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DOR ABDOMINAL EM CÃES E GATOS Abordagem clínica, diagnóstica e terapêutica MSc. Stéphanie de Souza Vitório Alves Introdução Existem seis vias principais para o início da dor abdominal: hepatobiliar, esplênica, urogenital, gastrintestinal, pancreática e parietal. IMPORTANTE – determinar se a origem da dor é abdominal e não extra-abdominal Dor toracolombar, alergias, toxicidade, picada de cobra ou insetos. A abordagem diagnóstica depende de sua severidade, progressão da doença e se não há nenhuma causa óbvia. RÁPIDA: DETERMINAR SE HÁ INDICAÇÃO DE INTERVENÇÃO CIRÚRGICA IMEDIATA Animais com dor abdominal podem ser classificados em três categorias: Não cirúrgicos: não requerem cirurgia de emergência e são primeiramente abordados clinicamente; Urgentes: devem ser operados rapidamente, no máximo em 12 horas; Críticos: animais que requerem cirurgia imediata após estabilização. O atraso na decisão cirúrgica aumenta o risco de morte do paciente. AVALIAÇÃO DO PACIENTE AVALIAÇÃO RÁPIDA DO PACIENTE Estado geral: Consciência Mucosas -TPC Pulso Frequências respiratória e cardíaca Pressão arterial. Resposta à palpação abdominal. Mucosas brancas; Taquicardia; Pulso fraco; Tempo de preenchimento capilar aumentado; Hipotermia. AVALIAR PRESENÇA DE SINAIS DE CHOQUE: ESTABILIZAR O ANIMAL! AVALIAÇÃO RÁPIDA DO PACIENTE Abordagem Clínica 1. IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE Idade Espécie Raça Sexo Peso Filhotes: Corpos estranhos, doenças infecciosas, intussuscepção. Idosos: Neoplasias, aumento da próstata em cães. Caninos: imprudência alimentar. Felinos: Cistite Raças grandes: vólvulo intestinal; dilatação gástrica. Raças pequenas: problemas toracolombar. Gatos siameses: doenças inflamatórias intestinais. Fêmeas - piometra e pancreatite aguda quando obesas e idade avançada 2. ANAMNESE Queixa principal? • Sintomas mais evidentes. Abordagem Clínica Vômito; Diarréia; Febre; Anorexia; Dispneia; 2. ANAMNESE Paciente Ambiente Dieta Histórico clinico • Manejo sanitário; • Manejo nutricional; • Manejo reprodutivo; • Condição de saúde da ninhada e dos pais; • Área enzootica; • Progressão da doença; • Medicação prévia; • Doenças anteriores; • Ingestão de corpo estranho; • Imprudência alimentar; • Trauma; • Imunização. Abordagem Clínica Abordagem Clínica 3. EXAME FÍSICO GERAL Condição corporal Peso Temperatura Comportamento, atitude e postura Ritmo cardiorrespiratório Secreções: nasais, oculares, anais Coloração de mucosas Conformação e simetria abdominal Abordagem Clínica SINAIS COMPORTAMENTAIS ASSOCIADOS À DOR: Tremores; Perambula ou assume diferentes posições repetidamente; Olha para o abdome ou o lambe; Relutância em mover-se; Resguardo à manipulação pelo homem, excitação; Agressão; Vocalização; Mutilação da área dolorida; Salivação excessiva. Alguns cães se esticam e assumem uma posição de “prece” - elevação do membro pélvico com flexão dos dianteiros. Gatos: cotovelos abduzidos e pescoço estendido Abordagem Clínica Respostas fisiológicas à dor: Taquicardia; Taquipnéia; Midríase; Hipertemia; Sudorese; Hipoventilação com consequente acidose respiratória; Disfunção urinária e gastrintestinal; Fadiga. Abordagem Diagnóstica 1. EXAME FÍSICO ESPECÍFICO Palpação abdominal Identificar individualmente cada órgão (alças intestinais, rins, próstata) Localizar área específica da dor; Topografia e tamanho dos orgãos - esplenomegalia, hepatomegalia, massas intestinais ou mesentéricas, corpos estranhos. CUIDADO! A palpação