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1 FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE FARMÁCIA A ATENÇÃO FARMACÊUTICA E OS OBSTÁCULOS PARA SUA IMPLANTAÇÃO EM FARMÁCIAS NO BRASIL GOIÂNIA 2012 2 A ATENÇÃO FARMACÊUTICA E OS OBSTÁCULOS PARA SUA IMPLANTAÇÃO EM FARMÁCIAS NO BRASIL Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Farmácia da Faculdade Estácio de Sá de Goiás – FESGO, sob orientação do ???????????????, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Farmácia. GOIÂNIA 2012 3 A ATENÇÃO FARMACÊUTICA E OS OBSTÁCULOS PARA SUA IMPLANTAÇÃO EM FARMÁCIAS NO BRASIL Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado e aprovado em sua forma final pela Coordenação de Farmácia da Faculdade Estácio de Sá de Goiás - FESGO, em Outubro de 2012. Aprovado em:___________________________________________________________ Banca Examinadora: Prof. _____________________________________________ Data __________ Faculdade Estácio de Sá de Goiás Prof. _____________________________________________ Data __________ Faculdade Estácio de Sá de Goiás Prof. _____________________________________________ Data __________ Faculdade Estácio de Sá de Goiás GOIÂNIA 2012 DEDICATÓRIA 4 Aos professores e aqueles que de alguma forma possibilitaram ou participaram dessa caminhada em busca do saber e do conhecimento, que embora tenha sido árdua mostrou-se muito gratificante e valiosa em minha vida. 5 AGRADECIMENTOS ................................. 6 RESUMO A Atenção Farmacêutica, entendida como um modelo de prática profissional desenvolvida no contexto da assistência farmacêutica, prioriza a orientação e o acompanhamento farmacoterapêutico e a relação direta entre o farmacêutico e o usuário de medicamentos. Possui por finalidade aumentar a efetividade do tratamento medicamentoso, concomitante à detecção de problemas relacionados a medicamentos. No Brasil, a Atenção Farmacêutica vem sendo discutida e encaminhada junto às instituições de saúde e de educação como uma das diretrizes principais para redefinição da atividade farmacêutica em nosso país, embora nas condições específicas da realidade brasileira, ainda restem algumas questões a serem enfrentadas na transposição desse referencial. Esta atividade ainda germinal se debate com alguns fatores que dificultam sua implantação, entre outros, a rejeição do programa por gerentes e proprietários das farmácias, a insegurança ou falta de conhecimento por parte dos farmacêuticos e a ausência de um profissional técnico responsável nos estabelecimentos. Embora a introdução desse novo modelo de prática venha sendo estimulada nos últimos anos no País, ainda são necessárias melhorias das condições operacionais e de reconhecimento profissional, mudanças na formação do profissional e principalmente mudanças substanciais nos serviços farmacêuticos prestados aos usuários nas farmácias, sobretudo, no que concerne à formação e qualificação dos profissionais para o novo modelo de prática em atenção farmacêutica que ainda é incipiente. Palavras-chave: Atenção Farmacêutica; Obstáculos profissional; Farmácias. 7 ABSTRACT The Pharmaceutical Care, understood as a model of practice developed in the context of pharmaceutical care, prioritizes guidance and pharmacotherapeutic monitoring and direct relationship between the pharmacist and the drug user. It has the purpose of increasing the effectiveness of drug treatment, concomitant detection of drug related problems. In Brazil, the Pharmaceutical Care has been discussed and forwarded with the institutions of health and education as one of the main guidelines for redefinition of the pharmaceutical activity in our country, although the specific conditions of the Brazilian reality, there are still some issues to be faced in transposing this referential. This activity yet germinal faces some factors that hinder their deployment, among others, the rejection by program managers and owners of pharmacies, insecurity or lack of knowledge on the part of pharmacists and the absence of a professional technician responsible for the establishments. Although the introduction of this new model of practice will be encouraged in the country in recent years,improvements are needed in operating conditions and professional recognition, changes in professional training and especially substantial changes in the pharmaceutical services provided to users in pharmacies, especially regarding training and qualification for the new model of pharmaceutical care practice that is still incipient. Keywords: Pharmaceutical Care; Obstacles professional; Pharmacies. 