Buscar

Olavo de Carvalho - 18 - Santo Tomás de Aquino

Prévia do material em texto

Nête piogtâma olalo de ca$dho rektt o papel
da lerEia ipó6 a di@luçáo do im!éío @õo
. sM atua4ão m od€n administntih € sciál.
DitêÉÍlênênt do qué ndlc auto€r prÊqam
aruatnaê, Olryo re§lta qle a slnre$ bmista alontá
pe a impo$ibilidãde da haimotriEção alre fé e râz@.
Ohyo ile CseÉlho d€rcHe o prc@e de ruÉlE
eÀte 6 oliüa sam € munda"a, mostraDdo â
düdnça do @eito de Fzào paa súto Tonás de
/qr1r6 e aquilo que c@pl@de,@ @mo mzão hoie.
N6te p@glm connenos a .leedçro {ta 6trutu.! de
Eãlid«L s€guodo S tô aonús ê süâ alnça dê quê d
abêíúa pâÉ a t@sendên ia é @ídiçáo bá.ic. paÊ À
raciomlidade hümÉ segun<lo ol.{o, 'a úertura pe
a hnn@ndeMia á a alM hum. E ela náo lm eda a
vd ún Eligiáo. Els é um pÉ$upostô da dzáo húmana
ê um pBúposto <lá própria eÍsiêícia da rêligião '.
"Olavo de Canalho é o
Írais iúportante pensador
brasileiro hoje-''
Wagrer Carelli
"Filósofo de gande erudiçáo."
Roberto Campo§
"Um gigante."
Bruío Tolenliío
"Olavo de Carvalho se
destaca porque pensa,
rcflete,eédeuma
honestidade intelectual
que chega a sôr cruel."
CâÍlor Heitor Cony
"I-ouvo a coÉgem e lucidez
de suas idéias e a maoeiÉ
âdmirável com que as expôe."
Herberto Sales
I
H
§
*I
*
I
§
Eü
ffi
ã
I
§
§
§
il
4I
ffi
H
w
w
ffi
Ísra publicaÉo vêm âcohpârhâdâ dê üm DVD,
q@ Dáo pode se. vêúdido sepârâll8mente.
Santo Tomás de Aquino
Aula 18
por Olavo de Carvalho
coleção
História
Essencial da
Filosofia
Sâhto Tomás de Àquino
por olavo de Ceryaiho
coleçáô Hhlória Esencial da Filosofia
Ácompânhâ êsta publicaçao um DVD,
que náo pode ser vendido §epâradamente.
Impre$o no Brasil, setenbro de 2006
Coplaighi o 2006 bi' olâvo dc caNalho
Foto OlâYo dê Caúalho
Ed oÍ
Edson Manoel de Oliveüa Filho
Mohlque §ch€nkeh e Dagme Rizzolo
Dagui Design
Tereza Maria Loúrenço PeÉ1.a
Os düeitos auiorais desâ cdiçáo petencem à
É Realizaqóes Ediiora, Livrtuia e Dhtdbuido.a Lida.
Caixa Postal 45521
CEP:04010-970 Sáo Paulo sP
Telelax: (1r) 5572 5363
E-nall: €@erealizacoes.com.br
vw.erealizácoes.com br
Resenados iodos 6 dire itôs dê slâ obm Proibida loda c qu0tqúer rcpioduçãó deiâ ediÇáo por
qúâlqudmeioou foma, scjs ola eletrônicâ ou mecânicâ Ídocópia, gravaçlo ou qualquer neio.
Santo Tomás de Aquino
Aula 18
por Olavo de Carvalho
coleção
História
Essencial da
Filosofia
3
r*iffi
2006
Coleaão História Essencial da Filosofia
Santo Tomás de Aquino - Aula 18
por Olavo de Carvalho
O período medieval enconlra uma culminâçáo prccisarnente na
obra de Sânto'Ibmás de Aquino, na qual se trata de resolver um
conflito cuiâ soluçáo, emboratenha ocorrido na esferâ teórica, acabou
sc revelando histoicamente inútil. Isso quer dizer que a síntese
tomista que se enuncia crroneamente como a articulaÇáo de fé e
Íazão. pois nâo é disso que se trâta procura evitar uma ru ptura entrc
a culturâ sacra e a cultura mundana. a qual, no entanto. acontece
assim mesmo, nos sóculos seguintes, como se nada tivesse sido feito.
É muito cspantoso notarmos como é umâ obra quc consideramos
tâo importante, como a de Santo Tomás de Àquino, pôde exercer nos
séculos seguintes urna inlluência tão pequena. Na verdade, só existe
um movimento tonista a partir do século XIX, quando aparece o
làmoso neolomismo (que, se for pensar direilo- é o único tomismo
quc existe), tendo sua influênciâ, nos séculos anteriores, ficado
restrita a pequeníssimos grupos de intelectuais, a maiorpa edelesjá
sem muita capacidade de acompanhar o nivel de abordagcm que ele
estava dando. Portanto, o que sevô na filosofiade Santo Tomás é Llma
grande oporiunidade perdida.
O pÍ^ble na dr ruil u rx .acr" e. uhurd proLna - como 'e equariuna
a síntese, náo como lé e razáo, porque dentro dâ cultutâ prolanâ
existcm clementos de fé e dentro dâ cultura sacra cxistem elementos
científicos e racionals - era colocado náo por uma quesiáo dogmática,
mas poÍ uma qucstào muito real. que era a própria tunçáo da lgreja na
civilizaçáo européia. A Igreja, após a dissoluçáo do lmpério Ronlano,
assume temporariamcnte certas lunqões âdministratlvas, tornando-se
cm cerios lugares o único fator de ordcm social que existe, e isto â
vai sobrecarregando de umâ sórie de lunções quc não lhe pertenciam
originariamente.
É também preciso ver que. se pensarmos numâ fórmula política
baseadano Evangclho, ela é benl difícil de se deduzir, pois o Evangelho
náo dáa menor dica quanto a esse ponto. Ao estabelecer o ',Dai â César
o que é de César". fica um pouco nebuloso sabcr exatamente ondc é
que tetmira o reino de César e começa o reino de Deus. No entanto, o
fato é que, com o desmantelamento da ântiga cultura imperidl romana.
a Igreja cria uma nova sintese civilizacional, dá a toda a populaçâo
um novo sentido de vida completâmente diferente do romano, e de
âlgum modo esse novo sentido dc vida tem que se estender a todos os
domínios da realidade, inclliindo a chamâda vidà prolãna.
Na vcrdade, o conceito de "profano" é um pouco posterior. € é
jusiêmente nesse período que comcçaa sedeline umâdistinçáo entre
esses dois dominios. O problema com a chamada "cultura profana, é
que a própria influênciâ da filosofia gregâ, que seriâ o protótipo do
conhecimento racionâl teoricamente indepeúdente da Rcvelaçáo, vem
D(h. máo. do, e,colJ.li(u\ - poflânlo. \ru u. nc,no\ indir rduo\ quc
estáo promovendo a culturà religiosa c â chanâda cultura profana.
Temos, entáo, por um lado, aquelcs velhos problernas, que já
enunciei, sobrc a a(iculêçáo racional da doutrina cristá, ou seja, da
transfonnaçáo do 1ãto evangélico ou do miio evângélico (podenos
chamá-lo assin con1 a ressalva de qlre é um Írito que âcontcccu de
verdâde) em doutljna, usando instruÍnentos quc náo haviam sido
criados pârâ isso. qual scja. basicanente a lógica de Aristótclcs; e o
outro problcma, que é o dâs rclacóes enlre a lgreja e o governo civil.
Esses dois problemas acaban de âlgum nrodo se conlundindo. isio é, a
relaEâo entrc RevelaÇáo e ciência íoÍma um paralclo com a arliculação
entre a lgreja e o podeÍ mundano
Sânto Tomás dc Aquino percebe quc é preciso encontrar alguma
nírvàlórmulaquejánAo seja um a simples justaposiçáo das duas coisas,
n d,q ecrieun'ac,pccr. dcu.lrclnn.g"ni.o. Epori..oqucn;oi pode
cquacionaressa sintese como lé e razáo, como se lbssem duâs espécies
do mesmo gênero ou uma contraposição, ou mesmo uma harmoniâ,
porque de lãto náo é assim que ele â vê. Para ilustrar isto, â melhor
coisa é examinar sua obraSuma contra os gefitios -aSuma Íeológíca é
dirigida âos púprios estudiosos da retigiáo católica.eaSuma contta os
gerlios é basicamente umadiscussão conr os intelectuajs muqulmânos.
Santo Tomás diz o scguinte: quando discutimos com cristáos, podemos
apelar à autoridade do Evangelho; quando discutimos com judeus,
podemos apelar à autoridâde da Torah; mas quando discutimos com
muçulmanos, náo temos uma base revelada comum, entáo precisamos
nos repoÍar à râzão.
Acontccc qucessa pâlavra "razáo", nessecontexto. iinha um sentido
nlrito dilerente do que entendemos hoje ou seja, basicamenie como a
capacidade de Íaciocínio lógico -. e Sânto Tomás, no caso, queria dizer
muito mâis que isso. Ao dialogarcomos muçutmanos, ele contavacom
o laio de que eles tlnhanr uma visáo da estrutum da realidade mâis ou
menos idêntica à dos cristáos, à dos gregos ou à dos romanos, e com
a palavra "razào" está se reportândo de fato â ul11â ceÍa esirlrturâ de
fe'cep\ao da 'eal dadc qrc c . ôrnum a rndos mas qu\ ta nao . colrun
à nossa sociedade. Entào. quando lemos essâ relêrénciâ à razáo. nós
heqüentemente a entendemos mal. Santo Tomás está se repoÍtando, em
rrltima ânális,r, àquele mcsmo csquema de seis pontas que já comentei
e que resumi no êriigo "Pa1a umâ antropologia tilosófica."' Quando
lala com os muçul ânos, sabe qu. eles estão dc ccrto modo dcntro do
rncsmo mundo em que ele próprio está, cuja lbrma total é, en últimâ
ânálise. delinida pela petgunia que séculos depois será formulada por
Leibniz. quândo diz: 'Por que cxiste o ser e não antes o nada?".
Publi.ado enOClúàr, rm 19jul 200i Disp.nilel [or"lirt]!í,
w($:olâlodc.arvalho org/scmâna/030719globo hm
il
I
Essapergunta é fundamentâ], está presenle em todas as civilizaçôcs,
é a châve de abóbada de todavisáo mâis ou menos normal da existência.
isio é, saber que o conjunto do Universo manifcstado, conhecido ou
cognoscível. se tomado como totalidade, é un1 ponto de interogâção.
e cuja explicâçâo tem de estar de algum modo para alóm dcle. Hoje
essa pergunla se tornou tao incompreensível que, quando a colocamos
pârâ uma rnentalidade modcrna, nos respondenri "Mas isto é [áci]:
houve um úig óa g, haviê um grâozinho de matéria do tâmanho dc
uma cabeça de alfinctc onde a lei da gravidade operava com todo selr
impacio, entáo ocorreu, por um motivo quâlquer, uma suspcnsão
momentânea da lei da gravidade e deu se â expânsáo do Universo".
É dilícil pôr na câbeça do sujeiio que cssc gráozinho de matéria náo é
um nada, já é algumâ coisa, já é Universo. Entào digo: "Eu pergunto
qual é o fundamento, qual é â explicaçáo, qllal é a razáo de ser do
Universo, e você me responde citando uma época em que o Universo
em pcqucnininho. Você está coniundindo a expânsáo do Universo com
a sua criaçáo". Sendo assim, a explicaçáo cosmológica moderna náo
é uma expiicaçáo do fundamento ou mesmo da origem do Universo. é
dpinr. Jma narÍari\ a Ja sua in ancia _.mor".
ÍAluÍto: Hoje jà lên lísícos que e*Aa aaaliafido que a tes desse
bigbü1ç houüe outros anteÍíares.l
Que tenha havido um bilháo de óig ár1,7gs I Todo áig üdrg tem que
d, ontecer a alguIra .nisa. cnrdo esso olgullrâ coi.a e\i.lir. n-o era um
rald Tcn, rn. qu( di,,cm: Lri, Jn luro ae cnergia qrc 5c pare.iâ
com o nada". Bom, parccia mas náo era o nada. já era alguma coisâ.
À perguntâ é: "Por que existe o ser e náo antcs o nada?".
lÀluno: Mas, conto o senhat disse numa aula passada, como é
que se deÍifiia o fiada, ufla aez que, caso se dcÍínisse esse naclÃ, ele
8
iá setia alguma caisa. O senhot coLocou o fiada cofio rna espécie de
t natét ia indiÍ ercnciada. l
Nâo, conlundir o nâda com a matéria primâ, calna lál A matéria
indiferenciada é alguma coisa, é matéria indiferenciada, e nós estamos
falando da totâl ausência de ser sob qualquer aspecto.
