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FLAVIA BELLONI SILVA IVANETE SEBASTIANA DOS SANTOS OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS DE FROEBEL NOS PROCESSOS EDUCATIVOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL CURITIBA 2005 FLAVIA BELLONI SILVA IVANETE SEBASTIANA DOS SANTOS OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS DE FROEBEL NOS PROCESSOS EDUCATIVOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título Licenciatura em Pedagogia, turma A, sem. 2º, da Faculdade Internacional de Curitiba – FACINTER. Orientadora: Simone Zampier da Silva CURITIBA 2005 AGRADECIMENTO Destacamos nossos agradecimentos primeiramente a Deus, por abençoar o nosso caminho, aos nossos familiares pelo apoio incondicional, a professora Simone Zampier da Silva, pelas orientações e a equipe pedagógica e administrativa da Escola Aldeia Betânia, pela cooperação na elaboração da presente pesquisa. “Duser himmil den du auch tragst in dein innen leuchtet ausen durch die augen deiner kinder”. (Froebel, 1885) “Este céu, que você também carrega em seu ser, brilha fora de você através dos olhos de sua criança”. (Froebel, 1985) RESUMO O presente trabalho tem como princípio norteador a defesa de uma proposta inovadora para o ensino de Educação Infantil com base em Froebel, educador alemão, criador do primeiro Jardim de Infância. Apresenta inicialmente como está constituída a Educação Infantil nos dias atuais, bem como um resgate histórico de como os centros – escolas tratavam do ensino infantil e como este foi sendo consolidado no decorrer dos séculos, processo este, mediado pelos conflitos e avanços de cada período. As escolas de Educação Infantil surgiram na Idade Moderna atrelada a fatores sociais e econômicos que a influenciavam direta ou indiretamente, as mesmas eram apenas lugares criados para prestar assistência as mães que começaram a sair de suas casas para trabalhar nas fábricas e empresas que começavam a surgir, com intuito apenas de cuidar dos pequenos. Dentre alguns percursores da Educação Infantil na Idade Moderna, encontra-se Froebel o qual merece destaque pois, suas idéias pedagógicas, com análises avançadas para o seu tempo em que discutia o não apenas “cuidar” das crianças, mas também valorizava o desenvolvimento integral das mesmas, tendo o lúdico como principal eixo em sua teoria. Tendo as idéias pedagógicas de Froebel como ideais para a Educação Infantil, far-se-á um breve relato de uma experiência em Froebel, no século XXI, o qual tomará como objeto de estudo a Escola Aldeia Betânia que se utiliza da metodologia froebeliana em sua prática educativa para a Educação Infantil. Enfatizando um projeto pedagógico que valoriza o brincar, destacando a atividade lúdica e livre da criança, sem esquecer das atividades dirigidas oferecendo assim um ambiente estimulador que potencializa o desenvolvimento dos alunos aumentando seus conhecimentos, sua autonomia, sua criatividade e as competências necessárias para viver em harmonia consigo mesmo, com outras pessoas e com a natureza. SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................. 05 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 07 2 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA HISTÓRIA...................................................... 10 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA IDADE MODERNA ......................................... 11 2.3 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA – (SÉC. XVIII E XIX) ......................................... 12 2.4 CONTEXTO HISTÓRICO DO SÉCULO XX...................................................... 15 2.5 CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E DE EDUCAÇÃO INFANTIL (SÉCULO XX) ..... 16 2.6 CONTEXTO HISTÓRICO - SÉCULO XXI ......................................................... 18 3 FROEBEL – O CRIADOR DO JARDIM DE INFÂNCIA....................................... 19 3.1 BIOGRAFIA....................................................................................................... 19 3.2 AUTORES QUE INFLUENCIARAM A OBRA DE FROEBEL............................ 22 3.3 INTRODUÇÃO À OBRA.................................................................................... 24 3.4 IDÉIAS PEDAGÓGICAS ................................................................................... 28 3.5 CONCEPÇÃO DE HOMEM............................................................................... 30 3.6 CONCEPÇÃO DE CRIANÇA ............................................................................ 31 3.7 A CONCEPÇÃO DE PROFESSOR SEGUNDO FROEBEL.............................. 32 3.8 MATERIAIS IDEALIZADOS POR FROEBEL.................................................... 33 3.9 MÉTODOS DE ENSINO FROEBELIANO ......................................................... 37 3.10 ESPAÇOS (AMBIENTES)............................................................................... 39 4 EXPERIÊNCIA EM FROEBEL............................................................................. 41 4.1 IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA ......................................................................... 41 4.2 EQUIPE PEDAGÓGICA ADMINISTRATIVA..................................................... 41 4.3 HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO ................................................................... 41 4.4 NÍVEIS DE ATENDIMENTO.............................................................................. 41 4.5 INFRA-ESTRUTURA......................................................................................... 42 4.6 NA ENTRADA ................................................................................................... 43 4.7 NO INTERVALO................................................................................................ 43 4.8 NO PORTÃO..................................................................................................... 44 4.9 NA SALA ........................................................................................................... 44 4.10 CONTEXTUALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA ........................ 45 4.10.1 Avaliação..................................................................................................... 46 4.10.2 Ensino ......................................................................................................... 46 4.10.3 Escola.......................................................................................................... 47 4.10.4 Aprendizagem............................................................................................. 48 4.10.5 Proposta curricular .................................................................................... 50 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 53 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 55 ANEXOS ................................................................................................................. 56 1 INTRODUÇÃO O papel e a razão de ser da Educação Infantil tem preocupado muitos educadores pela dificuldade em se definir com clareza o espaço que ocupa na sociedade e consequentemente a sua função e seus limites de atuação. Sendo assim, os processos pedagógicos que orientam este nível de ensino, assim como seus fundamentos e autores são objetos de análise e discussão por todos os responsáveis e estudiosos pela Educação Infantil. Visando entender a Educação Infantil, bem como sua função na sociedade atual, faz-se necessário entendê-ladesde sua origem, assim como o contexto histórico em que ela foi concebida. A presente pesquisa visa apresentar a estreita relação entre educação, mais especificamente a Educação Infantil e a sociedade, considerando como as mudanças sociais e econômicas influenciam direta ou indiretamente na construção das teorias ou concepções pedagógicas que norteiam os rumos da educação . Com a Educação Infantil não poderia ser diferente, pois esta veio ao encontro dos anseios de uma sociedade em transição do agrário mercantil para indústrias manufatureiras e os fatos que consolidaram o atendimento de crianças de zero à seis anos foram a partir do século XIX com a Revolução Industrial, o Capitalismo e o surgimento de novas relações de trabalho; no século XX foram as grandes guerras e o desenvolvimento das ciências; já no século XXI com a globalização e os avanços dos meios de comunicação. Todos esses fatores em diferentes épocas criaram novas teorias, novos métodos para o atendimento das “crianças pequenas” (termo a ser explicitado posteriormente), os quais até hoje influenciam nos pressupostos teóricos sobre uma Educação Infantil de qualidade que visa o desenvolvimento integral das crianças. Esta pesquisa visa destacar uma proposta de trabalho desenvolvida por Froebel onde, o lúdico era o objeto norteador do seu fazer pedagógico e o respeito ao desenvolvimento integral na infância um elemento importante a ser considerado. Em um período conturbado com revoluções e grandes mudanças sociais, surge Friedrich Froebel, um educador alemão que começa a se preocupar com a educação das crianças pequenas e que merece destaque, por suas idéias inovadoras para um período em que a escolaridade da criança não fora discutido. Friedrich August Froebel, nasceu em Oberweissbach, Turíngia, em 21 de abril de 1782. Fundou na Alemanha o primeiro Jardim de Infância ou Kindergarden. Preocupou- se primeiramente com a formação de mulheres para desenvolver essas crianças de uma forma holística, Froebel acreditava que somente as mulheres com coração de mães eram capazes de alcançar esta visão de totalidade. Froebel dedicou-se então a desenvolver materiais, os