8 INTRODUÇÃO O medicamento é considerado elemento essencial na abordagem terapêutica e, consequentemente, muito importante para a credibilidade da população no sistema e serviços de saúde, além de contribuírem de forma relevante para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Sua oferta, de forma organizada e em acordo com as necessidades da população, não apenas promove a adequada efetividade dos serviços de saúde, como também contribui para a melhoria de importantes princípios estruturantes de qualquer sistema de saúde, como a integralidade e a equidade (FULENO, 2008). Todavia, ter acesso à assistência médica e a medicamentos não implica necessariamente em melhores condições de saúde ou qualidade de vida, pois os maus hábitos prescritivos, as falhas na dispensação, a automedicação inadequada podem levar a tratamentos ineficazes e pouco seguros. Em virtude disso, a preocupação com problemas de saúde relacionados a medicamentos tem aumentado entre os profissionais da saúde, em especial os farmacêuticos (RISSATO, 2012). A insatisfação provocada por estas e outras condições levaram, na década de 1960, estudantes e professores da Universidade de São Francisco (EUA) à profunda reflexão, a qual resultou no movimento denominado “Farmácia Clínica”. Esta nova atividade objetivava a aproximação do farmacêutico ao paciente e à equipe de saúde, possibilitando o desenvolvimento de habilidades relacionadas à farmacoterapia. O conceito passou por várias transformações no decorrer dos anos, até que, em 1990, Hepler e Strand utilizaram pela primeira vez na literatura científica o termo “Pharmaceutical Care”, que foi traduzido em nosso país para “Atenção Farmacêutica”. Nesse artigo foi proposto que, Atenção Farmacêutica é a provisão responsável do tratamento farmacológico com o objetivo de alcançar resultados satisfatórios na saúde, melhorando a qualidade de vida do paciente (PEREIRA, 2008). A Atenção Farmacêutica é o processo pelo qual o farmacêutico coopera com outros profissionais no desenho, implementação e monitorização do plano terapêutico do paciente, com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida de cada paciente. Esses resultados são: a cura de uma doença; a eliminação ou redução dos sintomas; 9 interrupção ou redução da progressão de uma doença; prevenção de uma doença ou de um sintoma (MELO, 2008). Contudo, inúmeras condições desfavoráveis para a realização de tal método contribuem para dificultar a sua implantação nas farmácias, são eles: descaso dos farmacêuticos; desvalorização profissional (FARINA, 2009); afastamento do farmacêutico da equipe de saúde (PEREIRA, 2008); despreparo das instituições de ensino (OLIVEIRA, 2005); o crescimento da indústria farmacêutica (SILVERIO, 2010; VINHOLES, 2009); farmácias sem responsabilidade técnica seja pela falta de contratação ou ausênciado profissional (VINHOLES, 2009; MELO, 2008); fiscalização ineficaz (VINHOLES, 2009; ARRAIAS, 2012); entre outros. Tais situações geram ao farmacêutico um impasse entre a sua sobrevivência no mercado, incluindo o sucesso da empresa e a garantia do seu emprego, e a realização plena das atividades do profissional farmacêutico, incluindo a Atenção Farmacêutica, uma vez que a condição atual da profissão farmacêutica implica em diversos obstáculos e dificuldades enfrentadas por farmacêuticos dentro de sua atuação profissional plena. 10 ATENÇÃO FARMACÉUTICA NO BRASIL A Atenção Farmacêutica é um serviço de saúde prestado pelo farmacêutico ao paciente para prevenir, detectar, tratar problemas relacionados ao uso de medicamentos, reduzindo a morbi-mortalidade associada a estes e melhorando a qualidade de vida do indivíduo. A Prática Farmacêutica refere-se também as atividades em educação a saúde com ênfase no uso correto de medicamentos, a dispensão e orientação (SANTOS, 2010; PROVIN, 2010). No Brasil, em meados do século XXI, um grupo constituído por várias entidades foi formado com o objetivo de promover a Atenção Farmacêutica no país, considerando as características da prática profissional local. O objetivo principal era de promover uma maior efetividade farmacoterapêutica, com o propósito de alcançar resultados concretos em resposta à terapêutica prescrita, que melhorem a qualidade de vida do paciente (PEREIRA, 2008). O termo foi adotado e oficializado no Brasil, a partir