Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI APOSTILA HISTÓRIA DA FILOSOFIA ESPÍRITO SANTO HISTÓRIA DA FILOSOFIA https://wordsofleisure.com/2015/04/05/tirinha-do-dia-a-historia-da-filosofia/ A História da Filosofia não é apenas um relato histórico, mas as transforma- ções do pensamento humano ocidental, ou seja, o percurso do pensamento ociden- tal; o modo pelo qual essa forma de pensar influenciou a realidade e, ao mesmo tempo, foi resultado dessa realidade histórica. A História da Filosofia pode ser estudada a partir de seis períodos: 1. Filosofia Antiga 2. Filosofia Medieval 3. Filosofia do Renascimento 4. Filosofia Moderna 5. Filosofia do Século XIX 6. Filosofia do século XX 1.1 FILOSOFIA ANTIGA http://www.consciencia.org/temas/filosofia-geral/filosofia-antiga A filosofia antiga teve início no século VI-VII A.C. e se estendeu até a deca- dência do império romano no século V D.C. Pode-se dividi-la em quatro períodos: (1) o período dos pré-socráticos; (2) um período humanista, em que Sócrates e os sofistas trouxeram as questões morais para o centro do debate filosófico; (3) o período áureo da filosofia em Atenas, em que despontaram Platão e Aristóteles; (4) e o período helenístico. Às vezes se dis- tingue um quinto período, que compreende os primeiros filósofos cristãos e os neo- platonistas. Os dois autores mais importantes da filosofia antiga em termos de in- fluência posterior foram Platão e Aristóteles. Os primeiros filósofos gregos, geralmente chamados de pré-socráticos, de- dicaram-se a especulações sobre a constituição e a origem do mundo. O principal intuito desses filósofos era descobrir um elemento primordial, eterno e imutável que fosse a matéria básica de todas as coisas. Essa substância imutável era chamada de physis (palavra grega cuja tradução literal seria natureza, mas que na concepção dos primeiros filósofos compreendia a totalidade dos seres, inclusive entidades divi- nas) e, por essa razão, os primeiros filósofos também foram conhecidos como os physiologoi (literalmente ―os filósofos que se dedicavam ao estudo da physis). A teoria de Demócrito representou o ápice da filosofia da physis, mas também o seu esgotamento. As transformações sociopolíticas, especialmente em Atenas, já impunham novas demandas aos sábios da época. A democracia ateniense solicitava novas habilidades intelectuais, sobretudo a capacidade de persuadir. É nesse mo- mento que se destacam os filósofos que se dedicam justamente a ensinar à retórica e as técnicas de persuasão – os sofistas. O ofício dessa nova espécie de filósofos trazia como pressuposto a ideia de que não há verdades absolutas. O importante seria dominar as técnicas da boa argumentação, pois, dominando essas técnicas, o indivíduo poderia defender qualquer opinião, sem se preocupar com a questão de sua veracidade. De fato, para os sofistas, a busca da verdade era uma pretensão inútil. A verdade seria apenas uma questão de aceitação coletiva de uma crença, e, a princípio, não haveria nada que impedisse que o que hoje é tomado como verda- de, amanhã fosse considerado uma tolice. https://www.youtube.com/watch?v=tnijuFBMkLg O contraponto a esse relativismo dos sofistas foi Sócrates. Embora parti- lhasse com os sofistas certa indiferença em relação aos valores tradicionais, Sócra- tes dedicou-se à busca de valores perenes. Sócrates não deixou nenhum registro escrito de suas ideias. Tudo o que sabemos dele chegou-nos através do testemunho de seus discípulos e contemporâneos. Segundo dizem, Sócrates teria defendido que a virtude é conhecimento e as faltas morais provêm da ignorância. O indivíduo que adquirisse o conhecimento perfeito seria inevitavelmente bom e feliz. 1.2 FILOSOFIA MEDIEVAL http://sanderlei.com.br/PT/Historia/BR-21 A filosofia medieval é a filosofia da Europa ocidental e do Oriente Médio du- rante a Idade Média. Começa, aproximadamente, com a cristianização do império romano e encerra-se com a Renascença. A filosofia medieval pode ser considerada, em parte, como prolongamento da filosofia greco-romana e, em parte, como uma tentativa de conciliar o conhecimento secular e a doutrina sagrada. A Idade Média carregou por muito tempo o epíteto depreciativo de "idade das trevas", atribuído pelos humanistas renascentistas; e a filosofia desenvolvida nessa época padeceu do mesmo desprezo. No entanto, essa era de aproximadamente mil anos foi o mais longo período de desenvolvimento filosófico na Europa e um dos mais ricos. Jorge Garcia defende que em intensidade, sofisticação e aquisições, po- de-se corretamente dizer que o florescimento filosófico no século XIII rivaliza com a época áurea da filosofia grega no século IV a. C. Entre os principais problemas discutidos nessa época estão: a relação entre fé e razão, a existência e unidade de Deus, o objeto da teologia e da metafísica, os problemas do conhecimento, dos universais e da individualização. http://missaoposmoderna.com.br/fe-e-razao-sao-compativeis/ Entre os filósofos medievais do ocidente, merecem destaque Agostinho de Hipona, Boécio, Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo, Roger Bacon, Boaventura de Bagnoregio, Tomás de Aquino, João Duns Escoto, Guilherme de Ockham e Jean Buridan; na civilização islâmica, Avicena e Averrois; entre os judeus, Moisés Maimô- nides. http://www.wikigallery.org/wiki/painting_176443/J.W.-Cook/Roger-Bacon Tomás de Aquino (1225-1274), fundador do tomismo, exerceu influência ini- gualável na filosofia e na teologia medievais. Em sua obra, ele deu grande importân- cia à razão e à argumentação, e procurou elaborar uma síntese entre a doutrina cris- tã e a filosofia aristotélica. A filosofia de Tomás de Aquino representou uma reorien- tação significativa do pensamento filosófico medieval, até então muito influenciado pelo neoplatonismo e sua reinterpretação agostiniana. http://educarparacrescer.abril.com.br/pensadores-da-educacao/tomas-de-aquino.shtml 1.3 FILOSOFIA DO RENASCIMENTO A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada pelo Renasci- mento e pelo Humanismo. Nesse período de transição, a redescoberta de textos da Antiguidade contribuiu para que o interesse filosófico saísse dos estudos técnicos de lógica, metafísica e teologia e se voltasse para estudos ecléticos nas áreas da filolo- gia, da moralidade e do misticismo. http://www.infoescola.com/filosofia/antropocentrismo/ O Homem vitruviano, de Leonardo Da Vinci, resume vários dos ideais do pensamento renascentista Os estudos dos clássicos e das letras receberam uma ênfase inédita e de- senvolveram-se de modo independente da escolástica tradicional. A