incorreta em um abdome normal pode provocar resposta de defesa, sugerindo dor abdominal intensa. Abordagem Diagnóstica 1. EXAME FÍSICO ESPECÍFICO Palpação abdominal Sensibilidade focal: obstruções intestino delgado (CE, pancreatite discreta, intussuscepção) Sensibilidade regional: piometra, pancreatite severa, colecistite; Sensibilidade difusa: peritonite e enterite difusa; Abordagem Diagnóstica 1. EXAME FÍSICO ESPECÍFICO Percussão abdominal Útil quando há alterações ou aumento de volume abdominal; Informações a respeito do conteúdo, além de permitir a delimitação de algumas estruturas. Presença de gás ou liquido. Abordagem Diagnóstica 1. EXAME FÍSICO ESPECÍFICO Ausculta abdominal Obstruções intestinais – ruídos exagerados e por vezes sibilantes; Peritonites e inflamações crónicas do revestimento do fígado, estômago e baço - ruídos de atrito; Prenhez adiantada - ruídos cardíacos do(s) coração(ões) do(s) feto(s). Abordagem Diagnóstica 1. EXAME FÍSICO ESPECÍFICO Exame retal Avaliar a mucosa do cólon; Esfíncter anal; Sacos anais; Ossos do canal pélvico; Trato urogenital; Fezes. Abordagem Diagnóstica 2. EXAMES COMPLEMENTARES Radiografia Detecta corpos estranhos e dilatação do trato alimentar resultante de obstrução, corpos estranhos ou massas; Distensão abdominal – Obstrução x Inflamação Radiografia abdominal lateral de um cão que teve um início agudo de êmese, dor abdominal e choque. Há uma distensão intestinal. Algumas alças intestinais assumiram uma orientação vertical (setas) que sugerem a existência de uma obstrução. Este cão tinha um vólvulo mesentérico. Fonte: Nelson e Couto, 2015. Abordagem Diagnóstica 2. EXAMES COMPLEMENTARES Ultrassonografia Pancreatite; Infiltrações em vários órgãos – doença infiltrativa abdominal; Efusão; Parênquima hepático; Neoplasia abdominal em animais com efusão substancial. Abordagem Diagnóstica 2. EXAMES COMPLEMENTARES Endoscopia Detecta úlceras, erosões, tumores e lesões inflamatórias; Mais rápida e menos estressante para o animal do que a laparotomia exploratória. Visualização endoscópica de uma úlcera gástrica na grande curvatura em um Chow-Chow. Fonte: Nelson e Couto, 2015. Abordagem Diagnóstica 2. EXAMES COMPLEMENTARES Avaliação Laboratorial Hemograma completo Neutropenia - enterite parvoviral, sepse severa; Anemia – hematemese; Contagem de plaquetas – coagulopatias. Perfil bioquímico Hipercalcemia ou hipoalbuminemia – animais com perda de peso ou anorexia. Abordagem Diagnóstica 2. EXAMES COMPLEMENTARES Urinálise Perfil renal; Índice de proteína/creatinina urinária - auxilia na identificação da causa da hipoalbuminemia. Parasitológico Giardíase, amebíases, tricomoníase, entre outros. Abordagem Diagnóstica 2. EXAMES COMPLEMENTARES Abdominocentese Análise do fluido peritoneal; Também fornece indícios adicionais para a origem da doença hepatobiliar; Lavagem peritoneal diagnóstica– suspeita de inflamação peritoneal Laparotomia exploratória Características da Efusão Abdominal Abordagem Terapêutica Tratamento sintomático e de suporte Fluidoterapia Solução fisiológica salina mais 20 mEq de cloreto de potássio por litro; Ringer Lactato (quando não houver alcalose); Solução salina hipertônica – choque endotóxico ou hipovolêmico severo. Colóides – cuidado em animais com sangramento; Abordagem Terapêutica Tranfusão de plasma Hipoalbuminemia Oxigenioterapia Antiemético Cerenia Abordagem Terapêutica Antibacterianos Sepse, febre. Gerenciamento da dieta Dietas facilmente digeríveis – enterite, gastrite aguda. Vermifugação