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MÓDULO 1: PRINCÍPIOS DAS CIÊNCIAS CRIMINAIS TEMA 3 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS III RESUMO PREVISÃO CONSTITUCIONAL CF, art. 5º, LV – “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” CONCEITO “O contraditório significa a oportunidade concedida a uma das partes para contestar, impugnar, contrariar ou fornecer uma versão própria acerca de alguma alegação ou atividade contrária ao seu interesse. (...) O contraditório compõe uma das mais relevantes faces do devido processo legal, associado, sob o prisma do acusado, à ampla defesa. Por certo, não haveria processo bilateral, com igualdade de oportunidades, preservando-se o equilíbrio e a isenção estatal na condução do feito, se não houvesse o contraditório”1. ELEMENTOS Direito à informação ciência de todos os atos do processo e das provas produzidas. Direito à participação possibilidade de se manifestar, contestando, impugnando e contrariando as provas e alegações da outra parte, bem como fornecendo sua própria versão e elementos para corroborá-la. Paridade de armas deve-se assegurar igualdade de condições entre as partes. Busca da efetiva igualdade processual. Contraditório não é uma mera faculdade, não se pode abrir mão. CPP, art. 261, caput – “Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado 1 Nucci, Guilherme de Souza. Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4 ed. Rio de Janeiro : Forense, 2015. Aula III – Contraditório ou julgado sem defensor”. CPP, art. 261, § único – “A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada”. Art. 497, V – “São atribuições do Juiz Presidente do Tribunal do Júri (...) nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso”. Súmula 707, STF – “Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”. Contraditório também é obrigatório na fase de investigação (inquérito policial)? - Prevalece que não. Principais argumentos: - O art. 5º LV, da CF, faz menção ao contraditório em “processo judicial ou administrativo”. Inquérito não é processo. - Inquérito é mero procedimento administrativo voltado à colheita de elementos de informação quanto à existência do crime e de sua autoria. Esses elementos não tem o mesmo valor probatório daqueles colhidos em juízo. - Delegado tem discricionariedade para conduzir as investigações. Se assim não fosse, se esvairia a eficácia da investigação. - Do inquérito não resulta sanção Lei 8.906/1994 (redação dada pela Lei 13.245/2016) - Art. 7º. “São direitos do advogado: (...) XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: apresentar razões e quesitos”. Entende-se que não é obrigatória a presença do advogado. Contudo, se o investigado estiver com advogado, o profissional tem o direito de acompanhar o interrogatório. Interceptação telefônica (Lei 9.296/1996) – não faria sentido comunicar o alvo da interceptação. Em casos assim, o contraditório é feito posteriormente à produção da prova (contraditório diferido). Amplitude do acesso do advogado aos autos da investigação: Súmula vinculante 14 do STF - O advogado tem direito de examinar os autos do procedimento investigatório, caso a diligência policial já tenha sido documentada. Tratando-se de diligências que ainda não foram realizadas ou estão em andamento, não há esse direito JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA Prova nova introduzida em contrarrazões •STF: “Prova nova apresentada pelo Ministério Público em contrarrazões, sem vista à defesa. Consideração pelo acórdão. Inadmissibilidade. Ofensa ao princípio do contraditório (art. 5.º, LV, da CF). Ordem concedida. É nula a decisão que se remete, expressamente, a provas admitidas sem contraditório em contrarrazõesde recurso” (HC 87.114-SP, 2.ª T., rel. Cezar Peluso, 04.12.2009, v.u.). Elementos colhidos em sede de inquérito policial TJSP: “Somente a prova penal produzida em juízo pelo órgão da acusação penal, sob a égide da garantia constitucional do contraditório, pode revestir-se de eficácia jurídica bastante para legitimar a prolação de um decreto condenatório. Os subsídios ministrados pelas investigações policiais, que são sempre unilaterais e inquisitivas – embora suficientes ao oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, não bastam, enquanto isoladamente considerados, para justificar a prolação, pelo Poder Judiciário, de um ato de condenação penal. E nula a condenação penal decretada com apoio em prova não produzida em juízo e com inobservância da garantia constitucional do contraditório (STF, HC 73.338-RJ, rel. Celso de Mello, DJ 19.12.1996)” (ACR 990.09.275425-4-SP, 12.ª C.D.C., rel. Paulo Rossi, 05.05.2010, v.u.). Esgotamento dos meios para a localização do acusado TRF-1.ª R.: “O esgotamento prévio dos meios disponíveis para a localização do acusado é providência indispensável para a validade da citação por edital (art. 361 do CPP). Precedentes do STF e STJ. II. Se a citação editalícia é determinada sem que tenha sido sequer tentada a citação pessoal do acusado, quando era possível encontrá-lo mediante a adoção de providências simples, à disposição da acusação, há nulidade absoluta a macular o feito, decorrente da violação dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório (art. 5.º, LV, da Constituição Federal)” (ACR 1998.37.01.000559-9-MA, 3.ª T., rel. Cândido Ribeiro, 11.01.2010, v.u.). Sentença deve enfrentar as teses trazidas pela Defesa TJMG: “O decreto condenatório que suprime de seus fundamentos teses apontadas pelas partes, causa sensível prejuízo, devendo o ato decisório ser declarado nulo pelo órgão revisor. A norma constitucional-processual é garantista, não havendo razão para a subsistência do ato que não se submeteu à obediência da regra que assegura às partes o direito ao contraditório” (ACR 1.0223.08.253635-8/001-MG, 5.ª C.C., rel. Maria Celeste Porto, 23.06.2009, v.u.). Necessidade de resposta à acusação STF: “Na concreta situação dos autos, a ausência de oportunidade para o oferecimento da resposta preliminar na ocasião legalmente assinalada revela-se incompatível com a pureza do princípio constitucional da plenitude de defesa e do contraditório, mormente em matéria penal. Noutros termos, a falta da defesa preliminar à decisão judicial quanto ao recebimento da denúncia, em processo tão vincado pela garantia constitucional da ampla defesa e do contraditório, como efetivamente é o processo penal, caracteriza vício insanável. A ampla defesa é transformada em curta defesa, ainda que por um momento, e já não há como desconhecer o automático prejuízo para a parte processual acusada, pois o fato é que a garantia da prévia defesa é instituída como possibilidade concreta de a pessoa levar o julgador a não receber a denúncia ministerial pública. Logo, sem a oportunidade de se contrapor ao ministério público quanto à necessidadede instauração do processo penal – objetivo da denúncia do Ministério Público –, a pessoa acusada deixa de usufruir da garantia da plenitude de defesa para escapar à pecha de réu em processo penal. O que traduz, por modo automático, prejuízo processual irreparável, pois nunca se pode saber que efeitos produziria na subjetividade do magistrado processante a contradita do acusado quanto ao juízo do recebimento da denúncia.” (HC 95.712-RJ, 1.ª T., rel. Ayres Brito, 20.04.2010, v.u.). FONTE BIBLIOGRÁFICA NUCCI, Guilherme de Souza, __________. Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4 ed. Rio de Janeiro : Forense, 2015. OLIVEIRA, Eugênio de. Curso de Processo Penal, 20ª edição. Atlas, 04/2016.
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