Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autora: Profa. Divane Alves da Silva Colaboradores: Prof. Alexandre Ponzetto Profa. Angélica Carlini Ética, Legislação e Direito Autoral Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Professora conteudista: Divane Alves da Silva Doutoranda em Epistemologia e História da Ciência na Universidade Tres de Febrero/Buenos Aires – Argentina. Mestre em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998), com diversos cursos de especialização (lato sensu): Controladoria (Santana e São Paulo – 1992), Didática do Ensino Superior (Mackenzie – 1996), Formação de Professores em Educação a Distância (UNIP – 2012). Graduada em Ciências Contábeis (1990) e Filosofia com Licenciatura (Mackenzie – 2009). Coordenadora do curso de graduação de Ciências Contábeis na Universidade Paulista – UNIP na modalidade a distância. Professora de pós-graduação na Fundação Vanzolini/USP e FMU e de graduação na FAAP e UNIP. Professora autora de materiais para a modalidade do ensino a distância para os cursos de Ciências Contábeis, Gestão Financeira, Gestão de Recursos Humanos e Segurança do Trabalho, disciplinas correlatas à formação acadêmica. Possui larga experiência em empresas, por ter atuado como controller, contadora, auditora, entre outras atividades relacionadas às áreas contábil, administrativa, tributária e financeira. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586e Silva, Divane Alves da. Ética, Legislação e Direito Autoral. / Divane Alves da Silva. - São Paulo: Editora Sol, 2018. 112 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-082/18, ISSN 1517-9230. 1. Direito autoral. 2. Normas éticas. 3. Legislação. I. Título. CDU 342.28 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Fabrícia Carpinelli Juliana Mendes Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Sumário Ética, Legislação e Direito Autoral APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 O QUE É A ÉTICA .................................................................................................................................................9 1.1 A ética social e da pessoa ................................................................................................................. 15 1.2 As sociedades: família, empresa, nação e globalização ........................................................ 20 2 SISTEMAS ECONÔMICOS .............................................................................................................................. 27 2.1 Capitalismo e socialismo ................................................................................................................... 28 2.2 A empresa e a sociedade ................................................................................................................... 30 3 PRINCÍPIOS E NORMAS ÉTICAS ................................................................................................................. 36 3.1 Ética empresarial .................................................................................................................................. 36 3.2 Questões éticas na empresa ............................................................................................................. 37 3.3 Ética profissional .................................................................................................................................. 41 4 CÓDIGO DE ÉTICA EMPRESARIAL E PROFISSIONAL........................................................................... 42 4.1 O Código de Ética Empresarial ........................................................................................................ 42 4.1.1 As dimensões da ética empresarial.................................................................................................. 43 4.1.2 Desenvolvimento e implantação de código de conduta empresarial ............................... 46 4.2 O Código de Ética Profissional ........................................................................................................ 48 4.3 A ética, a propaganda e a publicidade ........................................................................................ 54 4.4 A Certificação SA 8000 ...................................................................................................................... 56 Unidade II 5 O QUE É LEGISLAÇÃO .................................................................................................................................... 62 5.1 O Direito Comercial ou Empresarial .............................................................................................. 63 5.2 O Direito do Consumidor .................................................................................................................. 65 6 DIREITO DE PROPRIEDADE MATERIAL, INDUSTRIAL E INTELECTUAL .......................................... 67 6.1 Registro de marcas e patentes ........................................................................................................ 70 6.2 Contrato de Prestação de Serviços ............................................................................................... 74 7 LEI DOS DIREITOS AUTORAIS ...................................................................................................................... 77 7.1 Direito do autor .................................................................................................................................... 84 7.2 Jurídico da internet ............................................................................................................................. 87 8 A ATUAÇÃO DAS ENTIDADES DE CLASSE MAIS REPRESENTATIVAS ........................................... 91 8.1 O Estatuto das Micro e Pequenas Empresas .............................................................................. 91 8.2 O Novo Código Civil ............................................................................................................................ 97 7 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /17 APRESENTAÇÃO A disciplina Ética, Legislação e Direito Autoral, no contexto do curso de Artes Visuais, sem desconsiderar de maneira alguma as outras disciplinas, tem um papel de extrema importância, uma vez que envolve as relações humanas, interna ou externamente à empresa. Em toda sociedade há o envolvimento das relações humanas, e estas, por sua vez, nem sempre contemplam situações harmoniosas, o que, em outras palavras, significa dizer que os conflitos também fazem parte dessa relação, devendo ser resolvidos à luz da legislação. Em nosso plano de ensino e, consequentemente, neste livro-texto estão contempladas as legislações relacionadas com os direitos e deveres que envolvem a relação entre as pessoas e empresas que atuam com as Artes Visuais. Sendo a legislação vasta em nosso país e atualizada constantemente, é prudente mencionar que não somente os profissionais que atuam com as Artes Visuais, mas também a sociedade, devem buscar sempre uma atualização das legislações, bem como os assuntos inerentes à profissão escolhida. Desejo a você bons estudos, saúde e sucesso! INTRODUÇÃO Os objetivos da disciplina Ética, Legislação e Direito Autoral estão relacionados com o conhecimento e respeito às normas éticas e legais relativas ao consumidor de produtos e serviços de comunicação, conforme aponta o respectivo plano de ensino. Relacionar a ética com a busca da credibilidade profissional e da organização; compreender os mecanismos de autorregulação da organização e os mecanismos externos de regulação legal; conhecer a legislação que regula as questões pertinentes ao Direito Autoral e interpretá-las com uma perspectiva ética, particularmente aquela que regula as produções de comunicações, são pontos necessários para a formação profissional de pessoas que venham a atuar com as Artes Visuais. Para cumprir os preceitos determinados no plano de ensino desta disciplina, num primeiro momento são apresentados o conceito de ética e sua aplicação tanto nas relações pessoais quanto nas empresariais, considerando-se inclusive a sociedade empresarial atual, ou seja, globalizada, envolvendo também a aplicação do código de ética relacionado com a propaganda e com o profissional de artes visuais. Também são discutidos os sistemas econômicos – capitalismo e socialismo – e o envolvimento da empresa com a sociedade. Na sequência foram reservados os itens relativos à legislação que envolve tanto as pessoas quanto as empresas que direta e/ou indiretamente atuam com as artes visuais. A seguir, é abordado o estudo sobre a legislação referente à propriedade industrial com os direitos autorais, bem como a atuação das entidades de classe representativas, o estatuto das pequenas e médias empresas e o novo Código Civil, de forma que seja possível a você, futuro profissional das artes visuais, ter uma visão geral da contribuição que esta área tem na sociedade atual. 