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ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Liliana Rockenbach Política Nacional de Assistência Farmacêutica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os conceitos gerais da Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Identificar os princípios estabelecidos pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Explicar os eixos norteadores da Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Introdução O acesso a medicamentos e serviços da saúde é, segundo a Política Na- cional de Medicamentos e a legislação brasileira, um direito do cidadão. Apesar de o Brasil apresentar um crescimento econômico significativo, ainda tem uma das distribuições de rendas mais desiguais do mundo. Isso leva a um acesso extremamente heterogêneo aos cuidados médicos e farmacêuticos. Devido a esses fatores, uma revisão, em 1988, da Cons- tituição Brasileira criou um sistema de saúde universal, financiado pelo setor público. Um de seus compromissos era a prestação de assistência farmacêutica à população. Apesar dos avanços, tornava-se necessária a efetivação das ações de assistência farmacêutica. Com isso, em 2004, foi aprovada a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF), pela Resolução nº. 338, de 6 de maio de 2004, do Conselho Nacional de Saúde, que reforçou o direito dos cidadãos ao acesso à saúde e aos medicamentos. Neste capítulo, você vai conhecer os conceitos gerais abordados pela PNAF, assim como os princípios estabelecidos e os eixos norteadores considerados para a criação dessa política. Conceitos gerais da Política Nacional de Assistência Farmacêutica Após a Assistência Farmacêutica ter sido incluída na Política Nacional de Medicamentos (Portaria nº. 3.916, de 30 de outubro de 1998), foram incorporados novos avanços à legislação brasileira, a fi m de garantir ações estratégicas para a aplicação da Assistência Farmacêutica. Para isso, realizou- -se, entre os dias 15 e 18 de setembro de 2003, a 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica (CNMAF), que teve como tema “Acesso, Qualidade e Humanização da Assistência Farmacêutica com Controle Social”. A conferência foi um processo totalmente democrático que envolveu gestores federais, usuários, funcionários e prestadores de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Como resultado dessa conferencia, foi criada, em 2004, a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF) (Figura 1). Figura 1. Marco legal da Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Fonte: Nascimento Júnior (2014, documento on-line). Por meio da Resolução nº. 338, de 6 de maio de 2004, aprovada pelo Conse- lho Nacional de Saúde, a Assistência Farmacêutica foi efetivada como política de saúde e definida como um: [...] conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia Política Nacional de Assistência Farmacêutica 2 da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população(BRASIL, 2004, documento on-line). Na Figura 2, temos uma representação dos conceitos principais da Assis- tência Farmacêutica. Figura 2. Conceitos principais da Assistência Farmacêutica. De acordo com a Portaria nº. 3.916 de 30.10.1998, a Assistência Farmacêutica deve ser organizada com base nos seguintes fundamentos (BRASIL, 1998): a descentralização da gestão; a promoção do uso racional dos medicamentos; a otimização e a eficácia do sistema de distribuição no setor público; o desenvolvimento de iniciativas que possibilitem a redução nos preços dos produtos, viabilizando, inclusive, o acesso da população a eles no âmbito do setor privado. A Resolução nº. 338, de 6 de maio de 2004, fixou conceitos básicos e estratégicos para a aplicação da PNAF, os quais constam nos artigos 1º e 2º. Dois conceitos são imprescindíveis para o entendimento da PNAF, a inte- gralidade e a descentralização. A integralidade é definida como: [...] um conjunto articulado de ações e serviços de saúde, preventivos e curativos, individuais e coletivos, em cada caso, nos níveis de complexidade do sistema. Ao ser constituído como ato em saúde nas vivências cotidianas dos sujeitos nos serviços de saúde, tem germinado experiências que produzem transformações na vida das pessoas, cujas práticas eficazes de cuidado em saúde superam os modelos idealizados para sua realização (BIBLIOTECA..., 2018, documento on-line). A integralidade deve garantir aos usuários do SUS a prestação dos serviços de saúde nas esferas preventivas, curativas, individuais e coletivas, assim 3Política Nacional de Assistência Farmacêutica como o