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6 Mediação e Arbitragem no Direito Coletivo do Trabalho

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DIREITO COLETIVO DO TRABALHO
MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM
	
Por Breno Lenza Cardoso e Júlia Garcia Baptistuta
SUMÁRIO
1.	MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS	3
2.	ARBITRAGEM	5
3.	MEDIAÇÃO	10
4.	COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA	11
5.	DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO	14
6.	BIBLIOGRAFIA UTILIZADA	14
ATUALIZADO EM 08/04/2018[footnoteRef:1] [1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ] 
ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO NO DIREITO COLETIVO[footnoteRef:2] [2: FUC confeccionada pelos Coaches Breno Lenza Cardoso e Julia Garcia Baptistuta, com colaboração de Naiane Santos Pereira e Marina Pimenta Fraga.
] 
1. MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
	São meios de solução de conflitos: AUTOTUTELA, AUTOCOMPOSIÇÃO E HETEROCOMPOSIÇÃO.
	As diferenças entre os meios encontram-se nos sujeitos envolvidos e na sistemática operacional. Na autotutela e na autocomposição há participação tão somente dos indivíduos originalmente envolvidos no conflito, enquanto na heterocomposição há um terceiro incumbido da gestão do conflito.
1- Autotutela
Pela autotutela, uma parte impõe, de modo unilateral, sua vontade e seu interesse à outra. Trata-se, assim, de um exercício de coerção por particular (“justiça privada”).
No Brasil, a autotutela é considerada, regra geral, crime, quando praticada por particular (exercício arbitrário das próprias razões – art. 345 do CP) ou pelo próprio Estado (exercício arbitrário ou abuso de poder – art. 350 do CP). 
É admitida no ordenamento jurídico brasileiro apenas de forma excepcional. Exemplo: legitima defesa, esbulho possessório, penhor legal e greve no direito coletivo do trabalho
2- Autocomposição
A resolução de conflitos por meio de autocomposição pode ocorrer por renúncia, aceitação ou transação.
RENÚNCIA: Dá-se quando o indivíduo abdica de seu direito em favor do outro.
ACEITAÇÃO: Verifica-se mediante o reconhecimento do direito da parte adversa, ensejando aquiescência e inércia em reagir (resignação ou submissão). 
TRANSAÇÃO: Trata-se de concessões recíprocas entre os conflitantes.
Observação: As três modalidades de autocomposição podem ocorrer de forma extra ou endoprocessual. 
Observação 2: negociação coletiva no Direito Coletivo do Trabalho consubstancia uma importante modalidade de autocomposição.
	#MPT #PARASABERMAIS:
A Resolução 118 do Conselho Nacional do Ministério Público dispõe sobre a Política Nacional de Incentivo à Autocomposição no âmbito do Ministério Público e dá outras providências. Se você estuda para o Ministério Público do Trabalho, é de suma importância essa leitura!
Art. 1º Fica instituída a POLÍTICA NACIONAL DE INCENTIVO À AUTOCOMPOSIÇÃO NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, com o objetivo de assegurar a promoção da justiça e a máxima efetividade dos direitos e interesses que envolvem a atuação da Instituição. 
Parágrafo único. Ao Ministério Público brasileiro incumbe implementar e adotar mecanismos de autocomposição, como a negociação, a mediação, a conciliação, o processo restaurativo e as convenções processuais, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão sobre tais mecanismos.
3- Heterocomposição
Há um agente exterior, ou seja, um terceiro encarregado da gestão do conflito. São espécies de heterocomposição: jurisdição e arbitragem. 
#ATENÇÃO #FIQUELIGADO Há divergência quanto ao enquadramento da conciliação e da mediação. Há quem entenda ser autocomposição, pois o terceiro não detém o poder de impor uma solução ao conflito. Segundo Ministro Maurício Godinho Delgado e outros juristas, contudo, a conciliação e a mediação são espécies de heterocomposição, pois há participação de um terceiro na gestão da contenda, não sendo necessária a coercibilidade para tal enquadramento.