produção e dis- seminação do conhecimento e das artes deixam de ser uma exclusividade das uni- versidades e dos acadêmicos profissionais, e isso contribui para que a filosofia vá aos poucos se desvencilhando da teologia. Em lugar de Deus e da religião, o concei- to de homem assume o centro das ocupações artísticas, literárias e filosóficas. O renascimento revigorou a concepção da natureza como um todo orgânico, sujeito à compreensão e influência humanas. De uma forma ou de outra, essa con- cepção está presente nos trabalhos de Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Bernardi- no Telesio e Galileu Galilei. Essa reinterpretação da natureza é acompanhada, em muitos casos, de um intenso interesse por magia, hermetismo e astrologia – consi- derados então como instrumentos de compreensão e manipulação da natureza. À medida que a autoridade eclesial cedia lugar à autoridade secular e que o foco dos interesses voltava-se para a política em detrimento da religião, as rivalida- des entre os Estados nacionais e as crises internas demandavam não apenas solu-ções práticas emergenciais, mas também uma profunda reflexão sobre questões pertinentes à filosofia política. Desse modo, a filosofia política, que por vários sécu- los esteve dormente, recebeu um novo impulso durante o Renascimento. Nessa área, destacam-se as obras de Nicolau Maquiavel e Jean Bodin. http://www.estudopratico.com.br/caracteristicas-do-renascimento/ 1.7 O NASCIMENTO DA FILOSOFIA E O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA HUMANA http://alunosonline.uol.com.br/filosofia/nascimento-filosofia.html 1.7.1 A Ciência Antiga e a Ciência Moderna Filosofia Medieval Cristã constituiu-se do pensamento cristão e da ciência an- tiga. A ciência antiga tinha como base o dogmatismo: era especulativa e partia de interpretações da Bíblia. A ciência antiga era baseada na lógica e na demonstração de verdade, sem considerar a observação e a experiência. É o caso da teoria geo- cêntrica, ou seja, a teoria que postulava que a terra é o centro do universo vi- gorava há quase vinte séculos e constituía a maneira pela qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A concepção medieval cristã via o homem como é o ser supremo da criação divina e a terra era o centro do universo. A teoria de que a terra era o centro do mundo, geocentrismo, era uma explicação que justificava tal visão. A ciência antiga era um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, que não admi- tiam erros, mudanças ou crítica. O novo período – Idade Moderna - vai significar uma ruptura com essa con- cepção de mundo dogmática, que não permitia a reflexão e a crítica, por isso, mais uma vez vamos abordar sobre a filosofia moderna, enfatizando sobre a sua impor- tância para o desenvolvimento do conhecimento humano. 1.7.2 FILOSOFIA MODERNA: SEC. XVII E XVIII http://iluminismoufpr.blogspot.com.br/2013/11/ii-jornada-internacional-de-estudos-de.html Após a Idade Média, há um período de transição entre o século XV e XVI para a Idade Moderna, que significou ruptura com a tradição anterior cristã, fundamenta- da em Deus, e passou-se a valorizar o homem. É o período chamado Humanismo Renascentista: artes plásticas, valorização do homem - liberdade e criatividade. É o momento em que se rompe com a visão sagrada e teológica na arte, no pensamen- to, na política, na literatura. Os pensadores desse período passam a valorizar o sa- ber dos gregos antigos. Valoriza-se o homem e rompe-se com o pensamento teo- cêntrico, que considera Deus como o centro de tudo, e a Ciência Antiga. A Idade Moderna traz a proposta de uma nova ordem e visão de mundo, rejei- tando a autoridade imposta pelos costumes e pela hierarquia da nobreza e Igreja, em favor da recuperação do que há de virtuoso, intuitivo e espontâneo na natureza humana. Surge um novo estilo com nova temática. Valoriza-se o corpo humano, artes, pensamento, política, ciência. É o momen- to de novos pensadores e artistas, tais como Leonardo da Vince, William Shakespe- are, Rafael, Maquiavel, Michelangelo, Montaigne. http://www.biography.com/people/michelangelo-9407628 1.7.2.1 As condições históricas Surge uma nova maneira de pensar e ver o mundo, resultado das transforma- ções históricas que ocorreram na Europa. Entre os fatores históricos, pode-se des- tacar: O humanismo renascentista do sec. XV A descoberta do Novo Mundo (sec. XV) A Reforma Protestante do sec. XVI A revolução científica do sec. XVII Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa. O humanismo renascentista do sec. XV http://oportugues.freehostia.com/espacomais/websitlusiadas/renascimento.htm Nasceu na península itálica, sendo um período de transição entre a Idade Média e a Moderna. Rompeu com a filosofia cristã da escolástica medieval e, valori- za o saber dos gregos antigos, retomando a concepção do humanismo. O período medieval, anterior, foi marcado por uma forte visão hierárquica e religiosa de mundo, em que a arte está voltada para o sagrado, filosofia está vinculada à teologia e à problemática religiosa. O homem e seus atributos de liberdade e razão passam a ser importantes novamente, e não apenas as o mundo divino. Nas artes predomina os temas pa- gãos, afastados da temática religiosa. É a arte voltada para o homem comum, não mais reis e santos. Valoriza-se o corpo e a dignidade humana. Thomas Morus, em a Utopia, defende a tolerância religiosa, critica o autorita- rismo dos reis e da Igreja, favorecendo a razão e a virtude natural. Maquiavel, autor escreveu O Príncipe, inaugurou o pensamento moderno da política, em que faz uma análise do poder como fato político, independente das questões morais. http://williamcamara.com.br/resumo-maquiavel-o-principe/ A descoberta do Novo Mundo Outro fator importante que levou a mudança do pensamento moderno foi à descoberta do Novo Mundo, pois revelou a falsidade e fragilidade da geografia anti- ga, o desconhecimento da flora e fauna encontradas. Revelou também a falta de conhecimento de outros povos e culturas. Muita coisa precisava ser reformulada. A ciência antiga perde a autoridade é questionada, pois nada explica sobre a nova realidade e suas narrativas. Acreditava que a “terra era plana”, desconhecem os novos habitantes dessas terras descobertas, sua natureza, sua origem, sua cultu- ra, tão distintas da europeia. