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Projeto Integrador

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE
ERICA DE MACEDO FERNANDES
EVELLYN MYCAELA DA SILVA SENA
GABRIEL ÂNGELO GOMES DE MEDEIROS
MATHEUS FELIPE ARAUJO SOUZA
PÂMYLLA GEYSE SANTOS DE MATOS
RITA BEATRIZ DE ARAÚJO CRUZ
RUANE KALINE DOS SANTOS OLIVEIRA
PROJETO INTEGRADOR: O VALOR CULTURAL E ECONÔMICO DA CARNE DE SOL PARA A CIDADE DE CURRAIS NOVOS, RN
Currais Novos
2018
ERICA DE MACEDO FERNANDES
EVELLYN MYCAELA DA SILVA SENA
GABRIEL ÂNGELO GOMES DE MEDEIROS
MATHEUS FELIPE ARAUJO SOUZA
PÂMYLLA GEYSE SANTOS DE MATOS
RITA BEATRIZ DE ARAÚJO CRUZ
RUANE KALINE DOS SANTOS OLIVEIRA
PROJETO INTEGRADOR: O VALOR CULTURAL E ECONÔMICO
DA CARNE DE SOL PARA A CIDADE DE CURRAIS NOVOS, RN
Projeto Integrador apresentado ao Curso Técnico de Nível Médio em Alimentos na forma integrada do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Técnico em Alimentos. 
 
Orientadora: Profa. Aldenise Regina Lira da Silva
Coorientadora: Profa. Karla Dayane Bezerra Cruz
Currais Novos
2018
ERICA DE MACEDO FERNANDES
EVELLYN MYCAELA DA SILVA SENA
GABRIEL ÂNGELO GOMES DE MEDEIROS
MATHEUS FELIPE ARAUJO SOUZA
PÂMYLLA GEYSE SANTOS DE MATOS
RITA BEATRIZ DE ARAÚJO CRUZ
RUANE KALINE DOS SANTOS OLIVEIRA
PROJETO INTEGRADOR: O VALOR CULTURAL E ECONÔMICO DA CARNE DE SOL PARA A CIDADE DE CURRAIS NOVOS, RN
Projeto Integrador apresentado ao Curso Técnico de Nível Médio em Alimentos na forma integrada do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Técnico em Alimentos. 
 
Projeto Integrador aprovado em ___/___/____, pela seguinte Banca Examinadora:
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Aldenise Regina Lira da Silva, Ma. – Orientadora 
IFRN – Campus Currais Novos
____________________________________________
Karla Dayane Bezerra Cruz, Ma. – Coorientadora 
IFRN – Campus Currais Novos
____________________________________________
André Luis Oliveira de Almeida, Me. 
IFRN – Campus Currais Novos
____________________________________________
Dayana do Nascimento Ferreira, Ma.
IFRN – Campus Currais Novos
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), e todo seu corpo docente e organização administrativa por realizarem um intenso trabalho de dedicação e empenho, para que nós, discentes, possamos contar com um ensino de excelência no que diz respeito à formação técnica profissional.
Agradecemos às professoras orientadoras Aldenise Regina e Karla Dayane, pela dedicação, paciência e empenho no ato de nos orientar em todo processo de pesquisa.
Agradecemos a todos os discentes, comerciantes e civis que se despuseram a responder as questões aqui abordadas.
Agradecemos aos nossos pais por serem partes integrantes do nosso processo de formação e por permitirem, por meio de seus esforços, que nós conseguíssemos levar nossos estudos adiante.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO	7
2. JUSTIFICATIVA	10
3. OBJETIVOS	11
3.1 Gerais	11
3.2 Específicos	11
4. REFERENCIAL TEÓRICO	12
4.1 Contexto histórico	12
5. METODOLOGIA	17
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES	19
6.1 Resultado da entrevista realizada no restaurante X	19
6.2 Resultados do questionário aplicado na cidade de Currais Novos, RN	20
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS	24
8. REFERÊNCIAS	25
APÊNDICE…………………………………………………………………………. 26
1. INTRODUÇÃO
A identidade de um povo se dá, principalmente, por sua língua e por sua cultura alimentar. Um conjunto de práticas alimentares determinadas ao longo do tempo por uma sociedade passa a identificá-la e muitas vezes, quando enraíza, se torna patrimônio cultural. O ato da alimentação, mais do que biológico, envolve as formas e tecnologias de cultivo, manejo e a coleta do alimento, a escolha, seu armazenamento e formas de preparo e de apresentação, constituindo um processo social e cultural (SILVA, SONATI, VILARTA, 2009: p. 137). 