Anti-helmínticos Abordagem Terapêutica Analgesia Buprenorfina – dor originada de orgãos viscerais. Morfina – efeitos colaterais(náuseas, êmese) Antiinflamatórios não esteroides (salicilatos, não- salicilatos e derivados do paraminofenol); Analgésicos locais (lidocaína, bupivacaína); Cetamina. Possíveis Causas Várias desordens estão associadas com dor abdominal, entre elas: Gastrintestinais, hepáticas, esplênicas e urogenitais. Algumas causas de dor abdominal podem ser difíceis de diagnosticar Pancreatite aguda; peritonite localizada, entre outras. O TRATAMENTO ABORDADO DEPENDERÁ DA PATOLOGIA DIAGNÓSTICADA! Possíveis Causas Técnica de Palpação Errada (“Pseudodor”) Sistema Musculoesquelético (Mimetiza a dor abdominal) Fraturas Doença de disco intervertebral (importante e comum) Discoespondilite (importante) Abscessos Peritônio Peritonite Séptica (comum e importante) Não séptica (importante) Adesões (raras) Possíveis Causas Trato Gastrintestinal Úlcera gastrintestinal Corpo estranho (especialmente linear) Neoplasia Adesões (raras) Isquemia intestinal (rara) Espasmo intestinal (raro) Trato Hepatobiliar Hepatite Colelitíase ou colecistite Pâncreas Pancreatite (comum e importante) Possíveis Causas Sistema Urogenital Pielonefrite (importante) Infecção do trato urinário inferior Prostatite (comum) Cistite não séptica (comum em gatos) Obstrução ou ruptura cística ou ureteral (comum especialmente após trauma) Uretrite ou obstrução (comum) Neoplasia Mastite (não causa dor abdominal verdadeira mas mimetiza a dor abdominal) Possíveis Causas Baço Ruptura Neoplasia Outras Causas Dor pós-operatória (especialmente se o animal tem uma linha de sutura apertada) Causas Iatrogênicas Possíveis Causas Gastrite por corpo estranho Etiologia Os objetos que podem passar através do esôfago podem se tornar um corpo estranho gástrico ou intestinal. Sinais clínicos Vômito, anorexia ou assintomático. Diagnóstico Radiografia simples, endoscopia. Tratamento Indução do vômito – (perigoso) Apomorfina no cão, 0,02 ou 0,1 mg/kg administrada via intravenosa ou via subcutânea, xilazina no gato, 0,4 de 0,5 mg/kg administrada via intravenosa. Endoscopia ou cirurgia. Ulceração gastrintestinal Etiologia Estresse, trauma, procedimento cirúrgico, endotoxemia, AINES, corpo estranho, insuficiência renal. Pode causar peritonite. Sinais clínicos Hiporexia, vômito, anemia, melena. Diagnóstico Endoscopia. Tratamento Terapia sintomática (terapia antiácida [tanto antagonistas dos receptores H2 ou inibidores da bomba de prótons). Eliminar etiologia. Enterite por parvovírus canino Etiologia Parvovírus canino tipo 2 (CPV-2) Sinais clínicos Diarreia, vômitos, sangramento intestinal , depressão, anorexia; Em alguns casos, ausência de diarréia ou assintomatologia. Diagnóstico Histórico clínico, testes comerciais (PCR) Tratamento Fluidoterapia, antibióticos, antieméticos, anti-helmínticos. Doença do trato urinário inferior felino Etiologia Condição que afeta vesícula urinária e uretra dos felinos; Cálculos, Cistite, Infecções bacterianas, Distúrbio comportamental, entre outros. Sinais clínicos Hematúria, disúria, estrangúria, polaciúria, lambedura do pênis, presença ou não de obstrução uretral. Diagnóstico Histórico clínico, sinais, urinálise, antibiograma da urina, radiografias, US. Tratamento Desobstrução uretral – quando for o caso; Eliminar fatores estressantes, enriquecimento ambiental, alterações na dieta, anti-inflamatórios, antibioticoterapia. Obrigada!
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