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702000000400009 A Reforma Protestante Martin Lutero contesta a autoridade da Igreja marcada pela corrupção e pas- sa a valorizar a consciência individual de buscar a própria fé, sem ser pela imposi- ção das verdades dogmáticas. Rompe com Igreja Católica e funda a Igreja protes- tante. Essa nova igreja propõe e representa, assim, a defesa da liberdade individual e da consciência em lugar da certeza, valorizando a ideia de que o indivíduo é capaz de encontrar sua própria verdade religiosa. https://noticias.gospelprime.com.br/dia-da-reforma-protestante-2014/ A revolução científica moderna Outro fator essencial desse processo de transformação é a revolução científi- ca que significou o ponto de partida para a ciência nos moldes que conhecemos ho- je. Nicolau Copérnico no século XVI vai defender matematicamente que a Terra gira em torno do Sol, rompendo com o sistema geocêntrico de Ptolomeu (sec.II) e inspi- rado em Aristóteles. A teoria do geocentrismo vigorava há quase vinte séculos e era maneira pe- la qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A ciência moderna surge quando se torna mais importante observar e experimentar, ao contrário da vi- são antiga que partia de princípios estabelecidos e dogmáticos. http://www.estudopratico.com.br/geocentrismo/ É um processo de transição e não uma ruptura radical. Ao longo desse pro- cesso surgem Galileu e Isaac Newton, entre outros, que vão transformar a visão ci- entífica do século XVII seguinte. O rompimento com a ciência antiga revelou uma concepção de distinto do universo antigo, que é fechado, finito e geocêntrico. A nova ciência propõe o modelo heliocêntrico e o universo é infinito. A ciência é ativa valoriza a observação e o mé- todo experimental, une ciência e técnica. A ciência antiga é contemplativa, separa ciência e técnica. No século XVII a Filosofia e a Ciência se separam. Galileu, usando um teles- cópio, demonstra o modelo de desenvolvido por Copérnico. Vai ser interpelado pela Igreja. Entre os principais pensadores daquele momento, destacam-se: _ Copérnico, um sacerdote polonês, propôs a teoria heliocêntrica que atingia a con- cepção medieval cristã de que o homem é ser supremo da criação divina e que por isso a terra é o centro do universo. _ Giordano Bruno leva adiante a ideia de Copérnico e desenvolve a concepção de universo infinito. Écondenado e morre queimado vivo na fogueira. _ Galileu Galilei contribuiu com descobertas científicas, como o aperfeiçoamento do telescópio, e com uma nova postura metodológica de investigação científica: obser- vação, experimentação, uso da linguagem matemática. Por condenar os dogmas tradicionais da Igreja, também foi condenado pela Inquisição, mas optou por viver e seguiu fazendo suas pesquisas clandestinamente. http://www.estudopratico.com.br/galileu-galilei-vida-e-contribuicoes-para-a-fisica/ A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito crítico humano, e acaba concentrando sua atenção na natureza do universo, na ci- ência da natureza. Desenvolvimento do mercantilismo e ruptura da economia feudal O mercantilismo antecede ao desenvolvimento da indústria e trouxe novas necessidades com o surgimento da burguesia, diferentes dos interesses da nobreza. Grandes núcleos urbanos e a invenção da imprensa Surgimento dos grandes centros urbanos leva a novos valores e necessida- des. E a invenção da Imprensa permite que as ideias possam ser publicadas e di- fundidas. http://www.soliteratura.com.br/curiosidades/invencao_imprensa/ 1.8 SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO A Idade Moderna é um período marcado por grandes transformações. Estas transformações e o desenvolvimento da ciência moderna levaram o homem a questionar os critérios e os métodos usados para aquisição do conhecimento verda- deiro da realidade. Como podemos conhecer? Quais os fundamentos do conhecimento? O que é conhecer? Essas questões são essenciais pra a ciência, a ética e epistemologia. A Filosofia Moderna vai enfrentar o prestígio que o pensamento de Aristóteles tinha e a supremacia da doutrina da Igreja, na Idade Média, e inaugurou um modo novo de conceber e compreender o conhecimento. O século XVII viu nascer o método expe- rimental e a possibilidade de explicação mecânica e matemática do Universo, que deu origem à ciência moderna. http://www.mensagenscomamor.com/dia-mundial-da-filosofia A partir desses questionamentos, duas novas perspectivas para o saber, às vezes complementares, às vezes antagônica. Surgem o racionalismo e o empirismo. O racionalismo e o empirismo constituem novos paradigmas da filosofia moderna para conhecer a realidade. O que é a razão? Existem vários sentidos de razão no nosso dia a dia. A Fi- losofia se define como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das coisas e dos seres humanos. A razão é a organização e ordenação de ideias, para assim poder sistematizá-las. https://sumateologica.wordpress.com/tag/lei-natural/ A razão é atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social, psicológica, histórica. Possui um ideal de clareza, de ordenação e de rigor e preci- são dos pensamentos e de palavras. A razão, em sua origem, é a capacidade intelectual de pensar e exprimir-se correta e claramente, de modo a organizar e ordenar a realidade, os seres, os fatos e as ideias. Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela fos- se considerada oposta a quatro outras atitudes mentais: Ao conhecimento ilusório Às emoções, aos sentimentos, às paixões, À crença religiosa, em que a verdade nos é dada pela fé numa revelação di- vina Ao êxtase místico A Filosofia Moderna foi o período em que mais se confiou nos poderes da ra- zão para conhecer e conquistar a realidade e o homem – por isso foi chamado de Grande Racionalismo Clássico. O marco dessa forma de pensamento é René Des- carte, matemático e filósofo, inventor da geometria analítica. O método escolhido é o matemático, por ser o exemplo de conhecimento integral racional. http://pt.dreamstime.com/ilustrao-stock-elementos-da-razo-image47142636 1.8.1 RACIONALISMO O racionalismo sustenta que há um tipo de conhecimento que surge direta- mente da razão. É baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão. O racionalismo considera que o homem tem ideias inatas, ou seja, que não são derivadas da experiência, mas se encontram no indivíduo desde seu nascimento e desconfia das percepções sensoriais. Enquanto a ciência cristã e antiga constituía um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, não admitindo erros, mudanças ou crítica, a ciência moderna e racional vai propor formular leis e princípios que expliquem o funcionamento da realidade. O pensamento racional ao introduzir a dúvida no processo do pensamento, in- troduz a crítica como parte do desenvolvimento do conhecimento científico. São