9 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL Unidade I 1 O QUE É A ÉTICA Para que você compreenda melhor a disciplina Ética, Legislação e Direito Autoral no contexto do curso de Artes Visuais, será necessário que entenda como surgiu a ética, em que momento da história da humanidade isso ocorreu e em que local, o que significa a palavra ética. Nesse contexto, segundo Mattar Neto (2012), a ética é um ramo da filosofia que estuda o comportamento universal do homem em sociedade. Aparentemente, é uma frase simples, mas certamente temos muitos assuntos que serão mencionados e que terão de ser desvendados; caso contrário você estaria apenas decorando conceitos, o que não levaria a nada, tenha certeza. Tomando-se como base a definição da ética por Mattar Neto (2012), temos a seguinte questão: mas por que a ética é um ramo da filosofia? Então, o que significa filosofia? Por que estudar o comportamento universal do homem? E a relação com a sociedade? Conforme você já percebeu, são muitas respostas a buscar, e todas essas respostas ocorrerão durante os assuntos que compõem esta disciplina, Ética, Legislação e Direito Autoral . Sem ainda conhecer historicamente sobre o assunto ética e seu desenvolvimento no tempo, mesmo por intuição há de se entender que sem regras não é possível haver uma boa convivência entre as pessoas que compõem determinada sociedade, seja ela familiar, religiosa, empresarial, militar ou de outro tipo. Logo, a prática das regras torna-se necessária para, assim, evitar o conflito entre seus membros. De uma maneira ampla, vale informar que o convívio social envolve comportamentos morais e éticos. Os comportamentos morais estão relacionados com situações efetivas, enquanto os éticos envolvem toda uma sociedade. Provavelmente você já esteja pensando: então haverá punição para aquela(s) pessoa(s) que venha(m) a descumprir alguma regra determinada por uma sociedade? Sim, sem dúvida, as punições devem ocorrer para que haja um ajuste no comportamento do homem em suas próximas atitudes, para que possa a voltar e/ou continuar com o convívio social. Ao longo dos tempos, a história nos mostra que algumas punições foram abandonadas, por exemplo, o uso da guilhotina; porém, outras punições foram criadas. Assim, é possível adiantar que a ética acompanha a evolução da humanidade e deve ser aprendida e praticada, mas fique tranquilo, teremos diversos itens que compõem a nossa disciplina e permitirão que você compreenda melhor o assunto ética, uma prática desafiadora para todos nós! 10 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I Sabendo que a ética é um ramo da filosofia, vamos entender como nasceu a filosofia para assim entendermos como surgiu a ética. A filosofia nasceu da mitologia e está relacionada com o pensamento racional (logos), ou seja, o pensamento reflexivo. Então, o ideal é conhecer a base etimológica das palavras relacionadas com a ética: filosofia, mitos e logos. Porém, não podemos em hipótese alguma deixar de abordar o que significa a palavra etimologia. No Dicionário Michaelis (2017), temos: sf (gr etymología) Gram 1. Estudo da origem e formação das palavras de determinada língua. 2. Étimo: A etimologia de lobo é o latim lupu. E. popular: etimologia duvidosa, em que o povo filia uma palavra a outra que pareça suscetível de dar explicação dela. Agora que você já sabe que etimologia significa o estudo da origem e da formação das palavras de determinada língua, é importante conhecer o significado da palavra filosofia. Conforme aponta Mattar Neto (2012, p.1): trata-se de uma palavra composta vinda do grego que assim se escreve: philosophia, onde phili, que quer dizer amizade, e philo, amigo ou amante, significa sabedoria, conhecimento, saber. Assim, pode-se indagar que a filosofia nada mais é que o amor ao saber e, por sua vez, o filósofo é o amigo da sabedoria. Você já deve estar se perguntando: qual a etimologia das palavras mito e logos? Recorrendo novamente ao Dicionário Michaelis (2017), temos: sm (gr mythos) 1. Fábula que relata a história dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade pagã. 2. Interpretação primitiva e ingênua do mundo e de sua origem. 3. Tradição que, sob forma alegórica, deixa entrever um fato natural, histórico ou filosófico. 4. Exposição simbólica de um fato. 5. Coisa inacreditável. 6. Enigma. 7. Utopia. 8. Pessoa ou coisa incompreensível. E para a palavra logos, também segundo o Dicionário Michaelis (2017), temos: sm (gr lógos) 1. Na filosofia de Platão, a razão como manifestação ou emanação do ser supremo. 2. Na filosofia de Heráclito e dos estoicos, o princípio racional que governa e desenvolve o universo. 3. Na teologia cristã, o verbo de Deus, Cristo, segunda pessoa da SantíssimaTrindade. Em termos gerais, está claro que a filosofia significa amor ao saber; mito está relacionado com os deuses; e logos está voltado para o racional. Mas o que tudo isso tem a ver com a nossa disciplina? Tudo a ver, pode-se de imediato responder, mas vamos com calma! 11 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL De acordo com Aranha e Martins (2005, p.12), “a filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo”. Assim, pode-se afirmar que todos os assuntos podem ser pensados filosoficamente, ou seja, de maneira racional, e a ética não poderia ficar de fora. Mas como nasceu a filosofia e qual a sua relação com a ética? A filosofia nasce do pensamento mítico (deuses), chegando ao pensamento racional, o que significa o ato de refletir sobre todas as coisas. Dessa maneira, pode-se considerar que a filosofia permeia todas as áreas sempre buscando o mesmo: a compreensão da vida por meio de perguntas e reflexão. Assim, a filosofia está nos assuntos sociais, éticos, econômicos, estéticos, históricos, políticos, científicos; enfim, onde está o homem, está a filosofia! A escultura em bronze de Rodin chamada de O Pensador (1880), apesar de ter sido concebida no século XIX e a filosofia ter surgido ao final do século VII e início do século VI a.C., tornou-se um símbolo do ato de filosofar, por mostrar o homem pensando, refletindo sobre a ação que deverá realizar, o que pode desde já nos remeter à ideia de que filosofar é pensar criticamente! Figura 1 – O pensador Observação Auguste Rodin (1840-1917) nasceu em Paris (França) e foi além de seu tempo. Um grande renovador da escultura europeia, trouxe para suas obras a luz e a sombra. 12 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I Estamos no final do século VII e início do século VI a.C. (exatamente como você entendeu, antes da era cristã), mais especificamente na Grécia Antiga, onde considera-se que nasceu a filosofia. Você já deve ter ouvido falar que a Grécia é o berço da civilização ocidental, e isso tem um significado no momento em que nasce a filosofia. O homem adquire a liberdade de pensar, escolher o seu próprio destino, o que o leva ao centro das decisões, ao centro do universo. Figura 2 – Acrópole Esta figura representa a Acrópole, na Grécia Antiga, onde eram construídos os palácios dos governantes, sempre em local alto para ter um controle melhor de todo o território. O nascimento da filosofia dá-se pela ruptura com a mitologia, mas o que isso quer dizer? Como ocorreu essa ruptura? Cumpre esclarecer que a civilização antes do final do século VII e início do século VI a.C. era regida pela mitologia, pelos deuses, pela religião, o que significa dizer que o homem (entenda homem sempre como humanidade) não tomava decisão sem antes consultar os deuses; assim, todo o seu destino era atribuído a esses deuses. Era a mitologia que explicava o homem e, sua relação com o mundo e, com a natureza. Considerando-se que o homem sempre buscou conhecer o seu papel no universo e que esta e outras respostas, por exemplo, quem sou, de onde venho, para onde vou, eram sempre advindas dos deuses, o homem não era responsabilizado pelos seus atos, mas, sim, os deuses. Segundo Mattar Neto (2012, p. 2): Os mitos eram a explicação para a realidade que os gregos possuíam. A palavra mythos não tinha, originalmente, o significado de lenda ou fábula que hoje tem. Aos poucos, a palavra mythos vai perdendo o sentido de explicação da realidade e outra palavra vem tomar o seu lugar: logos. Há diversos deuses na mitologia; você já deve ter ouvido sobre diversos deles, e como eram chamados os doze deuses do Olímpio, ou seja, da mitologia grega: Zeus, Hera, Posidão, Atena, Ares, Deméter, Apolo, 13 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dionísio. E sobre os Doze Deuses romanos, estes pertencentes à mitologia romana: Júpiter, Juno, Neptuno, Minerva, Marte, Ceres, Febo, Diana, Vulcano, Vênus, Mercúrio, Baco. A figura a seguir mostra a deusa Aphrodite (ou Afrodite), pertencente à mitologia grega, considerada a deusa do amor, da fertilidade. Figura 3 – Afrodite A deusa Vênus, pertencente à mitologia romana, assim como Afrodite, também é considerada a deusa do amor, da fertilidade. Figura 4 – Vênus 14 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I Observação À mitologia são atribuídas classificações, sendo as mais comuns a grega e a romana. Conhecer os deuses e suas respectivas representações para o homem daquela época irá contribuir com o entendimento sobre os deuses na civilização antiga. Saiba mais Há diversos filmes que tratam sobre os deuses da mitologia. Um deles é: 300. Dir. Zack Snyder. EUA: Warner Bros., 2007. 