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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS Mestrado Profissional em Administração Pública 1 ALUNO: Alef Rodrigo Pereira Explique em que consiste a abordagem multiparadigmática no campo dos estudos organizacionais: O autor da obra: Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações, Gareth Morgan, inicia sua abordagem sobre os múltiplos paradigmas e seu impacto no contexto da teoria organizacional utilizando o exemplo de Mannheim (1936), que aborda a figura do filho de um camponês que cresceu dentro das estreitas fronteiras de seu vilarejo (um contexto rural), e que posteriormente vai para a cidade e se adapta a vida urbana. Obviamente esse camponês dispunha de uma série de valores e visões (um ponto de vista em relação a determinados aspectos da sociedade que ele via como verdade, exemplificando) de mundo quando vivia nesse vilarejo as quais posteriormente mudaram devido a sua imigração para a cidade (área urbana). De modo semelhante, essa experiência ocorre no campo da teoria organizacional. O paradigma é um conceito das ciências e da epistemologia que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a representação de um padrão a ser seguido e é utilizado nos estudos organizacionais, pois nesse aspecto, molda ou retrata a realidade de um contexto ou grupo (no campo dos estudos organizacionais, um grupo teórico). Para Kuhn (1962), o termo paradigma possui três amplos sentidos: pode ser visto como uma completa visão da realidade, ou modo de ver; estar relacionado à organização social da ciência em termos de escolas de pensamento ligadas a tipos particulares de realizações científicas; e é relacionado à utilização concreta de tipos específicos de ferramentas e textos para o processo de solução de quebra-cabeças científicos. Os paradigmas podem ser observados como realidades alternativas, que podem ser retratadas como amplas visões de mundo refletidas em diferentes grupos de suposições metateóricas: funcionalista, interpretativista, humanista radical; e estruturalista radical. O paradigma funcionalista baseia na pressuposição de que a sociedade tem existência concreta e real e caráter sistêmico que visa produzir um estado de coisas ordenado e regulado. Este estimula uma abordagem para a teoria social que focaliza o entendimento do papel dos seres humanos na sociedade. O comportamento é sempre visto como algo que está contextualmente ligado a um mundo real de relacionamentos sociais concretos e tangíveis. O paradigma Interpretativista se estabelece na visão de que o mundo social possui uma situação ontológica duvidosa e que o que passa por realidade social não existe em sentido concreto, mas é produto de uma experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos. A sociedade é entendida a partir do ponto de vista do participativo da ação, em vez do observador. O paradigma humanista radical, assim como o paradigma interpretativista, enfatiza como a realidade é socialmente criada e sustentada, mas sua análise possui viés no interesse em alguma coisa que pode ser descrita como uma patologia da consciência, pela qual os seres humanos tendem a se aprisionar dentro de fronteiras da realidade que eles mesmos criam e sustentam. Essa perspectiva se sustenta na visão de que o processo de criação da realidade pode ser influenciado por processos psíquicos e sociais que canalizam, restringem e controlam as mentes dos seres humanos, afim de aliená-los em relação às potencialidades inerentes à sua verdadeira natureza humana. E por fim, no paradigma estruturalista radical, a realidade, assim como a do humanista radical é baseado na visão de que a sociedade é uma força potencialmente dominadora. Porém, ela está vinculada a uma concepção materialista do mundo social, definida por estruturas sólidas, concretas e ontologicamente reais. Observa-se a realidade como uma coisa que existe por si própria, de forma independente de como é percebida e reafirmada pelas pessoas em suas atividades do dia-a-dia. Ocorre no campo dos estudos organizacionais o mesmo que ocorreu com o jovem camponês de Mannheim, pois apenas será possível a evolução do campo a partir do momento em que diferentes visões de mundo, ou diferentes teorias forem exploradas. Em síntese, o progresso da teoria organizacional está condicionado a adoção de múltiplas perspectivas – múltiplos paradigmas. As abordagens multiparadigmáticas auxiliam na exploração de fenômenos complexos e paradoxais ao permitir aos teóricos observar diversas perspectivas. Essa abordagem com base na utilização de múltiplos paradigmas é chamada de Metatriangulação, e é uma estratégia de aplicação da diversidade paradigmática que visa promover maior entendimento e criatividade. Alguns acadêmicos procuram enviesar suas pesquisas com base nas chamadas revisões multiparadigmáticas, que envolvem o reconhecimento e agrupamento de teorias existentes (por exemplo, a utilização de paradigmas de uma teoria X buscam caracterizar uma outra teoria Y). Uma segunda abordagem dos teóricos, trata da pesquisa multiparadigmática. Nessa abordagem, os pesquisadores vão além da revisão literária utilizando empiricamente as lentes de paradigmas divergentes. Desse modo, os teóricos utilizam paradigmas múltiplos (seus métodos e seus respectivos focos) na coleta e na análise de dados, afim de identificar as variadas representações de um fenômeno complexo. Uma terceira abordagem multiparadigmática auxilia os teóricos na administração de suas racionalidades limitadas. Essa premissa baseia-se no conceito de metaparadigmas, que tratam os paradigmas como meias verdades. O objetivo, nesse contexto é o de compreender as diferenças e similaridades que possibilitem a compreensão de interpretações conflitantes, constantemente presentes no campo da teoria organizacional. Por meio das discussões feitas em torno das abordagens epistemológicas nos estudos organizacionais, percebe-se, em primeiro lugar, que a ortodoxia deixou seu absolutismo de lado no momento em que Burrell e Morgan (1979) debateram sobre a utilização de múltiplos paradigmas em estudos organizacionais, baseados numa ontologia, epistemologia, natureza humana e metodologia que teriam em tese a capacidade de fundamentar as teorias organizacionais modernas. A adoção do pluralismo teórico e metafórico auxilia no desenvolvimento de novas perspectivas para a análise organizacional. Nenhum princípio, de forma isolada, é capaz de explicar o comportamento das organizações e da sociedade. A reflexão conjunta sobre diferentes componentes da Teoria organizacional e seus fundamentos pode resultar em novas orientações ou reorientações na construção de arcabouços teóricos que incorporem num quadro teórico analítico os aspectos macro e micro, objetivo e subjetivo, estrutura e agência, e indivíduo e sociedade. É por meio do agrupamento paradigmático que o pesquisador tende a ser mais reflexivo. Observa-se também que a análise multiparadigmática apresenta limitações, mesmo celebrando a pluralidade, a ambiguidade e a possibilidade de contemplar diferentes visões da realidade; pois o teórico pode, diante de tamanha gama contextual e interpretativa, deixar de definir um ponto de referência em sua abordagem. Marianne W. Lewis em seu artigo: “Metatriangulação: a construção de teorias a partir de múltiplos paradigmas”, relata as palavras de Morgam (1983) de que devemos ir além das diferenças que nos separam, pois apenas assim, seremos capazes de alcançar os meios efetivos para descobrir a natureza e as limitações da atividade de pesquisa. Dessa forma, tomamos ciência do que estamos fazendo, porque estamos fazendo e como poderíamos fazer de maneira diferente, se assim definirmos. Tem-se consciência de que todo trabalho científico tem limitações, independentemente de seu tipo ou natureza. Os fundamentos teóricos abordados pela própria visão multiparadigmáticadescrita pelos estudiosos e pesquisadores mencionados no transcorrer dos textos caracteriza-se como uma teoria. Assim sendo, como reflete visões subjetivas dos autores pelas experiências vivenciadas como docentes e pesquisadores no campo das Teorias da Administração e das Organizações, pode e deve ser questionada, pois assim caracteriza-se o conhecimento, pela constante renovação de ideias.
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