es- ses princípios da ciência moderna que encontramos hoje. Principais pensadores: René Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646-1716), Friedrich Hegel (1770-1831). René Descartes Nasceu na França, em 1596, em um momento de profunda crise da socieda- de e cultura européia, passando por grandes transformações e ruptura com o mundo anterior. Foi um dos principais pensadores do racionalismo. Expôs suas ideias com cautela para evitar a condenação da igreja. É considerado um dos pais da filosofia moderna. http://seuhistory.com/hoje-na-historia/nasce-rene-descartes-pai-da-filosofia-moderna O princípio básico de sua filosofia é a frase: “Penso, Logo existo”. A base de seu método é a dúvida de todas as nossas crenças e opiniões. Para ele, tudo deve ser rejeitado se houver qualquer possibilidade de dúvida. O pensamento é algo mais certo que a matéria. Ele valorizava a atividade do sujeito pensante em relação ao real a ser conhecido. Descarte acreditava que o método racional é caminho para garantir o conhecimento de uma teoria científica. http://filosofiaunuead.blogspot.com.br/2012/05/o-racionalismo-surge-como-uma-corrente.html 1.8.2 EMPIRISMO O Empirismo defende que o conhecimento humano provém da nossa percep- ção do mundo externo e da nossa capacidade mental, valorizando a experiência sensível e concreta como fonte do conhecimento e da investigação. Segundo os empiristas, o conhecimento da razão, da verdade e das ideias racionais é importan- te, mas desde que estejam ligados à experiência, pois as ideias são adquiridas ao longo da vida e mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. O método empirista baseia-se na formulação de hipóteses, na observação, na verificação de hipóteses com base nos experimentos. O empirismo provoca uma revolução para a ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento ci- entífico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá- la, buscando resultados práticos. http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/08/empirismo-e-teoria-do-conhecimento.html Principais filósofos: Francis Bacon, John Locke, David Hume, Thomas Hobbes e Hohn Stuart Mill. Francis Bacon Nasceu na Inglaterra criou o lema saber é poder, pois compreende que o de- senvolvimento da pesquisa experimental aumenta o poder dos homens sobre a na- tureza. John Locke Médico inglês, dizia que o mente humana é uma tábula rasa, um papel em branco sem nenhuma ideia previamente escrita e que todas as ideias são adquiridas ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Defen- deu que a experiência é a fonte das ideias. Desenvolveu uma corrente denominada Tabula Rasa, onde afirmou que as pessoas desconhecem tudo, mas que através de tentativas e erros aprendem e conquistam experiência. http://science-all.com/files/john-locke.html PARA LEMBRAR: O racionalismo e o empirismo são pen- samentos distintos, embora exista um elemento em co- mum: a preocupação com o entendimento humano. http://pt.slideshare.net/estaciodourado/racionalismo-e-empirismo-413840881.9 ALGUNS IMPORTANTES PENSADORES E CIENTISTAS MO- DERNOS Esses filósofos com seus pensamentos contribuíram para que a humanidade construísse novos conhecimentos. Galileu Galilei Nasceu na Itália e é considerado o fundador da física moderna. Defendeu as explicações do universo a partir da teoria heliocêntrica e rejeitava a física de Aristó- teles, adotadas como verdade absoluta pelo cristianismo. Por contrariar essa visão tradicional foi considerado herege. Questionava a Bíblia, sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e condenado a fogueira ou a renegar suas concepções científicas. Op- tou por se retratar, mas continuou fiel às ideias e publicou clandestinamente uma obra que contrariava os dogmas cristãos. https://plus.google.com/109953949156603337300/posts Isaac Newton http://ufos-wilson.blogspot.com.br/2015/12/isaac-newton.html Nasceu na Inglaterra, físico e matemático, continuou à revolução científica que deu origem à física clássica. Fala de um universo ordenado, como uma grande máquina. Além de física, matemática, filosofia e astronomia, estudou também alqui- mia, astrologia, cabala, magia e teologia, e era um grande conhecedor da Bíblia. Considerava que todos esses campos do saber poderiam contribuir para o estudo dos fenômenos naturais. Suas investigações experimentais, acompanhadas de rigorosa descrição ma- temática, constituíram-se modelo de uma metodologia de investigação para as ciên- cias nos séculos seguintes. Leitura Recomendada: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Hele- na Pires. Filosofando. São Paulo, Moderna, 2003. 1.10 DO SENSO COMUM AO SENSO CRÍTICO https://fabiomesquita.wordpress.com/2013/04/04/charge-e-filosofia-senso-critico-senso-comum-e-ideologia/ O objetivo principal da Filosofia é despertar no aluno a percepção que a análi- se, reflexão e crítica da realidade, fundamentadas pelo pensamento filosófico e nor- teadas por princípios e valores éticos, levam a uma maior compreensão do mundo, propiciam escolhas conscientes e um atuar justo tanto no cotidiano quanto no exer- cício profissional, tornando-o consciente de sua importância como indivíduo e cida- dão. O pensamento filosófico aproxima o homem do mundo, proporciona uma mai- or compreensão da realidade e a descoberta de novos significados para a existên- cia, tornando o ser humano capaz de ajustar suas escolhas e ações no convívio com o outro, com o mundo e em sua experiência profissional. Conhecer os temas, as ideias, os conceitos e a história da Filosofia amplia a nossa experiência de compre- ensão do mundo e nos permite ser donos de nosso próprio pensar, falar e agir. A Filosofia é um modo de pensar que acompanha o homem em sua tarefa de compre- ender o mundo e agir sobre ele. A todo o momento estamos diante de crenças, julgamentos e regras de com- portamento. Muitas dessas crenças são silenciosas, muitos desses comportamentos são aceitos como óbvios e naturais. Toda nossa conduta se baseia em valores mo- rais, religiosos, políticos, artísticos e estéticos. Em nosso cotidiano, as opiniões e os preconceitos orientam nossas conversas e ações, é o chamado senso comum. O que caracteriza o senso comum não é sua verdade ou falsidade, mas a sua falta de fundamentação coerente, precisa e sistemática. A maioria das pessoas não questiona suas crenças, seu valores, seus propó- sitos, seus sonhos e seu pensar. Essa atitude leva o indivíduo a se distanciar da rea- lidade e a agir sem responsabilidade, pois ele já não é dono de seu próprio pensar, portanto não é dono de sua fala e suas ações. É