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Este texto foi publicado no Jus no endereço https://jus.com.br/artigos/38199
Para ver outras publicações como esta, acesse https://jus.com.br
Corrupção passiva: crime contra a administração pública
praticado por funcionário público
Corrupção passiva: crime contra a administração pública praticado por funcionário
público
Amanda Malicia
Publicado em 04/2015. Elaborado em 04/2015.
O presente artigo busca tratar da corrupção passiva – crime contra a
Administração Pública praticado por Funcionário Público.
Sumário: 1.1 Considerações
Gerais; 1.2 Crimes Funcionais; 1.3
Conceito de Funcionário Público;
1.4 Do Crime de Corrupção
Passiva de acordo com o Artigo
317 do Código Penal Brasileiro;
1.5 Bem Jurídico Tutelado; 1.6
Sujeitos do delito; 1.7 Elemento
Objetivo; 1.8 Objeto Material; 1.9
Elemento Subjetivo; 1.10
Consumação e Tentativa; e 1.11
Corrupção Passiva Qualificada;
1.12 Corrupção Passiva
Privilegiada; 1.13 Distinção do
Tipo Penal; e 1.14 Concurso.
 1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Com a finalidade de atingir os resultados a que se destina, o Estado estabelece regras a
respeito de sua própria organização, regula sua relação com os indivíduos, e as havidas
entre estes, e executa essas normas, promovendo o que elas visam, protegendo-as e
zelando para que sejam obedecidas.
São as funções legislativas, executivas e judiciárias do Estado. Em geral, a administração pública
compreende essas funções e é nesse caráter que a lei a ela se refere neste assunto do Código
Penal.
1.2 Crimes Funcionais
https://jus.com.br/
https://jus.com.br/1185603-amanda-malicia/publicacoes
Os chamados crimes funcionais são os praticados pelas pessoas físicas que se entregam
à realização das atividades do Estado. No entendimento de Guilherme de Sousa Nucci,
os crimes funcionais subdividem-se em duas espécies: os crimes funcionais próprios e
os crimes funcionais impróprios.
Os próprios são os delitos que somente o funcionário público pode praticar, têm como
elemento essencial a função pública e o vínculo empregatício com a Administração
Pública, indispensável para que o fato constitua infração penal.
Já os impróprios, são os que qualquer outra pessoa pode cometê-lo, porém, estará incursa em
outro tipo penal.
Como por exemplo: Somente o funcionário público pode cometer o crime de concussão
(funcional próprio), mas, na segunda hipótese, um particular pode cometer peculato-furto, que
passa a ser considerado simples furto (funcional impróprio).
No entanto, se há concurso de agentes, entre funcionário público e particular, aplica-se a regra
do artigo 30 do Código Penal, comunicando-se a condição de funcionário público ao particular,
por ser elementar ao tipo penal, desde que, este tenha conhecimento da condição daquele.
1.3 CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO
A própria lei conceitua o funcionário público, para efeitos penais, no artigo 327, do
Código Penal, com o objetivo de evitar divergências e controvérsias, além de resguardar
mais efetivamente a Administração Pública, da seguinte forma:
Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública,
conforme o artigo 327, caput, do Código Penal.
Pelo § 1º do artigo referido: “Equipara-se a funcionário público, quem exerce cargo, emprego
ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço
contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública”.
Como preleciona Julio Fabbrini Mirabete, “Não são funcionários públicos para os
efeitos penais os que exercem apenas um múnus público, em que prevalece um
interesse privado, como ocorre no caso de tutores ou curadores dativos,
inventariantes judiciais, síndicos (administradores judiciais) falimentares (RT
480/315, 583/320; RJTJESP85/388) etc.”.
1.4 DO CRIME DE CORRUPÇÃO PASSIVA DE ACORDO COM O ARTIGO 317 DO CÓDIGO
PENAL BRASILEIRO
1.4.1 Conceito
 Corrupção passiva é a denominação legal do crime previsto no artigo 317 do Código Penal:
Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem. As penas cominadas são as de reclusão, de 2 (dois) a 12
(doze) anos, e multa.
 Segundo E. Magalhães Noronha trata-se do comércio ignóbil da função, pelo qual
se estabelece uma relação ilícita entre o funcionário indecoroso e o terceiro que,
valendo-se da sua venalidade, submete-o a satisfazer sua vontade. É o interesse, a
ganância, o desejo do ganho que inspira e dá a essência do ser deste delito.