A culinária seria então, um conjunto de pratos e alimentação, específicas de um local, região ou país, como por exemplo, a culinária seridoense, ou culinária do sertão norte-rio-grandense. Trata-se da gastronomia intensamente praticada na região do Seridó nordestino, contendo muitas influências ameríndias, portuguesas e africanas.
No início de 1553 o português trazia, quase um século de experiências nas regiões tropicais da Índia e África. O início das relações entre portugueses e ameríndios foi marcado, sobretudo pela introdução de sal, cana-de-açúcar, gado, coqueiro, bananeiras doces, cítricos, mangueiras e especiarias (ORNELLAS, 2008).
Segundo matéria publicada no site Patrimônio Imaterial[footnoteRef:1], do autor Lenart Verissimo do Nascimento, um dos mais importantes pratos seridoenses é a carne de sol, objeto de análise deste trabalho. Ela é umas das carnes típicas do Nordeste brasileiro, conhecida também como carne de vento ou carne do sertão, é um produto artesanal produzido a partir de um método de conservação de alimentos de origem animal, resultado de técnicas superficiais de salga e desidratação, salgando-se e secando-se, em local coberto e bem ventilado, peças de carne, em sua grande maioria bovina. O método de produção da carne é feito pelos marchantes, profissionais que abatem e tratam as carnes. O clima semiárido da região é fundamental para a qualidade da carne. [1: PATRIMONIO IMATERIAL. Disponível em: <http://patrimonioimateria.wixsite.com/patrimonioimaterial/carne>. Acesso em 13 abr. 2018.] 
O processo de salgar e expor a carne ao sol é considerado pré-histórico (NASCIMENTO, 2015), os registros históricos mais antigos também apontam a respeito da carne de sol datam do século XVII. É possível que a prática dessa técnica no Seridó tenha sido herdada dos portugueses, pois eles tinham a tradição de conservar alimentos expondo-os ao sol (frutas) e salgando-os (peixes, bacalhau). É provável que no litoral nordestino, onde o sal e a luz solar se encontram em abundância, nos séculos iniciais da colonização portuguesa, os pescadores passaram o processo de salgamento dos peixes às carnes. O preparo da carne de sol se difundiu nas regiões semiáridas do Nordeste porque exige um clima muito seco, característico da região.
Pouca coisa mudou da maneira tradicional de preparo da carne de sol em relação às técnicas mais recentes. Uma das principais mudanças foi que com o desenvolvimento e difusão da tecnologia de refrigeração, que conservam e evitam a decomposição ou o contato de insetos, a técnica de deixar a carne sob o sol, que ajudava na sua conservação e com o tempo foi perdendo o costume e hoje poucos produtores se utilizam da técnica.
De todas as regiões do Rio Grande do Norte, poucas construíram uma memória afetiva gastronômica tão forte junto ao seu povo quanto o Seridó. É do Seridó que se lembra quando se fala em queijos, carne de sol, doce de chouriço, paçoca, manteiga de garrafa, entre outras delícias potiguares[footnoteRef:2]. [2: DEGUSTE GASTRONOMIA. Disponível em:
<http://www.revistadeguste.com/noticia/3714>. Acesso em: 16 jun. 2018.] 
O Rio Grande do Norte é um dos principais produtores e consumidores da carne de sol, os locais mais conhecidos de produção são os municípios de Caicó e Currais Novos, a carne de sol é a base de vários pratos da culinária potiguar.