Observação: Registre-se que até mesmo a arbitragem traz dúvidas acerca de sua natureza, pois o árbitro é escolhido pelas partes, o que aproxima o instrumento da autocomposição.
	JURISDIÇÃO: É o poder-dever-função do Estado de aplicar o ordenamento jurídico ao caso concreto, exercido pelo Poder Judiciário por meio do Processo Judicial.
	ARBITRAGEM: É o exercício da solução de um conflito por um terceiro, denominado árbitro, regra geral escolhido pelas partes envolvidas no litígio. No Brasil, a arbitragem é regulamentada pela Lei 9.307/96, sendo permitida tão somente para direitos patrimoniais disponíveis e perante partes capazes. A solução ao conflitos pela via da arbitragem se exterioriza pelo laudo arbitral.
Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
	No Direito do Trabalho, a arbitragem sempre foi permitida no âmbito coletivo (art. 114, §1º, CF/88). Atualmente, com a Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) a arbitragem passou a ser permitida também na seara individual em relação a empregado cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
Art. 507-A.  Nos contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social, poderá ser pactuada cláusula compromissória de arbitragem, desde que por iniciativa do empregado ou mediante a sua concordância expressa, nos termos previstos na Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996. 
	CONCILIAÇÃO: É o meio de solução de conflitos dirigido por um terceiro sem poder decisório final. A decisão, portanto, permanece nas mãos das partes envolvidas no litígio, embora o conciliador possua uma força condutora do resultado final.
	Atenção!!! Na seara trabalhista, é legalmente prevista a possibilidade de conciliação endoprocessual, a qual ocorre nas Varas do Trabalho, sob a direção do Juiz do Trabalho e no bojo do processo judicial.
	MEDIAÇÃO: Trata-se de meio de solução de conflitos por meio do qual há a participação de um terceiro que se aproxima e auxilia as parte na composição do conflito.
2. ARBITRAGEM 
· Distinções
Antes de iniciarmos o estudo da arbitragem, é imperioso realizar algumas distinções.
Em primeiro lugar, arbitragem não se confunde com arbitramento, perícia técnica, mediação, transação e jurisdição.
O arbitramento é modalidade de liquidação de sentença judicial, utilizado quando necessária a realização de perícia. 
Perícia técnica, por seu turno, consubstancia espécie probatória, que pode ser extrajudicial ou judicial, realizada por profissional qualificado para o exame do objeto a ser periciado.
A mediação, conforme visto, trata-se de meio de solução de conflitos, que apenas aproxima as partes sem impor-lhes uma solução.
Ademais, a transação ocorre quando os conflitantes chegam a um consenso por meio de concessões recíprocas, sem a interferência de um terceiro. 
Por fim, a jurisdição dá-se mediante intervenção do Estado na solução do conflito, por intermédio do Poder Judiciário, o qual aplica o ordenamento jurídico ao caso concreto, colocando fim à lide no corpo de um processo judicial.
· Tipos de Arbitragem
A doutrina elenca os seguintes tipos de arbitragem:
- ARBITRAGEM NACIONAL: Envolve sujeito de um mesmo Estado e sociedade e se relaciona a interesses ali localizados. Os poderes do árbitro limitam-se às fronteiras do respectivo Estado.
- ARBITRAGEM INTERNACIONAL: Envolve sujeitos de diferentes Estados e sociedades e os interesses transpõem as fronteiras de um país, tendo o árbitro poderes nos territórios englobados pelo conflito. Normalmente ocorre entre Estados, atribuindo-se a um terceiro Estado ou organismointernacional a função de árbitro.
- ARBITRAGEM OBRIGATÓRIA: Independe da vontade das partes. Resulta de imposição legal ou de prévia convenção das próprias partes por meio de cláusula compromissória (art. 4º da Lei 9.307/96).
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
- ARBITRAGEM FACULTATIVA: Definida pelas partes no contexto do surgimento do conflito, por meio de compromisso arbitral (art. 9º da Lei 9.307/96), o qual pode ser judicial ou extrajudicial.
Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
§ 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda.
§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.
#ATENÇÃO #FIQUELIGADO No Brasil não é comum a arbitragem obrigatória por força de lei. Contudo, a Lei do Trabalho Portuário possui dispositivo legal referente à arbitragem imperativa (art. 37, caput, in fine, da Lei 12.815/13).
Art. 37.  Deve ser constituída, no âmbito do órgão de gestão de mão de obra, comissão paritária para solucionar litígios decorrentes da aplicação do disposto nos arts. 32, 33 e 35.
§ 1o  Em caso de impasse, as partes devem recorrer à arbitragem de ofertas finais. 
§ 2o  Firmado o compromisso arbitral, não será admitida a desistência de qualquer das partes. 
§ 3o  Os árbitros devem ser escolhidos de comum acordo entre as partes, e o laudo arbitral proferido para solução da pendência constitui título executivo extrajudicial.  
	- ARBITRAGEM LEGAL: Dá-se mediante a previsão na legislação, mas não necessariamente tem o caráter de obrigatoriedade. Exemplos: Arbitragem legal obrigatória: Lei dos Portos e do Trabalho Portuário (Lei 12.815/13); Arbitragem legal facultativa: É a típica do Direito Coletivo do Trabalho, exercida no âmbito de um conflito coletivo (art. 114, §1º, CF/88).
	- ARBITRAGEM CONVENCIONAL: É resultado do ajuste de vontade entre as parte, mediante a denominada “convenção de arbitragem”, a qual possui como espécies a “cláusula compromissória” (via arbitral obrigatória, estabelecida antes da existência de um conflito) e o “compromisso arbitral” (via arbitral voluntária, estabelecida após a existência do conflito).
	- ARBITRAGEM DE DIREITO: O objeto do conflito a ser solucionado pelo árbitro está relacionado à interpretação de uma regra, princípio jurídico ou cláusula contratual. Assemelha-se ao dissídio coletivo de natureza jurídica.
	- ARBITRAGEM DE EQUIDADE: Possui como objeto a solução de conflito de interesses materiais ou circunstanciais, de natureza econômica. Assemelha-se ao dissídio coletivo de natureza econômica.
· Arbitragem no Direito Individual do Trabalho
Antes da Lei 13.467/2017 introduzir significativas alterações na Consolidação das Leis do Trabalho, a possibilidade de instituição de arbitragem no âmbito individual era tema controvertido. Contudo, mesmo após a Reforma Trabalhista promover a mudança e admitir a arbitragem no Direito Individual do Trabalho, ainda há dissenso na doutrina quanto à tal possibilidade.
De acordo com o art. 507-A da CLT, é possível a pactuação de cláusula compromissória de arbitragem, desde que por iniciativa do empregado ou mediante sua concordância expressa, tão somente nos contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS.
Art. 507-A.  Nos contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social, poderá ser pactuada cláusula compromissória de arbitragem, desde que por iniciativa do empregado ou mediante a sua concordância expressa, nos termos previstos na Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996. 
	O novo dispositivo legal tem sido objeto de crítica pela doutrina pelos seguintes motivos: 
- A arbitragem é incompatível com o Direito Individual do Trabalho devido ao fato de que as verbas trabalhistas gozam de indisponibilidade absoluta ou relativa e a Lei de Arbitragem só admite como objeto direitos patrimoniais disponíveis; 
- Os meios de solução de conflitos no Direito Individual do Trabalho devem se submeter aos princípios nucleares desse ramo, mormente considerando que a CF/88 confere absoluta prevalência à pessoa humana e sua dignidade em plano social.
- Princípio da Proteção;
- O princípio da autonomia da vontade é mitigado no Direito Individual do Trabalho.
- Os artigos 18 e 31 da Lei de Arbitragem, que pretendem conferir ao laudo arbitral a qualidade de coisa julgada material, não se compatibilizam com o Direito Individual do Trabalho, sobretudo à luz do preceito clássico do amplo acesso ao Judiciário, previsto no art. 5º, XXXV, da Lei Maior.
