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Pó s- gr ad ua çã o em E du ca çã o DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: FUNDAMENTOS E ADEQUAÇÕES METODOLÓGICAS E CURRICULARES Roberto Castro Diretores Diretoria Executiva Luiz Borges da Silveira Filho Diretoria Operacional Marcelo Antonio Aguilar Diretoria Acadêmica Francisco Carlos Sardo Editora Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Projeto Gráfico Evelyn Caroline dos Santos Betim Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. 1 INTRODUÇÃO Numa perspectiva inclusiva, a utilização dos termos técnicos corretos não é mais uma questão de descaso, mas sim uma forma de romper paradigmas de preconceitos, estereótipos e estigmas. Com isso, a deficiência mental passa a ter uma nova nomenclatura, a de Deficiência Intelectual. Neste artigo, usaremos as duas nomenclaturas, devido ao fato de estarmos referenciando autores importantes que ainda utilizam ainda esses termos. 2 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Durante séculos, a pessoa com deficiência foi con- fundida e mantida internada em orfanatos, manicô- mios, prisões e outros tipos de instituições estatais. Nas sociedades antigas era normal o infanticídio quando era observadas anormalidades nas crianças. Na idade média, a Igreja condenou o infanticídio, mas, por outro lado, acalentou a ideia de atribuir a causas sobrenaturais as anormalidades de que pade- ciam as pessoas. Considerou-as possuídas pelo demô- nio e outros espíritos maléficos, submetendo-as a práticas de exorcismo. No final do século XVIII e início do século XIX, iniciou-se o período da institucionalização especializada de pessoas com deficiência, e é a partir de então que podemos considerar ter surgido a educação especial. A sociedade toma consciência da necessidade de prestar apoio a esse tipo de pessoa, embora esse apoio tenha, a princípio, um caráter mais assistencial do que educativo. Imperou-se a ideia de que era preciso pro- teger a pessoa normal da não normal, ou seja, a pessoa deficiente era considerada um perigo para a sociedade. Naturalmente, o inverso também acontecia: era neces- sário proteger o deficiente dessa sociedade. O resul- tado foi que para ambas as concepções, separa-se o deficiente, segrega-se, discrimina-se. A ideia de colocar os deficientes mentais em ins- tituições se prolongou até meados do presente século. Garcia (1989) apresenta uma série de razões para que isso aconteça. 2 As atitudes negativas para com os deficientes estão muito arraigadas. 2 Uso e abuso da psicometria desde o começo do século. 2 Deficiente é considerado um elemento per- turbador, antissocial e apresenta sexualidade descontrolada. 2 Muitos profissionais experientes, que em determinado momento tinham se compro- metido com atitudes renovadoras, abandona- ram o campo da deficiência. 2 As duas guerras mundiais e a Grande Depres- são, dos anos 30 do século XX, ao desviar verbas para outros setores, fizeram paralisar o desenvolvimento dos serviços sociais. Ao longo do século XIX, foram criadas escolas especiais para cegos e surdos e, no final do século, ini- ciou-se o atendimento aos deficientes mentais em ins- tituições criadas para este fim. Tentar encontrar métodos de tratamento foi um dos fatos importantes da história da educação especial durante esse período, a saber: 2 Philippe Pinel (1745-1826) – empreendeu o tratamento médico dos atrasados mentais e escreveu os primeiros tratados sobre eles. 2 Esquirol (1722-1840) – estabeleceu a dife- rença entre o idiotismo e demência no Dic- tionnaire des sciences médicales. Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 4 2 Itard (1974-1836) – trabalhou durante seis anos no famoso caso do selvagem de Aveyron. 2 Voisin, na sua obra Aplication de la phisiologie du cerveau a l’étude des enfants Qui necessitent une education spéciale, publicada em 1830, estudou o tipo de educação necessária para a criança com atraso mental. 2 Seguin (1812-1880) – dedicou-se a elaborar um método para a educação das “crianças idiotas”, que denominou método fisioló- gico, foi o primeiro autor de educação espe- cial que fez referência nos seus trabalhos à possibilidade de aplicação desses mesmos métodos no ensino regular. Publica, em 1836, a sua obra Tratement moral, hygiene et education des idiots. 2 Puigdellivol (1836) – nos trabalhos deste autor acontece o nascimento da educação especial no sentido moderno, saindo da visão de atendimento médico assistencialista até então existentes. 2 (Gallton, Binet) – o desenvolvimento cientí- fico técnico permite dispor de métodos viá- veis de avaliação e tratamento (médico, psi- cológico e educativo). 2 Alguns defensores de uma pedagogia nova como Montessori e Decroly trabalham em educação especial e rapidamente sentem necessidade de construir uma pedagogia tera- pêutica, como fazem Georges Deinhart em 1861 e Heller em 1904 (MAYOR, 1989). 3 CONCEITUAÇÃO DO DEFICIENTE INTELECTUAL Domingos Batista Pacheco e Rosário Paradas Valência, no livro Necessidades Educativas Especiais (1993), capítulo 9, argumentam que antes de se falar em deficiência mental é necessário abordar o conceito de inteligência e suas características. Para eles, existem fundamentalmente três teorias para explicar a estru- tura da inteligência. 1) Teoria monárquica – considera a inteligência uma faculdade única ou unitária não com- posta por outras faculdades inferiores. Esta teoria foi adotada até o século passado. 2) Teoria oligárquica ou bifactorial – defende a existência de um fator geral “G” denominado inteligência geral, e um segundo fator especí- fico constituído pela capacidade concreta para cada tipo de atividade (fator “S”). Esta teoria foi defendida por Spearman, para quem a inte- ligência é um conjunto formado pelo fator G (inteligência geral) e fatores específicos. 3) Teoria multifactorial – sustenta a existência de 13 fatores, dos quais os seis primeiros podem ser considerados capacidades primárias: com- preensão verbal, fluência verbal, relação espa- cial, fator numérico, memória e raciocínio ou indução. São independentes entre si e cons- tituem o que chamamos de inteligência. O maior defensor desta teoria é Thurstone. Estas teorias nos conduzem a uma concepção determinista da inteligência – o que é medível pelos testes, considerando-se a forma estática e reduzindo a capacidade mental a um número, o QI. Esta aborda- gem deve ser considerada com precaução, pois duas pessoas com o mesmo QI podem apresentar diferentes capacidades e habilidades. A forma de concepção atual sobre deficiência per- passa essas considerações, sendo que atualmente, no Brasil, adota-se a proposta da Associação Americana de Retardo Mental – AAMR, que em 1992 propôs a definição da deficiência mental como: “funciona- mento intelectual significativamente abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomi- tante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da socie- dade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho”. Logo, considera-se que as pessoas diagnosticadas como deficientes intelectuais deverão apresentar resul- tados de QI iguais ou inferiores a 70 – 75 pontos em testes psicométricos de inteligência, validados e nor- malizados, tendo sido aplicados em condições adequa- das e por profissionais competentes. Esses resultados devem, ainda, levar em conta as diferenças culturais, sociais, linguísticas, familiares e educacionais e consi- derar as alterações motoras, sensoriais e emocionais da pessoa avaliada. No entanto, de acordo com a definição, o índice de QI,exclusivamente, não constitui condi- Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 5Faculdade Educacional da Lapa - FAEL ção suficiente para diagnosticar uma pessoa como deficiente intelectual, uma vez que outros aspectos devem ser considerados. 2 Oriundos do período de desenvolvimento – isto é, deverá ocorrer até os 18 anos de idade, ou seja, aparecer durante o seu desenvolvi- mento, sendo que essa idade limite está con- vencionada na proposta da AAMR. 2 Concomitantemente com limitações associa- das a duas ou mais áreas da conduta adap- tativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade – para que uma pessoa seja iden- tificada como deficiente mental, a AAMR registra que é preciso coexistir outros aspec- tos referentes a áreas das habilidades adapta- tivas defasadas (no mínimo duas) para que o diagnóstico seja definitivo. Para dar um sig- nificado prático, esclarecemos: 2 Comunicação – compreensão e expres- são de informações por meio da palavra (falada ou escrita), linguagem gestual, digital e de sinais, toques, expressões corporais, etc., e para compreender as emoções e as mensagens de terceiros. 2 Autocuidado – refere-se às habilidades que asseguram a higiene pessoal, a alimenta- ção, o vestuário, o uso do sanitário, etc. 2 Vida familiar – diz respeito às habilida- des necessárias para uma adequada fun- cionalidade no lar, no cuidado com os pertences, com o ambiente doméstico, os cuidados com os bens da família, a participação nos trabalhos domésticos, no convívio e nas relações familiares, entre outros aspectos. 2 Vida social – diz respeito às trocas sociais na comunidade, ao respeito e às relações com vizinhos, colegas, amigos e membros da comunidade, compartilhar e cooperar, res- peitar limites e normas, fazer escolhas, con- trolar impulsos, resistir às frustrações, etc. 2 Autonomia – refere-se a habilidades para fazer escolhas, tomar iniciativas, cumprir planejamento, atender aos pró- prios interesses, cumprir tarefa, pedir ajuda, resolver problemas, defender-se, explicar-se, etc. 2 Saúde e segurança – habilidades para cuidar da saúde, evitar doenças, cuidar da segurança, evitar perigos, seguir leis de trânsito e outras que visem ao bem- -estar e à saúde, desenvolver hábitos pessoais adequados, comunicar necessi- dades, etc. 2 Funcionalidade acadêmica – habilidades relacionadas à aprendizagem dos conte- údos curriculares propostos pela escola que têm relação com a qualidade de vida da pessoa, como ler, escrever, cal- cular, obter conhecimentos científicos, sociais, relativos à sexualidade e outros que permitem maior funcionalidade na vida, independentemente do nível esco- lar alcançado. 