 Ela pode ser preparada de vários modos, os mais conhecidos são: o assado na brasa e frita no óleo, o assado na brasa é o mais comum no Nordeste, tanto nos restaurantes, como também no ambiente familiar[footnoteRef:3]. [3: PATRIMONIO IMATERIAL. Disponível em: <http://patrimonioimateria.wixsite.com/patrimonioimaterial/carne>. Acesso em 13 abr. 2018.] 
No sertão nordestino é muito consumida, acompanhada de farinha e rapadura. Também é feita a paçoca com carne de sol com farinha de mandioca, e ela também pode ser consumida com manteiga do sertão, cebola, farofa d'água, arroz de leite, feijão verde, macaxeirafrita ou cozida, salada (alface, tomate e cebola) e manteiga de garrafa.
A cidade de Currais Novos é um munícipio brasileiro incrustado no seio do Rio Grande do Norte (RN), localizado no Sertão do Seridó Oriental, onde apresenta clima semiárido. Seu nome deriva dos currais novos advindos da fazenda do Coronel Cipriano Lopes Galvão Bela Vista, onde com o passar dos anos também terá início os pequenos resquícios da feira livre, acentuando-se a venda de carne de sol e outros produtos, pelos anos de 1857 (JOABEL, 2008). Durante o período de colonização da cidade, foram substituídos currais antigos por outros mais resistentes, com a intenção de dificultar a dispersão do gado. A criação de bovinos foi muito importante para a economia e desenvolvimento da cidade.
Portanto, a iguaria desempenha um alto valor cultural e um importante papel no presente trabalho, que tem por objetivo perceber e analisar a importância da carne de sol como objeto de valor cultural da cidade de Currais Novos.
2. JUSTIFICATIVA
O Rio Grande do Norte, em especial, Caicó e Currais Novos, são os principais produtores e consumidores de carne de sol, que serve de base para vários pratos tradicionais da culinária potiguar. Sendo, dessa forma, um geossímbolo cultural do Seridó, ou seja, um patrimônio imaterial seridoense. Porém, com as mudanças advindas da globalização, houve a introdução de outros costumes na culinária seridoense, fazendo-se necessária a valorização cultural da carne de sol como um elemento de identidade local.
3. OBJETIVOS
3.1 Gerais
O presente trabalho tem por objetivo analisar a culinária local do Seridó norte-rio-grandense sob um prisma cultural, privilegiando neste estudo, a carne de sol comercializada na cidade de Currais Novos, RN.
3.2 Específicos 
1. Identificar como a carne de sol se constitui enquanto patrimônio imaterial para a região.
2. Compreender o papel da carne de sol na diversidade culinária local.
3. Avaliar os impactos do produto na cultura e economia/comércio da cidade.
4. REFERENCIAL TEÓRICO 
4.1 Contexto histórico
Durante o período colonial, as terras da capitania do Rio Grande foram distribuídas pela Coroa portuguesa. Assim, as terras habitadas pelos indígenas foram conquistadas e ocupadas por colonizadores. Posteriormente, a corrente colonizadora seguiu as margens dos rios, se interiorizando pela capitania: na direção sul, os colonizadores chegaram aos núcleos da Paraíba e Pernambuco, enquanto que, ao norte atingiram o vale do rio Ceará-Mirim (MONTEIRO, 2002). 
A corrente sul, na área caracterizada pela presença de Mata Atlântica, teve como base a atividade açucareira, sendo o Povoamento de Cunhaú, a fonte de renda básica da capitania, ou seja, o centro econômico. Contudo, nas demais áreas de povoamento, a principal atividade era a criação de gado (MONTEIRO, 2002).
O gado bovino era indispensável para os engenhos, pois servia como fonte de alimentação, além de força motriz nas moendas. Em consequência, as terras litorâneas eram ocupadas por engenhos de cana-de-açúcar. Nesse contexto, a criação de gado acabou por se interiorizar, tornando-se, décadas mais tarde, a principal atividade econômica do Rio Grande (MONTEIRO, 2002).
