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AULA 6 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL Profª Ana Paula Picheth 2 CONVERSA INICIAL Chegamos ao fim de um módulo e, como em todo encerramento, encontraremos nesta aula as reflexões que nos permitirão conhecer as estratégias e soluções que advêm do processo intenso e significativo de realizar uma avaliação psicopedagógica institucional. A busca por alternativas que solucionem ou apontem caminhos é inerente à caminhada de desvendar as causas de um sintoma que dificulta a aprendizagem. Por isso, avaliar e intervir são paralelos que se complementam, se cruzam e seguem, objetivando um resultado satisfatório que, no caso deste módulo, é ver o processo de aprender ser possível e fluir. Só avaliar não traz resultados, mas saber intervir faz toda a diferença! CONTEXTUALIZANDO Conhecer a causa de determinado sintoma é uma etapa do processo de solução. E intervir para que isso aconteça é a cura! O trabalho do psicopedagogo institucional se define praticamente nesses dois grandes momentos: o primeiro, quando, por meio de uma queixa, é sinalizado um sintoma, dando início a um processo de investigação que resulta na apresentação das causas inerentes à situação colocada; o segundo ocorre quando são apresentadas as possíveis soluções e se estabelece um plano de intervenção que possibilitará a transformação de um sistema. Saber como intervir e qual é o melhor caminho é o grande desafio que apresentaremos nesta aula. TEMA 1 – INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA De acordo com o site Significados, a palavra “intervenção” é o: substantivo feminino que significa o ato ou efeito de intervir e indica uma intercessão ou mediação em alguma situação adversa. No âmbito da medicina, uma intervenção é uma operação ou procedimento cirúrgico, feito com o objetivo de tratar algum problema de um paciente. Em inglês, a palavra intervenção é traduzida por intervention. Uma intervention é a manifestação de apoio de amigos e/ou familiares em relação a uma pessoa que é viciada em alguma coisa ou tem um comportamento problemático. Numa intervention, os amigos identificam o problema e se disponibilizam a ajudar no que for preciso. 3 Pensando no sentido da palavra intervenção e aplicando seu significado para intervenção psicopedagógica, fica evidente que intervir é uma ação que determina um movimento antecipatório e intencional. A intervenção psicopedagógica na instituição educacional estabelece um elo que visa produzir alguma transformação, sempre buscando delinear seu objeto de estudo que, dependendo das razões pelas quais o psicopedagogo esteja ali, normalmente são situações que envolvem a aprendizagem propriamente dita ou sobre o aprender de alguém além da sala de aula. Se o psicopedagogo for contratado para uma ação específica, como é o caso de realizar uma avaliação diagnóstica, ou mesmo quando faz parte do quadro de colaboradores de uma instituição, terá como alvo de estudo e ação o aprender. Mas como fazer a intervenção para que a aprendizagem aconteça? Não existem receitas nem fórmulas prontas para magicamente resolver os problemas de aprendizagem da instituição e do sujeito que dela faz parte. Mas há, na concepção de Operatividade de Pichon-Rivière (1988), uma forma de instrumentalizar, de forma efetiva e adequada aos princípios do desenvolvimento da autonomia humana, com os profissionais que atuam na aprendizagem. Assim, a operatividade deve ser entendida como a capacidade de o indivíduo agir por si, sem esperar orientações e soluções prontas de seu coordenador. É esperado que ele desenvolva a sua autonomia. Por essa razão, o psicopedagogo intervém na instituição educacional com base em ações que demandem uma atitude operativa, o que obriga o indivíduo a buscar a operatividade e a resolução do problema. O profissional cria, mantém e estimula a prática comunicativa a fim de que o grupo possa se desenvolver e, ao progredir, ele consegue realizar