ÍAlúnü Ausêficia ificLusiüe de potenciaLíàade?)
No sentido mâtedaL dâ coisâ, sim.
lAlutlo: E nefi o caos cotrcsponde a essa peryufitrl?l
Náo, claro que não, pois é disso que estamos lalândo. Começou
assim? Mas por que coneqou?
ÍAlütto: Tabez a Eente deúesse questionat o conceiÍo de "cameçou".
Seúi que etiste (...)?)
Às pessoas nào compreendem a pergunta "começou?".
lAlrno: km que et.istit u "cafieçou"? Pot que tch que existit
um "começou"? (...) A gefite é qüe está peryuntand.o. Aperyunta é que
está enada.l
Este é o raciocínio positivistâ: "Náo tem qüe ter começado'. A idéiâ
do tempo ilimitado diz que o tempo nunca começou. Aristótcles
pensava que o tempo cra ilimitado, que ele nunca começou e nunca
terminaria. entáo â pergunta sobre a origem sc transforma na pergunta
sobre o fundamento. A]ém disso, náo é pelo lato de ê linha de tcmpo
nAo ter um coneço no próprio tempo que ela ó infinita. Vamos supor
que você entenda o tempo cono uma lei, uma ordem de sucessáo.
Mas qual é o lundamento dessa lei? Por que é assin? Entáo você náo
precisa eniender tempo no sentido temporal, você pode, por excmplo,
perguntar até mcsmo sobre a origem do tempo no sentido de qual é o
seu fündamento, de qual é aquele faior independente de tempo que
lundâmenta a existênciâ de tempo.
IAIüro: A itnprcssão que eu tenho ndo é tanto que eles não
efiÍet1clem, mas si x que logem d.eliberudame te&1pel\unta. Eu iá tiae
ocasião de expor & questão em detaLhes paru esse pessoaL eocélíco,
aí, quaficlo entenileh qual é a peqüfita) eLes se saefi fiega do a
lógica, dizendo, por ercmplo: "Mas issa daí é ufi conceíto de causít e
eÍeito, isso é um ruciocí io humano...".)
Você tem que responder: "Entáo o seu raciocínio é sobre-humano.
Você está se reportando a uma outrâ eslêra de realidade, à realidade
divina. à qual você teve acesso, entáo me diga o que tem 1á dentro, é
isso mesmo que eu estava perguntândo Se você conhece esse supra_
humano a ponto de condenar o meu raciocínio como humano, entáo
me conte alguma coisa a respeito. porquc é exatament€ isso que eu
cstava perguntândo".
lAluna: No cdso dos hístotiadarcs, há o tisco até àe eLes fiaio
efiÍendercn a questào.l
A maior parte dos intelectuais modcrnos nào entendc a questáo.
clcs a entendem apenas em termos de evoluçáo temporal quando se
pergunta pelo lundaúento. Quando locê fala "a origen do Cosmos",
está querendo dizer "a origem de tudo o que exist€", e eles estáo
querendodizer"aorigemdessâestruturatalcomoaconhecen1osagora",
estão âpcnas contândo a histódâ desde uma etapâ mâjs remota. Aí eu
digo: "Por mais que vocé remontc ro tenpo, a perguntâ vai continuâr
â n1esma. Eu náo estou perguntando por que chegou ao capíiulo 45, e
vocô diz que chegou porque teve o 44. ELr estou peÍguntando por qlre
a listória começou. por que ieve o capíiulo 1".
10
lAluna: Soàre isso, fiào é potqüe eLes entefidem a per\u la cana
Íísicd e naa cofio metafísica? Não é só a lísica.l
É uma maneira de dizer. mas há muitos metalisicos que também
nâo entendem isto. O problema é que eles náo Iazem a perguntai
lAluno: Mas qüafido cai, quando efitru no supr&-hufiafio) as
paLaúrus âo são capazes àe trunsmítb como é aqueLt experiência
inài\idual que a gente...)
N,la,conoeind \idud selodomundoren.' Eoralr cgn.io arc.po.ra
ninguém tem. e a formulaçáo da pergunta pode ser diferente para cada
cabeÇâ, mas todo mundo tem. e éjuslamente dessa pe(gunta que estou
falando. Veja que Einstein dizia que, se você tirasse essa pequnta dâ
sua cabeça, náo conseguiria làzer ciência, poique é ela que aÍticula
todo o edifício da nossa Íacionalidade.
É cvidente que nâo é só essa pergunta, ela se rnultiplica em
outras sobre a origem, sobre o fim; sobre a imanência, sobrc a
transcendência; sobre a natureza e a sociedade -, é um conjunto de
perguntas. mas tudo está articulado nessâ corno châve de abóbada. Se
você tampou essâ pergunta por sua dificuldade de resposta, entâo está
tampando uma dimensâo dêrealidade. Porque o lato é qlle nós vivemos
num Universo que ele mesmo nos coloca essa peÍgunta, não tem como
evitá-la, exceto atravós de umdesligamento intencionalda suâ atençáo,
assim: "Eu nào quero pensar nisto", "Eu nâo sei a resposta e a coisa
me incomoda, entáo eu pêro de pensar nisto". Mas essa incomodidade
é justamente â base de todo conhecimento humano, e. se você âpâgâ
essa pergunta lundanental. o conheclmento vai acabar sc csfarelando
apenas em informaçóes dc dctalhes sobre Gto ou aquilo, perdendo
Quando Tomás de Aquino. na discussão com os muEulmanos, sabe
qrc, náo podendo cont conareferência. com aalrtoridade comumde
1l
unl tcxto sacro. pode contar com a autoridâde comum dâ ÍazAo, o qüe
ele quer dizer é que eles têm uma estrutura de pensâmento râcionâ], e
numa esiruturâ de pensamento racional as coisas menos inportanles
estáo baseadas na mais importante. Entáo. cm última ânálisc, todas
convergem para esse mesmo enigma. e a consclêncja da exisiência desse
enigma é quc pcrmitc a abcrtura da alma àquilo quc está pâra alóm do
Universo. lsso que está parâ a]ém ninsuém conhece, mas você pode
dizer qüe todo mundo ignora conpletanrente? Náo. A própria presençâ
da perguntâ já é umâ inlbrmaçáo a respeito. Você sabe que existe o
lundamento desconhecido, e se esse lundameúto fosse toulmenle
desconhecido, vocô ncm sc pcrguntariâ por cle. O mundo esiá cheio
de crialuras viventes que jâmâis fâzen essa pergunta Elâs não lêm
inlormaçâo sobre a existência do fundamento desconhecido, poÍtanio.
nào fazem a pergunia.
É ;mporranre eniender, entáo, que essa pergunia é um daalo da
realidade. Ora. se você a apaga, cstá tcntando raciocinar sobrc a sua
realidade con1o se fosse uln bichinho, como se náo tivesse essa dúvida,
eniáo sai de dentro do campo da experiência rcal, que é um campo
aberto, que é un campo que terminâ numa interrogaÇâo. e entra nunr
outro câmpo fechado que es1á repletoda suas certezas, mâs que é um
mundo in\.entado, cvidcntcmcnte, porque o mundo real em que nós
vivemos é ufi enigma. Você sabe un mlrnte de coisa, mas. quândo
chcgâ lá no fim, tcm uma pcrguntâ e náo uffâ resposta. Sevocê tivesse
â respostâ, podia lêchá-la como uma proposiçáo dentro de um sistcma
.le proposições, equacioná'lâ numâ teoriâ cieniífica e pronto, fechâv:L L)
Universo dentro de umâ teoria. Mas essa teoria náo existe
lsso quer dizer que o conhecimento que temos desse llndamento
é um conhecimcnto dc âtcnção interrcgativa, é um olhâr paÍa üma
direçao onde ten1o infinitoem aberto. Edâconiemplâçáo desseinfinito
cm abcrio surgen, às vezes, algunâs idéias, alguns símbolos, âlgllns
12
mitos. algumas lcndas. alguns ítos, etc., que é o conjunto do que nós
sâbcmos a esse rcspeito. Esse conjunto também tem un1a estrutura
interogaiiva. Por outro lado, se existe o lundamenio de todo o ser
c\istente. é evidente quc cssc funda ento está colocado para cssc scr
con1o o ativo esiá colocado para o pêssivo. Qucr dizer. o pÍincípio
llrndâ áquilo que elc cria. c náo âo coniríiio. O lundamento dc uma
coisa vocé sabei qualquer que ele seja, se tem em si o fundâmento do
qrc cxistc, do mundo mânifestado- ele é ativo cm relação ao mundo
maniíestado; e, se €le é ativo em rclaaão ao mundo manilestâdo e nós
cstamos dentro do nundo mÍrnilestâdo. estamos também à nercê d:r
ação desse lundamcnto. Podanto, é inpossivel que você náo receba
'nn\una nÍornaçeo dele. rrh<,, re.cba arc en e{ce..o e pur i\.ú
n1esmo, nâo possâ abârcar O cerio sedê dizer quc, na verdade, você
rccebe mais iniormaçôes vindai da infinitude suprêcósmica do que do
próprio Cosmos, enláo algo você sabe, embora elc náo responda à sua
pergunta no sentido humano da pâlavÍa "resposta".
Sempre houve, em todas as épocas c civilizaçóes. pessoas âbeúas
para esse fator r, para esse lator âtivo en1 que está a explicaçáo náo
somenle do universo lísico, mas da própria vida delas. Você vê que
na socicdade de hoie, que é umâ sociedade bastante racionalizâda
e adninistrada sob muitos aspectos, Ireqüentemente os indivíduos
vivcm dentro de um hodzonte de reâlidade no qual eles inaginam
que tudo está decidido e que, de certo rnodo. eles têm o contrcle da
situação na n1áo. Você sabe o quc vai acontecer o que vai lãzer, quais
sáo os resultados. etc., e você de certo modo planeja suâs âÇóes tendo
err !i.li (r,r mundo no oual \occ len\a q-c ri!c. L I luro quc tuJn
isio é ilusãol O que Santo Tomás deAquino queriâ dizer quandofalâva
que os muÇulmanos tâmbém eÍam racionais? gle queria dizer que eles
sabiaff que viviam nun1 mundo em abcÍo, e que náo só o Cosmos ern
torno mas â vida deles lambén1 era decidida por cssc fatorÍ que estavâ
pâra âlém de tudo. Note ben que isto náo iem nada a ver com religiáo,
é expcriênciâ comum dâ humanidade, e eÍa com isto que ele contava
Veja que a própria possibilidade de conh€cimento racional depende
dis1o, pois ô conhecimento râcional nâo passa de uma arquitetura d€
conceitos e proposiçóes que se 1àz a pârtirda experiência. Mas se o dado
iundanrental da expedência estivcr là]seâdo, entáo a construÇáo mentâl
fica separada da realidadc. enossâs construçóes mentêis só valem se elas
tiverem essâ abertura para o inlinito, portanto, se tiverefl a consciênciâ
de quc qualquer conhecimento válido que se obtenha com relaçáo a uma
áreâ limitada dâ €xpcriência está, em últimâanálise. condicionado a algo
que vai para além dâ experiência. Táo logo você tomou a experiênciâ
.onro aniolinitada c autolundante. você saiu da realidade, fechou o
mundo e passou a viver na gaiola que você mesmo construiu.
A abeÍurâ para a transcendência é, eniáo. a condiçáo básica da
racionalidade humana, e é com isiomesmo qu€ SântoTomás dcAquino
contava ao discutir com os muçulnanos. Isso quer dizer que a Íamosa
ruptura entre fé e mzão, entre cultura sacra e culturâ mundâna, nào
tinha chegado, nessa época, à grâvidade com que nós a conhecenos
dcpois. À âboliçáo da consciência desse fundamento é precisamcnie
a aboliçáo da cultura sacrà. enlão só tem culiura mundana. A culturâ
mrrndana o que é? O Íotal fcchamento denito dc um ÚniveÍso
pretensânente conhecido. Cudosamente, esse processo de f echamento
numa concepçáo fechâda do Universo acontecerá no mesmo momento
em quc a imagem lísica do Universo se torna ilimitada. A expressão
''concepção de Universo" ten1 aqui dois scntidos: em primeiro lugar. é
â conccpçáo dâ totalidade. e é a concepção do Cosmos l'ísico.