 Basta que o agente solicite a vantagem, ainda que isso não encontre eco no extraneus, para
que o crime se concretize, podendo afirmar que a corrupção passiva existe sem a necessidade de
coexistir a corrupção ativa, crime previsto no artigo 333 do Código Penal.
 Destarte, corrupção passiva é delito grave e generalizado que acomete a administração
pública. O tráfico da função é fundamental para atingir sua concretização, cometido pelo
funcionário inescrupuloso, que então, a degrada e a desonra, auferindo proveitos com sua
conduta torpe.
1.5 Bem Jurídico Tutelado
Para que o Estado cumpra a sua finalidade, ele age por intermédio de pessoas, às quais
incumbe a observância de normas de probidade, relativas às suas funções e que não
podem ser violadas sem que haja dano para ele.
Portanto, o escopo da tutela jurídica, ensina Noronha, é garantir o funcionamento normal da
administração pública, principalmente, no que diz respeito à preservação dos princípios de
probidade e moralidade no exercício da atividade pública.
Assim, zelando para que o exercício da função se faça em nível superior, no exato cumprimento
dos deveres, que têm por objetivo a satisfação das exigências e necessidades coletivas, sempre
com o foco no interesse público e a supremacia da Administração Pública.
 Considera Fernando Capez, que o dispositivo penal procura impedir que os funcionários
públicos passem, no exercício de sua atividade, a receber vantagens indevidas para praticar ou
deixar de praticar atos de ofício.
Este delito, tanto compromete a eficiência do serviço público, como coloca em risco o conceito da
administração e a autoridade do Poder Público.
1.6 Sujeitos do delito
 Sujeito ativo do crime é o funcionário público, ora “intraneus” que solicita ou aceita
vantagem, trata-se de crime próprio. Essa particularidade é pressuposto do delito,
tendo em vista que, trata-se de estudo de crime cometido por funcionário público.
 No entanto, não é necessário, o funcionário público estar no exercício de sua função, basta
que seja em razão dela, podendo até mesmo estar o agente, afastado derias, listar o agente ao
tudo de crime cometido por funcionario la como por exemplo de férias, licença, suspensão, entre
outros, como também aquele que ainda não a assumiu.
 Sujeito passivo primeiramente é o Estado, titular do bem jurídico tutelado, e
secundariamente, pode ser o ofendido, eventualmente prejudicado pelo crime, e analisando
genericamente, toda a sociedade.
1.7 Elemento Objetivo
Na corrupção passiva, a ação física, a conduta é a de solicitar ou receber vantagem
indevida, ou aceitar a promessa desta. Diz Capez, tratar-se de crime de ação múltipla,
pois são três as condutas típicas previstas.
Solicitar é pedir, é manifestar que quer, ou deseja alguma coisa, a solicitação pode ser expressa
ou de forma cautelosa, tácita, dependendo da astúcia do corrupto e do entendimento do
corruptor, também depende de acordos firmados anteriormente, no qual já se ajustam
determinados procedimentos, por determinado tempo, caso em que deve se verificar a
continuidade do crime.
 Receber é tomar, obter, acolher, entrar na posse; nesta modalidade, é condição essencial
para sua existência que haja anteriormente, o crime de corrupção ativa, ou seja, o oferecimento
de vantagem indevida, conduta tipificada no artigo333 do Código Penal.
Aceitar promessa de vantagem é consentir, concordar, estar de acordo; nesta circunstância basta
que o funcionário concorde com o recebimento da vantagem, porém, deve haver
necessariamente uma proposta formulada pelo extraneus, requisito essencial para a
configuração desse delito, ou seja, também deve ter existido antes o crime de corrupção ativa.
Na solicitação, a iniciativa, o impulso é do agente; no recebimento e na aceitação da vantagem, é
do extraneus, com a mera concordância do funcionário.
Convém salientar, que o Professor Damásio ensina ser necessário nexo de causalidade entre a
conduta do funcionário público e a realização do ato funcional, caso contrário, inexistirá o delito
questionado, podendo surgir outro tipo penal.
Diz também, que a corrupção passiva pode ser: antecedente, quando a vantagem indevida é
entregue ao funcionário público antes de sua ação ou omissão funcional; e subsequente, quando
a vantagem é entregue depois da conduta funcional.
A corrupção passiva pode ocorrer por via direta ou indireta, quer dizer, nada impede que seja
interposta por uma terceira pessoa, um intermediário, que poderá solicitar, receber, ou até
mesmo aceitar a promessa da vantagem, que, em nome do funcionário público, comunicará a
concordância deste, ao extraneus.