atendimento nos mais diversos níveis de complexidade, ou seja, desde a atenção básica até o atendimento hospitalar de alta complexidade. Isso pode incluir procedimentos variados, como exames diagnósticos, cirurgias, dispensação de medicamentos, produtos e insumos de saúde. Em relação à descentralização, a PNAF parte do principio de que ela é necessária, especialmente para os municípios, para a aquisição e a dispen- sação de medicamentos. A descentralização visa evitar desperdício de verba pública. Um exemplo de desperdício é a utilização da verba em duplicidade ou triplicidade pelas esferas federais, causada pela desordem nas definições das responsabilidades. Por outro lado, a descentralização também facilita a aproximação dos usuários ao gestor da política pública, o que possibilita a identificação, com maior facilidade, do perfil epidemiológico da população e das prioridades de saúde pública em diferentes localidades. Com isso, otimiza-se e racionaliza-se o emprego dos recursos públicos destinados à saúde. Ainda hoje, existe discussão quanto à mediação da Política Nacional de Assistência Farmacêutica e da Política Nacional de Medicamentos e à forma como uma pode complementar a outra, visto que não se pode pensar em assistência farmacêutica sem o acesso aos medicamentos. Para qualificar a gestão da Assistência Farmacêutica nas três esferas do SUS e contribuir para a ampliação do acesso aos medicamentos e da atenção à saúde prestada à população, o Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (DAF/SCTIE/MS) dispõe do HÓRUS — Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica. Você pode encontrar mais detalhes sobre esse sistema no link a seguir. https://goo.gl/cLYgTy A PNAF, em seu artigo 2o, é caracterizada por treze eixos estratégicos que garantem o direito dos cidadãos à saúde, como é descrito a seguir (Quadro 1). Política Nacional de Assistência Farmacêutica 4 Eixo estratégico Observações I — Garantia de acesso às ações de saúde e equidade; inclui, necessariamente, a Assistência Farmacêutica. Em concordância com as diretrizes do SUS. II — Manutenção de serviços de Assistência Farmacêutica na rede pública de saúde, nos diferentes níveis de atenção, considerando a necessária articulação e a observância das prioridades regionais, definidas nas instâncias gestoras do SUS. Deve haver disponibilidade de medicamentos ou uma alternativa para obter os medicamentos necessários. III — Qualificação dos serviços de Assistência Farmacêutica existentes, em articulação com os gestores estaduais e municipais, nos diferentes níveis de atenção. Financiamentos especí�cos para os serviços de farmácia, como o Qualifar-SUS. IV — Descentralização das ações, com definição das responsabilidades das diferentes instân- cias gestoras, de forma pactuada e visando a superação da fragmentação em programas desarticulados. Atuação conjunta dos diferentes níveisde governo para favorecer os progra- mas de distribuição de medicamentos. V — Desenvolvimento, valorização, formação, fixação e capacitação de recursos humanos. Em conformidade com o esta- belecido na Política Nacional de Medicamentos (PNM). VI — Modernização e ampliação da capacidade instalada e da produção dos Laboratórios Farma- cêuticos Oficiais, visando o suprimento do SUS e o cumprimento de seu papel; referências de custo e qualidade da produção de medicamentos, incluída a produção de fitoterápicos. Investimento nos Laborató- rios O�ciais. VII — Utilização da Relação Nacional de Medica- mentos Essenciais (RENAME), atualizada periodi- camente, como instrumento racionalizador das ações no âmbito da Assistência Farmacêutica. Em conformidade com o estabelecido na Política Nacional de Medicamentos (PNM). VIII — Pactuação de ações intersetoriais que visem a internalização e o desenvolvimento de tecnologias que atendam às necessidades de produtos e serviços do SUS nos diferentes níveis de atenção. Em conformidade com o estabelecido na Política Nacional de Medicamentos (PNM). Quadro 1. Eixos estratégicos da PNAF (Continua) 5Política Nacional de Assistência Farmacêutica Eixo estratégico Observações IX — Implementação, de forma intersetorial e, em particular, em conjunto com o Ministério da Ciência e Tecnologia, de uma política pública de desenvolvimento científico e tecnológico, envol- vendo os centros de pesquisa e as universidades brasileiras, com o objetivo de desenvolvimento de inovações tecnológicas que atendam aos interesses nacionais e às necessidades e priori- dades do SUS. Eixo de partida para a cria- ção da Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde e da CONITEC. X — Definição e pactuação de ações inter- setoriais que visem a utilização das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos no processo de atenção à saúde, com respeito aos conhecimentos tradicionais incorporados, com embasamento científico, com adoção de políticas de geração de emprego e renda, com qualificação e fixação de produtores. É preciso envolvimento dos trabalhadores em saúde no processo de incorporação dessas opções terapêuticas. Essas são baseadas no incentivo à produção nacional, com a utilização da biodiver- sidade existente no país. Incentivar a utilização de plantas medicinais e fitote- rápicas no SUS. Incentivar a produção de fitoterápicos. O eixo incentivador da Política Nacional de Plantas Medici- nais e Fitoterápicos foi criado em 2006, pelo Decreto nº. 5.813. XI — Construção de uma Política de Vigilância Sanitária que garanta o acesso da população a serviços e produtos seguros, eficazes e de qualidade. Em conformidade com o estabelecido na Política Nacional de Medicamentos (PNM). XII — Estabelecimento de mecanismos adequa- dos à regulação e ao monitoramento do mer- cado de insumos e produtos estratégicos para a saúde, inclusive medicamentos. Incentivo à implantação do HÓRUS. XIII — Promoção do uso racional de medica- mentos por intermédio de ações que discipli- nem a prescrição, a dispensação e o consumo. Em conformidade com o esta- belecido na Política Nacional de Medicamentos (PNM). Quadro 1. Eixos estratégicos da PNAF (Continuação) Política Nacional de Assistência Farmacêutica 6 Princípios estabelecidos pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica Com o objetivo de promover, proteger e recuperar a saúde individual e coletiva da sociedade, a PNAF foi criada seguindo quatro princípios básicos, os quais estão contidos no artigo 1º de sua resolução: I – a Política Nacional de Assistência Farmacêutica é parte integrante da Política Nacional de Saúde, envolvendo um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde e garantindo os princípios da universalidade, integralidade e equidade (BRASIL, 2004, documento on-line). O farmacêutico pode, segundo a Resolução 417/2004 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que aprova o Código de Ética da Profissão Farmacêutica, e a Resolução 357/2001 do CFF, que aprova o Regulamento Técnico das Boas Práticas de Farmácia, contribuir para a promoção da saúde individual e coletiva, sobretudo no campo da prevenção (quando desempenhar cargo ou função pública na área). A promoção à saúde pode ser realizada por meio de atividades que visam a conscientização do uso racional de medicamentos, atividades educativas, palestras, ações na comunidade, entrevistas em veículos de comunicação, veiculação de publicidade e participação em projetos de lei ou campanhas, por exemplo. A proteção à saúde, segundo o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, implica no direito de cidadania e necessita da atuação dos estados na garantia de seu acesso universal e na regulação daquilo que interfere na saúde da po- pulação. Para tanto, a saúde não deve ser interpretada como mera mercadoria ou atividade lucrativa. Já a prevenção à saúde, segundo uma revisão publicada pela Fiocruz em 2003, consiste em uma ação antecipada, baseada nos conhecimentos, com o objetivo de tornar improvável o progresso de doenças. As ações preventivas devem orientar os cidadãos a evitar o aparecimento de doenças, de modo a reduzir sua incidência e prevalência nas populações. As bases para a prevenção são o conhecimento epidemiológico das doenças, as ações para o controle de transmissão de doenças infecciosas e a redução do risco de doenças degene- rativas ou outros agravos específicos. Os projetos de prevenção e de educação 7Política Nacional de Assistência Farmacêutica em saúde estruturam-se mediante à divulgação de informação científica e de recomendações normativas de mudanças de hábitos. II – a Assistência Farmacêutica deve ser compreendida como política pública norteadora para a formulação de políticas setoriais, entre as quais destacam-se as políticas de medicamentos, de ciência e tecnologia, de desenvolvimento industrial e de formação de recursos humanos, dentre outras, garantindo a intersetorialidade inerente ao sistema de saúde do país (SUS) e cuja implanta- ção envolve tanto o setor público como privado de atenção à saúde (BRASIL, 2004, documento on-line). A Política de Medicamento deve ter como base os princípios e diretrizes do SUS. Para sua implementação, é necessário definir planos, programas e