- Ofensa ao princípio da isonomia, pois não há qualquer critério para a diferenciação estabelecida em relação ao empregado que tenha como remuneração valor superior a duas vezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS
	Antes da Reforma Trabalhista introduzir a previsão acima analisada, já havia, no ordenamento jurídico brasileiro, situações específicas em que é possível a utilização de arbitragem no Direito Individual do Trabalho, como na Lei do Portuário (como via obrigatória), na LC 75/93 (art. 83, XI), que confere legitimidade ao Ministério Público do Trabalho para atuar como árbitro nas lides trabalhistas individuais (via facultativa) e na Lei Pelé (art. 90-C da Lei 9.615/98), modificada pela Lei 12.395/11 (via facultativa).
LEI DO TRABALHO PORTUÁRIO: Art. 37.  Deve ser constituída, no âmbito do órgão de gestão de mão de obra, comissão paritária para solucionar litígios decorrentes da aplicação do disposto nos arts. 32, 33 e 35.
§ 1o  Em caso de impasse, as partes devem recorrer à arbitragem de ofertas finais. 
§ 2o  Firmado o compromisso arbitral, não será admitida a desistência de qualquer das partes. 
§ 3o  Os árbitros devem ser escolhidos de comum acordo entre as partes, e o laudo arbitral proferido para solução da pendência constitui título executivo extrajudicial.  
LEI PELÉ: Art. 90-C.  As partes interessadas poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis, vedada a apreciação de matéria referente à disciplina e à competição desportiva. 
Parágrafo único.  A arbitragem deverá estar prevista em acordo ou convenção coletiva de trabalho e só poderá ser instituída após a concordância expressa de ambas as partes, mediante cláusula compromissória ou compromisso arbitral.
· Arbitragem no Direito Coletivo do Trabalho
Não há dissenso quanto ao cabimento de arbitragem no âmbito do Direito Coletivo do Trabalho, diante da autorização para o seu uso quando frustrada a negociação coletiva, expressa no art. 114, §2º, CF/88.
Art. 114, §2º, CF/88. Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.   
No Direito Coletivo do Trabalho, a arbitragem tem caráter facultativo e também encontra previsão legal nos arts. 3º e 7º da Lei 7.783/89 (Lei de Greve), art. 4º da Lei 10.101/00 (Lei de Participaçãonos Lucros), art. 90-C da Lei 9.615/98 (Lei Pelé).
LEI DE GREVE: Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho.
Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.
LEI DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS: Art. 4o  Caso a negociação visando à participação nos lucros ou resultados da empresa resulte em impasse, as partes poderão utilizar-se dos seguintes mecanismos de solução do litígio:
I - mediação;
II - arbitragem de ofertas finais, utilizando-se, no que couber, os termos da Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996.    
§ 1o Considera-se arbitragem de ofertas finais aquela em que o árbitro deve restringir-se a optar pela proposta apresentada, em caráter definitivo, por uma das partes.
§ 2o O mediador ou o árbitro será escolhido de comum acordo entre as partes.
§ 3o Firmado o compromisso arbitral, não será admitida a desistência unilateral de qualquer das partes.
§ 4o O laudo arbitral terá força normativa, independentemente de homologação judicial.
LEI PELÉ: Art. 90-C.  As partes interessadas poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis, vedada a apreciação de matéria referente à disciplina e à competição desportiva. 
Parágrafo único.  A arbitragem deverá estar prevista em acordo ou convenção coletiva de trabalho e só poderá ser instituída após a concordância expressa de ambas as partes, mediante cláusula compromissória ou compromisso arbitral.
Observa-se que a arbitragem no Direito Coletivo resulta da deliberação das partes no contexto da negociação coletiva e dá origem a regras jurídicas dotadas de generalidade, abstração, impessoalidade e obrigatoriedade.