quais chamou de “dons” que seriam de grande importância para sua prática educativa, acreditando que a criança era dotada de potencialidades e que deveria ser cuidada como uma semente recém plantada, para que mais tarde pudesse se fortalecer, descobrindo o seu “eu” , suas potencialidades e sua essência que era pura e boa. Afirmava que a criança deve atingir o seu “eu” para tornar-se um elemento ativo onde, por meio da auto - expressão, crescerá em auto – realização, isso se exterioriza pelo processo educacional. Na medida em que a criança vive aquilo que lhe cabe, realizando – se, viverá melhor para alcançar o melhor para a sociedade. Froebel valorizava a atividade livre e o jogo como elementos essenciais para a educação, ressaltando que os primeiros anos de vida são decisivos para o desenvolvimento da personalidade. A educação para Froebel deve ser o meio propiciador de condições que possibilitem o poder de manifestação e expressão externa ao “eu” infantil, das necessidades e interesses no interior da cada indivíduo, sendo o meio, ou seja, o canal essencial para sua evolução futura. Esta consiste em suscitar as energias do homem como ser progressivamente consciente, pensante e inteligente. Froebel dizia que a educação deveria conduzir o homem ao conhecimento de si mesmo, de sua vocação e a realização dessa vocação. Para Froebel a finalidade da educação se resume em realizar plenamente as potencialidades por meio do empenho em se trabalhar um ser livre, independente e disciplinado. O trabalho educativo de Froebel foi profícuo e estendeu-se até a atualidade na expressão pedagógica das escolas norteadas pela sua teoria. Será abordado neste trabalho uma vivência em Froebel no século XXI, vivência esta que foi realizada na Escola Aldeia Betânia a qual incorpora princípios froebelianos em sua prática cotidiana, onde o seu dia é dividido em diferentes momentos de planejamento e ação. Quanto à metodologia, a presente pesquisa evidencia a necessidade de uma abordagem qualitativa visando procedimentos de uma pesquisa histórico bibliográfico, na qual buscou sua fundamentação teórica por meio de livros encontrados na Biblioteca da PUC/PR, Biblioteca Pública do Paraná e materiais cedidos pela Escola Aldeia Betânia, dos quais alguns foram traduzidos por Maria Langor. Além dos fundamentos teóricos que embasam as práticas froebelinas, recorreu-se à observação do espaço de aplicação do método e aos materiais que organizam as práticas, denominados “dons” e “ocupações” pelo autor. O trabalho foi realizado com leituras dinâmicas e interpretativas, com discussões e análises dos livros, contudo encontrou-se poucas referências bibliográficas sobre Froebel, o que dificultou prolongar-se na descrição da prática educativa desenvolvida por ele, visto que a maioria das referências encontradas descreviam idéias semelhantes embora abordadas por autores diferentes. A pesquisa foi elaborada de forma a apresentar os pressupostos que fundamentaram a Educação Infantil. Apresentam-se os seguintes capítulos: Educação Infantil e sua história; Froebel – o criado do jardim de infância; e uma experiência em Froebel, a qual foi baseada em uma vivência, enquanto professoras da Escola Aldeia Betânia. Buscou-se aprofundar elementos significativos da teoria froebeliana, porém com clareza da impossibilidade de extinguir todos os elementos que compõe a vida e a obra realizada por Froebel na Educação Infantil. 2 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA HISTÓRIA A Educação Infantil tem aumentado seus limites, a partir do século XIX e de forma mais acelerada nas últimas décadas, fato este devido à expansão urbana que ocasionou mudanças na estrutura familiar devido, prioritariamente à entrada da mulher no mercado de trabalho. As transformações na organização familiar no último século associada a reorganização acelerada dos diversos setores da sociedade exigiu um repensar da importância das experiências para crianças na primeira infância. Todos esses fatores desencadearam uma análise social que refletiu nas políticas públicas implementadas pelo governo. Neste contexto, a Educação Infantil no Brasil passa a ser reconhecida pela Constituição Federal 1988 (art.208) e do ponto de vista legal, passou a ser um dever do Estado e um direito da criança. Nesta proposta, o atendimento passou a ser feito em creches e centros de educação infantil, princípio também considerado no Estatuto da Criança e do Adolescente que foi aprovado em 13 de Junho de 1990, como direito. Já para a atual LDB 9394/96 art.29, diz a educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de 0 a 6 anos de idade, sendo um direito da família e da criança e um dever do Estado. Na década de 90 o MEC lança orientações para a Educação Básica, que embora não sejam de adoção obrigatória, acabam tendo longo alcance e se tornam princípios pedagógicos para muitos educadores brasileiros. Para a pesquisa que está sendo desenvolvida, cabe destacar que foi organizado um instrumento chamado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNI), composto de três volumes, que enfatizam a necessidade das instituições infantis de integrar as funções de educar e cuidar, pois segundo alguns pesquisadores das áreas de psicologia, sociologia, medicina e educação há evidências de que nos primeiros anos de vida a inteligência da criança pode ficar prejudicada se ela não tiver acesso a experiências diversificadas, enriquecedoras, sejam elas sociais ou educativas, ressaltando a globalidade do ser humano, enfatizando que é impossível de trabalharcom a criança de maneira fragmentada, pois todos os aspectos estão ligados e um exerce influencia sobre o outro. Deve-se assim, respeitar e valorizar as constituições biológicas, históricas e culturais da pessoa, e como enfatiza o Referencial Curricular Nacional e a atual LDB (art29) cabe ainda à educação infantil o desenvolvimento pleno das potencialidades e habilidades da criança. No entanto, quando se analisam as diversas propostas que norteiam o ensino na Educação Infantil no Brasil, percebe-se que a grande maioria dá ênfase a preparação para alfabetização de uma forma acadêmica, ou melhor estruturada na lógica escolar do Ensino Fundamental, investindo em apostilas ou atividades xerocadas, onde as crianças desde muito cedo são instruídas a estudar diversos conteúdos, visando uma preparação para um vestibular e o ingresso em uma faculdade. Em contrapartida, outras escolas concentram suas atividades exclusivamente no “cuidar”, compreendido aqui no sentido assistencialista, sem fazer a mediação indispensável entre o cuidar e educar a criança. Apenas algumas instituições elegem o lúdico como sendo um dos eixos norteadores de seu currículo, privilegiando a possibilidade de desenvolver as crianças em todos os aspectos (moral, social, emocional e cognitivo), explorando todas as potencialidades e habilidades dos educandos por meio de uma das atividades que são mais caras e prazerosas: o brincar. Entre as instituições que optam pelo lúdico, de uma forma direta ou indireta, algumas foram influenciadas pelas idéias pedagógicas de Froebel. Para compreender como a educação está hoje fundamentada, é necessário antes conhecer seus precursores e a história de seu surgimento, sua expansão em todo o mundo, enfatizando o contexto histórico e os fatos que marcaram cada século. Entre os precursores da Educação Infantil encontra-se Froebel, que foi um educador que influenciou e influencia até hoje muitas práticas nas instituições deste nível. Froebel deixa para a sociedade um legado que não pode ser desmerecido quando o assunto é Educação Infantil. Esta pesquisa busca apresentar alguns pressupostos fundantes da teoria froebeliana, não tendo a pretensão de esgotar todos os aspectos que abordam o tema, mas colaborando para a análise de novos horizontes sobre este objeto. 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA IDADE MODERNA Visando um resgate sobre a história do homem na sociedade com ênfase na educação das crianças, localizar-se-á a Idade Moderna como tempo histórico privilegiado para esta análise. A Idade Moderna foi uma época de grandes mudanças sociais e tecnológicas, a razão começa a ser usada para explicar o fenômeno da natureza, o ser humano passa a ser visto como criador de seu próprio mundo, isto é, formador de sua sociedade, sendo que os avanços. O surgimento da sociedade capitalista, a revolução industrial, os avanços tecnológicos, o desenvolvimento das ciências, as grandes transformações ocorridas nos países europeus devido a esses fatos, transformaram uma sociedade agrário- mercantil em uma sociedade urbano-manufatureira, o que acarretou mudanças nas relações de trabalho, fazendo com que surjam conflitos e acentuem as condições sociais adversas. E foi nesse período, de invenções e revoluções, que alguns filósofos iluministas começaram a difundir que a educação seria o único caminho possível para se chegar à igualdade, onde a educação será uma ponte para a transformação de indivíduos incultos (analfabetos) em indivíduos cultos e caberia a sociedade européia a vanguarda nesse processo de uma educação para todos, pois só assim conseguiriam criar uma sociedade forte e soberana. A Idade Moderna possui entre seus legados históricos, as primeiras discussões sobre a universalização da educação, por mais que dentro dos limites e análises da época. A educação para crianças “menores” também surge na pauta destas análises, na busca dos primeiros passos de sua construção pedagógica. 