117 minutos. Caso já tenha assistido, reveja-o, pois esse filme irá contribuir com o entendimento sobre o papel dos deuses na vida dos homens daquela época. Também leia a obra: COMMELIN, P. Mitologia grega e romana. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2011. É importante compreender que a passagem da mitologia (mythos) pela razão (logos) não foi tão simples assim. Foram anos para que o homem deixasse de atribuir aos deuses a responsabilidade por suas decisões e assumisse, assim, o seu próprio destino, conforme mencionam Aranha e Martins (2005, p.13): À teogonia e à cosmogonia opôs-se a cosmologia, isto, é a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca da arché, do princípio material e também regulador da ordem do mundo. Essa busca da arché, do princípio ou fundamento das coisas, transformou-se na questão central para os filósofos pré-socráticos. Antes de avançar o estudo sobre o nascimento da filosofia, é importante esclarecer o significado dos termos apresentados por Aranha e Martins (2005): • Teogonia: termo formado por theos (deus) e gonia (origem, geração), designa a narração mítica do nascimento dos deuses. Relaciona-se com a cosmogonia. • Cosmogonia: narrativas míticas sobre a origens e a formação do universo. 15 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL • Cosmologia: logos significa razão; assim, cosmologia é a explicação racional do mundo em oposição às crenças míticas vigentes. É importante mencionar que os filósofos pré-socráticos foram pensadores que viveram antes de Sócrates, filósofo que muito contribui com o pensamento racional. De acordo com Mattar Neto (2012, p. 7), pode-se entender que foi a partir da “decadência da civilização dos aqueus, baseada em clãs, substituída lentamente pela polis (cidade-estado) grega, que o poder da palavra falada e/ou escrita passa a ser essencial”, e assim, aos poucos, os conceitos foram sendo substituídos, principalmente em relação à explicação sobre o universo – kósmos –, que até então era dada pelos theo (deus, divindade), sendo agora explicada pela razão, pelo pensamento racional que passa a dar conta de tudo – em outras palavras, substitui-se a explicação divina (gonia) pela científica (logia) – e assim nasce a filosofia, um pensamento racional, crítico, que passa a explicar tudo o que está no mundo e o próprio mundo. Saiba mais Leia o livro: GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. Trad. João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Nele, o autor nos conduz a um passeiosobre o nascimento da filosofia. 1.1 A ética social e da pessoa Sendo a ética um ramo da filosofia que estuda o comportamento universal do homem em sociedade, qual é o seu objetivo e sua finalidade? De uma forma geral, o objetivo da ética é manter uma convivência saudável entre todos os que compõem esta sociedade. Você já deve estar pensando que tudo isso todos já sabem, e aqui está a minha pergunta: será? Se todos já soubessem, não haveria conflitos, discórdias. Conhecer o conceito de ética não significa aplicá-la! Daremos continuidade ao texto transcrevendo o exemplo utilizado por Lisboa (2009, p.15-16) e, em seguida, faremos os comentários, e tudo ficará mais claro. O caso de uma pessoa que entra numa loja com o objetivo de adquirir um aparelho eletrodoméstico. Certamente, na loja encontrará alguém com o objetivo de vender eletrodomésticos. Para que ambos os objetivos – o de 16 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I comprar e o de vender – sejam concretizados, é imprescindível que um “relacionamento comercial” seja mantido entre as partes. Note-se que, no exemplo, o relacionamento envolverá pessoas com objetivos opostos, uma objetiva comprar, enquanto a outra deseja vender. De tal relacionamento, várias questões podem surgir, tais como: marca e preço do produto, condições de pagamentos, prazo de entrega etc. Na discussão para resolver tais questões, cada lado assumirá uma posição e comportamento próprios, dentro daquilo que acredita ser certo e justo para a situação. Desse modo, os objetivos individuais só serão atingidos caso as pessoas, não obstante as posições opostas, cheguem a um ponto de entendimento comum. Apesar de ser um exemplo um tanto simples nos mostra uma relação de conflito, que pode ser sobre preço, condições de pagamento, marca do aparelho, e, embora seja de caráter particular, esse conflito precisa ser resolvido; caso contrário, os dois perderão – comprador e vendedor –, mas repitimos: trata- se de uma situação individual, na qual a ética nada poderá fazer, uma vez que está preocupada com o comportamento universal dos homens, ou seja, em caráter coletivo. Apresentamos agora o seguinte exemplo. Leia com muita atenção: Estamos numa cidade relativamente pequena, por volta de 20 mil habitantes, constituída por diversos bairros, e os moradores entre si mantêm um relacionamento agradável. O atual prefeito entende que precisa construir na praça principal da cidade um parque para que as pessoas possam fazer caminhadas e também quer adquirir aparelhos de ginástica. Embora seja uma ideia formidável, uma vez que atingirá os moradores, promovendo uma melhor saúde para todos os que frequentarem o parque, ele (o prefeito) não pode tomar esta decisão sozinho: dependerá da aprovação dos vereadores, e estes, por sua vez, precisam consultar se tal proposta encontra-se em orçamento. Este exemplo nos mostra uma situação mais complexa, por envolver outras instâncias, e mesmo sendo uma ótima ideia, pode ocorrer que neste momento o parque não seja realizado, e o prefeito e os moradores precisarão entender essa decisão. Em outras palavras, o conflito precisa ser resolvido de uma forma respeitosa entre todos, isto é, ética! Considerando-se que desde os primórdios, ou seja, desde o início da humanidade, e a história nos conta isso, o homem sempre viveu em sociedade – aliás, o homem nasceu para viver em sociedade, ele não consegue viver só –, e Lisboa (2009, p.16) completa: “o homem é um animal social por natureza”, e continua: O termo sociedade pode ser definido de várias maneiras, sempre em função do contexto no qual se encontra inserido. Tome-se a seguinte definição: 17 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL integração verificada entre duas ou mais pessoas que somam esforços para que determinado objetivo seja alcançado. Aqui cabe uma observação. A integração entre as pessoas ocorrerá a partir de um relacionamento saudável, e ainda será necessário que todos dessa sociedade conheçam o(s) objetivo(s) a serem alcançado(s); caso contrário, o relacionamento será comprometido. Portanto, pode-se entender que viver em sociedade é a busca constante de relacionamentos saudáveis. Lisboa (2009, p.16-17) continua seus apontamentos sobre o homem em sociedade, porém faz uma advertência: “se temos diversas sociedades, teremos também objetivos diferentes para cada uma delas e ainda precisamos saber a qual sociedade pertencemos”. São exemplos de sociedades: a matrimonial; a profissional; a religiosa; a de lazer; a de saúde; a militar etc. Você pode estar pensando: mas eu posso participar de diversas sociedades ao mesmo tempo; haverá conflitos entre elas? Sim, você participar de diversas sociedades ao mesmo tempo, e isso é muito comum; porém, para que não haja conflitos, os relacionamentos entre os seus membros precisam ser pautados pela ética e pelo respeito entre todos! Lisboa (2009, p. 16) completa: Todas essas sociedades estão relacionadas entre si de alguma forma, inclusive no que diz respeito aos países. Com base nessa visão ampliada, todos os homens, em primeiro plano, formam uma única sociedade, a sociedade dos habitantes terrestres. A partir daí, são derivadas todas as demais sociedades: os habitantes dos países, dos estados, das cidades, os integrantes das áreas profissionais, das religiões etc. Diante do que foi exposto até aqui, você deve estar pensando: então, manter um relacionamento saudável entre as pessoas não é uma opção, mas uma obrigação, uma vez que será esse relacionamento saudável que irá garantir a própria sobrevivência da raça humana! Perfeito! A ética é um ato racional e deve ser aprendida, ninguém nasce sabendo como conviver com o outro. Considerando que para o homem entender o seu papel no mundo precisou deixar os deuses (mitos) e tomar conta de sua vida pelo pensamento racional, é exatamente do que estamos falando, e somente o homem é capaz de garantir a sobrevivência da própria espécie. A partir do momento em que o comportamento do homem muda ao longo da história, pode-se entender que a ética acompanha tal mudança; em outras palavras, regras que ocorriam no passado, por exemplo, o casamento de pessoas em que os respectivos pais combinavam (por interesses próprios) o matrimônio, sem conhecimento dos noivos, trata-se de uma prática não mais utilizada pela nossa sociedade, ou seja, os valores mudam ao longo da história. 