a tarefa. Essa maneira de conceber a aprendizagem está vinculada também à teoria do vínculo (de Pichon-Rivière) e à capacidade de adaptação que ocorre quando o aprender passa por dentro do sujeito e se efetiva. Trata-se, portanto, de uma ligação que o transforma internamente e transforma suas ações e o que o rodeia, num processo dialético e constante de evolução. As ações que serão adotadas, visando à operatividade do aprendiz, podem ter caráter objetivo e subjetivo. Quando falamos de objetividade, referimo-nos aos recursos físicos, materiais e práticos em torno de um propósito identificado como causa da dificuldade de aprender. 4 Um bom exemplo é o de um aluno não entende equações porque não conhece a tabuada. Nesse caso, será retomada com ele a construção da ideia multiplicativa por meio de exercícios e jogos. Outro exemplo seria o de uma escola em que as funções e os cargos não são definidos. Operativamente de forma objetiva, precisa ser construído um organograma institucional. Quando falamos de subjetividade, estamos nos referindo a como proporcionar a esse aluno ou a essa escola a oportunidade de refletir e se perceber no processo para que o aprender seja uma vontade. São esses conceitos da atitude operativa na subjetividade que serão trabalhados nesta aula. E, ao final dela, também saberemos como se constrói e se trabalha a subjetividade do aprender. TEMA 2 – ATITUDE OPERATIVA Dentre as infinitas possibilidades de atuação psicopedagógica institucional, vamos nos ater aos caminhos construídos por Pichon-Rivière quando nos apresenta o conceito de grupo operativo e atitude operativa. Segundo Barbosa (2001), o conceito de atitude operativa diz respeito à atitude assumida por uma pessoa diante do interlocutor ou dos interlocutores, com o objetivo de provocar nos sujeitos que aprendem a busca pela operatividade, da resolução de um problema, numa determinada situação. Dessa forma, é possível encontrar as soluções mais adequadas sem predeterminá-las. Isso não significa que o responsável pela coordenação da situação-problema não tenha propósitos, nem conheça os possíveis caminhos para a realização da tarefa, mas que ele, ao perceber os entraves que levam um indivíduo, ou um grupo, a não ter clareza do todo, interfere para que haja conscientização, comunicação adequada, análise de todas as possibilidades e, por fim, a opção pela melhor forma de realização, que seja a mais eficaz para o momento. As atitudes operativas são diferentes possibilidades de ações subjetivas utilizadas para desestabilizar o aprendiz e provocá-lo à busca do equilíbrio. São doze situações de operatividade descritas por Jorge Visca e algumas complementares citadas por Laura Monte Serrat Barbosa que, a partir de então, serão desenvolvidas pelos temas subsequentes desta aula. 5 2.1 Mudança de situação Em um contexto em que tudo é sempre feito da mesma forma, acabam surgindo situações de conflito. Assim, propor uma mudança é possibilitar a quebra de hábitos costumeiros que paralisam o aprendiz, os quais fazem com que ele aja de forma automática, sem refletir. A atitude operativa de mudança pretende fazer o indivíduo pensar em alternativas, perceber possibilidades e sentir-se motivado a buscar formas diferentes para solucionar seus problemas. Em uma instituição educacional é comum a coordenadora do ensino fundamental II ficar muito atarefada na época de enviar as provas que serão aplicadas aos alunos para a impressão. Isto tudo porque os professores não cumprem as datas combinadas e já é um ritual ficar correndo atrás deles e ajustar os atrasos e a correria. Um exemplo de atitude operativa de mudança de situação: estabelecer em grupo, numa reunião pedagógica, que as provas não entregues para impressão dentro do prazo deverão ser levadas para a gráfica ou o xerox pelo próprio professor, que se responsabilizará pela tarefa de reproduzi-las,mantendo os prazos de aplicação. 