dos acontccimentos mítico_religio_ sos ao longo da história, você já vê que isso não bate com a cronologia (lo Comtc, a cronologia do Comte l'oi inventada; a do Eliade, náo, fo; rlarca.lâ em documentos: púneiro veio isto, deplris veio aqüilo. dcpois vcio aquilo... não funciona, quer dizer, náo coresponde aos lãtos; e enl scgundo luga! a própda auto-interpretaqáo que a sociedade moderna laz do scu lugdr na pretensa evolução histórica, iambém é fundadâ num modelo mítico. E esse modelo mitico, por sua vez, além de ser unr modelo mítico é um modelo mÍtico já diÍninuído; qucr dizer, trans- lormado numa inteÍpretâÇão material do curso da históriât é um erro parecido ao que Sáo Paulo Apóstolo cometeu quando ele acreditou que o fim do mündo e avoltâdo Cdsto eram para o diâ seguinie. Como Iâlou cm fim dos ienpos, como está ânunciando o fim dos tempos, ele acÍeditoü que o fim dos tempos era um âcontecimenio mâterial que cra pâra o dia seguinte. Mas ele pelo menos não tinha as lontes his_ tóricas suficientes para podcr fazer âs comparaçÕes, entáo, n idéia de una mcta-hisiória, de uma coisa que está pêra além dc toda a história, essa idéia €le náo pegou na épocâ, foi Santo Agostinho no século IV que consertolr o negócioi conserlou e di7 [que] não, nâo é assin;quer dizer a história náo vai acabar amanhá, náo se podem interpretâr as ^ llisiória dâs Crenças c das Idélas RelignÉds do Mircea Diadc Exhre úadu.ãD biasileira l:l coisâs nesse seniido iáo maledal. Mas o que Augusto Comte (e todo o século XIX) 1ãz é exatamente um crro parccido conl o de Sâo Paulo Apóstolo: você pega símbolos que estáo se referindo à meta-hisiória e você âcredita que são etapas históricas por exemplo, como este erro de percepçáo do tempo histórico se impregnou na nossa consciência? Você vê a idéia de julgâmento dâ história que é umâ idóia que todo mundo tem na cabeça e que é considerada umâ coisâ importantíssima. Náo tem o livro do Fidel Castro, 'A História Me Absolverá"? E o ou- tro vê, pega e diz: a história te condenará? Como se o julgamento da históíia fosse 1rm negócio definitivo. Unl;ulgâmento lêito pela história é só mâis um acontecimento histórico qüe por sua vez será iulgâdo e depois vai ter outro julgênenio, e outro e outro e outro; â cstruturâ do tenpo é essa. Não é? Qualquer opiniáo histórica de uma certa época, quâlquer interpretaçáo que uma certa época faz para as épocas ante riores se tornará pârâ â época seguinte uma época anterior que tam- bém terá de ser interpreiada. Náo é assim? Entâo, é fácil você perceber imediatamente qu€ nâo existe ju lgamenlo da história, náo existe e não pode hêver Náo, nào é um tribunal, é um tribunal por semânal Mas as pessoâs acreditâm que o julgâmento da história é umâ coisa que pode condená-las ou resgatá-las. Hoje, por exemplo, a gente acredita oue Hirlcr c Sralin cs,ào condi nados. DaqLr. pouco já ana.e,e u n sujeito dizendo: "Náo, náo ibi bem assim, vocês é que estáo engana- dos. etc., etc." Esta conversa nunca lermina, por definiçáo, por mais provada que esteja uma coisa. vai âparccer um cara qüe náo acredita naquilo e que acha o contrário. O julganento dâ história é ainda rnais vnlu\cl doquea i_i.to1" nrerma l\\oqLerJi/erques(u no§\r noqdo dc vcrdadc vai ser referidâ à história, €ntão, ela foi para as clrcuiasl evidentemente. Àgora, na hora em que você transforma a história num iÍibunâl cono Hegel, ele diz: 'A hisiória do mlrndo é o julgamento do mundol" EIc acredita mcsrno nisso, que vai chegar unr dia em que a 1,1 hisióda se reúne e condena, absolve, etc., etc. Se ela fizer isso, no dia seguintc alguém vai ter que contar â história desse julgamenio e assim por diânte. Entáo, a falia de compreensão da históÍia como processo linear que náo volia é claro que é um erro de percepçáo de t€mpo. E este erro de onde vem? Vem da idéia de uma estrutura da evoluçáo histórica. É claro que a evoluçao histórica náo tem estflrtuÍa nenhuma. São simplesnlente coisas que váo âcontecendo e que depois podem âconteccr de outra maneira. O que pode ter estrlrtura é o conjunto da realidade, e que é a estrutura que detemina os liúites do possível e do impossível qLre a própÍia história jarnais transgredirá, e pode também hâver uma cstruturados elcmentos constantes, isto é, dos elementos â históricos ou suprâ-históricos, que a hisiória também náo pode alterar. por exemplo, aquela simples observaçáo do René Descartes: "Olha, todos nós antes de ser adultos fomos crianças". A hisiória náo pode mudar isto. Quer dizer que a vida pessoal hunana tem uma estru- tura tenporal determinâdâ porque ela tem um fim determinado, ela segue úma curvar nascimento, crescimento. dcsenvolvimento, declínio e morte. A nossa históriâ individual, â biografia, tem umâ estrutura porque ela ten1 um começo e um [im, tenr uma duração média fixa. Mas a história, quâl é a duração média fixada história? Ninguém sabc, entáo ela náo tem estruturâ nenhuma. Ela, por definiçâo, náo pode ter estrutura, você sempre pode dizer: "Olha as coisas estáo indo para tal direção, mas podem ir para outra". Aliás, elâs estáo indo pâra tal dire- çáo onde? Aquil Enquanto clas estão indo nesta direção aqui, no outro lugar estáo indo para outro lado. Entáo, nao há esirutura da história, o que há são eiementos estruiurais meia-hisióricos ou supra-hisióricos que â história nâo muda. E também dentro da própria hisrórjâ exis- tem clcmentos individuais que tên uma estrutura marcada como, por exemplo. as biogralias individuais. No entanio. desde o séc lo XVIII até hoje, todo mündo râciocina em iermos dc uma cstruturâ da histó- 15 T I l ria, como se houvesse um trâieto detenninado a scr seguido! e quando o trajeto dá errado ou n'tuda de direçáo âs pessoas ficam chocadas: "meu mundo caiu", ou, entáo, explicam em ternos de involuçáo: 'Foi para trásl" Mas onde está o à liente ou âtrás na história? Você pode lalar em à frente ou atrás na suâ vida individual precisamente poÍque tem umâ duraaáo determinada. Se você tivesse uma vida scm fim, você nunca poderia dizer se está indo para frentc ou para irás. Pâra frente ou para trás é um trajeto finito. Àgora, quando você vê como essas cstruturâs estáo impregnadas na mente das pessoas, que elas servem como premissa dc iulgâmentos que as pessoas iazem sobre os faios concretos, vocô vê o dano profun_ do que esta concepçào do século XIx fez para a mente humana. Vocé veja que o camponês medieval. que acreditâva no fim dos tempos e no retorno dc Cristo, sabia que isto nâo era um acontecinento histórico, náo era um acontecimento no tempo. Ele€ntendiaâ noçáo de "firn dos tempos" como uma coisa que náo podia ser medida na escala dos tem pos, ele sabia que náo estava ao alcance da mente delc apreender isto aqui; entâo, na medida em que ele aceitava isso como um mistério (o negócio está acima da história, náo tem cono você inseriÍ na história), eslava tendo uma visáo da estrutura dos tempos mais corretâ do que a dos hisloriâdores do século XlX, que acreditavam nun1a estrutura idcntil]cável da história. E embora os historiadores já náo acreditem, todas as outras pcssoas acreditam; e acreditam pjor, que isso é um conhecimenio históico. lsso quer dizer que o nascinento das tais ciênciâs humanas no século XIX já vem viciado por essâ tara congêniia, que é a idéia de uma evoluÇáo identiÍicável. Suponhamos que nós aceitássemos. por eÍemplo, a idéia evolscionista darwiniana, náo havedâ nenhüm moti vo plausível para nós aceitamlos que a etapa evolutiva a que nós che- gamos é o limiie da evolução. Vamos supo! ell acredito em evoluçáo l6 clarwinianâ. nós nascclnos airavés de mutaçóes soiridas pelas espécies, dc acordo com â prcssão do ambicnte lbrân se adaptandír, adaptando, adaptândo, e cheguei neste ponio aqui a que cu cheguei Esta ó a vis,ro qu€ eü tenho h.rje. Muito