Vejâ qlre na Idadc Média havia ais ou menos a idéia de un1
Cosmos fisico limitâdo: a Terra no centro ou o Sol, tânto lâz , as
cslêras planeláias €m volta, depois a eslêra das estrelas fixas, a csfera
do éler, etc., as eslêrâs angélicâs, terminado em Deus. Isso significa
t+
(tuc eles tinham a noçào de um Universo finito, porque sabiam que
p.râ além do Universo existia alguma coisa. Na horâ eln que se pâssa
da concepçáo finita do Cosmos fÍsico a uma concepçáo inljnila (un1
processo bem documentado numa obra clássica de Aiexandrc ltuvré,
I)o nunào Íechado ao unircrca ínlinitoz), qlre se começa a conceber
o cspâço cono ilinitado, o que acontece? Esse espaço que é ilimitado
llsicamente passa â serlimitado conceptualmente, pois, paradléln. nào
hl,r nadê, ele é oúltino limite da realidadc.Isso quer dizer que se âbÍe a
illrag€m fisica, mas se fecha aconcepçáo fiiosóficaque estáâ]i incluída.
É como sevocê tivesse ampliado enormemcnte o espaço físico a finr de
que. pêra além dele, náo exisiisse nada. É nessa hora que a pergunta
sobrc o fundamento sc torna impcnsável.
llssa imâgem de ilinitaçáo do Cosmos lisico pode ser vcrdadeira
cspacialmenie e até graficamente, mas conceptualmente elâ é um
crro, pois sabemos que, mesmo que haja um espaço infinito, espêço
ú alglma coisa determinada e, sendo assim, náo é lundamento de si
lurcsmo. A nlcsmâ pcrgunta que se laz com relação ao todo se faz com
relaçào âo espâço: "Por que há o espaço?" Esse "por que", se relerido
a 'tudo'', se tornâ impensável. Eniáo houve uma espécie de inversáo
cnlre a concepção grá1ica, oucosmográfica, e a conccpção cosmológica.
Cosmografia é urna coisa e cosmologiâ é ourrâ. Cosmograficamente,
pâssaram a imaginar um Universo ilimitado, e cosmologicamenle esse
Universo ilimitado é limitado precisamente porque, para além, não
existe mais nada, ele é o fim.
l{luno: Pat assin dizer, a Uniaersa nAa é i Íi ila, tuas i defi ido? (...)l
Essa é uma das mâneirâs, mas podemos até explicar de uln modo
r11âis simples: o Universo físico é alguma coisa e náo outra. c é
justaflcnte a respcito dclc que nós estamos peryuntando o 'porquê'.
Ele sempre será um "o quê", e nâo um "porquê"; ele sempre slrrá o
t5
rAlexandreKoyia Dr rlrdol.chadn ao rhitetso iilihitn. 3 e.l
Rn, delrneiro Fo,t.se.200l
objcro da perguntâ, e nào ârcsposta. Nao adiantavocêdiluira pergunta
ou. tenporalmente, como laz a cosmologia mâis recente' voltar lá ao
ólg àarg, pois, antes do óÍg à4rg, pode tcr haviíin Ôrrtra coisa' e outra'
e outra. . É sobre isto mesmo que estou perguntando' Você pode recuar
e dizeri "o Universo era pequenininho."' Vocô podc recuâr até uma
época em que ele era menor ainda, era apenas uma 1iaçâo de átomo
ale câbeEa de agulha, mas ele já era alguma coisa A minha pergunta
é: "Por que exGte essa coisa?" Ora, se a pergunta é 'Por que existe
uma coisâ?", náo adianta respondeÍ com outrà 'oisa cnot nem con
outra maior. Tanio faz comprimir tudo no big bdng ou inllar o éspaço
desmesuraalamente. você nâo rcspondeu à pergunta, apenas está
trocando ale obieto oü o vendo por un1 outro ângulo; está evitândo a
pergunta pelo funalamento ou pelo porquê' desviando-â para um dos
aspectos da coisâ considerarla. Você po'le fazer €ssâ pergunta refcrindo_
a a si n1esmoi "Porque existo?". Ora, você náo pode respondcr dizendo:
"Eu mcço 1.75n1, peso 73hg. nasci em tâl lugar" "' Náo é âssim que
você vâi respondff a essa pergunta, pois só está acrescentando flais
deialhes a respeito .le você mesúo. e esses detalhes náo responderáo à
perguntâ, porqueelâ náo se relêre a você, mãs âo seu tundamcnto ao
seu porquê. à sua razáo de existir.
A busca dc uma rêzáo de existir é o lundamento da posslbilidade
da razáo.Isso quff dizer qüe a pergunta fundâmcntal darazâo aíiculâ
toalâs as outÉs Entáo, na ópoca ale Sanio Tomás de Aquino' e1e podia
contar com o fato de que quâlquer pessoa culta, qualquer filósofo'
tinha consciêücia de viver clentro desse nesmo quadro existencial
dele, e era â isso que eLc chamava "razáo"' Nós vivemos dentro da
mesma estrutura ale r€alialade em que viven1 os muqulmanos, e eles a
corhecen lao berr quanrn nu\ e 'au capa/e' de' 'um eis" 
c\p(ric.](ia
de base, tirar as premissâs válidas pâra o seu raciocínio Mas se a
experiênciâ básica cla realidade iá aboliu esse porquô Írltimo' você se
Lcclrou dentro dc um Universo artificial inventêdo, entáo as premjssas
§rb tiraclas da imaginaçáo e náo da expe ência da realidadc. Isso pode
t)arccer atémâis racional, porqueunl conj nto de experiências limitâdo
pcrmitc obter premissas mais facilmente compreensíveis, e em vez de
locê teÍ que partir de uma pergunta, vai paÍir de respostas. Isso lhe
dar uma sensaçáo tranqüilizânte. mas que é uma falsa tranqtiilidade,
porque vocé fica lranqüilo com rclação â um Univcrso que você mesmo
inveniou, mâs com relaçáo ao Universo no quâl existe, você continua
t,Lo en1 dúvida quanto nós.
Al,Jna: Setia cotreta dizer que esse ploblema swge da ettrupoLação
do esquecimento d.a eieistêncía da causa Íotmal?l
Não, todos os demais problemas sáoderivados deste. Porexemplo, o
csquecinento dâ existência da causa finâl, etc., isto já ó uma deficiência
de mcioctuio lógico quc surge do esquecimento da pergunta Ele náo se
identificâ coln e]â, é un1a conseqüênciâ, pois é evidcnte que a própriâ
cstrulura da lógica dc Aristótcles nasce dessa experiênciÍr básica.
Entáo, como em Heráclito, os homens acordados estáo todos dentro
dLr mesmo nundo. e qüando dormem eles vâo câda unl para o seu
mundo, o qual, apârentem€nte, pode ser até mais Íacional e mais bem
cxplicado do que o nosso, mas é inventado.
Isso.luer dizcr que aquilo que está parâ êlém do Universo, que
ó o scu lundamento, não pode ser conhecido pelos mcsmos meios
pelos qu.ris se conhece o que cstá dentro dele, e o que está denlro
dele é objeto dc cxpcriência sensível, mas você faz sobÍe ele âs devidas
abstrâçôes. conlo dizia Aristóteles, c tira suas conclusôes. E o que estit
para lá? O que cstá para lá do Univ€rso só pode serconhecido denrodo
nuito parcial e delêi1uoso, só pode seÍ conhecido por umâ abcriura
pemlanente da alma, c ó essa abertura que vâi dfi à alna humana â
estaturasuficientepdralidarcomouirospÍoblemas. Vivernummundo,
lt'
nüm Universo, âberio para a transcerdência. isso dá aestatüra da alma
adulta, ao passo que viver num mundo fechado, isso cria um monte de
mitologias inlanris.
A culturâ sacrâ é, eniáo, a cultura dos indivíduos que se abriiam e
algo captaram, por mais confuso que lossc. E nào se deve esquecer que
o fundâmento da realidade náo pode ser menos aiivo do quc a própria
realialade. Portanto, se até nós temos a capacidâde de transmitir algo.
por que o fundamento da realidade não pode transmitir algunE coisa
a respeito del€ mesmo? Quando falamos "fun'lãnrên1Ô da realidâdc ''
Iazemos isso através ale uma sentençâ cm cuja estrutura gramâtical
esse termo se toma o obieto. como se ele Íossc um objeto. porém ó
claro que náo é assim, pois é unl objeto âpcnas granâticalnente. posto
quc, considerado em si Incsno. ele é o sujeito dos sujeiios.
l{\ürut O Íutltlctúento també t éum seÍ, au eLe é nà()'ser? A perlu ta
i icial é pol q e"o sel'e na\.,"onada". Ou ele pode set ente dido de
un ma eia que---?)
Se ele pode ser entendido como o nadà, e nada fâ2, e nada cria,
e nada funalamenta. entáo, cm que medida o conceito de "ser" se
aplicâda a esse funda rento? Esse é um problema que Aristóieles já
aliscutia... É um seÍ, mas um ser no sentido eminente. Nós ternos o ser
no sentialo de que nós eristimos. e o fundamento da existência iem
o ser no sentido de quc ele náo âpcnas existe, mas gera â cxistência'
criâ existência. entáo é ser nurn senlido eminente. Isio leva âlguns a
chamá-lo de "náo-ser" ou de "supra_ser", mâs acho que isso complicâ.
porquc se corre o risco de confundi-lo com o nadâ
lAluna:Mas r?rio-sâ sig11íÍica só o q e ãoéut set (...)?]
Você quer dizer apenas que o conceito de "ser" é denasiado pobre
parâ e1e, porque, com 'rser", nós queremos dizerapenâs aqÜilo que tem
18
{)s aidbulos da existência. Mas isio de que falo, âlém de ter o atributo
rh cxistôncia, produz existência. Náo é um não-scr Você pode châmâr
rlc supra-ser, mas não precisa.
lAlnIlo: Í: un set ilil itada?l
Veia, a palâvra "Deus", enl todas as línguas, designa algo que cstá
pâm cima, entáo é â pâ]êvra adequadâ. É o quc cstá para além, por
isso não há nenhum prcblema em usâr essa palêvra, com a ressalva de
( uc nós náo â estamos usando no sentido religloso, mas no sentido de
um dado de experiência. Ora, acontece que. se o homem está aberto
para essa dimensâo, ele sabe que, apesâr da série ;numerável de causas
inicrmediáriâs que se interpÕem entre a sua situâçáo e o iundamento
rcmoto, eln últimâ análise é esse lundamenio que está decidindo tudo,
pois os outros processos causâis sAo apenâs pârcelas. Esse lundamento
ó o que unifica todos os processos causâis. entáo ele tem na sua mão a
origcm ca conduEâo de todos os pÍocessos. Como já cxpliquei em outrâ
ocâsiào. há uma â difeÍença entre a caracterisiica lundamenlal e o que
nós chamamos de realidade concreta. Náo exisle nenhuma ciência quc
cstuderealidade concÍeta, pois aciência só estuda realidâde abstralâ, ou
seja. ela separâ üm ccrto dornínio do conhecimenlo, um certo dominio
do ser, cujos elementos têm ligaqoes essenciais uns com os outros e
c§quece o resto. Tudo o que acontcce concretamente, âconiece náo
apenas comas suas conexões essenciais, mas com a série infindável dos
âcidentes necessários para que isso acontcqa. Você diz, por exemplo:
"O gato caiu do telhado' . Bom, você pode explicar esse faio, sob cedos
âspcctos, pela tei da gravidade, as isso nâo cxplica o que o gêto foi
lãl(r nu teln"do. po quc e\r.rcnr leln"du' por ouc tocê po".ui "n
gato... Há, cntâo, uma série inumerável de acidenies quc fizcram corn
que o gato caísse do telhado. A totalidade dos acidentes que oercanr
qllalquer acontecimcnto, por mâis ninimo que ele seja, é ilitnitadâ.
t9
IAluno: É ,1ais ou írcnos cofio a dilercnÇd entre ciência e
tecnologia: é a marye de efta. A ciêrtcitt é tona teotia petÍeiía' mas
na pÍática ela tem üfi companente de maryem de etrc ( '') )
Na tecnologia você tem que compcnsar, dc algum rnodo, a margem
ale errc. levando em conta uma acidentalidâde em abelto. e é por isso
que tccnologia às vezes depcnde de sorte ou de reza' À iecnologia
está abeta, e, na veralade, ela é muito mais râcjonal do que qualquer
ciência, se você pensar bem, porquc está muito mais ligada à
rêálidáde concreta.
