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Olavo de Carvalho - 20 - Filosofia na Idade Moderna

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Filosofia na Idade Moderna
Aula 20
por Olavo de Carvalho
coleçâo
História
Essencial da
Filosofia
Filosolia na Idade Moderna
Aula 20
por Olavo de Carvalho
Coleçáo História Essencial da Filosolia
Ácompanha eía Publicaçáo um DVD.
que náo pode ser vendido sepaladamenle.
Implesso no BrÊsil, ágosto de 2007
Coptaight @ 2007 by Olavo de Cawalho
Folo Olavo de cãrvalho
Mário Caslello
Edilor
Edson Mânoel de oliveira Iilho
Monique Schenkels e Dàgmar Rizzolo
Dagui Desjgn
'IEreza Mana Lourenço Pereira
Os direiios autorais desà ediçáo pertencetn à
É Realizaçóes Editora, Livraria e Distribuidora Ltda.
CEP: 04010-970 - Sáo Paúlô SP
Telefa* (11) 5572-5563
E-mai| e@ercalizâcôes.com br
w.erealizacoes.con.br
Resenâdô s rodos os direir.s deÍa obra póibidâ loda e qualquer reprcdu çáo dêsLâ ediçÀo por
{ruâlquer neio ou foma, sejâ elâ êlêtuônica ou mecânica, Iotocópiâ, gnvaçáo ou qualquer meio
Filosofia na Idade Moderna
Atl],a 2O
por Olavo de Carvalho
coleção
História
Essencial da
Filosofia
*
2007
Coleçáo História Essencial dâ Filosoiia
Filosofia na Idade Modema- Aula 20
por Olavo de Carvalho
Esse conceito de Renâscimento foi inventado primeiro parâ o
domínio das artes, por um estudioso chamado Giorgio Vasari. Mais
tardc, o conceito foi ampliado, sendo transformâdo numa fe[amenta
de interuretaQáo históricâ por Jacob BurcLardt. no fim do século XIX.
Mas, quanto mais avançam os estudos, mais a gente vê que, como náo
houve rcnascimento algüm, houve um montáo. Mas ainda esses vários
processos, longe de ter uma unidade de sentido, muitos deles váo em
direçóes exatamente opostas, sendo realmente impossível você tlaçar
um perfil de conjunto, mesmo que se âtenhâ só ao domínio da história
Mesmo ali se observâm tendências bastante antagônicas, linhas de
dcscnvolvimentohistódcobâstanteantagônicâs ou entãoheterogêneas,
que náo têm nada aver uma com a outra. Por exemplo, o fato de dizer
qüe nesse período a Europa abandona a filosofia escolástica e assume
novas direções, nem isso coflesponde à verdade, a nâo ser qüe nós
expulsemos da Europa a Penínsüla Ibédca, quejustâmente no período
era a sede de um dos Estados mais podercsos do mundo, a Espanha.
Entáo, justamente ro período em que havia na França, na Holanda
e na Inglateffa üma Íuptüra com â lilosofia escolástica, na Península
Ibérica ela alcançava algumas de suas melhores realizâçôes - as quais,
devido ao iato de que a opiniáo franco-bítânica se tornou dominante
no século seguinte, foi colocada duÍante um tempo entrc parênteses e
permâneceu como que à margem do plocesso dâ Histó â da Filosofia.
Notem bem que náo existe materialmente um fenômeno châmâdo
"história da filosofia". A História dâ Filosofia foi uma disciplina
que as pessoas inventaram e que estuda mais ou menos numa clave
crcnológicaalgumas idéias quc algumas pessoâs tiveram. Não existeum
fenômeno matedâl identiÊcável chamado "desenvolvimento histórico
da filosofiâ". Isso é uma síntese mental quc opcramos em cima de
acontecjmentos às vezes bastante i,7úa,n eclos e heterogêneos. De modo
que existem muitas maneiras de se moniar esse desenvolvimcnto,
conlbrme o ponto que se tome como rcfcrôncia. Gcmimente, tomâmos
como referência a moda prcscntc, quer dizer âquilo que parece
dominante no momento presente. Mas mesmo isso seriâ muito difícil,
porque durunte lodo o século XX, por cxemplo, houve três centros de
relerênciai (1) um centro dc rcfcrôncia mamistâ-leninista, colocadoem
todo o mundo soviético, o mundo sob domínio soviético, en que teria
que se contar toda a história da filosofiâ como sc fosse uma antecipação
ou preparaçáo do advento do marxismoi (2) um bloco continental
franco-gcrmânico, dominado pelâ lênomenologia, pelo existencialismo,
etc.; (3) e um bloco anglo-saxônico, dominado por filosofiâ andlítica e
1ógjca matemática. Cada um dcsscs trôs se aoreditavâ no direito de se
considerar o topo da evoluçáo histórica e. portanto, de explicat tudo o
que se passou antes em função do seu pÍópÍio posto de obscrvaçáo.
Na etapa seguinte, exisic uma dissoluçâo desscs blocos, e hoje em
dia seria müiio difícil ca.racterizâr, ver que estilos coletivos de ilosofia
cxistem, sDbretudo na primeim melade do século xx. Há filósolbs
individuais sem nenhuma conexáo cm tornoi há lênômenos como
Xavier Zubiri, por cxcmplo, que é absolutamente inclassijlicável, náo
se sabc onde colocá-lo, cujâ obra aparece toda postumamcnic; há
o lênômeno de Edc Voegelin, qüe é provavclmcnte o filósotb màis
importante do pcríodo, mas que continua âmplamente desconhecido
lcomo, por exemplo, no mundo liâncês).
Paraâsegundametadedoséculoxxeopcríodoquevematéàgorâ.
já não se tem mais csses pontos de relêrêncià, já náo se 1em mâis algo
qre se possâ dizer que é un1a filosolia dominanie e quc fomeça um
poÕio de orienlâçáo, mesrno frcticio, mesmo hipotético e fictício para
sc ârticular o passado histórico. Entáo, isso naturalmente cÍia un1a
certa desorientâqáo, màs. por outro lado, essa dcsoricntaçâo pode ser
benélica, poÍqüe úos ajudaâ ver o câráterprovisóúo. relativo-para nào
dizer ialso - das outras articuiaçôcs quc tínhamos antes. Po. exemplo,
essâ mesna divisãLr de ldâde Médiâ e ltenascimento. Idadc Modcrna c
Pós'Modernidade, ela é ieita desde um ponto de vistâ que tomâ como
ccntro alguns dcscnvolvimcntos cspccíficos desla lilosolia que, mai s dià
nenos dia. podem ser considerâdos âbsolutamente i[elevantes. Tudo
o que nós chamamos hoje de "pós moderno" pod€ ter sido esquecido
amanhá ou dcpois. Nâo temos um châo firme ou nem mesmo uma
rfirêncid Je Lhíu firme nu quul po.idmus nu. upuidr pa'a criar uma
visão retrcspectlva, na qual pareçâmos estar orientados.
lAluno: Como Íoí criada essa segmetTíttção da ldade Média,
Modena?l
Istovcm dopróprio início do que nós chanamos de ldâdeModerna,
quando há no PerÍodo lluminista um ccrto grupo de intelectüais que
se definem como o cüme da evoluçáo humana e começâm a medir
rudn o quc vcro para rrâ\ como \c Ío..e ou uma prepirdçxo ou utn
obstáculo pâra chegar até onde eles cstavam. Hojc nós t€mos até uma
certa dificuldade de conceber uma espécie de sentimento triunlàlista
quc a intclectualidade européia tinha nessa época senlimento
inspirado. vamos dizer por um scntimcnto muito pouco justificado
pelas rcalizaçóes. pelas conquistâs intelectuâis da época. Na vcrdâdc,
foi uma época de mediocridâde filosófica que chega a ser assombrosai
âssustâdorâ, quando vemos que â grandc figüra da intelectualidade
européiê no perÍodo foi Voltâire. Está certo que Voltaire cra pouco
mâis do que um jornalista, um divulgador, mas como um filósoIo era
nrDilíssiino defi.icnte
Eniendemos, entáo, que nesse período houvc uma espécie de
ampliaçáo do público debâiedor. do púbiico pretensàmenle filosófico.
Isso dâva a impressào de que a cultura estava se disseminando c dc
que âs pessoas estavam chegando. Dâva a impressâo dc um proSresso,
em suma, mas cra âpenâs uma ampliâqáo quântitâlivâ. E justamente
o maior filósofo do período que a nós hoje interessa mâis - que
erê Leibniz permanece à margem do scu século. Os suieitos mais
interessantcs do século XVIII eram Leibniz e Ciambattista Vico, para
nós hoje. Leibniz foi totâlmente incompÍeendido, caricaturado ató por
Voltâire na figura do Dr. Panglossl; e Gianbattista Vico nào lbi nem
isso, ningüém nem ouviu falar do suieito.
Entâo, tudo âquilo do qual a inteleclualidade se orgu lhava na época,
a nós hoje parece lotalmente irelevante, mas, na época, cles tinham
realmente a impressáo de ter rompido com milênios de obscurantismo
e chegado enfim à descoberta da verdade. Não que se considcrasscm
pessoalmente merecedores dessa qüalificaçáo, mas, pclo menos a partir
de Isaac Newton, o sistema do mundo ncwtoniano pâreceu na épocâ
uma coisa táo assombrosa e táo revolucioná a que eÍa como se, de
Íàto, milênios de ignorância tivessem sido rompidos dc repcnte por um
raio de luz.
Exisic um poema de william Blake que diz assim: "Deus disseifaça-
se Newton. e tudo virou luz". Era entáo unr entusiasmo.uma idolatria
Iantástical Quando sevê qüe, trôs sóculos dcpois, o sistema de Newton
alcança o seu limitc c é substituído porumflorescimento extraordinrÍio
de doutrinas contraditórias dentro da física, de modo quc hojc iá náo
se pode mais ter certeza de nada) entáo nós cntendemos que esse
sentimento de vitória que se infundiu na intelestualidade euÍopéia
da época era um fenômeno ideológico, eÍâ uma auto-imagem; náo era
umadescriçáo de uma realidade, mas a expressão do scntimento deum
certo grupo de pcssoas enormemenie vasto.
JAluno: Isso iustíÍicatia cansiderut o que aeio a tes como o
mínitno patu tudo no tfiutTdo (...), naio é? Aquíla era o passado e
agoru estatttos tto prcsente-..)
Ccrto. é certamente a primeira coisa quc acontecc. Veja, quando
vo(:ê descobre uma coisa nova. em vez de ela se acrescentar ao aceNo
dos seus conhecimenLos, ola o encobrc, de modo quevocê dáum passo
para a liente e dez para irás, isso ó muito comum
tAluno: É a utiLidade da diaísila tipaúíte? Porque a Voe\eli'l
comenta que isso é uma caructeústica gnósíiar lipica. l
Sem sombra cle dúvida. A idéia de que o coniunto dâ história
humanavâi até o conjunto dahistória cósmica con1o uma evoluçâo cn
tÍês ctâpas já vinhâ de longe. Há o conceito de Joaqüim de Fiod, a Erâ
do Pai, depois à Era do Filho, dcpois a Era do Espírito Santo; cxislia
uma infinidade de doutrinas iripafliics, isso entrou proÍundamente no
subconsciente europeu- Existe o conceito do Mesire Eclàârt, no quâl
háiambém umaetapainicial em queDeus cstácentrado em simcsmo e
maniiestado, depois há a etapa da pÍecessão, quando Ele se manilesta,
e depois há uma etâpa do retomo a Deus. Tem, por excmplo, a lei dos
três estágios de Conúc, etc., etc. Mâs náo precisa ser necessariamenle
tripaflite.
A simples idéiadeque o conjunto da história humanâ possâ ter uma
figura é algo rcalmente muito esquisito. Como é que vocôvai estabclecer
umâ linha única de desenvolvimento entre culturas e sociedades que
náo tiveram a menor conexáo entte si, náo tiveram nenhum contato?