Nesse contexto, o estabelecimento pecuário foi responsável tanto pelas grandes propriedades rurais como pelo povoamento inicial. E, por não haver a necessidade de muitos homens para o cuidado do gado, vaqueiros auxiliados por índios e mestiços constituíam a mão de obra de uma fazenda, já que nessa fase os senhores rurais residiam em seus engenhos no litoral (MONTEIRO, 2002).
Esses vaqueiros eram pagos, depois de alguns anos, por meio da ‘quarta’, que consistia no pagamento com um de quatro bezerros nascidos na fazenda, tornando possível que o empregado formasse seu próprio rebanho bovino, em pequena escala, já que antes era algo acessível apenas para os colonizadores mais ricos da Colônia (MONTEIRO, 2002).
Por volta de 1750, um número maior de colonizadores portugueses passou a residir no sertão, causando consequentemente um aumento populacional. A maioria desses homens acumulavam com a terra, poder político nas áreas onde se instalaram. Por essa razão, em meados de 1755, o coronel Cipriano Lopes Galvão se instalou na região, construindo sua fazenda de gado no local, que anos mais tarde, originariam o nome do munícipio de Currais Novos (MONTEIRO, 2002).
O coronel que, por ser funcionário do Reino, tinha como missão desenvolver o gado no sertão do Seridó, especificamente na atual Currais Novos, afastando-se de Pernambuco, que por sua vez, administrava os currais situados no Rio Grande do Norte e no Ceará, em zonas de criação de gado bovino (SOUZA, 2008).
A criação de gado como atividade econômica básica do sertão e destinada ao abastecimento da zona açucareira litorânea nordestina foi se desenvolvendo cada vez mais, dando origem aos ‘caminhos de gado’, atuais estradas do estado. E, à medida que as fazendas se tornavam autossuficientes, ou seja, produziam o necessário para a subsistência, o comércio se deu pela troca de alimentos (MONTEIRO, 2002).
Durante a segunda metade do século XVIII, o desenvolvimento da pecuária na capitania gerou uma nova atividade econômica: a indústria da carne seca. Às margens dos rios Mossoró e Assú, estabelecimentos chamados ‘oficinas’ foram construídas, e tinham como objetivo a produção de carne bovina salgada, que eram, posteriormente, exportadas para outras capitanias (MONTEIRO, 2002).
Com a ascensão da descoberta do ouro em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e sul da Bahia, houve intensa imigração, gerando aumento populacional da Colônia, ou seja, a necessidade de uma produção maior de suprimentos. Tornando as ‘oficinas’ uma alternativa econômica para os criadores de gado das capitanias do Rio Grande, do Ceará e do Piauí (MONTEIRO, 2002). Currais Novos então, se destacou pela criação de gado que, vem até os dias de hoje, se desenvolvendo de maneira extensiva (SOUZA, 2008). 
Atualmente, a pecuária permanece sendo um importante fator para a economia básica do município, bem como a exportação da carne de sol. E por fazer parte do dia-a-dia da população, acabou sendo introduzida, ao longo do tempo, a vários pratos da culinária potiguar, recebendo assim, um alto valor cultural (SOUZA, 2008). Portanto, a produção e modificação dos pratos com carne de sol se trata de um processo de longa duração e não de um fator histórico pontual, tornando-se um importante patrimônio imaterial do munícipio de Currais Novos (NASCIMENTO, 2015). Segundo a UNESCO, pode-se citar como manifestações do Patrimônio Cultural Imaterial
‘’(...) as tradições, os saberes, as técnicas, as festas e diversos outros aspectos e manifestações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação como a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana’’ (GIMENES, 2006, p. 6).
O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (BRASIL, 1997) não estabelece um padrão de identidade e qualidade da carne de sol, nem seu processo de fabricação. Desse modo, a elaboração desse produto segue tradições regionais. Nesse contexto, a alimentação como fenômeno cultural vai caracterizar determinadas regiões, desenhar territorialidades gastronômicas e ser concebida enquanto patrimônio turístico (GIMENES, 2006). É neste sentido que Currais Novos vai ao encontro da transmissão da herança cultural da mesma, em um contexto de reatualização e recriação de uma identidade.