atividades específicas nas esferas federal, estadual e municipal. Em relação à política de ciências e tecnologia, essa deve estimular a maior articulação das instituições de pesquisas e das universidades com o setor produtivo a partir do estabelecimento de prioridades. No que diz respeito ao desenvolvimento industrial, iniciativas devem possibilitar a redução nos preços dos produtos, viabilizando, inclusive, o acesso da população a medicamentos em âmbito privado. Além disso, investimentos devem ser feitos para a gestão continua da Assistência Farmacêutica. III – a Assistência Farmacêutica trata de um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, 2004, documento on-line). Neste contexto, a atuação do profissional farmacêutico deve garantir a contínua oferta de medicamentos seguros e eficazes à população por meio da implementação do ciclo da Assistência Farmacêutica (Figura 3), o qual permite que pontos positivos e negativos sejam levantados e soluções sejam apontadas para a melhoria do serviço. Política Nacional de Assistência Farmacêutica 8 Figura 3. Detalhamento do ciclo de da Assistência Farmacêutica. Fonte: Adaptada de Diário MS (2017,documento on-line). IV - as ações de Assistência Farmacêutica envolvem aquelas referentes à Atenção Farmacêutica, considerada como um modelo de prática farmacêuti- ca, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica e compreendendo atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co- -responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde (BRASIL, 2004, documento on-line). A prática da atenção farmacêutica ou do cuidado farmacêutico envolve alguns macrocomponentes, como a educação em saúde, a orientação farma- cêutica, a dispensação, o atendimento farmacêutico, o seguimento farmaco- terapêutico, o registro sistemático das atividades, a mensuração e a avaliação dos resultados. Para isso, o farmacêutico deve atender diretamente o paciente, 9Política Nacional de Assistência Farmacêutica avaliando-o e orientando-o em relação às terapias medicamentosas por meio da avaliação de suas necessidades. Com isso, torna-se possível identificar os problemas e resultados negativos associados à medicação. Eixos norteadores da Política Nacional de Assistência Farmacêutica Como consta no item II do artigo 1º da PNAF, a Assistência Farmacêutica deve ser compreendida como política pública norteadora para a formulação de políticas setoriais, entre as quais se destacam (BRASIL, 2004): a política de medicamentos; a política de ciência e tecnologia; a politica de desenvolvimento industrial; a política de formação de recursos humanos; Essas politicas devem garantir a intersetorialidade do sistema de saúde do país (SUS), cuja implantação envolve tanto o setor público quanto o setor privado de atenção à saúde. Política de medicamentos A saúde no Brasil é um direito constitucional que pode ser fornecido por insti- tuições privadas e públicas. A saúde pública é fornecida a todos os residentes permanentes brasileiros e estrangeiros no território brasileiro por meio do Sistema Nacional de Saúde, conhecido como Sistema Único de Saúde (SUS), o qual se caracteriza pela universalidade e gratuidade. A Política Nacional de Saúde baseia-se na Constituição Federal de 1988, que estabelece os princípios e diretrizes para a prestação de cuidados de saúde no país por meio do SUS. De acordo com a Constituição, as atividades do governo federal devem se basear em planos plurianuais, aprovados pelo Congresso Nacional por períodos de quatro anos. Os objetivos essenciais para o setor da saúde são a melhoria da situação geral de saúde, com ênfase na redução da mortalidade infantil, e a reorganização político-institucional do setor, com vistas a potencializar a capacidade operativa do SUS. Atualmente, os compromissos assumidos pelos gestores do SUS, nas três esferas, tornam-se públicos por meio da Pactuação da Saúde, que pode ser consultada no âmbito da Programação Pactuada e Integrada (PPI). Política Nacional de Assistência Farmacêutica 10 Economicamente, o Brasil é o maior mercado de saúde da América Latina, gastando 9,1% de seu PIB com esse setor. Dos cerca de 6.500 hospitais do território nacional, 70% são privados. Existem aproximadamente 495.000 leitos hospitalares, 96.000 serviços complementares de saúde, 432.000 médicos, 144.000 dentistas e 70.000 drogarias. O Brasil está entre os sete principais mercados, em tamanho, para medicamentos e produtos farmacêuticos, com vendas de US$ 29,9 bilhões em 2017, segundo o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma). Nesse mesmo