importante que o homem passe a analisar, refletir e criticar, tornando-se ca- paz de compreender o mundo, o outro e a si próprio. A Filosofia proporciona a apro- ximação entre o homem e a realidade. A atividade filosófica é fundamentada na aná- lise, reflexão e crítica da realidade e dos seres humanos, de como se pensa, fala e age. https://fabiomesquita.wordpress.com/2016/02/19/senso-comum-ideologia-e-senso-critico/ Filosofia é a decisão de não aceitar como naturais e evidentes as ideias, os fatos, as situações e os valores do cotidiano. A primeira coisa que surge ao estu- darmos Filosofia são perguntas: - Para que serve a Filosofia? - O que é Filosofia? - Para que eu vou estudar isso? - O que isso traz de bom e útil para minha vida? - Como e onde praticar a Filosofia? Não há respostas definitivas, mas as perguntas são fundamentais na Filoso- fia. A Filosofia parte do desejo de conhecer a realidade, ir além das aparências. Filo- sofia tem a ver com pensar melhor a realidade, conhecer a realidade. Compreender a realidade para agir melhor. A Filosofia é importante para todas as áreas, não ape- nas no nível profissional, mas no pessoal, afetivo, familiar, ético. A Filosofia leva a ideia de PENSAR. Quando pensamos trabalhamos com a palavra, usamos a linguagem. Produzimos conhecimento, produzimos conceitos. Conceitos são ideias desenvolvidas ou elaboradas a respeito de um assunto. Antes de chegarmos ao conceito partimos de uma ideia inicial: o pré-conceito. O pré- conceito é uma ideia não elaborada, incompleta, parcial. O pré-conceito só se torna negativo se nos restringirmos a ele, sem desenvolvê-lo. O conceito é amplo e com- pleto. São tarefas da Filosofia: Desenvolver os pré-conceitos, torná-los conceitos elaborados e amplos. Desenvolver a capacidade de pensar. Desenvolver a capacidade de agir melhor, de formar valores e tornar assim o homem mais livre. ADOTAR A ATITUDE FILOSÓFICA Adotamos uma atitude filosófica quando nos distanciamos da vida cotidiana por meio do pensar. Saímos da aparência e buscamos a essência das coisas. A Fi- losofia ou atitude filosófica inicia-se quando abandonamos nossas certezas cotidia- nas e queremos ir além – nos momentos de crise, que nos levam a transformação. A atitude filosófica pressupõe a atitude crítica. http://slideplayer.com.br/slide/1472141/ Sempre pensamos crítica como falar mal de algo ou alguém. Não é bem isso. Crítica significa ter a capacidade de julgar, discernir e decidir corretamente, saber examinar racionalmente as coisas sem preconceitos e julgamentos e, também, po- der avaliar detalhadamente uma ideia, valor, costume, comportamento. Para sermos críticos precisamos nos afastar do que queremos analisar e analisar o fato, a ideia, como se nunca a tivéssemos visto. A primeira atitude filosófica é dizer não ao senso comum, em uma atitude ne- gativa. A segunda atitude filosófica é perguntar, em uma atitude positiva. Filosofia é a decisão de não aceitar como naturais e evidentes as ideias, os fatos, as situações e os valores do cotidiano. A filosofia surge quando queremos provas racionais para nossas crenças. http://slideplayer.com.br/slide/1228160/ A atitude filosófica envolve um conjunto de habilidades a serem exercitadas: 1º. Questionar: significa ser curioso, perguntar sobre tudo que existe, pensar sobre as coisas, suspeitar do que é dito habitualmente, desconfiar dos pré- conceitos, do senso comum. 2º. Investigar: procurar respostas para os problemas, buscar conclusões me- lhores. _ formular hipóteses, analisar, comparar e buscar princípios _ examinar, formular e desenvolver razoes e argumentos 3º. Ampliar horizontes _ considerar maneiras de novas de ver a realidade _ Pesquisar o já conhecido e se ela pode ainda ser útil _ Imaginar novas possibilidades e elaborar sínteses O CONHECIMENTO FILOSÓFICO http://cierzo.blogia.com/2008/093002--que-es-filosofar-.php O conhecimento filosófico vai ser resultado do exercício e do processo de filo- sofar, buscando a verdade sem querer possuí-la. O ser humano busca um sentido para sua existência e um sentido mais amplo da realidade. A questão central da filo- sofia: quem é o ser humano e qual é o sentido da vida, da realidade.Preocupa-se em conhecer a si próprio e com o destino da humanidade. As conclusões filosóficas são sempre parciais e as respostas levam sempre a novas perguntas. O pensar Há diferença entre pensar e ter pensamentos. O pensar é uma atividade: “O pensamento é o passeio da alma”, diz um filósofo grego desconhecido. Pensar é um movimento, uma atividade, uma ação. É uma atividade pela qual a inteligência colo- ca algo diante de si para atentamente considerar, avaliar, pesar, equilibrar, entender. Por meio do pensamento manifestamos nossa capacidade de elaborar regras, nor- mas, leis e princípios. Nós pensamos e sabemos que pensamos. Essa capacidade de refletir sobre o nosso próprio pensamento nos permite encadear processos de abstração. São esses processos de abstração que nos levam a conhecer a realidade e atribuir significados a essa realidade. http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1613 Isso é possível por que o homem é dotado de razão, da capacidade de racio- cinar. O pensamento conta com seu mais poderoso invento: a palavra. É a palavra que confere ao homem essa capacidade de pensar. O pensamento nos familiariza com o mundo e nos leva a compreender o significado dos objetos, das pessoas e das relações entre uns e outros. Nem todos os pensamentos levam à verdade, ou seja, resultam de uma forma lógica correta. Para chegar ao conhecimento verdadeiro, o pensar deve ser movido pelo raciocínio, com uma lógica e argumentos válidos. O processo de pensar pode levar a uma realidade cada vez mais aprimorada. A abstração filosófica nos permite sair da aparência para a essência. Segundo diversas teorias, só é considerado livre o ser humano que é autô- nomo, capaz de pensar por si mesmo e dar respostas originais a si próprio e ao mundo. E acredita-se que isso é um aprendizado, ou seja, fruto de educação – é possível por meio da educação oferecer as condições de aprimorar sua capacidade de pensar. O mundo é feito de ideias. As ideias são frutos do pensamento. Um pensar pobre não produz ideias, gera um mundo pobre. Perguntas que devemos fazer: _ Minhas crenças correspondem a um saber verdadeiro a um conhecimento? A minha fala é coerente? _ O que orienta minha atitude? Qual o sentido de minha ação? O pensamento, a linguagem e o conhecimento http://diario560.pt/2015/12/03/esperanto-idioma-terapeutico-para-jovens-e-idosos/ O pensamento é a fala internalizada, enquanto a linguagem é a expressão do pensamento. A linguagem permite a comunicação com o mundo, com os outros. O fazer humano deve ser resultado do conhecimento. E o conhecimento é resultado de um pensar correto. O fazer humano deve modificar a realidade exterior, formar os homens, aproximá-los entre si e enriquecer o mundo de valores. Existem várias formas de conhecer e interpretar a realidade, com diferentes enfoques e metodologias: _ O mito – imagens, símbolos e significados. História e narrativa. _ O senso comum – herança, tradição, experiências _ A ciência – estrutura seu saber pelo método científico http://www.iapar.