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TEORIA GERAL DO CRIME INFRAÇÃO PENAL: Infração penal é o gênero do qual são espécies o crime e a contravenção penal. CRIME X CONTRAVENÇÃO PENAL O art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal define como crime a infração apenada com detenção ou reclusão e como contravenção a infração apenada com prisão simples. O referido conceito, entretanto está defasado, quando se considera as espécies de pena existentes no direito penal brasileiro, e notadamente após o advento da Lei 11.343/2006, que chama de crime o porte de drogas para uso pessoal, quando não lhe é cominada pena de prisão. Os crimes e contravenções se distinguem pelos seguintes elementos: a) quanto à ação penal: Nos crimes ela pode ser pública incondicionada, condicionada ou privada (art. 100 do CP). As contravenções são sempre de ação pública incondicionada (art. 17 da LCP); * Vias de fato b) quanto à punibilidade da tentativa: a tentativa de crime é punível (art. 14, II do CP), enquanto as tentativas de contravenção penal não o são (art. 4º da LCP); c) quanto ao elemento subjetivo: os crimes podem ser dolosos ou culposos (quando há previsão expressa da possibilidade de punição nesta modalidade), já as contravenções, em tese, poderiam ser punidas bastando a voluntariedade da conduta (art. 3º da LCP), entretanto, como não é possível a responsabilização penal objetiva no nosso direito, tal dispositivo é inócuo, devendo existir dolo ou culpa para as contravenções; d) quanto à extraterritorialidade: existe a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a crimes cometidos fora do território nacional, mas o mesmo não se aplica às contravenções penais; e) quanto ao limite de cumprimento: para as penas privativas de liberdade decorrentes da prática de crimes, existe o limite de 30 anos para cumprimento (art. 75 do CP). Já para as decorrentes de contravenção penal o limite é de 05 anos (art. 10 da LCP). f) quanto ao sursis – o tempo de duração do período de provas é de 02 a 04 anos para os crimes (e excepcionalmente de 04 a 06 anos) (art. 77 do CP) e para as contravenções penais o prazo é de 01 a 03 anos (art. 11 da LCP). ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME Elementos do crime são os seus elementos de constituição, são os que compõem a figura típica, dividindo-se em elementares e circunstâncias: Elementares: são dados essenciais da figura típica, sem os quais não há crime, estão incluídos no texto do tipo (caput): No homicídio, são elementares “matar” e “alguém”. Circunstâncias são os dados acessórios que se agregam ao tipo e podem influenciar na atribuição da pena: Ex.: furto cometido durante o repouso noturno – causa de aumento. Os elementos do crime subdividem-se em: a) objetivos: dados concretos, perceptíveis através dos sentidos. Exemplos: os verbos (matar - 121, subtrair - 155, induzir, etc); características de tempo e lugar (lugar aberto ao público – 233, durante o parto ou logo após – 123); modo de execução (mediante grave ameaça); objetos materiais – (alguém, coisa alheia, livro oficial) b) subjetivos: dados relacionados à vontade, ânimo, aos aspectos psíquicos. Não são perceptíveis concretamente (para si ou para outrem – 317, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal - 319) c) normativos: são dados não perceptíveis através dos sentidos e nem afetos a elementos psíquicos, dependendo de um juízo de valor, que pode depender da análise de um conceito jurídico (funcionário público; documento) ou extrajurídico (grave ameaça, vigilância ostensiva). E as circunstâncias classificam-se em: a) judiciais: previstas no art. 59 do CP: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime, comportamento da vítima b) legais: circunstâncias cuja lei determina que interferem na pena, aumentando-a ou diminuindo-a. Podem estar na parte geral ou especial ou na legislação extravagante. Ex.: qualificadora, causa de aumento, atenuante, etc). Circunstâncias elementares: parte da doutrina defende ainda a existência de elementos especiais do tipo penal, que seriam um misto de elementar e circunstância, pois apesar de ser um dado acessório que interfere na pena, há um deslocamento do tipo penal (do caput para um parágrafo). Seriam assim classificadas as qualificadoras e os privilégios. SUJEITOS DO CRIME: Sujeito ativo: Quem comete a infração penal seja autor, coautor ou partícipe. Só pode ser sujeito ativo de uma infração penal o ser humano e maior de 18 anos, vez que nos termos do ECA, o adolescente que pratica atos definidos como crime ou contravenção penal pratica ato infracional, sujeitando-se não a penas, mas a medidas socioeducativas. Nos crimes de mão própria ou próprios, exige-se, ainda, uma qualidade especial do agente para que possa ser considerado sujeito ativo de um determinado tipo penal. Ex.: infanticídio (mão própria); peculato (próprio). Responsabilidade da pessoa jurídica Em regra a pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo de crime, pois se exige um elemento subjetivo do tipo, ligado a aspectos psíquicos que não se pode atribuir a uma pessoa jurídica. Entretanto, o direito brasileiro em alguns casos específicos, como no âmbito da Lei de Crimes Ambientais, a responsabilização da pessoa jurídica, desde que, entretanto, exista