18 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I Lisboa (2009, p.18-19) entende que “a mudança de comportamento não ocorre somente ao longo dos tempos, mas durante a vida do próprio homem”, devido às influências que ele recebe durante a sua vida ou até mesmo por escolha própria, e continua: O fato de pessoas distintas apresentarem comportamentos distintos, diante de situações iguais, nem sempre implica que exista uma parte “certa” e outra “errada”. Significa tão somente que cada parte tem sua visão própria da vida, isto em decorrência das condições que possui e das informações que recebe. Lisboa (2009, p. 17) adverte que a participação de cada pessoa em determinada sociedade pode acontecer de três formas: • legal: sociedade militar, em que as pessoas, sem quaisquer conhecimentos entre si, juntam-se em prol de determinado objetivo; • espontânea: torcedor de um time de futebol ou de outro esporte; • natural: formação de uma família. Tomando-se como base todas as informações até aqui, pode-se entender que a ética está relacionada com a convivência adequada entre as pessoas de uma mesma sociedade, conformecompleta Lisboa (2009, p. 22): A ética, enquanto ramo do conhecimento, tem por objeto o comportamento humano no interior de cada sociedade. O estudo desse comportamento, com o fim de estabelecer os níveis aceitáveis que garantam a convivência pacífica dentro das sociedades e entre elas, constitui o objetivo da Ética. Mais uma dúvida deve estar ocorrendo em você agora. Se há sociedade, se há comportamento, se há cuidado em relação a uma convivência adequada entre todos justamente para garantir a sobrevivência dessa sociedade, então precisaria haver regras para que todos pudessem cumprir e assim garantir o bem-estar de todos, certo? Você está completamente certo, as regras precisam ser estabelecidas e ser conhecidas por todos, mas sabemos que nem sempre são cumpridas, logo a sociedade sofrerá as consequências, o que nos leva a entender que, se há regras, teremos que ter punições, também conhecidas por todos, para serem aplicadas àqueles que venham a descumprir tais regras. Saiba mais Em relação ao assunto regras/punição, é recomendada a leitura da obra: FOUCALT, M. Vigiar e punir. São Paulo: Vozes, 2015. 19 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL Para um melhor entendimento sobre a ética, daremos mais explicações, uma vez que você está sendo preparado para entender de uma maneira clara a ética profissional e empresarial, ou seja, a ética aplicada ao mundo dos negócios. Vale reforçar o tema ética. Lisboa (2009, p. 23), de forma simplificada, define a ética da seguinte maneira: “O termo ética como sendo um ramo da filosofia que lida com o que é moralmente bom ou mau, certo ou errado. Pode-se dizer, também, que ética e ‘filosofia da moral’ são sinônimos”. Então, acabou o problema, correto? Já conhecemos o conceito de ética, agora é aplicar, certo? Errado, para a primeira pergunta; agora começou o problema, uma vez que envolve juízo de valor. Quanto à segunda pergunta, conhecer o conceito de ética e aplicá-lo envolve decisão e pensamento crítico, ou seja, abrange a preocupação que precisamos ter para com o outro, uma vez que vivemos em sociedade e esta precisa evitar conflitos, para o bem-estar de todos! Popularmente o termo ética, conforme comenta Lisboa (2009, p. 23), “passou a ser sinônimo de conjunto de regras”, e assim temos a ética pessoal e a profissional, ou seja, são regras que devem ser cumpridas para garantir o bem-estar daquela pessoa ou daqueles integrantes de uma determinada profissão. Lisboa, (2009, p. 23) faz uma comparação entre os filósofos e os físicos, veja só: Os filósofos referem-se à ética para denotar o estudo teórico dos padrões de julgamentos morais, inerentes às decisões de cunho moral, tal como os físicos usam o termo física para aludir a investigação das interações entre os campos de força e os meios materiais. Considerando-se a base etimológica (origem do significado das palavras) das palavras ética e moral, vemos o mesmo significado, ou seja, ethos, em grego, significa hábito e costumes, e mores vem do latim e tem o mesmo significado, mas a aplicação ao longo da história mudou. A moral cuida dos problemas individuais e a ética cuida dos problemas de forma universal, ou seja, de todos os que compõem determinada sociedade. Lisboa (2009, p. 24) complementa a explicação, porém de uma forma diferente, com o mesmo significado. Assim, temos: A moral é um conjunto de normas que, em determinado meio, tem a aprovação para o comportamento humano; já a ética é, para o autor, a expressão única do pensamento correto, conduzindo à ideia da universalidade da moral. Assim, sabe-se que ocorre o uso inadequado das palavras ética e moral, consideradas até como sinônimos, o que se torna um grande erro, mas você já sabe as diferenças ente elas e o uso adequado que ambas devem ter. 20 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I 1.2 As sociedades: família, empresa, nação e globalização Provavelemente você já inicie os seus estudos se perguntando: mas a ética deve ser aplicada a quaisquer situações relacionadas ao comportamento humano coletivo? Sim, deve. Porém, vale mencionar que o ser humano é complexo, mas mesmo sabendo das regras, infelizmente, as descumpre, provocando um conflito na respectiva sociedade. O descumprimento de alguma regra está pautado ou pela falta de conhecimento, ou até mesmo pela necessidade de descumpri-la, e esse indivíduo, com certeza, terá uma razão para justificar tal ação. Lisboa (2009, p. 31) comenta que os dilemas morais (faço ou não faço algo) “surgem como consequência do comportamento dos indivíduos em sociedade”, o que, em outras palavras, significa dizer que as suas ações se refletem no respectivo comportamento. Mas é preciso compreender que um comportamento pode não ser aceito numa determinada sociedade e em uma outra é visto como totalmente normal. Lisboa (2009, p. 31) nos contempla com o seguinte exemplo: No meio de nossa sociedade, se uma pessoa resolve sair à rua sem roupa, certamente terá seu comportamento condenado e reprimido. Todavia, em uma tribo indígena localizada no meio da floresta amazônica, com pouco contato com a civilização, o ato seria visto com naturalidade. Percebeu? O comportamento é o mesmo, a pessoa está sem roupa, porém a sociedade é diferente; logo, pode-se começar a compreender que é preciso conhecer muito bem a sociedade na qual estamos, quais as regras que devemos seguir e, assim, buscar um comportamento adequado. Contudo, temos mais uma situação a analisar. Em uma mesma sociedade, as pessoas são diferentes, portanto enxergam o mesmo fato de forma diferente, na maioria das vezes, gerando conflitos para todos. Mas vamos ao exemplo elaborado por Lisboa (2009, p. 31): “É normal em nossa sociedade a condenação do ato de roubar; não obstante isso, um chefe de família pode acreditar que possa fazê-lo em virtude das privações por que passa sua família e justificar- se sob este pretexto”. E agora, quem está certo? Temos aqui dois aspectos diferentes de cada comportamento, uma ação prática (andar sem roupa, roubar etc.) e outra relacionada a juízo de valores, ou seja, o ato de roubar foi por uma boa causa, seria esta a justificativa do pai de família; assim, estamos diante de um dilema moral. Lisboa (2009, p. 31) explica que: “A existência de um dilema moral implica que a ação de determinado indivíduo, ou mesmo de um grupo de indivíduos, contrariou aquilo que genericamente a maioria da sociedade acredita ser o comportamento adequado para aquela situação”. 21 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL É importante ressaltar que o comportamento moral adequado nem sempre ocorre de forma pacífica, o que significa dizer: todos daquela sociedade de alguma maneira podem sofrer com o resultado da ação de apenas um indivíduo. Vale aqui mencionar que os dilemas morais sempre existirão em quaisquer sociedades, justamente porque pessoas são complexas, nunca se esqueça disso! Observação A história clássica de Robin Hood ilustra um dilema moral: está certo roubar dos ricos para entregar aos pobres? Tenha certeza, alguns serão a favor deste ato – roubar dos ricos e entregar aos pobres – e outros contra. E agora, o que fazer? Quem está com a razão? Lisboa (2009, p. 37) nos “socorre” em relação aos dilemas morais; veja: Em qualquer sociedade que se observe, será sempre notada a existência de dilemas morais em seu interior. Os dilemas morais são um reflexo das ações das pessoas e surgem a partir do momento em que, diante de uma situação qualquer, a ação de um indivíduoou de um grupo de indivíduos contraria aquilo que genericamente a sociedade estabeleceu como padrão de comportamento para aquela situação. Agora acreditamos que você tenha ficado mais tranquilo, uma vez que os dilemas morais sempre irão existir, o que nos leva mais uma vez a afirmar que o ser humano é complexo, possui dúvidas, muda de opinião e, ainda, não é provido somente pela razão. Temos também a emoção, que em muitas situações toma conta do nosso pensamento, mas aqui está a filosofia para nos ajudar a refletir sobre todas as coisas, contribuindo para que a nossa decisão seja a mais adequada