de discussões lideradas pelo Ministério da Saúde (MS), a OMS, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), entre outros. Nesse encontro, foi definido o conceito de Atenção Farmacêutica como “um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitada as suas especificidades bio-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde” (VINHOLES, 2009 apud Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica, 2002). A Atenção Farmacêutica consiste no mais recente caminho a ser tomado para que o profissional farmacêutico atue buscando a saúde do paciente, orientando-o em todos os sentidos. Esta, segundo a Organização Mundial da Saúde, conceitua-se como a prática profissional na qual o paciente é o principal beneficiário das ações do farmacêutico (OMS, 1993). Sua atuação profissional inclui uma somatória de atitudes, comportamentos, co- responsabilidades e habilidades na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar 11 resultados terapêuticos eficientes e seguros, privilegiando a saúde e a qualidade de vida do paciente (OLIVEIRA, 2005). A Atenção Farmacêutica envolve o processo pelo qual o farmacêutico coopera com outros profissionais no desenho, implementação e monitorização do plano terapêutico do paciente por meio de um processo lógico e sistemático de solução de problemas facilitando a comunicação com outros profissionais de saúde, para tal, a prática deste método deve envolver inúmeros componentes de valor e importância similar. São eles: a educação em saúde, atendimento farmacêutico, dispensação, orientação farmacêutica e seguimento farmacoterapêutico, além do registro sistemático das atividades, mensuração e avaliação dos resultados (OLIVEIRA, 2005). Essa postura requer do profissional conhecimento, empenho e responsabilidade, frutos da formação acadêmica e da vivência profissional conquistada cotidianamente (MELO, 2008 apud MIGUEL, 2000). QUADRO 1 – COMPONENTES DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA (OLIVEIRA, 2005). COMPONENTES Educação em saúde é um processo de trocas de saberes e experiências entre a população como um todo, incluindo usuários, profissionais e gestores de saúde. Atendimento farmacêutico compreende a abordagem inicial humanizada ao usuário do medicamento. Dispensação é o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado. Orientação farmacêutica é o ato profissional farmacêutico de orientar o usuário do sobre o uso adequado do medicamento. Seguimento farmacoterapêutico é uma prática profissional em que o farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do doente relacionadas com os medicamentos. Registro de resultados registra, quantifica, mensura e avalia os resultados pré e pós farmacoterapeutia. São vários os modelos de Atenção Farmacêutica, porém, os mais utilizados por pesquisadores e farmacêuticos no mundo são o espanhol (Método Dáder) e o americano (Modelo de Minnesota) (MINISTÉRIO DE SAÚDE, 2006). O Método Dáder se baseia na obtenção da história Farmacoterapêutica do paciente, isto é, os problemas de saúde que ele apresenta e os medicamentos que utiliza, e na avaliação 12 de seu estado de situação em uma data determinada a fim de identificar e resolver os possíveis Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRM) apresentados pelo paciente. Após esta identificação, se realizarão as intervenções farmacêuticas necessárias para resolver os PRM e posteriormente se avaliarão os resultados obtidos (MACHUCA, 2003). No modelo de Minnesota, Atenção Farmacêutica é a provisão responsável do tratamento farmacológico com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente. Segundo tal modelo, o farmacêutico estará apto para realizar acompanhamento farmacoterapêutico completo e de qualidade, avaliando os resultados clínico-laboratoriais dos pacientes e interferindo diretamente na farmacoterapia. Vale ressaltar que além do conhecimento de Farmácia Clínica, a Atenção Farmacêutica desse método exige do profissional preocupação com as variáveis qualitativas do processo, principalmente aquelas referentes à qualidade de vida e satisfação do usuário (FARINA, 2009). Considerando que os dois métodos têm mais semelhanças que diferenças, e que o processo de atenção ao paciente é único, universal, para Medicina, para Farmácia, para Enfermagem, talvez seja possível identificarmos alguns pontos críticos de diferença entre os dois, porém, ambos os métodos são aceitos, disseminados e utilizados no mundo todo (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2006). O conceito de Atenção Farmacêutica é muito mais amplo do que os citados anteriormente neste trabalho, pois envolve termos que necessitam de outras definições ou explicações, além do mais, apenas a vivência de tais métodos é capaz de fazer com que o profissional entenda sua essência, uma vez que a própria base científica dos métodos é a experiência. No Brasil, a Atenção Farmacêutica vem sendo discutida e encaminhada junto às instituições de saúde e de educação como uma das diretrizes principais para redefinição da atividade farmacêutica em nosso país, embora nas condições específicas da realidade brasileira, ainda restem algumas questões a serem enfrentadas na transposição desse referencial, em que a garantia do acesso ao medicamento ainda se constitui o principal obstáculo a ser transporto pelos gestores (ARAÚJO, 2006). Embora a introdução desse novo modelo de prática venha sendo estimulada nos últimos anos no País, ainda são necessárias mudanças substanciais nos serviços farmacêuticos prestados aos usuários nas farmácias, sobretudo, no que concerne à formação e qualificação 13 dos profissionais para o novo modelo de prática em atenção farmacêutica que ainda éincipiente. 14 OBSTÁCULOS PARA A IMPLANTAÇÃO DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO BRASIL No Brasil, a Atenção Farmacêutica ainda é incipiente e alguns fatores dificultam sua implantação, inúmeros obstáculos erguem-se frente à classe farmacêutica no trilhar do caminho para seu reencontro como profissional da saúde por meio da realização plena de tal método. Entre outros, a ausência de documentação científica que possibilite demonstrar aos gestores do sistema público e privado que a implementação da Atenção Farmacêutica representa investimento e não custo. É importante lembrar que o desenvolvimento e mecanização da indústria farmacêutica, aliada à padronização de formulações para a produção de medicamentos em larga escala e à descoberta de novos fármacos, emergiu uma característica notória da sociedade moderna: o estímulo ao consumo de mercadorias. Com isso, o farmacêutico manipulador perdeu espaço, as farmácias de manipulação não são mais tão necessárias, pois os medicamentos já vem prontos na forma de especialidades farmacêuticas. Com a diminuição abrupta nas atividades de manipulação, o farmacêutico passou a ocupar-se com atividades gerenciais, e as farmácias tornaram-se canais de distribuição da indústria. Com isso, as farmácias perderam seu “status” de estabelecimento de saúde e, hoje, são considerados estabelecimentos comerciais (setor privado) ou depósitos de medicamentos (setor público), afastando o farmacêutico de sua atividade primária (PEREIRA, 2008). Os farmacêuticos, devido a atual condição profissional, se viram forçados a se afastarem de suas atividades primárias tais como, administração de injetáveis e inaláveis, dispensação e atividades de atenção ao usuário para se ocuparem em atividades gerenciais e administrativas, tais como: gerência, compras, controle de estoque, caixa, venda e até mesmo atividades de limpeza (FARINA, 2009). Com isso, o farmacêutico perdeu destaque no acompanhamento da utilização de medicamentos, na prevenção e promoção da saúde e tornou-se pouco reconhecido como profissional de saúde tanto pela sociedade quanto pela equipe de saúde. Vale mencionar que a liberalização, no mercado, de medicamentos com vendas pelo correio, a ampliação da lista dos medicamentos de venda livre (FOPPA, 2008), a não 15 participação do farmacêutico na equipe de saúde, entre outros fatores, contribuíram negativamente para que isso acontecesse. Além das dificuldades já mencionadas acima, inúmeras outras, de importância similar, relatadas pelos próprios farmacêuticos, contribuem de forma negativa para a implantação da Atenção farmacêutica. A tabela 1 mostra as dificuldades mencionadas pelos farmacêuticos na tentativa de prestar um serviço junto aos usuários de farmácias. Tabela 1 - Dificuldades mencionadas por farmacêuticos para atuar junto aos usuários de farmácias. Jundiaí-SP, 2004. (FARINA, 2009) Dificuldades relacionadas N° % Ao ambiente de trabalho Falta de tempo 32 38,6 apoio 17 20,5 computador ou software 6 7,2 dinheiro 4 4,8 material 3 3,6 funcionários 3 3,6 local apropriado 3 3,6 telefone 1 1,2 estrutura de gerência 1 1,2 Relação com os demais recursos humanos 4 4,8 Situação comercial 2 2,4 Seguir padrão da rede 2 2,4 Concorrência 