2 Lazer – refere-se às habilidades para desenvolver interesses e participar de ati- vidades de entretenimento individual e coletivo, de acordo com a idade e com o ambiente cultural e comunitário, com- portar-se adequadamente, compartilhar, retomar, completar e cooperar na reali- zação dessas atividades. 2 Trabalho – habilidades para realizar um trabalho em tempo parcial ou total, comportando-se apropriadamente, coo- perando, compartilhando, concluindo tarefas, tomando iniciativas, adminis- trando bem o salário, aceitando a hie- rarquia, suas próprias limitações e dos demais, realizando atividades indepen- dentes, etc. Figura 1 – Modelo funcional da deficiência intelectual. Fonte: Adaptado de AAMR (1992). Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 6 De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 10% (dez por cento) da população brasileira é composta de pessoas portadoras de deficiência, das quais 5% (cinco por cento) são portadoras de defici- ência intelectual. Esse número é muito expressivo e reflete a necessidade de se pensar a deficiência intelec- tual na sociedade, e de que modo os direitos e neces- sidades dessa população específica tem sido atendidos. Ao se pensar na etiologia da deficiência intelectual, até mesmo para se buscar formas de prevenir ou reduzir a sua incidência, encontramos quatro tipos de fatores causais, sendo estes fatores interativos e cumulativos. 2 Fatores biomédicos – dizem respeito a pro- cessos biológicos, destacando-se: problemas metabólicos (fenilcetonúria), síndromes endocrinológicas (hipotireoidismo), síndro- mes morfológicas (microcefalias), síndromes neurológicas (distrofia muscular), doenças infecciosas, intoxicações, traumatismos crâ- nio-encefálicos, tumores, transtornos men- tais, etc. 2 Fatores sociais – situam-se entre os proble- mas de interação familiar e social relaciona- dos à ausência de interação social e familiar. 2 Fatores comportamentais – estão associados a comportamentos potencialmente causais, tais como a síndrome da criança maltra- tada, seviciada, abusada ou negligenciada. Podem estar envolvidos tanto os aspectos emocionais como os traumas crânio-ence- fálicos decorrentes. 2 Fatores educacionais – associados ao não atendimento das exigências de apoio e suporte que certas crianças necessitam para o seu desenvolvimento intelectual e das habili- dades adaptativas. Muitas causas da deficiência mental são desconhe- cidas. Estudos recentes revelam que 50% (cinquenta por cento) das causas de deficiência mental dos tipos menos graves são desconhecidas e entre as mais graves, 30% (trinta por cento) têm a sua origem desconhe- cida. O interesse em se conhecer as causas da defici- ência mental se deve a importância em se detectar as possíveis limitações que ela possa vir a provocar nas pessoas e, principalmente, identificar os meios para sanar essas causas ou mesmo evitá-las. Muitas ações poderiam ser desencadeadas de modo a evitar a ocor- rência de deficiências: 2 Programas de prevenção contra drogas, álcool e vacinação da mãe contra certas doenças, também chamadas de prevenção primária. 2 Programas de dieta para crianças que nas- ceram com fenilcetonúria e programas de estimulação precoce são exemplos de ações que reduzem a duração ou revertem os efei- tos de problemas já existentes que podem resultar em deficiência, caracterizadas de prevenção secundária. 2 Programas de educação especial, de qualifica- ção profissional para pessoas com deficiência e programas de reabilitação, que reduzem as consequências dos problemas gerados pelas deficiências e melhoram o funcionamento da pessoa, que se denomina prevenção terciária. Até hoje a deficiência intelectual tem sido vista como uma doença, enfermidade incurável, mas os conhecimentos científicos comprovados e novas des- cobertas têm revelado que: 2 Nem sempre as síndromes biomédicas pro- vocam deficiência mental. 2 A condição etiológica pode ser tratável e o seu conhecimento prévio permite procedi- mentos que minimizam as deficiências que viriam a ocorrer. 2 Pessoas com deficiência mental podem ter saúde perfeita, assim como outras podem apresentar graves problemas biomédicos, sendo que a maioria situa-se entre esses dois extremos. 2 Etiologia não é “sinônimo” de deficiência intelectual, uma vez que as pessoas com uma mesma condição etiológica podem ou não vir a apresentar deficiência mental. 2 A saúde física de uma pessoa com deficiência intelectual influencia a sua funcionalidade, mas outros fatores também participam, tais como, a natureza do ambiente em que vive – exigências , expectativas- , bem como os efei- tos e o impacto exercido pelas suas limitações intelectuais e adaptativas. 2 E finalmente, as pessoas com deficiência intelectual não apresentam incompetência generalizada, possuindo muitas capacidades e habilidades que permitem o seu desenvol- Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 7Faculdade Educacional da Lapa - FAEL vimento e ajustamento às demandas do seu meio físico e social. Durante muito tempo acreditou-se que as pessoas com deficiência intelectual não aprendiam os conte- údos acadêmicos ensinados nas escolas, deste modo, suaeducação era pautada na crença de que só teriam acesso a aprendizagens relacionadas a atividade da vida diária – autocuidado e segurança, algumas habilidades sociais, de lazer e de trabalho supervisionado, aprendi- zagem acadêmica, para quê? Como decorrência natural da falta de oferta do conhecimento, muitos se tornaram sub-realizados na escola ou engrossaram as fileiras dos chamados incompetentes curriculares antes mesmo de terem acesso aos currículos. A convicção atual de que as pessoas com deficiência mental apresen- tam condições de aprendizagem e de que outros fatores, além do intelectual, estão presentes e inter- ferem na sua funcionalidade aca- dêmica têm contribuído para que o sistema educacional compreenda melhor a diversidade de possibili- dades dos alunos e procure oferecer um ambiente mais favorável à sua aprendizagem (CASTRO, 2001). A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (Lei n. 9.394, de 1996), reconhece a importância da educação especial. Reconhece tam- bém que a educação é um instrumento fundamental para integração e participação de qualquer pessoa, portadora de deficiência ou não, no contexto em que vive. É importante salientar que são usados três conceitos para nos referirmos às mesmas pessoas, a saber: Pessoas Portadoras de Necessidades Educativas Especiais, Pessoas Portadoras de Excepcionalidade e Pessoas com Deficiências. Estão incluídas no universo de Pessoas Portadoras de Necessidades Educativas Especiais (PNEE), por- tadores de deficiência mental, visual, auditiva, física, motora, deficiências múltiplas, autismo, distúrbios severos de comportamento, distúrbios (disfunções) de aprendizagem e superdotação (Flávio Arns, Brasília- -DF, 146/97). A identificação das crianças deficientes intelec- tuais é feita através da medição de subnormalidade intelectual e adaptação social. O teste individual de inteligência ainda continua sendo o instrumento com maior frequência para determinar a subnormalidade intelectual, embora tenham sido levantadas dúvidas sobre a adequação para todos os casos. Conforme Grossman (1977) a deficiência mental refere-se ao funcionamento intelectual geral significa- tivamente abaixo da média, que coexiste com falhas no comportamento adaptador e se manifesta durante o período de desenvolvimento. Segundo Grossman (1977) nove disposições principais foram identificadas pela Associação Ameri- cana de Deficiência Mental como agentes causadores da deficiência mental são elas: infecção e intoxicação; trauma ou agente físico; metabolismo ou nutrição; doença mental; grave; influência pré-natal desconhe- cida; anormalidade cromossômica; distúrbios de ges- tação; retardo decorrente de distúrbio psiquiátrico e influências ambientais. A classificação pedagógica para o deficiente intelectual segundo aprendizagem e adaptação social (AADM) é a seguinte: Educáveis – Predomi- nantemente considerada uma combinação do fator genético com más condições econômicas e sociais; treináveis – Grande variedade de problemas neces- sita de maiores adaptações nos programas educacio- nais, foco em cuidar de si mesmo ou nas habilidades sociais, esforço limitado nas matérias tradicionais; Graves/Profundos – Grandes distúrbios neurológicos glandulares ou metabólicos. A busca de esclarecimentos sobre as característi- cas dos alunos classificados como “Deficientes Inte- lectuais Educáveis”, remete-nos, de imediato, a uma reflexão sobre o significado de deficiência intelectual. Isto ocorre, principalmente, em razão das dificulda- des impostas pela diversidade da terminologia usada e pelos problemas decorrentes do uso de diferentes cri- térios de classificação de deficiência intelectual. Para Mazzotta (1987, p. 134) ao entrar na escola, com seis anos de idade, o deficiente intelectual edu- cável, não está preparado para aprender a ler, escrever e contar. Provavelmente não estará pronto para isso aos oito anos de idade, e talvez nem aos onze. Esta lentidão de aprendizagem está relacionada à sua idade mental, não à cronológica. Faz-se necessário esclarecer que uma deficiência em um ou mais campos de comportamento adapta- tivo, via de regra, indica a necessidade de recorrer de serviços especiais, e a maioria dos indivíduos diagnosti- cados como mentalmente retardados