bem, mas se foi assin. erltão, náo há nenhum motivo para a evolução ter pârado, deve haver nova§ pressões do arn- bicnte. Se nós éramos lagartixas e assu1rlimos estalomraaqui no curso cle uns poucos bilhoes dc anos, nadâ impcde que nós amanhá assuma_ nros un1a loÍma ainda nlais difcrcnte. e quero vcr se nesta época aindâ úrrinuâre no' Jired râr'do c.n (\úlu\"ô dal1liniJnr Como é quevocê vai acreditar queesta descobeÍta evoluiivâ perma_ ncccrá fixa nos iempos e âquela visâo que Dârwin âlcançou será por sua vez o topo da evoluçáo humana? Basta isso para você vcr que essa icléia é idiota. a idéia é idiota enl si, o sujcito ter a corâgcm de enlrnciâr isto aqui já é uma bobagem. E piot se ele coletar um monião de fatos para provâr aquilo. aí mosira que é mais bobo ainda, porque ele teria que pmvarcomo é possÍvcl ele. num ccrto n1omenlo da cvoluçAo. deter esta evolução criando uDú ieoria que antecipadamcnte já colnpromcte os conhecim€ntos a sercm adquiridos nâs etapa§ §eguinics da mesDra evoluÇáo. Deu parâ cntender? Você imagina unr trâjcto de algnrs bi- lhócs de aúos e icn aqui Lr biólogo explicando a evolução ânimal. ou a explicação terá se ioÍnado totâlmente diltrente ou será a mesmur erplicaçáo dar\üiniânâ. Se é a mesma explicaçáo dâni/iniana. enlão, houve esle nilagrc de que um conhecinrenlo adq iido nunlâ ccÍa ctapâ da evoluçáo já abrângia todos os conhccimentos seguintcs â se rem adquiridos peLa mesma espécic cm evolução da qual esla nesma tcoria está ialândo. Qualquer pcssoa corrr um pouco de intuição lógica percebe quc a estrutura de uma teo a da cvoluçáo é exatamcnte isto; se eidste uma coisâ que nâo podê havcr é nenhumâ teoria da evolu- çáoi se existe evoluçáo, ela nâo é i€orizável; se cxiste evoluçáo ela só puulc -er urrr'alu.tue vn,( con.r-luu âre..íu pu,rrô (qu' \o\'' nxu 1t- lcm a menor idéiâ de para onde está indo, portanto, não é evoluçáo, são apenas translomraÇóes Selocê ienta dcpois consertar isso e dizer colno lRichârd] Dawl.insr "Nào. náo lbi assim. nâo loi pela pressáo do ambicnte, ioram apenas combinações lortlrilâsL" Entáo, num cerro nomenio uma combinaÇão tortuita produziu a tcoria do lüchârd Da r{,[ins. E daqui pam diantc, váo se produzir outras conbinaçóes lorlui- tas totâlmente dilêrentcs dâ teoria do Richard Dawldns ou esta pârou o prccesso evolutivo e será a palavra final? Dá paravocês entenderem que â mcnte das pcssoâs que enuncian essas teoias ienl unra grave dcficiência de percepçào do tenpo. (ALu o) - Eu te ho a it pressào de qúe as ciefitistas atuais tlAa lazefi tnais assocíaçáo efitre co ceito de eüoluçao e de pbgresso. eles fiegaü a parle do prcgrcssa e alitmam a eztolução apenas como adap taÇão. P'úrri rdJ'O.ujEir. U:,,1 -Ollra r.. nêo con.<guim^. provaÍque existe un1a evolllÇão no sentido de progresso. então, tira o progresso e lica só â cvoluçãol" Eu digo: como é que tu explicas o progÍesso? Porque alguDr progresso do conhecimenlo há. tlr mesmo acreditâs que it tu.r ieoria é melhoÍ do qüe a anterior. Náo é? Nâo é isio? S€ a€volüÇão não tem nâda avcr conl o progresso. entâo, por làvor, mc erlplica a possibilidade do progresso. tAtunol . I tp' dt o qur p applai adaptaràu L a man.'tra nai' eficiefile qúe ós lemos alúalfiefile paru... Perfeitamentcl Isso qrcr dizcr que você conseguiu. atrâvés do prll ccsso de adaptaçáo, todas âs trânslbnnaçÕes das vidas a!é âgora. En- ião, haverá ceriamente ouiras trânsformaÇõcs adaptativâs daqui para diante. Essas tmnsformâçócs adaptativâs modilicarâo totalmente a sua t8 loo a ou elâ permanecerá iniacta? Sc modificaráo a sua teoria, meu l'ilho, então, você não pode gârantir que ela é veÍtladeira Eseelallcará inlâcta, você consegüiu com a suâ mente criâr uma estruiura que per_ nrârece imlrne âo prcccsso adâplâtivo. (Alutlo) Mas eles não dizefi que ela é úeúade, eles dizetn tqe' tltls {!ue ela é lalseáüel. Muito ben, ela é lalseáve1, quer dizer, você prctende que é uma icoria cieniílica, agora cxisten milhares dc mcntiras falseáveis. Qucr dizc! ser Ialseável signilicà apenas quc ó Lrma ieoria cientifica, náo s;gnilicâ que é verdadeirâ. Náo é isto? Aparecerão rnilhares de ourrâs teoriês. Entáo, por que prcstar mais atençáo a cssâ do que a quâlqrcr (.4lu o) Potque nàô foi lalseada ainda E lalseáael. n14s nãoloi lalseada, entio, eLa petfianece. Veja, "ela náo loi lalseada ainda" signilica apenâs quc nós temos o dirciio de continuar acrcditando nela. Náo é isso? Mas você perccbe lãcilmenle que isto aí é uüa lugâ do problena, poÍque se você está enunciando algo que preterlde tcr explicaqão de nm processo reÀ1, e você diz apenas que isto é uma teoria lalseável que não ioi fâlseada aindâ, então, a gcnte pode levartar o problcma: durante quaúo tempo ela pode pellnanecer não falseadâ'? Quâl é a possibilidade? Um dia, dois dias, três dias... qucr dizer urna teoria que permaneqa mil e quinhentos anos náo ialseada s€rá melhor do que aquela que peimaneceu só dois dias? Isto i plica a idéia de qlre o tempo em que uma teoria permanece sem ser impugnada rcpÍesenta um valor para elâ. Isto é inteirêmente absurdo. porque uma teoria ser Ialseâda dcpende, em primeiro lugâr do acaso. Náo ó isso? Náo iem meio dc você prever que as pessoas encontrarâo amanha ou depois, ou l! náo, uma prova contra a te.rria. Se você já tem isso, se eu iátenho uma teoria a respeito das possibiiidades futuras de làlseânento da minha teoria: "Olha, estâ teoria náo será lãlseada pelos próximos mil qui- nhentos ou doG mil e quinhentos ânos e esta outra não será tãlseâda durante duas senrânas". Entáo, você naturalmenle você já tem toda a estrutum do conhecimento futuro sob o seu domínio nesie momento. É verdade que é através de unr cálculo probabilistico, mas tem. E isto é iútrinsecamente absurdo. Vcjaln. a teoria ser falseadâ, ou náo, de- pende em primciro lugar [de]:qual é o número de pessoas que €stào cmpcnhadas nisto? Segundo: elas tiverâm sorte ou náo tiveram sorte? Então, isso aí é claro quc vira Lün jogo de dados. (Aluno) Mas as ciêficias fiodemas todas sào assim! Mâs é este exataaente o problcmâ. Quando o sujeito chega nisio, o que ele lrstá dizendo é o seguintei "Eu não sei nâda a rcspcito deste trcco. isto nâo tem nâda a ver com o conhecimcnto c tan1bén1 náo tem nada a ver com a reâlidade, isto tem que ver com a legitimidade dâs nossas pretensôes sociâis, eu pretendo ocüpar este emprcgo aqui e o meu direito a este enprego é assegurâdo por isto, isto, isio e isto". Ele está talando de legitimaÇáo dc um prestígio social e só, e dê mais nada. Quer dizer, nós chanamos de ciênciâ â âtividâde que produz cslas coisas âssiln, assirn, assim; nós não sâbcmos se elâs são verda deirâs oü sáo ialsas, então, a minha pennanência no posto depende de algrém falseara minha teoria ou não: eu aposto que elâ não será falseâda pelos próximos clnqúenia anos, cntáo, a minha cátedra está gârantida. Quem é que pode levar a sério uma coisa dessa? Por quê? Por outro Iado, cmborâ o sujeito diga: "e1r náo estolr dizendo que é verdadeira, eu nâo estou dizendo quc tem alguma reiaçáo círn a realidade..." você sabe pcrfcitamenie que elâ socialmente funciona como se fosse a cxpressâo dâ reâlidade e da verdade. Quer dizcr, você 2t) (lcscmpenha um papel de deteüior de unl conhecimento verídico no i[stante mesmo em que você afirmâ que náo iem a pretensáo de scr vcridico. Por quê? Porque vocô impugna a possibilidade de qualquer ronhecincnto verídico. Náo é preciso dizcr que isio é uma estrutura Llc pensaúenio inteirânenie psicótica e que se fosse realmente ado_ tacla para todos os setores nos quàis a ciência ererce ulnâ âutorida Llc. isso seria a mesma coisâ que um suieito dizer o seguinte: "Olha, rós eslamos aqui olêrecendo um plano econômico. por eremplo, parâ cste pais, bascâdo em pdncipios da ciência €conôln;ca. da