uma pessoa física, que atuando no interesse da empresa, protagonizou a conduta delitiva, devendo a ação penal ser contra ambas (pessoa física e jurídica). É este o posicionamento do STJ. Sujeito passivo O sujeito passivo de uma infração penal é o titular do bem jurídico protegido pela norma infringida. Outrossim, a violação de uma norma penal é considerada como uma afronta ao ordenamento jurídico, de modo que o Estado é entendido como o sujeito passivo constante ou formal, sendo sujeito passivo de todas as infrações penais. O sujeito passivo constante ou formal é sempre o Estado. O sujeito passivo eventual pode ser o Estado, a pessoa física (desde a concepção), a pessoa jurídica, a coletividade e até entes sem personalidade jurídica. A pessoa morta não pode ser sujeito passivo de crime – a coletividade seria o sujeito passivo do vilipêndio ao cadáver, por exemplo. Animais também não podem ser sujeitos passivos de crime – seria a coletividade, por afrontar o meio ambiente que é um bem coletivo. Sujeito passivo x lesado com o crime Nem todas as pessoas que são lesadas ou sofrem prejuízo com o crime são sujeitos passivos do mesmo, vez que apenas pode ser considerado como tal aquele cujo bem jurídico protegido pela norma penal violada foi atingido. Ex: falsificação de moeda – coletividade e quem recebeu a moeda. Sujeito ativo e passivo simultâneo Só é possível que uma pessoa seja ao mesmo tempo sujeito ativo e passivo do mesmo crime no crime de rixa. OBJETO DO CRIME O objeto do crime pode ser material ou jurídico. O objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta. O objeto jurídico, por sua vez, é o bem jurídico protegido pela norma penal. No homicídio, por exemplo o objeto material é a vítima e o jurídico é a vida humana. CONFLITO APARENTE DE NORMAS Ocorre tal conflito de normas quando, aparentemente, mais de uma norma incriminadora se aplica a um determinado caso concreto. No direito penal já sabemos que ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato, de modo que é necessário estudar os meios de identificar qual a norma aplicável a um caso concreto, quando aparentemente o fato se amoldar a mais de um tipo penal. Conflito aparente de normas é diferente de conflito de leis penais no tempo. Conflito aparente de normas é diferente de concurso de crimes (conduta única ou múltipla ofende mais de um bem jurídico). ANTEFATO E PÓS-FATO IMPUNÍVEL Antes de estudar as regraspara solucionar o conflito aparente de normas, é importante mencionar que existem situações em que, apesar da pluralidade de ações nota-se um vínculo entre elas, razão pela qual configuram um único tipo, considerando-se o que foi praticado antes ou depois impunível. Antefato impunível ocorre quando o agente pratica uma conduta definida como crime com o objetivo de praticar outra da qual a primeira depende. É o que ocorre quando alguém falsifica um documento com a finalidade de utilizá-lo na prática de estelionato. Pós-fato impunível ocorre quando após a consumação do crime realiza-se nova conduta que atinge o mesmo bem jurídico sem representar agravamento da lesão. Ex.: Dano contra coisa furtada. SOLUÇÃO DO CONFLITO APARENTE DE NORMAS Quando o conflito aparente de normas efetivamente existe, ou seja, quando mais de uma norma incriminadora pode ser aplicada a um mesmo fato concreto, deve-se adotar alguma dos princípios de solução. Princípio da especialidade Sempre que existir uma relação de gênero – espécie entre os tipos penais em conflito deverá ser aplicada a norma especial, mais específica. Será especial a norma que contiver todos os elementos da geral e mais alguns. Assim, toda conduta que se subsume ao tipo penal especial também se subsume ao tipo geral, mas o contrário não é verdadeiro. Ex: roubo e furto; homicídio e infanticídio. Princípio da subsidiariedade Quando dois tipos penais descrevem diferentes graus de lesão ao mesmo bem jurídico, haverá uma norma mais ampla que deve prevalecer em relação àquela menos abrangente. A norma subsidiária pode ter esta condição expressamente declarada, quando o tipo penal inclui a previsão “se o fato não constituir crime mais grave” ou implícita, quando em um tipo penal a conduta é elementar e no outro figura como circunstância legal. Ex.: omissão de socorro e homicídio culposo com omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. (art. 121) § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) Nestes casos de subsidiariedade, só será configurado o crime subsidiário se ele não fizer parte do principal. Princípio da consunção ou da absorção É o princípio segundo o qual o crime fim absorve o crime meio, ou seja, quando um crime é praticado como meio necessário ou normal para a prática de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm#art121§4 outro, não é punível o primeiro. Ex.: lesão corporal e homicídio. Princípio da alternatividade Este princípio é reconhecido por apenas parte da doutrina, mas se aplica às infrações penais de ação múltipla, que são os tipos penais que possuem vários verbos – Ex.: Tráfico de drogas. Quando alguém pratica mais de um dos verbos, em um mesmo contexto fático, tem-se crime único, embora tal circunstância deva ser considerada na fase d e a p l i c a ç ã o d e p e n
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