2.2 Informação Quando o grupo ou algumas pessoas dele estão paradas ou imobilizadas numa atividade, a atitude operativa da informação serve para provocar um movimento em relação à tarefa, fornecendo a elas informações, não acabadas ou prontas, sobre o que é preciso ser feito. Informar, por exemplo, onde o aprendiz pode obter ajuda para alcançar o que busca não se constitui como uma resposta pronta e, assim, essa informação pode ser entendida como aquela que leva a pessoa a agir e não somente a executar e/ou reproduzir. Uma turma de 7º ano está reunida em grupo na escola para a realização de um trabalho sobre os efeitos do tabaco no organismo. Mesmo com todos já nas suas equipes, ficam somente conversando, até falam do assunto, mas não iniciam a produção da atividade. Um exemplo de atitude operativa de informação: nas revistas e nos livros que estão na estante do lado esquerdo da sala, vocês podem buscar imagens e conteúdo sobre o assunto. 6 2.3 Informação com redundância Da mesma forma que a atitude operativa de informação, informar com redundância trata também de trazer o grupo à tarefa, oferecendo alguma informação com o exagero de um gesto, da entonação da voz, repetindo várias vezes a mesma palavra, cantando, ou executando qualquer outra forma de comunicação que sublinhe, de maneira simbólica, a informação oferecida. Numa classe de 5 anos da educação infantil, estão todos muito eufóricos com a perspectiva de receberem uma visita na sala de aula, a autora de um livro infantil que acabaram de ler. Quando ela chega, a gritaria e falação são intensas e ninguém consegue conversar ou se escutar. Mesmo as professoras falando firmemente e bem alto, isso só faz a confusão sonora aumentar. Um exemplo de atitude operativa de informação com redundância: a autora, ao perceber o contexto, começa a recitar: quem está me ouvindo, bate palmas uma vez (e bate palmas); e continua: quem está me ouvindo, bate palmas duas vezes (e bate palmas). Assim vai até que todos tenham entrado na brincadeira e estejam prontos para iniciar o bate-papo. 2.3 Modalidade de alternativa múltipla Essa atitude operativa objetiva considerar o conhecimento do aprendiz, oferecendo algumas alternativas que o levem à reflexão, à escolha, ao teste e à conclusão. Veja o que diz Barbosa (2010) sobre o assunto: A modalidade de alternativas múltiplas é uma intervenção que oferece para o aprendiz mais de uma alternativa, incluindo a que ele deseja realizar. Por exemplo: se a criança deseja saber se pode pintar a maçã de vermelho, responde-se “pode pintar de vermelho, de verde, de azul, lilás ou qualquer outra cor que deseje”. É uma intervenção a ser realizada em momentos de paralisação ou de extrema dependência. Dessa forma, sem dizer o que o sujeito deve fazer, oferece-se uma gama de possibilidades e ele inicia seu exercício de autonomia fazendo escolhas. (Barbosa, 2010) Numa escola que realiza assembleia com seus alunos, num determinado dia é trazido por eles a solicitação de aumentar o recreio de 20 minutos para meia hora. Um exemplo de atitude operativa de modalidade de alternativa múltipla: a direção explica que legalmente as escolas são obrigadas a cumprir 200 dias letivos e/ou 800h de trabalho anuais. Para que o aumento do tempo de recreio não interfira no calendário obrigatório e já aprovado, poderiam escolher 7 chegar 10 minutos antes ou sair 10 minutos depois do horário normal para compensar essa diferença. 2.4 Acréscimo de modelo De acordo com Oliveira (2009), o acréscimo de modelo é uma intervenção que visa “apresentar uma outra opção para que determinada atitude possa ser efetivada. Em vez de dizer “não é assim” se diz “esta é uma forma de pensar, porém vocês poderiam considerar mais este aspecto”. Se um professor sempre dá aula passando os assuntos no quadro, o psicopedagogo pode sugerir: “Percebo que já sabe fazer aulas expositivas no quadro, que tal tentar fazê-las usando o computador e um datashow?” ou “Como pode jogar sem usar os pés?”, enfim acrescentar novos elementos sem desvalorizar os já conhecidos pelo