Se existe uma fiAuta únicâ- ela foi criada por mágica. Mas eu acho
que é mais um efeiio desses como quando você olha nuvens e vê um
câvalo, um alragáo. É uma aparência. Olhando de uma certa maneira,
de uma certa distânciâ, parece que houve três etâpas ou quâtro etapas,
c parece quc á coisa Íormâ uma c\ oluCâo ünica.
vdianc.I M 
^ 
de,Cind o Siô Plnlô: S.ipione 199r
E
E
II
i;
É
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't:
Náo ó necessário dizer tâmbém que âs tentâtivas de elucidar
cientificamentc esse tipo dc pÍoblemas sáo nâ verdade muito rccentes.
Quândo se vê quc a primeira tcoria unificada da hisiória apârcce no
sécuio XVIII com Giambâttista Vico e, mcsmo assim, âinda demora
muito tempo para enirar em d iscussáo, isso quer dizcr que a human irlade
simplesmente náo iem prática desse negócio. Entâo. quando não se
ten prática, aínda náo se tem um senso crítico âprimorado de quais
sâo os conceitos âdequados pâra discutir âquilo. quais sào os mótodos
possívcis, qual é o alcance possível do estudo que se cstá fazendo.
Como ó qlle se coÍreça â investjgàçâo do que qucr que seia?
Começa corn o discurso poético. começa quando você conccber uma
forma imagináriâ quc lhe párecc unificêr uman1uliidáo de lenómenos.
Ou sejâ:vocêcÍiâ urn mito. Nào que o mito sciâ umacoisa maligna. Elc
é o começo da investigaçáo, e a possibilidade da investigâÇáo depende
disso aÍ, depende dc que haja umâ articulaÇáo imàginaiiva do conjunio
dos dâdos. Denho dessa ariiculação, supondo que ela tcnha sialo bem
fcita. é que poden sâir dcpois as pergunlas âpropriadas, âs hipóteses e
os mótodos de investigaçáo, ctc.
Nós podcmos dizer até que a idéia dessâ cronologia de atar tdâdc
Antiga, Média e Modema é uma síntese irnâginativa. É como você
hânsformar a hisiória do pcnsamento num drama com primeiro a1o,
segundo ato. terceiro ato, e que dcve chegar a uma resolução depois.
Quer dizef tudo o que a genie tenta imaginar, compreendc! tem que
ddr uma lormâ qualquer EstafoÍnâ pode ser totâlmenie imaginária no
começo, contanto que â lonna imagináriâ náo sejatâo fcchâdaque náo
pcrmiia uDra análise intema dâquilo. Se pennitc, então ela vale cono
começo da investigaçáo.
Mâs acontece quc neste mesmoperíodo quenós estamos estudando,
quc começa mais ou menos em Maquiavel, o número de auto,
inierprctaçóes do que está acontecendo é muilo grande. Êsse negócio
10
dc "espirito da época", ninguém tinha pensado nisso antes. Nós é quc
queremos definirmais ou menos os "espiritos das épocas". porque nos
àcostumamos quc âs épocas têm que ter seus espíritos definidos por
clas mesmas. Mas se você dissesse isso para Santo Tomás deÁqüjno ou
paÍa Duns Scol, eles nem saberiam do que é quc você estavâ falândol
Até umâ certa épocâ da História. não havia esta preocupaçáo de as
pcssoâs dizercm: "Mas, espcre aí, em que etapa histórica propÍia ente
nós estâmos vivendo?". A consciênciâ de "espÍrito de época" elâ
tâmbém é uma criação de uma ceda época, mâs com todos os limltes
dcssâ época. Na verdade, nós náo sabemos se eriste isto.
Quando vocé nota que há uma grande mudânça na csfera
intelectual, como por exeinplo com o advcnto da teoria mecânicista
dc Newton, você pergunta assim: "Quantas pessoas sáo alêtâda§ por
isso?". Um número absolutamente insignificaÍte. os outros continuarn
vivcndo mais ou menos conto scviviâ nos sécrlos anteriorcs, e há Iugares
onde até hojc o sujeito está nunlâ espécie de economia medieval, numa
cultura medieval. É possível, essâs épocas coexistem, na verdade Então.
muilas de'.â' imâgcns de 'e5prrilus de epoca" 'áo ilpena' prui<coe'
com que certos grupos humanos tentâm se autodefinir parâ sentir que
esláo orientâdos. É um eslbrço de auto_identificação, assim como nós
nâ nossa vida. Lembro Ortega y Gâsset, quc diziâ: 'Várias vezes na
vida tive a impressao qüe tinhâ üe tornado âdulto".
ÍAlutto: Mas nàa ti ha que achal que o mundo giru em tor o da
púptia pessoa, não é?)
Bom, dc ce o modo ele gira mcsmo, quer dize! você vai tcr que
começar a reptescntâ! a delinear âs coisas a pârtir dâ sua própria
silua(áo. O probl(mr e vocc poder ânrculàr itso com as vi!e' qur
outras pessoas, outras épocâs e outras culturas também têrn. Mas náo
convém esquecer que toda essa especülaçáo ainda é nova na mente
i
I
I
ll
humanâ. Qüando, num ce o período, unl certo grupo dc inteiectuais
acrcdita que rompeu com o univemo mcdievâl e cstá inauguranalo
uma coisa nova, isso podcriâ muito bem ter sido êpenas um Ienômeno
Srupal quc se e§gotasse âti mesmo. que Iosse apenâs uma pâlologiâ
de um cedo grupo de pcssoas c fosse esquccido. Como a coisa depois
se prcpaga no século seguinte náo inediatamente, mas nlr sóculo
scguinte -, entáo, dc certo modo, as gcrâções subseqüentcs endos§am
essa âüto imagcm que esse grupo teve.
Mas nós ainda náo temos certeza se as coisas lbran reâimcnte
assim. O que é seguro, ná vcrdade, é que tudo o que âconiece nesse
período vinha sendo preparâdo desde muito, nuito antes. por exen1plo.
sevocê pegaro llorescimento datecnologiâ que seobservâ nessa época
(mesmo porque prâticamentc alináo cxiste nenhuma iecnologiâ nova,
tudo aquilo iá vinha sendo prcparâdo, sobretudo nos mostciros alos
beneditinos, que cran1 loucos por ess€ negócio de mecânicê e relógios,
etc.), é dilicil você dizer quc há alguma inovaçáo recnológica que scja
reâlmenie uma inovâçáo. O que exisie ó mais umâ utilizâção cle certas
possibilidâdes tecnológicas que ânies âs pessoas investigavam por
cüriosidadc e que, a partir daí, passam a ter uma aplicaçâo econômica
ou militar maior
Do ponto de vista intelecruat, é Ínuito difícil vocô dizer quc houve
realmentc umâ rupiurâ com a Idadc Média, pois o quc hoüve toi unra
mudança dc assunto. E, sobrctudo, sc você quiscr carâctcrizar mesmo
o período, o que âconteceu independcntemente do que as pessoâs
achávam que estava aconiccendo, dâs auto,interpretaçÕes, se quiser
marcar uma diferença objetiva, identificável. você rem a lbrmaçáo
da nova intclectuâtidâde náo universitária, quc davâ a difeÍença
sociológica obictivâ.
A1é uDrcerto momenlo, â maior pârtc dos fi lósofos erâm profissionâis
que discutiam com outros profissionâis dcntro do âmbito universitário
ao qual todos pertenciam. numâlíngua internacional que eradê uso
coml{m, etc. De rcPerte, comcçam a apareccr ouiros "filósolbs".
llu náo sei sepertcncemao mcsmoSênero, mas sáo homens de ciência e
formàdoÍes dc opiniáo, por âssim dizer, que aparecem dcntro da classc
aristocrática oü sob â proteçáo da clâsse ari§tocrática, sem pcrtencer à
profi ssáo universitáriê. Isso ó característico.
Essa difercnça, que é sociológica, scda uma estupidez dizer que
ela é a bâse que câusa as outras mudânças, pois de iàlo náo é assim.
Mas como é uma dilêrença efctiva e nílida, clapode nos scrvir de ponto
dc orieÍlaçãoi você pode marcâr uma épocâ, quet dizcr. â épocâ do
inielectual acadêmico c a época do iniclectual palaciano ou aristocrático.
Também não é dc espàniat quc sejâ assim, porque no mcsmo peíodo
cstavam se constituindo os Estâdos Nâcionais modernos. Portanto. ó
natuÍal quc a arisiocrâcia de cada local, no seu esforço de anrmar uma
identidade pÍópria. tâmbém subsidiasse intclcctuâis qúe lhe lãlássem
numa linguagcm que lhe fosse própÍia. No intercsse dc fomentar as
línguas nacionais, isso ó bem comprccnsÍvel nesse peíodo, tanto que
ondc a fonnaçáo da naçáo loi mais tardiâ, como na Alemanha, pot
cxcmplo, o uso da línguâ nacional para fins de filosofia foi também
ràrdio I cibniz e\L,evia cm I rlim e tran.ir, nxo em alemao. P verdad(
que Jâcob Bóehme escrevia em alemáo, mas elo era um lipo popular'
náo cra umr coi\a n(nr oulra. náu (rJ nem urn uni\er5rrario nern um
inteleciual palaciàno, era um tipo absolutamente extravagânie Jacob
Bóehme cra um sapatciro que. de repente, recebe umâ revelaçáo e
comcça â escrcvcr livros de tcologia mística nunl âlenráo por um lado
muilo rico mas por ouiro lado precário, porque falha a grâmátjca, ctc.
Entáo, tirando o caso de Jâcob Róehme, você podc dizer que o alcmáo
se torna uma lingua filosóllca muito tardiamentc.
I
lAluna No setul.o XtX?l
No fim do sécuioXVIIl. Houveduas figuÍâs importantes na fiiosofia
êlemá dessc período: um é Leibniz. pelas inovações, pelas descobertas,
e outro é Chdstian WollT, que erâ o professor da naçáo alemá e escrcvia
em latim. Wolff foi â grande influência formâdora de toda a geraçâo
de filósolbs que depois lizeram o idealismo e o romantismo. Fichte,
Schelling, Hegel, todos eles estudaram nos manuais de ChristianWolff,
e esses manuais eram em latim.
[Alrno: O que pemite atimu que VoLtaie. que esses
outros pensadorcs, que hoie efi día a Eefite poderia úê-Ios como
insíEnilicantes?... Você talou que Leib iz(.._).)
Náo é que hoje em dia poderíamos dizer isso; qualqunr
sujeito treinado, com treino filosófico, já na época perccberia isso
imediatamente. Quer dizer que a desproporção entre, por um lado,
as pretensóes daquela geração e, por olrtro, suas descobertas e a
consistência da sua filosofia eÍa táo grande que isso dá na vistâ_
Mas dánâvista dâ gente hoje como daria navista dc algun observador
qualificado na época, como o próprio Leibniz, por exemplo.
Na verdade, com a dissoluÇão da inielectuâlidade acadômica em
algunslugarcs (naEspânhaeem podugalnáoaconteceu isso; oprocesso
l'oi um pouco diferenle), o qüe âcontece é que você perdc os critérios
de investigaçáo e dc provâ. Você não sâbe nuis qual é o iundamento.
Unl sujeito que, dentro da univcrsidade medievâi, quisesse apresentar
uma idéiâ nova, ele sàbia como é que tinha quc apresentar aquilo, o
quc é que cle tinhâ que dizer paraqueas pessoâs acreditâssem naquele
negócio. para que aquilo se tornâsse âceito. Havia um certo conjunto
de critérios dâ verdade que era de do ínio público. De repente, você
nâo tem mais isto.
1.1
O própr;o eslorço de Descartcs de buscâr desespeÍadamcntc um
novo tundamcnto âbsoluto e apodíctico da vcrdade, um lundamento
inabalávcl que náo pudesse ser posto cm dúvida, refleie a incerteza
gcral, que nâo era certamente só a incerteza dele. Quer dizer, a mcsma
idéia de um fundanento apodíctico, se vocô dissesse isso para uÍr
Iilósofo medievâI, ele ia era achar isso uma pretensáo excessiva. Medir
as ciências do conhecimento humano é pelo iundamento rclativoi náo
existe umâ coisa táo inabêlável quanto você está buscando.