revela certo grau de diminuição nas áreas de maturação, aprendizagem Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 8 e ajustamento social. (AAMD – Associação Americana de Deficiência Mental). Goldstein (apud Fonseca 1995, p. 84) enfatiza o uso do questionamento indutivo quando se apresenta a atividade de instrução – levando a criança a informar sobre o evento ou situação que está estudando. Há um processo de cinco etapas nesse modelo, que funciona assim: rotular – perguntas que identifiquem o que deve ser estudado ou explorado; detalhar – perguntas que tragam à tona características específica do evento; inferir – perguntas que tragam à tona uma conclusão baseada nas características disponíveis; predizer – per- guntas que extraiam respostas da inferência, quando dadas maiores informações; generalizar – perguntas que provoquem respostas aplicáveis a uma regra geral, baseando-se na informação disponível. Sendo assim, a deficiência para Benenzon (2001, p. 274), propriamente dita não é uma característica de certas pessoas, mas a consequência de uma relação entre o mundo circundante e ela própria, já que, por lesão ou enfermidade, ou qualquer outra causa, ela tropeça em uma dificuldade superior à normal para desenvolver-se na vida. A relação com o mundo, na medida em que a prática dos homens vai se transformando e em que o trabalho vai se colocando como a força principal que impulsiona o desenvolvimento da sociedade, faz com que a necessidade da agilização das informações, bem como a facilidade de obtenção do conhecimento torne-se informatizado. As possibilidades para a inclusão no mercado de trabalho dos Pessoas com Necessidades Educativas Especiais certamente suscitarão novas pesquisas, novas descobertas, outras construções, tudo isto representa o desafio de utilizar os recursos tecnológicos em benefí- cio de um novo patamar de acesso do conhecimento, fazendo-os cidadãos producentes, ativos e integrantes de uma sociedade tecnológica. 4 SÍNDROMES São um conjunto de sintomas e sinais sempre associados a uma patologia única. Normalmente caracterizada por um conjunto de doenças. 4.1 Síndrome de Down ou trissomia do cromossomo 21 É um distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 extra total ou parcialmente. As três principais características da síndrome de Down são a hipotonia (flacidez muscular, o bebê é mais molinho), o comprometimento intelectual (a pessoa aprende mais devagar) e a aparência física. Uma pessoa com a síndrome pode apresentar todas ou algumas das seguintes condições físicas: olhos amendoados, uma prega palmar transversal única (também conhecida como prega simiesca), dedos curtinhos, fissuras palpebrais oblíquas, ponte nasal achatada, língua protrusa (devido à pequena cavidade oral), pescoço curto, pontos brancos nas íris conheci- dos como manchas de Brushfield, uma flexibilidade excessiva nas articulações, defeitos cardíacos congêni- tos, espaço excessivo entre o hálux e o segundo dedo do pé. Outra característica frequente é a microcefalia, um reduzido peso e tamanho do cérebro. O progresso na aprendizagem é também tipicamente afetado por doenças e deficiências motoras, como doenças infec- ciosas recorrentes. Geralmente a síndrome de Down está asso- ciada a algumas dificuldades de habilidade cognitiva e desenvolvimento físico, assim como de aparência facial. A síndrome de Down é geralmente identifi- cada no nascimento. 4.2 Síndrome de Asperger Transtorno de Asperger ou desordem de Asper- ger (código CIE-9-MC: 299.8), é uma síndrome do espectro autista, diferenciando-se do autismo clássico por não comportar nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivoou da linguagem do indivíduo. Portadores de Asperger em geral têm inte- resses específicos e complexos. Alguns sintomas desta síndrome são: dificuldade de interação social, falta de empatia, interpretação muito literal da linguagem, dificuldade com mudan- ças, perseverança em comportamentos estereotipados. No entanto, isso pode ser conciliado com desenvolvi- mento cognitivo normal ou alto. Alguns estudiosos afirmam que grandes persona- lidades da história possuíam fortes traços da síndrome de Asperger, como o físico Isaac Newton, o compositor Mozart, os filósofos Sócrates e Wittgenstein, o natu- ralista Charles Darwin, o pintor renascentista Miche- langelo. A Síndrome de Asperger é um transtorno do espectro do autismo (ASD em inglês), uma das cinco condições neurológicas caracterizadas por diferenças na Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 9Faculdade Educacional da Lapa - FAEL aptidão para a comunicação, bem como padrões repe- titivos ou restritivos de pensamento e comportamento. 4.3 Síndrome de Rett É uma anomalia genética que causa desordens de ordem neurológica, acometendo somente em crianças do sexo feminino. Compromete progressivamente as funções motoras, intelectuais assim como os distúrbios de comportamento e dependência. No caso típico, a menina desenvolve de forma aparentemente normal entre 8 a 12 meses de idade. Ocorre uma regressão dos ganhos psicomotores, a criança torna-se isolada e deixa de responder e brin- car. Aos poucos deixa de manipular objetos, surgem movimentos estereotipados das mãos (contorções, aperto, bater de palmas, levar as mãos à boca, lavar as mãos e esfregá-las) surgindo após, a perda das habili- dades manuais. 4.4 O autismo É uma desordem global do desenvolvimento neurológico. Uma alteração cerebral que afeta a capacidade da pessoa se comunicar, estabelecer relacionamentos e responder apropriadamente ao ambiente. Algumas crianças apesar de autistas apresentam inteligência e fala intactas, outras apresentam tam- bém retardo mental, mutismo ou importantes retardos no desenvolvimento da linguagem. Alguns parecem fechados e distantes, outros pre- sos a comportamentos restritos e rígidos padrões de comportamento. Muitas das pessoas que sofrem de autismo vivem num “mundo” à parte, interagindo com coisas que eles imaginam. É como se criasse o seu próprio mundo. Dificuldade na interação social: dificuldade acen- tuada no uso de comportamentos não-verbais (con- tato visual, expressão facial, gestos); dificuldade em fazer amigos; apresenta dificuldade em compartilhar suas emoções; dificuldade em demonstrar reciproci- dade social ou emocional. Prejuízos na comunicação: 2 atraso ou falta de linguagem verbal; 2 para aquela onde a fala é presente, verifica-se uma grande dificuldade em iniciar ou man- ter uma conversa; 2 uso estereotipado e repetitivo da linguagem; 2 falta ou dificuldade em brincadeiras de “faz de conta”. 4.5 Síndrome de Tourette É uma desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por tiques involuntários, reações rápidas, movimentos repentinos (espasmos) ou vocalizações que ocorrem repetidamente da mesma maneira. Esses tiques motores e vocais mudam constante- mente de intensidade e não existem duas pessoas no mundo que apresentem os mesmos sintomas. A maio- ria das pessoas afetada é do sexo masculino. 4.6 Síndrome de Turner É uma síndrome que é identificada no momento do nascimento, ou antes da puberdade por suas carac- terísticas fenotípicas distintivas. A constituição cro- mossômica mais frequente é 45, X sem um segundo cromossomo sexual, X ou Y. É uma condição que afeta apenas meninas, e é um distúrbio cromossômico. Ninguém conhece a causa da Síndrome de Turner. A idade dos pais das meninas com Síndrome de Turner não parece ter qualquer importância e não foram identificados fato- res hereditários. 4.7 Síndrome de Williams Os principais sintomas dessa síndrome são: pro- blemas cardiovasculares, rostos com características semelhantes (aparência facial “élfica” bastante dis- tinta), atraso mental, dificuldade na leitura, na escrita e na aritmética (apesar de apresentar facilidade com línguas) e um gosto exacerbado por música, entre outros menos comuns. Tem esse nome devido ao car- diologista neozelandês John Williams. 5 DESCRIÇÃO DAS OPERAÇÕES MENTAIS A relação proposta entre o modelo de funções cognitivas de Feuerstein e seu papel na ativação das funções mentais (memória, atenção, percepção, etc.) é uma visão revolucionária para os problemas da cog- nição de um modo geral. Além disso, abre uma nova possibilidade de diálogo entre as especificidades de sua Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 10 proposta com muitos campos científicos já conhecidos das ciências cognitivas. 5.1 Identificação A identificação é uma ação mental que propicia a percepção dos estímulos do ambiente em objetos. Um objeto é a reunião de uma série de estímulos organiza- dos e dispostos em limite físico. A identificação pro- move o reconhecimento e o destaque de determinado objeto frente ao campo perceptivo como um todo. Destaca um objeto do “emaranhado” dos estímulos, definindo seu contorno e seu limite. A identificação, pois, é uma ação que faz o indivíduo reconhecer o objeto, através de suas propriedades ou características mais globais, unitárias. Uma clara manifestação de identificação é o reconhecimento que o bebê faz do rosto humano aos três meses de idade, em média (SPITZ, 1996). Como defende Spitz (1996), o bebê reconhece no rosto humano o sinal “testa-olhos-nariz”. Essa com- binação forma um sinal que se destaca do ambiente como um todo, gerando um reconhecimento espe- cífico. A identificação é, inicialmente, um processo regulado por programações filogenéticas prévias da percepção (PINKER, 1998; GARDNER; KON- RHABER; WAKE, 1998). Seu desenvolvimento é marcado por suas relações progressivas com outras operações mentais mais complexas (LURIA, 1990). Na medida que a estrutura cognitiva desenvolve-se a identificação preceptoria também se modifica e se torna complexa. 