agrono- ria. disso, dâquilo, os quâis náo têm â ninimâ pretensáo de ser ver_ dâdciros, nras apenas náo implrgnáveis, potanto se elr clisser quc csle plano vâi ter tal ou quâl eleito, não quer dizer que eie vai ter 1al ()u qual eleiio, quer dizer aPenas quc vocês ainda náo conseguiram provar que ele náo vâi ter este cfcito." Você entcnde que o princípio do [IGrl] Popper, do falseânlenlo, se cle fosse adorado a sério, ele leria que ser esiendido às aplicâçoes práticas da ciência? (ALutlo) Ltas ele é estendida. Se utna expeiê cia quc úacê laz desptuüa a teatia, úacê tern que conigir a Leotio pata dat conla do... Só se for desprovada, agora se náo lor desprovadâ, também nào qüer dizer que é verdadeira. (,4lut1o) - llas aí e ta no canceita de canobonçào, úocê a tesíou, deu ce o, testou de oüa, ela dá cetta, até que aLluma aez t1âa dê. aí üacê. - Entáo, náo icm jeito. O quc você esiá quer€ndo dizer no fundo é o seglrinte: o princípio d€ falseabilidêde gamnte âlguúa vemcidade. náo âpcnas â legitimidade lógica. Porquc, por exenplo. sc você está com uma inleceáo e vai num médico e cle the dá unr aniibiótico, você não se contcntaria, quer dizcf 'olha, você vai continuar coÍn csta do ença, mas nós não vamos podeÍ provâr que você está com a doença, porianto, você dcvc ticâr sâtislêito" Você âceitâ isto'l Ninguén aceltâ isto. Vocô pode estar conr a doença igrâlzinha, só que niüglrém poderá provar que você está com a doença, porianto. você deve se considcrâr curado. Ninglróm âccita isso. -Nós êqlri vamos lhe vender unl autonrar vel bascado nas ieis d.r lísica clássica. as quais nâo podeÍn ser prcva_ das, olr seja, nós náo sâbenos se cssc cârro vaj andar, apenas ninguóm poderá provar que ele não anda' Você aceila isso? Nlnguém aceita isso. Quer dizer que o princípjo da lalscabilidade é uma fraude total. Quando âs pessoês aceiiam uffa tcorja não é simplesnrenie poquc cla nâo lbi Ialleada, eles achâm que ó vcrdade mesmo, senáo não poderia haver aplicaçáo dc nâdâ. OLr o principio dc Ialscabilidadc é àpenas 0m discurso legitinâdor colocado €m cima dc prctensóes elelivas à verda- de ou ele teü de ser estendido à ciôncia práticâ tambúr, às âplicaçócs práticas iâinbónl, e à iecnologia. (Aluna) Mas t queslào d.llísiLa clássic.lé ü.fi eknlplo, sc isso Í ncia a, potque se z)oci tentat aplicat... Mas cspcra ai. as pal.rvr.rs 'is1o lunciona" nâo poden ser usadâs mâis, é isso que eu esLoú diTcndo pâra você ÍuncionaL ' Você náo puuL di/(,.1 \ l'rncinna \ôc...ou(h.l/(, ri.SUL,r.,i'cg'upru vaÍ que náo funcionâ"... (Alü tt) Á leeitimaçiio..- E dâi csta mcslna fiase por s!a ve7 ';ninguóm conscguiu prrrvar que náo fLLnciona", elr digo: você está dizendo quc isto ó verda.le ou apenas que ninguénr impugnoü esia nrcsna lrasc? E âssilü por !liante. Quân.lo você diz: "ninslrón1 conseguiu pro!àr qLrc isto náo IuncjG na'. portarlto nào loi lalseâdo ainda, isto ó ullla alirnaç,Lo cle [úo Nao é? u prircÍrilr de krlseâhllklâdc sc âplica a cl.L târnbénr, ou nao? lALutto) Naa! Nâo? Eniáo, o principio de lalscabili.lade não esiá scndo âplicâdo ffr parte algumâ. porque em âlgum momenlo você âpcla a um ouiro |rincípio dc legitimâçáo quc náo é o prnrcípio dc làlseabil ade. l1lâs é o )rincÍpio de veracidade. Você esiá se bâseando nele ainda. só que ele rstá encoberto por um floreio chamado principio de falseâbilidade que ó Lrmâ inudc em toda a linhâ. (,\lLfito) - Na e ta to,|1ii detetmi adas aplicações que se üocê ten- ln alllicar ã íísiat do Neaíatt não z)ão clat ceto, por e):eúplo, conü'oLe la ptodüçao de satélit?, e tao paru estes casos a física de Neaúott tlo sr aplica, eu t)ou let (lue adalat as mais completas de Einsteh. Nlas o que isso tenl a ver com o que eu estou dizcndo? Sc o principio dc tâlscabilidêde ó o único princípio de legitimidad€ cicntílica, e vocô náo pode apelar a unl princípio de veracidade. enião. isto é regÉ univcrs.Ll enl lodos os níveis do conh€cimcnto cientilico. ifcllrsive as aplicêçóes práticas. Mas chega um monlento em quc o suicito qlre esiava aió âquele moírênto usando o principio dc tãlseêbi lidâde, ele jústifica a coisadizendo, porexenrplo.'istofuncionlt' Você cslá eniendcn.lo? Ncste rnomcnio ele apelou a um outro prlncípio quc não ó o dâ lãlseabilidâdc. E toda e qualqucr disclrssáo ci€niÍfica termi na assimt alglrém apela a um pÍincipio, diz que vai indo pclâ lalseabi- lidade, mas chcga um certo momcnto ele apelâ a outro p ncípio qu€ ó o principio da veÍâcidade. e diz, por excmplo. "isto funciona". Quando \.ocô di7 "is!o lunciona". você qrer clizer que isto lirnciona ou quer dizer apenâs q[c ninguaüi âindâ provou que nãô firn.innr? Isso qucr clizer qu€ o principio cle verâcidaclc conlirua lá. só quc clc csrá cnc!,trêdo sob urn dislaice, cssc djíãrce chanra-sc princípio da lalscabilldrdc dc l(arl l']oppcr. quc cr.r rrn chârlatão (Alutlt)) lsso efiho é semelhante à situaçào que ocorria no sé' culo XIX em qúe íado tnnuto que Íazh ciência, apewr de não estar mudatldo una LíÍg,ula iLo qúe o Bacon h.tuia diÍo, dízia que. . Alcgava-se Bacon, mesnol Hoie enl dia ninguém usa o negócio do Poppe! todo niundo só usa pârê dislarçarr "Ollü, isso aqüi cu acho que é vedâde, mas náo posso dizer isso senào váo falar mal de mi , en1ão, eu digo êpenas que náo foi falseado". Mâs ó clâro que isto tem um limile, oLr seia. o princípio cte falseabilidade náo pode ser âplicado. e de lato não é aplicado nunca, clc é apenâs um prcicxto, você conti- nuâ usando o mesmo princípio de veracidade quc tinhâ ântes, só quc você inventou um floreio lógico mais elcganre que lhe perlnitc escapar da discussáo, porque senpre quc você vài inrpugnar a tcoria do caÍa, el€ dizr "Nào. náo, não, rnâs cu nâo disse que é vcrdadeir.r. eu só dissc quc ná0loj lalseadâ". A t€oria do Popper só selvc para isso! só seÍvc pârâ lugir da dis_ cussáo. O Popper erâ unr creiino elelivanrente: agora, cono ele é um câra que se iornou simpático poÍque ele crâ antilascista, anticonu nisia, Iibcral, etc.. etc., então, todo mundo gostâ dcle. Ele não pregou ncnhuna coisa indecentc, mas ê teoria delc é indeceDie. Qüândo você cxanina. está Iá (Aluno) O senhat haaia diÍo üfia üez que a teatia de Poppet é un caso especial da dialélíca... Istol É um câso especial da dialóticâ transfomrada em regra geral. E translbImada na única rcgra, na verdade. ou scja, na progressiva pcrda do domínio dâ técrica lilosótica que a gcntc vai obseÍvando a partir de uüra certâ ópoca conreça â câir, cairi e náo é umâ coisa do mufdo mo' dcmo, isso conreqa na Idade Média nresnlo Nessa progressiva queda chega um ponto crn que o indivíduo náotem nlitis a idéia dc que aquilo que €le está enunciàndo já foi cnunciâdo dois mil c qualrocertos anos z+ atrás dentro de uma outra estrutura maior que dá lodâ a legitimidade c os limites daquilo. En1Ao, elc pega aquela coisinha que ele êcabou de descobrir que Àristóteles já sabia; uma das dez mil coisas que Arisió- rcles snbia. clcpegâ âquela, que é a única quc ele sabe, transfonnê na regra ale tudo e acha que fez um grande negócio. Mas está fazendo um pâpel ridículo, quando você confuonta isso com a histódâ inteirâ, eu tãlo: mâs ó ridículol Quer dizer, o problema de iodo cste mrlndo modemo é a to tal lâ]ta cle humildade; eles achan que eles têm que ser melhor do que Platáo e Aristóicles. É rnuito diiícll ser nelhor do que Platáo e Aristóteles Elcs começâram nluiio alto, entáo. o scgredo é aquele ncsócio que o Heidegger falou c ele n1esino talvez náo tenha cum_ prido: "olha, você quer discutir esse negócio? ]]ntão, quatorze anos de Aristóteles, primeiro '. Você tem quc voltar a isso. náo tem outro icito Na biologia é o que eles estáo |azendo agora, falando: "Tudo o que nós descobrirnos, Arisióteles já tinha laladol Entáo, vamos voltâr lá:" Mâs cles Ídzem isso é porquc eles acrcditarâm na idéia de cvolução c ale progrcsso, eútão, por acrediiar que se en na§ci depois' eu iá nasci sabendo algo mâis que os outros náo sabiam. então' eu náo preciso estudü aquela coisa É a nelhor maneirâ de você ir tân' to mais para trás quanto nlais você âcredita estar indo parâ irentc. É o suicito [qu€] porque elc aprendeu a anctaÍ de biciclela, elc náo sabe mais andar a pé, depois aprendcu a andâr de automóvel, náo sabe nlais andar de bicicleta Qucr dizer, é uDrâ Perda de câpacida- de. uma perda dc inteligência. Se você pegar o csquemâ do lReu venl Feuerstein e âpllcâr aos Iilósofos. àos cicniist.ts, vocô vê que a dcgrâdação, isso que cu estou falando, é um 1ã1o empírico compro_ vável. os carâs rêm deliciência de intelisênciâ. PDr quê2 Eu âcredi rô q.rc poJc \a\.