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Introdução à Teoria Geral do Crime 1. Introdução • A teoria geral do crime analisa os elementos necessários para a configuração do crime → Também observa os pressupostos para imposição da sanção penal • É um instrumento indispensável para a interpretação da lei penal 2. Infração Penal, Crime, Delito e Contravenção Penal • A infração penal pode ser analisada sob o enfoque formal ou material → Formal: Aquilo que está rotulado como infração penal em norma penal incriminadora → Material: Comportamento que causa relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico • A infração penal divide-se em crime e contravenção penal → A diferença entre elas é de valor, o crime é mais grave, a contravenção menos lesiva 3. Diferenças entre Crime e Contravenção Penal 3.1. Quanto à pena privativa de liberdade imposta Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. • Pelo art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, os crimes são punidos mais severamente → O crime recebe pena de reclusão ou detenção, as contravenções são outras penas 3.2. Quanto à espécie de ação penal • Contravenções são processadas por ação penal pública incondicionada (Art. 17, LCP) • Os crimes são, em regra, perseguidos mediante ação penal pública incondicionada → Pode ser ação penal de iniciativa privada ou pública condicionada quando a lei dispuser 3.3. Quanto à admissibilidade da tentativa • A tentativa de crime é punida pelo artigo 14, parágrafo único, do Código Penal • A tentativa de contravenção penal não é punível, conforme artigo 4º da LCP 3.4. Quanto à extraterritorialidade da lei penal brasileira • A regra do artigo 7º do CP aplica-se somente aos crimes • A contravenção penal praticada no estrangeiro não é punida pela lei brasileira 3.5. Quanto à competência para processar e julgar • Os crimes podem ser julgados pela Justiça Federal ou Estadual → Federal: Hipóteses do artigo 109 da CF → Estadual: Competência residual Art. 109 Aos juízes federais compete processar e julgar: V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; • As contravenções sempre são julgadas na Justiça Estadual → Exceto em caso de foro por prerrogativa de função 3.6. Quanto ao limite das penas • A pena de crime não ultrapassa os 30 anos, a de contravenção não passa dos 5 anos 3.7. Quanto ao período de prova do sursis • O sursis é a suspensão da execução da pena por prazo determinado (período de prova) → No crime, esse período é de 2 a 4 anos → A Lei de Contravenções Penais estabelece o prazo de 1 a 3 anos para contravenções 3.8. Quanto ao cabimento de prisão preventiva e temporária • Não é possível impor prisão preventiva pela prática de contravenção penal → Interpretação do artigo 313 do CPP • No rol de infrações em que pode haver prisão temporária não há nenhuma contravenção → Lei 7.960/89, Art. 1º, III Art. 1° Caberá prisão temporária: III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso; b) seqüestro ou cárcere privado; c) roubo; d) extorsão [...] 3.9. Quanto à possibilidade de confisco • Somente é possível confiscar bens que sejam produto de crime 3.10. Quanto à ignorância ou à errada compreensão da lei • Nas contravenções penais, a lei pode deixar de ser aplicada por esse motivo → Se for escusável • Em crimes, o desconhecimento da lei é inescusável, servindo no máximo como atenuante Crime Contravenção Penal Tipo de pena privativa de liberdade Reclusão/Detenção e/ou Multa Prisão simples e/ou Multa Espécie de ação penal Ação penal privada e Ação penal pública (condicionada ou incondicionada) Ação penal pública incondicionada Punição da tentativa Pune a tentativa Não pune a tentativa Regras da extraterritorialidade Admite extraterritorialidade da lei penal Não admite extraterritorialidade da lei penal Competência para processo e julgamento Justiça Federal e Justiça Estadual Justiça Estadual (salvo na hipótese de foro por prerrogativa de função federal ou nacional) Limite de cumprimento da pena 30 anos 5 anos Período de prova do sursis 2 a 4 anos ou 4 a 6 anos 1 a 3 anos Cabimento da prisão preventiva e temporária Cabe nas hipóteses do artigo 313 do CPP e artigo 1º, III, da Lei nº 7.960/89 Não cabe Possibilidade de confisco Só instrumentos do crime podem ser confiscados Não se admite confisco de instrumento de contravenções 4. Sujeitos (Ativo e Passivo) do Crime • O sujeito ativo é a pessoa que pratica a infração penal → É sempre pessoa física capaz e com 18 anos completos Questão: Pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo de crime? Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Esse é um tema bastante controverso, existindo 3 correntes que abordam o tema: • A pessoa jurídica não pode praticar crimes nem ser responsabilizada penalmente → Só pode ser responsabilizada administrativa, tributária e civilmente • Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais → Relação objetiva entre o autor do fato ilícito e a empresa → No entanto, a pessoa jurídica não pratica crimes, somente a pessoa física o faz • A pessoa jurídica é um ente autônomo, pode cometer crimes ambientais e sofrer pena → Sua responsabilização está condicionada à atuação de uma pessoa física - Essa é a corrente predominante no STJ - Critica-se que a punição da pessoa jurídica estaria condicionada à da pessoa física - Se a pessoa física recair em excludente, deixaria de ser punida a pessoa jurídica Questão: E se, constatada a prática de um crime, a pessoa jurídica for dissolvida durante a apuração ou o processo criminal? • A apuração, o processo ou a aplicação da pena devem continuar → Deve ocorrer antes da liquidação • Nesse caso, somente a pena de multa poderá ser aplicada à pessoa jurídica → Penas restritivas de direitos e prestação de serviços pressupõem o exercício da empresa Questão: Pessoa jurídica de direito público pode ser responsabilizada penalmente por delito ambiental? • A responsabilização ocorre em decorrência de atos que buscam o interesse da entidade → O interesse do Estado é o bem comum, então seria difícil uma atuação em seu benefício • Por ser uma questão controvertida, existem 2 correntes acerca desse tema • A pessoa jurídica de direito público não pode ser responsabilizada → A condenação forçaria o Estado a aplicar a pena em si mesmo → A pena seria um ônus contra a própria sociedade • A pessoa jurídica de direito público pode e deve ser responsabilizada → As normas não excepcionam a responsabilidade penal da pessoa jurídica → As pessoas jurídicas de direito público e de direito privado devem ter tratamento igual → Não seriam aplicadas todas as penas à pessoa jurídica de direito público - Não pode haver suspensão das atividades, interdição de estabelecimento • Quanto ao sujeito ativo, o crime classifica-se em: → Comum: O tipo penal não exige qualidade ou condição especial do agente → Próprio: O tipo penal exige qualidade ou condição especial do agente → De mão própria: A execução do crime só pode ser praticada por ele • Sujeitopassivo: Pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal → Constante (mediato, formal, geral ou genérico): Será sempre o Estado → Eventual (imediato, material, particular ou acidental): O titular do interesse protegido - Comum: O tipo penal não exige qualidade ou condição especial do agente - Próprio: O tipo penal exige qualidade ou condição especial do agente • Se o sujeito ativo e o passivo são comuns, o crime é classificado como bicomum • Se o sujeito ativo e o passivo são próprios, o crime é classificado como bipróprio • Crimes de dupla subjetividade passiva: Têm, obrigatoriamente, pluralidade de vítimas • Peculiaridades do sujeito passivo: → O morto não pode ser sujeito passivo, pois não é titular de direitos - A vítima pode ser a coletividade ou a sua família → Animais não são vítimas de crimes, podem ser somente objeto material do delito - O sujeito passivo é o proprietário do animal ou a coletividade Questão: Pode o homem ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo do crime? • Não, pois a sua conduta não iria exceder a sua esfera individual • Para Greco, o crime de rixa é uma exceção, o sujeito seria ativo e passivo simultaneamente 5. Objetos (Material e Jurídico) do Crime Material • O objeto material é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa → Eventualmente, pode ser igual ao sujeito passivo Questão: É possível crime sem objeto material? • Sim, nem todo tipo penal possui objeto material • Se ausente ou absolutamente impróprio, o crime é impossível ou um quase-crime • O objeto jurídico é o bem protegido pelo direito penal, o interesse tutelado pela norma Existem duas teorias dos bens jurídicos • Teoria monista personalista: Os bens jurídicos individuais são protegidos penalmente → A tutela penal favorece a pessoa • Teoria monista coletiva: Protege-se os bens jurídicos em perspectiva coletiva • Teoria dualista: Divisão dos bens jurídicos em individuais e coletivos → Os bens pessoais e os bens coletivos não dependem uns dos outros → Individuais = Vida, patrimônio e liberdade pessoal → Coletivos = Interesses amplos e gerais, como a fé pública → É possível que certos tipos penais protejam mais de um interesse jurídico → Não é possível crime sem objeto jurídico - O comportamento