5.2 Análise A análise é responsável pela “quebra” das partes do objeto destacado pela identificação. Assim como o objeto é reconhecido em seu todo pela identifica- ção, a análise reconhece o objeto através do reconhe- cimento de suas partes, características internas. Esta operação mental é uma poderosa reguladora da per- cepção, controlando e canalizando todo o processo de entrada de informações. O modo de observar, reter e compreender os dados do ambiente dependem diretamente da capa- cidade de análise. A análise é o processo fundamen- tal para o desenvolvimento do conhecimento prático e também científico, na medida mesmo em que é a análise de todos os dados de uma complexidade, após extenso caminho em busca da precisão, que possibili- tam a extrapolação dos dados e a construção de regras generalizadas. A análise dos objetos é parcial e fragmentada até certa fase do desenvolvimento da criança. Através de uma construção progressiva é que a operação mental de análise ganha o estatuto de caráter lógico e inclu- sive formal, estatuto este de onde provém uma série de compreensões sobre a realidade e do qual dependem os procedimentos científicos. 5.3 Comparação Comparar significa extrair uma propriedade ou característica de um objeto, através da identificação e análise, e transpor essa propriedade para outro objeto, buscando similaridades e diferenças. Deve-se dizer que este é um ato mental que sustenta a necessidade do homem em buscar similaridades, congruências, sin- cronias ao seu redor, assim como controlar as diferen- ças e idiossincrasias. A identificação e a análise, no caso, são ope- rações mentais prévias, condições básicas para a existência de uma ação mental operacional compa- rativa. Somente há a possibilidade de uma compa- ração se o indivíduo puder identificar o objeto e extrair um critério comparativo por meio da análisede suas propriedades. 5.4 Síntese A operação mental de síntese permite que o indi- víduo estabeleça relações que vão além de quaisquer partes específicas, dizendo respeito ao mecanismo glo- bal. A organização do todo vai além do funcionamento de qualquer uma de suas partes. Um corpo humano é composto de células, que formam tecidos, que formam órgãos, etc. Entretanto, os órgãos têm uma estrutura, uma ordem que foge à ordem do tecido, ou da célula. O vínculo, portanto, entre as partes foge à ordem de cada parte separada. Compreender esse vínculo é sintetizar as partes numa estrutura sistematizada, organizada e coerente. Análise e síntese são movimentos de uma mesma moeda e desenvolvem-se conjuntamente. Enfim, a síntese contextualiza as partes dentro de uma ordem que supera as próprias partes isoladas. Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 11Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 6 A TEORIA DE MODIFICABILIDADE COGNITIVA DE REUVEN FEUERSTEIN Reuven Feuerstein, nascido na Romênia, em 1921, é psicólogo e pedagogo, reconhecido inter- nacionalmente pelo seu trabalho de recuperação de indivíduos que apresentam dificuldades acentuadas de natureza cognitivo-intelectual. Iniciou sua carreira como educador, dando aulas a crianças cujos pais haviam sido exilados. Atuou como subdiretor de um colégio de Bucareste. Estudou Psicologia na Romênia e em Jerusalém. Exerceu a profissão de professor de crianças que vinham de campos de concentração do holocausto judeu. Terminou seus estudos em Gene- bra, sob a orientação de Jung e de Jean Piaget. Entre 1950 a 1954, Feuerstein foi chamado pela agência judia para estudar os problemas das crianças do norte da África (Egito, Argélia, Marrocos, Túnis) que deviam transladar-se para Israel. Desta forma iniciou seus estudos relacionados aos problemas dessas crian- ças e a busca de meios para sua melhor adaptação e desenvolvimento nas escolas de Israel. Colaborou com A. Rey, Jean Piaget, B. Inhelder, M. Richelle, M. Jeannet, dessas experiências compartilhada extraiu seu sólido sistema de crenças. Em 1944, dirigiu o Serviço Psicológico da Juven- tude – “Aliya” – de Israel. Elaborou seu método psi- copedagógico (PEI) e seu modelo de Psicodiagnóstico (LPAD). Fundou o “Hadassah Wizo Canada Research Institute”, no ano de 93, agregou o ICDLP – Centro Internacional para o Desenvolvimento do Potencial de Aprendizagem – para incorporar 16 instituições que investigam outros problemas relacionados à educação. Recentemente foi-lhe outorgado o título de “Cidadão Ilustre de Jerusalém” e recebeu da França a ordem das “Palmas Acadêmicas”. De personalidade carismática, Feuerstein apresenta um olhar curioso e penetrante, abaixo de uma boina preta, que lhe serve de “Kippa”. É enérgico, trabalhador, ameno e fluido na conversa. É interlocutor gentil e agradável, pos- suindo uma enorme facilidade com os idiomas. Segue acreditando, com firmeza, que vale a pena trabalhar pelos mais necessitados de nossa sociedade. A corrente positiva de Reuven Feuerstein impregna toda sua pedagogia, ele sabe que qualquer mediação “deve elevar o potencial da aprendizagem da criança ou jovem”, por isso, busca “aumentar a capaci- dade do organismo humano para ser modificado” com a experiência da aprendizagem mediada. Mas, de um modo particular Feuerstein busca: 2 Corrigir as funções deficientes do indivíduo “que vão sendo detectadas durante o processo de aprendizagem, para que ele saiba perceber, controlar sua impulsividade, comparar, clas- sificar, analisar, tirar deduções”. 2 Enriquecer o indivíduo com um vocabulá- rio básico e com aquelas palavras que lhe permitam realizar as atividades mentais de aprendizagem. Dotá-lo de um bom repertó- rio de estratégias de aprendizagem e técni- cas de estudo. 2 Motivar o aluno, fazendo com que sinta atração e êxito em sua tarefa construtivista, inclusive que goste do trabalho intelec- tual e sinta satisfação e concentração, que aprenda a aprender significativamente, que aplique os conhecimentos a seus estudos, a sua vida. Que saiba integrar todos os seus conhecimentos em um contexto consis- tente de relações. 2 Desenvolver a consciência de si mesmo, a autoestima e autonomia no trabalho, que o faça capaz de realizar uma variedade de tarefas e, inclusive, que o prepare para o tra- balho científico. Uma das metas do ser humano consiste em alcan- çar um sistema de crenças o mais consistente possível. Feuerstein afirma que nossas afirmações são enuncia- das sobre nossas crenças. Lamentavelmente, nem sem- pre atuamos de acordo com o que cremos. As crenças, assim como as atitudes firmemente sustentadas, geral- mente são acompanhadas de considerável afeto posi- tivo. O princípio fundamental de um método é que o mediador acredite nele. Essa atitude confiante se adquire por meio da experiência pessoal e positiva. Toda crença é um fator energético que nos impulsiona à busca. Para com- prometermo-nos, necessitamos ter razões, motivos. As crenças não podem ser uma espécie de credo ou documento, nem uma lista de afirmações ou propostas possíveis, mas sim, ao mesmo tempo, avanço e atitude de esperança e amor. As crenças se expressam em uma relação positiva incondicional. Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 12 As crenças de Feuerstein que dão firmeza ao PEI são: 2 Crê no ser humano como a criatura digna de toda nossa dedicação, o centro de seu trabalho. 2 Toda pessoa é suscetível de mudanças subs- tanciais com a ajuda de um mediador. 2 A inteligência pode crescer, pode desenvol- ver-se. 2 Pode-se modificar estruturalmente a pessoa através de uma experiência de aprendiza- gem mediada. 2 Todo aplicador do PEI deve acreditar na transformação do indivíduo. 2 Podemos contradizer todo determinismo genético, pois nada no ser humano está defi- nitivamente escrito. 2 Podemos elevar o potencial de aprendizagem. 2 A mediação é o caminho imprescindível para a transmissão dos valores. 2 Podemos ensinar a pensar através de uma metodologia que leva em conta critérios e leis da aprendizagem: ensino da metacognição, busca de estratégias, planejamento do trabalho, abstração, aplicação das aprendizagens à vida. Todo método é um caminho, e se reveste de enorme importância quando formamos as habilidades básicas nos alunos. O PEI é o caminho para construir a inteligência e para obter aprendizagens significati- vas. Feuerstein foi pragmático e conseguiu expressar objetivos e princípios em um método concreto, em materiais e em um programa sequenciado, ao alcance dos educadores, são eles: 2 Destinatários – toda criança ou adulto especialmente aquele que têm carências de desenvolvimento ou privação cultural (fra- casso escolar). As experiências atuais abrem o caminho a todo tipo de deficiências ou pato- logias da pessoa jovem ou adulta. A idade ótima para iniciar o trabalho: criança de 10 a 11 anos. Sugere-se que o trabalho deva ser em grupo de 8 a 10 alunos, que permita um seguimento personalizado de seu processo de aprendizagem e superação das deficiências. 2 Conteúdos – desde os conhecimentos mais rudimentares. Inicia-se a partir das páginas mais simples, carentes de elementos culturais difíceis e vai-se aumentando o nível de com- plexidade e abstração. Os instrumentos pos- sibilitam realizar todo um repertório que vai desde as operações básicas às mais abstratas. 2 Materiais – desenvolvimento em 14 cader- nos com vinte páginas cada um. São feitas atividades com papel e lápis. São dadas todas as modalidades: descrição verbal, figuras, desenhos, esquemas, quadros. A interação mediador / aluno é que dá vida aos instrumentos. 2 Duração – o programa pode durar umas 500 horas distribuídas em 4 anos, depen- dendo das dificuldades dos alunos. No entanto, pode ser aplicado, de forma inten- siva, durante 2 anos, no mínimo, com alunos mais preparados ou maduros. 