possível; trata-se de um desafio, certo? Figura 5 – Diversas pessoas pensando o que fazer em determinada situação 22 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I É importante compreender que nada irá garantir um comportamento moral perfeito, mas acredite que a ética nos ajudará a entender e a explicar o comportamento das pessoas, inclusive compreender que os comportamentos mudam ao longo da história, tanto em cada indivíduo quanto numa sociedade. Eu me lembro que a minha mãe comentava que quando ela era jovem, as moças que usavam calças compridas não eram consideradas moças sérias, de boa família! Já imagino o que você deve estar pensando: que absurdo! Hoje, para nós, realmente seria um absurdo, porém, naquela época, estou falando da década por volta de 1950, período em que era totalmente condenada esta prática, ou seja, moças sérias usarem calças compridas, era alegado que esta vestimenta seria própria dos homens. Mas os tempos mudaram, ou melhor, nós mudamos e, consequentemente, mudamos a história! Lisboa completa (2009, p. 32): A história da humanidade nada mais é que o retrato das ações das pessoas através do tempo. Como se sabe, essa história teve, e certamente ainda terá, por muitas vezes, seu rumo alterado, seja de maneira brusca, seja paulatinamente através dos tempos. Vale ressaltar que a mudança de comportamento tanto pode ocorrer de forma individual quanto no agrupamento de pessoas, e independente de ser no individual ou no coletivo, sempre haverá mudança na história. Lisboa (2009, p. 33) nos apresenta os seguintes exemplos sobre mudança de comportamento: • quando uma pessoa resolve abandonar hábitos como fumar ou beber, está alterando o curso de sua história; • quando uma sociedade inteira muda seus princípios religiosos, como foi o caso do Irã, com a adoção do islamismo, com a conquista árabe (século VII d.C.), está alterando o curso de sua história; • quando as chamadas nações desenvolvidas do mundo resolveram suspender o uso de um produto químico, o CFC, como meio de proteger a camada de ozônio da Terra, estavam alterando a história da humanidade. Por esses exemplos, é possível entender que as mudanças fazem parte das nossas escolhas; em outras palavras, é com base na nossa capacidade de raciocinar e na nossa experiência de vida que buscamos um caminho a seguir, porém haverá momentos em que será necessário alterar esse percurso. Já sabemos o que você pensou: “não é tão fácil assim escolher um caminho ou até mesmo alterá-lo quando necessário!” Você tem toda razão. Apesar de todos nós sabermos que somente nós do reino animal temos a capacidade de raciocinar, sabemos também que nem todas as nossas ações decorrem desse pensamento racional; muitas vezes somos levados pela emoção, pelos sentimentos, que em muitas situações nos levam à irracionalidade (e as consequências sempre vêm). Assim, podemos ver em Lisboa (2009, p. 32): 23 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL Ambos os fatores, racionalidade e sentimento, provocam alterações nas crenças e, por conseguinte, nos valores que cada pessoa traz consigo. O passo seguinte, portanto, é representado pela mudança das ações refletindo um novo comportamento, que pode apresentar um caráter temporário ou definitivo. Esperamos que de fato você esteja entendendo como o campo da ética é complexo por justamente abordar o comportamento humano, o qual, conforme relatamos, muda ao longo dos tempos, mas aqui está uma situação que se deve compreender: a ética não vai corrigir fatos passados (seria impossível), mas certamente irá permitir entender o que ocorreu no passado, que aquele comportamento considerado antiético gerado, servirá/contribuirá para que ocorra a possibilidade de entendê-lo e, assim, nos fará refletir com a finalidade de evitar que tal comportamento venha a ocorrer no futuro. Realmente, não é tão simples assim praticar a ética; trata-se de um exercício diário, de um cuidado que se deve ter consigo, com suas ações e resultado provado, tanto em sua vida quanto na das outras pessoas, principalmente! Mesmo havendo imposição das regras de comportamento, estas não farão com que as pessoas se tornem perfeitas, mas sem as regras, ou melhor, sem o cumprimento delas, a convivência torna-se praticamente impossível, levando essa sociedade ao caos. Saiba mais Há diversos filmes abordam os dilemas éticos, os quais têm sua sinopse no seguinte link: A ÉTICA no cinema: lista de filmes que abordam questões éticas e morais. Cabine Cultural, 4 abr. 2015. Disponível em: <http://cabinecultural. com/2015/04/04/a-etica-no-cinema-lista-de-filmes-que-abordam- questoes-eticas-e-morais/>. Acesso em: 30 ago. 2017. Diante do que foi exposto até aqui, é possível identificar que no campo de atuação da ética, esta pode ser vista por meio de duas óticas distintas, conforme aponta Lisboa (2009, p. 37): a) enquanto explicação do comportamento humano, em um período qualquer, justificando, desse modo, as ações advindas daquele comportamento; e b) enquanto fonte para o estabelecimento de regras de comportamento diante de situações concretas, caso em que a ética se presta para, se não eliminar, pelo menos atenuar os conflitos de interesses no seio de qualquer sociedade. Para que não haja quaisquer dúvidas, vamos exemplificar cada situação mencionada, começando pela a), em que foi mencionado um comportamento humano ocorrido a partir de um fato, ou seja, uma ação humana 24 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I decorrente de uma situação específica, por exemplo, o movimento de impeachment ocorrido no governo Collor, fato que se concretizou devido aos acontecimentos políticos/econômicos da época. Acreditamos que já tenha lido muito sobre esse assunto, mas vale a pena recordar para melhor entender o apontamento de Lisboa (2009) sobre o comportamento humano num período qualquer, uma vez que a ética tem por função investigar e explicar o comportamento das pessoas ao longo das várias fases da história. Praticamente em todas as capitais do nosso país, os brasileiros saíram às ruas como caras-pintadas em protesto contra o governo. Esse comportamento mobilizou não só o país, mas também o mundo todo, mostrando a nossa indignação diante dos fatos. Segue um trecho da brilhante matéria publicada por Santiago ([s.d.]): Ficou conhecido no Brasil inteiro, durante o início da década de 1990, o movimento dos “caras-pintadas”, que consistiu em multidões de jovens, adolescentes em sua maioria, que saíram às ruas de todo o país com os rostos pintados em protesto devido aos acontecimentos dramáticos que vinham abalando o governo do então presidente Fernando Collor de Mello. Para entender o fenômeno dos caras-pintadas é importante analisar o contexto no qual ele está inserido. O Brasil realizara recentemente eleições diretas para presidente em 1989, garantia que havia sido tomada do cidadão brasileiro pelo regime militar, sendo que o último pleito direto,isto é, com a participação do povo, ocorrera em 1960. Tal fato era constantemente lembrado pelos meios de comunicação da época, enfatizando a importância da participação popular na vida política brasileira [...] Perceba: se comentássemos apenas “movimento dos caras-pintadas”, sem contextualizar a situação que deu origem a esse comportamento humano, não seria possível entendê-lo. Esperamos que realmente tenha entendido a situação da letra a), a qual relacionou o comportamento humano num determinado período da história. Agora passamos a exemplificar uma situação para a letra b), na qual a ética se coloca, se não para acabar com um comportamento humano, pelo menos para atenuar situações de conflitos dentro de uma sociedade. Isso pode ser visto no caso dos ativistas que resgataram cães da raça beagle que eram usados em testes de laboratório para a indústria farmacêutica pelo Instituto Royal. Saiba mais Para saber mais sobre o caso do Instituto Royal, acesse o site: ALVES, M. Ativistas resgatam cães de laboratório de testes em São Roque (SP). Folha de S. Paulo, 18 out. 2013. Disponível em: <http://www1.folha. uol.com.br/cotidiano/2013/10/1358477-ativistas-invadem-laboratorio- em-sao-roque.shtml>. Acesso em: 21 ago. 2017. 25 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL Trata-se de uma situação concreta em que a sociedade foi chamada a se manifestar, havendo opiniões contrárias e favoráveis, porém a maior discussão aborda os maus-tratos aos animais e até que ponto (se é possível colocar a situação dessa maneira) animais devem ser utilizados como cobaias para os fins a que estavam sendo destinados no Instituto Royal. Esse assunto mobilizou uma sociedade a tal ponto que, neste caso, o conflito foi resolvido com o fechamento do Instituto Royal. Figura 6 – Cão da raça beagle comentado na situação/reportagem apresentada Saiba mais Assista ao filme: O JARDINEIRO fiel. Dir. Fernando Meirelles. EUA: Potboiler Productions, 2005. 