Santo Tomás de Aquino já dizia que náo é próprio do sábio
busc mais conhecimento do que o obielo admite. Por outro lado.
se você comprccndc que desde a Antiguidâdc, desde AristóteLes,
todos cstavâm conscientes de que o mundo da naiureza é o mundo
das transibnnaçóes, ó o mundo onde as coisâs esláo continuamente
mudando, e quc Aristóteles tinha advertido contra o uso do método
matcmático nas ciências lísicas justamenie porque nada na nalurcza
ó exato, basta isto para você ver como os filósofos medicvais eran
muito mais modcstos quanto às pretersóes dc um conhecimento
apodíctico. Bom, ele âdnitiria que existcm conhecimentos que sáo
muito imporlantes, masqucnáo sáopassíveis de uma prova apodícticâ,
âpenas uma prova relativà; e tem ouiros quc 5áo passíveis de prova
apodíctica precisâmente porque náo têm ncnhuma importância.
Por exemplo: as verdadcs matemáticas. Você pode dar unÉ prova
âpodícticade muitasdclas. Só que, o queéamatemática? A matemática,
segundo a visáo antigâ e nedieval. é o estudo de um tipo especial de
scrcs que tênr â caracierística de tcr uma consisiênciâ permanentc,
piecisamente porquc eles não existem nem no tcnlpo nem no espaço.
E o pior ó quc os sujeitos iinham razão dc pcnsâr assim. Então, âlivocê
obtinha umâ certeza apodíctica, mâs sc relêria à seres que só existiam
sob certo aspecto; nâo se podia dizer que eram rcalmcnte existenies.
l5
r
No século XX se dirá quc os cntes Ínaiemáticos náo sáo nem reâis
nem irÍeais, são ideais ou formais. Elcs tôm uma consistência. náo
sáo uúra pura invenção da mente humâna. E você sabe isso por quê?
Porque elcs não sc comporiam do jeito quevocê que! entáo vocô faz a
contae ela dá o resultadoque elâ quet e náo aquevocê qtler Vocétraça
a figurâ gcométrica e ela lem as propriedades quc cla tem, e náo as que
você quer Elcs tôm uma consistência objetivâ, mâs cssa consistência
ó puramente lbrmal. Ele está lãlando de rclaçoes possíveis. Aí você
obtén uma cêteza apodiciica absolutâmentc inabalável; no resto.
!u!L lem quc sc conrcnlar co.r conhec,nr<nru\ taluavc'i.
De Íepente, êpârece um Dcscartes dizendo: "Nós temlrs que
cncontrar aqui uma espécie de plrnto arquimédico" - quer dizer, um
conhecimcnto que seja por si nesmo táo certo e tào inabalávcl quc
nada possa destruí-lo. O simples fato de ele levantfi esta peryunta já
cra üma novidade. Essapergüntê, se colocada num âmbiente medieval,
pareccriâ cxccssiva ou ambiciosa demais.
Em segundo lugar: o fato dc quc ele vai encontrar ou acreditâ
encortraÍ esie iundamento âpodíctico náo em âlgllma entidade
objctiva. mas nele mesmo. Você pode dizer quc, dc ccrto modo, o
eu pensante, que é o fundamcnto do mundo de Descârtes, padece
do mesmo deleito dâs entidadcs matcmáiicas. O eu pensante tem
absoluta certeza de si no momento em que clc cstá pensando, só que
este momento tcm unra duraçáo infinitesimâi e este eu pensante só
existe quândo vocé pensa nclc.
Então, no fundo, essa certezâ de Descârtcs ó táo pobre qüanto
âs ceÍezas matcmáticas. Descârtes, no fundo, nào tinhâ saído de
deniro dos limites do conhecimcnto ial cono os admitiam os lilósolos
nredievais. S(i que eles nã.r lãlavâm propriamenie de "linrites de
conhecimento". Isso parâ eles nâo era linite do conhecinento, mas
erâ â própria nâturezâ do conhccimcnto.
Sendo assim, muitos problc âs filosóficos que suryenr depois
cxisiern só porquc as linitaçóes naturais que dâo o próprio pcrfil, a
própria definiçáo do conhecimerto huÍrano, passam a ser encarâdos
como liniles no sentido negativo do termo. Por exemplo, você
observa quc um tigre é um bicho linilâdo porque ele só tem listras,
náo tcm bolinhas con1o a onça. Náo existe bicho quc tenha lisirâs e
bolinhas;é uma terrível I im itaÇáo. Etambórnnâo existecavâlo listrado;qLlando é listrado nâo é câvalo, é zebrâ. É uma coisa telrível, náo é?
Não cxiste taúarugâ voadorâ. Entáo. o famoso problcma do limitc do
oonhecimentohumano é que as pessoas dcscobrem esses limites e ficam
chocâdas. Dependcndo da simpâiiâ que você tenhâ, você íica chocâdo
dc quc cxistârn liniLes do conhecinrento humano e qucr transcendê-
Ios; ou, entáo, âo contrário, você toma o lado da ignoráncia e celebra
un1a espécie de derrota do conhccimento humano. Diz: "Está vendo?
Nós náo podemos làzer nada, somos todos uns ignorantcs...".
Tudo isso começa a partir do momento cm quc René Descartes
quer enconirar um fundamento apodíctico. Orâ, o§ ântigos também
conhcciam âlguns fundamentos apodícticos de ordem purâmcntc
mctafisicê. Conheciam pelo principio de identidadc. Mas o princípio de
identidâde. no lim dês contas, sob certos âspcctos é tào pobre quanio
qualquer verdâdc matcmáticâ. Porqu€ vocé saber que uma coisa é ela
mcsma necessâriamente, iss.r nao queÍ dizer que vocô saiba o quc cia é.
Vocé pegâ unl dragáo verde com bolinhas cor-de-rosa, por exemplo.
Sem sombra de dúvidas, clc ó um dragáo verde com bolinhas cor de
rosa, mas náo rne pergunle o que é um dragão verdc com bolinhas
O. princrpio\ f'r'mcirns dn con\(, im(nrú. qu( erdrn u. principio.
.lâontoiogia, náocramentáo um conhecimento no sentido substantivo
dotermo. Erâ um conhecimento apenas daarnradura das possibilidades
e impossibilidades e dentro do qual se procedia a buscâ do verdadeiro
t7
I(
conhecimento humano substântivo que, sendo substantivo, poroütro
lâdo era relativo e incerto, emborâ se orientassc pelo jdeal dos primeiros
princípios e, portanto, pelo ideal do conhecimento apodíctico, sabendo
que iria se âproÍmâr dele sem nunca âlcançálo.
Aristótclcs diz que sempre que você está invcstigando unr
domínio rovo do conhecimcnto o problema é que você não tcm
as premissas. Só tem as premissas universais tipo princÍpio dâ
identidade, mas as premissas específicas daquelc domínio, digâmos,
as leis daquele domínio, você náo as tem, vai ter que começar por
investigálas. E como é que vâi investigá-las? Vai investigar pelo
método dialéiico de conlrontação de hipóteses. E o méiodo dialético,
no fim dâs contas, vâi lhe dar apcnas um conhecimento provável ou
razoável. Entáo, o conjunto do conhecimcnto humano, na verdade.
está limitado ao dialético.
Agora, pensa bem, por que uma criatuÉ cuja lbrma de existência
é elâ mesmâ temporâI, relativa, contingcntc, etc. precisada ter um
conhecimenlo 3b\olulu r apudr( ri(u.' lsso e quasc umd incongruencia.
Você pode saber que um conhecimento àpodíctico é hipoteticamcntc
possível ou que Deus o tcm. Mas, §e você náo tem. isso náo é um
molivo para ficâr assustado... Você náo tcm, mas eu também não
tenho, ele também náo tem, nuncâ ninguém teve... Nós estamos
vivendo há milênios assim, e isso não épara vocêlicarmuilo assustado
Isso faz pafte da natureza das coisas. Você ier que se contentar com
um conhecimento relativo é uma simples admissáo do senso de
rcalidade, portanto, é uma das bases do conhecimento. Estâ linitaçáo
do conhecimento é a naturcza do conhecimenio humano, entâo, nao é
pâra você ficâr assustâdo com elâ, como também um cavalo náo deve
ficarassustado qüandoele percebequenáo pode voâr, ou a galinha que
olha pârâ trás e pensa: "Poxa, eu só boto ovo, náo dou leite. Todo dia
eu Íaço uma lorça aqui e só sai ovo".
1E
Existc essa estrânheza. âs pessoas têm estrânhezâ e uma espécic dc
rcvolta contra a incerteza do conhccimcnto humano. À pârtir de René
llescades elâ já cstava muito exâcerbada. À ambiqao do conhecimento
orcscc tânto que naturâlmente ela vai chegar em decepÇóes. Logo cm
seguida. então, começa-sc corn a busca do conhecimento apodictico
rcssa época do racionalismo filosófico, com DescaÍtes e Espinosai
pâssa um séculoemeioe sechegano totalceticismo. com David Hurne,
qlrando já íáo podemos conhecer nada, pois tudo é absolutamente
inalcaneável, e até as noções básicâs da lógica são todas incertas.
Mas, noten bem, iodo esse drama. §e apresentado para um filósofo
nedieval, ele resolveria em cinco minutos. Eie diria: "Olhâ, isso âqui
tcm uma limitaçào inlrinseca. Mas essa limjtaçáo náo é uma limitaaáo
no sentido negalivo, no senlido de uma privaçáo. é no scntido de que
es1â é a naturcza humana". O ser hunano tem um conhecimento
hurnano. Entâo, o conhecimento divino, porquevocê deveriatcr mais?
Você pode pârticipar indireiamente do conhccimcnio divino através do
conhecimento dos primciros principios e da 1é, e olhe lá, e essâs duas
fornras dc participaçáo sáo deficientes.
ÍAluno: Esse pessoaL das uniaetsíúules, eles (...) da ldade MAJia
que torum pe lendo a impott,âncict soci.tl?)
Em âlguns países sim. Na Françâ e Inglatcrra clcs lbram. E â
intelectualidade palacianâ adquirc umâ l'oraa tremendâ, principalmenle
porquc a aristocracia precisavà desses camarâdas. a não apenas
por um motivo de preslígio, rráo erâ isso. Precisâvâ pam quc clcs a
orie.tassem. Quer dizer, os intelectuais dâ aristocrâcia erâm uma
espécic dc espclho retrovisor dâ própria aristocrâcia. Assim como em
outras épocâs â intelectualidâde acadêmica tinha seruido de refcrôncia
para as autoridades, agora quc a nova organizaçáo política se dava
em entidadcs nacionais distintâs, suas respectivas classes dominantes
t9
I
F
i:.
tâmbém precisavâm ter um espelho rctrcvisor alguém que lhes dissesse
mais ou menos o que pârecia que estava âcontecendo.
lAlnno: Seni que ,em daí unla cetta prcpotência, uüa absoLuta
prcpotêficia dos inteLecluais fiadefios de hoie Ílc peÍceber que a (...)
cêntica do que eles estâo dizefido deüe (.-.) deLes Íicarcfi ?ollados
Isso aí é certo. Essa prepotênciâ cârâcterística dos intelectuais
modcrnos data exatamente daÍ.
ll'lllno: Mas parcce que é üma sequnda naturcza deLes, e eles ào
se dáo conta dela...l
Vejâ, â partir da hora cm quc vocô tem um empreendimenlo como
o de Espinosa... Espinosa é un1 sujeito quc âcrcdita que descobrju os
primeiros princÍpios, dos quais ele pode deduzir todo o conhecimenlo
do universo sem neccssidadc do apelo à experiência - portanto,
escapando de toda incefteza, de toda incxatidáo. Mais prctensào do
que isso não é possível. A Élicd de F,spinosa é um sistema inteirc,
do univcrso obtido por pum dcduçáo. E o que é, no finr das contas,
o sistemâ de Ne\À.ton? É a mesmíssima coisa. "Eu dcscobri a chavc
do uüivefso. o reslo se obtém àpenâs por método dedutivo, por
cálcuio."
ÍAlnno: Kanl Ídlfibé 1?l
Náo, Kant é o contrário. cle vaijogar um balde de água IÍiâ nisso âí,
só que vai iogâr água demâis...
Essâs preiensÕes do racionalismo clássico, naturalmente elas vâo
encontÍar duas barreiras, e isso é o que narcâ sobretudo esse peíodo.