2 Didática – o aluno realiza seu autodesco- brimento, ajudadopelo mediador. O ritmo é determinado pelo próprio aluno. Toda aula parte da definição e da realização pes- soal da mesma tarefa, da busca de estraté- gias: o grupo compara sua forma de traba- lho, extraem-se princípios ou conclusões e buscam-se aplicações a outros materiais de estudo e à vida. 2 Avaliação – por ser uma atividade constru- tiva, cada página determina o último degrau que o aluno foi capaz de alcançar. Os mes- mos instrumentos desenvolvem essa tarefa autoavaliativa e seletiva, à medida que acres- centam sua complexidade. Podemos verificar duas áreas principais em seu trabalho: teórico-conceitual e o pedagógico-ins- trumental. Não lhe bastava a constatação de baixos índices de rendimento cognitivo-intelectual de crian- ças e adolescentes, como também dos instrumentos que não colaboravam na melhoria do quadro destas: começou a preocupar-se com a elaboração de instru- mentos com suporte psicopedagógico que respondes- sem a essa necessidade. Suas perspectivas fundamentaram os dois pro- gramas constitutivos de seu método: o Programa de Enriquecimento Instrumental (Feuerstein Instrumental Enrichment Programm) e a abordagem da Avaliação do Potencial de Aprendizagem (Learning Potential Assess- ment Device). Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 13Faculdade Educacional da Lapa - FAEL A abordagem da Avaliação de Potencial de Apren- dizagem (LPAD) caracteriza-se por ser um indicativo das condições latentes para serem modificadas cogni- tivamente, fazendo com que a avaliação diagnóstica deixe de ser apenas um instrumento de verificação da performance atual do sujeito. Assim, segundo BEYER (1996) Feuerstein pro- põe por meio do LPAD, a adoção de um procedi- mento avaliativo que procure sondar o potencial cog- nitivo existente no indivíduo, ainda que ofuscado pelo baixo rendimento intelectual no momento. Tal abordagem representa um distanciamento explícito dos procedimentos psicométricos conven- cionais. Propõe-se a substituição de tal procedimento diagnóstico por um paradigma dinâmico. Este para- digma objetiva que, em vez de se averiguar as capaci- dades manifestas, procure-se avaliar o grau de modi- ficabilidade do indivíduo quando este se encontra numa situação de aprendizagem. A real condição intelectual individual é definida, assim, como a capa- cidade do sujeito de se modificar por meio de um processo de aprendizagem. A partir desta avaliação (LPAD), aplicam-se os instrumentos do Programa de Enriquecimento Instru- mental (PEI), ou seja, os dois programas são comple- mentares na linha de ação psicopedagógica. 6.1 Feuerstein e a zona de desenvolvimento proximal Feuerstein procura desenvolver um novo para- digma em relação às avaliações e ao contexto das teo- rias da inteligência. Para ele, a avaliação da capacidade de aprendizagem da criança fornece elementos e dados de análise de sua plasticidade cognitiva, ou seja, con- forme a teoria vygotskyana, qual zona do desenvolvi- mento proximal a criança pode alcançar por meio do processo de aprendizagem. Assim, a finalidade maior da avaliação nesta perspectiva volta-se para a constatação do desenvol- vimento cognitivo já alcançado pela criança, isto é, seu desenvolvimento real e o desenvolvimento vir- tual, as condições latentes de desenvolvimento infantil (BEYER,1996). A subtração do desenvolvimento virtual permite a aproximação mais exata do que a criança é capaz de realizar no plano intelectual, isto é, qual é a sua zona de desenvolvimento proximal ou potencial. Concor- damos com Fonseca (1995, p. 39) que a inadequabilidade científica que muitos testes psicométricos tradi- cionais apresentam é considerada uma das causas que caracterizam correntemente as decisões edu- cacionais incoerentes no âmbito das dificuldades de aprendiza- gem. Nos nossos dias, não existe nenhum modelo ou método de avaliação válido, conhecido, que verdadeiramente identifique um estudante com dificuldades de aprendizagem, ou que detecte uma ineficiente leitura ou escrita, disfunções cognitivas na resolu- ção de problemas de cálculo, ou mesmo problemas na fala. A abordagem psicométrica tradicional desconsi- dera as condições de crescimento e desenvolvimento individuais. Através do LPAD (Learning Potential Assessment Device – abordagem da avaliação do poten- cial de aprendizagem) procura-se investigar a situação do sujeito, no sentido da superação do estágio consi- derado inferior. Na perspectiva vygotskyana1 trata-se da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZPD), que se preo- cupa em cesso de mediação a estrutura cognitiva da criança é verificar os níveis de crescimento possíveis pela criança, que variam de caso a caso, através de pro- cessos mediadores. A relação pedagógica entre criança e professor é de troca, num ambiente de confiança, onde tudo é registrado e analisado, desde o perfil individual, seus processos de raciocínio e sua capacidade para a mudança. Tendo realizado os procedimentos de avalia- ção parte-se para a interpretação dos resultados onde o examinador questiona, hipoteticamente, se as poucas respostas corretas apresentadas não são indicadores de estruturas mentais latentes. Feuerstein respalda-se teoricamente na Psicolo- gia russa da mediação cultural linguística (Vygotsky, Luria), na teoria do controle do pensamento e da aprendizagem (metacognição) e na teoria de Piaget2. Serão abordados alguns conceitos teóricos entre Feuerstein e Vygotsky no que se refere aos processos mediadores na construção da inteligência, visto que ambos desenvolvem enfoques semelhantes. 1 VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fon- tes,1987. 2 PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 14 6.2 Feuerstein e a mediação sociocultural Para Feuerstein a mediação ocupa lugar central em seu método e ele pondera que o ser humano tem dois pontos de desenvolvimento. Um é o biológico, promovido por um conjunto de células que intera- gem, fazendo com que a criança aprenda e se desen- volva por meio de seus sentidos, percepção e respostas aos estímulos ao seu redor, por outro lado, a criança aprende através da mediação de pessoas significativas como os pais e os professores, entre outras. O mediador ocupa papel central porque ele é quem determina as condições de aprendizagem, toma decisões, promove a interação, seleciona e organiza o mundo dos estímulos para a criança, além de estabe- lecer muitos aspectos teóricos e práticos dentro dos quais a trilogia do processo ensino-aprendizagem acontece (professor – estímulo – criança). Através desse processo de mediação a estrutura cognitiva da criança é trabalhada. Assim, o desenvolvimento cognitivo depende principalmente das experiências de aprendizagem mediada por pessoas próximas. Na mediação social dos processos psicológicos, Vygotsky e Feuerstein aproximam-se, pois ambos acreditam que o desen- volvimento cognitivo depende muito da qualidade da aprendizagem vivenciada pela criança. Vygotsky (1987, p. 67) aponta a ideia da media- ção como elemento central do progresso qualitativo dos diferentes estágios cognitivos. Ele acredita que o desenvolvimento da criança é um processo dialético complexo, caracterizado pela periodicidade e desigual- dade no desenvolvimento de diferentes funções, meta- morfose ou transformação qualitativa de uma forma em outra, de fatores internos e externos e de proces- sos adaptativos que superam os impedimentos que a criança encontra. Em entrevista3 Feuerstein coloca que, se o indi- víduo “vive sozinho, sem influência, nada vai apren- der, porque ninguém poderá ser inteligente se não lhe for transmitida à cultura através de gerações”. Aliás, a humanidade só existe porque houve um processo de mediação ao longo de toda a sua história. Através da mediação numa prática psicopeda- gogia integrada (LPAD e PEI) procura-se verificar em que aspecto específico à criança apresentadifi- culdades e quais procedimentos se fazem necessários para a superação das mesmas. Na medida da efeti- 3 Revista Vivência, n. 43 p. 23-25, 1994. vidade e adequação da ação psicopedagogia, a zona de desenvolvimento potencial da criança poderá ser qualitativamente ativada. 6.3 Modificabilidade cognitiva Como foi descrito anteriormente, o método do Professor Reuven Feuerstein consiste basicamente de dois programas: o LPAD, que procura avaliar a capa- cidade de aprendizagem dos indivíduos, e o PEI, que tem como objetivo o fomento ou o desenvolvimento desta capacidade. O LPAD é caracterizado como um procedi- mento dinâmico de avaliação, através do qual se pro- cura detectar o nível de modificabilidade cognitiva do indivíduo. Beyer (1996) ressalta que é preciso diferenciar duas abordagens no âmbito do diagnós- tico. Uma das abordagens considera as defasagens cognitivo-intelectuais como cristalizadas no indiví- duo. Segundo esse autor o estacionamento em estágios cog- nitivos primários é correlacionado positivamente com o rendimento escolar insuficiente, sendo que o prognóstico construído admite raramente a possibilidade de alte- ração no curso posterior do desen- volvimento cognitivo e da vida escolar. O prognóstico costuma prever mais o fracasso, a repetên- cia e, provavelmente, a exclusão escolar do que o crescimento e o sucesso escolar. A outra abordagem considera que, mesmo o indi- víduo tendo condições intelectuais adversas, o orga- nismo humano é concebido como um processo inte- racional, flexível, plástico, dinâmico e autorregulado. O indivíduo apresenta níveis de desenvolvimento e de modificação cognitiva que podem ser maximizados pela ação psicopedagógica. A ação política da modificabilidade cognitiva estrutural é defendida por Fonseca (1995, p. 73) que diz que todos, sem exceção, devem ser promovidos cognitivamente e não apenas as crianças supradotadas ou oriundas de extratos sociais eleva- dos. A filosofia de Modificabilidade Cognitiva Estrutural não aceita cri- ticamente as explicações e os deter- minismos despóticos da genética e da hereditariedade. Independente- mente das limitações dessa ordem Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 15Faculdade Educacional da Lapa - FAEL ou de outra natureza (endógena ou exógena), o deficiente mental pode beneficiar-se não só de conforto e segurança afetiva, mas também de programas adequados a modi- ficabilidade e à otimização do seu potencial de aprendizagem, como demonstraram os trabalhos de Feuerstein, com crianças e jovens com síndrome de Down. Entendemos como nível de modificabilidade cognitiva estrutural a capacidade de aprendizagem resultante da aprendizagem mediada. Para Feuers- tein, a criança aprende também através da relação direta com os objetivos do meio, mas essa autonomia cognitiva será qualitativamente enriquecida com o objeto se a criança usufruir a mediação. Neste sen- tido, entende-se que o indivíduo pode se modificar e se adaptar ao meio físico e social conforme a media- ção que com ele interage. 