ano, o Brasil importou US$ 6,5 bilhões em medicamentos e matérias-primas. Para medicamentos de alto valor agregado, Estados Unidos e Europa são os principais exportadores para o Brasil, enquanto China, Índia e Irlanda são os principais fornecedores de matérias-primas. Política de ciência e tecnologia O Brasil é uma das maiores economias do mundo, com uma população grande e relativamente jovem, uma constituição nacional que assegura amplos direitos sociais e um sistema de saúde concebido para ser público e universal — o Sistema Único de Saúde (SUS). A partir do seu nascimento, em 1988, o SUS foi, primeiramente, baseado em uma estrutura descentralizada de atenção à saúde, enraizada no desenho federalista, que favoreceu a criação de uma importante base de apoio composta por políticos, profi ssionais de saúde, usuários e acadêmicos. Em segundo lugar, houve uma expansão signifi cativa dos serviços de atenção primária à saúde no Brasil, com implicações positivas para o acesso aos cuidados e para a melhoria das condições de saúde. Terceiro, os processos de descentralização e regionalização avançaram muito em vários aspectos — mecanismos de fi nanciamento, formas de organização e prestação de cuidados de saúde, formas de integrar atividades e serviços no território e formas de relacionamento e divisão de funções e responsabilidades entre os níveis federal, estadual e municipal. No atual estágio de desenvolvimento do SUS, o governo federal é o principal ator no cenário brasileiro da ciência e inovação em saúde, pois estabelece prioridades, financia a pesquisa e fomenta colaborações entre laboratórios públicos e empresas privadas para transferência de tecnologia e fabricação de produtos estratégicos para a saúde. A partir de 2004, como resultado de uma conferência nacional realizada pelo Ministério da Saúde com o objetivo de produzir e aplicar conhecimentos na busca da universalidade, equidade e qualidade da atenção à saúde da popu- lação, foram produzidos dois importantes resultados: a aprovação da Política 11Política Nacional de Assistência Farmacêutica Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde e o desenvolvimento da Agenda Nacional de Prioridades em Pesquisa em Saúde. Desde então, muitas atividades para fortalecer a pesquisa em saúde no Brasil foram adotadas pelas autoridades públicas em áreas prioritárias, como dengue, malária e câncer (BRASIL, 2008). Esforços para traduzir os resultados das pesquisas e da política em resultados foram feitos, e a regulação da ética na pesquisa em saúde foi aprimorada. Igualmente, o Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (REBEC) foi implementado. As compras governamentais passaram a ser utilizadas para fortalecer a inovação e a fabricação de tecnologias estratégicas para o SUS. Parcerias entre organizações públicas e empresas privadas para o desenvolvimento produtivo são exemplos desse tipo de política que visam garantir o acesso das pessoas às tecnologias de saúde prioritárias, reduzir a vulnerabilidade de longo prazo do SUS e reduzir os preços dos produtos estratégicos. Segundo dados do SUS, até junho de 2013, o governo federal havia promovido 88 parcerias, compreendendo 17 laboratórios públicos e 53 empresas privadas envolvidos na fabricação de 78 tecnologias diferentes (medicamentos, vacinas e dispositivos médicos). No que se refere à gestão de tecnologias em saúde, foram adotados dois processos articulados no Brasil: produção, sistematização e divulgação de estudos de avaliação de tec- nologias em saúde; adoção de fluxo para análise de pedidos de inclusão e exclusão de tecnologias em saúde no SUS. Esses processos fazem parte da Política Nacional de Gestão de Tecno- logia em Saúde, aprovada em 2009. Vários avanços foram feitos até agora, incluindo a padronização de métodos de avaliação de tecnologias em saúde, a capacitação profissional, o desenvolvimento institucional, a cooperação internacional na área de avaliações tecnológicas em saúde, a definição dos requisitos necessários para apresentação de propostas, a definição de prazos e a ampliaçãodos segmentos que compõem o comitê responsável pela análise e recomendação. Apesar dos avanços identificados, alguns desafios permane- cem, já que os resultados das pesquisas são pouco traduzidos na prática. As empresas brasileiras dependem fortemente dos incentivos do governo para investir em pesquisa e desenvolvimento. Política Nacional de Assistência Farmacêutica 12 Política de desenvolvimento industrial O Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) representa um conjunto articulado