Por fim, impende destacar que a doutrina tem realizado crítica ao disposto no art. 114, §2º, da Carta Magna, inserido pela EC 45/04, que exigiu o “comum acordo” para ajuizamento do dissídio coletivo. Tem-se argumentado que, ao exigir o “comum acordo”, a CF/88 acabou por criar aparente aproximação do instituto processual à ideia de arbitragem.
3. MEDIAÇÃO NO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO
A mediação consiste em uma meio de solução de conflitos que se dá pela intermediação de um terceiro necessariamente imparcial, que desempenha o papel de auxiliar e instigar a composição, cujo teor será decidido pelos próprios conflitantes.
O mediador, ao contrário do árbitro, não possui poderes decisórios. Desse modo, as partes preservam sua autonomia quanto à resolução do litígio. Assume o mediador, portanto, a função de contribuir para o diálogo entre os envolvidos na controvérsia, fornecendo-lhes subsídios e argumentos convergentes, bem como aparando as divergências.
· Conflitos Coletivos do Trabalho: tipos de mediação 
O art. 616, §§1º e 2º, da CLT preceituava a compulsoriedade da mediação pelos órgãos internos do Ministério do Trabalho, em que pese a autorização para instaurar dissídio coletivo na hipótese de sua recusa ou insucesso. 
Entretanto, o aludido dispositivo não foi recepcionado pela CF/88, embora permaneça o instituto como uma faculdade das partes coletivas, a qual inclusive é instigada pelo referido Ministério.
Observação: Os mediadores coletivos na seara trabalhista não necessariamente são agentes especializados do Ministério do Trabalho, podendo ser profissionais da vida civil especializados nessa função e escolhidos pelas partes em dissenso.
Nesse contexto, destaca-se a atuação dos membros do Ministério Público do Trabalho como mediadores nos mais diversos conflitos coletivos do trabalho. #MPT
4. COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA
Com o avento da Lei 9.958/00, que inseriu na CLT os arts. 625-A a 625-H, foi autorizada a criação de Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, no âmbito das empresas ou grupo de empresas, bem como dos sindicatos ou grupos destes (comissões intersindicais).
As Comissões de Conciliação Prévia possuem a atribuição de conciliar os conflitos individuais do trabalho. O acordo firmado no âmbito das CCP´s configura título executivo extrajudicial, passível de execução na Justiça do trabalho (perante o juízo que seria competente para a ação de conhecimento relativo à mesma matéria).
Nos moldes do art. 625-D da CLT, no âmbito das Comissões de Conciliação Prévia, a demanda deve ser formulada por escrito ou ser reduzida a termo, sendo entregue cópia datada e assinada aos interessados. Havendo mais de uma comissão em uma determinada localidade, o interessado pode optar por qualquer delas, tornando-se competente a que primeiro conhecer do pedido.
A comissão possui o prazo de 10 dias para realizar a sessão de tentativa de conciliação, contado da provocação do interessado. Esgotado o referido prazo ou frustrada a conciliação, haverá expedição de declaração de tentativa conciliatória frustrada pela entidade, conforme art. 625-F da CLT, documento este que deve ser juntado à eventual reclamação trabalhista.
Ademais, a provocação da Comissão de Conciliação Prévia implica em suspensão do curso da prescrição trabalhista, a qual recomeça a fluir, pelo prazo que lhe resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou do decurso do supracitado prazo de 10 dias.
É imprescindível a leitura dos artigos celetistas que dispõe sobre essa temática:
TÍTULO VI-A
DA COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA
Art. 625-A. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representante dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho.  Parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste artigo poderão ser constituídas por grupos de empresas ou ter caráter intersindical.                  
Art. 625-B. A Comissão instituída no âmbito da empresa será composta de, no mínimo, dois e, no máximo, dez membros, e observará as seguintes normas:                  
I - a metade de seus membros será indicada pelo empregador e outra metade eleita pelos empregados, em escrutínio secreto, fiscalizado pelo sindicato de categoria profissional;                
II - haverá na Comissão tantos suplentes quantos forem os representantes titulares;                   
III - o mandato dos seus membros, titulares e suplentes, é de um ano, permitida uma recondução.              