1 1,2 Mostrar viabilidade do trabalho 1 1,2 Aos usuários Falta de interesse 14 16,9 confiança e de conhecimento 12 14,5 aceitação do trabalho 4 4,8 dados para acompanhamento 3 3,6 Busca por preços 3 3,6 Ao profissional Falta de conhecimento 10 12 iniciativa 4 4,8 experiência 3 3,6 integração entre os profissionais 2 2,4 paciência 1 1,2 Não tem dificuldade 4 4,8 Outras* 3 3,6 * Falta de legislação específica, publicidade de medicamentos, consumo induzido. Contudo, sem dúvida, os principais obstáculos para a implantação da Atenção Farmacêutica incluem a rejeição do programa por gerentes e proprietários das farmácias, a 16 insegurança ou falta de conhecimento por parte dos farmacêuticos e a ausência de um profissional técnico responsável nos estabelecimentos. Grande parte dos proprietários de farmácias desestimula a prática da Atenção Farmacêutica alegando a perda de lucros atrelada à venda desorientada de medicamentos, além do investimento no farmacêutico responsável, devido à necessidade de atualização constante do profissional que promove o atendimento. Segundo PROVIN (2001) apud OLIVEIRA (2005) a falta de incentivo dos gerentes ou proprietários foi dos empecilhos mais citados por farmacêuticos à integração de práticas de prevenção nas farmácias. O termo Atenção Farmacêutica surgiu como alternativa de resgate da profissão, todavia, sendo nova atividade do profissional farmacêutico, torna-se primordial que as instituições de ensino farmacêutico promovam adaptações curriculares, de modo a fornecer o conhecimento formal teórico e prático necessário ao desempenho desta atividade. A legislação brasileira estabelece que as farmácias tenham assistência de um técnico responsável e que este deva permanecer durante todo o horário de funcionamento do estabelecimento, todavia, é fácil encontrar farmácias sem responsabilidade técnica, seja pela falta de contratação ou ausência do profissional. Um levantamento do CFF (Conselho Federal de Farmácia) feito em 2010concluiu que, dos 83.714 estabelecimentos farmacêuticos existentes no Brasil, 17% (11.820) estão trabalhando de forma irregular, ou seja, não têm um farmacêutico de plantão conforme o exigido pela lei. Atualmente podemos encontrar estabelecimentos farmacêuticos que paga uma quantia baixa para o profissional apenas assinar a autorização de funcionamento (se responsabilizar tecnicamente) sem exigir sua atuação no local, essa nova prática da profissão farmacêutica só demonstra ainda mais a fragilidade da classe, uma vez que sua permanência nas farmácias está se tornando cada vez menos necessária. Outros 4.840 são clandestinos, 5% do total, por não apresentarem registro na vigilância sanitária e em algum conselho regional de farmácia, o que também é obrigatório (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). É importante lembrar que o Ministério Público Federal recomenda ao CFF que determine aos Conselhos Regionais de Farmácia a atuação rigorosa na fiscalização das farmácias e drogarias no que tange ao cumprimento do artigo 15, da Lei Federal n° 5991/73, quanto à obrigatoriedade da presença dos farmacêuticos, inscritos no Conselho Regional de 17 Farmácia, nos referidos estabelecimentos, durante todo o horário de funcionamento (SILVA, 2004). 18 DISCUSSÃO A Atenção Farmacêutica tem como propósito eliminar, reduzir ou prevenir riscos à saúde, por meio do uso racional de medicamentos, traduzido pela diminuição dos Problemas Relacionados ao Medicamento (PRM). Um PRM é um problema de saúde vinculado a farmacoterapia, que interfere ou pode interferir com os resultados terapêuticos esperados no paciente (SILVA, 2004). O seguimento da Farmacoterapia por parte do farmacêutico tem o objetivo de prevenir, detectar, informar e resolver um PRM. Como especialista do medicamento, exige a participação ativa e a intervenção direta do mesmo, no que supõem aplicar os critérios assistenciais e a metodologia da Atenção Farmacêutica, que deve ser conhecida por todos os profissionais de saúde. Todavia, vimos que inúmeros obstáculos estão atuando de forma negativa e contraditória para o alcance de tal meta. O uso racional de medicamentos é um item fundamental da Atenção Farmacêutica, entendida como o processo que compreende a prescrição apropriada, a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis, a dispensação em condições adequadas, o consumo nas doses e pelo períodode tempo indicados e nos intervalos definidos