2.3 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA – (SÉC. XVIII E XIX) Ao longo dos séculos a responsabilidade de educar as crianças pequenas1 era obrigação da família, até elas se tornarem adultas e responsáveis por si 1 Embora o termo utilizado pareça inapropriado dentro da pedagogia essa linguagem é corretamente utilizada nas obras de apoio teórico que são referências para a pesquisa. mesmas. Entre as funções da família, esta devia ensinar valores morais, passando conhecimento necessários para sua sobrevivência e exigências para a vida adulta. As primeiras instituições infantis, que se tem notícias são as instituições de guarda e educação para crianças abandonadas (órfãs), estes locais receberam vários nomes como: creché em francês quer dizer manjedoura ou asilo nido que em italiano quer dizer “ninho que abriga”. As crianças que iam para essas instituições eram deixadas dentro de cilindros ocos, giratórios, construídos nos muros de igrejas e hospitais de caridade, permitindo que os bebês fossem deixados ali sem que as pessoas que os abandonaram fossem identificadas. Essas crianças eram enviadas para instituições conhecidas como “lares substitutos”, e tanto na Idade Média como na Idade Moderna o recolhimento e cuidados dessas crianças ficam a cargo da igreja que procurava ensiná-las um ofício. Num regime disciplinar extremamente rígido. Essas instituições transmitiam a idéia de abandono, caridade e precariedade no atendimento que não serve como concepção de instituição infantil, mas sim como lugar que só fica a criança que não tem família, mostrando o lado negativo das instituições, reforçando o valor que a educação dos pequenos deve ser realizada pela família. A primeira “escola infantil” para não abandonados ou órfãos foi criada pelo pastor protestante Fredrich Oberlin, em Stental, na Alsácia Francesa, em 1770. Sua iniciativa se deu quando chegou nas regiões pobres dos campos de Stendal e viu o estado calamitoso em que viviam os filhos dos camponeses enquanto trabalhavam na lavoura, portanto resolveu criar um lugar “escola” onde as crianças pudessem ficar e aprender bons hábitos de comportamento e valores morais para todos, e em alguns períodos os mais velhos aprendiam tricô e costura enquanto os pequenos brincavam. Esta “escola” ficou conhecida como Knitting Schools (Knitting: tricô, Schools: escola). Em 1771, Oberlin começou a oferecer nas escolas atividades diversas como: canto, ciências, matemática e história bíblica, mas o objetivo principal das Knitting Schools era evitar que as crianças ficassem ociosas enquanto os pais trabalhavam no campo. Concomitante criou um centro para formar as mulheres da comunidade, preparando-as para trabalhar em sua “escola”. Além de criar uma “escola” para atender as crianças enquanto os pais trabalhavam, ele também criou uma nova profissão para as mulheres. Mesmo não desenvolvendo nenhuma teoria ou método para a educação pré-escolar, ele demonstrou com exemplos práticos um modelo que foi copiado por diversas instituições. Mas, no entanto o fator decisivo para a disseminação das “escolas infantis” foi o esvaziamento populacional do campo, que teve como causa a pouca força de trabalho que o campo absorvia, tendo como conseqüência maior procura dos empregos oferecidos pelas indústrias nos centros urbanos. Devido o aumento da população nos grandes centros e a grande demanda de força de trabalho excedente, gerou redução nos salários, o aumento da jornada para 14 horas (isso ocorreu devido a descoberta da luz a gás), e as fábricas e industrias começaram a dar preferência para a força de trabalho feminino e infantil (acima de 6 anos), pois esses cobravam menos para a mesma jornada realizada pelos adultos. Em conseqüência desses fatos, as mulheres (mães) não podiam mais ficar em casa cuidando dos filhos, pois seu trabalho remunerado era necessário para ajudarno sustento da família, e com isso, a segurança e a proteção que as crianças tinham na família acabou-se e elas ficaram “soltas” largadas a própria sorte e à miséria das grandes cidades. Esse fato chamou a atenção do empresário Robert Owen, que ficou indignado com as condições de vida das crianças e em 1819 instalou a primeira escola infantil (Infant – School) com um programa pedagógico cujo objetivo era a formação do caráter e que para isso precisava começar o mais cedo possível, e para essa formação seria utilizado um programa de música e dança baseada na transmissão de alguns saberes necessários para formação de um adulto responsável e trabalhador. A iniciativa de Owen chamou a atenção de alguns governos, provocando disseminação de escolas parecidas com essas em toda a Europa, criadas para atender os filhos das operárias. Essas escolas receberam vários nomes como: Infant Scholl (escola infantil), Écoles Petites (escola para pequenos), Asilos Nido (ninho que abriga) e as Nursery Scholl, no entanto o que todas ensinavam era a obediência, moralidade, devoção e o valor do trabalho, onde as propostas de atividades eram realizadas com as turmas que continham de 100 a 200 crianças, que obedeciam ao comando dos adultos feito por apitos. Entre os aspectos benéficos a considerar nessa proposta foram a diminuição da mortalidade infantil e o reconhecimento de que a criança deve ser protegida e cuidada. Nos séculos XVIII e XIV a criança passou a ser o centro do interesse dos adultos, só que a educação não acontecia de maneira igual para todas as crianças, pois alguns setores das elites, políticas dos países europeus, afirmavam e defendiam a idéia de que os pobres deveriam ser educados para o aprendizado de uma profissão, já para aqueles que tinham dinheiro, a escola preparava o mundo dos adultos, tornado assim as “escolas” um instrumento fundamental para a ascensão da sociedade capitalista burguesa. Em contra partida, alguns pastores protestantes divergiam das elites políticas, pois afirmavam que “a educação é um direito universal e deveria ser igual para “todos”, estes foram os primeiros educadores da defesa da universalização do ensino Nesse período houve várias teorias que contribuíram para o trabalho dos precursores da educação infantil, que procuravam novas formas de educar a criança sem punições físicas (que até esse momento era a regra e não exceção). Essas teorias fizeram com que a educação tomasse novos rumos, onde a criança não seria mais “considerado um “mini adulto”, mas alguém que tinha necessidades e interesses próprios. Houve muitos debates e discussões sobre como ensinar e o que ensinar nas escolas para as crianças pequenas, considerando os aspectos relevantes para o desenvolvimento infantil. 2.4 CONTEXTO HISTÓRICO DO SÉCULO XX O século XX foi marcado por duas grandes guerras que além deixar o mundo dividido em dois blocos (socialista e capitalista) período esse conhecido como Guerra Fria, deixaram um rasto de destruição e miséria, o que ocasionou a intensificação da migração do campo para os grandes centro urbanos, situação que já havia sido deflagrada no século anterior. Neste contexto de guerra, milhares de mulheres se viram obrigadas a trabalhar fora de suas casas, ocupando até função que antes eram destinadas exclusivamente aos homens. Esse século também experimentou grandes desenvolvimentos nas ciências, na medicina e muitos avanços tecnológicos e científicos na indústria aero espacial. Contudo, esses avanços não trouxeram a paz que muitos esperavam, mas sim apenas acirrou disputas mundiais, onde os países envolvidos almejavam a supremacia espacial e armamentista, criando assim uma grave tensão gerada pela concentração do arsenal militar envolvendo duas superpotência “a chamada Guerra Fria”, fazendo com que esses paises se envolvessem em conflitos internos de outros países. Entretanto em 1982, cai o muro de Berlim e dois anos depois a União Soviética acaba esses episódios, desencadearam o fim da guerra fria e o término da guerra trouxe grandes mudanças sociais e econômicas para todo o globo, mas a maior beneficiada foi a Europa que se unificou e criou a União Européia com uma moeda forte: Euro. Em contrapartida com o fim da guerra fria e a ameaça da União Soviética, os Estados Unidos se consolidou com a maior potência militar e econômica do planeta. Infelizmente a série de avanços registrados no século XX, ao mesmo tempo que viabilizaram condições de vida humana muito mais saudáveis, contribuíram para acirrar a concorrência econômica entre os países, assim como colocou o homem num isolamento social, nunca antes conhecido. A família nuclear já não se encontra nem em suas próprias casas e a escola lentamente vai absorvendo funções que não lhe são específicas. 