ÍAlüt1ot EIa en,laba o descofihecido.l
glaenglobao alesconhccido. claro. Estámuito certà essa observaEáo'
O quc é uma técnica? É Lrm sistema em que se juntâm todos os
elem€ntos necessários pata a produçâo de um fim, e esses elementos
náo precisam ter nenhuma conexáo essencial entre si' Por exemplo,
você quer fazerum automóvcl e, para isso, vâi preci sar juntâr maieriais
totalmente heterogêneos: metal, borracha, plástico, petróleo e mâis o
ser humano. Existe alguma ciência que possa estüdar tudo isso ao
mesmo tcmpo? Náo. Mâs existe uma técnicâ de lãbricâr automóvel'
Isto significa que a técnicâ juntâ conhecimentos heicrogên€os não
vinculados por conexôes esscnciais, mas vinculâdos táo somente para
a produçáo de um fim. Entáo, a tecnologia é o máximo de donínio
da Íealidaale que nós temos. Em qualquer tecnologia, você sabe quc
vai existit sempre uma margem dc erro. porque nâo pode dominar o
conjunto alos processos calrsais, só uma parte, portanio, você produz
Lrm eleiio limitado por meios limitados.Mas o enloque científicoémais
limitaclo ainda. pois ele só abaÍca aquilo que 1em conexáo essenciâ]'
Eu já dei o exemplo de um crime. o suieito matou o outro na
esquina. Você pode dar un1a explicação ba1ística para o iato: un
projétil loi clisparado com lal potênciâ, a velocidâde loi tal, o impacto
20
loiianto. elc. A força de impaclo dabala explica por q ue cla atingiu um
(ngão vital? Se â bala chegar no seu dedo, o impacto é o mesmo que
sc cla chegar na sua câbeçal Isto significa que a força de impacto da
bâla é unr processo, mâs o proccsso anátono üsiológico da destruiçáo
.1. ur ro'gào\il"l e outro. niu Iern n"da enr .omun (on o prim(iru
Existem leis comuns entre a ba,ística e a fisiologia? Você pode deduzir
da lisiologia a bâlístlca, ou da balÍstica a fisiologiê? Náo Quando
lrá conexões essenciais. unâ coisa podc s€r deduzida da outra. mas,
quando náo há, se diz que conexáo é acidental. Náo se pode sabe!
rntáo, pelas leis dâ bâlística, se aquilo vâi atingir um órgáo vitâl e se
o sujeito vai morrer ou não. sendo preciso entrar com outra ordem dc
conhccimento, que é toialmente desllgada desta.
Essa série dc conexóes acidcntais é ilimitada em qualquet
aconlecimento e em qualquer fato da orden real, por isso se entende
't'r. rudri d\ conc\oc\ crurdi\ q-\ conhe.Lrnos )ao pdrciui' c
abstratas, estáo sempre colocadas dentro de um lundo de realidâdc
concreta, que é ilimitado. Mas a prova de quc esse coniunto forma um
lodo é justamente o fato de que as séries acidentais convergem em
irlguns pontos, e estao convcrgindo o lempo todo. É impossível, no fato
concrcto. separar um acidente do outro, porque, enr qualquer fato, se
lãlhar um acidente. ele náo acontece. entáo, a convergência das séries
rcidentais é a característica fundaúentâl da realidade concreta.
Sendo assim, cntendemos que só existe um conhecimento da
rcalidade concreta: à aberturâ para a tmnscendência. Se você tem
abcrtura para â trânscendência, iem a medida real de que está
dentro de um tecido de sédes causais essenciais e âcidentais
irbsolutamente incontrolável, do qual você só conhece um
pouquinhoi e entende que sua própda existência e o fato mesmo
de você cstar ali naquele momento também dependem disto. Isto
significa que ioda e qualquer ilusáo de controle racional sobre
21
o lluxo dos acontccimentos acabou. Vocô sabe que a própdâ
existêúcia da possibilidadc de um controle parcial depende de que
o lundamento da rcalidade esteja a seu favor e apelar à palavra
"acaso" ou à palavra 'necessidade,' é absolutamente lugir da
questão. Vocês entcndem que nada disso pode ser explicado nem
pelo acaso nem por uma necessidade íéüea, pois ,,necessidade,, é
um conceito quc só se aplica a séries causais comvínculo essencial.
O que é umâ necessidâde? É uma deduçâo lógica. entâo, dactâ
uma p(emissa. se segue nccessariâmente a conseqüôncia, pois elà
5e rrlêrc a me.ma côi\a e csra colocâdr pdra e.\J coi.a con,o a
propriedàd( cstd Loiucada parr a e.\, ncja
lAlüno Choüe fiuito, dá enchente.)
Isso mesmo, porque essa ó uma propricdâde da águâ: acumular-sc
num recipicnie. gntào. se nós estamos falando de conexáo concreta
entre umâ série infinita de processos êcidcntais, é clarc que o conceito
de necessidade nâo se aplica. Aplica se o conceito de acaso? Tânbém
nao. porquc o acaso lãriâ as conexôes acidentais também se concctarem
fAluiâ: A nAo ser que ?ocê pergunte de onde prctén essa
necessiàade. Aí se aplica (. ).1
Náo, o conceitode neccssidade nâo sc aplica de icito nenhum, só se
apiica às lhlÉs que iên conexão essencial. Nenhuln vínculo acidental
tem neccssidade, e nós âcâbâmos de ver que a reâlidade concrera
consisie na interconerào e na ligaçáo inseparável de uma séÍie infinita
de conexóes acidentais que fazem que as coisas aconieqam exatamente
do jeito que aconteceram. O conceito dc necessidadc não se aplica. e
nuito mcnos o conccito de acaso.
22
[Aluno: ,lÍas o fata de eLã set acidentaL nà.o quet dizet qúe a1o
eúste aLgunt tipa de ríncltlo (...) ?)
Exisie um tipo de vÍnculo, mas a gente já sabe que náo é
ncnl necessidade nem acaso. Não pode ser acâso e náo pode ser
l{l]lnat Pot que não pode ser acasa?l
Náo pode ser acaso po.que o conjunto dâs conexões acidentais já é
ilimitâdo. Se esse conjunto iosse presidido pelo acaso, suas conexôes
làlnbém seriam casuais, as possibilidades de combinações das séries
âcidentais seriam absolutamenic ilimitadas e a possibilidade de que
qualquercoisa continuasse exisiindo por mais de uns poucos segundos
scriâ limiiadíssimà. Por exemplo. ceÍos processos naturais, alé suâ
própria vida, eu iá cstou exisiindo aqui neste planeta faz 56 anos, e
isso quer dizer que o conjunto dos proccssos essenciâis e acidentais
que me botaran aqui continua funcionândo do mesmo jeito.
lAlúo: (...) O tíÍula do cutso é "Histótia Esse ciaL da FilosoÍia".
Ose hot lalou da tensão entre aquiLa que se mantém, o contín uidacle,
Claro. mâs acontece quc, se os lãtores âcidentais nê História da
Filôsôfia dil!íssem a snâ essência. nâo haveria História da Filosofia.
o que eu estoü querendo diz€r ó que. no meio de uma séde infinita
de âcidentes inclusivc o nasciniento de novos filósofos, porquc de
nenhuma filosofia se pode d€duzir que em scguida vai nêscer olrtro
filósofo , de algum modo o conjunto desses acidentes continua
susientando historicamente uma essênciâ reconhccivel. O número de
processos continuos e Íeconhecíveis é, entáo, muito grande.
23
[Alüno: O asci le to de klósolo dere set um aciilente?)
É cellâmcnte um acidentet Não teln ncnhum mLriivo para o slrjeito
scr lilósofo. acortecerl
[Aluna: Se, pot eremplo, üocê anda fia rua, pega ufia bala Detdida.
Ífiofie e caí aLi, nào é um ãcaso isso?l
É un acaso que a bala pcrdjdâ arinjavocê. Mas é tambén um acêso
quc Yocê morra quando ela lhc acerra no cér€bro? Há aí umâ concxáo
essencial. Quer dizcr que o sujeito âtingiclo nun órgáo vitat nuito
prcvavelmente morrerá.
ÍAlú O Íato de harct uma conwryê Lia entrc latores esscnciais
e fatarcs acide tais mosífa que necessidatle @]11o erplicação e acaso
cafio eaplicaçâo não lu cíonam_ tu cionafi cana peryu ías.)
por quê? Porque nós estamos falando de ütna conexáo insepará\,el
.nlrepro(c..n\ern \ ii,cdcio.nra'.. ura.u.o.(r:rode ne.c)rio"J.
só se aplica ao essencial, c o conceito de acaso só se apljca âo
acidenial Se estamos falando que realidadc é a conexáo inseparável
dessas duas coisas, entáo é e\,ictente que nao sc pode explicar nem
pela necessicl:rde nem peto acaso. 
^ 
própriâ existônciâ da pergunta
"neccssidadc e âcaso" é sinâlde perda do senso darealidade, pois você
cria os conceitos. Os conceitos tógicos cle .,nccessidade,,e ,,acaso,,são
iâcilmente identifi cáveis.
lAlrna: O conceito de necessida{le está ligado com a tletetninisma?
(...))
Sim, ó â lnesma coisa. ,,necessidade,, e ,,determinar,, são a mesma
coisa, então existe um detcrninismo lógico. Dadâs duas premissas. â
conclusâo se segue necessariamenie por excmpio. você pode conceber
um determinismo físico: dadês cellas condjçôes, certos iênômenos se
?1
pioduzirâo nccessâriâmente. Mas scja em determinismo lógico, seja
.m lisico, sejâ em qualqucr outro, ele semprc sc relere a conexôes
.-*1ciai. .ao reLe§\rriu. porqu( )âo e',cn(iri., .5"o e,\enLrri\
Doque são necessários. Acêbamos de vcr que, parâ que quâlqrer
lato acontceâ, por mínimo que sejâ, é necessário que suas conexôes
c$sencinis se cruzcm e se mesclem inseparavelmente com um número
ilimitado de condiçóes acidcntâis. Isso significa quc â união estreita e
inseparável de essônclâ e acident€ é a narca distiltiva da dirncnsáo que
na» chamamos realidade. X,tas se necessrdade é outro nome do essencial
Lr acaso é ouiro nome do acidental, então éevidente que â conexáo de dois
clcme.los nâo pode scr cxplicada unilâterâLncnte por nenhun dclcs. A
nào ser cn1 condições ideais, em um mundo imaglnado - dâí você pode
iIrâginar um mundo que seja llrtalmentc acidental e o chârna dc acaso.
. imaginar un1 nundo quc seia totalmente esscncial e o chana dc
d!terminisrno, mas (r tudo invençáo dasuâ cabeça.
lt]luno: É a mundo de Espi asa.l
Bom. Espinosa ainda Íeconhecia a cxistênciâ cios acidcntes, ele só
dizia que isso não inter€ssava.
IAl:.]no: Nào é neLhat a Eenle üíúer no tnundo d.ts Íals.rs premissas
( .)! )
\h (lrrut.ec.c nr. rorna'.(u ,,1a\(l' l- e'ilrmcrre is.oque
rs pcssoâs estilr lazendo. Você invenia um mundo irreal. baseado no
acàso ou nanccessidade. no que qucira. mas o tàto é que vai continuar
vivcndo e existindo no outro mundo, no mundo rcal no qual você náo
presta atençáo, entáo suas ações c suas palavras terão conseqüénciês
rcais em relaçâo às quais você pennânecerá totalmente inocentc. Isso
quer dizer que a ilusáo de dominar o fluxo dos acontccinrentos airavés
do lechanenio em um esquena finito produz eratânente a impotência
de agir e de exercer até mesmo aquele controle mínimo âo qual nós
temos dircito. Só que, para exercer o controle mínimo, nós temos quc
reconhecera cota de abertura que está nas máos do tundamento, e náo
na nossa. Isto a humanidâde inleira fez, e lambém reconheceü que o
fundamento era ativo em relaçâo ao lundamentado.
O Iundamento não pode ser, poltanto, lotâllnenle desconhecido
por nós, porque tudo aquilo que conhccemos vcm do púprio mundo
da experiência, que é o próprio mundo que o iundamento está
fundamentando. Nós náo escapâmos da âçáo desse fundamenio ncm
um único minuto. e nossâ consciênciâ e nossâ inteligência tânbém
náo podem ignorá-lo coÍnpletamente, porque ele está agindo sobre elâs
o tempo todo.
Os cálculos humanos normais sáo leitos, eniáo. num esquema
probabilistico limitado com uma abcrturâ parâ o fundamcnto, e é isso
que Sanlo Tonás quer dizer na hora que 1ãlâ que os nuçulmanos
também sâo racionais. Elcs tôm a mcsma experiência da rcalidadc,
e suâ razão tira premissas da mesmâ estrutura de existência nâ qual
nós estamos Isso quer dizer que aquelas prenissas com as quais ele
discutia com os muEulmanos não servem paradiscutir com um tilósolb
de hoje.