A p meirâ barreira é a do cmpirismo; a segunda, do ccticismo, quc
ven iogo em seguida.
2A
O empirismo aparece exalamentc corn ]ohn Locke, que é, nessc
oâso, umâ espécie de antípoda de Espinosa, o avcsso dcle. Espinosa
diz que o conhecimcnto por experiéncia nada lhc ensinâ, porque o
que quer que vocô obtenhâ da experiência é por Inera irduçáo, que lhc
lcva somente a resultados possiveis, estatísticos, por assin dizer, náo
lhc dáo cerieza de nada; c que. porianto. o esscncial é você conhecer
u\ plnreiro. frinirpius c obrír luLio nnÍ lin\a de purJ dedu(ao I nnr
isso que se chama "racionalismo". porque toda a operaçáo ó fcita pelà
razâo, sem o recurso da cxperiêrcia.
Esse bÍutal cxagero de Espinosa provocará um exagero pelo lâdo
cnrpirista, quando John Locl.e diz "Nós náo conhecemos nada por
pura razáo; tLrdo o quc sabemos. nesrro os princÍpios dâ lógica,
vcDr pela erpe.iência sensível". Quer dizef nós nascemos corno uma
lblha em branco, na qual a expcriôncia vai gravando âs formas dos
scrcs percebidos até quc. por semelhanças e difcrcnças. acâbâm se
j,Àrupàndu em .5pc. ic\, dirr nu. perceDerno. as cal' gurir.. 1! cone(oc5
lógicas, etc.
É claro que essas düas hipótcses sáo âbsurdas. sáo uma espécie
dc t€ntâtiva de se pcgar uma hipótese limitada c lcvá-la alé as últimas
conseqüências,fonnândo então dois cstilos oposios. E, de fato, em
qualquer manuâl de Hisrória da Filosofia se verá que essc pcríodo do
sóculo xVI XVII é marcâdo pelo conlronto de racionâiismos Daí até
metâde do século Xvlll é um período marcâdo pelo confronto de
racionâlistas c empirislâs. Como ncnhum consegue resolvcr, aparece
üm sujeito châmado Humc, quc esculhaüba com tudo c diz que náo é
possível conheccr praticâmente nada. Estudâremos Hume mais adiante,
porque é um filósofo importante. Scm cle você náo vai entendcr Kant;
sem I(ant você náo vai eniendcr nadâ do que está acontccendo hoje.
O ceticismo dc Hume já é uma conseqüénciâ natuml da
irlpossibilidade de você resolver os cnigmas cdados pelo confronio de
racionalismo e empiismo. Mas o simples fâio de que essas questóes
apareçam reflete uma inâbilidade filosófica monstruosa. Veia, um
filósol'o medicval, pelo menos a partir do século XlI, era um suicito
treinado em Aristótelcs, c Aristóteles ensina que, quando você pegâ
umaqucstáo, antes de tudovocê lê o que os seus antepassados disscram
a respeito. Eniáo vocô já tem que levantar as várias hipóteses e tentar
olhar a coisâ pelo maior númcro de lados possível.
É a partir dessa aliscussão do que já existe historicamcntc
que vocé vai articular a colocaçáo do prcblema. Áté àí você nâo
está procumndo soluçâo, está simplcsmente tentando articular o
problcma de uma maneira râzoável. E o que é quc você faz? Pega
âs várias opinióes. 1ãz uma listâ e tenta montar uma discussão com
esras opinio(r qu( ià lurdm cmirida\. Aconlece que nem rempr( issú
c possr\c,. f'orque nem \empre uma upiniau rc.pondc a ourra. {5
vezes, ela simplesmentc diz outra coisa. Nem sempre as opiniôes
enfocam o objeto pelo mesmo lado.
Então, à medidaquevai ientândo ârticdar as opiniõcs já existentes,
você vê que a discussáo que historicanrente âconieceu tem várias
lacunar Preenche (ssJ\ larunàs (om opinroes imagrndria. que \ocê
mesmo invcnta e daí íoÍma um sistema de dúvidas eln torno do
probtema. Na hora cm que formou esse sistema de dúvidas, você podc
começar a reduzir aquilo, dizendo quc umas dúvidas sáo dependentes
de outras, podem ser reduzidas a outras, ctc., c assim chega ao
equacionamcnto do problema.
Se até ai você sobreviveu a esta opcraçáo, o que é que pode lãzer
enl scguida? Pode começar a investigar se essas várias colocaçóes
âpàrentemente antagônicas ou beterogêneas náo estão bascadas cm
princípios comuns náo declarados ou mâl conscientizados; se elas
náo têm premissas comüns que permitiriam rcsolvcr pelo menos parte
d§sar (unhonracôc5. Buscando enlr( c\sas premtsas comuns que
22
cstáo em toda a discussão, você tem pela primeira vez um corpo de
hipóteses que aí pode ser investigâdo a partir do que você mesmo sabe
Isso q uer dizer que a possjbilidade de un sujeitodesses desenvolver
rm edifrcio lao unrlareral quanlu o e.pinosismo ou o empirismo
a Íemotissima, porque a primeirâ coisa que ele lembraria em quc o
sujeito queria fazer um negócio empirista, e logo apareceriam pârâ
dizer: "Por que náo íazer prccisamente o contrfuio?".
Desenvolver a Êlosofia no sentido linear de uma argumentaçáo
em làvor de certas coisas náo ocorreria. entáo, ao filósofo medieval.
Se você pegara S,rmr leológica de SantoTomás deAquino, ou qualquer
outra suma da épocâ a S md de Alexandre Hales, aS rna cotxtra os
Gen rios, do próprio Santo Tomás -, vcrá qüe ela é iodinha arquitetada
cm torno da pluralidade de respostas possíveis a uma qüestáo. Quer
dizer, se você nâo sabe nem as perguntas, se não é capaz de dâI um
lratamento dc conjunto às perguntas que foram levantadas, entáo
pouco importa o que tenha a dizer â respcito.
Se na Idade Médiâ o sujeito levantasse essa hipótese de quc o
conhecimento porexpcriênciâ náo éválido, só éválido o conhecimento
obtido por puro raciocínio, enião, providência número 1: estudar todo
mundo que a-rgumentou num sentido mais ou menos parecido e todo
mündo que argumentou num sentido mâis ou menos contrário. Feitâ
a lisla dos argumentos a lãvor e dos contra, elc deve ver se náo pode
inventar mais alguns, â làvor e contra, Feito tudo isso, deve redüzir
o conjunto pela busca das premissas comuns; se um diz que siln e
outro diz qüe náo, podem estar os dois apelando à mesma premissa
como fundamento do seu argümento; qucr dizet pârtindo de uma
mesma premissa, chegaram a conclusóes opostâs, entáo aí tevc algum
problema. Depois de ter feito tudo isso, ai é que ele ia estudar a
materialidade da questáo.
23
EntÃo. erâ evidentementc uma filosofia muito mais cuidadosa.
muito mais cicntífica, na verdadc. A paÍtir do moúenlo enl que você
náo ienl â comunidadc organizâda pâra isto. oniáo você pode dizer
qualqller coisâ, e essâs coisês vâo scr discutidas dcsdc pontos de vistâ
arhrrrârio\ que \ao Jque e\ que oconrÍ r. pe\\uJ\
lsio significâ que â discussáo Iilosí)Êca fica rcalmcntc câótica a
partir dcssc pcríodo. e por isso se iornn difícil escrever sua histó a.
,4. História da Filosofia mcdicvalófácildc scescrcver, pois há uma certa
unidàde no desenvolvirnento das qucstócs, no dcscnvolvimento dâs
várias correnles. Quando as pessoas váo tonândo direções diltrentcs,
vocêentendcporquc nroiivo as tomaram, eniende qual loi â diliculdade,
quêl lbi o pontoexato dc divcrgência. Dâí para ad iânte você já náo sabe
mâis. pois exisle un1à pulülaçáo caótica de idéiâs c sugcstõcs. Claro
quc cxistc muita discüssáo. e discussáo sjnceral Quando se pega, por
exemplo, as MêdirdÇôes metatísícas dc Dcscartes., depois aparcceni
várias pessoas que olereccm obieções àquilo e c1c tcnta rcspondcr o
inelhoÍ que pode, mas se vê clêÉDrente que esta discussâo nào era
ordenadâ, nâo cra rcalmcntc uma discussáo cieniílica, na qual se dá
J preuLUfa(iu dr l(vdnldr lud,,,,F àrp., ,Á pn\.r\.i' f rnar. um"
polênrica no sentido modern(J.
Náo ó prcciso dizerque a parlirdaíesse carátercaótico dadiscussáo
Íilosóficavai ficando cadâvcz mais caótico, mais caótico, até que chega
um ponlo em que náo dá pâra se comparar o quc unl sujcito dissc
aqui com o que o orliro disse lá, porquc simplcsmcntc nâo tôm nada a
ve! estáo lãlando de mundos difcrcntcs. as rcferências sao tolalnente
diversas, a experiênciâ do mundo quc cada um tcm é irredutível à
oulra. e4lao n.ro .e ríbe rnJ i. u que. úmpdraí
Sc você pegar dois camaradas mais ou lnenos conternporâneos,
(umu liàrl \4à \, 1(icrl"gaard born lacã uma \ompard(ao 5e voce
püdcr, amre ulnâ discussáo entrc cles. É quasc impossível, náo é'?
E com o tempo isto evolui parâ â lormâçáo. Já náo são mâis âpenâs
individüatidades incomunicáveis. mas blocos incomunicáveis E às
veTes sáo incomunicáveis náo somcntc nâquilo que estáo dizcndo,
porén na própria visão quc clcs 1êm do câmpo filosófico inteiro. O que
Lrm sujeito está chêÍrando de filosofia, no que ele cstá interessado,
isso náo tem nada â vcr com o que o outro está charnando de filosofia
c quc, por süa vcz, lhe inlercssa. Tenho â impressáo de quc tudo iÍo
começa com essa erigôncia do conhccimenio apodíctico de achar o
ponto arquin1édico.
l\lúna (. .. ) por exeÍnplo, tla Academia q ue se diüide, não se dilide...
Mas se ocê criat üárias núcleos lambém nao lorna dilícíI, potque oocê
não ten fiais cettezo? (--. ) O il1diaídu o, paru eLe fuzer isso que aaú estú
úlocafido, tle colocdt opiniôes cofibfuias, é nuitn üais diÍícil, poryue
aümentou a quanlídade ile inÍatmação. Você lem, eníão, qüe Íazet um
trcbalho que ufi inàiaíd o so?inho às üezes fido íem condiçoes...)
Você não sabc mâis o que ó o contrário a quê... Náo dá mâis parâ
tr/er, r"n da mdi\ p:r ra afl i, uhr or discu.'ür'. l: por is.n quc rrn apena.
dois séculos isto sc converie, vâmos dizer, na polêmicâ iomalística
do século XVIII, quando aparcce um flotescimcnto de milhar€s de
novàs individualidades pcnsantes. cada uma dando os palpites lnais
de.en. nrllàd.' e drguminlr 'Jo \cgurdu l.r( parccc qu( 
( il mancirà
mzoável de colocar as coisas. Pior é que esta maneira que parece
razoável â cada um representa para câdâ um deles a encarnação dâ
râzáo no sentido univcrsâI.[,nlão, pelo lãto de o suicito a]gumentar
coln uma certa lógicâ, ele acredita que se colocou no plano da razáo,
pois quem veio colocâdo antcs cstava colocâdo no plano da irrazáo
Quanto mâis inconsistcnte â argumentaçáo, mais o suieito acredita
que ele ó a razáo univcrsâ].
24
[Nuno: É aí que começam as ideoLogias ou iá eru antes?l
Bon, partce que sim, parece que vocô pode dalêr um pensamento
do tipo ideológico no séc1 o XVIIL Mas não poalcmos esquecer que o
iena "ideologia" também .Á uma autodefiniçâo que uma cerra coüente dá
dâquilo que ela está fazendo e do que os outros esiáo iãzendo. O tema
"ideologia" âparece com Napoleão Bonaparte. Napoleáo tinha um
certo grupo de filósol'os liberais que lhe fâzcm oposiçáo, a quem ele
denomina pejorativamente Les tdeotogues, q)er dizer, os suteitos que
têm a ciênciâ das idéias. Depois Marx também usa a pâlavra! primeiro
num sentido pejorativo e depois num sentido positivo.