2.5 CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E DE EDUCAÇÃO INFANTIL (SÉCULO XX) O século XX deixou também grandes sinais com relação ao atendimento à crianças pequenas, devido a saída de milhares de mulheres (viúvas da guerra) dos seus lares e obrigadas a ser responsáveis por suas famílias, trabalhando fora de casa, os governos se vêem obrigados a criar leis para proteger os menores, onde a criança passa a ser portadora de direitos. Em 1959 a ONU (Organização das Nações Unidas) promulga a declaração dos direitos da criança. Houve grande expansão nos serviços de atendimento a educação de crianças, onde valorizarão as teorias que priorizavam a escolarização precoce e brincadeiras como recursos para que se conseguisse desenvolver todo o potencial infantil. No entanto, devido aos avanços tecnológicos e a valorização das ciências, recomeçam as discussões a procura de novos caminhos para a educação infantil. Nessas discussões estavam filósofos, educadores, médicos, antropólogos, sociólogos e psicólogos todos tentavam conciliar teoria, métodos e pedagogia para descobrir qual a melhor forma indicada de se trabalhar com crianças pequenas, quais seriam os estímulos apropriados e o modelo de educação adequada. No decorrer dessas discussões percebe-se que a criança pequena tem grande capacidade cognitiva e é um ser social, portanto esses profissionais começaram a analisar conteúdos escolares procurando novas formas e métodos de ensino. Já que a criança tem grande capacidade cognitiva, de saber e poder, ela tem que ser preparada desde cedo para cumprirem seu papel na sociedade, contribuindo assim para o desenvolvimento desta. No século XX destacam-se ciências e estudiosos que procuravam explicar o comportamento humano em suas características individuais e no convívio em sociedade, mostrando a importância do indivíduo bem preparado e consciente de sua contribuição para o bom desenvolvimento econômico e social de uma nação. Nesse século destacou-se na educação a psicologia e a biologia, onde a psicologia procura explicar a inteligência e a evolução do pensamento humano e quais os mecanismos que fazem o ser humano perceber o mundo que o cerca; já a biologia procurava mostrar que a criança é um ser biológico e que se ela estiver saudável, isto é, se suas necessidades básicas como: comer, dormir e sua saúde estiver bem, a aprendizagem ocorreria de maneira mais fácil, numa perspectiva assistencialista. Convém, entretanto, ressaltar que dois outros fatores também influenciaram diretamente sobre os objetivos organizados para o atendimento da criança nas instituições infantis, que foram: a herança cultural e os rumos tomados pela economia, onde a pressão exercida por esses fatores fez com que a educação fosse sinônimo de desenvolvimento, colocando as necessidades humanas na dependência da situação social, onde a educação infantil obedece as perspectivas de escolarizar as crianças o quanto mais cedo possível. Verifica-se a partir desse momento uma dicotomia entre o cognitivo, o social e o cuidar (assistencialismo), ou seja,algumas escolas passaram então a enfatizar os conteúdos, trabalhando somente o cognitivo onde os conteúdos não fazem parte do cotidiano da criança, já outras instituições preocupavam-se apenas no bem estar infantil, esquecendo de estimular a parte cognitiva e assim, perdeu-se os objetivos que outrora norteavam os jardins de infância de Froebel e implantou-se a visão acadêmica (escolas particulares) ou assistencialistas (escolas públicas) para o jardim de infância e formaram-se as turmas homogêneas quanto a idade: jardim I, II, III e maternal. 2.6 CONTEXTO HISTÓRICO - SÉCULO XXI A globalização é um processo que surge nas últimas décadas do século XX e consolida no século XXI, principalmente da economia que vem se unificando através dos meios de comunicação, das ciências, principalmente a medicina, vem se desenvolvendo e conquistando novos horizontes. No entanto, é um mundo dividido com conflitos, principalmente étnicos, onde o terrorismo vem se caracterizando com uma forma de guerra, e os direitos até então conquistados pela humanidade, vêm sendo ignorados e o que importa é o poderio bélico de uma nação. O início do século XXI traz com ele um repensar sobre o que é educar e como educar crianças pequenas. Muito se tem falado e se discute novas teorias, novos métodos e propostas que tentam unir o social, o psicológico e o biológico, procurando novos rumos para a educação que vem buscando a integração entre o cuidar e educar, sendo que para alguns estudiosos esses fatores são inseparáveis para se trabalhar com crianças de zero à seis anos, pois assim será possível explorar todas as habilidades e potencialidades das crianças respeitando e valorizando a individualidade de cada um. 3 FROEBEL – O CRIADOR DO JARDIM DE INFÂNCIA 3.1 BIOGRAFIA Entre os educadores percursores nas discussões em Educação Infantil, Friedrich Froebel indica pressupostos significativos. Educador alemão, nasceu na vila de Oberweissbach, no Principado de Schavarzburg – Rudolstadt, localizado na floresta da Turingia região sudeste da Alemanha em 21 de abril de 1782. Froebel ficou órfão por parte de mãe aos nove meses de idade, fato este que segundo estudiosos deixou grande marcas no pequeno Froebel, portador de uma infância privada de carinho e de afeto, visto que seu pai era pastor de uma Igreja Luterana e muito ocupado, eram os irmãos mais velhos que cuidavam de Froebel. Apesar das inúmeras ocupações, foi seu pai quem lhe ensinou a ler e escrever, e esse mesmo pai, por acreditar que o pequeno não era dotado de grande inteligência, deixou-o crescer sem grandes estímulos para a educação, querendo apenas que o seu filho aprendesse um ofício. Seu pai casou-se novamente e logo a madrasta teve seus filhos e se dedicou a cuidar deles. Froebel tinha como seus melhores amigos as plantas, árvores e flores, onde passava grande parte do seu tempo observando-as. Dos 10 aos 14 anos viveu o tempo mais feliz de sua infância, foi quando morou com seu tio materno, o qual lhe proporcionou instrução religiosa, educação esta, que terá forte influência em sua proposta pedagógica. Aos 14 anos, Froebel ficou aos cuidados do guarda florestal “Witz” para aprender o ofício, mas constantemente era deixado de lado por este seu “professor”, então dedicou boa parte de seu tempo à leitura de livros de ciências naturais, a observação da natureza e a montagem de coleções de pedras e mariposas. O desejo de estudar ciências naturais em nível universitário levou Froebel de volta a casa de seu pai, pedir autorização para realizar tal estudo, porém a oportunidade surgiu em 1799 quando Froebel, a mando de seu pai, ficou encarregado de levar dinheiro a seu irmão que estudava medicina na Universidade de Jena. Froebel ficou encantado com a universidade que era muita conhecida pelo nível de seus professores e alunos. Conseguiu a autorização de seu pai para permanecer lá até o fim daquele semestre, assim continuou aperfeiçoando os seus estudos na área de ciências naturais. Ao término do semestre, Froebel, retorna a casa de seu pai pedindo para ingressar na Universidade como aluno devidamente matriculado, seu pai autoriza-o dando a Froebel a parte que lhe cabia da herança deixada por sua mãe para que pudesse custear sozinho seus estudos. Ainda em 1799 ele retorna à Universidade e por quatro semestres estuda filosofia, ciências naturais e mineralogia. O estudo da natureza, mais tarde, se revelará de grande importância na formulação de suas questões educacionais. Em 1801, ao término de seus estudos, Froebel retorna para junto de seu pai e em 1802 seu pai falece. No período de 1803 a 1805, Froebel buscou uma profissão que o realizasse,porém não foi feliz na sua busca, até ser chamado para lecionar desenho na Escola Normal de Herr Grüner, de Francforte. Foi então que descobriu no trabalho educacional a resposta para seus anseios. Em 1805, não tendo ainda nenhuma formação inicial de educador, Froebel começa a trabalhar em uma escola com princípios educacionais de Pestalozzi. Segundo Koch (1985, p24), Froebel fazia de tudo para acertar o caminho pedagógico, apesar de não haver lido até aquele momento, nenhum livro de pedagogia. A forma encontrada por Froebel era “lembrar” de suas próprias experiências escolares, das quais não trazia tão boas recordações e não gostaria que tais recordações fizessem parte da vida de seus educandos, “nascia um educador fruto da prática, que produziria toda uma metodologia de trabalho baseada na prática” (Koch 1985,24). Tornou-se, no ano de 1807, preceptor em tempo integral dos filhos da baronesa Caroline Von Holzhausen, a mesma apresentou a Froebel as idéias pedagógicas de Pestalozzi. Em 1808, Froebel vai para Iverdon ao encontro de Pestalozzi e lá permanece até 1810. Froebel levou em consideração muitas práticas de Pestalozzi em seu trabalho educacional, porém Froebel começa a perceber que as idéias de Pestalozzi estavam muito distantes do que seria o ideal em termos de educação. Segundo Arce (2002), para Froebel, Pestalozzi reduzia o homem ao seu estar aí, tal como ele aparece na terra. Ele enfatiza demasiadamente as discussões sociais e econômicas e negligenciava a sua natureza eterna, do seu “ser eterno”. Apesar de suas críticas a Pestalozzi, Froebel incorpora em seu trabalho vários princípios pedagógicos desse intelectual. A união de Froebel com Pestalozzi dura até 1811 quando Froebel vai a Universidade de Göttingen. Em 1812 vai para a Universidade de Berlim, onde conhece Henriette W. Hoffmeister com quem se casa, somente em 1818. A partir dos estudos realizados sobre o método de ensino de Pestalozzi, Froebel começa a aprofundar os seus próprios métodos de ensino em busca de uma educação mais prazerosa para as crianças. Ele realizou diversas investigações científicas nos campos da matemática, física, geologia e em especial mineralogia, a fim de embasar seus pensamentos e teorias. Estudou línguas para melhor compreensão do desenvolvimento genético da experiência humana e se aprofundou na literatura relacionada com questões educacionais. De 1813 a 1815, ainda antes de casar com Henriette, Froebel participa da guerra pela unificação alemã contra o avanço do exército de Napoleão. Em 1816, após retornar da guerra, Froebel funda um Instituto de Educação em Griesheim, transferido no ano seguinte para Keilhau Turingia, onde passa a colocar em prática seus ideais educacionais. Trabalhou nesta instituição por 13 anos, elaborando durante esse período sua obra mais importante de caráter filosófico: “A educação do homem” (1826). Deixou a escola em 1831, pois não obteve o êxito almejado. Foi então, para a Suíça e dirigiu várias escolas. Em 1837 funda em Blankeburg o “Instituto de Educação Intuitiva para a Auto- Educação”, onde pretendia criar um lugar que oferecesse materiais para as crianças expressarem, de maneiraintuitiva, o seu interior. Elegeu então o jogo como seu grande instrumento o qual, juntamente com os brinquedos, mediaria o autoconhecimento. Froebel