6.4 Principais características da mediação O conceito de experiência da aprendizagem mediada constitui-se na ideia primordial da cons- trução teórica de Feuerstein (1993). Para esse autor, o indivíduo que usufrui a “mediação cognitiva” terá maiores probabilidades de vivenciar um desenvol- vimento cognitivo normal. Portanto, ele propõe um modelo mediador da aprendizagem, cujas caracterís- ticas são: 2 Intencionalidade – consiste no propó- sito da intermediação, através da qual a criança é incluída na disponibilizarão do ato da mediação. Embora a iniciativa seja do mediador, ambos (mediador e criança) interagem ativamente. 2 Transcendência – os conteúdos e objetivos imediatos na situação de aprendizagem rece- bem das pessoas envolvidas um significado de transcendência. É essa transcendência que apoia a criança no desenvolvimento da fle- xibilidade do pensamento, ampliando con- tinuamente o sistema de necessidades, bem como o desenvolvimento das operações cog- nitivas superiores. 2 A mediação de significados, valores e ati- tudes – a transmissão da cultura e da filoso- fia do grupo social a que pertence, mediante determinados parâmetros axiológicos, que viabilizam a mediação dos valores morais e estéticos culturalmente determinados. 2 Mediação do sentimento de competência – valorização das ações das crianças, pelo mediador, conforme o grau de desenvolvi- mento da criança. Faz-se necessário, especial- mente quando a criança faz comparação de seu desenvolvimento com o de outras pes- soas observando, quase sempre, desvantagem para si própria. Cabe ao mediador propor- cionar condições para que a criança supere os sentimentos de baixa estima. 2 Mediação da regulação e do controle do pensamento e da ação – trata fundamen- talmente das habilidades metacognitivas. O mediador deve ajudar a criança a adiar sua impulsividade e superar eventuais tendências à inibição. 2 Mediação da convivência com outros – a mediação tem a função de promover a socialização da criança, bem como fomen- tar os processos interativos. Fica explícita a interação psicológica entre o mediador e a criança. x Mediação da individualidade e da diferenciação psicológica – visa, através da mediação, não só promover a socialização da criança, mas também a sua individualidade. Isto acontece pela diferenciação entre a per- sonalidade da criança e a dos outros. 2 Planejamento e obtenção de objetivos – com a ajuda do mediador a criança estabe- lece seus alvos e planeja como atingi-los. Tal atitude vem a favorecer crianças com dificul- dades cognitivas, pois as mesmas apresentam dificuldades em planejar um roteiro de ação para atingir os objetivos em longo prazo. Feuerstein (1993), posiciona-se parcialmente na análise dos fatores que influenciam o desenvolvi- mento infantil com tendência a ressaltar os aspectos socioculturais. Questiona-se em que medida o con- ceito de aprendizagem mediada desempenha papel decisivo no desenvolvimento da criança uma vez que as características sociais significativas não podem ser vistas como causas isoladas para os problemas de aprendizagem dos indivíduos, não importando a faixa etária à qual pertençam. Os problemas podem ser a expressão de uma complexa conjugação de condições, que se integram Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 16 ao aparecimento dos distúrbios de aprendizagem, con- siderando-se que os traços sociais relevantes surgem paralelamente, constituindo-se como variantes dos problemas de aprendizagem. 6.5 O Programa de Enriquecimento Instrumental A bagagem instrumental do professor Feuerstein consiste em um programa de intervenção de mais de 500 páginas de exercícios de papel e lápis, divididos em 15 instrumentos. Cada instrumento ou teste está enfocado sobre uma deficiência cognitiva específica e é dirigido à aquisição de numerosos pré-requisitos da aprendizagem. Os instrumentos se empregam regularmente pela classe e o aluno trabalha com o material durante uma hora, em três ou cinco dias na semana. Com propó- sitos ou fins educativos o psicólogo, professor, educa- dor, ou outro profissional ou adulto envolvido com a aprendizagem de um indivíduo, seleciona aqueles instrumentos que melhor satisfazem às necessidades específicas da criança no tratamento. O programa em geral tem sido desenvolvido sobre a teoria da modificabilidade cognitiva. Somente os ins- trumentos de ilustrações e relações temporais estão for- mulados para auxiliar tarefas de aprendizagem primária. Segundo Feuerstein (1979, p. 370-371) o Pro- grama de Enriquecimento Instrumental tem como característica principal aumentar a capacidade do organismo humano para ser modificado através da exposição direta aos estímulos e à experiência propor- cionada pelos contatos com a vida e com as contribui- ções da aprendizagem formal e informal. Por outro lado, os programas, em seu conjunto têm objetivos específicos,que consistem em desenvol- ver os pré-requisitos necessários para um bom funcio- namento cognitivo. O manuseio de cada instrumento implica em uma certa eficácia por parte do professor, na medida em que exige deste uma capacidade de mediação das tarefas. A avaliação do processo é em si complexa, por que necessita de uma forte preparação teórica e prática no programa. A população a qual é dirigido o programa de intervenção é aquela que apresenta problemas de rendimento acadêmico, atraso mental e empobre- cimento cultural, o que Feuerstein chama de Sín- drome de Privação Cultural. Este é um programa de intervenção que se dirige à educação compensatória, tentando desenvolver e promover aquelas funções cognitivas deficientes em sujeitos com problemas de rendimento. Feuerstein (1993, p. 11-23) assinala as seguintes características: 2 O programa fundamenta-se na utilização de uma série de funções ou pré-requisitos neces- sários para as operações cognitivas. Ainda que cada instrumento concentre-se mais em uma função cognitiva (orientação espa- cial, comparações, classificação, etc.), ele se dirige, simultaneamente, à correção de mui- tas outras que podem ser deficientes. 2 O Programa de Enriquecimento Instru- mental abrange as operações cognitivas que são consideradas como os componentes do bom funcionamento cognitivo, sendo as mesmas de diversos níveis de complexidade e novidade. 2 O programa pretende desenvolver no sujeito a motivação. Por uma parte, a motivação intrínseca, na medida em que o êxito, nos primeiros níveis, proporciona uma neces- sidade de se enfrentar tarefas mais difíceis e resolvê-las. Por outro lado, a motivação extrínseca ou interação, que se produz entre sujeito/grupo de iguais/ professor. O profes- sor do programa de enriquecimento cogni- tivo é o mediador e colaborador que ajuda o estudante a conseguir sua própria mudança estrutural. 2 Enriquecimento Instrumental pretende, através do desenvolvimento da motiva- ção intrínseca, a formação de hábitos, por meio de múltiplas repetições das diferentes funções. Tudo isso facilita a flexibilidade, a mudança e transferência. 2 O programa compreende uma série de tare- fas livres de conteúdo, já que o conteúdo de um instrumento não serve por si só, sendo mais veículo para os objetivos específicos do instrumento em si. Ou, com outras palavras: o conteúdo não se escolhe em função da sua especialidade, se não porque suas caracterís- ticas próprias permitem obter os requisitos prévios ao pensamento. Entendemos que mesmo que o conteúdo do pro- grama seja de livre concepção, as tarefas guardam uma Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 17Faculdade Educacional da Lapa - FAEL estreita relação com o conteúdo, de forma tal que as dimensões das tarefas são necessárias para o aprendi- zado do conteúdo. Essa estreita relação ou ligação se melhora através da mediação do mestre, cujo objetivo é insight no sujeito. O programa em si está desenvolvido para que seja possível dar importância à natureza, estrutura e complexidade das mesmas tarefas e aos efeitos produ- zidos pelo fato de enfrentar-se com elas. Essa estrutura do programa ajuda a conseguir e assegurar seu efeito máximo. O enriquecimento instrumental não pode tratar-se como uma instrução programada de aprendi- zagem, já que o manejo e utilização das tarefas do pro- grama exigem um educador bem capacitado especifi- camente para este modelo de intervenção educativa. A prática do programa implica um conhecimento, por parte dos colaboradores dedicados ao processo de intervenção, dos materiais, do professor e do aluno. Todo este conhecimento, objetivo geral do programa, supõe o desenvolvimento e uso eficaz dos processos cognitivos e a adaptação às novas situações. A realização das tarefas do programa exige uma variedade de processos de transformação e elaboração. O aluno contribui ativamente na organização, reestru- turação e cumprimento dos processos implícitos nas tarefas, das quais faz logo aplicações na vida em geral. O domínio e realização das tarefas têm pouco a ver com a rotina de aprendizagem