de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade. ARAÚJO (2006) definiu como sendo a situação em que o paciente recebe o medicamento apropriado a sua necessidade clínica, na dose e posologia corretas, por um período de tempo adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. Contudo, a real condição do mercado farmacêutico caminha em mão oposta a este conceito, pois vários são os fatores que se entrelaçam para o não cumprimento deste. Podemos citar: O comissionamento de funcionários para o aumento de vendas: a possibilidade de uma maior remuneração por parte dos funcionários de uma farmácia que comissiona as vendas de medicamentos, inclusive farmacêuticos, estimula a venda desnecessária de medicamentos aos usuários. Ausência do técnico responsável: no caso específico da dispensação, ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado, a ausência do farmacêutico nas unidades públicas e 19 privadas é um fator crítico para a implementação do uso racional de medicamentos (PALHANOE, 2010). O crescimento da indústria farmacêutica: em virtude disso, surgiu a criação de novas necessidades de consumo de medicamentos como compensação indispensável ao seu desenvolvimento. Aconteceu, em razão disso, uma alteração dos hábitos de consumo e das práticas dos profissionais e das instituições de saúde (SILVERIO, 2010). Não cumprimento da orientação e uso indicada: o usuário de medicamento, em sua maioria, não realiza o consumo nas doses e pelo período de tempo indicados e nos intervalos definidos pelo profissional. A propaganda excessiva de medicamentos: instituiu conceitos relacionados à sua eficácia, com sustentação científica e a simultânea dificuldade em evitar seu uso, surgindo, dessa forma, uma sociedade medicalizada (VINHOLES, 2009 apud Barros, 2004). Segundo CARNEIRO (2008) apud SANCHEZ (2006), foram detectados, em Santiago de Cuba, 523 PRM em 593 pacientes. PALHANOE (2010) relata que, mesmo de forma informal e sem documentação que confirme tal dado, mais de 70% dos farmacêuticos de Erechim/RS já detectaram algum PRM dos usuários, porém, grande parte dos profissionais se viram impossibilitados de realizar qualquer ação corretiva nos casos. Podemos citar também, que, o principal serviço prestado nas farmácias e drogarias é a dispensação de medicamentos, o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado (SANTOS, 2010), todavia, a qualidade dessa prática pode ser considerada abaixo do padrão, seja pela falta de conhecimento técnico dos farmacêuticos ou pela freqüente ausência dos mesmos na farmácia (SILVA, 2004). Em vista disto, o conceito de atenção farmacêutica sugere mudanças na atuação profissional predominante. E embora a legislação brasileira estabeleça que farmácias tenham assistência de técnico responsável e que este deva permanecer durante todo o horário de funcionamento do estabelecimento, encontrou-se farmácias sem responsabilidade técnica, seja pela falta de contratação ou ausência do profissional. Essa situação, proibida por lei, demonstra que a fiscalização deve ser mais efetiva quanto à presença desses profissionais, não só devido à 20 questão legal, mas também pelas implicações que sua ausência pode acarretar, como a falta de assistência ao paciente (OLIVEIRA, 2005). A dificuldade de inserir esse modelo encontra-se também na falta de reconhecimento da figura do farmacêutico como parte integrante na equipe multiprofissional por esses próprios profissionais, dificultando o trabalho do farmacêutico clínico, pelos próprios farmacêuticos que não se reconhecem mais como profissionais de saúde e pelo governo que não fornece o incentivo necessário (VINHOLES, 2009; FARINA, 2009). A falta de reconhecimento verifica-se também na população que não compreendem a importância do atendimento realizado pelo farmacêutico. Para que a população volte a ter confiança na farmácia/drogaria e a reconheça como estabelecimento de saúde, é necessário que se ofereça um atendimento diferenciado, onde o farmacêutico, devidamente habilitado e qualificado, seja capaz de oferecer orientações e informações sobre medicamentos e estar envolvido na busca de soluções aos pacientes (MELO, 2008). No Brasil, o histórico da profissão farmacêutica evidencia a influência de interesses comerciais no abandono da farmácia por parte do profissional e na perda da relação farmacêutico-paciente. A Atenção Farmacêutica como proposta no Consenso Brasileiro, embora defina conceitos pouco específicos e ainda confusos, incorpora