Currais Novos é um município imponente na região Seridó pelo comércio e suas belezas. Currais Novos dispõe de atrativos turísticos, geossítios, atrativos naturais, grandes eventos programados, a forte religiosidade do povo, suas crenças, artesanato e culinária, entre outros elementos naturais e culturais,se tornando a capital do Seridó Oriental, sendo a cidade mais importante, influente e populosa da microrregião (IBGE, 2015), com enorme potencialidade a ser mais explorada e a se consolidar, contribuindo com a interiorização do turismo.
Relevante na região Seridó pela a centralidade econômica, bem como por ser o ponto de entrada para a Região turística, O Polo Seridó, que junto com Caicó são os municípios com maior expressividade comercial, populacional e de equipamento turísticos (SOUZA, 2008).
O desenvolvimento de Currais Novos divide-se por meio da criação de gado bovino e sofreu ciclos econômicos bem definidos, sendo estes vinculados diretamente as atividades econômicas do município (SOUZA, 2008).
A atividade turística tem um papel fundamental para que a gastronomia se torne motivo de orgulho para determinado local, pois por intermédio do turismo vários pratos e a culinária cresce e torna-se reconhecido entre outras pessoas e outras comunidades, eventos divulgam a gastronomia, roteiros turísticos, turistas divulgam, entre outras formas, e assim, a comunidade se beneficiaria e tornaria a culinária reconhecida, porém, este segmento tem suas complexidades como mostra Fagliari (2005, p. 30)
“O turismo gastronômico é um segmento bastante polêmico da atividade turística. Para muitos estudiosos, é difícil compreender a importância que alimentos e bebidas podem ter para os viajantes. Mais ainda: é controversa a percepção de diversos pesquisadores com relação à existência do turismo gastronômico como segmento específico do turismo.”
“A peculiaridade dos pratos da região Seridó é reconhecida em várias regiões do Nordeste, pois traz na sua essência sabores únicos que dão fama a gastronomia do local”, como por exemplo a carne de sol das cidades de Caicó e Currais Novos (RN), sendo levada esta mercadoria até hoje para a capital do Rio Grande do Norte, como afirma Gomes (2004, p. 42):
“Até hoje, este tipo de mercadoria é trazido do Seridó para a capital, só que de maneira bem diferente, em pés redondos, viagem esta que se de Caicó para Natal demora em torno de quatro horas e se de Currais Novos, entre duas e duas e meia de percurso. Citamos essas duas cidades, por serem elas que melhor produzem carne de sol em todo país.”
O Rio Grande do Norte, em especial, Caicó e Currais Novos, são os principais produtores e consumidores de carne de sol, ingrediente que serve de base para vários pratos tradicionais da culinária potiguar. Sendo, dessa forma, um geossímbolo cultural do Seridó, ou seja, um patrimônio imaterial seridoense. Porém, com as mudanças advindas da globalização, houve a introdução de outros costumes na culinária seridoense, fazendo-se necessário a valorização cultural da carne de sol como um elemento de identidade local. A carne de sol é feita de maneiras diversas país afora, mas, segundo consenso popular, poucos a preparam tão bem quanto o pessoal do Seridó (GLOBO RURAL, 2002).
Diante da declaração, pode-se observar que a carne de sol é rica em tradição, história, cultura e sabores, com influências dos ancestrais como: portugueses, índios e demais povos que contribuíram para esta rica culinária tornando-se um atrativo gastronômico no Seridó Potiguar.
4. 
5. METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido pela pesquisa de campo em duas etapas, primeiramente, no dia 8 de maio de 2018, foi realizada uma entrevista com a proprietária de um restaurante, localizado no centro da cidade de Currais Novos, Rio Grande do Norte. A entrevista estruturada foi composta por 11 perguntas efetuadas oralmente, nas quais o principal foco foi a culinária presente no estabelecimento.