dedicou-se a criar diferentes materiais educativos os quais chamou de “dons”, materiais estes que se tornariam relevantes em sua metodologia educacional. Nesse mesmo ano seu Instituto muda de nome passando a chamar-se “Instituto Autodidático” para refletir a sua filosofia de que a criança se auto-educa por meio de suas atividades. Enfim, retornou a Alemanha para retomar seu projeto e ideal, fundando em 1840 o primeiro Kindergarten (Jardim de Infância). Além de dedicar-se ao Jardim de Infância, preocupou-se também a formação dos profissionais de jardim. Também elaborou métodos e aperfeiçoou técnicas e recursos para serem utilizados nos jardins. Em 23 de agosto de 1851, segundo Prüfer (1930), foram proibidos todos os Jardins de Infância na Alemanha, pois Froebel fora acusado de ateísmo e de ser socialista. Em 1852, Froebel veio a falecer, sem que seus Jardins de Infância tivessem voltado a funcionar. Apesar da prática educativa froebeliana não ter sido difundida como Froebel desejava em vida, alguns educadores foram influenciados por suas idéias principalmente a Baronesa Von Marenholtz Bulow (1811-1893), cuja influência teve grande destaque no processo educativo na Prússia, posteriormente atingiu grande parte da Europa, convocando mulheres a abraçar esta causa. Os jardins de infância froebelianos entram nas instituições particulares como inovação pedagógica no séc. XIX. Margareth Meyer Schurz (1833-1876) e sua irmã difundiram os trabalhos de Froebel em relação aos jardins de infância na América. Outra colaboração muito importante foi Susan Elizabeth Blow (1843-1916), que abriu com sucesso o primeiro jardim de infância publico dos Estados Unidos, foi por meio dela que as idéias de Froebel acabaram chegando ao Brasil. No Brasil os primeiros a abrir jardins froebelianos foram: o colégio Menezes Vieira do Rio de Janeiro (1875) e a Escola Americana, dirigida por protestantes na cidade de São Paulo (1877). A associação do jardim de infância, a uma unidade de educação de meio período destinada a elite, se concretiza mais firmemente com a criação do jardim de infância da Caetano de Campos, de São Paulo em 1896, mesmo sendo uma escola pública, era freqüentada pela elite da época. 3.2 AUTORES QUE INFLUENCIARAM A OBRA DE FROEBEL Froebel sofreu algumas influências durante a formulação de suas idéias pedagógicas.Durante seus estudos na Universidade de Jena apaixonou-se pelos estudos de Schelling (1775-1854) em especial as obras A alma do mundo e Bruno e o princípio natural e divino das coisas, Schelling (1991), em sua obra Bruno, afirma a unidade entre Deus, enquanto espírito absoluto, e a natureza; mostrando que a natureza revela a criação de Deus e sua perfeição estando em unidade com o espírito do Criador. Schelling centralizava o estético em sua filosofia, pois considerava a arte como melhor caminho para se conhecer o absoluto, onde Deus é o grande artista e a natureza e o ser humano, suas obras. Um discípulo de Schelling, Karl Christian Krause (1781-1832), estava convencido da ligação entre religião e ciência, da harmonia entre a razão e a arte, da unidade da humanidade, da necessidade de apreensão de uma visão religiosa na vida dos indivíduos que levariam à necessidade do amor, à indivisibilidade moral entre a beleza e a liberdade de desejar obedecer a uma única lei, Krause acreditava assim como Froebel que Deus é uma Lei imutável e permanente que todo esse processo repetia-se no homem assim como em todos os seres vivos da natureza criados por Deus. Froebel, Krause e Schelling faziam parte do movimento Romântico, por isso valorizavam a harmonia do ser humano com a natureza. Eles buscavam o princípio do qual todos os homens eram iguais, para proporem formas de organização social. Outro intelectual que influenciou Froebel foi Pestalozzi (1746-1827), segundo ele o ensino escolar deveria permitir que o conhecimento fosse constituído a partir da vivência. Este educador valorizava o desenvolvimento das habilidades manuais e de atitudes e valores morais. Ressaltava a importância do desenvolvimento conjunto do cérebro, mãos e coração, pois considerava o ser humano como um todo. Recomendava que o trabalho pedagógico partisse sempre da intuição, ou vivência intuitiva para só depois passar para a elaboração de conceitos mais acadêmicos. Jean Jaques Rosseau (1712-1778) também embasou o trabalho de Froebel, Rosseau afirmava que a infância não é apenas uma etapa de preparação para a vida adulta, mas tinha seu próprio valor, defendia a idéia que a educação deveria levar a criança construir seu próprio conhecimento por meio de atividade de observação, exploração e da livre movimentação e não apenas ser receptor dos conhecimentos transmitidos pelos professores. Suas idéias abriram caminhos para discussões posteriores sobre o valor do “brincar” e de que a aprendizagem deveria partir do mais simples para o mais complexo. 3.3 INTRODUÇÃO À OBRA Com base nos pressupostos que norteiam a pedagogia froebeliana, a qual é objeto de estudo deste trabalho, descrever-se-á os elementos principais desta teoria. Froebel acreditava que a educação deveria conduzir o indivíduo ao desenvolvimento pleno, ou seja, desenvolver o homem em sua totalidade, espiritual cognitiva e emocional, o homem deveria estar em paz com Deus, consigo mesmo e com a natureza, tendo uma visão holística de desenvolvimento. Froebel fundador do primeiro Jardim de Infância (Kindergarten), elaborou um lugar que constituía-se em um centro de jogos, organizado segundo os princípios froebelianos e destinados à crianças menores de 6 anos. Froebel descreve seu Jardim de Infância e todos os seus pressupostos como segue citação abaixo: [...] Então, fundado na Natureza do Homem e no seu instinto de formação e atividade, e conectado com a criação deste impulso, o objetivo desta instituição é ser um todo vivente, ou como se fosse uma árvore em si mesma, assim promover meios de emprego e conseqüentemente de cultura e instrução, fundados na relação do homem com a natureza e a vida; meios os quais quando aplicados de uma maneira viva na criança desde o primeiro estágio de seu despertar espiritual e do uso de seus membros e sentidos, desenvolva-se de todas as formas em união consigo mesma, com a natureza e com as leis da vida. O objetivo desta instituição é suprir as necessidades e requerimento do mundo da criança, correspondente ao presente estágio de desenvolvimento da humanidade, e dar, aos pais e adultos que se encontram na posição mencionada, a criação das crianças instruídas por eles, apropriadas peças e meios de emprego e conseqüentemente instrução e orientação – educação em geral – e acima de tudo, meios adaptados para a mente, espírito e vida da criança: por isso ser capaz de provar igualmente necessário, natural e recíproco o chamando humano das famílias, venham, deixem-nos viver com nossas crianças, para ser tão grandioso quanto é rico em bênçãos” (Froebel, 1917, apud ARCE, 2002, p.67). Para Froebel, ao analisar o desenvolvimento infantil, as crianças eram comparadas a uma plantinha, que deveria ser cuidada e regada com amor pela jardineira, que seria a professora. Froebel dizia também que nem todas as plantas (crianças) se desenvolviam em ritmo igual, cabia a jardineira perceber essas diferenças e trabalhar com elas. Segundo Froebel este recanto deveria ser entregue as mulheres, por isso a expressão “jardineiras”, que com coração de mãe, eram as únicas capazes de cultivarem nas crianças todos os seus talentos e todos os germes da perfeição humana unida a Deus. O primeiro ponto da pedagogia froebeliana a ser assinalado é a de que o educador devia mostrar ao educando que ambos estão sujeitos à “unidadevital”, portanto, o modelo a ser seguido de perfeição humana seria “Jesus”, por reunir o divino, o humano e natural, porém a individualidade de cada ser humano deve ser valorizada, na busca do desenvolvimento de seus talentos. Froebel nos afirma isto quando diz: [...] Por isso, o próprio Jesus, em sua vida e em seu ensinamento, constantemente se opunha à imitação da perfeição externa. Somente a luta espiritual, a perfeição viva deve ser tomada com um ideal; sua manifestação externa – por outro lado – sua forma não deveria ser limitada. A vida mais elevada e mais perfeita que nós cristãos, enxergamos em Jesus – a mais conhecida na humanidade – é a vida que encontrou a última e primordial razão da sua existência claramente e distintamente em seu próprio ser; uma vida que, de acordo com a lei eterna, veio da vida completa, eternamente criadora, atuante e equilibrada. Esta vida perfeita eternamente elevada faria cada ser humano novamente se tornar uma imagem similar ao ideal eterno, para que cada um novamente pudesse se tornar um ideal semelhante a ele próprio e para os outros, faria cada ser humano se revelar auto-ativo e livre de acordo com a lei eterna (Froebel, 1887: 12-13). O segundo ponto da pedagogia froebeliana diz respeito ao processo de educação: o homem e a natureza possuem existência em Deus; educar é, portanto despertar no educando a consciência dessa realidade, por meio de atividades de interiorização e exteriorização. [...] “Nunca esqueça que o objetivo da escola não é tanto ensinar e comunicar uma variedade e multiplicidade de coisas, mas sim dar destaque à sempre viva unidade que está em todas as coisas” (FROEBEL, 1887: 134-135, APUD ARCE p.49). O terceiro ponto da metodologia froebeliana é de que o educador deve respeitar a natureza, a ação de Deus e a manifestação espontânea do educando, não podendo ser prescritiva, determinista e interventora, pois assim destrói a origem pura do desenvolvimento do educando. Com base na experiência, o objetivo principal desta pedagogia, centra-se na orientação e no