- ('ôluciu p ôg-c"ú .larn qu< \'Je: t m L n crnpirico. constatávc]. em úruitas coisas a genle sabc rnais do que II outros câras sabiam. Porén tLrdo o pÍogresso é aliamente problemá_ tico e elc dcpende dâ conservaçáo do estado anterior. QueÍ diz€r, o progresso é un1a noçáo quaniitâtiva, quer dizer, você sabia x, âgora sabe x+1;âgorâ. sabc x. agora sabe o x+ 1. joga o x c fica com o 1, acr€ditando qLre náo precisa.. Qrer dizer, é nmê espécie do progrcs- so por transnrissão dos câractcrcs adquiridos; enião, eles âcreditan mesmo Ique] como nós nâscemos num cerro tempo, aqllel€s conhe- cimentos ântigos já esláo tão imprcgnados na nossa atmosfera que nós náo precisa ros dominá-los pessoal enle, a nossa cultura os clolniúa. Isro nunca âcontece. Náo existe conhecirncnto irnpregnado nâ cultura. só exisle conhecimenio na cabeça cle seres humanos. Se num cerlo momento ninguéll1 souber aquilo, náo adiantâ você dizer que a cultura sabe Entiro, vamos pensar o seguiniei quenr hoje sabe tudo o que Àrisióteles sabiâ? Náo digo ilrclo, mas x, cu vou châmar de r isso âíi x+ 1, eu dÀse só o r. Por cxcnlplo. se você pegar o Giovânni llcaie. o Ciovânni Realc sabc quase tudo o que Plâtáo sabia, c ele siLbe mais duas ou trôs coisinhas que Platáo não sabia: eu l4lo: então. é claro que houve ptogrcsso, só que houve en- quanlo ele conservar aqLrele conhecimento, sc elc perder, náo houv. progresso ncnhun: Quer dizeÍ quc etistc unl limiie à possibilidadc do progresso, que é o limite da possibiiidàde do portador hlrnano do conhecimento hurnano. E os caras êscapam disso acteditando que existe uma impregnação no ambienie cultural. Estê é a fonte de todos os enganos. Você acrcdita: "âh, eu náo sei, mas alguém sabel" 'lbdos estáo pcnsando a mesmâ coisa, quando \rocê vaj ver ninguórn sâbc. Esprcnc um por urn: "E você, sâbe'i" 'Ah, eu náo. mas alguérn sâbeL" "tj você?" "Eü náo sci. nlas alg!érr sâbel Qtrando você v.ri ver, ningüóu1 sabe nadêl luslamcnte na h(»a em quc vocô conflâ mais nâ In)ssibiLidadc do progresso, locê csrá acabafdo conr eh. csiá a.abardo com es§â pos sibilidade, porque ela existe. mas ela cusia alguma coisa. E às pcssoas lambónl acrediiam nisio, por quê? Elas só lazem a cLrnia dos conheci irr 'Iu. q-e elas rclqu:r' ar I . náo doi quc c J' D( Je an. L u negncrÔ do Jeân lourastié dâ história da ignorânci.r, o progrcsso cta ignorâr- cia O lean Fourastié tinha um livro, '1As CondiÇões do Espirito Cien- tífico", que é umâ verdadeirâ maravilha, c ele disse [que] se a gentc lor Iôzer as contas do conhecimento que lbi perdido. é muito maior do quc o que loi ganho. Então, nâo houve progresso, houvc prejuí7o. Mâis ajndâ. q[ando as pcssoas confundem o pÍogrcsso alo conheci_ mento com o progresso cla iécnicâ. A gente sêbe que ê quantldadc de conhecimento pâra lãzer üm progresso iécnico Iormidável ó muito pequena. Você com üma únicâ descoberta ciertificâ, você faz milhócs c üilhÕes c milhóes e rnilhóes e miihôes cle aplicaçôes técnicas que nrrdâm a làce do mundo. Sevocê pegar. por excmplo. esse ncgócio de Linguâgem dc compüiâdot isso aí loi invcntêdo por Lcibniz no século XVIII com base nulna ciência chincsa de clnco n1il ânos antes, isto é. â linguâgenr bhária; eu digo: é isto, os chineses já iinham feito, Leibniz pegou de novo sabendo que era antigo, §abcodo qu€ ele ráo eÍava inveDtando nada, delr uma forlnulação mais moderninha, de pois os c.Lr.ts p€gâram. junlararn essa idéia do Leibniz com a idéia de Pascal da máquinâ de pensq que era uma sinples adapiação do ába_ co que ó muito mais antigo, juntarâm as duas idéias e falaram: "Se você botar esta máquina para pensar binariâmente íica muito mâls fácil de construi-]â". Qual é a quantidade de ciência cletivanrenie qüe €xiste âi. de ciência natemática? Quase nadaL Enláo, â história dâ tccnologia náo é dependente dâ hisióriâ da ciência, elâ é urnà his' tória Àutônoma. Por eremplo. tem âqucla :\ [Assustadora] Hisiória dn Medicina' que saiu outro dia ldcl unr suieito [{ichardl Gorclorr. clc n1oslra que só houve dozc dcscobertâs r]a histór;a da mcdicina só que essas doze mulriplicaran enr milhócs dc aplicâçôcs iécnicasi qrLc )i sáo obtidas por pessoâs que estáo envolvidas na ailvidade cientíiica, mas que náo têm substância científica por si mesmo. Então, quândo a pessoa lquestiona]: "Náo, n1âs como é que você expiica os compu- têdorcs e mais isso, mâis aquilo ê nràis aqüilo?" ÊD digo: tecnologia, isso é outro processo. Alérn disso, a naior partc das hvençôes quc você tem, as pessoas fizeram a invenqáo ântes de sab€r o princípio cicntífico que explicava âquilol PoÍque as pessoas quando ialam de ciência e tecnologià nao sâbem o que é tecnologia, elas náo tôm idéia do que é tecnologiâ. A adiculaçáo lógica de um conhecimento técni- co é exatamcntc o contrário do conhecimenlo cieniíÍico. A genie chama [de] uma lécnicâ. o conjunto dos meios articula- dos para a produçáo de üm deteÍmlnado llm; esses meius pírdem ser os nais heierogêncos possiveis e náo hâverá entre eles nenhuma co' nexáo leórica concebivel. Portanto. nenhuma técnicâ dc fazcr o quc aurr quc \cia lcm . \pl..oçdo cienrii(á { c.encir e trcci5, m( leo contrário, quer dizer, urna ciência só lida com os conheciÍrentos que podem ser articulâdos logicamenie outros. Porquc cla nâo visa produzir um fim, mas visâ produzir uma expiicaçáo Se você pegar por exen1plo. o processâmento do pctrólco, dcsde que você faz o b1rraco e iira o pelróleo de lá até ele virar algumâ coisa, a Drultidâo dc conhccünento que está envolvidâ nisso, você tem corhecinren los geológicos, econôn cos. mercadológicos, quimicos, ctc.. ctc.; cu digo: articlrle iudo isto nulna teoria geral. lnpossívellÁ a iculaEâo é práticâ. Todos esses conhecimentos que sáo heterogêneos, obtidLrs por nleios diferentes e senl conexâo lógica intcrna sâo articulâdos na prática pâÍa produzir esle lim Por exenplo, cono é que você ârticlrla o cfcito mcdicamcntoso de üma sübs1ância injetada nâ sua bunda com a produEão de seringa? Teln umâ teoria que possa explicar aD rnesnlo iempo com base nas rnesmas cL,isas o e[eiio do medicanento c a prodLrçáo da seringa? Clârô qu€ nãol Agorâ, se ialtâr o0 o medi- ,r8 rânlcnto ou a scringa. náo haverá injeÇáo, porÍanto, você não ficârá rurado daquilo. Então, técnica é isso, técnica é uma aÍticulaçáo ra_ cional em vista de um fin1, querdizer, o principio raclonal da técnica a a finalidade e náo a câusa, portân1o e1â é o conirário da ciência. Isso quef dizer que você pode ter um progresso imcnso da tecnologiaIrum lugar onde tem relâtivamente pouca pesquisa cientifica. Por exempio. o quc os chineses descobdrâm enr matéria de ciência nos ftltimos cluzenios anos? Absolutâment€ nada, e, no entanio, a tccnologia iun_ ciona. Quer dizer, a râcionalidade técnicâ é o inverso da racionali- .ladc cientílicai uma coisâ pode aiudar a oulra; pode, n1âs nâo ajuda necessarianente. Você ier umâ explicaçáo causâi melhor para ün1 proccsso náo faciliiâ enl nâda a aplicaçáo tccnológica desse processo; porque à aplicaEáo 1ecno1ógica vai depender da articulâqáo