aprendiz. As crianças do 2º ano do EF I todos os dias chegam à escola e levam suas mochilas até um espaço perto da cantina e vão brincar. Quando toca o sinal de entrada, têm que ir até esse local buscar as mochilas e, quando retornam, às vezes a professora já entrou em sala e reclama dos seus atrasos. Um exemplo de atitude operativa de acréscimo de modelo: a professora, em vez de reclamar do atraso, pode procurar entender como ele se dá e sugerir que as mochilas sejam deixadas em outro local mais próximo e seguro, inclusive todos podem verificar isso juntos para decidir sobre a nova possibilidade de lugar. 2.5 Mostra Mostra é uma atitude operativa que não usa palavras e sim movimentos. Objetiva a retomada do comportamento do sujeito ou do grupo, sem precisar corrigi-lo verbalmente. Como Barbosa (2010) defende, essa é uma intervenção que não se vale da fala para se expressar, e sim do gesto. Sem palavras, mostramos para o sujeito outras possibilidades durante a realização da tarefa. Por exemplo, [...] se o(a) aprendiz ao ler uma história lê uma palavra no lugar de outra, pode-se mostrar a palavra, apontar para ela várias vezes, sem chamar a atenção por meio da linguagem oral. Numa brincadeira em família, todos jogam Ludo. Um dos filhos, o de menor idade, às vezes joga o dado e não caminha o número de casas correspondentes (ou anda a mais ou a menos em quase todas as partidas). 8 Um exemplo de atitude operativa de mostra: para não ter de corrigi-lo a cada rodada, uma atitude de mostra é, quando ele caminhar o número de casas errado, apontar para o dado para que ele perceba e reconte, fazendo o movimento correto. 2.6 Explicação intrapsíquica A atitude operativa da explicação intrapsíquica descreve e elucida, para a pessoa ou o grupo em que ela está inserida, o sentimento vivenciado em determinado momento e que o grupo não consegue, sem ajuda, entender e conceituar. A explicação intrapsíquica objetiva trazer à tona o sentimento do aprendiz, frente a determinada tarefa, traduzindo-o em palavras. “Você ficou triste porque perdeu essa partida e gostaria de ganhar”, por exemplo. Um grupo de professores participa de uma gincana com seus alunos. Cada turma é um time, e cada professor responsável por esses times. Na hora da contagem da pontuação, começa uma onda de vaias e gritaria. Um exemplo de atitude operativa de explicação intrapsíquica: a pessoa organizadora do evento pode falar: “Percebo que esse movimento é fruto da ansiedade de saberem o resultado e de como foi o desempenho de cada um. Ansiedade e não gostar de perder é natural, porém nosso dia foi divertido e produtivo independente do resultado. Vamos continuar a contagem? 2.7 Assinalamento e Interpretação Assinalamento e interpretação são atitudes operativas que colocam ênfase na motivação e objetivo daquela ação do aprendiz. De acordo com Barbosa (2001): O assinalamento e a interpretação são formas de intervenção que necessitam de um conhecimento mais apurado da conduta molar, que, segundo Bleger (1984), é constituída por cinco elementos importantes: a motivação, que decorre de uma situação de tensão; a meta, que se estabelece a partir da motivação; a conduta (ação), que é acionada para que se realize a meta; e os dois elementos que constituem a unidade que dá significado para a ação – a experiência vivida, que permite fantasiar ou prever resultados numa nova situação, e a realidade atual, que contextualiza a ação naquele momento. Quando a intervenção operativa aponta apenas alguns desses elementos da conduta, temos um assinalamento, como em: “Percebo que vocês já querem saltar do trampolim, mas ainda não aprenderam a mergulhar”. Já quando aponta 9 para todos os elementosda conduta, temos uma interpretação: “Vocês se empolgaram tanto com a perspectiva de uma viagem que estabeleceram uma tarefa além das possibilidades reais e por isso ficaram confusos e frustrados”. Num atendimento psicopedagógico, um menino de 7 anos escolhe como projeto de trabalho construir uma “nerf” de papel e, dentre as opções disponíveis no YouTube, elegeu uma bem grande, complexa e que levava muito tempo para construir, além de exigir materiais mais elaborados do que cola, papel e durex. Um exemplo de atitude operativa de assinalamento ou interpretação: “Você ficou entusiasmado com o tamanho e os efeitos dessa ‘nerf’, porém seu tempo de atenção e preparo, por causa da sua idade, não dão conta de tamanha complexidade. Quer continuar ou escolhemos uma mais adequada a sua idade?” 