Eu náo sci se o conceito de ideologia reâlmente funciona. Existem
muiias maneiras de você definir essa tal ,,ideologia,,, náo é? Comcçacomo
um termo pejorativo e depois, ao iongo do tempo, adquire prctensões
científicas, com Karl Marx; depois, ibra de um contexto marxistâ, vem o
pessoal da Sociologia do Conhecimento _ que procura descobriras bases
sociais do conhecimento, da ciência, da culturâ, etc. , que apela também
ao mesmo conceito. Mâs nós também nâo sabemos se a Sociologiâ do
Conhecimento é cla própria uma ideologia.
Enfim, pensando bem, esse conceito não ajuda em nada. ncm a
favor nem contra. Eu preÊro usaravelha distinçáo aristotéiica enirc as
autodeliniçóes dos agentes de ümâ açáo _o sujeito está estualânalo um
fenómeno hurnano, as pessoas que estáo agindo iãlam, a linguagem é
uma maneirade ação de câracterísticaessencialmentc humana; ao falar,
elas se autodefinem, e vocô tem. então, as váúas âutodefiniçóes das
várias individualidades, dos vários grupos que, paÍa o cienrista, para
o observador científico, sáo a matériâ-prima do que você vai estudar.
Você vai entáo passdrde um discurso sintético e de autodefiniçáo para
um discu$o analisado, decomposto.
O discurso dos agentes, por um lâdo ele serve para o indivíduo se
autodefini( para ele exercer uma idluência sobre os outros. e scrvê
26
nrais ou menosparaelese orientâr dentro da imagem darcalidadequeé
propícia àquela açáo que ele querfâzer. O discurso do cientista náo tcm
csse objetivo: ele visa descrever o que cstá elêtivamente acontccendo,
c â úoica maneira de fazer isso é decompondo analiticamente os
vários discursos dos agentes e arliculando-os de umâ maneira que nào
corresponde exatamente à de nenhum deles, mas ao coniunto do que
Âristóteles foi quem inventou isso, que funciona mais do que
ideologia. Você não precisa deprcciar os discürsos dos agertes já
que sáo merâmenle ideológicos, porque. pelo simplcs lãto de ser o
discurso de um âgente, náo é um discurso científico, evidentementc.
no sentido de que não é um discurso anâlítico. O sujeito náo está
ientando analisar, decompôla, ele está tentando agir sobre a situaçáo.
ÍAlúno O pÍoblema é que Maw e todos os mal,íistos ou filo
marúsía§ ,ão dizer que tudo é íàeoLogia, tudo é doxa...l
A paftiÍ dai tudo é iLoÍa. tttdo é dox.l... Daí você .esponde o
seguinte: "Vá lamber sabáol Você nem sabe o que é lógicâ, o que é
dialética, está fâzendo é umâ cristica de muito baixâ qualidade. Você é
um charlatáo, náo me amola". E âssim que tem que responder.
l{funo Mas ão ten nenhuma resposta possiaeL pata phntat a
semente íecütxdadoru?l
Mârx é Iilosofra para retardados mentais. Só uma pessoâ burra. só
uma pessoa sem inteligência pode cntrar nâquilo.
ÍAlútto: Sim, m,ts o suieito já entnu, ào tem nda qúe se possa
lazer pot ele?l
Marx nâo é sério, e eu estou lãlando decoisa séria, estou falando de
Leibniz. de Àristóteles. Marx náo é sério.
Z7
Eu âcabei de ler hoje quetem um sujeito nos Estâdos Unidos, acho
quc é um tcheco que mora lá, que publicou um cstudo sobie a tese
de doutommenlo de l(a.rl Marr, que eÍa sobre Epicurc e Demócrito,
e ali já se vê que Karl Marx era novinho, novinho, e já era vigarista.
Quando eie náo entendc um negócio. dá uma maquiada em cima.
enrola. Daí você pensa: "Como ó que eu lui prestar atenÇáo neste
palhaço?". Mârx náo é sério mesmo, nada do nârxismo é sório, nada,
ê eu não estou exagcrando. Quando chegarmos lá, vamos ver isso conr
nlâis dctalhe.
A sirnplcs hipótese de que scja possivel se traçar â unidade do
desenvolvimento da hisiódahumana a partir da suabâse econômica, ao
sujcito que falou issovocê pode dizer: "Pode parar". Porque, pdmeiro,
desenhar csse conjunto já é impossível, qualquer que scjâ a base que
você escolha A pretensáo já é absurda, c o instrumento que vocô está
usando é pequeno demais parâ isso É muito fácil perceber que o que
querquc tenha sido ieito. em q ualquer atividâde econômica do mundo,
loi pensâdo muito antes de ser l'eito. Por exemplo. qualquer inovaçáo
tecnológicà, você quer montar uma firma. Primeiro â lirmâ aparece
lêitâ e dcpois você pensâ? É isso que acontece? Isso náo é possível.
O sujeito não entende que cconomia é simplesmente uma
das aiividâdes do cspíriio hunano, quc elâ não pode ser a bâsc do
descnvolvimenlo do espírito humano, que eu preciso, qüe o espíritr)
hunâno prccisa cÍiá-lê.-. Quer dizcr, ele lala como se produziÍ Íosse
uma coisa assim natrral. O sujeilo nascc e já começa âli: ,'Vamos fazeÍ
um negócio àqui chamado agriclrllutâ".
Vocé imagina a trabâlheirâ quc o ser humano teve para um dia, ele
que estava acostumado a buscar banana em tal lugâr, ialâr: ,,EspeÍa aí,
vamos plântar a banana aqui". O sujeito deve ter um QI enorme para
pensar um treco desses, e o primeiro que pensou, os outros devem ter
bâtido nelc: "Pára de falar bobagem, rapaz, calâ â bocal". Quer dizer,
2'l
parâ o slrjeito pâssar dâeconomiâ extrativista parâ aagricultura, aquilo
loi ümâ obra de génio, e certÍLmentc apâreceu como idéiamuito ântes de
poder ser realizado, cono tudo qüe é humano, meu Deus do céul Vcia
cssc negócio do aviáo. Chega uma época em conseguiram fazer. Mas
desde quando estavam pensando nessâ porcaria? Como é que você vai
explicâr isso pela base econômica? É uma cstupidez táo gânde que é
mclhor dizer: "Esquece".
lAluno: Mas depoís que é implementado, a sociedade nào se
oÍEaniza em terfias dessa base ecofiômíca? Por etemplo, esse ercmplo
(1 e o senhot está dando...l
A base econômica náo consegue ticar pâÍâda um minuto- porque
tcm gente quc pensa outra coisâ. O próprio progÍesso tecnológico está
aqui organizando uma sociedade âssim, assim, assim.. Está aqui a
basc econômicai você está montando isto aqui e tem um suieito qüe já
pcnsou outra coisa qüe vai estuporar com tudo aquilo. Quer dizer, â
inteligência humana se antecipa a isso.
lAlLlno: Entào o sefihot acaba de dat üna eüidência.-.1
A basc económica decide a vida de um monte de imbecis; dâs
pessoas inteligentes. náo. Pode ser que a vida menial dos cretinos
dependa da basc econômica. Você organiza â vida econômica do cara
c diz: "Olha. você acorda a tântas horas, vai lá, bate o ponio, mcxe lá
as engrenagens até tantas hoÍas, daí almoça, volta...". E daí ioda a vida
mental do suicito é decidida por isso. Podc ser quê com unl cÍeiino
âconteça isso.
É o caso do lfilmel Telrpos modernos, niLo é? O sujeito fica 1á
o dia inteiro tazendo "nhec, nhec. nhec" nas engrenagcns. Quando
temina a horâ do expediente ele náo conseglle parar. lsso aí é a base
do materialisno histódco. Pode scr que as pessoâs de müito baixo QI
?9
seiam assim Mâs sáo essâs que fazem â HistóÍiâ? Elas pâdecem a
Histórial A Históriâ real é scmpre pensada antcs dc scr feita. ]üdo o
que exisle loi pensâdo primeiro, e às vezes você pensa e náo ten1 os
meios ainda pâra impleÍnentar aquilo.
Vocé vê que, por ex€mp]o, a teoria inteira da economia de mercâdo
eslava prontê no século XVI, quando a economia de mercado nal
cxisiiâ, cstava no gcrme, c você vê que aquilo tudo virârá realidade no
séculoXlX. Aquelâteoriâ loi 1êitâ toda por monges. Náo era abürgu€sia,náo erâ nâda. erâm os filósofos portugueses da [scola de Coimbra. Tlês
sóculos dcpois, você vê aquilo matcrializâdo por umâ outra clâssc sociâI,
num outro lugar Entio. como é que você vai explicar esse raio dessa
basc econômica? -'A burgucsia do sóculo XIX, necessitando criar uma
ideologiâ, transmitiu aqujlo retroaiivamcntc três sócuios antes para
un1a outrâ classe soci.ú, em Po(ugt , e os sujeitos expuseram âquilo."
Ah, iaça-mc o favor, isso c de umâ estüpidez tão grande que não deve
ser levado em contâ nem como hipótesc. porquc sc a pcssoa gasta dez
m:nulo\ pcrr rr(io(inJí e.rr nipúr(\e quir di7(r qui r,là bulÍu: t umd
hipótese idiota, Írâs o proble a é que você náo consegue invenlaÍ olrtÍa
alternâtivâ. Como náo inv€nta outra, fica com csia. Mas por quc ten de
teralgumâ? Por que náo âdmitirsimpiesmente: "Olhâ, a coisa é complexâ,
nós náo temos nenhuma erplicâçáo; e náo é porque náo temos nenhuma
que vâmos pegar a p meira cxplicaçâo idiotâ quc vocô aprcscntou".
Nós não sabemos o que detenninâ o curso da Históriâ, mas eu lhe
garanÍo: abase econômica não é. Ponto tinal. Base econômica depende
de tccnolosia, dcpcndc dc disponibilidadc tccnológica. E a tccnologia
sai de onde? Sai da bâse econômica lambém? Entáo é rírculo vicioso.
Ora, toda a estrutura econômica de um país inleiro pode ser mudada
dcrcpcntc por um invcnto, c cssc invcnto náopoderia ser d€terminado
por esla mesna bâse económica. É determinâdo pelâ inleligênciâ do
suieito que pensou aquilo.
lAluno: Mas, se a base econômica niio perfiite. esse ifivento
lambém não pode nem ser desefiaolí)ido. pade lcat só na cabeça do
À base econômica pode não ter os elementos disponíveis, mas cle
podc buscá-los de âlguma maneira. Além disso, quem disse que a base
cconômica é que dá isso aí?
l{lüÍro: Eu ão sei hoie, mas no lmpétío Romano teüe ü süieilo
queinüe tou o at condicíonado, e aqüiLa fião Íoi desenrcL?t ido potque
o rcgime eta escruÍJistat, Ao é?l
Náo ioi desenvolvido porquc náo tinha cletdcidade. Tinha um
calendário das Lcis de Murphy, das vtuias Leis de Murphy, c uma delas
dizia assim: "Quâlquer coisa que você inventc nccessita de que algo já
tenhâ sido inventado antes". Eniâo âparecia um sujeiio na Idade da
pedra, vestido com pele de onçai com uma torradeira clétrica na máo,
procurando ümâ tomada. É o mesmo problcma do ar condicionâdo.
É evidente que o regimc cscravista por si nào pode a impedir uma
coisa dessas. Mas podia ser que un1 invenlo desses. o contrário, podia
serverdade quer dizer, você cria um dctcrminado invento e estupoü
com a estrulüra econômica. Isto é possível. Um cara pode fazer isso.
O sujeiio qüe invcntou esse protocolo htm, html, que possibiliiou a
difusâo da lnternet no mundo, ele mudou ioda a economia do mundo,
ele sozinhol Ele náo precisavâ tcr ltito isso, nâda detenninava que ele
fizesse isso. AgoÍa, depois de feito, você expiica retÍoativamente por
mágica: as condições econômicas requeriam que ele fizcssc, entáo ele
fez. Oh, meu Deus do céui Primciro, as condições econômicas colocam
milhóes de problemas c só alguns deles têm soluçao; e quando tcm
solüçáo é porquc alguém encontrou.