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=283 _ A Filosofia – reflexão rigorosa, sistemática _ A religião – fé, transcendência da vida humana _ A arte - intuição e sensibilidade 1.13 PARA QUE SERVE A FILOSOFIA? Filosofia é o conhecimento da nossa civilização ocidental, durante 2.500 anos. Uma herança valiosa que pertence a nós todos. A Filosofia gera as ferramentas para pensar, pesquisar e gerar conhecimento. O conhecimento não está inscrito no mun- do, ele foi produzido pelo homem, em alguma época e lugar. O conhecimento é fruto do pensamento. Filosofar é interrogar principalmente sobre fato, problemas e dilemas que cer- cam o ser humano em seu contexto histórico. http://www.filosofia.com.br/charge.php?pg=3 Por isso devemos entender esses conceitos: Senso comum É o conhecimento recebido por tradição e que ajuda a nos situarmos no coti- diano, para compreendê-lo e agir sobre ele. É um conjunto de crenças, baseadas no conhecimento espontâneas e não-crítico, mas que revelam o esforço de buscar so- luções para a nossa vida cotidiana. Essas noções podem esconder ideias falsas e preconceituosas. No entanto, não podemos desprezar o senso-comum, pois essa forma de conhecimento tão universal contém muita sabedoria essencial para o de- senvolvimento e organização da humanidade (ex: a roda e o fogo). O que caracteriza o senso comum não é sua verdade ou falsidade, é a au- sência de crítica, fundamentação e coerência dessas concepções. O senso comum é transmitido no cotidiano, por meio da cultura e hábitos, de pende de julgamento e de valores. Muitas vezes essas concepções do senso comum se transformam em ditados populares. O senso comum lida com opiniões e pré-conceitos, noções par- ciais e com julgamentos da realidade. http://pedromotafiloescola.blogspot.com.br/2014/04/senso-comum-os-idolos-da-tribo-de.html Ciência A ciência produz um conhecimento sistemático e empiricamente fundamenta- do, a partir de um método racional. A partir da observação rigorosa, a ciência busca conhecer explicar a realidade forma objetiva, sem interferência de valores e julga- mentos. A ciência trabalha com conceitos, que são as noções elaboradas, testadas rigorosamente, comprovadas. Busca descobrir leis gerais que sejam válidas para várias situações particulares. Dogmatismo Dogmas são conhecimentos inquestionáveis, são noções estabelecidas sem contestação e crítica. O dogmatismo é a nossa crença de que o mundo existe e é exatamente igual ao que percebemos, por isso não é necessário criticar e refletir sobre a realidade. http://nepo.com.br/2014/06/06/o-dogmatismo-em-sala-de-aula/ A atitude dogmática é a aceitação natural e espontânea diante das coisas do mundo: acreditamos e percebemos o mundo pronto e conhecido. É uma atitude con- servadora, ou seja, queremos conservar o mundo e as coisas como já são natural- mente. Criamos ideias preconcebidas e rígidas em defesa desse mundo. A Atitude filosófica é o oposto da atitude dogmática - A atitude filosófica pressupõe a dúvida e a crítica, não aceitar como naturais as coisas, os fatos, as ideias os comportamentos, os valores da nossa vida cotidiana. É preciso desconfiar das opiniões e crenças estabelecidas pela sociedade e cultura, e, também, descon- fiar das próprias opiniões e crenças. É a atitude que nos leva a analise, reflexão e critica. Ir além da aparência e buscar a essência das coisas, dos fatos, dos valores, opiniões. Procurar saber o que é (significado), como é (estrutura) e por que é (causa) de algo. Agora é a sua vez... BIBLIOGRAFIA BÁSICA CHAUÍ, Marilena. Convite á Filosofia. São Paulo: Ática, 1999. COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000. PRADO JUNIOR, C. O que é Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1983. REALE, M. Introdução a Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1988. SANCHEZ VASQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ARANHA, M.L ; MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução a filosofia. São Paulo: moderna, 1993. BUARQUE, Cristovam. A desordem do progresso. São Paulo: paz e terra, 1993. CIVITA, Victor. A história da filosofia. Coleção de pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999. ARTIGO PARA REFLEXÃO Autor: SALMA TANNUS MUCHAIL Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ts/article/downl oad/85123/88017 Acesso: 8 de junho de 2016 Foucault e a história da filosofia SALMA TANNUS MUCHAIL MUCHAIL, Salma Tannus. Foucault e a história da filoso- fia.Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 7(1-2): 15-20 Tempo Social, outubro de ; Rev. Sociol. USP, S. Pa1995. ulo, F O7(1-2): 15-20U C A U, LT outubro de 1995. UM PENSAMENTO DESCONCERTANTERESUMO: Foucault faz filosofia investigando a história, mas não escreve uma “histó- ria da filosofia”. Não exclui, entretanto, a abordagem dos filósofos: permeando os escritos sobre diferentes “objetos”, inscreve-se, como que “em meio a eles”, a leitura das filosofias. Pode-se destacar algumas passagens específicas e, a título de ilus- tração, exemplificar o modo foucaultiano de leitura dos filósofos. Por outro lado, Foucault também não toma por tema uma reflexão sobre a história da filosofia. En- tretanto, uma aproximação com autores que realizam esta reflexão permite estabe- lecer algumas diferenças e semelhanças e entender que as histórias que Foucault escreve - permeadas de abordagens de filósofos - é investida de natureza filosófica. UNITERMOS: história, história da filosofia, leitura interna, leitura externa, leitura filo- sófica, Foucault. ABSTRACT: Foucault generates philosophy by investigating history, but is not the author of a “history of philosophy”. He does not exclude, however, the philosophical approach: within the texture of his writings on several objects, one finds the thread of a reading of philosophies. Certain specific passages can be pointed out which, by way of illustration, exemplify the Foucaultian reading of philosophers. On the other hand, Foucault does not