As perguntas se dirigiram a fundação e missão do restaurante; a escolha do estilo regionalizado; a maneira de como a cultura seridoense se manifesta no estabelecimento; ao consumo da carne de sol, além dos pratos tradicionais; inovações; adaptações; acrescentando-se ainda, perguntas relacionadas ao consumo; concorrência e a intenção de oferecer pratos regionais, como também a fidelidade dos clientes. 
A entrevista que foi registrada, fez com que houvesse uma percepção mais ampla da influência cultural da carne de sol para a cidade, além de enfatizar a criatividade, a diversidade de pratos, como também, a significativa importância que essa proteína remete a população local.
Além da entrevista, a pesquisa de campo teve o segundo momento, no dia 30 de maio de 2018 foi aplicado um questionário estruturado através do método de amostragem por comodidade, com consumidores/vendedores que transitavam no Mercado Modelo Nerival Araújo e no 1º canteiro da feira coberta, localizadas também na cidade de Currais Novos, RN, sendo um total de 18 sujeitos pesquisados.
Posteriormente, o mesmo questionário foi aplicado para 16 alunos do curso superior de Tecnologia em Alimentos e Tecnologia em Sistemas para Internet, do IFRN Campus Currais Novos, de forma virtual, através do Google Docs, pelo link (https://goo.gl/forms/qkZjxwQGk7WaFupO2). O conjunto de questões, apresentava 6 itens compostos por perguntas objetivas, e uma subjetiva, caso não houvesse uma opção desejada.
Os aspectos envolvidos eram voltados ao consumo e preferência de carnes (bovina; suína; frango e peixe), evidenciando a carne de sol, que era o principal alvo da pesquisa. No geral, resultou-se em respostas bastante diversificadas em relação aos dois tipos de públicos, que de alguma maneira implicou em grande relevância no complemento da pesquisa. 
Por fim, todos os dados obtidos por pessoas de uma faixa etária entre 20 e 60 anos de idade, foram contabilizados através do programa Excel, singularizando os resultados através de gráficos em formato de pizza, composto por percentagens, para uma melhor análise e levantamento das conclusões.
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesta seção serão apresentados os resultados adquiridos pela coleta de dados com a entrevista à empresária de um restaurante e aplicação de questionários aos consumidores do mercado de carnes da cidade de Currais Novos, RN.
6.1 Resultado da entrevista realizada no restaurante X
O restaurante X, situado na cidade de Currais Novos, RN, foi fundado em julho de 2015 e tinha como perfil inicial uma alimentação voltada para uma dieta natural. Ao longo do tempo, no entanto, o desejo do cliente implicou na necessidade de mudanças, na qual, resultou no atual estilo sertanejo, que se relaciona diretamente com o Seridó.
A realização da entrevista tinha como objetivo identificar a atuação da carne de sol na diversidade social e culinária da cidade de Currais Novos, RN. A partir da visão da proprietária do estabelecimento, os resultados foram expressos em relação a: escolha do estilo regionalizado; manifestação da cultura seridoense no estabelecimento; consumo da carne de sol e pratos tradicionais feitos a partir dela e adaptações. 
Em relação à escolha do estilo regionalizado para o restaurante, a proprietária afirmou que sua própria rede de clientes influenciou a mudança, visto que a comida sertaneja era mais pedida por manter relação direta com a cultura do Seridó. A respondente ressalta também, que muitos de seus clientes buscam o restaurante pela carne de sol, justamente devido ao caráter regional que o estabelecimento transmite. 
Quanto à manifestação da cultura seridoense, o estabelecimento expressa as características de variadas formas, sendo desde seu ambiente físico e, principalmente, os pratos oferecidos. Para o aspecto da carne de sol, a proprietária enfatiza o consumo significativo do alimento, estando presente na maioria de seus pratos e atuando como elemento de maior destaque do restaurante. 
Em relação aos pratos tradicionais e adaptações feitas a partir da carne de sol, o restaurante inova-se para apresentações variadas de um cardápio diário, realizando: churrasco ao molho de alho e mostarda; carne de sol à parmegiana; carne de sol com camarão; carne de sol na manteiga; paçoca de carne de sol; carne de sol ao molho quatro queijos; carne de sol gratinada; carne de sol na macaxeira; baião de dois com carne de sol; feijão verde com carne desol na nata e lasanha de carne de sol. 