2.8 Desempenho de papéis O desempenho de papéis é uma atitude operativa de intervenção que sugere a mudança de papéis e motiva o aprendiz a fazer o exercício de se colocar no lugar do outro. Segundo Barbosa (2010), essa troca de papéis deve estar ligada às situações de aprendizagem. O aprendiz faz de conta que é outra pessoa, um animal ou mesmo um objeto, e o psicopedagogo deve esgotar as possibilidades de intervenção durante a própria brincadeira. Isso quer dizer que em outra situação, quando, por exemplo, o aprendiz age na vida real de forma diferente do que fez na dramatização, não podemos cobrar dizendo algo como: “Quando brincava de ser professora, tal ação não era permitida e agora tudo é possível”. Essa intervenção descontextualizada pode soar como traição e por isso deve ser evitada. Uma criança em atendimento psicopedagógico revela sua dificuldade na relação com a professora, que é rígida e não muito carinhosa e expressiva. Um exemplo de atitude operativa de desempenho de papéis: a psicopedagoga sugere brincarem de escolinha e coloca a criança como professora para trabalhar situações de pedido de ajuda, de conversa, de combinados e outros conflitos que ela sinalize e precise vivenciar. 2.9 Proposição do conflito A atitude operativa da proposição do conflito não deixa o sujeito vivenciar a situação conflituosa até que ela se resolva ou que se busquem soluções, mas 10 impõe a ele a situação de modo que ele seja responsável pela solução do problema. Um exemplo disso ocorre quando o aluno pede para ir ao banheiro em meio de uma explicação, e o professor responde: “Alguém pode te impedir?”. Uma turma da faculdade faz uma sala de cinema na própria aula, para assistir a um filme recomendado para aquela disciplina. Durante a execução do filme, uma das alunas vai ao professor e pergunta se pode ir ao banheiro. Um exemplo de atitude operativa de proposição do conflito: o professor pergunta: “Alguém pode te impedir?”. A aluna queria uma permissão que a liberasse para “perder” aquela parte do filme, o que tornaria o professor responsável também por essa decisão e consequente perda. Ela precisaria assumir a escolha de ir, ficar ou pedir para a turma dar uma pausa, combinar com alguém de anotar as informações para ela ou outras situações que não fossem dependentes da autorização e que permitissem ter autonomia em sua decisão. 2.10 Vivência do conflito Vivência do conflito é a atitude operativa que intencionalmente desencadeia um processo de ansiedade e desequilíbrio, para gerar um momento de tensão e, com isso, motivar os sujeitos a terem condutas adequadas para estabelecer seus objetivos e resolvam como atingi-los. Na definição de Barbosa (2010): A vivência do conflito é uma forma de intervenção que também não necessita da fala, basta permitir que o(a) aprendiz viva o conflito, sem oferecer ajuda imediata. Nesse tempo de vivência ele(a) mesmo(a) pode descobrir a forma de resolver o problema. Se corremos para auxiliá-lo, podemos impedir que ele exercite suas alternativas de possíveis solução. Num trabalho em grupo de quatro crianças, com seis anos, é solicitado que juntas montem um quebra-cabeça. Um exemplo de atitude operativa de vivência do conflito: Deixá-los resolver os conflitos que aparecerão e observar somente se não vão brigar fisicamente. Cada vez que vierem reclamar que um pegou peças demais, que o outro não deixa ninguém participar, sugerir que volte ao grupo e tente resolver, só voltando se precisar de ajuda novamente. 