dclc com outros processos qüe náo têm nada â ver com aquela causa. Então, iodo mundo está acosiumâdo na cültura modernâ, iodo mundo lem opinióes sobrc tudo e reccbe esse bolo de intormaçâo e âí lbrna síntcses imaginárias, essâs sínteses imaginárias exprcssam pro_ cessos que as pessoa! acreditanque sáo reâis. mas quandovocê vai de_ compor aquilo e dizeÍ 'o que vocês estáo quercndo dizer mesmo'. você \"i \Lr qu. n',dd coÍc.por(le no rnurrJo,Fal.3quel.s idcid.. naJá L o lamoso negócio, você iem âqui o símbolo, â palavrâ, o conceito que você usa, depois você tem o significado dela, depois do significado ten que ter o preenchimento do significado pelâ realidadel qucr dizer, se você cntendeu uma idéia, por exemplo, eu digo para você: o dmgâo vcrde com bolinhas brancasl Entendcu. náo é? Entào, você eniendeu o signilicado. Agora, cu digo: muito bem, agora me àrrume un1 exenplar Quer dize! você cntendet o signilicado é umâ coisa, e você eniendcr a realidade da coisa ó oütra compleiâmcnte diierentc. Como a comunicâçáo em gcral, a cültura inlelÍa, funcionava da trocâ de signlficado como se iosse Lrm baralho, eü passo Lrm signifi_ l_ cado parê !ocê. você me devolve outro; entâo, eu digor a coitada da rcalidâde jamais ó convocâda a participar disso, ela só aparcce quando bâseado nessa parâfernália toda você tomâ algurna decisão prática e se esborrâchÍ bd{r. nresmo êssim você ainda pode inventar um subtedú- gio poppcriano ou mafxista, qualqueÍ coisa. para escâpâr-disso âí. Entáo, o retorno dos signil'icâdos à reâlidade só se laz por análise lllosólica dos conceitost isso aí é o que Arisiótclcs e Platão sabiam lãzer, nlas depois o pcssoâl não sabe mais, e cada vez sabe lnenos, menos, menos, ao ponto dc acrcditar em teoriâ dâ talseabllidade. Quer diier o sujeib que âlega isso, no Iundo elc sabc quc em algum momento ele val apclar a um oulro princípio, rnas este princípio nâo pode ser nomeado (Aluno) - Esse outto ptincípio é o tecfiológico? Náo. o princípio da veracidadel No fundo ele está querendo dizer qoe a teotia dele é verdadeirâ, quâlquer sujeito quc apclc à teoria da 1ãlscabilidade. ele diz: "Eu náo posso dizer que diretâmente que é ver, dadeira, por quê? Porque eu não posso provât mâs eu âcredito que él Então, conlo é que eu làço parâ delênder esta teoria? ELr alcgo o princípio dâ falseabilidâdel" Mês ele só seÍve para isso, o princípio da ialseabilidade só scrre para dcsconversar. Ele não é o princípio eletivo no qual a coisa se baseia, ele é uln princípio retórico, náo é clc quc lc- gitima a teoriâ na câbeçâ do sujeito que a enunciou. Éle selve só parâ exorcizar as incomodidadcs. (ALLLno) Nesse setlliclo ÍnuiLo po ctis ciências sãa ptuDadas! Muitissimo poucas coisas, ou seja. o princípio da veracidade conti- nuâ vigorando perfeitanlcntc, c é e]ê que interessa. só que tudo o que as pessoas dizem que saben, elas só saben um pouquinho. E issD elas nâo qucrem confcssar. Por exernplo, pegâ o núflero imeüso de pessoas que vivem de pesquisa cientifica cm todos os setores, se o público em 30 geral soubesse disto âí, ia denritir novcnta e nove por cento c dizer: ''Nós náo precisamos de lanto cientista, náo precisamos mesn1o. isto é I ra cr'rpu.hr!ao Ír.,qucrcnlidcl ("'lro po\ pdr0 cu|rilr(aní"'L: Mas e a classe, col1lo ó que vâi Iicâr? A iniclcctualidade é a lerdadcira classe ociosa. é paga para náo fâzcr nada. e muitíssimo bcm pâgâ. Se vocô pegâr tudo o que se gasta com ciência, conl universidade, eic., ctc.. e comparaÍ com as granales fortunâs. as grandes Í'ortunas sáo in_ leriores a isso aí, o Bill Gates náo tcm tania gÍana assim. Agora, como esse é um pessoal mlrito ambicioso que nunca êstá satisfeito com o que tem, eles senpre achâm que es1áo gânhando pouco e que precisa de nais verbas para pesquisa, e mais e mais e lnâis. . Pesquisa do qlrê, üeu lilho? Do nâdal Sc você vé, por €xemplo, o que âcontece na liieratura; nâ literatuÍa existe uma prolusáo imensa de textos que sáo âpenas a tepetiçáo de esquemas verbais já iüveniêdos duzentos ou qülnhentos anos ânies por dois ou três poetas verdadciranenle criativos. Sc você Íizer aquela peryunta do lEzra] Pound: "Olhê, o que acont€cclr de lãto na históriâ dâ liteÍatura?" Você vai ver que diminui nuito. sobÍa uns doze ou quinze caras. Por exemplo, entre os árâbes... existe na cultura árabe essa consciência disso: "Náo, só existenr oito poctasl" O resto está só lloreando em volta, fingindo que é. entáo. por isto lnes o, na cultura ifuabe os poctas em geral não teráo un nilésimo do prestigio que têm no Ocidente. Os grandes poetas têm. sem dúvldal Mas aconiece que é o nercado das leiras? E a classe ociosal Vai lãzer o quê? Etltáo, é êssim, o suieito sabe, conhece aquelas coisas, coisas centrâis da§ quais todas sâiram, ele teú de fato o domínio do panorama, entáo. ele náo vai se interessar por essa bobaiada toda. Eu nâo vou comer a falsili_ cdçao da lol.iticacào dJ li lr',ic"çan da ral'il'iLrido \e eu ta corsJmi o produio originário, eu náo vou pcrder temPo com essâ bobagem. :ll Ulna vez um pcssoal convidou o português parâ jogar sinuca. "Já jogou isso?" Êle lalou: 'Náol" Dâí, entáo, levâran o poÍuguês, lá o poriuguês embocou tudol "Ué, mas vocé não sabiê jogar?" "Náo, n1as é que cu josava bilh l " Então, fazia aquele jogo com irês bolâs e sâhia mlrito mais enbocâr as boias do que os outros. Quer dizer, qual é a di- fercnça do bilhâÍ paÍaa sinuca? Os caras botararr nais bola, com mêis colorido. mas o ncgócio ó a mesma coisa, é embocar a bola no burâcoi esiâ é a1écnica, o resio está lloreândo. náo mudou subsiantivamente o jogo. Entáo, o qüe os caras íazem é isso, eles poem mais bola no jogo, n1ais colorido. 'nâs o joso ó o mcsrilo. É por isso mesrro que a quaniidade de pseudociência que se pro duz ó uma coisâ âbsoluiamente aterradora. E as pessoas lêen hoje o [l chdrdl D"uLir 5. . r. . . I u 'alo a.a.l, um" c\p. ric r.ia. p"ô.. "c1r no século XIX os equivalentes do Dawkins. Quer dizer era o sujeito quc falava em nome da ciênciâ e tinha uma audiência enorme. OÍa, nâ vida cicntilica cm gcral, ó dificil o sujcito duranie a vidâ cons€güir lazer uma descoberta cientilica sériâ e âinda ter tempo de conquistâr I nr dudicn.ra r ic r r .a. ger"lr rH ,re r"o Jâ l: rlc .e p.eue' q. e u , ara que tenha audiência náo é o sujcito quc cstá trabalhândo a coisa mais subslanliva Enláo, pegâ os equivâlentes e você vai ver que se iornâ- rarn absolulam€ntê inlrâgáveis, não dá paÍaler os caras po.que é tania bestcirâ que tenl. Por excmplo, Ernst Hacckcl ó um. Lud$'ig Buchner é outÍo: lodo mundo lia os câràs e o pessoal da culturâ média. os for- mâdores de opi iáo. citavam esses caras como se lbssem a ciência O Dawldns, daqui a tinta ânos âs pcssoas vão rir dclc, corno hojc â gcntc ri do Büchner ou clo Flâeckel. Por quê? Sao pessoas que làzem de con tâ quc sabcn nrüito mâis coisa do qüe saben realnrente. O progrcsso da ciôncia ó muito difícil, isso acontece dc potlquillho, entáo, náo ien ianu coisa para vlrcê sLrltàr lbguele. O que tem é a ne ccssidade de você manter â atividade social de pÍodLrqáo de idéias em circulaqão porque ten que alimentar institutos de pcsquisa, jornalislno cieniíIico, a mídiê, suplenentos culturais, etc., eles têm que ter algum rssunio do qual falar, então tem quedar a impressáo de que cstá acon_ teccndo alguma co;sê. Quando você Íai ver no século seguinie, o que sobÍou? O que eles rlescobriran mesmo? É müito menos do que parecla. Mas isso sempre loi assinl Mas quen foi que meleu na cabeça das pessoas a idéia de que todo mundo pode ser cientisia? De que todo mundo pode §er "si_ nhô dotó"? Pode ser, nós lhe dâmos o direito de ser, você tem todo o clireito. mas o direill, de scr algo náo vai transformar você nessc algo. Só quen podc transformá lo nesse algo é você mes'no Por exelnplo. você