despertar, disseminando qualidades e aniquilando defeitos, através do desenvolvimento pleno da harmonia entre homem, Deus e natureza (ARCE 2002, p.49). Como será afirmado por Froebel na seguinte passagem: [...] Nós concedemos espaço e tempo a plantas e animais jovens porque sabemos que, de acordo com as leis que vivem neles, eles desenvolverão apropriadamente e crescerão bem, a animais e plantas jovens é dado o tempo necessário sendo que a interferência arbitrária nesse crescimento é evitada, porque é sabido que a prática oposta atrapalharia a pureza da manifestação da melodia do desenvolvimento; mas o jovem ser humano é observado como um pedaço de cera, uma porção de argila na qual o homem pode moldar o que ele desejar. Oh, homem que vagueia através de jardim e campo, através de pasto e pomar, por que vós fechais vossa mente ao silencioso ensinamento da Natureza? Olhe mesmo a planta silvestre, que cresce entre obstáculos e limitações, raramente produz uma indicação da lei interna; olhe-a na Natureza, no campo ou no jardim, e veja como perfeitamente é conforme a lei – que vida interna pura ela mostra, harmoniosa em todas as partes e características: um sol bonito, uma estrela radiante surgiu da terra! Assim, pais, os seus filhos, os quais, vocês forçam em anos carinhosos, formas e objetivos contra suas naturezas, e que por isso poderiam andar com vocês em uma deformidade mórbida e artificial – assim poderiam suas crianças também revelar-se em beleza e desenvolver em harmonia completa! De acordo com as leis da influência divina e em vista do estilo e totalidade original do homem, toda educação arbitrária (ativa), prescritiva e categórica interferente na instrução e treinamento deve necessariamente aniquilar, prejudicar e destruir. [...] A representação livre e espontânea do divino no homem dá-se através da vida do homem, o que, como vimos, é o objetivo último e a razão de toda a educação, tanto quanto o destino último do homem (Froebel, 1887: 8-10). Froebel acreditava na idéia de que a criança desenvolve a sua inteligência brincando, porém essa brincadeira necessitava de materiais que a incentivassem a uma ação. Então recomendava o uso dos “dons” materiais por ele criados para ajudar na descoberta dos “dons” de cada criança, ou seja, os presentes dados a elas por Deus, que precisariam ser descobertos e aflorados. Segundo Froebel os “dons” eram acompanhados por jogos que possibilitavam que a criança simulasse atividades do seu cotidiano ou completasse suas criações por meio das Artes Plásticas. Esses jogos eram chamados de ocupações. Estas eram compostas basicamente por varas para traçar figuras, papel picado, fitas para entrelaçados e materiais para desenho, alinhavo, modelagem, dobraduras e tecelagem em papel. Froebel defendia a idéia de que por meio da brincadeira a criança interioriza e exterioriza saberes como coisas que a criança gosta de fazer ou não gosta, o que sabe e o que não sabe, cabendo a jardineira observar enquanto a criança brinca para posteriormente mediar tais situações. Define Froebel. “[...] observar, apenas observar, pois a criança mesma te ensinará” (apud Cole 1907: 26). Somente o professor observando seus educandos será capaz de desenvolver seus talentos, “dons”, conhecendo-os e fazendo a mediação no momento certo. Para Froebel o professor deve estar atento ao brincar dos pequenos, valorizando a brincadeira como um momento de aprendizagem e não apenas brincar por brincar. Froebel ressalta que: [...] Brincadeira – A brincadeira é a fase mais alta do desenvolvimento da criança – do desenvolvimento humano neste período; pois ela é a representação auto-ativa do interno – representação do interno, da necessidade e do impulso internos. A brincadeira é a mais pura, a mais espiritual atividade do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana como um todo – da vida natural interna escondida no homem e em todas as coisas. Por isso ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso interno e externo, paz com o mundo. Ela tem a fonte de tudo o que é bom. A criança que brinca muito com determinação auto – ativa, perseverantemente até que a fadiga física proíba, certamente será um homem (mulher) determinado, capaz do auto-sacrifício para a promoção do bem estar próprio e dos outros. Não é a expressão mais bela da vida da criança neste momento, uma criança brincando? – uma criança totalmente absorvida em sua brincadeira? – uma criança que caiu no sono tão exausta pela brincadeira? Como já indicado, a brincadeira neste período não é trivial, ela é altamente séria e de profunda significância. Cultive-a e crie-a, mãe; proteja-a e guarde-a, pai! Para a visão calma e agradável daquele que realmente conhece a Natureza Humana, a brincadeira espontânea da criança revela o futuro da vida interna do homem. As brincadeiras da criança são as folhas germinais de toda a vida futura. (Froebel, 1895, pág.54) Froebel acreditava que a criança que brinca tende a se tornar um adulto preocupado com o bem estar de todos; alguém que procura sempre resoluções positivas para os problemas que encontra. Froebel partia do pressuposto de que a criança é originalmente boa e pura. Entretanto, para ele, algumas delas acabam por se “contaminar” e assim se desvirtuam da bondade, na se preocupando com o bem estar do próximo. Assim ele propõe que a “jardineira” deva estar próximo para ajuda- la a resgatar a sua “bondade original”. Segundo Froebel, o brinquedo dever ser bem estudado e escolhido para que possa bem cumprir o seu papel. No caso das crianças “desvirtuadas” de sua “bondade original” a escolha do brinquedo apropriado se faz ainda mais importante. As crianças estão mais próximas de Deus e da perfeição de tudo que é mais sagrado e divino. Elas são um presente de Deus, e por isso tem muito a nos ensinar. Froebel defendiaque a escola deve guiar a criança no caminho mais correto possível, desenvolvendo suas potencialidades em conformidade com a natureza, com Deus e com a humanidade. Assim segue uma citação de Froebel complementa o que já foi dito: [...] Nós precisamos de escolas? Por que nós precisamos das escolas e do ensino? Como, então, eles deveriam ser, qual deveria ser sua constituição? Resposta: Como seres materiais e espirituais, nós nos tornamos pensantes, conscientes, inteligentes (autoconsciência, sentimento e percepção), seres humanos eficientes. Nós devemos primeiro procurar cultivar nossas forças, nosso espírito assim como os recebemos de Deus, para representar o divino em nossas vidas; sabemos que toda esta vida terrestre, também deve crescer em sabedoria e compreensão com Deus e os homens nas coisas humanas e divinas. Nós devemos saber que nós somos e podemos ser e viver tal qual nosso Pai. Nós devemos saber que nosso ser terrestre e todas as outras coisas terrestres são um templo onde vive Deus. Nós devemos saber que nós existimos para ser perfeitos como nosso Pai no céu é perfeito; e de acordo com este conhecimento nós devemos viver a agir. A escola deve nos conduzir; a escola e a instrução devem estar de acordo com este objetivo. O que, portanto, deve a escola ensinar? Em que deve o ser humano, a criança em idade escolar ser instruída? Somente levando em consideração a sua Natureza e suas necessidades ligadas ao estágio humano de seu desenvolvimento na infância e que estaremos aptos a responder a esta questão. Mas o conhecimento de sua natureza e de suas necessidades pode somente provir da observação do caráter do homem durante sua infância. Agora, de acordo com este caráter, com esta maneira de ser, o que deve ser ensinado à criança? A vida e o ser exterior do homem no início da infância nos mostram que a criança, em primeiro lugar, está animada por seu próprio espírito; mostram, também a existência de um sentimento vago de que este ser espiritual tem sua origem em um Ser maior e mais Supremo, e que depende deste Ser, no qual todas as coisas têm origem e do qual também dependem. A vida e o ser exterior do homem, na infância, mostram a presença de um sentimento intenso e uma antecipação da vivência da existência do espírito, no qual e pelo qual todas a coisas vivem, pelo qual todas as coisas são envoltas, como o peixe é envolto pela água e o homem e todas a criaturas pela limpa e pura atmosfera. [...] A instrução e a escola devem conduzir a vida toda em harmonia com este conhecimento. Através deste conhecimento elas estarão conduzindo o homem do desejo para a vontade, da vontade para a firmeza de propósitos, e assim numa progressão continuada o levarão a atingir o seu destino, a sua perfeição terrestre [FROEBEL, 1887, pp. 136-137, 139. ]. A educação para Froebel, portanto, deve estar ligada à “Unidade Vital” ou seja, deve estar ligada ao homem, a Deus e à natureza. Segundo ele, se o professor partir da teoria da unidade e utilizar-se dos “dons” e “ocupações”, potencialmente poderá atingir êxito na educação de seus alunos. 