:ll
lAl.rno: Mas, efitão, não é poryue a base económíca de hoie, por
exemplL), ele lifiha algüíM coisa noüa, ifioutdota tccfioloqícamefite,
ele aaí a Íeit luctu e uii consegui tefidet, e...1
Ele náo autêriu 1ucro, o sujeiio nao fez isso pata aulêrir lucro. Foi
úm irlandês, um irlandês ultracatólico, que estava indignado com a
tiraniâ no mundo. com a tecnocrâcia. o comunismo. etc., âí resolveu
fâzer um ncgócio para d€mocrâtizar. Foi por puro idealismo. Esse cara
é um santo, a gentc deviê bolar umâ es1átüa para cle
ÍAlüno: Parcce que a teoría filaKista et plica maruDilhosamente
beü o passado, mas semüe eru no lutuÍo.l
Vejâ, é ser scmpre o "profcta do acontecido". É ela náo explica o
passado, dá umâ impressâo de que explica o passado. Quândo você
vâi articulá-]â com os fatos do passado, nunca cles coincidcm con1
a cxplicâçAo marxista, nlrnca. Eu nao encontro um único caso de
acontecimento histódco quc se ârticule com a explicaçáo marxista,
nunca encontrei. Alé aqucles exemplo§ que eie mesmo dá da Revoluçáo
Francesâ, depois o Dezoito Brumário de Luiz Bonâpa(e, tudo aquilo
é lurâdo.
Você começa, porexcmplo. com as prarprias divisões das classes
sociais: 'Ah, porquc a burguesia náo sei o quê... a btüguesia Íez o
capitaiismo". A burgüesia fez o capiialismo coisíssima nenhuma,
quem fez o capiialismo lbram os aristocmtasl O primeiro
capilalismo qüe surgiu foi o capitalismo imobiliário, que eram os
donos da terra que botavam dinheiro parafazcrcasâ para poder vender,
para poder atrair gente parâ lá. É assim que surge o capitâlisnro. E os
primeiros bânqueiros foram os paúes. Então, o quc é que a borguesiê
tem a ver com isso? A buÍguesia náo fez capitalismo nenhum. Foi
criada por um capitalismo inventado por padres e aristocratas.
Quando tem a Revoluçáo Franccsa, você pega todos os líderes,
12
todos, um por um: 'Ah, é a revoluçâo da burgucsia, do câpitalis o,
eic.". Quantos capitalistâs tinham cntre eles? Nenhüm. Tinha um,
mas é um sujeito que permancceu desde o Àntigo Regime âté depois.
Entáo, como é que eles pudcram? "Mas eles cstavan trabalhando
para a burgucsia." Sim, nas a burgucsia deve ter pago a clcs, pelo
menos. Pelo menos reuniu os suieitos e passou uma conversâ neles.
Mas esse encontÍo nunca houve. nunca houvc intercânbio algum.
Lnláo ele: adrvrlharam u. inlere\se\ da burgu(riâ, que naô eram
os delcs. fizeram uma revolução parâ beneficiála e clcs mesmos ser
guilhotinados? É isso quc você quer dizer? Isto é umâ bobâgem sem
tamanllo, está entcndendo? É uma explicaçáo purâmente mágica.
lAlJJmo Hoie o senhot está comefilafido que ha?ia a íon açao dos
Estailos Nacionais, e a arísíocracia pega e comega a apoiat os ÍilósoÍos
paru que eles dêefi idefitidad.e ao póptio EsÍado Nacional Nisso a
gente não pode üet uma aisão ma ísta de uma micrcesttutura dafido
conseqüêficia a una superestrüÍuru?7
Náo, porquc primeiro isso náo foi u ma cstrutura econômica. Primeiro
eles emm uma estrutura dinásticâ e mililâÍ, que mai§ tarde vai tentar
criar instrumentos econômicos pàra podeÍ se viabilizar O princípio da
açáo náo é econôrnico, de maneira alguma. Náo tem absolutamentc
nada a ver, púrque nao e uma r'^a rlar..e qLre rurgiLr cnm um nu!u
interesse econômico diferente, etc., náo é nada disso. A aglutinâçáo de
lbrças ali náo tinha nada a ver com economia- Ao contrário, do ponto
de r i.ra economicu, muitâ: ve,,e' Íoi dc'vanlaju.o
Quâl é â vanlagem dc desmenbrar um império cm um monte
de unidades indepcndentes que terão seus próprios problemas, náo
ieráo assistência nacional? É táo contraproducente do ponto de vista
econômico que, se fosse dcpcnder da economia, isso iamais tedâ sido
feito. Acontece que, quando começâ a ser feito, de repente âparecenl
.ll
novas possibilidâdes de esses Estados ganhârem dinheiro. Uma delâs
sáo as gÉndes navegaçóes, Esse é um caso em que uma mudança de
ordem militar e polÍtica encontra um meio econômico de se sustentar
A economia aí vem nitidamente depois.
E tem uma outm coisa quevocê pode observar lacilmente i nunca o
ideólogo de classc pertcnce àquela classe. Quando você vê um suicito
que lbrmulou a ideologia. o sujeito é de outra classe. Por que é sempre
assim? Dificilmente aparece âssim i aqui temos um burguês formulando
uma ideologia burguesa; o prolctário form ulando a ideologia proletária;
o aristocrâta formulando a ideologia aristocrática. Nunca é assiml
Por exemplo, desses novos filósoibs, havia um pequenlr número
que era aistocrata de origem, como o próprio René Descartes, mas
muitos nâo cram, eram gente do povo, gcntc qucfoi rccolhida ali e quc
acâbou seNindo à aristocraciâ porque erâ o neio de vida que se tinha.
Seria o caso de você pensa( "Mas por que o sujeito foi lá servir os
aristocratas cm vez dc scrvir à sua própria classe?". A História intcira
é uma demonstraçâo de que náo há conexáo entre a posiçáo sociâl
do sujeitoe a ideologia de clâsse dele. Náo há conexáo algunra. Você
cscolhc â idcologia qucvocê quiscr;sc não quisertcr nenhumâ, tambóm
pod(. luda (slà hipririse màr\isru e uma [anràcmaporia mcinrn. ( uma
superposiçáo de imagens, está enlendendo?
lAluno BolÍheüista também tinha cLasse néàia...)
Não tinhâ nenhum proletfuio lá no meio. Olhâ, nâo tinha burguês
nâ revoluçáo bulguesa, náo tinha capitalista na Íevoluçâo capitalista,
náo tinha proletário na revoluçâo prolctâia, c assim por diantc. E náo
tem camponês na revoluçáo câmponesa. Você náo âcerta umâ? Prestâ
atençáo no que eu eslou dizendo: I(aÍl Maü é um palhâço em ioda
linha. Um dia os historiadores tcráo dificuldade de entendcr como é
que se levou a sédo este sujeito, assim como â gente lendo às vezes
34
certos ideólogos do tempo do Iluminismo, da Revoluçáo Fmncesa,
tcm dificuldade de acrcditâr que alguém possa ter levado aquilo â
sério. No entanto, levaram.
Nâo ó uma teoria respeitável, está entendendo? Umâ tcoria
rcspeitável tem que ter um mínimo de consistênciâ como hipótese
pàrâ merecer atençáo. Mas a lbmulaçáo dâ hipótese já é absurda.
NAo é quc ela é absurda, é invisívelt Ela náo conscgue se erprcssar,
nàoconsegue dizcro que querdjzer Entâo porque você quer dizerque
umâ idcologia de classe é a ideologia do sujeito que pertencc àquela
classe? - "Não, é â ideologia dos interesses subjetivos daquela classe,
os quajs podem serpercebidos poÍ um sujeito de outraclasse.,, Orat
E por que o sujeito dc outm classe náo percebe os interesses subjelivos
de ru" propria Lld\si c 5im dit rlas.c v./inha:' f priÍríriu. c roto, e
imbecil.
ÍAlrno, No petíoda afiÍeriot ila ldade Modema esse htibito
tambén...l
Kârl Marx é umâ espécie de Epicuro. euando você lê Epicuro só
conseguc daÍ risâdâ. Ele é ddículo em toda linha. Mas. como tem uma
faixa sociâl de indivíduos que estáo completamente perdidos, baratinados.
e que lêm dinheiro para jogar íora. eles váo conprâr isso aí.
ÍAlrno: No petíoào afiteriot, aliás, antes da ldad.e Modelna.
todo mu da agia dessa ma.fieia, ào é? Maquíaz)el tanbém ficaüa
te Íand,a idefititicat os üefi.adeircs ifiÍercsses (le ufi Eoae lafiÍe da
época... O Hobbes, .t mesma coisa...f
Maquiavcl, deum govcrnante quenáo eraele. Hobbes, amesmíssima
coisa. Sempre o intercsse subjetivo de umâ ciasse que náo era a sual
Eniáo, tem que pegar esses conceitos todos e jogá los fora. Eles náo
explicâm nada, inclusive o conceito de ideologia. É um conceito feito
35
pâra dcprcciar a idóiâ (lo outro conro se lossc âpenas uma tmduçáo
dos inieresscs de clnsse. O fatu de vocô cstar deicndcndo os intcrcsses
dc clâsse significa que à visào qüe você tcm das coisas ó Iats.rt Claro
que náol Você podc, paü âtendcr âos intercsscs de classc. fazer uDra
dcscric,ro pcúciiârnente cxata da realjdade Mas IGrl Marx diz que
nenhuma llassc pode lazer isso, só o prolctâriâdo. c os outros rodos
t(r r ',,,n..ie h i, àlicr . di' . purquc.te. ,run. o nneqr i rnd,, .,a rrü\!rj
ficâm só no mundo dâs idóins P Karl Mârxi, Se ringuénr podc làzcr
isso porque nào pÕc â máo nâ massa. Karl Marx, que nuncâ ir.rbàlhou
Lnn único dia da sua vida- como a quc realizou o milagre dc trârscencter
eía iinitâçáol)
§c você lcm uma Iilosofiâ que vai explicar a clrndiçáo hunrâna, cm
princiro lugar sua primeira obrigação é cxplicar p a vocô nresnúj
NIar\. Sc você nio cntcnder slra situâção, como ó que vâi cxplicâr a
minhà? 1iltrio, por lavorj escrcva uma autobiogr.úia dizcndo como sc
deucstc nrilagredcquevocé, filhodcum juristâ, quâseministro, captou
o irltcrcssc subjetivo do prlrletâ ado e passou pâra o lado prolelário.
Conie me conro é que sc dcu isso aí.
Naverdade, quando lQrlMârx oscrevcos prim eirLrs tcxtff â respei k)
da ltevoluçáo Socialista. ele nuncâ tioha visto um proletário na vida.
Náo conhccia esnlo. nâda sabia. nada. D:ri elc lcu aquete nctarcio do
Engcls sobre a sitraçao da classe operária c disse: ,.Saqucit ,
lA]unor abrlra isso se pad.eria aryume tot. que .'s mestrcs de
Coimbtu tcmbém nur\a íinhãú1 üista Í)uryueses e. no enta to,
Náo. clcs eíarir dcscrcvendo âquilo. elll princiro tugar, a pârtir de
uDra experjêrlcia existentc, de niuitos sóculos. Estão disculindo uma
qucstão que já cxiste lrtj muit(x séculos. c csião discurindo a parrir
da colocacão medicvâl (lo problcma, que é a .tcoria do preço jusid,.