[Aluna: r]f/rs setüiria para discuÍit com algué que ão Liüesse
mais rclieiLto (...)?)
Clarol Mas estou lãlândoque isto náoiemnada aver comreligiâo, é a
estruturadarealidade. Religiáo jáé umadisciplinâdeâberiurâ daâlmâ.
Abertum da alma todo rnundo tem. Sc náo ela existisse náo poderia
existir religiáo. Quer dizer, â abeúura da alma para o lundâmento é a
estrutum humana fundamentâI. O ser humano é o bicho que t{rm essa
âbeflurâ. os outros não têm: os outros naio sâben nâda desse negócio,
iodos eles vivem num Universo lechado. É a fam osa teo.ia do umuelt,
26
o "mundo em torno". Isso significa que, do conjunto dc dados que hlr
',.r\reriur Lâda e\pe(ie "ni nal "c.cb.umrp0Íemuilolimradá f.^
pegaras várias espécies animais e perguntat o seguintc:quando loi qlre
um urso polar tomou consciéncia, pelâ primeira vez, da existência de
Uma giÍala?
l{lüno: No zaoLóeico.l
Quando alguém os juntou no zoológico. E quem os juntou no
zoológico, foi uma gimfâ ou um urso? Foi um ser hlrnrano. Isso quer
diTer que o ser humano inlorma a uns animais a €xistência d€ outros,
ó o único bicho que pode Íazer isso. Portanto, â noçáo de mundo, a
noq,to ecológica, dc que nós estâmos todos no mesmo mundo. é só
o homcm que tem, os bichos não, e por isso somente o hon1eln lem
noçâo da aberluÍa pârâ o fundamento. Parâ unl animal, tâlvez â coisa
mais próxima que ele tenha da tÍansc€ndôncia sejamos nós. Quanlas
vczes, vendo o olhar de adoraçáo que um câchoffo volta ao scu
Lloru. eu persn Llc pen.a qur (u .ou Deu\'" f pnrquc pa_ecú unrc
iranscendôncia, sou um Iator incomprecnsivel, mas nào totalmente
dcsconhecido. com o qual ele conta para alguna coisa. E ele sabe que
uma paric daquilo que lhe acontece vem dc mim, mas náo corlirola o
Iluxo dos âcontecimentos. entáo rcsponde com âdoraqáo
Isso significa que a abertura para a transccndência é o comeqo, e
â adoraçâo é o segundo passo, é ficar maravilhado com aquilo. Essa
é â estrutura humana normal. O que isso tem a ver com religião?
Nada, porquc a religião é apenâs uma das maneiras de fâzer isto,
ljlê aparece muito depois. Mais ainda: na medidâ em quc se tenl
uma rcligiáo e eia se cristâliza numa doutdna, pode tambén virar
um mundo inventado, pois fechou tudo numa explicação, então
nao precisa mais de êbertura para o infiniio, porque iá está tudo
no Códígo de Dircito Cdnônico. Yocê pega o Trotado Doemático, o
?,.
Dircito Cafiô ico, ptorto, fechou tudo, entáo a religiáo também se
toma uma forma de alienaçáo da realidadc.
Veja, Sânto Tomás de Aquino náo deiü de ter aiguma culpa nisso,
porque tez uma doutdna táo bem feita que âs pessoas às vezes falam:
"Nós náo precisamos ter aberúra para o infinito, porquc nós temos âs
obras de Santo'Iomás. tudo está explicâdo lá". Eos câras esquecemque
Santo Tomás de Aquino, às vésperas de morrer, disser "Olha. eu percebi
ceÍtas coisas perto dâs quais tudo que eu escrevi é nada. Aquilo já tem
umâ refcrência à transcendência. mas eu dcscobri mais coisa lá en1
cima que náo dá mâis para explicar". Existe entáo na história hlmana
uma sórie de tradiçôes de pessoâs que pâssâram â vida olhando para a
trênscendência c sabem algo dela. Esse êlgo é dificílimo de fecharnuúa
doutrina no sentido científico. Por exemplo, uma doutrina, um dogma
religioso, pode se erpressar de maneiras que náo seriam admissíveis
numa teoriâ científica: "Crcio em um só Deus, Pai otlipotentz..." . O qve
quer dizer "Pai"? É gerâdor É só isso? Deus é pai no sentido carnal?
Nâo, então é outro sentido da palêvra "Pai". "E em Jesus CtisLo, seu
Linica Filha, Nossa Senhol..". "Scnhof', em que sentido? Ele é nosso
proprietário? Você vê qlre sáo figuras de linguagem.
fAllrno: Para dízer o que z)ocê canseguiu dizer fiesses últímos
quínze, Dínte mitutos. Uma fiEura tefi tantas...)
Éuma figura de linguagcm que pode ser compreendida só por qucm
tivcr abertuÍa para a trânscendência c â atitude coÍÍeta, senáo nào dá.
Nâo dá pârâ você dizer: "Olhâ, o sentido dessà doutrina é esse assim"
c fcchar numa teoria certa.
lAlüno: É como a aryuiíetunt dD tempto. dÍt igteja. Se aoú soubet
decoàíÍicat o signilicada (. . .) , poque é daqueLa Íotma, pode aÍé setüit
de acesso a essa abettuq (...).1
ZE
Mas toalas essas explicâçóes ajudâm ou âtrapâlham? Às vezcs
aiudam e às vezes atrapalham. O que intereisa náo é a explicação.
O suieito cstá falando isso náo é paravocô er .ender, é pârâ olhar parâ
cima. para ter a âbertura tâmbém. Entáo, se vl,iê rntra numa discussáo
doutrinal, fccha a experiência básica. Tcm que ter âlguma discussáo
doütdnal suficiente para você entender o nírimo necessário a fim
dc sâber paÍa onde olhar. Mas com a discussáo doutrinal acontece o
nrcsmo como dizia Buda: o sujeito aponta a Lua e diz "Olhâ, âquilo
Lá é â Lua", daí o outro olha para o dedo e pensa quc ele é a Luâ. Isso
queÍ dizer que a expressão doutrinal, ou a expressão simbólica, ou a
cxprcssão â ística, todas essas expressões sáo um canal para propiciar
a abeÍtura para a transcendência, mas também sào meios de fechâr,
pois sc presta atencão nelas e náo no que está para lá. A abcrtura
para a transcendência ê a naturezâ humana, é a condiçáo humanâ, é
â realidade da nossa experiência. lsso tanbém significa que, sc você
ftcha, está numa realidadc inventada, foi paÍa o mundo dos sonhos do
I terácliio. um mundinho no qual você tem algun] controlei mas que
só existc na suâ cabeça. Enquanto isso, você pensâ que está no seu
mundo, rnas nós que estâmos aqui de fora sabemos que você está no
nosso, e que você, âgindo lá no seu mundinho, está de lato âgindo aqui
no nosso e desencadeando elêitos sobre nós dos quâis você náo tem a
mais Ínínima notícia.
No tempo de Santo Tomás ainda era possível fazer uma discussáo
inter'religiosa nâo baseada em allÍoridade religiosâ. em dogmâs
rcligiosos, porque se contava que. entre culturâs enormcmcnte
diferentes. a estrutura da realidade era a mesma. Hoj€ em dia nó5
estamos mais sepârâdos. Digamos, cu estou nais separado da cabcça
do Leandro IfundeÍ do quc Santo Tomás de Aquino esiava separado
de unr muçulmano no tenpodele, porque eu vivo num mundo e clc
29
[A]una: Á Suma contra os genlios pode set sepauda do lesÍante
da obru de Santa Tomá\ no sentido ile que o rcstante canstitui o
estorya de (...)?)
Não, é tudo a mesnla coisa. O fato é qlle â relaçáo que Santo Tomás
estabclece entre culturâ mundana e culiurâ sacrâ é a relaçáo que estou
estâbelecendo entre conhecimenio por expedéncia humana e abertura
para a transcendência. Tudo que você conhece vem da experiêncla,
mâs só vaie se colocado dentro de um quadro de reterêncià infinito
e abeto mârcado pclâ transcendência, e se você tiver, para com essâ
transccndência, a atitude correta, adequada. do ser humano. Essa
atitude é, primciro, de abeftura; segundo. de confiança, senáo você vai
ficar atcrrcrizado e vâi emburrccer; e d€ devida reverênciâ e adomÇáo
que isso mercce. Se você náo tem isso, náo é gente. Sc você o laz porvia
d€ssa ou daquela religiâo, se o laz por viâ religiosa ou por outra, tanio
faz, pois todas essês vias às vezês ajudâm e às vezes âiÍapâlham.
Era isso que Einstein queria dizer: que, se você esquecesse a
pergunta pelo ser, nâo podia fazer ciência, porque sua ciência ia se
relerir êo Universo inventado. Isso é grave. Entáo, quando hoje a gente
vê qualquer manual dizendo que a obra de Santo Tomás de Aquino
visou articular razáo e fé, ou equilibrar razáo e 1é, ou hamioniza! isso
c\ra lotalrnenre crrado F impuc.rvel harnonizrr un".o.so (^m il
outra, porque a diferença de plano é brutal. Ora, a âtliude de abertura,
conliança e adoraÇáo se chamâ Íé, é isso que é a 1é. Já expliquei que a
palavrâ "fé" náo quer dizer acreditar numa doutrina. Àcreditar numa
doutrina ó um aio puranente voluniário. e está âindê dentro do seu
horizonte de experiência.
l{luno Setia acrcdíLat ê tratlscendê cia (-.-)?l
Nâo, fó náo é acreditar. Fé ó abertura, é confiançâ e é adorâçáo.
30
l{lúno: A palaura inglesa Íefi raiz em lo.Je, não é?'lo believe...
Ia em hoLandês tdfibém. Entào tem uita mais a oer com amor ào
(lüe cofi outfa coísa.)
Clâro, com amor, com confiança, cic. Porque por âí você fica
r r.r nqü ilo e perccLc "lgo dali. 
pelo meno. o nêce)sdtio oara .u" propria
vidâ. Mâs se você fecha, não percebe nada, e automaticâmente tudo
âquilo que sai de dentro do estreito hodzonte de referência terá que
ser erplicâdo ou pela necessidade ou pelo acaso, ou por qualqueroutra
coisa mágica que você invcnta! e nâo pela estNtuÍa dâ realidadc.
lÁ.l]Íto: Qüat1do o senhot laLa em abettúa. quet dizet aceitaçâo
daquiLa que se maniÍesta ? ]
Náo, âberturâ quer dizer abertura, quer dizer que náo dá para
lcchar O que quer que acontcça. o cortrole não estána minha máo, o
conhecimento do conjunto das conexóes náo cstá na minha máo, mas
dcpende do lundamento. E o fundamento age sobre mim e, qualquer
que ele seja, tem razáo do que acoútece e terá sempre razáo, em
Írltima análise.
l{luno Então não é uma abetÍma em sentido psicoLógico.l
É aberturâ em sentido psicológico, siln, mas é nrais do que isso
É em seútido exlstencial, €spiritual, é vivencial. é você sempre contât
com isio. É isto que a Bi'blla qu€r dizer com 'Abraão caminhâva diante
de Deus". O que é isso? É que, em tudo que ele fazia, cle sabia que
âquilo estava prcsente o tempo todo, ou seja, ele náo Íazia abslraçáo
do fundâmento. Claro, nós podemos fazer, pois o nosso cérebro náo
agüenta se colocar o ienpo todo nesse nívcl, que exige uma tensáo
de consciência muito Íorte. Às vezes esquecenos e lidamos apcnas
com aquela parte operacionâl que está ao nosso alcance. mas mesmo
quândo estamos Iâzendo lsso temos que saber que exisle o "pam lá".