náo tem o direito de ser campeáo mundial de boxe? Todos nós aqui ternos o dircito. Existe um impedinento legal? Náol Agorâ, você sobc Iá no ringue, nâ prim€ira porrada do Mike'I\,' son sai à sua câbeça, só tem csse problema. Acaboul Entào, essa coisa clo direito também é uma engânaçáo. De que adiantâ em ier o direito de uma coisa que eu na realidade não posso ser? Todos nós náo temos o alireito de ser presidente da repúblicâ? Você quer scr presidenle dos Estados Unidos? Eu digor podel Agora, até vao mudar â legistâçào O imigrantc pode ser, eles fizeram a lei 1á pÂra o [Arnold Aloisl Schwar' zenegger. Você baseado nê lei Schwarzenegger se candidata. Só âs lr1u_ lheres náo podem ser papâ;nada é perfeito. É llusáo, queÍ dizcr olêrece para todo mundo, você pode ser tudo. você pode ser isso, você pode scr lwilliâml Shâkespeare. Quer dizer' é viver. mas é viver na irealidade, mas â base da cultura Ínoderna é a irrealidade. Agorâ, é possí\,el que âs massas todas iomem conheci mento disso? É quase impossívell Eu posso âté chegar e explicar d€ um por um, nào vai âdiântar nâdâ. Na ciência luncionam as pessoas que gostam de uúr negócio chamado realidadc, mâs sáo muito poucas, a maior pafle dâs pessoâs fica tdste petânte a realidade. Elês tênr quc ll ter rma ilusão, uma coisa que Uaça com que etasl liquem aninradas. Vamos fazcr o diagnósilco real, nesmo, como a coisa cstál Olha, você precisa ter muita força, você precisa coniiêr em Deus, porquc sc você náo conliar em Deus, se você for confiar só ncsse mundo. esse Ínundo o dcccpciona. A genie paÍa agüentar ver aquelâ porcada precisa ier esperança nun] ircco mclhor. não nesse mundo. Eniâo, o número dc pessoas que querem sâbercomo as coisas sáo nresno é muito pequeno, e só esscs quc dcscobrem alguma coisa na ciência. ^s pessoas em geral precisàm de crcnÇas quc âs anime . náo é uln problema de realidadc, é uÍn prlrblenâ de auto-imâgcm. Náo está vendo o governor precisa rnelhorar a auto-imagerlr do brasileiro riu digo: oÍa, prccisa melhomr a auro'inagcn justament€ porqüe a realidade está muito depdmentc, se lor dizer a reâlidade para clcs. eles váo todos estourar os miolos. Por âssim diz€r o seguinter você é o povo ignorante. inepto, você tenl umâ dose de incapacidade maior do mundo. qualquer cdra da Zârnbia the dá de dez â zero. vocô ó o povo nrâls assassino do mundo, mais mentiroso do nurdo. esla é a redlidâde, mas você náo pode dizer pôÍa as pessoâs senáo clas ficam iristesl Náo é isso? Aquela estâtística: Es- tados Uniclosr nil € quinhcntos homicí.lios por âno; Brasil: cinqüenta nrill E nós dizemos: a sociedâde anericana é violcntís sim a I QueÍ dizeÍ, nós qucrcmos acrcditar nisso para â gente se seniir melhor Se você está muito idcntificâdo coff â sua condiçáo de brasileiro. qüer dizer, parâ você estar animado na vida você prccisa âcÍeditar no Brasil. cntão, você não vai poder estudâr â reâlidadc do Brasil. Agora. se você náo depende disso, cntáo: queí saber? Se o Brasil é bom ou ruim para min náo [é relevante], cu cstou cm outml Então, você pode quercr sâber a realldade daqlrilo. Existe uln lado sociológico nessâ história das ciências, sobretudo nâs ciências huúanas, que as pessoas ainda náo levam em conta, que é o scguinte: quem está fazendo esla ciência? De onde vêm essas pes- v)ârl Para que elas entrararD lá? E o que elas qucrem? Se vocô pegar, rssinl. dcz milneguinhos quc entraram numa escolad€ ciências sociai§ e você perguntâr: escuta. você quer dcscobrir mesmo coino funciona r socie{tadc humana? Você está dlsposio a pagar o preço? Vô que é un1. ou d.ris. A maior padc quet outra coisa cornpletâmentc diterente' Íluêr dizer que váo fa1âr sobrc o assunto. mas com total dcsprezo; eles rão quercln conhecer aqlrele negócio, eles só querem lãlar a respeito' li é assim mcsrno, ó quasc conscieniemenie as§uÚrido' Hoic lnesl1lo eu «rmprei um livro do Henrique Dussel. quc é üm suj€iio da filosofiâ ila libertaçao, todo mundo cstlrcLa Ílenrique Dussel tal; e cu li três I'r"ina...,r ra'ei rriu e po..rtel. ("p '- Liln ( r!h_Pinacirru L: Lle lalâ dÀ oniologia grega e diz: 'i{ ontologia ó a exPressáo da dominaçâo ocialental e clesprezo pelo outro". Eu digo: mas e§sa ortologia é iguâl a dos hindusl Como é qu€ vai lâzcr âgora? Quer dizct ele nâo sabc qÜe cliste urnâ ontologia I ndu que é iguàl âquela, cle não sabe e nâo quis sabef. c se você [oÍ contar para ele, ele vai ficar muito bravo' Entâo por '1.e\ucequrrraldralgrrnJ Ôi\Jsnbr(' ÔrrulÔerr 'e \ori nao ''eÍ saber nada clo assllnto? [le vai clizer: "Eu estou pouco irrtcressado na ontologia, eu quero é pâreccr o gostosáol A ontologiâ cntrou âqui como Pilatos no C/edo1" Ii assim mcsmol (Alü11o) De aez em qltando eu cruzo cam alluns aÍunos de ciâl1' cias saciais que eshaÍazenàa mestrado ou ttlgo do Eênero, eLes se co locafi1 o trabalho cle fa.et untt:l pesqüisa sobrc aLeutn assunta' então' p:?parafi Lá tlfi questionátio e saem peryunta da pttn as Pessoas' Aí, semprc que elt pelo o queslionátio, o í1fipressão qLE eu tetlho ao í)er aquelas petSuntas é que eLds foún feilas de prcpósilo para niio se chegar à co clusâo fienhüfiu1. Aí eu coneça a Íalat pata o d'ito cuio daqttelns falhas d(ls peryuntas por qüe nãa é possí el titat netthuma i Íotmação daquila ali, e a pessaa co eça a licat llusüaLl't' começa l5 Pois é, você vê quc sào intcligências muito pcquenininhâs que nlal poderiâm assunir a responsabilidade de trabâlhar num poslo de gâso- lina e que estáo lálra condição de cientistas sociais. Esta é â reâlidadel Agorâ, pode acontccer lqucl no meio de milhócs você cncontrc um sujeito e lale: esse cara aqui é de verdade, ele quer saber mesmo! En- iáo, essa pessoâ vai seÍ tao diferente dos outros que os outros nâo váo nem perceber a diferença Quer dizer, clc tcm uma difcrcnça conlo de uma dimensão para outra, mas ela náo é perceptivel Esta idéia de que para você falâr de um âssünto, você tem qúe ter estudâdo o assunto, cssa idóia ó rnuito dificil dc cntrar na cabcÇa das pcssoâs, elas nâo en- tendem por que. Porque elas acrediiam que já eÍiste uma impregnâção do meio. "Eu não preciso sâber aquilo porque esse conhecinrcnto dcve estar aí cm algum lugar, eniâo, cu já falo a partir dessc patanar para cima. Sem eu ter que ir Iá âdquirir pessLralmente aquilo." Agorâ, acont€ce que às vezes pelo slrjeito acrcditar que clc iem o conhccimento, elc acaba tcndo mesmo, isso às vczes âcontece pêra celtos domínios: por exen1pllr, línguas; pdrâ você aprenderunla língua, â melhor raneirâ de você aprender é vocô botâr na cabeça qrlc você iá sabe. e você sai falando tudo errâdo, e você sem perceber vai corri gindo. corrigindo, dâqui a pouco vocé está falando. Mas acontece que para as ciências ;sso simplesnrenie não funcionâ. Agom, toda a história da constituição das ciênciâs sociais n1oder- nas é todâ uma históriâ de charlâtanismo. desde o início. Nenhlrm daqueles caras, neln [Émile] Durkheim, nem IHerbed] Spencer, nem lAugusto Comte, nem Karl Marx, nenhum deles tinha a n1enor idéia do que estava lalândo. porque eles acrealitavan que a cultura já ti' nha cllegado a um palanrâr a e que paÍtindo daqüele pâtâmar eles po- diam construir cn1áo urna ciência dc unl novo domÍrio que niio iinha sido erploracto âindâ que é a sociedade. Se eles tivesse ljdo Platáo e Aristóteles eles veriêm a diliculdade de lazer isso que eles estavam r ucrcndo fazcr, lras eles náo tinham a nlenor idéia da dificuldade. O rrurdo cle um Durhhcim,eniao, é um mundo de Lrma simplicidadc rslinr pueril mesmo, é um ioguinho de criânça. Quando você pega o livrc, do anrropóloso anlcricano que se chama [Edward] Sâpir sobre a rcligiáo, cle diz: 'A reliSiáo é o coniunto dos neios de âlcançar a paz (lc cspírito". Eu cligo: paz de espírito, [vocô] ton1â um LSDI Você acha (tue cra realnentc isso que os caras estavân