3.4 IDÉIAS PEDAGÓGICAS As idéias pedagógicas de Froebel reformularam a educação principalmente a voltada para as crianças pequenas, onde se inspirou no amor à criança e à natureza. A essência de sua pedagogia é de atividade, liberdade, construindo o novo a partir do conhecido. Segundo Froebel, a educação e o processo pelo qual o indivíduo desenvolve sua condição humana autoconsciente, onde todas as suas capacidades funcionam harmoniosamente em contínua relação com a natureza, a sociedade em que esta inserida e em unidade com Deus. É o que Froebel destaca nessa passagem: [...] conduza sua criança a agradar o fato como um todo espiritual assim, se desenvolvem as idéias dos membros e do todo, do individual e do universal – eduque sua criança deste modo e como resultado da sua educação ela irá reconhecer a si mesma como um membro vivo do todo e saberá que a vida espelha a vida de sua família, de seu povo, da humanidade, do ser vivo de Deus, Deus que trabalha para que tudo e todos tenham atingido um a visão clara da vida universal, o objetivo da consciência dele será manifestada nos seus pensamentos, sentimentos, nos seus relacionamentos e nos seus feitos, através desta autoconsciência ela irá aprender a entender a natureza, a experiência humana e a sua própria alma. Sua vida individual flui com as correntes da natureza e da humanidade [...] (Froebel, 1895, pág. 60) Portanto as instituições de educação infantil devem propiciar uma educação que leva o ser humano a compreensão e o respeito de si mesmo, a paz com a natureza, e, dando condições para que eles consigam a manifestação e a expressão externa do “eu” de necessidades e interesse existentes no interior de cada indivíduo. Para Froebel a educação deve ser progressiva e gradual, levando em consideração as necessidades dos educandos, onde cada etapa da infância deve ser considerada como única e o conhecimento que a criança traz consigo deve servir como alicerce para o processo educacional, onde o novo deve partir do anterior integrando-os e ligando-os aos posteriores. Pois como as folhas e ramos de uma árvore estão unidos ao caule, assim a educação deve respeitar a natureza básica ou simples da criança, então as atividades devem estar integradas e seguindo a progressão gradual, ou seja, partir do simples para o complexo, do real para o abstrato, usando o conhecido para compreender o novo. Segundo Froebel o novo deve brotar do velho respeitando dessa maneira o desenvolvimento orgânico da criança e ele explica estas concepções da seguinte maneira: [...] com objetivo de uma instrução viva e vivificadora e estimulante da vida é muito importante notar o momento, o lugar adequado para a introdução de um novo ramo de instrução. O caráter distintivo de um natural e racional. [...] O tema de instrução está no encontro e fixação deste ponto, portanto toda a atenção do professor deve dirigir-se para estes pontos irrupção de novos de instrução. (FROEBEL, 1825. EBY 1976). Para Froebel todas as atividades que levam à aprendizagem estão relacionadas com a vida em sociedade e a família é a primeira instituição social e ao mesmo tempo educacional pois os indivíduos que as integram formam uma unidade completa, onde as primeiras lições representam a transmissão de valores culturais em que estão inseridos. Na passagem a seguir Froebel mostra a importância da família para o desenvolvimento pleno das crianças e sua inserção na sociedade. Somente o tranqüilo e recluso santuário da família pode nos devolver o bem estar da humanidade. Com a constituição de cada família nova, é lançado o apelo à humanidade e cada ser humano, individual, para representar a humanidade em puro desenvolvimento, para representar o homem em sua pureza ideal [...] A finalidade e objetivo do cuidado dos pais com as crianças no círculo familiar é, pois despertar, desenvolver e estimular todos os dons naturais da criança. (FROEBEL, 1825. EBY 1976). Em sua concepção pedagógica Froebel ainda ressalta que a contemplação da natureza faz com que a criança reconheça que faz parte de algo maior. A humanidade e o reconhecimento do Criador (Deus) e todas as suas criações. Froebel também enfatiza o papel da mediação para extrair da criança todas as suas potencialidades, por meio de atividades automotivada, pois para ele o objetivo da educação é extrair da criança sempre mais e não apenas colocar conhecimento dentro dela. Froebel foi um educador único com idéias e propostas para, além de seu tempo, pois suas idéias pedagógicas influenciaram muitos educadores e as melhores tendências atuais sobre educação parecem culminar no que foi feito ou dito por Froebel, que mesmo numa época, que não existia o auxílio das ciências psicológicas e pedagógicas, conseguiu estruturar um modelo pedagógico que via a criançacomo um todo, respeitando-a, valorizando-a como ser único, “sementes que Deus deu para a humanidade”. E como a humanidade está em processo constante de desenvolvimento a educação é o meio essencial para sua evolução. 3.5 CONCEPÇÃO DE HOMEM Froebel concebe o homem como um organismo espiritual em equilíbrio com o psicológico e o físico e seu desenvolvimento é realizado por etapas que estavam interligadas e as etapas por ele descritas foram: infância; puerícia; meninice; e maturação; mas, não delimitou-as por idade e sim por objetivos educacionais e só quando um indivíduo atingia o pleno desenvolvimento máximo de suas potencialidades, onde cada fase é uma preparação para a seguinte como segue: [...] O desenvolvimento vigoroso e completo e o cultivo de cada fase sucessiva depende do desenvolvimento vigoroso, completo e característico de cada uma de todas as fases anteriores da vida. O menino não se tornou menino, nem jovem se tornou jovem, atingindo certa idade, mas apenas por ter vivido através da infância e, mais adiante, através da meninice, fiel às exigências de sua mente seus sentimentos e seu corpo. (FROEBEL, 1825. EBY 1976). A infância é a fase em que a criança precisa de “cuidados protetores”, sendo assim, nessa fase Froebel, concebe a criança como um “broto vivo surgindo do ramo” e deve-se estar atento pra que a criança desenvolva sua coordenação motora, seus sentidos da audição e visão, pois através destes que a criança percebe o mundo que a cerca, a linguagem também deve ter uma atenção especial. Puerícia começa com o desenvolvimento da linguagem, e é, nessa fase que a criança começa representar as coisas que a cercam, nomeando-as e expressando o que tem no seu interior. Froebel explicita essa fase na seguinte citação: [...] tão logo a atividade dos sentidos do corpo é desenvolvida a tal ponto que a criança começa por atividade espontânea a representar externamente o mundo interior, a fase da infância no desenvolvimento cessa e começa a puerícia. (FROEBEL, 1825. EBY 1976). Nessa fase a criança se expressa por meio da linguagem do brinquedo e da percepção do seu corpo depois por meio de objetos. Meninice, conhecida como fase pré-formal ou escolar, onde o ambiente exterior exerce uma influência maior e a auto-expressão toma forma de atividades construtivas, intencionais e dirigidas para que a aprendizagem ocorra. Mocidade e maturação nestas fases, o indivíduo toma consciência do seu próprio ser, define objetivos avalia resultados, primeira (mocidade) sua personalidade está se formando, na segunda (maturação) está formada, torna-se capaz e começa a buscar a perfeição. 3.6 CONCEPÇÃO DE CRIANÇA Ao discutir educação é impossível desvinculá-la da concepção de criança que cada teoria aborda e segundo a teoria froebeliana a criança é concebida como um ser repleto de potencialidades sendo a semente do futuro que traz dentro de si tudo aquilo que poderá vir a ser o norte de toda a atividade que está por ser realizada, onde a infância é reconhecida como a fase essencial da vida do homem. Froebel faz uma relação entre as crianças e as plantas de um jardim, pois se ambas, desde pequenas (sementes) receberem, cuidados de mãos habilidosas, se fortalecerão, crescerão e darão bons frutos, descobrindo seu eu, suas habilidades e sua essência como ser humano. Segundo Froebel a criança só atinge seu autoconhecimento se forem oferecidas a ela condições para desenvolver sua “força autogeradora“ ou seja, se nela for despertado o seu interesse, sua curiosidade e o desejo de aprender. E isso deve ser feito por meio de atividades espontâneas que lhe seja real, isto é, a partir daquilo que já conhece, para que isso aconteça, ela precisa experimentar, explorar e estruturar o desconhecido, para torná-lo conhecido e integrando-o a sua realidade. A partir dessas ações a criança desenvolverá o que se chama função simbólica, ou seja, a capacidade de representar mentalmente por meio de símbolos a realidade que o cerca. Esses símbolos podem ser, desenhos, jogos, brincadeiras. A linguagem oral, gestual ou escrita. Froebel defendia o desenvolvimento da autoconfiança, pois só a partir desta é que a criança irá se arriscar, criar, construindo assim sua identidade, autonomia e individualidade e isso levaria a criança a conhecer a si mesma e o mundo que a cerca, onde a educação iria conduzir e cultivar nas crianças suas “tendências divinas” e quanto mais perto estiver de sua expressão “divina”, da realização de seu potencial, mais ela caminhará na realização futura do homem em suas atividades, na busca do desenvolvimento contínuo da humanidade, descobrindo seu eu, suas habilidades e sua essência como ser humano. 