.1r
l{luno) Você pode aÍé se re?)oltat conÍra isso, mas aa se lenoLtat
í)ocê já rcconhece que exisÍe. paryüe acho que nao pode negat, fião
pade negat que ex.iste.l
ÍAlútlo: Se aocê se rcüolta, é potque üocê estti aceiÍancta.l
Olha, eu nâo acredito emnada alessenegócioderevolta. Éo seguinte:
o sujeito primeiro fecha, quer dize! ele nâo está âberto parâ aquilo.
náo sabe que aquilo existe, raciocinâ como se nâo existisse. e desde
esse horizonte 1êchado, que ele mesmo traçoui percebe que acontecem
coisas que vêm de fora e contrariam sua vonlâde ou sua mzAo. dâí ete
ficar revoltado com isso. Êle cstá revoliado com ele mesmot Revoiia
contra Deus? Faz-me rirt Ninguém se revolta contrâ Deus. Você se
revoltâ contrâ um negócio que você jnventou. A dimensáo châmada
"Deus" nâo pode ser contalada por mcio alâ rcvolta. pois a rcvolta já
pressupóe o fcchâmento, e se tem fechâmento náo tem contato. ou
só tcm contato inconscicnie. Ele está lhe contatando, mas você náo.
entáo você contlnua suleito a tudo aquilo que provém do fundamento.
mas náo sabe. Entao, ao iado daquele horizonte que você mesmo
traÇou, você traça outros làtores a que chama de ,,acaso,,, c1e ,,o mal,,,
de quàlquer coisa que seta, e lica rcvoltado contra isso. poale até
chamar de "Deus". Mas isso é problema seu, é sempre um problema de
fechamcnio na subjetividade. é uma recusa da estruiurâ da realidacle.
l{lrjna: O que se cha la efitão ,.cultura sacra.' seia eÍatamente
uma sociedade onde essa dimensão é recanhecida, é conhecidít pot
todos ou pela maioia, campaúíLhada pot ptáticaj enÍim. É potque é
culíura sacru. lsso é inditidual ou é caleíiL)o?l
Bon1, aí elr náo sei. para que exista coletivamente, ela primeiro
precisa cxistir na cabeçê de pelo menos um. Santo Tomás de Aquino,
por exemplo, como é que ele aúiculava isto? Ele sabia qu€ toda
32
â dimensáo da cultura mundânâ, .r cultura obiidâ pela experiênciâ,
acessivel âo scr humano, tinha sua chave de âbóbada na abertura
parâ a transcendência - então. de certo modo, a transcendência erâ
o limite dâ cullura mundana, ela subia âté um certo Donto e dcpois
precisava âbrir para que o próprio lundamento da sua racionalidade
lbsse assegurâdo. Nâo sc trata, portànto. de razáo e fé como espécies
do mesmo gênero. A fé é a base da razão, sem 1énâo tcm razão alguma.
só se iem os procedimcntos racionais. como. por exemplo. gramáiicn,
lógica, matemática, etc.. sepamdos uns dos outros, inarticulados,
usados como 1êtiche. EnIáo. náo se tcm que hârmonizar razáo e fé,
pois a fé é o tundâmento da razáo.
É clâro que cxisie um q antum de $zao com o qual você nasce,
\ô que e\!e quantutn to\i\te rpcnds J( opera.oe. oarciãis que
em si mcsmâs náo significam nada, e que só servem para tratar de
coisa muito pequenâ. Você vai um pouco âcima daquilo e o negócio
já se desariicula. Isso significâ que a integridade da ÍazAo supôc a
integridade da alna, a integridadc da psique. A integridade da psique
rão é ulrla integridade de um todo Íechado. Ínas exatamente de um
lodo aberto. aquele todo que está continuanenre sendo preenchido. É
por isso que a Bíblia vai chamar â alma humana de "vaso". Vaso é algo
quc c preerLhiou de tora. rdo se e,rche de aguo a 5i mL\mu
Quando falam que laziam aquclc debale de 1é e ciência, eu digo:
''Você náo iem ciência alguma, náo sabe o que é ciéncia, está fom da
realidade. Você inventou um esqueúinha seu...". É claro que o idiora
tem senpre umidiotamâior que o admira, entáo se inventâ umnegócio
que é umâ buúice, mas é umâ buüice cornplicada, e sempre haverá
pessoas quc prestem atençáo naquilo e eniren dentro como se fosse a
transcendênciâ: "Bom, eu não sei â explicaaão, mas Ifurl MaI]r sabe,,.
Esse é um processo hipnótico apcnas, o que faz que você vá tratar os
filósoios como se fossem deuses mesmo.
33
Budatambén dizia que. no fim dlrs rempos. os homens se trutadam
uns aos outros conto se fossem deuses, c assin seriân deuses uns para
os outrcs. Mas isso já está acontecendo r
exempro. passa a vida inteira .il";;:'"1**,,,"::i:"1J,.::;
que elc 1ãz náo tênl rcspostas, mas ele acredita que elas estao lá nomarxismo, ele é que não percebcu ainda. ljaí ele fàz uma revisáo daieoria, modifica-á. ou seja, ele mesmo está inventando o rnarxismo eestá âtribuindo o méito a Karl Marx. ,á se aiâstou infinitanrente dateoria do Marx, contjnua ir\,eniando outras, mas acredita que tudoaquilo cstava Iá dentro.
lAlt no: /\.o e,,a?l)o na d?ini\ao qu. Ro.t ntroch do dp Dcus.
-u^1^u^1t:c:P nd to' rnht".5t toce tota a pouitde v!/y úu quatqt,pr
catso do eén?jo ele e o \eu dcus I
^ 
Aü, ceÍamentet Mas, notc bcm, tàzer-nos tãlar é un atributo deDeus, entrc infiniios outros
[Al]JÍ.to: Assim como a douttínt1 rcliliosa, a obra ite ate sapada,qualquer ate sacV, tambéfi seft)e para (...).1
'Ianlbém servet Torlo e qualquer elemento de abertura quevuce ,ré pirrâ o .uiciru. elc Dodc u.ir J,arir rr tecl)Jr, c e\ rcjcnr.r{'rquc e.\d c r ba.e dc ludo crrô d idolarria DeL,r, .o rrn Irnetemo, inlinito e imutável, ponto final. U 
"",, no.". Só tem esseDeus. Qualquer ortm coisa que você ponha no lugar. você já cstácomeçando a conlundir.
[Al]no \ot" tata ..ta tpn p,,p Dpn\ Ote, .., :, "tf o l-rdam(nrn dc ruJoqu(c\i,r(. E.onocquc\,^e lar pd.d
conhecé-lo? Você ienl que estar aberto pam o que esiá atérn dc todaexpcriêncja possível. De fato, é só isso, nlas você nsa tudo aquilo que
1.1
homens anteriores a você pcrcebcram, o que pode lhc aiudar e lhe
n,pirar D"r" chegrr ,a. ma, tamb(r,r nooc "lrj pâ,har
lAlüna: Você Íalou en enÍrut fiuma cateirat gótica.l
Claro_ quâlquer templo, como quâlquer c)jeto de arte sacra. é
trmbLm obieroJe rdolô id Ma. \o,i naopr.ci.àseprcocJpar mu u
com isto. porque a âbedura pâra a hânscendência é da natureza
humana. ou sejâ, o lechânento é quando o sujeito está mujro louco.
Vocô não precisa se preoclrpar. (.. ) Santo Ionás acreditava que os
muçulmanos tinham essa aberlura ianto quânio ele.
[Alu o: Nao ocoÍria que eles pudesselfi nao te], essa túeríüro?l
Nâo, nem ocorreu. E, se ele Iosse djscutir com os papLras aa Nova
Cuiné, ele ia estâr iguat. Mas se cle entrâssc llojc numâ universiclade.
eu nâo sei... ,i{gora eu vou teÍ que transmitjr ê esses indivíduos, eu
náo posso raciocinar dentro dessa experiênciâ comum porque eles náo
a tém. Eu primeiro prcciso fazer que eles se abram parâ a experiôncia
pâra depois poder con!ersar com eles.,, É como um homem conversanrlo
sobre os problemâs da sua i.ida adulta com um garoto cle três anos.
Náo é un problemâ de raciocínio nem de culiura. na verdade é üm
problelna de expcriência humâna.
[Aluna: S? ele tiL'esse conha:ido os inclíBetu$ da Anéríca. clc
ta bém (...).1
Certârnente, nâs isto é a humanidadc intciÍa. O que âcontecc
na cultura moderna é Lrm negócio muito esquisito. é uma produçáo
oc iL,úld iJs ab.u,ulJr rcrl< rn(unrrdra\e, fon rudo qr,e pn*J tc,
acontccido eln outra época.
IAlrno: Não é utn tipo de discutso poético (...)?l
t5
li nào sci. Quândo você fala dessas coisas, há pessoas que
cntcndcm e ouiras qlre náo eniendem. É porque elas qu€rem cntendeÍ,
e não se trata de entender, mâs de ter a experiência. É um dado dc
cxperiência, nâo é umâ idéia, uma douirina. Você nâo pode iÍansmitir
um dâdo dc expeÍiênciâ. só pode iransmitir símbolos delâ. Então. se
tcJn â expedência, no discurso poético. o que ele laz? Ele é un símbolo
de expcriência Uma pcssoa eniende por um síúbolo, outra entende
po. uma explicaeáo doutrinal, outrâ entendc dc üm terceiro jeito, ê
outra cntende só se você encher a cara dela de porrada... É como a
hisiória zen-budisia em quc o sujeito pergunta: ,,]!Íes1re. qual é o
scntido da vida?". Ele pega e metc â cabeça dele numa tina d,água.
O cara se alôgando, ele diz: 'lá entendeu?'. "Nâol"
Esse método tambén pode funcionar corn umas pessoas. e com
outras náo. À gente cstá se Íeterindo à realidade, à expcriência, à vida
real, portanto. não é algo transmissivel de uma pessoa para â outm.
Para eu the trânsmitir vidê reêI. eu prccisaria criá-lo. precisaria ser
Deus. Em principio, todos os seres humanos vivem dentro da mesma
csfeÍê de experiônciâ e tên1 âcesso a isso. Mâs, e sc o sujeiio esqueccu,
ou se o mundo de idéias dcl€ é táo atraenrc que ele náo conscgue sair
de dentro daquilo? O que quer que vocé diga. elc vâi reinrerpretar nos
termos da sua doutrinâ, da sua teoria, ele acha que é rcoria também
l:nrJU. u ap.ln a e\peric'lcia ,n vale (un p,,.na. no, rri,.
ÍAlrno: Essa abettLia, digafios .tssim, Liaetlciada ha estamefite,
implicatia saLaaÇão?l
Como é qlre eu volr saber? Sei lá.
l{lüno: Foí tnuita bom auüi ísso.)
O que dciermina â salvaaão da aln1â. a imoriâlidade... Bom. você
cntende Íacilnentc que imlrrtalidadc ó umâ nuneira de dizer âlgo quc
você p€gou dessa transcendência, entáo, 'imofialidâde" éum simbolo,
precisa ser alecoclificado O que se quer dizer êxatamente conl isso?
Você lem uma série de acontecimentos nâ ordcm histórica que lhe
assinalam elementos dessa âbertura, clementos do fundânrento que
aparecem nâ sua frente dc algun modo, e iodos cles incompreensiveis
no sentido c1e que náo sáo abarcáveis. Àté a experiênciâ comunr e
corrcnte humana i€m elementos inabarcáveis. Por cxemplo' você pode
explicâr uma pessoa? Náo. só pode explic âlgo dessa pessoa, um
hábito. umâ idéi.t, umâ aparência. uma calacierisiica. mas cla inteira
não dá pâra explicar. E se náo dá para explicâr nem uma pessoa, como
é que sevaiexplicar o fundàmento? Ora. o qúevocê lalâ de uma pessoa
é compreensível para outra que ou â conhcça ou seja pelo menos capaz
dc imagina! porque tem a mesmâ experiência'
L r" 'ujeirn qtre rdla do tundamcnlu F a mL'nrd 
(úr\a s( !ocL
tcm a experiência, sabc do qüe cle está iàlândo: se náo teln, náo
sabe. Às vezes pode aconteccr de o indivíduo se lechâr ianto no seu
pensamento - sejâ o pensamenlo individual. §eja o do seu grupo, um
ialeâl colctivo que ele náo concebe mais a expcriêncja fora daquilo E
ele conlinua vivendo dentro do mundo reâI, âí é só na poÍradâ mesmo'
Às vezes a vida dá uma porÍada, comcçam a acontecer coisas que
escapam tanto alo seu controle, da sua ieotia, que daí você se âbre c
diz: "Meu Deusi''. E eu digo: 'Ahl Começou a entendetl"'
l\l.:ino: É a histótia de que, se não 
-trem pelo amot' Üem peLa dor')
Vem cle um jcito ou.lo outro Quantovocê precisa dc experiôncia
para abrir, para qucbrar esse "ovo lógico" no qual você se meteu?
Sc você tcn muitas pessoas quc conÍirmam seu discurso, sua tcoda,
lica difÍcil sai( porquevocê mal acabou de perceber algo e já vcm ouiro
que lhe ajudâ a fcchar de novc,.