129 minutos. Esse filme mostra situações éticas que envolvem a indústria farmacêutica internacional. Se a sociedade muda, as relações também mudam, na família, empresa, nação; enfim, são relações que devem ser adaptação para uma nova realidade social. Sobre as empresas, em especial, estas precisam estar cientes de que as políticas corporativas precisam ser adaptadas a uma nova realidade, ou seja, a relação com os empregados, clientes, fornecedores, enfim, com o mercado em geral, necessita ser alterada/adaptada. As políticas corporativas são necessárias, uma vez que toda sociedade empresarial, direta e/ou indiretamente, está ligada à sociedade globalizada; somos um único mundo, o planeta Terra. Logo, não é uma escolha das empresas adaptar-se às novas políticas, mas uma necessidade, diante da realidade de uma economia globalizada, por exemplo, no caso de excedente de produção em determinado país e por 26 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I diversas necessidades de outros países (mão de obra, tecnologia, matérias-primas, entre outros fatores). Esse excedente poderá ser negociado, porém não se pode afirmar que as desigualdades sociais serão supridas somente pelas vindas de produtos e serviços de um país para outro, conforme aponta Santos (2015, p. 4): Não é possível continuar o desenvolvimentismo e a construção da sociedade sendo indiferente a essas questões1, portanto, é necessária a criação de políticas públicas e institucionais que contemplem o terceiro setor, as entidades governamentais, as empresas, as pessoas físicas, enfim, toda a sociedade. Apesar de o termo globalização ser difundido a partir dos anos de 1990, podemos entender que sua origem remonta a 1945, conforme defende Zajdsznajder (1999, p. 37), quando ocorreu o bombardeio atômico norte-americano ao Japão, onde praticamente as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram aniquiladas Talvez você esteja se perguntado, então a globalização é maléfica? Para Zajdsznajder (1999, p. 37), a globalização é maléfica por destruir as espécies. O autor aponta os três caminhos dessa destruição: Os três caminhos para a destruição da espécie situam-se em planos diferentes. Enquanto as destruições biológica e ambiental tendem a ter impactos globais, a destruição nuclear pode ser parcial. O que os três têm em comum é colocar em primeiro plano as questões relativas a obrigações, responsabilidades, consequências, ou seja, trazer as questões éticas para fazer frente aos temas tecnológicos e estratégicos. Vale mencionar que a globalização vai além das situações biológicas, ambientais e tecnológicas; ela também envolve a cultura e a economia. Em relação à cultura, Aranha e Martins (2005, p. 25) destacam que: O mundo que resulta do pensar e do agir humano não pode ser chamado de natural, pois se encontra transformado e ampliado por nós. Portanto, as diferenças entre pessoas e animais não são apenas de grau, porque, enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, nós somos capazes de transformá-la, tornando possível a cultura. Mas é importante compreender que a palavra cultura possui diversos significados, por exemplo, a cultura da laranja, ou seja, como se planta e se cuida do cultivo dessa fruta; ou até mesmo quando se 1 As questões a que Santos se refere são as desigualdades sociais, econômicas, culturais, religiosas, de gênero, ou seja, diferenças que ocorrem entre as sociedades, porém deveria ocorrer uma busca de políticas para reduzir tais diferenças e assim obter uma sociedade mais justa, mais solidária, ou seja, uma sociedade ética. 27 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL fala de uma pessoa culta: a referência está numa pessoa bem preparada intelectualmente. Ainda se tem o significado da cultura em antropologia, conforme apresentam Aranha e Martins (2005, p. 26): Em antropologia, cultura significa tudo que o ser humano produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais. Se o contato com o mundo é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um povo. Assim, o processo da globalização pode ocasionar uma mudança de cultura de um povo, uma vez que leva outros costumes em relação a vestimenta, alimentação, entre outras situações. Em relação à economia, podemos entender que a globalização tanto poderá ajudar um determinado país quanto não. No caso da produção excedente, poderá ocorrer a exportação, o que, além propiciar as vendas, trará maiores divisas para esse país, uma vez que os seus produtos ou serviços serão conhecidos em outros países. Mas, por outro lado, temos países importando produtos de outros por oferecerem preços baixos e qualidade adequada, deixando, assim, os produtos locais sem as respectivas vendas. Vale ressaltar que há julgamento se a globalização é boa ou não. O assunto é vasto, porém diversos aspectos devem ser considerados, principalmente, a aplicação da ética em todo o processo. Somente assim será possível a convivência entre as mais diversas nações. 2 SISTEMAS ECONÔMICOS A organização de uma sociedade é definida pelo sistema econômico empregado, ou seja, a forma política, social e econômica que compõe tal sociedade. Assim, toda sociedade depende do sistema econômico determinado para seu desenvolvimento. De uma forma ampla, os sistemas econômicos são descentralizados e centralizados. Mas descentralizados ou centralizados em relação a que elemento? Resposta: ao Estado. A questão é até que ponto o Estado determina o preço do produto aser praticado, quanto e como se deve produzir determinado item ou bem, ou, em outras palavras, qual a interferência do Estado na formação da economia. Em termos gerais, podemos entender que a forma descentralizada, também chamada de economia de mercado, é composta por três itens: livre-iniciativa, presença do Estado e elementos de uma economia capitalista. Já a forma centralizada, a qual tem o Estado como determinante do que será e quanto será produzido e para quem será produzido, tem como princípio o socialismo. Em relação à forma descentralizada, que detém o item de livre-iniciativa, tem o mercado como regulador de tudo, ou seja, quantidade produzida e consumida e preço. Portanto, não há agente econômico envolvido. 28 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I Mas nem sempre a livre-iniciativa dá conta da economia, havendo momentos em que a presença do Estado é necessária para regulamentar as atividades, por exemplo, o preço dos combustíveis. Em se tratando da economia descentralizada com elementos de uma economia capitalista, a referência está nos itens que compõem o capitalismo: capital, propriedade privada dos meios de produção, divisão do trabalho e existência da moeda. Talvez você esteja se perguntando: mas qual a economia que se pratica na maioria dos países atualmente? O ideal é a prática da economia mista, ou seja, aquela que tem elementos das economias descentralizada e centralizada, como definem Hubbard e O’Brien (2010, p. 66): [...] uma economia mista ainda é, primordialmente, uma economia de mercado, com a maioria das decisões econômicas sendo resultantes da interação entre compradores e vendedores em mercados, mas em uma economia mista, o governo desempenha um papel significativo na alocação de recursos. 2.1 Capitalismo e socialismo Segundo Mattar Neto (2012, p. 314), “o capitalismo é uma teoria econômica baseada no capital, na propriedade e na competição em um mercado livre”. Considerando-se que o capitalismo é praticado num mercado livre, o que já não ocorre no socialismo, por ter o Estado como regulador de produção/ consumo, o foco da nossa disciplina Ética, Legislação e Direito Autoral está justamente nos princípios éticos que devem existir em toda relação social, inclusive na economia. O socialismo defende a igualdade social, ou seja, a distribuição da riqueza e da propriedade. Para tanto, precisa de um ente que o regularize, que no caso é o Estado. Exemplos de países que adotam o sistema socialista: Cuba, China e Rússia. Saiba mais Para maiores conhecimentos sobre o nascimento do socialismo e sua ramificação, veja a obra: MARX, K; ENGELS, F. O manifesto comunista. Trad. Maria Lúcia Como. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. Vale ressaltar que a maioria dos países tem o capitalismo como dominante em sua economia. Assim, trataremos da ética sob essa ótica. 