choose as subject matter a reflection on the history of phi- losophy. Nevertheless, an approximation with authors who carry out such a reflection allows us to establish certain differences and similarities and to understand that the histories which Foucault writes - pervaded by the approaches of and to philosophers - is vested with a philosophical nature. UNITERMS: history, history of philosophy, internal reading, external reading, philo- sophical reading, Foucault. É frequente que filósofos tomem a história da filosofia como via ou como tema de sua própria elaboração filosófica. Como via, quando se dedicam à leitura filosófi- ca de filosofias já constituídas e, neste sentido, escrevem histórias da filosofia ou a praticam no estilo das monografias. Como tema, quando colocam questões acerca da natureza da história da filosofia e do modo adequado de ler filósofos e, neste sen- tido, fazem algo como uma teoria ou uma filosofia da história da filosofia. Recorrem, quase sempre, aos dois procedimentos. Digamos, logo de partida, que Michel Fou- cault não se ocupa com nenhum deles. Quanto ao primeiro procedimento, ele, que faz filosofia escrevendo histórias, não escreve história da filosofia. Se são diversos os “objetos”, por assim dizer, de suas investigações históricas (loucura, medicina, ciências humanas, prisões, sexua- lidade, etc.), não há nenhuma que eleja como “objeto” as filosofias. Entretanto, a abordagem delas está presente. Diretamente, em Professora do Departamento de Filosofia da PUC-SP alguns poucos escritos, “avulsos”, digamos assim, e sempre curtos (é o caso, por exemplo de Nietzsche, a genealogia e a história, ou do estudo sobre textos de Kant no curso sobre O que é o iluminismo). Mas é também e sobre- tudo nos grandes livros que se inscreve, como “em meio” aos diferentes “objetos”, a leitura de filosofias. Assim, com pesos e dosagens variadas, ela permeia pratica- mente todos eles: ora mais esporadicamente ou limitada a poucas referências (como é o caso de O nascimento da clínica e Vigiar e punir); ora ao longo de todo o livro, dispersamente (como em História da loucura) ou assiduamente (como em As pala- vras e as coisas) , ora inerente à composição do livro (como a recorrência, entre ou- tros, de Platão, Aristóteles, Xenefon, Plutarco, Sêneca, em O uso dos prazeres e O cuidado de si) . Um estudo mais exaustivo sobre a abordagem foucaultiana de filoso- fias demandaria, portanto, que se a recolhesse ao longo de todos os seus escritos, relidos sob esta ótica. Limitemo-nos, por ora, a destacar apenas uma situação de exemplo. Tomemos da Primeira Parte de História da loucura o trecho que inicia o capí- tulo II (Le Grand Renfermement) (cf. Foucault, 1972, p. 56-59). Trata-se ali de um daqueles momentos - frequentes na escrita de Foucault - em que a exposição se detém não mais em um período histórico determinado e não ainda em outro, mas no limiar de intersecção, região fronteiriça que ao mesmo tempo demarca a separação e autoriza a passagem entre um período e o seguinte. Assim, depois do capítulo I (Stultifera Navis), que descrevera a loucura no período renascentista, trata-se agora de estabelecer a travessia para a idade clássica. E ela se configura em um confronto entre Montaigne e Descartes. Resumamos a passagem. Em Montaigne, a crítica à presunção da razão. A leitura de um capítulo dos Ensaios mostra que, após distinguir o homem de razão do homem comum, este úl- timo digno de pena, Montaigne “um pensador”, afirma ser ele também “merecedor de piedade” (cf. Montaigne, 1973, p. 94; Foucault, 1972, p. 57): posto que os julga- mentos dos homens de razão se contradizem, seria loucura confiar unicamente na medida da inteligência e desprezar o que não conseguimos compreender; posto que jamais se está certo de nossos próprios julgamentos ou “jamais certo de não se es- tar louco” (cf. Foucault, 1972, p. 58) , loucura é fiar-se só na razão. Assim, sem limite absoluto entre verdade e falsidade, a loucura embarca na trajetória em busca da verdade: como os loucos nas naus. Em Descartes, a leitura da primeira Meditação mostra, ao contrário, a exclu- são da loucura do caminho da dúvida em direção à certeza. Um paralelo entre os sentidos e os sonhos, por um lado, e a loucura por outro, revela entre eles “um de- sequilíbrio fundamental” (cf. Foucault, 1972, p. 57). Com efeito, os erros dos senti- dos e as ilusões dos sonhos se incorporam aos passos daquele percurso; posto que não atingem a verdade objetiva das coisas, poderão ser posteriormente recuperados depois que se alcançar, na segunda Meditação, a segurança do cogito; incluem-se assim, no trajeto do pensamento que conduz à certeza do próprio pensamento. Não é o que ocorre com a loucura. “E como poderia eu negar que estas mãos e este cor- po são meus? A não ser talvez que eu me compare a estes insensatos cujo cérebro está de tal modo perturbado e ofuscado pelos negros vapores da bile que constan- temente asseguram que são reis quando são muito pobres, que estão vestidos de ouro e de púrpura quando estão inteiramente nus, ou imaginam ser cântaros ou ter um corpo de vidro. Mas quê? São loucos e eu não seria menos extravagante se me guiasse por seus exemplos” (cf. Descartes, 1962, p. 110118; Foucault, 1972, p. 56- 57). Porque é “condição de impossibilidade do pensamento” (Foucault, 1972, p. 57), a loucura afeta a verdade objetiva do sujeito que é sujeito pensante. Se penso, exis- to; se sou louco, não penso; portanto, se penso não sou louco e se sou louco nem penso nem existo. “Entre Montaigne e Descartes, [escreve Foucault], um aconteci- mento se passou: algo que concerne ao advento de uma ratio” (1972, p. 58). Estabe- lecida a divisão entre razão e desrazão, tem lugar o banimento da loucura: lugar de exílio, como os loucos no Hospital Geral. Como se vê, a reconstituição foucaultiana destas passagens filosóficas dis- põe-se, na construção do seu próprio discurso, como estratégia de transição entre o século XVI e o XVII. Não é uma leitura isolada de discursos filosóficos: atraca-os ao derradeiro porto renascentista e avizinha-os da divisória inaugural da idade clássica. Assim, a passagem que acabamos de resumir poderia igualmente caber sob dois subtítulos, se eventualmente lhe quiséssemos atribuir algum: “De Montaigne a Des- cartes” ou “Da Nau ao Hospital”. Ampliando os contornos deste exemplo, pode-se dizer que as abordagens de discursos filosóficos nos escritos de Foucault, desde as mais episódicas às mais re- gulares, se não lhes confere qualquer privilégio enquanto“objetos” para uma investi- gação histórica