buscando? Vocô dorme, tcm paz dc espíiio. Nâo pensa cnl nada, não se preocupa con1 nâda. Nao pensa em lcoisa] nenhumâ, você iem paz de espírito. Quer dizcr. a ma concepçáo assim iáo bobinha, iáo classe média. que conlunde a rcligialr con uma aspirina. E ele acredita e aiunta uma sóric de conhe- rimento baseado naquilo. É fantástico como é que o estudioso pode estâÍ infinilanentc abâixo do seu assu to Quer dizer, paz de espÍrito? E aqucles camaradas na arena lá sendo comidos pelos leóes? Jesus Cristo pregado na crüz? É paz de e§piri lo? Quc droga é essâ? Coino é possível urna coisa dessa? Quer dizer' a pura imaginaçáol E essc livro coniinua sendo estudado. o que não qrer clizcr que às vezes no nreio dcssa patacoada todâ o suieito não diga uma coisa ou outrâ que scrve. Esses antropólogos que sâíâm pclo nrunalo anotando costuües esquisiLos c tir.tndo conclusóe§; quando você vai ver eles até têm un1a ceÍta coletânea cle lãios, mâs a posiçrio dos caras é táo ingênua peÍantc âquilo, c ingênua em grande pârtc pelo scguinte: o su;eito sai de uma §ociedade que iá cstá funcionando, o sujcito americano, entáo. ele esiá lá, ele iá iem um sâlário' está na universidade, quer dize( toda a vida del€ é montada em cima de uma estrutura social preexistente que ele náo precisa sabcr como funciona para que elâ funcione Ele com bâse nisso vai investigaÍ uma ouira sociedade que üào o conprometc enl absolutamente nada. Quei di' 7eL o salário dele na universidâde continua chegando: você está lá na ilha náo sei quê conv€rsando com índio, mas o seu salário cstá Iá. 37 Você vâi ver aquela outra sociedade como se fosse üm brinquedinho, aquela vocé domina, você es1á por cima, você sâbe de tüdo, você é um observador divino. Você pode âté consentir em panicipâr um pouqui- nho da vida deles para dizer que você é um obseftador participante e tal Mas observador pariicipantel Tem uma dilerença entre você e os outros nembros da comunidâde, eles náo têm satário da universidade; quer dizer, o índio foi lá pescar porque prccisa disso para comer você lbi lá pescar porque é bonito bdncar de tudio. Essa dilerença é iltedu- tível. Entáo, eu digo: ou você sabe onde você eslá nâ sociedad€ em que você está e aí muito trabalhosamenie vocô podc eniendcr umâ outra olr então é melhor nem comcçar Àgora, Áristóteles sâbia que desde a primeira, cle sabia que a sociedade que vocé 1em que estudar é aquela em que você e§tá. nâo a outra.  sociedade nlrnca vai ser um objeto, sc ela é um objeto é porque ela náo é a socicdadei porque ela é um ob;et.r paía você que náo pertence a clei agora para quem está lá dentro nao é um objeto, cia é ao contrário, ela é o próprio conjuülo de condições quc permitem a vida daquele indivíduo. o nodo de conhecer a sociedade nunca ó conhecê-la como objeto, se você fez dela ür obieto, já csiá errado. Ela se constitui como obieto na sua frenie na medida em quevocê pârtindo do que ela iá sabe sobre ela mesma, se você sâbe o conjunto do que a sociedâde sabe sobre ela mesma, você é capaz de lôzer um aprofündamento crítico disso, âí sim, aíela se transforma num objeto paravocô, mas náo antes disso. Agora, você pegar uma cultura como objeto p.Jrque você chegou lá como ob- selvâdor, en1áo, tudo aquilo que você colheu como observador é tudo aquilo que não funciona para você como regrâ ou mandamento social \ igenrc cmbo a tuncione para ourrü' pe§\oai a\ quài\ pur \erem ÍÍem- bros desta sociedade náo poderiam ter acesso a esta visão de fora que vocé está tendo; entáo. você já começoü fazendo tudo errâdo. l8 A única socicdade que você pode compreendcr reâlmenle é aquelâ cm que você está; porque dcssâ você tem o material diÍetamcntc em você mesmo, náo lodo, mas uma boa parle. PaÍindo do quc você iem você pode coletar mais em volta c você vai entendcr a sociedade iüs- tamente náo como um objeto, mas como um processo vivente no quâl vu(e esra, c el3 e i.5ô eÍc,\r_nenle: queÍ dilcr njo e q,rF voce nro a pode vcr como objeto, náo, ela náo é objcto. Então, quândo você está vcndo â sociedadc colno um processo humano que o inclui, você cstá vendo a coisa dentro da realidade. Agora, por exemplo, como ó o ân lropólogo dentro da tribo de indio? O que cle teria que fazcr, como é quc ele teria que começâr? Ele teria que começar por cntender a sua posição denúo daquela sociedadc. 'Quem sou êu dentro destâ socic- dade?" A prirneirâ coisa quc ele tinha que perguntar parâ os Índio§ é: "Qucm sou'l O que eu estou fazendo aqui? Qual é o meu lugar âqui?" 4í sim, mas isso será a última coisa que ele vai lãzer, nresmo porque tem â possibilidade de os Índios não saberem, quer dizetr "Você é umâ coisa esquisita que está aÍ me iàzendo pergunta e eü náo tenho a menor idéia do que você está qüerendo". O LrbseÍvâdor da sociedâ- de pdmitiva já começâ por falsear os dâdos. Agora, se €le iiver umâ compreensáo prolundâ da sua sociedâde pode ser que ele até chegue â compreender uma outra, mas os caras fizeram o contrário, váo Iá en tender a sociedade de índio, fazeÍr um monie de obseNaçáo fictícia e depois tenta entender a sua sociedade a padir daqrelas obse açóes liciícias. o negócio da Margãreth Mead, os dados erâm todos furados, nas nre\mú que ndo lnscm ú nretodo cslá crÍrdo F rncrrvcl: ( úmu é que puderam chamar isto de ciência? Chamavam de ciôncia porqüe adminislrativamente aconiecia num departâmento chamado científico e a pessoa tinha salário de cientista, só por isto. Mâs nao tem estrutura noética de umâ ciência. 39 As ciências sociais modernâs, todas elas nasceram viciadas, noven ta e nove por cento do que produzem sáo besteirâ mesmo. náovalem a âlençâo: e começan a adquirir um sentido quando você fâz o que làzia o [Piiirim A.] Sorohin, por cxcmplo, você pega tudo o que se sabiâ sobrc a socicdade desde a Antigüidade, desde Laorlsó, Confúcio, etc., etc., e vâi contar aquilo até chegar no estado presente, e você vai pe- gando âs vádas afticulaçóes, aÍvocê eniende mals ou menos do que se trata, mas se você parie do principio de que não havia conhecimentos de ciência social ant€s, você acredita que a ciência social ê urna coisa nova que você está inventando, entáo, já começou erladlr. Eiem genle qlre acredita piarnente que a ciência sociâl começa conl Maquiavel. Você encontra obras hindus e chinesâs de trôs mil anos ân- tes que já tinham tudo âquilo, mas tudo assim, com todos os detâlhcs. Como é que você explicâ esse milagrc do Sun-TzLl,'A Àrte da Gue[â"? Quem meteu'AAr1e da Cüerrâ" para circular l'oi Stálin, porqueele Ie! aquele negócio e fâloü: "Isto aqui é a grande novidadc em matéia d€ arte da guerral" Tem cinco mil anos. Quer dizer que todos os princí- pios que Sun-Tzü colocou náo mudaran nada- lsso aqui é umâ ciência. O progcsso da ciência consiste no seguinte: Sun-Izu sabia tudo isto, dâí nós esqucccmos tudo durante cinco mil anos, e agora acreditamos que nós inventamos alguma coisa. Pronio. isto é o que você chama de ciência, já conreça por falsear a sua própda posiçáo dentro da história Entâo, o quc tcm que fâzer? O corretivo que Àristóteles já dâva, você iem que começar por conhecer o conjunto das opiniôes existentes a rc\De'rô Jo ac\unro. u !oniJnru dd. úpiriócs das ,ãbioc l- "\.in q-e se 1ã2. pcga tudo, tüdo o que eles disseram. Dai começa a iratar diale- ticamente aquilo ató depurar e chegar a alguna coisâ, é só assim que â coisâ anda, isto dá trabalho e leva tempo e náo é gâmntido que vai luncionar Agora, tenr outrojeilo, vocé inventa alguma coisa no âr e dá uma entrevista parâ a yeld e as pessoês váo âcreditêr 40 O panorama das ciências humanas é âssim, ele depôe contra a in- teligênciâhunana; embora. sempre no meio desta besteimda. você tenha de vez em quando assim ilhas de lucidez âbsolutamente tan- tásticas. Mas onde você encontra alguma coisa que presta, está base' ada