Assevera Hungria, que não é necessário questionar sobre a capacidade penal do extraneus, não
importa que este seja um menor de 18 anos.
1.8 Objeto Material
O objeto do ilícito é a vantagem indevida, o proveito obtido pelo funcionário público de
forma contrária a lei e a moral, não se tratando de crime contra o patrimônio.
Compreende-se que a benesse, cuja, a lei se refere, não carece de ser patrimonial, podendo ser
qualquer tipo de vantagem, algo que satisfaça a vontade, o desejo do agente, patrimonial ou não.
Não desaparece o ilícito ainda que a vantagem seja aceita como gratificação.
Observar-se que, pelo princípio da insignificância ou da bagatela, as gratificações usuais de
pequeno valor, dadas em troca de serviços extraordinários, não se consideram material de
corrupção, exemplo disso, é o caso de uma caixa de bombom, flores ou até mesmo um
presentinho pessoal.
Para mensurar tal situação é necessário o bom senso e a prudência, mesmo que a doutrina e a
jurisprudência tenham determinados parâmetros de consideração, dos valores do que é
insignificância.
1.9 Elemento Subjetivo
Consiste na vontade livre e consciente do funcionário público de praticar o ato, é o dolo.
Mister se faz, ter ciência de que a vantagem, o objeto do crime, não lhe é devida, logo,
tem consciência da antijuricidade do fato.
Para Noronha, trata-se de crime doloso na forma genérica, porém, também ocorre na forma
específica, subentendido na expressão para si ou para outrem.
A subjetividade não desaparece, mesmo que o sujeito ativo não tenha vontade de praticar o ato,
para o qual foi comprado, pois o dolo está na vontade de obter a vantagem indevida.
1.10 Consumação e Tentativa
 No que tange a consumação e tentativa do crime de corrupção passiva, coloca-se
como parâmetro, ser um crime formal, que se consuma quando a solicitação chega ao
conhecimento do terceiro.Independe da ocorrência do resultado, consumando-se com a
mera solicitação ou aceitação da promessa da vantagem indevida, mesmo que essa não
se efetive, também é desnecessário que o ato de omissão ou retardamento do
funcionário venha a ser praticado, para que haja a consumação.
Solicitar, receber ou aceitar promessa, nesses momentos, é que o crime se consuma. Será
possível a tentativa do delito em tese, desde que a conduta do agente cumpra uma fase do iter
criminis, numa situação em que possa ser interrompido, como bem cita Noronha, o exemplo do
funcionário público que remete uma carta com a solicitação da vantagem e, cuja mesma é
interceptada por circunstancias alheias, antes de chegar ao extraneus.
O assunto da tentativa não é pacifico na doutrina, uns não a admitem, outros a aceitam, e
terceiros a consideram difícil. 
No pensamento de Nelson Hungria, inexiste a possibilidade de haver a tentativa, já que a lei
pune a simples solicitação da vantagem, ou a aceitação da promessa, ou ainda, no caso de o
agente ser surpreendido no momento em que está solicitando ou aceitando, já haverá a
consumação, inexiste hipótese em que se enquadre à tentativa.
Enquanto que, Guilherme de Souza Nucci e Julio Fabbrini Mirabete, dizem ser admissível a
tentativa na forma plurissubsistente, ou seja, deve estar configurado mais de um ato, para que
possam ser separados.
Assim, o Professor Damásio afirma que, somente quando a solicitação for elaborada por escrito,
será possível a ocorrência da tentativa.
Pois nessa hipótese, entre o ato do agente público escrever o pedido e a consumação,
conhecimento da solicitação por parte do particular, haverá um lapso temporal suficiente, para
que possa ocorrer a intervenção, circunstância alheia à vontade do agente, tornando o crime
incompleto.
Nesse sentido, ele afasta a possibilidade de haver tentativa nas modalidades de recebimento e
aceitação de promessa de vantagem indevida.
O arrependimento posterior a aceitação da vantagem ou da promessa, isto é, depois do acordo
ilícito, não modifica a responsabilidade nem faz o delito desaparecer.
 Como a punibilidade da corrupção passiva independe da realização do ato, tem-se
entendido que é inadmissível a tese de delito impossível; também, não há de se falar em crime
putativo quando, sem ter sido artificialmente provocada, mas previamente conhecida a iniciativa
dolosa do agente, a este apenas se dá a oportunidade de agir, tomadas as devidas precauções; a
preparação do flagrante para apanhar o agente no ato do recebimento da vantagem, não
descaracteriza o crime.