§ 1º É vedada a dispensa dos representantes dos empregados membros da Comissão de Conciliação Prévia, titulares e suplentes, até um ano após o final do mandato, salvo se cometerem falta grave, nos termos da lei.              
§ 2º O representante dos empregados desenvolverá seu trabalho normal na empresa afastando-se de suas atividades apenas quando convocado para atuar como conciliador, sendo computado como tempo de trabalho efetivo o despendido nessa atividade.                       
Art. 625-C. A Comissão instituída no âmbito do sindicato terá sua constituição e normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo coletivo.            
Art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria.              
Tal artigo diz que “qualquer demanda de natureza trabalhista SERÁ submetida à Comissão de Conciliação Prévia”, o que ensejou, por longo período, debate na doutrina e na jurisprudência acerca de sua obrigatoriedade. 
O STF consolidou o entendimento de que não é obrigatório o rito de passagem pelas Comissões de Conciliação Prévia, tratando-se de mera faculdade, sob pena de ofensa ao princípio do amplo acesso ao Judiciário, que encontra guarida constitucional no art. 5º, XXXV, da Lei Maior (decisão plenária do STF, por maioria de votos, na Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.139-7, com julgamento concluído em 13.5.2009).
§ 1º A demanda será formulada por escrito oureduzida a termo por qualquer dos membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada pelo membro aos interessados.                    
§ 2º Não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e ao empregador declaração da tentativa conciliatória frustrada com a descrição de seu objeto, firmada pelos membros da Comissão, que deverá ser juntada à eventual reclamação trabalhista.                   
§ 3º Em caso de motivo relevante que impossibilite a observância do procedimento previsto no caput deste artigo, será a circunstância declarada na petição da ação intentada perante a Justiça do Trabalho.          
§ 4º Caso exista, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissão de empresa e Comissão sindical, o interessado optará por uma delas submeter a sua demanda, sendo competente aquela que primeiro conhecer do pedido.                   
Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes.                    
 Parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas.           
Segundo a lei, a conciliação firmada possui eficácia liberatória geral, salvo quanto às parcelas expressamente ressalvadas. Contudo, há vertente doutrinária que critica tal previsão, sob o argumento de que a CF/88 não conferiu tais poderes a nenhuma entidade ou processo inerente à sociedade civil, com exceção da negociação coletiva. Como nos conflitos individuais do trabalho não há distribuição equânime do poder, não se poderia admitir a eficácia liberatória geral da conciliação realizada no âmbito das referidas comissões.  
Art. 625-F. As Comissões de Conciliação Prévia têm prazo de dez dias para a realização da sessão de tentativa de conciliação a partir da provocação do interessado.              
Parágrafo único. Esgotado o prazo sem a realização da sessão, será fornecida, no último dia do prazo, a declaração a que se refere o § 2º do art. 625-D.                  
Art. 625-G. O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F.              
Art. 625-H. Aplicam-se aos Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista em funcionamento ou que vierem a ser criados, no que couber, as disposições previstas neste Título, desde que observados os princípios da paridade e da negociação coletiva na sua constituição.                         
5. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO
	DIPLOMA
	DISPOSITIVO
	CRFB/88
	Artigo 114, §2º. 
	CLT
	Artigos 507-A e 625-A a 625-H
	Lei 9.307/96
	Artigos 1º, 4º, 9º, 18 e 31
	Lei 12.815/13
	Artigo 37
	Lei 9.615/98
	Artigo 90-C
	Lei 7.783/89
	Artigos 3º e 7º
	Lei 10.101/00
	Artigo 4º
6. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
1. CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
2. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16ª ed. rev. e ampl.. São Paulo: LTr, 2017.
3. DELGADO, Maurício Godinho. DELGADO, Gabriela Neves. A Reforma Trabalhista no Brasil – Com comentários à Lei nº 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017.
4. MOURA, Marcelo. Reforma Trabalhista – Comentários à Lei nº 13.467/2017. Salvador: JusPodivm, 2018.

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