ainda no método de Aristóteles. São Pessoâs que entenderam que antes de você fazer um negócio novo, vocé precisa conhecer o velho, senão vocêvai rcinventar aroda. e pior elavêi sair quadrada. Náo iem outro jeito. Você quer lalar em progresso? Entáo. está bom, progrcsso é un1a coisê nova que foi acrescentada cm algo que iá tinha antes. O que tinha antes? Pouquíssimos cicntistas sociais Íizeram isso, [Max] weber fez isso, os dois weber, Ma"{ Weber e Aifred Weber; Sorokin fez isso, o loswa]dl Spengler lez isso, com todos os erros que cle possa ter corretido. fez isso tâmbém; o lArnoldl Toynbee 1êz isso, o Voegelin fez issoi mesmo com isso você ainda pode erlar muito, n1as âquela coisâ em que o Voegelin insiste tanto que é aexigência do conhecimen- to enciclopédico paÍa o cieniista social. desta náo tern como escapar. Agora, você p€nsa qüe em ciências natumis isso é diferente? Parece que é por quê? Porque a linha de jrvesiigaçáo das ciências naturais já está mais estabelecida, qüer dizet você tem uma seqüência recente de inveíigações que parecern resumir o que se sabe daquilo, mas isso l'unr ,onê .o ali Lm ccrro ponro. Por Lr(mplo. um qurm;cu rào pr\ r-§o saber toda a história da química para ele lazer â investigação que elê quer fazer. Muito bem. acontece q e de repentc você se vô Iidando com um problêma qu€ iranscendc inlinitâmente ao que âquelâ ciência pode abarcar no momento. entáo, você vai ier que veÍ o que já sabiam antes. E isto acontece quando a sua ciênciâ dentro daqueles limitcs que ela se colocou esgotâ as possibilidades dela. quer dizer, elâ avança até o ponto en1 que dá, ela acabê desembocando em problemas que trarscendem aquela sua própia evoluçáo interna e váo desembocar enr outros problemas infinitamcnte mâiorcs que as pessoas já tratêram 41 cinco milanos âtrás. Daí você\,âiter quc làzer de novo a mcsrna coisà, quer dizcr em ciências nâiurais, a meslna coisa, você vai tcr que paÍir dâs opiniões dos sábios, cmbora esse desalio ráo scja colocado tão fre' qüentenrentc qLLânto nâs ciências hunlanas. PLrr qüêa O envolvinenlo do individuo, do cieniistâ. coln o obieto de estudo, é um pouco mais indircto na ciênciâ naturâ1, cn1bora lráo iotâlmentc indireto. Por qüô? Porq!e ele está dentro da mesna natureza quc ele csiá eíudando. Nlas até chcgar a esic coDlronio, prccisa percorrer mais etapasi quer dizer a possibilidade de um ci.ntista natural ctiar uma tcoria por meios mâic- riais que a süâ própria teoriâ desnrenle seria muito dificil, lnâs emciôn- cias sociais isso aclrnlece toda hora. Por quê? Porqu€ o cnvolvinento é mais direto, qlrer.liz€t a convivêncja do ser hunrano com â natürczâ nâo é direla, com â naturcza lísica . ão é direta;cla se dá aira!és da mc- diaçaro da socicdade hunrana, qüase todos os elementos naturais qlre chcgan âo seu conhecimcnto já vêm irabalhados ou fisicânente ou pclo nenos lingüisticamcnie pela cultuÍa ern qLLc você está A cultura ó o primeiro escâláo, a natureza é o segundo. Quer dizer que o confronto meslno do holnem conl â naturcza venl depois do confronlo dele com a culiura. Por ca!sâ disto o cientista naturâl está mais protegido do scu objeio do qu€ está o cientista social, isto .tá ulna irnpressáo dc mâior obietividadc, mas é só ;Írprcssão. E taDrbém por.iuc o rccorte cienlíii' co dos objetos naturais iá cstá mais bem teitinho c tarnbém constitui umâ cânrada proi€tiva. Você já sabe quc. por cxcmplo, como biólogo, eslá pÍoibido dc lcvar em contâ as pcrcepçrles sensíveis dir€tas que vocô tcm do seu obieto. você só vai peÍcebeí nclc o que está dentro da grade de inl€resscs já dclirida pela ciência. PoÍanto o qu€ vocô cstá estudando náo é ulll objeio real, ó uln objeio científico. c você §ó vai falar dâquele aspecto. Pcnsando bem. jslo e muito absurdo na verdadc. Porque você acrcdita que a ctelimiiâçáo dos interesses daq!elâ ciênciâ tem u â âÍtoridêde maior do quc a sua própria percepçâo sensivel, 12 você âceitâ isso só porque lhe pâgam para aceitar isso, na realidade é uma operâçáo menlal mLriio €squisita. Quândo na lamosa divisâo de DescaÍtes sc divide o objeto pcn- sante, o §er pcnsant€ e o ser extenso, c diz que o str extenso dcve s.'r separâdo dc todâs as imprcssÕcs sensíveis qlle ele nos dá, você peÍcebe tacilmcnte que o objeto, o ser exlenso qüe scria a natureTa não podc scr percebiclo Eo ser pensantel Tâmbém náo pode ser peÍcebido. Note bem qre €stc preceitlr aindâ está nas ciências até hoje. o fÀllied Nor- thl whitchead diziâ que só existeD dois objetos. dois âssunios, tcm o sonho e tem â conicturâ, é só isso qre a gcnie 1ã2. É1, pior, a clâsse cieniílica sabc que é isso que elcs cstâo fazendo, mas sc você conies sâr isso todê horâ, você vai pcrder a sua autoridadc, você vai diTer: "olha, o nundo qu€ nós estudanos não é o mundo real, é unr mundo inveftado pela nossa ciência e qre selecionâ os calacteÍ€s para que eles obcdcçam âo cilério rla nossa ciência e eles por isso mesn1o assim recortados luncionâÍr cxatamente conro â nossa ciênciâ diz qüe fun_ cionanf'. Se você dissff: 'O]ha. nas isso é un1 jogo de cartâ marcadal Se tudo aquilo que não ilrnciona colno a sua ciênciâ diz cstá alàstado do iúeresse da sua ciência, scnpre o que elâ disscrvâi ser válido den- iro das regras do jogo dclâ, e isto nunca podc ser coniiontado com â realidâde da c)rpcriéncia eletlvâ, sor cnte da exped ência científica, isto é, da cxpcriência reco$ada para dâI eriaiamente isto". EÍe elenento dc prcdeterninaçáo do resultado é inerenle à estru- turà da ciência moderna. só quândo clc passa de ceÍios limitcs da de' cência é que ele chanâ a atcnçáo, mas que ele cstruturalmente está presentc lá, está prescntc. Ademais ainda tcnl um outro pÍoblellla: senpre que você operâ Lrm recorte. você ItLz um reco{e dc alguma coisa, dcntro de algumâ coisa Qlral é essa coisâ? Dc onde vLrcê tira? Por exenplo, você delimira aqlri os objetos dâ ciência biológica ou da ciência química, você recortou âqrilo. Dc onde você retiÍou isto? Qual ,ll é esse fundo do qual veio esse recortc? E o que você sâbe a respeito deste fundo? Você sabe apenâs que ele se constitui dc coisa extensa no sentido caIiesiairo. o qual já é um recorie inteiramente arbitrádo e nâ verdade absurdo. Quer dizer enião que faz um recorte absurdo dentro de outro recorte absurdo. E dentro desse recorte como elc lbi feito meiodicamente tudo vai luncionar do jeito que vocé disse; e todo mundo vai acrcditar que isso tem um valo, cientíIico exLraordinário. É aliamente duvidoso que tenha. Você podc ier certeza lde quel um dia todâ essa época vai ser tida como uma época de ignorância, cr€- dulidade, superstiÇáo e loücura. na qual tudo o que funcionâva ou era porque se baseava em conhecimentos aniiqúíssimos como o SunrTzu, ou funcionava po. engano. ou iuncionâvâ por motivos desconhecidos como a aspirina, poÍ exenplo; ou lambénr luncionavâ pela habiiidade técnica que é absolutamentc inegável Você vê qüe em todê essa etâpa ten uma ccrta profissão qu€ ad- quire uma importância extraordináriâ que são os engenheiros, clcs sáo a sâlvaçào dâ humânidade. Por quê? Porqlre o negócio deles não pode tuncionâr só teorjcanente, tem quc funcionar na práticâ, então, tem umâ organização lécnica parâ obter determinados fins, c eles rr lr auc obcdr ccr a es.e l"olo(olô e rem q-s lr lciúnâ. me,lro. j a únicâ prol]ssão na qual se cxige isso. Porque se o sujeiio Íor um físico teórico. náo precisa luncionar âbsolutamcnic, nâo precisâ nem ter nada a ver com a realidade. Se for un1 biólogo (Richard Dawkins?) iambém não prccisa. A grande glória do mundo moderno nâo é a ciôncia, ó a engenharia. ai sim, cssâ existe, essa é de iirar o châpéu. Quer dizer que toda vcz que você vâi falar com um público qualquer e tem uns engenheiros. todo cnra diz: 'Nâo, €spera ai, eu sou cngcnhciro
Compartilhar