37
l{lüna: l: ít nluito longe paru.rz)istúr a si mesmo tai isso qLLe
aconíeceu com a ]!rcja CúttjLica? Às Lezes essc pncesso quc z)ocê .ljz
começou lo4o após a queàn da tmpérb Rona o, tu l1ao sei sa issa iá
O quc eu sci é que a sínresc tomiía ó maravithosa, resoh,e unr
nonte de prcblcmas cm leorias. dá umâ rcceita À,tas a receita nâo cura
r.i ,gu.,r rpre('-,rôI"r ôr\r,,._iu., ut;rôcrt , ,,n! !Ir ôrumoú
[ \1.,n, A, t,o,tt,? r,,r" p,tIo.ia]tLu t\\ú úrt . tt,,t\) t ? t\u,to L)ttn
Quet dtzet. asrcspostas tle SafiÍoTollis sào ptoblentus e 1 Atistóteletj.
eLe rcÍletc aquilo.)
ru não entcndi onde você está qucren.to chegâr
[^]una: Os ptoblanas de históteLes que a EscokisÍica
l\'las essa ó uma outra coisa. Os problenlas de^risiótclcs são uÍra pâÍe
do regócio Eu csiou 1àtanclo da esirutura gerat da obra dc Santo tbnás
Vanros dizcr que ó como se losse uma müÍanha cujo iopo. na vcrdade.
é se lundanrcnto. Entâo locê teln a montanha .los conhecinentos
hunranos. c ela csiir toda pcndurâdâ enr cima. A morianhâ nâo esrá
assentâda cmbairo, cstá pendurada eln cima. e essc "em cimâ..é
justânrcnle a dirrensão da tó Náo ten1 nada a ver.
[Afuna É l-..) a]1riLÍEo. tnas é tü oL1ü.o ptoccssa.l
Tem a ver mas é unl dciathe. é unr outro depal.lamcnil]. O que
eu quis irâzcr aqui é o espirito da obra cte Santo.Iomás. náo
propriamc ie scu conteúdo. O conteÍrdo ó incsgorávcl, pL,is só o Ír.lice
das sLras obr:is tinh, dczessctc volurres, c ele rúücu com 4li ânos.
E o espÍrito da coisâ ó estc, .ào ó harmonizar razáo e ta A própriâ
exprcssio não tcm o nrcnor senljdo. Uxiste uDra ceÍa razáo nanrr.l
It
quc opera autonomanenle âtó um cerlo ponio, depois náo vai, pois
seu lundamento é o rcsmo tundârrcnto da própria natureza Então.
assim como a nâturezâ nao podc iurcionar âutononlament€ forâ .11)
scu tundârrcnto, a râzão hulnanâ tânrbém náo pode
[t\)vt1ot E ele ca sideru a ]talurcza como a PalttÍ)la de Deus. aoi?)
Sem dúvida. as dtlas coisas sao â Palâvr de Deüs. Vai aparecersob
a formâ de Palâvra de Deus, sob a fomrâ da natlrrezâ, e soLr a lbrma
cla lncârnaEaro â tÍipla lorn1a. De ccrto modo. â dica. o sinâl eíá cnr
loda pârte, náo tcm con1o você cscapar dele Mâs por que a pcssoâs
não percebern? Elas nAo pcrceben porquc qucrcm escapâr E querem
escâpar por quê? Porque a nbeÍürâ dá medo. Qnândo o süjeito diz:
'A religi,rr, é um tranqiiilizantc pêra tirâr você do medo", rcspondo
"Vocé nâo sabc o que é mcdo, ididâ"| "li,,lor"Datnitli Prilcipiunl
Sapicflliíe", {) temor de t)eus é o princípir) dâ sabcdoriâ
O que ó o tenlor dê Dcus? E vocÉ r'cr o tamànho c cniender quc
esrá nul1l cstado de submisslto inicgral. qlrerendo ou nào. O quc quer
quc aconleça dcpende dessc fundâmenio. É 1á que está a chave de
tudo. é Iá. c não âo mcu alcance, c náo na naturezâ visível, e náo cm
rcnhumlâlorconhccido. lbdos os Íatores corrhccidos sao apenas nexos
parciaj!, que, por sua vez. iôn que seÍ articulâdos. lntáo o nledo é o
corncÇo dc tlrdo O mcdo. o tenror dc Delrs. O quc ó o lenor dc Dcus?
E você conrprccnde! é leÍ uln relance d€ssâ abertura, qüc no inicio
vai lhe deixar completârncnte desorientado. pois ludo aquilo que vocô
pênsâva que eslâva írb seu conrrolc já n,to estava de mareim âlguma
lAúno Nefi cli co scq êficia de ter tido essa abettura. Aabetturu
Claro, â âberturâ gertL o nredo. O prnneiro sintona é o mcdo,
l9
l{luJ:a: O sej l1un1tfia camprce d.et que ele ão pade nanipulat.
Lle pode i t)ocat, ele potle alutal. o qüe eLe t1.to porla a nanipulat.l
Ile náo lnênipl â nada. Então. o pouco de conliole que tem sobrc
o fluxo dos âcorlccinrentos clepencte de ele estar articulâdo com cssâ
raiz. l,l o que diz o Cristo: "Scnr nrin] nâdâ podeis lazer". Nell1 podc
lAlüno: ( ) a sítnbolo dísso é o loto. àoé?l
\ ,.. r.r rrn L'dô. .rrou,i, J +u. jirr|| n. ,ai,a q . .r, In,. r.
ocorriâ. Quando eu morâva cm Ubatuba. eu tinha uln vizinho chamado
Nélson, corrplerâmente louco. que gostavâ dc nadar numa pmiâ onde
ninguém nadava, porque tillha ondas de cinqüenia mciros. Era Iá
m€srro que ele iâ, e eu ia só para vô'lo. Ell lalava que nalr ia entrar
mquclc ncgócio, mas ele enlr-.Lvil no meio d'água. sumiâ. daqui a pouco
apârecia nulna onda que o jogava por quinze metrcs. i1 ele ali nuna
boa. com unra co.li.mça trenenda E uma cspócic de inocência que ele
tirha. lsto é abcrturâ para o irrlinito, é unl ato dc confiânqâ cm Dcrs
ÍL]nno: É a que dizen, qtle Deus ptote& as ctianças l
"Mas, se não vos tornardes co ro as crirrncinhas, nào cntrarcis
no Rei o do Céu ' Essa é uma situaqão na qüal toda n esperleTlL é
insenuidade, c toda ingeluidade é espeúeza. Ele diz: "Por isso qu€
Delrs ocLrltírá isso aos sábios c rc\,clará aos lrequenos". Qlrem ó o
pcqucno? É aquele que sâbe que é pequcno, c sabc que a coisa nao esti
na mão clele. Essa é a cstrutura da r€alida.le Quenl escapa disto c,
mais airda, cscapa por escrito cstá rnuito doido, e a genle nao tem
que prestar aicnÇáo nessas coisas, é tudo bobagcnl. Essa ó a arriculâÇáo
que Sanlo lbmás esiabelece
lAlunâ: isso í.. ) er7 p/.rrc aco'da com o ])rojeta socrúti(o. ào é'?
Pediitamenic. Sanlo Tômás perccbcu que a unidade da consciência
hrmana nao cstá nel É c\atanrentc conro cm S.Lnlo Agostinhor ''Eu sei
q..,u'n- n..'rr1Ô\.:u'lue. \J- crrur u re i\íjouro"rrr\o
Entalo. dentro dc ntinr crisic um iundanrento qucn] nre é dcsconhecido'
rnas que Inc ó ntâis írtimo do qrc cu )lresmd A ürcsmâcoisâ qlle esloll
dizendo com relaçào ao Universo, Agostinho làla coln rclaqilo à sua
própriâ allrlâ. Esse proccsso se dá conlbnne a oricnlâção de cadâ quêl:
sc \,ocê ó um espírito aristoióLico. enrão você vâi olhar pata o UniY€rso
-- vai dcscobrir isso alii sc você é ul1l espiriio plâtônico, vai paia o lado
psiquico. invcstiga slla própria alma c lai dcs'rihrir lá â nreÍna coisâ'
porqüc náo lem cscapatória Esse conceiio da âlma aberia' por incÍivcl
quc pareça, ó um conccito do Hcnri tsergson Embora Bergson scia um
l,,ul;n.r..,ur.cr.u.,,f..ru in, nrr .n r"i n.
pârâ vocô ertendcr todo o mundo r )derno () nnrndo modemo é a
construçao dc irtelectuâis de aLmâ lechâda
[AILL]1o: Ieilclisl4 l
!l o lciichismo da rlalurcza. a o lerichislllo da História, é o lctichismo
do sero. ó o leiichismo dc qualquer coisal I iodos eles. c\atânentc por
crrsa dis§o. tcrào uma prctensão desmedida de controlar. Lle oricntar
cctos llLl)ios cle acontecimentos qlre náocstão nâ rnãodeles dcmaneira
';,r'1 n,uc.r'.ú i ra,,o.' u,rln.JJUc flu.i.n'u' IrJnÔq''
clcs fazern scnpre dá outro rcsultado. Por quê? Porqlre êxistc uma
la)gicâ intcrna no sistenr.L dcLcs. e e\istc a lógicâ do nlundo rc'Ll. entáo
clcs agem .lcniro do sistenrâ. mas ao csrno lempo esl,ro dcntro de
nm oulro plâro dc rcâlidâdc que eles dcsconhcccn, e aqui as coisâs
tarribóm tênr efcitos. Por cxcnplo. o Dr lreud. Unrâ vcr um suieiro lhe
disse: '\t)ua n,Lo cstá qucrcndo cular sctts pâcicntcs. esrí qtrcrcndo
-ur:r r nurr.rrr.h,r r r.r'r I c. r,'purrl.u. I \\111r ir'l! r\.Ô
Por que o suiciit, qucria clrar â hurnânidâde inicira? Porquc rtLo
1l
.(nlscguia curar a cte mcsnro E conro diz o Néiso. Roltrigües |essa
lr. n 'm^ lJ,. .U tr ,. a,.,,.,rbru ,ri j, . br. a L ,." ,, ., ,". " ,r;-.,,,t'r-r'r..;r,r n.a r,1." ,ta . ., r ,, ,r. ,.r,, r,,I,.l
Noic bcnr quando a gente diz isso não quer dizer quc um cara
como tic!.t. oü Nlarx, ou Heget. cstcjà psjquicamcnre rlocnle. Ele está
espiriruatncntc docnte; psiquicâIrenie pocie êsrar aró bem uas o
carrâruda pode csiar psiqrjcanrenrc (locnrc c scr.espirirual cnie sâo.
Eri dou unr erionplo Van Gogh a urn sujejio uompteraircnle touco.
nlas seU nrLrrdo cspiriiual ó o mesnr() onde nós csianrosr tcrn âbertura.
tcrn transcendôncia. esrá rudo tá. Elc está vcndo as coisas como etás
sâo, embora psiquicarlenic elc náo luncionâssc. r. tc,n outros suicilos
ouí .o.. àr,,\ r,.,r.r,,r. .,,r, r,i. J, .LIr,, J, \i.,J p.,,, i., j n r, !U(
espirjtuâlmc.tc srio Ínatucos, porquc pensam quc sao t)cus. Heg.l
e urr cremplo disso. atorro n.io cstào psiquicamc|re.locntes. sáil
pessoas mLrito nrteligenrús e r)rLrin) epa(irâdas, rnuilas coisâs quc elcs
descrcycrr sào rcati(tâde mesmo
O Dr. rreud rerr Lrm ianrolo caso de paranóia, o Dr Schrebcr qrc
erâ unr juiz clc Dircito. O sujcití) tinij. !ina paral(tia r.ollunrcnlNt
c ele.tescobrc quc âquib iudo é calrsâdLr por um conltib serrrrl
'J,, r, iru.r n. i,. I , uJ., | , ,.r(.r rJ .., \- (lu ,, !.
capar dc recorhccer quc seu problcma é um prol,lcrna j(ti(nÀ corno
o .le iodo rriund0, cnrão tcnr qrc crir a hunanjdarte euanrto clc
vai ver. dizr ',Otha. cLi renlro u,,, problcr,à assim..,.. \bca vô ouc Sáô
l, rl,. \p . r,,lu ,rô.rLr(,,a ..,:r L,..r,,.ir . Ji,, I u ., ,. ... , c p .tru
na cal)e çue nuncâ mc sai rju ll.]o ksolvo ncm o nrc[ pn,Ucrna.
o ntáxiino qUe posso lazcr é.tc vc, cnr quând(, pâslar parâ rocês
urras coisâs que NosÍ) Scrhor lesLrs Crisro ensinou e oltre lá, Drâs
eLr mesmo ntto1ãço o benr quc qucro. faço o mal que náo quero Isso
quer dizer quc arcâr conrigo mcsnro a umâ tarcta quc está acirrn .t.