escolar, tampouco se trata de reproduzir a habilidade aprendida. Pelo con- trário, a realização das tarefas supõe aprendizagem de regras e princípios ou estratégias para realizá-las. Consideramos que o programa, ainda que desen- volvido para adolescentes israelenses, tem uma ampla identificação para aqueles sujeitos com problemas de deficit cognitivo, atraso no rendimento e privação cul- tural. Precisamente por ser de natureza livre de conte- údo é indicado para todos aqueles casos que exigem uma melhora e bom funcionamento cognitivo. Como bem diz Feuerstein (1980, p. 289-291) a metodologia específica do programa pode aplicar-se e transferir-se aos diferentes conteúdos do currículo escolar. Como é evidente, a característica essencial do Programa de Enriquecimento Instrumental é capa- citar o sujeito com uma série de pré-requisitos e estratégias, proporcionando-lhe um nível normal de funcionamento cognitivo. O programa de enrique- cimento cognitivo tem objetivos específicos, comuns aos 15 instrumentos, além de que cada instrumento apresenta alguns sub-objetivos por unidades. As orien- tações didáticas que acompanham cada instrumento reportam-se com precisão e exatidão aos sub-objetivos da unidade incluídos em cada página. Feuerstein (1980, p. 257-289) coloca os seguintes objetivos específicos do programa: 2 Corrigir as funções características deficientes – as tarefas do programa são dirigidas a corri- gir aquelas funções que aparecem deficitárias no sujeito com problemas de rendimento. Deficiências que aparecem ao longo da ação mental, em suas três fases: input, elaboração e output. O Programa de Enriquecimento Instrumental se dirige a todos os níveis de danos assim como a resistência que este apre- senta na intervenção. As tarefas do programa proporcionam ao sujeito um amplo leque de oportunidades para corrigir suas funções deficientes, às vezes que o permitem usar uma nova informação de forma espontânea e aplicá-la em diferentes situações, com lin- guagens diferentes. 2 Adquirir conceitos básicos, vocabulário e operações – o programa não tem como obje- tivo ensinar alguns objetivos específicos, mas pretende ensinar todo um sistema de ope- rações, instrumentos e técnicas, tentando fazer com que o sujeito utilize melhor e de forma mais eficaz todas as experiências que o rodeiam. A aprendizagem de conceitos, de vocabulário e das operações servem ao sujeito para gerar repertórios linguísticos e conceitu- ais que podem ser aplicados adequadamente a outros instrumentos do programa. 2 Desenvolver a motivação intrínseca – este objetivo pretende estimular na criança uma atração e gosto pela tarefa em si, já que as tarefas que se apresentam ao longo do pro- grama são de grande utilidade, tanto para a aprendizagem escolar quanto para a vida do sujeito. A motivação intrínseca implica na formação de hábitos. 2 Criar um certo nível de pensamento refle- xivo ou insight – o pensamento reflexivo será determinado pelo grau de aceitação ou rejei- ção dos próprios erros e êxitos. Na medida em que o sujeito reflete sobre a sua própria atividade e tenta entender a natureza da mesma, será mais capaz de aprender o signi- ficado de sua própria conduta. Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 18 2 Desenvolver e auxiliar a autopercepção do indivíduo – através deste objetivo pretende- -se uma mudança na atitude do estudante. Mudança que se produzirá ao sentir o sujeito como um organismo capaz de gerar informa- ção e deixar de perceber-se como mero recep- tor passivo de informação. Definitivamente, o Programa de Enriquecimento Instrumental se propõe a determinar a verdadeira mudança ou modificabilidade cognitiva do sujeito com problemas de rendimento. Como metodologia ativa de intervenção psicoeducativa, pretende tirar o sujeito de sua passividade intelectualpara que exceda o nível do pensamento representativo. O manejo do programa em si exige um envol- vimento por parte do professor, psicólogo e/ou pedagogo, já que o programa está fundamentado no modelo estrutural da modificabilidade cognitiva, que compreende, por sua vez, princípios básicos do pro- cessamento da informação e da metacognição. 6.6 Instrumentos utilizados no PEI Os instrumentos do programa pretendem desen- volver mini-processos e estratégias como pré-requisitos básicos do pensamento abstrato. O pensamento abs- trato ou formal, objetivo fundamental do programa, se desenvolve através dos exercícios com papel e lápis. Feuerstein aconselha a não utilização de materiais manipulativos, já que tem que possibilitar o acesso destes sujeitos deficientes ao pensamento abstrato e operatório formal (JENSEN, 1970; PIAGET, 1966). Cada instrumento ou teste leva uma folha de rosto sobre a qual se provoca uma série de reflexões segundo a atividade cognitiva que se vai trabalhar. Na folha de rosto, todos os instrumentos trazem impressa a figura de uma criança em atitude pensante. Apresentam, ainda, um tema que pode ser assim tra- duzido: “um momento, deixe-me pensar”. O objetivo desta frase não é outro senão o de estimular o pensa- mento reflexivo e impedir a impulsividade do sujeito. Cada instrumento está dividido em uma série de unidades didáticas com alguns objetivos específicos. Ao final de cada unidade existe uma folha de avaliação dos ganhos conseguidos pelo sujeito. Os próprios erros das crianças servem para aprender: conta-se o número de vezes que foi utilizada a borracha, os rascunhos e alguns outros erros, que são tomados como estímulo e ponto de partida de aprendizagem para o sujeito. Os 15 instrumentos que compõem o programa podem ser divididos em três amplas categorias: 1) Instrumentos não-verbais: Aqueles instru- mentos que são acessíveis a todos os indiví- duos, incluindo os mais analfabetos. Estes são: a) Organização de pontos – as tarefas deste instrumento consistem em organizar uma série de pontos na estrutura dada. Organização de pontos é o primeiro ins- trumento que se estuda no Programa de Enriquecimento Instrumental de Feuerstein (E.I.F.). O objetivo geral é ensinar a função da projeção de relações, mediante tarefas que exigem do sujeito identificar e desenhar formas, segundo um modelo, em uma nuvem de pontos. O que se pretende com a aprendizagem das tarefas do instrumento é auxiliar a necessidade de organizar e estruturar um campo, sem uma estrutura inerente, através da projeção de relações que nem sempre são evidentes. b) Percepção analítica – com respeito ao instrumento de percepção analítica tem-se que ressaltar a importância que tem para a aprendizagem a percepção como processo de alto nível que exige uma grande elaboração. As estratégias e princípios adquiridos através das diver- sas tarefas do instrumento são relevantes para o processo ensino-aprendizagem, na medida em que a percepção analí- tica está implícita em todas as matérias acadêmicas: análise do estilo literário, decomposição de palavras e letras na lei- tura e escrita, frações numéricas, etc. A importância da percepção analítica na aprendizagem leva-nos a pensar que o estudante responde de forma favorável, no contexto escolar, quando os materiais estão organizados em função dos três princípios gerais da percepção: proximi- dade, continuidade e analogia. Sabemos que as discriminações percepti- vas constituem-se em um aspecto impor- tante na educação e essas discriminações são ressaltadas por Feuerstein (1980 p. 184). Ele enfatiza a importância da per- cepção no processo ensino-aprendiza- Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 19Faculdade Educacional da Lapa - FAEL gem, de tal forma que desenvolveu seu instrumento de percepção analítica com o objetivo de auxiliar e desenvolver no estudante a capacidade de discriminar e analisar o todo e suas partes. Definitivamente, a partir da perspectiva da Psicologia Educacional, o instru- mento de percepção analítica nos ajuda a avaliar a disposição ou prontidão do estudante para ver ou perceber algo de uma forma particular ou pré-selecio- nada. Isto é, como se percebem os mes- mos conteúdos escolares, detalhes, dis- criminações e precisão dentro de uma mesma lição ou tema, sem perder de vista o ponto central da lição. c) Ilustrações – é o terceiro instrumento da categoria não verbal e pode-se dizer que pretende ensinar a resolução de pro- blemas. O indivíduo enfrenta uma série de situações problemáticas que tem de resolver de forma lógica. Algumas das situações requerem uma série de estraté- gias de decodificação da mensagem. Este instrumento não se apresenta igual aos outros, mas selecionam-se as páginas em função da problemática do aluno. 