1.11 Corrupção Passiva Qualificada
 Dispõe o § 1º do artigo 317 do Código Penal: “A pena é aumentada de um terço, se, em
conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar ato de
oficio ou o pratica infringindo dever funcional”.
 A lei não podia ficar indiferente a um procedimento mais grave do agente e a um dano maior
apara a administração: o da prática do ato, que ainda mais o realça quando já era indevido.
 Consumado o crime, ainda prossegue no ilícito, exaurindo-o, até consequência posterior, a
lei vê no fato, com toda a procedência, condição de maior punibilidade.
 O dispositivo encara três hipóteses de conduta: o retardamento, a omissão e a prática do
ato; na primeira o crime se caracteriza quando se esgota o prazo para a execução; na segunda o
delito é omissivo, o funcionário não pratica o ato; e na terceira, pratica ato indevido com
infringência do dever funcional, o crime é omissivo.
E necessário, na hipótese qualificada, que o retardamento, a omissão ou a prática irregular do
ato ocorra após a solicitação, recebimento ou aceitação da promessa da vantagem.
Segundo Guilherme de Souza Nucci, a doutrina classifica essa modalidade de corrupção passiva
de corrupção exaurida, em outras palavras, esgota-se o crime.
 Julio F. Mirabete em sua obra cita alguns exemplos jurisprudenciais: “recebimento
de propina por guardas de trânsito, que apreenderam veículo condutor de
mercadorias contrabandeadas, a fim de encobrir a prática do delito (RF 214/257);
recebimento por funcionário de secção de transito de delegacia de polícia para
fornecimento de carteira de motorista sem os necessários exames (RJTJESP 48/308;
RT536/305, 520/356)”.
1.11.1 Corrupção passiva qualificada em contratação pública
 No âmbito do Poder Público nas contratações públicas, é notório estar presente a
ambição dos empresários em celebrar contratos vantajosos e milionários, é nessa esfera
que Waldo Fazzio Júnior, expõe uma forma específica de corrupção passiva qualificada.
Muitas vezes essa voracidade, faz com que o empresário extrapole a moral, a lei e os bons
costumes, impulsionando-o a subornar agentes públicos ou deixando-se explorar por eles,
dando-lhes vantagens, a fim de concretizaro pacto, obtendo desta forma, altíssimos lucros em
detrimento do Erário Público.
 Talvez seja essa a modalidade mais freqüente de corrupção, abrangendo não só a esfera das
contratações magnas, mas também desce até o nível mais baixo de negociação.
 Nesta seara, existe uma relativa cumplicidade entre o empresário e o agente público, não
existe um paradigma de procedimentos, sendo difícil apurar a responsabilidade.
 Facilitar contrato administrativo por preço superfaturado ou superestimado, nisso consiste
a razão de ser da vantagem auferida pelo agente público, nessas circunstâncias e com a efetiva
concretização, funda-se a qualificação da corrupção passiva, disposta no artigo 317, § 1º , do
Código Penal Brasileiro.
 Desta feita, o sobre preço é sutilmente mascarado por meio de manobras, como se fosse
uma contratação habitual. O valor excedente irá onerar os cofres públicos e beneficiar o
corruptor.
Ou seja, o agente público aufere vantagem para facilitar o negócio que dará prejuízo à entidade
administrativa a que serve. Em vez de proteger o erário, o agente o utiliza para avantajar-se,
configurando uma espécie de venda do interesse público.
 A licitação em tese trata-se de: concorrência, tomada de preços, convite, concurso, pregão.
Diferentemente do evidenciado, existe a situação inversa, em que a Administração Pública irá
alienar, locar ou prestar serviços e, então, a corrupção passiva manifestar-se-á no
subfaturamento dos preços. 
1.11.2 Corrupção passiva qualificada por desvio de poder de polícia
 Ainda no assunto de corrupção passiva qualificada, Fazzio Júnior nos traz outra
situação muito comum, principalmente nos setores da Administração Pública
encarregados de fiscalização e ou imposição de sanções.
Nessa disposição do delito de corrupção passiva qualificada, tipificada no artigo 317, § 1º, do
Código Penal, a qualificação normalmente se dá pela conduta negativa e omissiva, pois o agente
público, que em razão de sua função ou cargo, que lhe atribui o poder de polícia, não faz ou deixa
de fazer algo.
 Sendo assim, há de se raciocinar que o agente público não faz o que a lei prescreve como
obrigatório naquela determinada situação, obrigatoriamente tal atitude deveria ser tomada pelo
agente público, que em razão do exercício de poder de polícia, uma forma discricionária da
atividade administrativa, possui o dever de fiscalizar, policiar, aplicar sanções.