elementos característicos do sistema de saúde brasileiro que contribuem para o redirecionamento da prática farmacêutica brasileira (SILVA, 2004). Para que a farmácia retorne à atividade de estabelecimento de saúde, desempenhando importante função social e tendo o farmacêutico como líder, torna-se necessário investir no ambiente de trabalho, na formação que resulte na melhoria do atendimento e, conseqüentemente, na conscientização da população para o uso correto dos medicamentos. Para isto, o farmacêutico deve possuir o conhecimento teórico, aliado à habilidade de comunicação nas relações interpessoais (RISSATO, 2012). Além disso, dados sugerem que se devam apresentar aos proprietários vantagens comerciais da atenção farmacêutica, como diferencial em relação aos outros estabelecimentos, numa tentativa de diminuir as resistências à sua execução. Segundo SILVA (2004), apesar de não ter emergido um projeto político consensual para a categoria, há, contudo, percepção das necessidades e algumas idéias no sentido de melhorar as condições de trabalho. A maior parte das sugestões repete o discurso da 21 necessidade de melhorar as condições operacionais e de reconhecimento profissional, assim como de convênios com universidades e mudanças na formação do profissional. A justificativa social dessa proposta pressupõe que o farmacêutico deve ser incorporado nas ações de saúde, contribuindo para a redução de custos, pois é um profissional de nível superior com sólida formação na área do medicamento e, muitas vezes, o único com quem o paciente tem contato fora do serviço de saúde. Segundo ANGONESI (2010), o farmacêutico deve ser de fato um dos responsáveis pela terapêutica e não um mero subordinado à autoridade médica, e somente nessa posição ativa poderá atuar na promoção do uso racional do medicamento e transformar a farmácia em estabelecimento de saúde. De modo geral, constata-se neste estudo o atual estágio da Assistência Farmacêutica nas farmácias do Brasil, ou seja, trata-se de uma área ainda incipiente. A falta de um modelo que atenda as necessidades atuais do nosso mercado, que definitivamente encontre maneiras cabíveis e solucionáveis de implantação de práticas da Assistência Farmacêutica nos sistemas locais é um dos fatores que tem dificultado sua evolução. Este modelo deve ser construído de forma sistêmica e suas tecnologias devem ser adequadas às necessidades do sistema e dos usuários. 22 CONCLUSÃO A Atenção Farmacêutica constitui uma prática profissional centrada no paciente, que encontra-se em fase de implantação em algumas farmácias de diversas regiões do Brasil, enfrentando porém muitos empecilhos, os quais devem ser superados em prol do resgate dos princípios e ideáis da profissão farmacêutica perante a sociedade. Para isso, exige além de um novo profissional, a reestruturação das antigas práticas de acordo com a nova filosofia, pois somente dessa forma é que os farmacêuticos poderão exercer a sua função social para que a responsabilidadee o compromisso com a resolução de problemas farmacológicos complexos, com a assistência ao paciente e com a promoção do uso racional de medicamentos sejam resgatados. Constatou-se que as dificuldades encontradas pelos profissionais farmacêuticos na aplicação prática da Atenção Farmacêutica representam grande expressão dentro de sua atuação, e a análise dos dados obtidos reflete a necessidade de estímulo e segurança dos profissionais. Neste contexto, ocorre a necessidade do estímulo aos acadêmicos e profissionais recém-formados, os quais possuem íntegra a energia e o anseio de colaboração com a saúde da comunidade, de modo que ultrapasse as barreiras para realização de programas de Atenção Farmacêutica, implantando-os além das perspectivas de aceitação pela administração geral do estabelecimento farmacêutico e promovendo admissão e entendimento da real necessidade do programa por parte da comunidade atendida. 23 REFERÊNCIAS ANGONESI, Daniela; SEVALHO, Gil. Atenção Farmacêutica:fundamentação conceitual e crítica para um modelo brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva, 15(Supl. 3):3603-3614, 2010. ARAÚJO, Aílson da Luz André de; FREITAS, Osvaldo de. Concepções do profissional farmacêutico sobre a assistência farmacêutica na unidade básica de saúde: dificuldades e elementos para a mudança. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas vol. 42, n. 1, jan./mar., 2006. 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