3.7 A CONCEPÇÃO DE PROFESSOR SEGUNDO FROEBEL Froebel dá um papel primordial à mulher destacando-a como educadora em potencial e pela sua habilidade de educar dentro e fora do lar, pois a mulher segundo ele é possuidora da capacidade biológica da maternidade e por isso, sabe respeitar o desenvolvimento natural da criança. “Pois no cuidado da criança na primeira fase da vida, baseado na vida e na índole feminina, está criado o fundamento e a direção de toda a vida futura da pessoa” (FROEBEL 1844/45, Conrad 2000). Segundo Froebel as crianças eram como plantinhas de um jardim, onde o educador deveria assumir o papel de jardineiro, sendo responsável pelo crescimento adequado, respeitando a natureza e a espontaneidade do aluno. Para Froebel o professor é o alicerce do trabalho escolar e terá a função de mediador com a habilidade fundamental de observação para acompanhar e levantar elementos importantes na mediação da atividade. E seu interesse deve estar focado no desenvolvimento das potencialidades das crianças. O professor deve ser “ativo” manifestando suas habilidades técnicas como: organizar o ambiente, apresentação sábia da matéria, passar sua experiência para desenvolvendo ações de cooperação entre as crianças e o professor, pois a cooperação e base para se trabalhar o comportamento dos alunos, onde o desenvolvimento infantil deve ser acompanhado com paciência e respeito pela manifestação espontânea da mesma. [...] todo o aconchegante amor de mãe procura despertar o sentimento de comunidade entre a e o pai, irmão e irmã. O qual é tão importante. [... adicionando assim esse senso do que é comunidade como um germe glorioso do desenvolvimento, o amor da mãe busca também através deste movimento conduzir a criança a sentir sua própria vida interna pulsando.] (FROEBEL, 1887, Apud ARCE 2002.) Assim a educadora por meio de sua sabedoria, observa cada momento, as atividades propostas, orientando, estimulando, transmitindo valores morais, culturais, espirituais e sociais dando assim uma base para que a criança usasse como referência durante toda sua vida. 3.8 MATERIAIS IDEALIZADOS POR FROEBEL FROEBEL foi o primeiro educador a idealizar materiais e recursos pedagógicos sistematizados enfatizando, brinquedos, brincadeiras, jogos, músicas e histórias. Dentre esses muitos foram criados por Froebel e tinham como objetivo fazer com que as crianças pudessem se expressar. Os recursos pedagógicos foram divididos em dois grupos “dons” ou “ocupações”. “[..] os dons seriam uma espécie de presente dado às crianças, ferramentas para ajuda-las a descobrir seus próprios dons, isto é, descobrir os presentes que Deus teria dado a cada um deles”. (ARCE, 2001, p.193) Os dons são materiais que não mudam de forma como cubo, cilindros, bolas, bastões e tabuinha que eram utilizadas em brincadeiras, possibilitam à criança construções variadas, partindo do imaginário para o real ou do real para o imaginário, isto é, usando os “dons” as crianças constroem objetos que fazem parte do seu cotidiano como: camas, estradas, casas, etc. Segundo Froebel ao observar a criança trabalhando com os“dons”, o professor ou outro adulto consegue compreender quais áreas despertam maior interesse na criança e assim direcionar um trabalho nestas áreas para que as atividades com os “dons” sejam mais produtivas. Para Froebel as atividades com os “dons” devem ser organizadas de acordo com os seguintes momentos: primeiro deixar que as crianças manipulem os materiais “dons” de maneira mais livre possível, deixando que ela crie de acordo com seu interesse e, segundo Froebel, neste momento a criança cria aquilo que faz parte do seu cotidiano como: casinhas, camas, animais, etc. No segundo momento deve-se trabalhar explorando as formas geométricas e partindo dos conhecimentos prévios, adquiridos através das manipulações anteriores, deve-se ênfase a conceitos como: forma, volume, tamanho, quantidade e densidade. Segundo Froebel deve-se ser desenvolvidas atividades de linguagens, ligando o nome das formas aos objetos com as respectivas formas. Em seu livro “Pedagogia dos Jardins-de-Infância” (FROEBEL, 1917) ele apresenta os dons descrevendo-os detalhadamente, incluindo as instruções de como os “dons” podem ser melhores aproveitados. Primeiro dom uma bola, seguida de seis bolas menores e macias, nas cores: vermelha, laranja, amarelo, verde, azul e violeta. Segundo Froebel, este dom como todos ou outros, deve ser apresentado à criança, numa primeira etapa, ligando o seu uso às coisas do “cotidiano”, onde a criança é levada a observar determinadas situações como: animais num parque, comparando seus movimentos aos possíveis movimentos que poderiam ser realizados com a bola. A criança deveria explorar esse dom exaustivamente, para só depois o professor começasse explorar os conceitos matemáticos encontrados em uma bola. Segundo “dom” composto de uma bola de madeira, um cubo do mesmo tamanho e um cilindro. Segundo Froebel as atividades com esse dom devem ser idênticas a do primeiro “dom”, com a diferença que nesse momento dever ser acrescentado novas formas comparando o novo com o familiar. Terceiro “dom”, um cubo grande dividido em oito cubos pequenos e por meio da manipulação desses as crianças poderiam criar vários objetos. Esse “dom” , como os outros, vinha acompanhado com figuras desenhadas de vários objetos que poderiam ser construídos usando esse material (dom). Quarto “dom” se tratava de um cubo grande dividido em oito tabuinha planas e iguais entre si. Cada tábua correspondia a uma oitava parte da área total do cubo. Esse “dom” permitia que as crianças criassem diversas formas . Este dom vinha acompanhado de cem cantos, rimados e interpretados, como este: [...] como o cubo eu fico aqui no meu lugar; como superfície agora eu mostro meu rosto; ainda sempre sou o mesmo. Eu gosto desse jogo bonito. Agora sem demora. Divida-me em sua brincadeira; Fazendo rapidamente, Mas, contudo cuidadosamente, Duas partes bastante iguais. (FROEBEL, 1917. Apud ARCE, 2002) Froebel afirmava que enquanto a professora cantasse essa rima, deveria ir dividindo o cubo todo em duas partes iguais. A divisão poderia ser feita horizontalmente ou verticalmente. Enquanto a professora canta, deve-se fazer passar pelo cubo, dando vida a esse objeto, dando a impressão que fosse o cubo que estivesse falando com as crianças. “[...] De cima se você me dividir, as duas metades ficarão em pé; se você me dividir pelo meio, Metades deitadas, encontrarão sua vista. Em posição, não são as mesmas, Cada uma é como a outra metade.” (FROEBEL, 1917, Apud ARCE, 2002) Segundo Froebel, as atividades com o quarto dom, devem ser dirigidas e mediadas atentamente pelo professor, onde a criança deve ser levada a compreender os conceitos matemáticos que poderiam ser encontrados. A partir do “quarto dom” as atividades começam ser dirigidas através de cópias de figuras já prontas ou por intermédio da mediação do professor. Quinto dom, composto de um cubo grande dividido em 27 cubos menores, entre os quais alguns estão divididos no sentido diagonal. Sexto dom, consistia em 27 tábuas planas de diferentes tamanhos que quando colocadas umas sobre as outras e completando com as menores formavam um cubo grande e que estão sendo interpretada nessa rima: [...] Coloque uma metade sobre uma metade deite uma metade ao lado de uma metade uma forma longa esta deve ser; com tudo forma e tamanho iguais se mostram em cada posição como nós conhecemos [...](FROEBEL, 1917, Apud ARCE, 2002) Sétimo dom, trata-se de vários triângulos coloridos e a ênfase dada a esse dom era o estudo das formas planas. Este dom, segundo Froebel leva a criança à exploração das formas planas, geométricas, e a identificação das cores. Oitavo dom constituía-se em diversas formas geométricas (conhecidas hoje em dia como o material USINAIRE), através da manipulação desse dom, as crianças construiriam as mais diversas formas e objetos. Nono dom era composto de muitos círculos feitos de cobre, entrelados entre si, formando uma corrente, era usado juntamente com o oitavo dom. Décimo dom, composto por diversos materiais como tabuinhas, bastões, caixas de diferentes tamanhos e formatos. Esse material permitia que a criança explorasse diversos tipos de materiais ao mesmo tempo. Segundo OSBORN (1991: So Apud. ARCE, 65) os seis primeiros dons trabalhavam com o concreto e os últimos quatros exploravam e davam ênfase para o abstrato, estudando a geometria e a álgebra, e, segundo Froebel deveriam ser utilizados a partir dos 10 anos. É interessante destacar que os “dons” foram elaborados para que a criança pudesse interiorizar e exteriorizar seus conhecimentos. Como explica Froebel citado por ARCE: [...] o anseio mais profundo da vida interna é se ver espelhado em algum objeto externo. E através de tal reflexo a criança aprende a conhecer sua atividade, essência, direção e objetivo, e aprende também, a ordenar e determinar sua atividade em correspondência com o fenômeno externo. Tal como refletir a vida interna, fazer chegar o erro na fonte. É essencial que através disso a criança conscientize-se e aprenda a ordenar, determinar e se controlar. A criança deve perceber e manter sua própria vida em uma manifestação objetiva antes que ela possa percebe-la e mantê-la nela mesma. Esta lei de desenvolvimento, pré-escrita pela natureza e pelo caráter essencial da criança, deve sempre ser respeitada e obedecida pelo educador verdadeiro, seu reconhecimento é o objetivo dos meus “dons” e jogos. Os fenômenos externos da vida ativa da criança não devem ser considerados externamente e isoladamente pelo educador, eles devem sempre ser estudados em suas relações com a vida interna, como procedendo ou recuando dela. (2002 p. 62-63) Os dons eram trabalhados juntamente com as “ocupações” e, através destas poderiam ser representados, trabalhando a interiorização e exteriorização dos “dons”. As ocupações eram materiais que se modificavam com o uso (argila, areia, lápis, papel, linhas, sementes) e eram utilizadas em atividades de modelagens, recortes, dobraduras, colagens e alinhavos em cartões com diferentes desenhos. As crianças montavam também colares utilizando contas ou sementes perfuradas. Além dessas, há outras que estimulavam a iniciativa das crianças nas atividades formais. Jogos, histórias e canções, completam a listagem de matérias que acompanhando os “dons” e as “ocupações” se articulam via à mediação do professor. Por meio dos jogos, são trabalhadas as regras, a forma de utilização, delimitações de ações. Capacitam a criança a atuar de modo independente, dentro de certos limites e regras. Conforme explica Froebel citado por ARCE: [...] o objetivo do jogo consiste na atividade simplesmente; seu objetivo descansa agora em um definido e consciente propósito, ele procura a representação em si ou