 Não obstante isso, essa modalidade também ocorre com a conduta comissiva, por exemplo,
no caso de o agente Público em razão de seu cargo, de uma forma discricionária, mediante a
recepção ou a promessa de vantagem indevida, autoriza o funcionamento de estabelecimentos
que abriguem jogos de azar, prostituição etc.
1.12 Corrupção Passiva Privilegiada
 No § 2º do artigo 317 do Código Penal, o legislador dispôs:
 Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de oficio, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:Pena – detenção, de três meses a um ano,
ou multa.
 Trata-se de conduta de menor gravidade que as estudadas anteriormente, uma vez
que o sujeito ativo, em vez de atuar em seu próprio interesse, visando a vantagem para
si ou para outrem especificamente, ele cede a um mero pedido ou por influência de
outrem.
 A explicação da razão do abrandamento se dá por não haver o comércio do ato, o
funcionário não é impelido pela venda do ato, assimilando para si ou para outrem a
vantagem, mas por bajulação ou timidez, procura agradar ou cede a pedido feito. É a
condescendência o funcionário para com outrem que gera o delito.
1.13 Distinção do Tipo Penal
 O legislador cogitou a corrupção em duas formas autônomas e distintas, a passiva e
ativa, justamente por não ser a bilateralidade, requisito obrigatório para sua
caracterização.
 Para a existência da determinação do crime de corrupção passiva, não é necessário que
coexista a infração de corrupção ativa, prevista no artigo 333 do Código Penal.
Não se confunde a corrupção passiva com a concussão (artigo 316 do Código Penal). Naquela há
a solicitação, nesta exigência, ainda que tácita, da vantagem indevida.
Distingue-se a corrupção passiva da prevaricação (artigo 319 do Código Penal) porque nesta não
há qualquer intervenção ou proposta ao extraneus, agindo o sujeito ativo somente por interesse
ou sentimento pessoal.
Diverge-se também, do estelionato (artigo 171 do Código Penal), quando o proveito ilícito não é
obtido em razão da função, mas por meio fraudulento, valendo-se o agente, para tanto, de sua
condição a fim de enganar a vitima.
O fato pode constituir crime eleitoral se o recebimento ou solicitação de funcionário tiver como
finalidade obter ou dar voto ou para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não
seja aceita (artigo 299 da Lei No 4.737, de 15-7-1965 – Código Eleitoral).
1.14 Concurso
 O delito em tese comporta concurso formal e material, de acordo com Edmundo
Oliveira, configura-se concurso formal na hipótese da corrupção passiva indireta,
quando intermediada a negociata por um terceiro, representando o funcionário público;
também há concurso formal, quando vários funcionários públicos se unem para a
perpetração do crime de corrupção passiva, desde que, o dolo seja comum entre eles.
No entanto, se há concurso de pessoas, aplica-se a regra prevista no artigo 30 do Código Penal,
estendendo-se à condição de funcionário Público, o sujeito que não a detém por se tratar de
elementar ao crime.
No que tange a concurso material, Mirabete cita algumas jurisprudências em sua obra, “Há
concurso material de infrações se, após aceitarem vantagem indevida em razão da função
pública que exercem, promovem os agentes à fuga de pessoa legalmente presa (RT 414/73)”.
 Reconhecido foi o concurso material entre corrupção e falsidade ideológica na expedição,
por delegado de policia, de carteiras de habilitação falsas, com aposição de sua assinatura, pela
participação em vantagens indevidas (RJTJESP 36/243).
Mas já se considerou absorvido o crime de falsa perícia pela qualificadora prevista no artigo 317,
§ 1º do Código Penal (RT686/319).
BIBLIOGRAFIA
[1] NUCCI, Guilherme de Sousa. Manual de Direito Penal: Parte Geral e Parte Especial. 4.ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
[2] MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: Parte Especial. v. III. 22.ed. São
Paulo: Atlas, 2008.
[3] NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. v.IV. 23.ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
[4] CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Especial. v.3. 5.ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
[5] JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: Parte Especial. v.4. 12.ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
[6] HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. v.IX. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959.
[7] OLIVEIRA, Edmundo. Crimes de Corrupção. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994.
[8] FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Corrupção no Poder Público. São Paulo: Atlas, 2002.
Autor
Amanda Malicia
Estudante de direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Informações sobre o texto
Este texto foi publicado diretamente pela autora. Sua divulgação não depende de prévia
aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na
Revista Jus Navigandi.
Amanda
Malicia
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