' riIru.'rt r..,t .J" I ur..t,i,r:rr+ô,1.r,uDr I rurt,qrr,,ru.r,u-r,rr
hLünani,:ladel São PauloApósrolo dizia: 'Eo t]áo posso curar ninguén1,
nreu ijlho. Dcm â lnirn mesmol Eu csiolr âqui todo eslropiado, todo
chcio de problemas. O qre eu posso làzer é ensinar a âberturâ para
v,)cés ouvircm Nosso Scnhor.lesus Crisro c porlio final". Isso já a
bom d€rnais. ele não prccisa cLüar nossos prcb1cmas. nós !arnos morrcr
l]\l|Ltio: hterc tu tbé 1. nAo Íoi? Acha que LrLleta to bém tcüe,
plor)úüelne te peLa Íirccesso catn todo a tnoüítnenta rcLilliosa, quase
unla queslao tdt!íosa, eLe fiaa canse9uiã e co Írar a rcspasla de tr.)
E0 nao conhcÇoocâso de Lutcro. cslou estudando âgora. sobrdudo
sua psicologia Iu já ouvi mil ieorias um diz isso. outro di7 aqlritn
rnês eu náo sci, ênláo lico quicto a1é segunda ord€Ín Mas. cm ccrios
casos, como lieud. N{ârr, o c.rso é maniltslânrenle essc: são pcssoas
q!€ náo arcâm com seu problcnra nio sc âilLt€ntam. nào agúcllam,
.rtro(l(. (.'i.n LI",,. .i,nu.aô,d.rli,i,J,,n cirr:r
l{lnno l:en una lftisc quc ldla: "Naa rcnoso nlundo cotjt.) ele é.
nos coma tDs sotitos".l
Mâs isto i o subjetivisnro. Claro. você nào cstá no niundo dc rodos.
no mundo de qlre o Hcráclito I la. cstá no seu mundo. cl]lão o munclo
ap.Lrcccà suâ irugenl escrrclhança. Nlas cssc rr u ndo não scrvc. porque
loi você qucnr irvcniou. Quando você saj .laí c vcrn pilra o mlrndo reâI,
prilllciro. cl€ é um rnundo c|r:rbertoi scgundo, tem unl fundânento
que dccide c.:ue só po.le scr conhecido mcdiante a abcrtura e a
adoraçáor tercciro. \,ocê nAo vai rcsolvcr nenhum dos seus probtcmas,
piovavclmen le vai m orrcr corn t{)dos os dcfcii(,s eorl que lasccu, conro
iodos nós. Pensando hern. isso nào tcm a nenor iffpoÍtâncjâ, porquc
só umâ coisa é necessáriâ. N(is. no mundo nroderno. criamos aié unrÊ
13
noção de nornrâlicladc. euando estou lalancto.ta noção lto que é o scr
huÍrâno normàI. cíou qucrendo dizer o ser hurrano cspiiiiualrenr€
normal. pois psiquicâÍ]renic anonnal iodos nos sonros uff pouco. e
fisicimrcnte, tanrbénr. ncnhum dc nós é grande coisa. cntão só interessa a
no râlidàde cspiriiual. o restô náo ideressa Mâs nós chcgar)ros â criâi
Lrnra noÇão de nornri iclade lisica e psiquica üronsiruosa, então queremos
quc as pessoâs visranr essa cantisa de Íblça. e qua do nâo â yesrcnr nós
achâmos que sáo inlcriores Dizemos: ,,O sujciio náo pode tcr neuroscs,
nào podc tcr isso, não podc ter aquilo ,' Espera âí. corno i1o?
l{lLlio: P.i ldút ul enpb que taLztcz tnte de um ouÍro astlecto
desse Ícchamel1to, (.. ) noo len contrL)te sabrc narlo, ttcpctLde tla
lulltlmtetllo, e nes n a hutnúnitatje í tena tlào teia a cantrote.
lsso ne lembrou utt das pontos dú teaj.ia tla i.leoLa|i.t tlo Maa. ct?t
que cle diz qLte níng\tém (tucj. ( ..) üej a realidutte cono t:kt é. rLas a
z)ê distarcida tle acaltlo coln seu htercssc. ctc, c que a útLiLtl clisse
que teti.t ã rcaliÍlade I
A rcalidâdc conlo ela ó. isso ó o protcirriado. B coÍro é qre
aconieceu que o prirlreiro sujeito qre disse isso não era unr Drolclário?
É um milaglcl
lAlrr,\o: (...).Anti htl pejEu Íd li1aL é a scsuinte (..).)
Mcsmo qLrc losse âssim. o probtcrra continuârja. e aindâ ter.Íanros
Lrm problcma QLreÍ dizcr depois qlrc o prolclrriaclo perccber tudo
e criar o scu |uravilhoso mufdo sociatisi:1, fós reremos qLrc air.tê
rcsplrndcr a essc cnormc cnignra da providência N{as. escuta, por quc
esses proletários do llIn clos tempos toram pessoàs tâo pivitcgiadâs
que tivcrarD tudo o quc as gcrâçóes a teriorcs não tiveranr? eue raio
de jusiiçâ ó cssa quc privilegia âs úTrlmas lerâçoes à crsta dc teirar
todos os outros? Vocô âindâ tcria cssc pcqucno prohtema, niro ó1, (. )
Scrá anrâior injusiiea dc todos os tenrp{)s, porqlre condcnarenros todos
os lrossLrs anicpassados Pclo fato dc você ter nâscido depois, \'ocê ó
um pivjlegiadol
l,,Uuno: f...) llat & ÍtLtlrle i tarcsses da humatlidarle com o
Vcja. acoisa básica de Karl Mârx a clc ignorâr sua própria condição
dc classe após terdjto qre acondiçãode classc determina a consciarrcia.
Qual ó â suâ classc sL,cial. c como é qrc se operou cssa râravihosa
lransiçrio de uln bur8üôs para o ponto de listâ proletário'' Essa ó a
prineira coisâ qre clc tcria a obrigâqão dc explicâr, assim conÚ L)
Dr frcud leria que explicâr oulrâ. Sc a consciôncia de iodos nós ó
tlm tecjdo dc lãlsidadcs conslilrídâ enl cima.lc paixÕes inconscienics.
conro ó qlre você conseguitl sair disto? Con1o loi o prinleiro, sc todo
rnundo Ioi ludibriâcio pclo inconscicntc até hoie? rreud esllrda loda
â llistória d.L humanidâde. Moisé§ ioi umâ vílima do inconscienie,
l-eonardo Lla Vinci loi lma vitinr.i do inconscicnte, iodo mundo loi
clrgârlâdo pclo inc(nlscicntc. r) primciro qüe acor.lotr foi cle. F-n1ão, já
que sua tcoriâ conhece aorigcnl dâ con sciência d cntro .14 inconsciênciâ.
Lcm qlre nos cxplicêr por que loi o pdnrciro a sair Mas se você náo
diz isso. sisnifica quc nâo eíá cnlendendo sua própria hisl(iria, c. se
não cstá enierdcndo suâ própria históriâ, cor ) é que vâi cxplicâr a
mifha? Na vcrdâde. você eslá lcniân.to explic n lninha porquc não é
sul'icienicmenle intcligente pâra percebcr que não cntende ncnl â sua,
r,.r, .r( r' P.'.eh ,Lt,r1o.nr, rJu"rri ,l''.
lÁlJno: ( ..) Lacal1 lanl)éttl ( . ) tliz tlüe a genÍe so canse{ue ÍaLal
de si mesmo.Iltts, e tào, cano équeeleestazrafaLando..)
É isso que a gcnte tern quc resPondcr: 'Olha, você o dissc. vt'jcê só
fâLor d-- vocô mesmo. cntàLr eu náo cstou intcrcssâcto no scu rnundinho.
,t5
Você está làtândo de você mcsnro? Nluiio bcllr, eniAo cu vou lâlar.te
mim, porque você nâo me intercssr'..
lAlrllo: Mas cLe prcíe tte faLi das L)uttos guatLtlo eLe diz isso, que
todo nu ntlo só pode ltltlt tte si mesmo.)
Pois ó. Mas se cte só [üa de si mesmo c. ao mesnro rempo. cíl.r
tãlando de lodo rnundoj o quc ele cstá 1àzendo? Estl,r faTen.lo conr
quc lodos nós sejanros peças do psjquismo.lele. sejamos.temcnios
do jogo interno delc. lvlas se você podc tazcr isso conrigo. por que
eu nao pí)sso làzcr isso com vocô? É como o honrem ildoflIecjdo ctc
lleráclito. quc inlagina qüe to.lo nr!rnclo é pcrsonagem do scu sonho
Esse tcnra 'a vjda é sontro., ó um.los temâs permanenles da litcratura.
e e un esrado de pâtotogiâ espidtlrat gravíssimo. ó â rec!sa dc perc€ber
que todos cstanros no ntesnro mundo. Sonhot? Seu psiqrismo nal dá
conta dc vocô, ncnl você cabe clcntro.lo scu psiquismo. par.r caber
deniro do seu psiquisnro. seria preciso qre vocé soubesse tudo â seu
rcspeito, e você não sabe. Vocô náo podc invcntar nenl sequcr você
r11cslllo. qlranlo mâis a nrimt Mas aquele clue imaginâ quc cadâ uln
esiá lcchaclo dentro da sua subjctividacle. o qu€ cle cÍá iãzendo é isso.
Qucr dizer que você âcha que não apolas eu sou Lrnr.! il]\encão dá
\-r\uairl,\i\rdd,,,r:r.,,(..arL,n \t.. .L vu.i,e irv_nrou c mji\
ainda. inventou a rüm. dev€ nos contreccr lornictavetncnret Enrâo
.ligâ o mcLr pâssado. pol crempto. conre a minha históriâ. ou exptique
o Iuncionamenro do sco organisnio. Você não consegre, isro é provâ de
quc vocô r,ro se invenlou.
l,lÍc é o rcconhecirnenro de Sanro Agostinho: .,ELr sci que cLr sor.
lnâs eu náo sci o que eu sou, E csscs câras dizcrrl: ,,Eu sci o çue cu
sou. cu sci por que cu sou e sei âtó por que locô é E tudo isro csiri
na Írinha imagnrâçao',. tsso é absolurancnie monstruoso, é doençâ
espiriiual, não tem n:rda a ver com .tocnçâ psiquica, pois unra pcssoâ
+l)
psiqüicanenrc normâl podc pcnsar cssas bobagcns € uln suieito
corrpleiarncnte louco pode ler um.i visâo espiriluâlnentc corrcia das
coisas. Sc vocô pensa em Sáo Francisco dc Assis' eu duvido que Sáo
Frâncisco losse urrr câra muito nornrâl psiqüican1enlc nlâs a realidade
cspiriluâl dele cra iotalmerrtc saudável Sc vocô pegâ Hcgel cle é um
ürâ psiquicamentc cqlilibraclo. só que o rnundo cspiiruâl dclc é
complelâmenle louco Hoie nós danros lanta atençào à sâúde psÍquicâ'
até considemmos que âs neuroses rlos outros depóenr contra cles'
no cnianto, nao damos a üenor alcnEão à saúdc cspiritual' c ncsse
sctor podenros ficar tào loucos qranio o deseicmos c anrdâ scremos
pl. U, io . . ,i, ,1 lr,!, n\úP.mi,,\,,b.1.'nr s"
lAlntÂ: Quaú sabe o ílue intetassã i o vikto Fn hl ttào é?)
N'las como é que elc âprendcu? Ioi na porrâda náo loi'1 \bcô acha
qre controlâ algurra coisa? Está born, cnlãÔ vânrds 'oI)cá_lo 
clentro
de urr ire'n, iogá'lo eln Alr§ch$itz. dai vocô vai vcr "Dc tãto, cu náo
controlo nadà mesrüo E, pio! esscs cams âi que pensam quc esláo
nre coLrirolâl]cio. 1ânbérn nâo conirolâm. porquc eles todos váo morrci
cm sesuida.'' ViLtor lrânkl iá tinhâ essâ abcrtura anles, aquilo serviu
sirnplesüenlc para tornar claras coisas que elc iá sabia'
lÀtuna: Fai un tetta etn?ítíca-l
Vcja quc. quÂndo Frankl dccide ficar na alemârrhà elc iifha uma
olerta de cmprcgo nos Eslâdos Unidos ELc decide licar porque não
po.liâ levar os pais, e sâbiâ quc â siluâq'io ia pioia' daí licou naqücla
.lúvicla: 'Eu vou p.Lra os Esiados Unido§, dci:o âqui rüeu pai c minhâ
Lnãe qüc estão vclhinhos, prccisândo de minll O que cu laço?"' Nessc
clià. câi unrâ brnnba e ârreberta urna

Continue navegando