específica, insere-os, contudo, tanto em redes interdiscursivas, en- quanto elementos constitutivos de uma épistémê, quanto nas articulações com práti- cas ou instituições sociais, enquanto integrantes de um “dispositivo” de poder, seja como peças de sustentação, seja como instrumentos de luta. Quanto ao segundo procedimento, isto é, uma reflexão sobre a natureza e o método apropriado da história da filosofia, também não constitui preocupação parti- cular de Foucault. Uma tematização desta questão, se fosse elaborada, haveria de ajustar-se, sem dúvida, às tematizações sobre a natureza e os procedimentos de suas investigações, explicitadas não somente no livro A arqueologia do Saber como em tantas passagens integradas aos vários livros, artigos, entrevistas. Mas esta é também uma hipótese que demanda um estudo mais longo. No momento, limitemo- nos apenas ao levantamento de alguns indícios, pela via das aproximações e dife- renças, tomando algumas descrições de método em história da filosofia como situa- ção de referência. Ao propor o chamado método estrutural para a leitura das filosofias, Guéroult o situa como um determinado tipo de história “vertical” que, pela sua feição filosófica, respeita, internamente, a natureza dos seus objetos. Não é difícil compreender que a leitura foucaultiana não se prende à construção arquitetural dos sistemas filosóficos, cujos encadeamentos lógicos permitem reconstituí-lo segundo sua “ordem de ra- zões”. Isto não significa que análises detalhadas de textos sejam desprezadas. Re- portemo-nos àquela passagem sobre Montaigne e Descartes. Como se sabe, ela foi alvo de críticas, primeiro de H. Gouhier, e incisivamente, de Derrida (1963). Ora, na resposta a este último, Foucault (cf. 1971) contempla o escrito cartesiano com o exame meticuloso, quase requintado, de palavras, tempos de verbos, imagens, dis- posição textual, etc. Faz ver, já pelo seu título, que as Meditações requerem não só a leitura que encontra o encadeamento sistemático de demonstrações, como aquela que as apreende como exercício, prática discursiva. E, ao final, não sem mordacida- de, afirma que a estrita redução dos discursos aos seus aspectos textuais é aliada ao ponto de vista globalizador do sistema e tributária da metafísica. Mas Guéroult identifica um outro tipo de história “vertical” da filosofia, também de feição filosófica, que, privilegiando a interioridade do autor, caracteriza-se pela busca de origens e intenções. Por semelhança de orientação, podemos assemelhá- la à proposta de Merleau-Ponty para a leitura das filosofias. Trata-se de descobrir por sob os textos os sentido que subjaz a eles e anima o processo de elaboração filosófica, sentido implícito que, por isto mesmo, nos exige atentos não só ao filósofo como à sua sombra, e nos conduz a pensar o “impensado”. A leitura foucaultiana, muito ao contrário, não se reconhece na suposição do “não-dito”. Voltada que é para a positividade do acontecimento discursivo e suas relações inter e extra discursivas, afasta-se das perspectivas que acenam para as filosofias da consciência. Poder-se-ia perguntar então se o modo foucaultiano de ler filosofias não se classificaria no método que Guéroult nomeia de história “horizontal”. Mais histórico e pouco filosófico, consiste em expor a sucessão temporal das filosofias e sua contex- tualização em circunstâncias sociais, políticas, econômicas, etc., condições externas do seu surgimento. Longe disto, a inclusão das filosofias em conjuntos heterogêneos de saberes e práticas sociais, nada tem de comum com causas ou explicações exte- riores. Na configuração de um solo epistemológico ou de um dispositivo estratégico, os componentes são tão constituídos quanto constituintes e entre eles não há rela- ções nem de causa e efeito nem de “exterioridade” e “interioridade”. Todavia, entre os métodos descritos como história “vertical” e a postura de Foucault é possível talvez esboçar um traço de semelhança. À leitura estrutural de Guéroult não interessa apenas o conhecimento dos sistemas filosóficos, senão tam- bém a instigação de que este conhecimento é capaz para a reflexão filosófica pre- sente; a leitura intencional de Merleau-Ponty, por sua vez, quer repensar as filosofi- as historicamente dadas, na direção de provocar um pensamento novo. Ora, as in- vestigações históricas de Foucault, precisamente por sua dimensão genealógica, debruçam-se sobre o passado para elucidar o presente relativamente às diferenças com o que o precede e para mobilizá-lo relativamente às diferenças que, introduzi- das por nossa intervenção, o poderão suceder. Esta observação permite que evoquemos, de passagem, mais uma proposta sobre a questão da história da filosofia, da qual a leitura foucaultiana estará prova- velmente mais próxima. Trata-se de algumas reflexões de F. Châtelet (cf. 1977, p. 23-42) de que realçamos dois aspectos: primeiro, a afirmação de que pela referência ao passado pensamos nossa atualidade através do “diferencial”; segundo, a propo- sição de uma história da filosofia, hoje, que explicite as conexões das filosofias com a política, que, em termos foucaultianos, remete às relações que elas mantêm com regimes de poder, quer como reforço, quer como resistência. Para concluir, uma hipótese genérica. Na medida em que a abordagem das fi- losofias só se compõe esparsamente, há menos que história da filosofia nas investi- gações históricas de Foucault; e no entanto, há mais, na medida em que, nelas, é toda a história que se acha investida de feição filosófica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHÂTELET, F. (1977) A questão da história da filosofia hoje. In: CHÂTELET, DER- RIDA, FOUCAULT, LYOTARD e SERRES. Políticas da filosofia. Textos reunidos por D. Grisoni, trad. de J. Saramago. Lisboa, Moraes. DERRIDA. (1963) Cogito e história da loucura. Conferência. DESCARTES. (1962) Meditações. In: ______ .Obra Escolhida. Trad. de J. Guins- burg e Bento Prado Júnior. São Paulo, Difusão Europeia do Livro. FOUCAULT, Michel. (1971) Mon corps, ce papier, ce feu. In: ______ . Histoire de la folie à l’âge classique. Anexo à 2ª ed. Paris, Gallimard, 1972. ______ . (1972) Histoire de la folie à l’âge classique. 2ème éd. Paris, Gallimard. GUÉROULT, M. (1974) La méthode en histoire de la philosophie. Philosophiques, Paris, vol. 1, nº1, avril. MERLEAU-PONTY. (1960a) Le philosophe et son ombre. In: ______ . Signes. Paris, Gallimard. ______ . (1960b) Partout et nulle part. In: ______ . Signes. Paris, Gallimard. MONTAIGNE. (1973) Ensaios. Trad. de S. Milliet. Col. “Os Pensadores”. São Paulo, Abril Cultural.
Compartilhar