29 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL Conforme aposta Mattar Neto (2012, p. 314), a questão ética é intrínseca à prática do sistema capitalista, uma vez que a competição faz parte do próprio sistema. Assim, temos a questão: é possível ter ética nesse sistema? O lucro está acima de tudo e de todos? Como ficariam a distribuição da riqueza e o direito à propriedade? São muitas questões relacionadas com o sistema capitalista, porém todos os indivíduos, de uma maneira ou de outra, são vítimas do mesmo sistema, ou seja, são vítimas os que detém o capital, pois não querem perdê-lo, e são vítimas os que participam do sistema, pois deles é exigido aumentar o capital pela sua produtividade. Mattar Neto (2012, p. 314), nos mostra que: uma defesa comum do capitalismo contra acusações relacionadas com sistema em geral é que a pobreza decorre da preguiça e falta de vontade de trabalhar, do ponto de vista do indivíduo, e da falta de organização e corrupção, no caso dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Como você pode perceber, o sistema capitalista nos leva às questões éticas, uma vez que, independentemente do sistema econômico adotado, a sobrevivência do cidadão precisa estar acima de tudo, e a justiça precisa ser feita. Não estamos dizendo que o sistema capitalista é o vilão da humanidade. Foi no sistema capitalista que ocorreu a Revolução Industrial e o desenvolvimento nas mais diversas áreas do conhecimento, porém não se deve colocar o homem (no sentido de humanidade) como meio para se alcançar a riqueza, o progresso. O homem deve ser o fim, ou seja, ele deve usufruir de tudo, e não o sistema. Este é o desafio! Saiba mais Leia a obra: WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad. M. Irene de Q. F. Szmrecsányi e Tomás J. M. K. Szmrecsányi. São Paulo: Pioneira, 1992. Nela podemos ver o surgimento do capitalismo a partir da ascensão da burguesia, quando ocorre também o rompimento com a Igreja Católica em relação ao domínio sobre as mais diversas decisões na monarquia e, consequentemente, o nascimento do protestantismo, uma outra forma de religião que passou a dominar diversos países, entre eles a Inglaterra, onde a Revolução Industrial teve maior impacto. Conforme aponta Handy (1999, p. 1): O mercado, com a concorrência e a eficiência, todos benéficos em si, acabam provocando efeitos colaterais não intencionados. O capitalismo se provou 30 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I superior ao comunismo e às mais variadas formas extremas do socialismo, mas até agora falhou em nos convencer de que tem a resposta efetiva para nosso desejo de progresso. Deixo para você pensar que tipo de progresso é esse, em que diversas pessoas pelo mundo afora estão sendo colocadas para fora de seus respectivos países por não terem condições de sobrevivência – são os refugiados do século XXI. Também há diversas pessoas que, mesmo em seu país, não têm condições básicas como saúde, educação, segurança; enfim, condições também de uma vida digna. Cadê o progresso? 2.2 A empresa e a sociedade Para tratarmos da relação que existe entre a empresa e a sociedade, é importante entendermos como surgiram as empresas, uma vez que a sociedade existe desde os primórdios. Apresentamos um breve relato sobre o surgimento das empresas, tendo como base o momento histórico envolvido, a Filosofia Moderna (Renascimento) e a Contemporânea, mencionadas por Mattar Neto (2012), e em seguida faremos a correlação com o surgimento das empresas. Aqui está o texto em que Mattar Neto (2012, p. 43) explica o Renascimento, pautado pela Filosofia Moderna: Podemos afirmar que, com o Renascimento, o homem volta a ocupar o lugar central do pensamento. Por isso, podemos falar em humanismo renascentista. O homem prático (artista e artesão) predomina sobre o homem meditativo. No Renascimento, há uma perda de poder da Igreja Católica, uma vez que nasce a Igreja Protestante, defendida por Lutero na Alemanha e Calvino na Suíça. Há grandes mudanças em todas a áreas, o surgimento das línguas nacionais em substituição do latim, diversas descobertas na área científica, vinda de Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, Newton, entre outros, o mundo está mudando! Muitos filósofos surgem na Modernidade, destacam-se: Rousseau, Descartes, Leibniz, Locke, Spinoza, todos eles usam a filosofia, ou seja, pensamento racional para dar conta de suas teorias. E assim, chegamos na Filosofia Contemporânea, onde a Revolução Industrial só poderia ocorrer a partir de liberdade de pensamento e são diversos também os filósofos desta época, os quais também são chamados de “Iluministas”, ou seja, é a luz o conhecimentoque tudo comanda. Destacam-se: Kant, Hegel, Schopenhauer, Comte, Nietzsche, Heidegger, Karl Marx, entre outros. É no período contemporâneo que nasce o sistema capitalista, que revolucionou o mundo a partir da Revolução Industrial. 31 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL O que queremos aqui demonstrar é que as empresas não surgiram do nada. A constituição da organização empresarial ocorreu a partir de um processo, em que o homem precisou voltar a ser o centro do universo, até então representado pela Igreja Católica, que, juntamente com o poder político, tomava as mais diversas decisões relacionadas à sociedade. Com isso, o homem precisou se reconhecer novamente como agente transformador a partir do seu pensamento racional, de suas próprias escolhas. O surgimento das empresas ocorre a partir dessa mudança de visão de mundo, em que o homem passa a ser o dono do seu destino, ou seja, a liberdade de pensamento permite ao homem se organizar para uma produção em grande escala, considerando-se que a produção de muitos itens já existia, principalmente os relacionados a móveis, utensílios domésticos, roupas, porém muitas descobertas iriam ocorrer a partir dessa nova posição do homem! Quando alguém fala sobre empresa, é certo que se imagina um trabalho realizado de forma organizada e controlado por alguém. No entanto, conforme comenta Chiavenato (2004), o trabalho organizado sempre existiu, quer no campo, quer elaborado de forma artesanal. Mas o que realmente propiciou o crescimento das empresas foram as descobertas científicas (era do Iluminismo). A partir dai, o trabalho artesanal (feito em pequena escala) deu lugar para as indústrias (produção em grande escala), o que foi possível graças a um trabalho por meio de sistemas e controles, ou seja, elaborado de forma racional. Chiavenato (2004) divide a história do surgimento das empresas em seis fases: 1ª) Fase artesanal: da Antiguidade até aproximadamente 1780, quando ocorre a descoberta da máquina a vapor por James Watt (1736-1819). Nela, a produção ocorre em pequenas quantidades em oficinas com ferramentas rudimentares e trabalho baseado no sistema escravo, predominando tanto o sistema feudal quanto o comercial – o escambo (trocas de mercadorias, inclusive na agricultura). Figura 7 – Máquina manual 32 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I 2ª) Fase da transição do artesanato para a industrialização: esta fase se inicia com a Primeira Revolução Industrial (1780-1860), a chamada era da mecanização. As ferramentas artesanais são substituídas por máquinas não só aplicadas nas empresas, mas também na agricultura. O carvão se torna a maior fonte de energia por servir de base para as máquinas a vapor. A rigor, é o trabalho braçal que cede lugar à máquina. E o ferro passa ser o material mais utilizado na indústria, principalmente na confecção de trilhos, contribuindo para o desenvolvimento do transporte ferroviário e, consequentemente, para formação de novas vilas e cidades. É o trem a vapor (1807) abrindo estradas e fábricas ao mesmo tempo. Com tais descobertas, o tear manual é substituído pelo hidráulico. As descobertas não param: surge, por exemplo, a máquina de descaroçar o algodão, provocando também uma maior produtividade no campo agrícola. A comunicação se faz necessária, e, assim, o telégrafo elétrico (1835) e o selo postal (1840) são também fruto da Primeira Revolução Industrial, marco da história da humanidade. Figura 8 – Máquina a vapor 3ª) Fase do desenvolvimento industrial: entra em cena a Segunda Revolução Industrial (1860- 1914). Os maiores representantes do avanço tecnológico dessa época são o aço e a eletricidade. Assim, as máquinas que eram movidas a vapor passam a funcionar com motores elétricos (1873). A produtividade cresce nas empresas, ou seja, uma maior quantidade de unidades passa a ser produzida num menor tempo. É a ciência a favor do homem. O surgimento do automóvel (1880) e do avião (1906) estreita as fronteiras entre os países, e o telégrafo sem fio e o cinema também fazem parte desse avanço tecnológico comandado pelo homem. 33 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL Com a ampliação dos mercados e o acúmulo de riquezas advindos do capitalismo industrial, surge o capitalismo financeiro, ou seja, uma nova modalidade de empresa – as instituições financeiras – que, além de servir de guardiã do excesso de capital provocado pelas empresas industriais, passa a fornecer créditos (empréstimos) para que outras empresas se constituam e/ou expandam suas operações. É a partir da Segunda Revolução Industrial que o processo de burocratização se faz presente nas empresas. O sistema capitalista está sedimentado; porém, sem um poder de controle instaurado, a sobrevivência do próprio sistema estaria comprometida. Figura 9 – Automóvel construído após o desenvolvimento industrial 4ª) Fase do gigantismo industrial: nada freia o progresso tecnológico. É o acúmulo da riqueza que prevalece, é o sistema capitalista que dita as normas para essa sociedade que surgiu e se transformou a partir dela. É o período que marca as duas Grandes Guerras Mundiais, sustentadas pelo avanço tecnológico bélico. A destruição provocada pela Primeira Guerra culminou na primeira grande depressão econômica, ocorrida em 1929 nos Estados Unidos. Se nada freia o progresso, as empresas retomam seu crescimento, agora no âmbito internacional, intensificando suas operações com o aprimoramento tecnológico dos transportes e novas descobertas na comunicação – rádio e televisão. É o mundo tornando-se menor (isto é, o avanço tecnológico reduz barreiras, e, assim, o mundo torna-se menor, mais próximo) e complexo. Ao mesmo tempo, ocorre a internacionalização da economia: culturas são invadidas, deixando o homem a cada dia refém de si mesmo. 