11 2.11 Destaque do comportamento A atitude de destaque do comportamento acontece quando um grupo realiza uma etapa da tarefa de forma adequada. Assim, a atitude é destacada diante do grupo como incentivo e demonstrar que todos têm capacidade para atingir uma meta. Essa intervenção revela o comportamento atual como resultado de um avanço na história do aprendiz em relação a ele mesmo. Assim, pode se manifestar da seguinte forma: “Que bom poder contar com uma menina que consegue me ajudar a entregar todas as agendas. Lembra no início do ano? Eu precisava ajudar a ler os nomes para você conseguir entregar todas elas”. Um menino que habitualmente resolve suas dificuldades com os colegas de forma agressiva conseguiu, após um jogo de futebol em que perdeu, na aula de educação física, cumprimentar os vencedores e continuar a brincadeira sem chorar e nem agredir alguém. Um exemplo de atitude operativa de destaque do comportamento: “Fulano, fiquei contente em vê-lo parabenizando seus colegas sem agredir ninguém, mesmo tendo perdido o jogo. Você fez grandes avanços comparado a como reagia anteriormente e merece os parabéns!” 2.12 Problematização Problematização é criar situações-problema para que o aprendiz entenda como formular hipóteses, testadas, confirmadas ou não, e se organize na confusão inicial gerada por alguma dúvida. Para Barbosa (2010), problematização é uma intervenção bastante utilizada nas escolas e faz um bom efeito também no processo de atenção psicopedagógica. Trata-se de retornar a pergunta do aprendiz ou de criar uma questão a partir de uma ação realizada. Veja: “Vamos assistir ao filme? – O que falta para podermos assistir?”. “Que cor eu uso para pintar esse desenho? – Que cores você conhece e que acredita que daria para pintar essa figura?”. Numa instituição de ensino, um professor vai até a coordenação conversar, dizendo: “Está muito difícil dar aula do lado da sala X, eles fazem muito barulho e a professora grita para que parem, e o barulho só aumenta”. Um exemplo de atitude operativa de problematização: “Concordo que barulho demais desconcentra e atrapalha, mas o que você sugere para auxiliar na 12 resolução desse problema? O que você faria como coordenador num contexto assim?” FINALIZANDO Assim que o psicopedagogo institucional tem em mãos o resultado da avaliação diagnóstica, inicia a elaboração de um plano de intervenção. Toda a intervenção objetiva trabalhar a causa que gerou os sintomas sinalizados numa queixa e o propósito dela é possibilitar o avanço e a fluidez do aprender naquele espaço. As atitudes operativas são valiosas opções de trabalhar o subjetivo das relações do aprendiz e o seu objeto de aprender. Permite que a aprendizagem passe por dentro do sujeito e o faça operar em prol de uma tarefa, transformando- se e transformando o ambiente em que ela será necessária na sua finalidade. A psicopedagogia é, assim, observar, desvendar, interagir, permitir e operar, para que a tarefa se efetive, cumpra sua missão e transforme todos os envolvidos no ato de aprender. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica Conexões da aprendizagem e do conhecimento. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/dialogo?dd1=557&dd99=view&dd98=pb>. Acesso em: 21 jul. 2018. Texto de abordagem prática Aprendizagem institucional: da dissociação à integração. Disponível em: <http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/21252_9198.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2018. 13 REFERÊNCIAS BARBOSA, L. M. S. A psicopedagogiano âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente, 2001. _____. (Org.). Intervenção psicopedagógica no espaço da clínica. Curitiba: IBPEX, 2010. BARBOSA, L. M. S.; CARLBERG, S. O que são consignas? Contribuições para o fazer pedagógico e psicopedagógico. Curitiba: InterSaberes, 2014. BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, prática e vivências. 4. ed. 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