2) Instrumentos que requerem um nível mínimo de vocabulário e leitura. A resolução das tarefas destes instrumentos exige que o sujeito saiba ler e domine um nível mínimo de conceitos e vocabulário. a) Orientação no espaço I, II e III – as tarefas apresentadas nos instrumentos de orientação tentam ensinar a criança a organizar e estruturar o espaço, além de considerar relações entre os objetos e o espaço e dos objetos entre si mesmos. O instrumento de orientação no espaço II só é utilizado na cultura hebraica, por ter algumas conotações espaciais distin- tas da nossa cultura. b) Comparações – o objetivo principal do instrumento é o desenvolvimento da Conduta Comparativa, requerida já de alguma forma pelos instrumentos ante- riores. Neste sentido pretende-se que o indivíduo compreenda o mesmo pro- cesso da comparação. Feuerstein con- sidera que esta conduta comparativa é o passo mais elementar e primário do pensamento de relação sendo, portanto, uma condição básica para qualquer pro- cesso cognitivo que vá além do simples reconhecimento e da mera identificação. Reuven Feuerstein desenvolveu este instrumento para os sujeitos privados culturalmente, simplesmente porque estes indivíduos não utilizam a conduta comparativa de maneira espontânea. Isto não implica, evidentemente, que estes sujeitos sejam incapazes para isso, mas que seu pensamento está limitado pelo meio em que se desenvolvem. Isto faz pensar que sua conduta comparativa pode ser mudada ao expor o sujeito a uma fonte de estímulos, através de uma Experiência de Aprendizagem Mediada (FEUERSTEIN, 1980, p. 92-93). c) Relações Familiares – o instrumento de relações familiares utiliza o paren- tesco para ensinar relações simétricas, assimétricas, verticais, horizontais e hierárquicas. As tarefas do instrumento exigem o estabelecimento de conceitos operacionais e condições necessárias para a classificação. A família é escolhida para o conteúdo do instrumento, na medida em que apresentam diversas categorias e diferen- tes tipos de relações, relações estas que podem generalizar para todo um con- junto de fenômenos. A família é consi- derada como uma coleção de diferentes indivíduos que estão relacionados por um parentesco, conexão sanguínea ou legal. Neste sentido, o conceito de famí- lia se generaliza à família das plantas, família das línguas latinas, uma socie- dade, o exército, etc. Cabe ressaltar a importância do instru- mento na aprendizagem da lógica das relações. Lógica que parece diminuir na idade escolar como consequência do egocentrismo infantil, o que leva as crianças a definirem a família, não ape- nas pelas relações de parentesco que Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 20 unem seus membros, mas pelo espaço ocupado, o que equivale a dizer: pelo ponto de vista imediato que tem de sua própria família agrupada ao redor dele. Consequentemente, a criança aprenderá a estabelecer generalizações sobre noções relativas, trabalhando o imediatismo ou ilegalidade das generalizações concretas, fato que se constitui em um dos obje- tivos gerais do programa: a generaliza- ção ou reconhecimentode uma situação escolar e da vida cotidiana. d) Progressões numéricas – o instrumento está enfocado na busca de regras e leis como base da dedução de relações entre elas. Aparentemente, as tarefas guardam uma certa ordem e estrutura rítmica destas relações que estão formadas como regras, de forma que ajudam o estu- dante a construir e adivinhar a sequên- cia seguinte. A finalidade deste instrumento é ofere- cer oportunidade, às crianças privadas culturalmente e com problemas de ren- dimento, de trabalhar com relações que vão mais além de uma simples percep- ção, já que implica uma grande capa- cidade de busca e reflexão para achar os princípios que subjugam a regra do problema. Portanto, é um instrumento muito útil para corrigir a percepção secundária da realidade, que caracteriza os indivíduos com atraso (FEUERS- TEIN, 1980, p. 102). e) Silogismo – as habilidades sobre a flui- dez de pensamento têm sido avaliadas com frequência, mediante testes de raciocínio indutivo, tais como: analo- gias, séries, classificações, etc. Os testes de raciocínio dedutivo têm sido utili- zados com menos frequência para o estudo da fluidez , mas e verdade que as tarefas do tipo dedutivo (silogismo linear, categórico e condicional ou pro- porcional) têm claramente fortes críti- cas desde a perspectiva filosófica até a psicologia, embora hoje em dia sejam bastante investigados os processos psi- cológicos implícitos nas operações mentais necessárias para a resolução destes problemas lógicos. Feuerstein (1993, p. 23) explicita que, apesar de ser a lógica uma invenção cultural, algo arbitrária e com algumas inconsistências empíricas, é uma ativi- dade fundamental na avaliação da inte- ligência e no desenvolvimento da capaci- dade cognitiva. Isto o levou a desenvolver o instrumento conhecido pelo nome de Silogismo. Este instrumento pretende desenvolver o raciocínio lógico e as ope- rações formais. As tarefas compreendidas no instrumento implicam na dedução de uma série de relações com base em outras já existentes, mediante processos deduti- vos e indutivos. 3) Instrumentos que exigem um certo nível de leitura e compreensão: os instrumentos desta categoria precisam de um nível de lei- tura compreensiva e rápida e exigem uma certa capacidade para compreender a men- sagem escrita. a) Categorização – este instrumento foi desenvolvido para corrigir aquelas difi- culdades que o estudante encontra em organizar certos dados em categorias supra ordenadas. A categorização é básica e essencial para as operações lógico-verbais, uma vez que a codificação simbólica implica em uma redução no número de estímulos indi- viduais com os quais se tem que tratar. A comparação, ao contrário, permite relacionar simultaneamente um grande número de aspectos. As tarefas do instrumento permitem à criança adquirir aqueles princípios bási- cos da classificação. Este instrumento tem de ser trabalhado depois de Com- parações, e é a base para o Silogismo e Relações Transitivas. b) Relações temporais – este instrumento foi desenvolvido para ensinar o sujeito privado culturalmente a utilizar, com precisão, os conceitos temporais, a orga- nizar seu próprio mundo e a encontrar sentido para esta organização. Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares 21Faculdade Educacional da Lapa - FAEL As relações temporais aparecem muito deficitárias nas crianças com proble- mas de rendimento e nos privados socioculturalmente, porque o tempo é um conceito abstrato e exige um nível elevado de pensamento de relação. O fato destes sujeitos precisarem deste tipo de pensamento levou Feuerstein a desenvolver uma série de atividades, tendendo a encobrir este deficit na per- cepção, ordenação e estruturação tem- poral através de uma Experiência de Aprendizagem Mediada. Este instrumento permite que sejam trabalhadas as relações temporais e sua incidência na aprendizagem escolar, tais como: leitura, escrita, matemática, his- tória, geografia, etc. c) Instruções – o objetivo geral do instru- mento se baseia na decodificação e deci- framento de instruções escritas. Implica na elaboração e tradução das mesmas. Também exige a decodificação verbal da informação apresentada graficamente. d) Relações transitivas – o instrumento compreende uma série de tarefas com- plexas que, igual ao Silogismo, trata com operações formais e raciocínio lógi- co-verbal. A informação se apresenta de forma completa e o sujeito tem de traba- lhar elaborando essa informação, alta- mente abstrata e composta por letras e símbolos. Inclusive o uso das letras vai desde seu uso específico até uma categoria univer- sal. Os símbolos são usados para expres- sar uma relação. e) Desenho de padrões – este é o último instrumento do programa, pela dificul- dade existente em relação às tarefas pro- postas pelo mesmo. Feuerstein realizou uma adaptação com tal acerto que, de uma prova manipula- tiva, passou a ser uma prova de papel e lápis, sendo que o índice de dificuldade e representação mental se elevou conside- ravelmente. O instrumento consiste em uma série de tarefas nas quais a criança tem de construir mentalmente um dese- nho idêntico a um modelo colorido que se apresenta. Cada tarefa exige uma série de passos complexos. Uma vez realizada a repre- sentação mental, a criança procede a uma análise da figura complexa, com- posta por uma série de formas coloridas superpostas e, por último, tem de iden- tificar a ordem da superposição das dife- rentes formas. O problema que delineia os sujeitos com atraso mental e privados socio-culturais é a conduta por ensaio/erro, conduta esta que os leva, na maioria dos casos, a cometer falhas nas tarefas pela falta de insight e de pensamento reflexivo. 6.7 Análises da ação mental: o mapa cognitivo O Programa de Enriquecimento Instrumental está fundamentado no marco teórico da estrutura da inteligência do sujeito com baixo rendimento. O conceito de mapa cognitivo não tem um sentido topográfico, não sendo mais que um instrumento de análises da conduta cognitiva do indivíduo com pro- blemas de rendimento. O mapa cognitivo nos permite uma compreensão melhor dos objetivos gerais do Programa de Enrique- cimento Instrumental. Para Feuerstein (1980, p. 37) os parâmetros específicos do modelo servem para exa- minar os diferentes componentes do programa, assim como uma taxionomia para estabelecer a sequência dos processos incluídos na meta educativa. Assim, o mapa cognitivo é um modo de pensar e resolver problemas através da reiteração da informa- ção. O modelo inclui sete parâmetros que refletem amplas dimensões cognitivas, todas elas susceptíveis a mudanças. Através do mapa cognitivo podemos loca- lizar os pontos específicos onde aparece a dificuldade. Tudo isso ajuda a provocar mudanças ao longo das dimensões cognitivas. As funções cognitivas constituem-se como pré- -requisitos para o funcionamento cognitivo. A falta de uma aprendizagem mediada produz déficits nessas funções. Consequentemente, o Programa de Enrique- cimento Instrumental pretende o desenvolvimento e Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 22 estímulo destes pré-requisitos do pensamento, a lin- guagem na medida que ela repercute no desenvolvi- mento cognitivo da criança, motricidade, e as aquisi- ções psicomotoras. As deficiências que subjugam o pensamento interno, representativo e operacional não se confun- dem com as operações ou conteúdos do pensamento. O conceito de função deficiente deve ser claramente entendido por duas razões: 1) a função deficiente nos permite entender e diagnosticar o nível de rendimento manifes- tado do indivíduo; 2) o Programa de Enriquecimento Instrumental tenta corrigir e desenvolver aquelas funções que, por sua natureza, são deficientes, res- ponsáveis pelo baixo rendimento cognitivo. Com muita frequência, quando a criança falha em uma operação nas tarefas de classe ou em um teste, atribui-se esta falha à falta
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