34 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I Figura 10 – Tanque de guerra construído para a Segunda Guerra Mundial 5ª) Fase moderna: é a fase do pós-guerra, de 1945 a 1980, que divide o mundo em três blocos: países desenvolvidos (ou industrializados), países em desenvolvimento e os subdesenvolvidos, ou países não industrializados. A tecnologia continua ditando as ordens para uma sociedade que tem nas empresas a base para todo o desenvolvimento da humanidade. É o capital que comanda, uma vez que as pesquisas passam a ser encomendadas pelas organizações (incluindo as empresas agrícolas) com fins específicos, ou seja, é a ciência que determina a direção que a sociedade deve tomar. Tecnologias são substituídas, de elétricas para eletrônicas; circuitos integrados ocupam o lugar de peças com menor potência; não há como frear o progresso. Porém, cresce a dependência de produtos industrializados vindos principalmente do petróleo (combustíveis, plásticos, dentre outros) e dois choques ocorrem (1973 e 1979) pela sua recessão, desencadeando uma crise mundial (os países estão cada dia mais dependentes uns dos outros devido à internacionalização da economia por meio do aumento das exportações e/ou importações dos mais variados tipos de produtos e/ou serviços). A comunicação precisa ser mais rápida; assim, surgem os computadores de grande porte e, num curto espaço de tempo, os computadores chamados de domésticos – o avanço tecnológico. 35 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO EDIREITO AUTORAL Figura 11 – Computador pessoal 6ª) Fase da incerteza: após 1980 e até os dias de hoje, por conta dos desafios que as empresas enfrentam, como concorrência, dificuldades de diversos gêneros (vender e não receber, ter o produto copiado por outra empresa, não conhecer a real necessidade do consumidor devido ao grande número de produtos similares oferecidos pelos concorrentes, etc.). As empresas, tomando como base o próprio avanço tecnológico, sabem que o mundo mudou. A comunicação é em tempo real, logo a maneira de administrar uma empresa também se transformou. Estamos, portanto, conforme aponta Chiavenato (2004), na Terceira Revolução Industrial – a Revolução da Informação por meio dos computadores. Agora é o cérebro humano que é substituído pela máquina eletrônica, ou seja, a inteligência artificial; até então, eram apenas os músculos. Figura 12 – Cérebro humano relacionado com a inteligência artificial Considerando-se que as empresas produzem bens e serviços, tendo como finalidade suprir as mais diversas necessidades humanas, a relação das empresas com a sociedade passa a ser necessária, em que um depende do outro, devendo estar sempre em harmonia. 36 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I Mas Zajdsznajder (1999, p. 23) nos adverte que não é bem assim, ou seja, a harmonia que deveria ocorrer é comprometida, podendo ser resumida em três situações: • vivemos num período de globalização unificada das sociedades do planeta; • vivemos em condições que põem em sério perigo a continuidade da espécie humana; • vivemos num modo cultural pós-moderno que constitui uma ruptura relativamente ao período anterior – a Modernidade -, que já representava uma profunda ruptura em relação ao tempo que o precedeu. Vale mencionar que hoje se comenta sobre a Quarta Revolução Industrial, apresentada por Schwab no Fórum Econômico Mundial ocorrido em 2016 na cidade de Davos, na Suíça. A quarta revolução industrial não é [...] um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital (anterior) (PERASSO, 2016). Assim, entende-se que a ética, por ditar normas para o convívio social, possa contribuir para o bem- estar da sociedade atual e das próximas gerações. 3 PRINCÍPIOS E NORMAS ÉTICAS Os princípios podem ser considerados, segundo Santos (2015), como os direcionadores da empresa, pois são formadores da missão, dos valores e dos objetivos dessa entidade empresarial. Assim, pode-se considerar que os princípios irão conduzir as normas que a empresa deverá seguir; caso contrário, os objetivos dessa empresa poderão ser comprometidos. 3.1 Ética empresarial Inicia-se o estudo da ética empresarial com uma ressalva. O conceito de ética é o mesmo independentemente da sua aplicabilidade, ou seja, a ética está relacionada com o comportamento humano, porém não é qualquer comportamento, mas aquele adequado ao convívio em sociedade, evitando, assim, conflitos para a respectiva sociedade. A ética empresarial nada mais é do que a ética aplicada ao mundo empresarial, ao mundo dos negócios, os quais envolvem, do mesmo jeito, relacionamentos, comportamentos humanos, porém com um objetivo diferenciado, como se estivéssemos abordando, por exemplo, a ética para uma comunidade religiosa; as regras seriam totalmente diferentes daquelas praticadas no mundo empresarial. 37 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL 3.2 Questões éticas na empresa As questões éticas na empresa, de modo geral, estão relacionadas com todos os que, direta ou indiretamente, participam dessa empresa, ou seja, empregados, sócios, fornecedores, clientes, instituições financeiras, relações com o mercado, terceirizados, enfim, pessoas físicas e jurídicas que fazem parte das operações da empresa. Mas há de notar que as relações são diferentes, por exemplo, a relação com as instituições financeiras são totalmente diferentes daquelas com os empregados ou com um cliente. Assim, podemos afirmar que relações distintas requerem condutas, normas, diferentes. Santos (2015) destaca que o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) é referência no assunto sobre as práticas relacionadas com o meio empresarial, por abordar tanto as pessoas abrangidas quanto os assuntos que envolvem o meio corporativo. Em relação às pessoas abrangidas, Santos (2015) destaca: • Conselheiros. • Diretores. • Sócios. • Funcionários. • Fornecedores. • Clientes. • Outros stakeholders. Mas o que são os stakeholders? Trata-se de uma junção de palavras que vem do inglês, em que stake significa interesse, participação, risco, e holder significa aquele que possui. O termo stakeholders é amplo, como você já pode notar, e significa, de acordo com Santos (2015, p. 27), “pessoas físicas ou jurídicas que tenham interesse pela empresa. Eles podem ser representantes da comunidade, concorrentes, acionistas e investidores, o governo ou a família dos funcionários”. Sobre os assuntos que envolvem o meio corporativo, há de se concordar que são diversos, porém podem ser assim resumidos, de acordo com Santos (2015): a) cumprimento das leis e pagamentos de tributos; b) operações com partes relacionadas (1); 38 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 Unidade I c) uso de ativos da organização (2); d) conflito de interesses; e) informações privilegiadas; f) política de negociação das ações da empresa (3); g) processos judiciais e arbitragem (4); h) delator; i) prevenção e tratamento de fraudes; j) pagamentos ou recebimentos questionáveis ou recebimentos de presentes e favorecimentos; k) doações; l) atividades políticas; m) direito à privacidade; n) nepotismo; o) meio ambiente; p) discriminação no ambiente de trabalho, exploração do trabalho adulto ou infantil e assédio moral ou sexual; q) segurança no trabalho; r) relações com a comunidade; e s) uso de álcool e drogas. Alguns termos ora mencionados talvez não sejam de seu total conhecimento. Assim, para melhor entendimento, vou brevemente explicá-los: 1. Operações com partes relacionadas (b): trata-se de empresas que tenham ações negociadas em bolsa de valores e as respectivas operações estão relacionadas com pessoas físicas e jurídicas que atuam com essa empresa, podendo ser transações entre empresas sob o mesmo controle acionário. 39 Re vi sã o: F ab ríc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 1/ 09 /1 7 ÉTICA, LEGISLAÇÃO E DIREITO AUTORAL 2. Uso de ativos da organização (c): ativos são os bens (físicos ou não físicos) e os direitos de uma determinada empresa necessários para o desenvolvimento de suas atividades, podendo ser máquinas, computadores, valores a receber, entre outros. 3. Política de negociação das ações da empresa (f): ações são parte do capital social da empresa. Uma empresa pode ser de natureza jurídica, uma sociedade anônima ou limitada, tendo seu capital social dividido em ações ou em cotas, respectivamente. 4. Processos judiciais e arbitragem (g): arbitragem é um termo jurídico utilizado para acordos entre as partes que independem de processos judiciais. Saiba mais Para maiores conhecimentos, segue o link do IBGC: <http://www.ibgc.org.br/index.php>. Por tratar de um assunto de suma importância – questões éticas nas empresas –, considerando que a ética não irá garantir o sucesso de uma empresa, mas a falta dela certamente a levará à ruína, Mattar Neto
Compartilhar