Eles conrcçaln cntáo a dizer: "Bonr, sc c:riste um preço jus(o. qüâl
seria a base dc cálculo? ' Tcrtanr todâs a! bases de cálculo c vôcm quc
ncnhuma delas dá um prcço ius1o. Conclusão: só Dcus sabe o preço
justL,. QueÍdizcr, cxistc o preço juslo. rnas clc ó um mistériu. !htio. se
ó um mistério, o preço lusto é aqLrcle que você esiá disposto â pagâr
E sc você está disposto a pagar ó porque âchâ quc ó um prcço juslo.
e o oulro está disposto a vendcr. llnião, pronto, cssa é uma economiâ
lAlü1a: Mas. em r(nnos t11ais rcais, Sattto A9osti ho thca lillha
natado es\.t hipótese [.le disse que é absolttlamc te impossíul pata
a sd huma o acetta t o ponta m éd io ewlo de sej a o q ue lot. )
É, teoricâmcntc já eslaria resolvitlo. mâs clcs náo eslavarn
leorizândo sobrc o inleressc ohictivo de un1â ciâsse qlre nünca tinharn
visto. Não erâ isso quc clcs cstavam lirlando. rnas siln dcquâlqLrerpessoa
qlrc conrpÍacvcndc. Não âdianlavocê qucrcr cxplicar esle período por
ideologiâ dc classc ou qualqücr outro pcriodo. Votê não \,ai cncontrât
pois essa corespondôncia não e:riste. Acontccc o scguintc. quc esta
scqüência quc IGrl Mârx coloca nâ Históriâ - cornunidade prhritivâ,
depois o cscravisno, depois o tcudâlisnD, depois o capilalismo, dcpois
o socialisno é urrr dranra quc \,ocê invenlâ. é um cincminha. e
csse cjneminha é quc dá â impressio dc quc você está orientado rro
rcIjunio. Nâ faltâ de outl(rs icrnros quc csteianl em circulaÇáo, vocô
usa csscs con1o ulna espócic dc rcfcrancia.
Prri nô...Iu.,-rdnrú, i\rL,1i,,Jô i.^r.d .rru r ,,ru ( (i:r'c:i i
discurso do agcnle. Esle é um dos muilos dis{ursos de üm dos muibs
agcntcs. CLrincidiu de elc ficar niuilo pocleÍoso c tcr uma cntidêde
com quinhenlos mil funcionários pâ.â cspalhar isso pelo Dlurdo, daí
a coisa pcilou, mas é apenas urn discurso de uln agenie Pâra nós, isto
rão ó unl prirlcipio erplicativo, ó um objelo â scr cxplicâdo. Então
I
.17
náo podemos üsar o método marxista, porque ele náo é um método
científico. O método marxistê é um fenómeno histórico. Isso náo quer
dizer que náo tenho outro método alternativo pârâ explicar a ele. Eu
sobretudo náo posso ter outro táo simplesinho quânto esse. Eu náo
a(redilo quc à hisroria sclâ lao simples as\im.
lAluno: Mas fios últimos minuíos o senhot acaba de fios dar
ertdàncta\ tabat' úntra a idet1 dc indu'ftia pconomiru, contro o
íeoict da ideolo,ia- É possírel também aprese lat eúidê cias cabaís
pelo menos paru pessoas que estejam dispostas a ouúir? Não estou
Í(iafido paru... um marxistd, muilo ben, que é um murc. mas para
muila\ pe'\oasquc nao\ào ma t\ta\, \oqueo maÍ\i\no sp imprc\na
nelas e atcaba se lomaÍldo uha espécie de cacoete,,.1
c, ao dizer isso, ele já está dizendo: "Eu sou um ignorante". Se ele é
ignorante, por que você vai perder tempo discutindo com ele?
lAluno: Pois l, Íudo bem, o sujeito que nào diz isso, mas ainda
lefi esse rafiço,,.1
É qüe a genie tem dó dos nossos parentes, dos nossos amigos. Náo
tcnha náo- lgnorante é ignorante é deve ser desprczado, mesmo que
seia a nossa máe. A ignorânciâ é um pecado. Exisle a inocência ou
ncsciência, que não é um pecado. Um bebezinho não sabe nada porque
náo sabc nada. 'lem coisa que nos nào .abemo\ porque náo precisamos
saber: não sabemos quanÍo cabelo tem na nossa cabeçâ, náo sabemos
quantas estrelas existem. E existe a ignorância, que é culposa ou até
dolosa, que é a ignorância dâqueles assuntos nos quais você pretendc
opinar.Mas é isto mcsmo que eu estou làlando.'Ibm o discurso
consciente do agente e tem o discurso que é impregnado,
instrumcntos da açáo... ÍAl[no: Corno o Alltôtll
Sim, o Alaôr Caffél "Ah. náo existe ciência..." "Bom, quantâs
ciências você examinou para poder dizer isso?" - "Nenhumal""Éntáo cala a boca, burrol Náo enche!
do
ÍAluno: Parc essas pesioas, é possíúel fiosttat, pot ercmplo,
eüídêncías cabais de que, contra a id.éía de que nào e sÍa episteme,
só existít doxa, por er;emplo, stj ex.istc o discutso do ageníe, que tudo
é discurso do aqefite?)
Náo é possível, porque eles só têm d.ul7, eles náo têm experiência
da ciênciâ.
lAlluno: ELes queü?l
Essas pessoas. O suieito pode dizer: "'fudo é do.ra, náo existe
episteme" -E e! digo: "É, você tem razáo, porque tudo o qrc tcm na
sua câbeça é sódora. Eu náo posso mcterum pouco de ciência âí para
você ver ê dilêrença. Qucr dizer, vocé primeiro tenha uma experiência
da ciência e depois sâberá do que está Ialando". O sujeito diz isso
38
ÍAllrno O Alad CaÍíé escrcae isso nufi artigo?)
Náo, mâs ele é um exemplo do sujeito que está em pler,a dor.a.
ÍAluno, Mas ele cita essa opiníão onde?l
Ele náo ciia, ele é que é um exenplo disso aí, ele pessoalnente é
um exemplo do sujeito qlre só tem dord na cabeça, Ele nunca üu uma
ciência, náo ten idéiâ do que seia. Ele náo tem idéia, por exemplo,
como em certos estudos certas realidades se impôem de tal maneira
que você nâo pode mudálas de jeito nenhum. E entende que aquilo é
uma rcalidade objetiva porque você topou ali e náo vai mudar! Ainda
3r)
quevocê náo queira que seia assim, ainda que queirateroutra opiniáo,
vocô náo conseguel Isto é uma cxpedéncia que qualquer homem dc
ciência tcml
Sevocê náotemessa experiência, entáo de fâto âchaque, ârespeito
do que quer que seja, você pode pensar o que queira. Pode. O que você
nâo podc é fazer o que que! porque náo pode vivff dc acordo com o que
está dizendo. Por exemplo, quândo você vai ao dentista, você qüer que
o dentista arânque o scu dente de acordo com algum procedimento
cientificamente consolidado ou quer que afanque a marteladas? Quer
que ele peguc um alicate de mecânico e puxe, é isso que você quer que
ele faça? Náol Entáo vocô diz que tudo é doxa, mas você mesmo nâo
âcredita nisso. Exige um tratamento cientificâmentc diferenciado.
Se você mesmo não âcredita no que está dizendo, por que é que
eu vou discutir o que você está dizendo? Isso é bobagem, é um /atus
zúcis: você náo está dizendo nâda. Quer dize! você percebe... Se tudo
é doía, por que qüando você fica doente quer um tratamento médico
de boa quâlidade? O que significâ "boa quâlidade"? Qual a difcrença
entrc o Dr Zerbini e o Zé Aigó? Se é tudo dora, você vai nesse ou
naquele, vai dar na mesmâ, você vai morrer de quâlquer modo. Entáo
a pessoa náo age de acordo com aquilo, ela náo âcreditâ nâquilo,
está âpenas lãlando para te provocâr. Para que você vai entrâr numa
discussáo dessas?
l|lúno: O Robetío Caüpos de úez em quanalo diz una coisa assim
qüe (...) que os sujeitos Íicam dizendo que tuda é ideologia, que fiAo
existe ü eúade obi etia a...1
Mas é que na cabeça deles só tem isso-..
lAlrno: Mas nenhum deles é besta, iusto fia horu eh que ele oai
acender a luz ou IiE lr o cafia...l
40
Mas na hora em que o suieito vai fazer a conia do saldo bancário
cle procede cientificamente, procede pelaciência enáo pela ddÍa. Você
está dependendo da ciência em milhôes de coisâs da suâ vida, entáo
diz: 'Ah. náo, cla náo tem lundâmento absoluiol". Mâs nenhuma
ciênciâ vâi ter o lundamento absoluto, vai ter apenas um lundamento
ruzoável.
A diferençâ cntre a doÍa e a epistefie é essa: a dola nâo é fizoável;
a episíefie ê ruzoá\/el Ela náo é um conhecimcnto divino, apodíctico
e indestrutível, apenas náo é um conhecimento absurdo, é só isto.
O süjeito negâr que existe isto é negâr que ele mesmo existe. Daí o
suieito diz: "Só exisle doxa". Eu digot "Sim, na suâ cabeça só existe
dora, e eu jamais vou poder provar o contrá o. Àgora, na sua vida.
a sua existência real está entremeâda dâ presença de conhecimento
cicntífico'. Você está tomando água. Essa água náo foi filtrada? Por
que você náo toma qualqucr água? Porque você náo é besia. Você diz:
''Túdo é doxa. ma non ttuppol" .
Entáo nâo percam tempo com essas pessoas, Olha, qualqucr
sujeiio ignorante que prctendc impor suâ ignorância é uma pessoa
mát ninguém faz isso por boa intençáo. É que a gente náo está
âcostumado a olh as pessoas pela conduta delas, mas pelos
sentimentos que iemos por ela. Porque, sc cu gosto dele, ele deve
ser bom. Por qu€ você náo pode gostâr de porcaria também? Entáo
você tem afeiçáo pelâ pessoa, mâs náo precisa fazer um julgamento
positivo dela: "Olha, eu gosto dessa pessoa. quero aiudá-la, quero ser
bom para ela, mas cia náo prestâ âbsolutamente". Se você sabe disso,
cntáo sabc quc vâi ter que lhe dâr um tiatamento pedagógico. E qual
é o tratamento pedagógico para um sujeito quc já cstá discutindo de
rnaneira toialmente dcsonesta? É levar a sério a discussáo dele? Ele
não esiá prccisando de discussáo, está precisando de um bom 'cala
a boca": 'Você fica quieto, vai estudar o negócio c, dcpois, quando
.1i
voltar, a gente discute". É iguâl com o Alaor Caífér ,,Vai pra casa rapaz,
[Â]unol Os Ílósolos qüe cofieçarum a lonper cofi a üisão
fieàieaal, os primeíros, eles agifim de má-Íé? (...) potque toi uÍn
O coeficiente de má-fé é crescente ao longo do tempo. Veia,
o prcblema nâo é a cosmovisão mcdieval, é a exigência científica
medieval- Enláo
[Alúna: Eistiam pessoas de má-té fidqüeLl épaca também, fias a
etigê cia acabaúa Íazefido com que üocê identiÍicasse aquilo?)
A pressão do grupo científico era enorme, porque tinha algo
chamado quaesíionis quod libetalis, a questáo sobre o qüe quer
que se,a. Porque o §ujeito, quando chcgâva â um ce$o ponto na
caÍreirà academica. cle.e âprcscnravd à congregâcáo. ao conjunto
de prcfessores e alunos, e tinha que responder qualquer pequnta
sobrc o qüe quer que fosse. Se respondesse ma1, estava ferrado. É um
negócio telrível, náo ó? E mais ainda: todo mundo estava louco pam
dcstruir sua repüiação para prcv que você cra üm burro, entAo â
pessoa tomava um pouco dc cuidâdo. Hoje náo, se você quer destruir
a reputaçáo do sujeito, nâo vai dcsiruir no plano inteiectual, vai dizer
que ele sonegou o imposto de renda, ou que elc tem umâ amante, ou
que ele é veado, ou qualquer coisa àssim.
[Alúno Ou que ele é de dileita---l
Ou que ele é de direitâ, tâmbém vale. Mas se você prova que um
sujeito é intelectuâlmente um charlatáo. isso náo diminui a fama dele
no mais minimo que seja. Às vezes as pessoas gostam exatâmente por
câusa disso.
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Algo aconteceu, então, nesse ínÍedm; algo sc perdeu seriamente.