é criminalizado justamente para proteger o bem jurídico 6. Classificação Doutrinária de Crimes • Classificação legal: Denominação que a lei confere ao crime (nomen juris) • Classificação doutrinária: Características das infrações penais 6.1. Crime material, formal e de mera conduta • Material: Exige a ocorrência de uma modificação exterior para sua consumação • Formal: O resultado é previsível, mas dispensável, consuma-se com a conduta • Mera conduta: Descreve a conduta sem mencionar resultado, dispensável → O resultado jurídico ocorre, mas não é da natureza da conduta 6.2. Crime comum, próprio e de mão própria • Comum: Pode ser praticado por qualquer pessoa → A lei não menciona nenhuma qualidade especial do sujeito ativo • Próprio: O tipo penal exige que o agente possua determinadas características • De mão própria: Somente pode ser cometido por certo agente, insubstituível → Não admite a coautoria, apenas a participação → O agente deve ser o designado no tipo penal 6.3. Crime doloso, culposo e preterdoloso • Doloso: Quando o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo → Se quer, o dolo é direto, se assume o risco o dolo é eventual • Culposo: O resultado não é desejado, mas é previsível → Decorre da inobservância dos deveres de cuidado • Preterdoloso: Crime praticado com dolo no fato antecedente e culpa no agravante 6.4. Crime instantâneo, permanente e instantâneo de efeitos permanentes • Instantâneo: Se consuma em momento determinado, imediato • Permanente: A execução se protrai no tempo por determinação do sujeito ativo → A ofensa se dá de maneira constante e cessa de acordo com a vontade do agente → O prazo prescricional só passa a ser contado quando cessa a ofensa ao bem jurídico • Instantâneo de efeitos permanentes: Consumação em momento certo, efeitos se estendem 6.5. Crime consumado e tentado • Consumado: Nele se reúnem todos os requisitos de ordem legal → Difere do crime exaurido pois neste ocorrem fatos após a consumação → O exaurimento do crime deve ser considerado na aplicação da pena • Tentado: O resultado não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente 6.6. Crime de dano e de perigo • Dano: Efetiva lesão ao bem jurídico penalmente tutelado → Não havendo lesão, ou é um indiferente penal ou houve a tentativa • Perigo: Exposição do bem jurídico a perigo → Concreto: O risco para o bem jurídico deve ser comprovado → Abstrato/Presumido: A lei presume que aquela ação causa perigo 6.7. Crime simples, complexo, qualificado e privilegiado • Simples: Possui apenas um tipo penal e nenhuma circunstância de gravidade • Complexo: É formado por mais de um tipo penal → Complexo em sentido amplo: O delito adicionado de elementos que não são crime Questão: O que se entende por crime ultra complexo? • É um crime complexo acrescido de outro, que é sua majorante ou qualificadora → A conduta majorante ou qualificadora é absorvida pelo crime de roubo • Evita o bis in idem • Qualificado: Tem a mesma natureza do simples/complexo, mas há um agravamento • Privilegiado: O crime está rodeado de circunstâncias que diminuem a sua gravidade 6.8. Crime plurissubjetivo é unissubjetivo • Plurissubjetivo: O concurso de agentes é imprescindível para sua configuração → Também chamado de crime de concurso necessário → Condutas paralelas: Todos tem o mesmo fim → Condutas divergentes: As ações dos agentes são dirigidas uns contra os outros → Condutas bilaterais: As condutas dos agentes provavelmente se encontrarão • Unissubjetivo: Pode ser praticado por uma ou algumas pessoas → Concurso eventual de agentes 6.9. Crime comissivo e omissivo • Comissivo: Realiza-se uma conduta proibida pelo tipo penal incriminador • Omissivo: É a não realização de uma conduta que era ideal → O agente estava juridicamente obrigado e podia realizar a conduta → Viola uma norma mandamental - Pode decorrer do próprio tipo penal (próprio) ou de cláusula geral (impróprio) • Crime de conduta mista: Ação seguida de omissão 6.10. Crime unissubsistente e plurissubsistente • Unissubsistente: Ocorre através de um único ato → Não admite a tentativa • Plurissubsistente: Vários atos provocam, juntos, a consumação → É possível a tentativa 6.11. Crime habitual • Configura-se através de atos reiterados • A repetição da conduta mostra que aquela atividade é costumeira da parte do agente • Não admite a tentativa 6.12. Outras classificações • Observar o pdf 7. Substratos do Crime • O conceito analítico de crime é a estrutura do delito, os seus substratos → Fato típico → Ilicitude → Culpabilidade • Estando presentes os três substratos, surge a punibilidade, o direito de punir