Ao se analisar os resultados da entrevista, verifica-se a significância da carne de sol para diversos fatores. Portanto, a entrevista permite perceber que a carne de sol é um alimento que permanece atraindo muitas pessoas, seja pela regionalização que agrega ou pelo sabor marcante.
6.2 Resultados do questionário aplicado na cidade de Currais Novos, RN 
O número de participantes (34) corresponde aos alunos do Instituto Federal e dos consumidores do mercado de carnes da cidade de Currais Novos, RN. O presente estudo verificou o papel da carne de sol nos seguintes aspectos: tipos de carnes mais consumidas; frequência de consumo de carne; consumo de carne de sol; razões para consumir carne de sol; comidas feitas a partir da carne de sol mais consumidas e locais de consumo de carne de sol. 
Para o aspecto de tipos de carnes mais consumidas (Gráfico 1), o questionário apresentava seis itens: carne de frango; peixe; carne bovina, sendo esta na forma de carne verde ou carne de sol; e carne de porco. As taxas obtidas demonstram um consumo maior da carne de sol, não havendo índices para a carne verde e para carne de peixe.
Gráfico 1: Resultado do questionário referente aos tipos de carne mais consumida.
Fonte: Elaborado pelos pesquisadores (2018).
Quanto à frequência de consumo de carne, é válido salientar uma taxa obtida de 76% para consumo diário, e 24% para quem consome às vezes. Já em relação ao consumo de carne de sol (Gráfico 2), foram obtidos índices que expressam uma taxa significativa de consumo para o produto, embora, apresente também uma taxa considerável de pessoas que não consomem carne de sol e de pessoas que consomem às vezes.
Gráfico 2: Resultado do questionário para o aspecto de consumo de carne de sol.
Fonte: Elaborado pelos pesquisadores (2018).
Em relação às razões para consumir carne de sol (Gráfico 3), os índices se apresentam discrepantes, com índices significativos para o motivo da carne de sol ser mais saborosa, seguida por ela ser mais acessível, havendo também uma porcentagem de pessoas que não consomem carne e de quem a consome apenas por motivos econômicos.
Gráfico 3: Resultado do questionário para o aspecto de razões para consumir carne de sol.
Fonte: Elaborado pelos pesquisadores (2018).
Para o aspecto de comidas feitas a partir da carne de sol (Gráfico 4), a carne de sol assada prevalece, sendo seguida pela paçoca e pela carne de sol na nata.
Gráfico 4: Resultado do questionário referente as comidas de carne de sol mais consumidas.
Fonte: Elaborado pelos pesquisadores (2018).
Os índices referentes aos locais de consumo da carne demonstram que a maior parcela das pessoas, que responderam ao questionário, consome a carne na própria residência, tendo em sequência os espetinhos, os restaurantes e ainda uma porcentagem de pessoas que não consomem a carne em nenhum desses locais, não sendo informado outro estabelecimento.
Gráfico 5: Resultado do questionário referente aos locais de consumo da carne de sol.
Fonte: Elaborado pelos pesquisadores (2018).
Ao se comparar os resultados para o geral de itens avaliados, pode-se observar que houve uma grande variação entre os índices relacionados à carne de sol. Portanto, baseado no questionário aplicado, a carne de sol continua sendo a mais consumida, em suas variadas formas, e aceita entre os consumidores, devendo-se isso principalmente ao seu sabor marcante.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados apresentados, foi possível concluir que a carne de sol apresenta uma significativa importância cultural e econômica para o município e os habitantes da cidade, construindo-se como um patrimônio imaterial. Em relação ao papel na diversidade culinária, as modificações dos pratos a partir do referido produto, tratam-se de um processo evolutivo que é ricamente explorado no restaurante. Ademais, embora, o frango tenha um consumo expressivo no município, a carne de sol ainda possui um maior destaque, sendo positivamente saborosa e expressivamente consumida na forma assada e, em sua maioria, nas residências. Portanto, o estudo permite comprovar o impacto expressivo do produto no comércio e na economia Currais Novos, RN.