Mâs o lato é que esse processo nào afeta todo mundo. O sujeito
continua com um lundo de honorabilidâde, de seÍiedade, que segue
ató hoje. Tem mais agitaçáo na supedicie do mundo das idóias, na
polêmica mais pública. Mas eu vejo em todos esses lilósofos desse
período clcmentos de má-fé, àssim de varreÍ as coisas para baixo do
tapete, esconder âs coisas porque não combinam com o que se está
querendo argumentar Tbdos eles fazem isso.
ÍAl]lJro: Até René Desca es?l
René Descades? O iempo todol A Descaftes âplica se âquela
obscrvaçâo do Ronald Laing, o antipsiquiatra, que diz o seguintcr "Se
um filósofo afima que os homens sâo máquinas, nós aceitamos isso
como uma teoria perfeitamcnte respeitável, mâs se um individuo diz
que ele é uma máquina, você o in1erna". Qual é a difercnça? o sujeiio
diz: "OIha, eu não soü üm ser humano, sou apenas uma máquina,
sou teleguiado, tenho aqui umtm.nsistof tenho um circuito integrado,
ctc.". Isto se chamâ despersonalizaçáo, ele não so idcntifica como
pessoâ humana. É muito grave isso, cniáo você manda o su,eito se
tratar. QuandoRenó Dcscartcs diz que todos os homens sáonáqüinas,
cle está querendo dizer que ele também é máquina? Náo, o que elc
está querendo dizer é que os homens sáo máquinas sob certo aspecto,
que tem alguma analogia com as máquinas. Dito de outro modo: ele
está dizcndo que os homens náo sáo máquinâs de maneira alguma.
O sujeilo diz isso poque ele náo acrcdita no que está dizendo. Entâo,
só teÍn duas hipótcscs: ou o sujeito nâo acredita e está con1 vigarice,
ou elc acredita e é louco. Toda avida intelectlral moderna oscilâ entrc
esses dois póllrs, â vigffice e a loucurâ.
l{ll]no: A má Íé é semprc consciente? O suieito sefipre sabe tlue
ele está sendo igfiorufiÍe e üai esÍat tentando impot a i+noúficía
dele?)
 pergunta é a scguintc: Você tem consciénciâ moràl sempre?
E consciência moral é üm dado de nâtureza? Você tcm a consciência
moral âssirn lãtalmente? Não, você pode acâbar com a sua consciência
morâI. Depois que âcabou com cla, você náo tem mais. Dâí diz: "Eu
estou inoccnie porque náo tenho consciência do que estou fazendo".
O primiiÍu pa..o dc rnJn vrgari\râ e a(ab.r com x pruprià run{.icncia
moral.pois,seeleacabou,daívocêdizr'Ah,elenáotemmaisconsciêncial
Coitadinhol". NAo, nAo ter consciênciâ é a primcira culpa.
[Àluno: ?rdo bem, mas eu esÍou rendo uma quafilidade nüito
ArundP dP rc\tolr quc hof (n dta nào tpn p,so ron\ctpncto, na"
potq e se laftnafam num ambiente efi que iá fião erisíia prcüiome íe.
O sujeila esíá.tcostumado já àaquela naneiru...l
Ah, você está criado lá nàquele ambientc. Evocô náo fica revoltado
com cssc ambiente. náo tentâ ser melhor? Entáo vocô é táo ruim
quanto ele.
lAlrtto Eu rou dat um exefiplo: üejo iomaListas, ionais e rer istas
fiaciofiais dizenda batbaidades que se cofitrudízefi a si tnesmos, em
que a púptia Íruse cofituadiz o que se está dizendo. Ou o sujeilo é
doído au ele é un ailatisla .]
Clarol Sáo iodos âssim.
lAluno: Mds será que necessdriamente ele sabe que está
Náo, ele náo sâbe. Por quê? Porquc clc náo quer sabet não lâz
essa pcrguntai náo se exanlina. não tem exigência moral. Ele tcm uma
consciênciâ moral barâta que se sâtisfaz com qualqueÍ coisa- EntAo ele
já não prcsta, porqüc ter escúpulos, fazer pergunÍâs faz pârte: "Será
que eu estou agindo bem? Scrá que eu estou agindo corretâmente?"
Isto é o bem humano. Ninguén nascc santo, todos nór temos pecado'
Qual adifcrençâ entrc o sujeito que presta c o quenáoprestâ? O su,eito
que prestâ faz pcrgunias "Será que cu devo fazer isso? Será qüe está
certo?" , e o outro não faz. Se náo l'ez a pcrgunta, já nâo presia.
Você diz: 'Ah, mas cle está inocenie, ninguém se preocupâ com essâs
coisas". Entáo, sáo todos vigadslas.
LAIúno: Há pessoas que têfl i níoÍfiaÇào, mas iá ltão cbnseguefi mais
concebeÍ... Esses iarnalistas, eu acho que e bamnissa, ão conseluefi
mat\ conceb?Í qu' aqullo po\\a nào ?sl0t ce,1C: naa con5PÉu?n fiois
co cebet a àiÍercnça enbe Íato e opilliaio.l
Náo consegucn concebcr e náo tôm nenhum impulso dc fazer â
pergunta, entáo elesjáestáo eshagados compleiamcnte. Existc unl princípio
jurídico que diz que o criminoso náo pode alegar suà própriatorpeza como
desculpâ para o seü âto: "Olha, cu estuprei porque sou um estupmdor Éu
Íôubii pl,rqu, 'uu unl lâdràu. Porlanlo. ru nao rcnhu curpa". L u que 
rocc
cstá lâzendo com esses caràst "Eu minto porquc sou mentiroso".
lAluno: Náo é issol Esse impulso de lazcr as perguntas é uma
acuidâde naturàl?l
Náo, é âpenas uma obÍigaÇâo hümana. É apenas uma obrigaçào
humana porque náo há outra maneira de você agir bem.
l{lLüto. Toda set htlfiafio L'ai íazer essas perguntus, ( ..) ou íssa é
construído a patti de um mofienb? )
É porquc sinplesmente náo há outra maneira de você âgiÍ bcm.
você fazer as perguntâs. A náo ser que você já nasccu sânio. Ou você
tcm uma assislénciâ direta do EspÍrito Santo, que sempre lhe diz o que
é certo scnr você precis.rr perguntar nada, ou entáo tem que lãzer as
perguntas. Se vocô náo faz as perguntâs é porquc a simples hipótese
de que haja umâ açào mclhor e pioÍ nem lhe ocorre. cntáo você esiá
abaixo dc animal.
lAlüno, Pois é, mas seú que aleum did fiessa úida não lhe oco eu
que 1)ocê tez... houre uma sétíe de dccísões, entim, que...)
Veja, ninguém pode dizcr qüe nesta vidâ nuncâ foi convidado aâgir
mclhor Quando uma pessoa lãla mal de !ocê, criLica, reclârnâ algo dc
você. ó um convite a que você se exâminc Você tem unra nânrorâda, de
repente, seln explicaçâo. vocô a chutâ fora. Ela vai reclamar: "Você fez
isso comigo...". Vocé vai parar pârâ pcnsâr: iiSerá que eIâ tem râzáo?".
Ou você não vai nem iazer essâ pergunta? Sc nem laz, entáo você é
moralmente iüsensível, é um sociopata. Sociopâtia é isso, vocô náo
tern intcrcsse nos senlimentos morâis. E qüando isso se consolidâ, scia
individualmcnte. seja coletivamente, entáo vocô tem a epidemia de
lAlnno: O perconagefi Wi sLon do liarc 19841 é uü ercfiplo
de aLeuéfi que sente o impuLso de lazet .r peryunta mesmo nào
consequindo. nio é? ELe se te que tem algo esÍrufiho..-l
Sim, mesrno não conseguindo... Você podc ter sido criado nun1
ambienle iAo amorâl quc vocô náo ten os termos para formular as
perguntas. náo sabe equacionâr o problcma. mas tem o impulso âindâ,
o desconlbrto cxistc. Agora, se náo len1 desconfoúo âlgurn, se você
cstá perfeiiamente bem assim. cntáo é exatanente um sociopata.
l{llrttu: Mas entào o estado üalwal é de alEuma ma eiru üocê ter
um desconlotlo peLa fienos...l
ui,.,..,!,b;;!'rr\.,.i. .o'.
Eu náo sei se isso é um cstado natural no sentido atual da pâlavra
"natureza". Nós cntendcmos por natural aquilo que nâsce com o
sujeito por genótica, etc. Eu náo sei se é natural, sobrenatural ou
cxtranatural. ncm prctenderia discut isto âgora; eu sei é qlre nào
existe outra mancirâ de âgir melhot, a não ser pergunlar se vocô
cstá agindo pior. E, se é âssim, entáo nao podemos tolerar nenhum
ser humano que não laqa essâ pergunta. Porque, se eÜ faço vou me
impedir dc lãzer uma série ale coisas com relaçáLr a cle, mas ele não
vai se impedir de nada com relaçáo a minr, cntáo cle podc tudo c eu
náo posso nada. As pessoas que tôm a consciência maior náo podem
iolerar a compânhia dâs pessoas que nâo iêm' Senáo é o scguinte:
cxisle uma lei pâra você. você tem que âgir denlro da lei, mas ele pode
l'azer o que cle quiser Será que dá pata convivcr com essa pcssoa?
Claro que nào! Você náo precisa chegar a Úmã doÜtrinâ noral mais
profu nda para isso, nâo precisa nem responder se isso é de nâtuÍeza ou
qual é o fundâmento disto, pode dar umâ soluçáo meÍamcnte prática
Olha, nâo dá para agüentar cssâs criaturas' Eu não quero ter nada
a ver com elas. Se pcrcebo que uma pessoa é vagâmente assim, saio
corrcndo. Mâs às vezes você náo percebc. A sociopatia só aparece no
monento de opQões morais mais decisivas, c ai vocô perccbe quc o
sujeiio é insensível. Se você percebcu. alê no pé, luia, porque náo vâle
a pena. senáo você vni ter que passar a vida vigiando aquele câm adâ'
fiscâlizando. amarrando a mao dele, e parâ istovocê precisaÍia termuito
amoÍpor ele. Por excmplo,você tem um trlho âssim, âdora aquele filho'
mas ele náo prestâ, é üln sociopata Boln, enÍáo vocô vai tcr o resio
da vida trâbalho coin ele Nâo iem máes c pais que gastam a vida
inteira tenclo problcma por câusa daquelc fi]ho c tentando? Por quê?
Porque eles o amaml Mas você é obrigado a amar todo sociopatâ quc
apàÍecc nâ sua vida c cuidar dele como sc lbsse seu filho? GraÇas a
lfeus. nAol
11
v
Se cx livcssc vocaçao pâra isso eu âr
I I :', I 
* 
1," " ,"" ,"1,;;: .,.;:;,:l'11".:::1i:::';:.;;nDà rànlltra. cu i(ntava mandar rmbo
mcsmo quc rbssc um nrn",,*. *,,r",',1í.lji"T:j:::"r"#
é tanto que vâj pâssar a vjdâ inieira cuidando. Eu não tenho ianto
:,:" i"::' :"' 
Il ": \a lcrrcjrà que ' re Ê/i r 'e ru pej(eb.r qu,cre rn\.n\r\(1 ru mindú(rnburrj -V.l.. c nraror,lr idarlr. * rira. jafiz o que devia fazer por você,,. Mas se você ó trouxa c quer conlinuàrproccdendo com o amor paterno ató o fim. faça. n um ai.citn qre
ljl"^ ll.1 
rI", *i" ,m" ubrigeç"o. porque nrnguc,n c ubrigeoo aoImporsrvcl GraçasaDeus tsso nào me ac,,r
eu sen, dúvida mandava emborâ 
licceu' nlas, seacontecesse.
,-.-1,,:,' 
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l" 
,ninna ràm,tia. rir,"|q;rp r,..,,. m,u quc ê \jdi,ntcr'à deu rrdba,ho f,rãva la o 5utc n Lon:<.5entr ann, de i(tJde cesiavam paje mâe preocupados porquc elc iâ êprcrü.lralguma. Eu tinhauln vizinho iambém, que erâ meu amigo de inJâncià. Elc catava iu.toquanlo rra drnh(iro do püi r dd máe c.arà parJ iugrr.,.,",ri;,
Afundou com afamíiia,

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