de segmentos produtivos industriais e de serviços. Apesar da re- levante atuação do CEIS no Brasil, há ainda alta dependência de produtos fabricados fora do país, causando defi ciência no abastecimento do SUS. O incentivo para o desenvolvimento do CEIS, por meio de políticas públicas, é de extrema importância para garantir o acesso aos medicamentos e insumos de saúde. A política industrial é um dos pontos constantemente sob discussão em relação à contribuição do Estado para o incentivo de crescimento. A política industrial deve incentivar a competitividade industrial e, no contexto estra- tégico do CEIS, garantir um melhor acesso à saúde. Apesar de ser reportada uma desarticulação dessa política no Brasil, essa questão tende a mudar, já que, desde o ano de 2004, desenvolvem-se políticas industriais sequenciais associadas ao desenvolvimento do CEIS. São elas: Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), de 2004 a 2008; Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), 2008 a 2010; Plano Brasil Maior (PBM), 2011 a 2014; Portaria nº. 506, de 21 de março de 2012 — institui o Programa para o Desenvolvimento Industrial da Saúde (PROCIS). O CEIS pode ser categorizado em três grupos de atividades (Figura 4): Indústrias de base química e biotecnológica: abrangem as indústrias farmacêuticas, de vacinas, de hemoderivados e de reagentes para diagnóstico. Indústrias de base mecânica, eletrônica e de materiais: englobam as indústrias de equipamentos e instrumentos mecânicos e eletrônicos, órteses, próteses e materiais de consumo. Prestadores de serviços: envolvem os setores que desenvolvem atividades de prestação de serviços hospitalares, ambulatoriais, de diagnóstico e terapêuticos. Esses setores organizam a cadeia de suprimento dos produtos industriais em saúde, articulando o consumo por parte dos cidadãos no espaço público e privado. 13Política Nacional de Assistência Farmacêutica Figura 4. Morfologia do Complexo Industrial da Saúde. Fonte: Gadelha (2006, p. 16). A política de desenvolvimento industrial procura captar, simultaneamente, a dimensão sanitária e a dimensão econômica, numa perspectiva para a integração da saúde e do desenvolvimento. O grande desafio é a constituição de um modelo que trabalhe a base produtiva nacional e que diminua a desigualdade e a exclusão social, como é o caso de todos os segmentos que fazem parte do complexo da saúde. Saiba mais sobre o desenvolvimento do CEIS no Brasil acessando o artigo Políticas públicas para o desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde no Brasil no link a seguir. https://goo.gl/NgwDYB Política de formação de recursos humanos A Assistência Farmacêutica é um tema que vem ganhando importância ao longo do tempo e o Ministério da Saúde (MS) vem promovendo editais para concursos em todo o Brasil para a capacitação de recursos humanos em AF. A Diretriz de Desenvolvimento e Capacitação de Recursos Humanos é chave para a operacionalização dessa política, que deve trabalhar em conjunto com setores de desenvolvimento de recursos humanos do SUS, órgãos de fomento Política Nacional de Assistência Farmacêutica 14 e instituições de ensino, garantindo a formação e capacitação de profi ssionais de saúde, gestores e pesquisadores. A capacitação pode ser realizada por meio de cursos de curta e média duração, pós-graduação ou educação à distância, por exemplo. Programas para capacitação interdisciplinar, que atendam os gestores, profissionais de nível médio e técnico, também atendem às diretrizes. Programas de pós-graduação em áreas de interesse do SUS devem ser especialmente apoiados, de forma a qualificar pesquisadores e gestores dos sistemas de saúde e de ciência, tecnologia e inovação. Para avaliar a efetividade desses programas, é importante a utilização de estratégias de avaliação dos cursos e do desempenho do pessoal. Para conhecer alguns os cursos oferecidos pelo SUS para o aperfeiçoamento de pro- fissionais da saúde, acesse o link a seguir. https://goo.gl/zFiVzZ 15Política Nacional de Assistência Farmacêutica BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. O que é Integralidade em Saúde? 2018. Disponível em: <https://www.bvsintegralidade.icict.fiocruz.br/vhl/sobre/>. Acesso em: 11 nov. 2018. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº. 338, de 06 de maio de 2004. Aprova a Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Brasília, DF, 2004. 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Política Nacional de Assistência Farmacêutica 18 Conteúdo:
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