8. REFERÊNCIAS 
AZEVEDO, Juciclea Medeiros de. Culinária do Seridó: um elemento da identidade territorial. 2011. 131 f. Dissertação (Mestrado em Dinâmica e Reestruturação do Território) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011. Disponível em: <https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/18920> Acesso em: 21 de junho de 2018.
BRASIL. Ministério da Agricultura. Departamento Nacional de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – R.I.I.S.P.O.A. Aprovado pelo decreto n. 30691 de 29 de março de 1952, alterado pelo Decreto 1255 de 25 de junho de 1962. Alterado pelo Decreto 2244 de 04/06/1997. Brasília, DF, 1997.
GIMENES, Maria Henriqueta Sperandio Garcia. Patrimônio Gastronômico, Patrimônio Turístico: uma reflexão introdutória sobre a valorização das comidas tradicionais pelo IPHAN e a atividade turística no Brasil. 2006. Disponível em: <https://www.ucs.br/ucs/tplSemMenus/eventos/seminarios_semintur/semin_tur_4/arquivos_4_seminario/GT03-1.pdf > Acesso em: 17 de junho de 2018.
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução a história do Rio Grande do Norte. 2. Ed. rev. – Natal (RN): Cooperativa Cultural, 2002. 302 p.
NASCIMENTO, Lenart Verissimo do. Carne de Sol. Site, 2015. Disponível em: <http://patrimonioimateria.wixsite.com/patrimonioimaterial/carne>. Acesso em: abril de 2018.
ORNELLAS, Lieselotte Hoeschel. A alimentação através dos tempos 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2008.
RODRIGUES, Washington. Caicó realizou seu terceiro festival gastronômico. Caicó: Site, 2018. Disponível em: <http://www.revistadeguste.com/noticia/3714>. Acesso em: junho de 2018.
SOUZA, Joabel Rodrigues de. Totoró, berço de Currais Novos. Currais Novos: EDUFRN, 2008.
UFRN. Inventário da oferta turística do município de Currais Novos. Currais Novos, 2016. 
APÊNDICE: Perguntas da entrevista realizada no restaurante X
· Por que o restaurante escolheu ter um estilo regionalizado?
· Quando o restaurante foi fundado?
· Qual a missão do restaurante?
· Como a cultura seridoense se manifesta no estabelecimento?
· A carne de sol possui um consumo significativo entre seus clientes?
· Quais os pratos tradicionais oferecidos, que envolvem a carne de sol? O restaurante apresenta em seus pratos com carne de sol algum tipo de inovação nestes produtos?
· Quais os pratos adaptados, envolvendo a carne de sol?
· Quais os mais consumidos?
· Que pratos com carne de sol o restaurante oferece, diferentes da concorrência?
· Qual a sua intenção em oferecer tais pratos?
· Seus clientes costumam ser locais ou de outras regiões? Quais pratos de carne de sol eles preferem?
APÊNDICE: Questionário aplicado 
1. Qual o tipo de carne que você mais consome? 
( ) Frango
( ) Peixe
( ) Carne bovina ( ) Sol ( ) verde 
( ) Porco 
( ) Nenhuma 
2. Com que frequência você consome carne?
( ) Diariamente ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Nunca
3. Você costuma consumir carne de sol?
( ) Sim
( ) Não
( ) Às vezes
4. Por que você consome carne de sol?
( ) Por ser mais barato
( ) Por ser mais acessível 
( ) Por ser mais saborosa
( ) Não consumo
5. Em quais locais você costuma consumir a carne de sol?
( ) Residência
( ) Restaurantes 
( ) Espetinhos
( ) Nenhum desses locais
6. Qual a forma que você mais consome carne de sol?
( ) Paçoca
( ) Carne de sol na nata
( ) Salgados
( ) Escondidinho de macaxeira 
( ) Outros
Se você tem outra opção, qual?

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