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Meta da aula Apresentar as principais iniciativas nacionais no campo da legislação, com vistas ao atendimento e à educação das pessoas com deficiência ou necessi- dades educacionais especiais, até o século XX. 6AULA ob jet ivo s Após o estudo do conteúdo desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. identificar as leis e as políticas públicas no campo da Educação Especial; 2. reconhecer a importância das conquistas das pessoas com necessidades especiais nas diferentes áreas. Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX Maria Angela Monteiro Corrêa Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 94 CEDERJ A despeito de todo o preconceito, a vida das pessoas deficientes ou diferentes foi ocupando espaços de significativa importância na legislação, à medida que o convívio em sociedade foi se tornando cada vez mais frequente. A luta pelos direitos de ir e vir das pessoas com deficiência e o acesso aos mesmos bens que a maioria dos indivíduos em sociedade usufrui, como: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o esporte, o lazer e a cultura, entre outros fatores, concorreram para esta mudança de postura. Assim, são muitos ainda os excluídos na sociedade. Não se trata de sair em defesa de uma classe que vive à margem do que a grande maioria das pessoas tem acesso. Na realidade, deve-se ter a consciência de que, ainda hoje, as mulheres, os negros, os índios, os velhos, as crianças e tantos outros grupos de pessoas travam verdadeiras batalhas para sobreviver em igualdade de condições e para serem tratados com respeito em nosso país. Nos últimos anos, a palavra inclusão é usada de forma bastante frequente em diferentes contextos; no entanto, inclusão não significa apenas poder estar junto com os outros e não ser discriminado, mas também e principalmente sentir-se aceito e conviver em um ambiente onde o ser humano é tratado com respeito e dignidade. A legislação, nesse sentido, é um dos meios mais eficazes para se combater a discriminação na sociedade, pois ela protege os direitos do cidadão deficiente; entretanto, as leis não conseguem fazer com que as pessoas se modifiquem, pois, como muito bem lembrou Jannuzzi (1993), “nos países desenvolvidos a lei é baixada para consagrar o costume. Aqui se tem a pretensão de gerar mudanças de costumes através da imposição das leis” (p. 15). Um aspecto importante que merece ser destacado é que a legislação brasileira até a década de 1980 tinha um caráter assistencialista e paternalista, que ratificava a forma como as pessoas portadoras de deficiência eram vistas e tratadas na prática. Cabia à pessoa deficiente adaptar-se ao meio em que vivia, e não o contrário. Nesta aula, os principais documentos nacionais e legislações no campo da Educação Especial serão objeto de estudo. O destaque será dado à Constituição Federal (1988); à Coordenadoria para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde/1989); ao Estatuto da Criança e do Adolescente (1990); ao Plano Decenal de Educação para Todos (1994); à Política Nacional de Educação Especial (1994); à Portaria no 1.793/1994; à Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional (1996), ao Aviso Circular no 277/1996; à Portaria no 319/1999; ao Decreto no 3.076/1999; à Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (BRASIL, 1999). INTRODUÇÃO CEDERJ 95 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 Fonte: http://www.sxc.hu/photo/191197 Dessa forma, conhecer a legislação que garante os direitos de todos possibilita avaliar as políticas públicas e pensar sobre a história e a cultura do país. Isto torna mais fácil o caminho para a construção de uma sociedade inclusiva, isto é, uma sociedade aberta às diversidades e à participação de todos. Não se tem a pretensão de esgotar nenhum desses temas, mas destacar nas leis e políticas públicas vigentes os aspectos mais significativos tanto para as pessoas com necessidades especiais, como para a Educação Especial. A ordem apresentada desses documentos será cronológica, para que se pos- sa observar e apreender a evolução dos diferentes enfoques contemplados na legislação e a forma lenta e gradual com que o país foi construindo um caminho para atender as pessoas deficientes ou aquelas que necessitam de recursos específicos para serem escolarizadas e para viverem em sociedade. Outro aspecto que deve ser levado em consideração, durante todo o estudo desse conteúdo, é que o país sofreu constantes influências externas de todos os movimentos internacionais em benefício das pessoas deficientes ou com necessidades especiais e este cenário mundial em movimento auxiliou enor- memente as mudanças nas políticas públicas brasileiras, mesmo que elas se apresentem ainda de forma superficial e acanhada. Assim, os conteúdos estudados, na aula anterior, sobre os marcos históricos internacionais da Educação Especial até o século XX compõem o contorno deste cenário mundial de que tratamos. Entender o percurso da legislação Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 96 CEDERJ brasileira sob esta ótica possibilita integrar conteúdos e acontecimentos muito mais amplos do que simplesmente tomar como foco as condições internas e intelectuais de nosso país na construção de sua legislação. CONSTITUIÇÃO FEDERAL (1988) A Assembleia Nacional Constituinte promulgou a Constituição da República Federativa do Brasil, considerando, principalmente, (...) um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça com valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e interna- cional, com solução prática das controvérsias (BRASIL, 1988). As Reformas Constitucionais no país aconteceram nos anos de 1824, 1891, 1934, 1937 e 1988. CEDERJ 97 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 A Educação Especial (EE) fundamenta-se na Constituição da Repú- blica Federativa do Brasil (1988), especialmente nos seguintes artigos: Título III – Da Organização do Estado Capítulo II – Da União (...) Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência. (...) Título VIII: Da ordem social (...) Capítulo III – Da educação, da cultura e do desporto Seção I – Da educação Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho. (...) Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado me- diante a garantia de: (...) III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Observe que o texto da Constituição, quando faz referência ao atendi- mento dos alunos com deficiência, utiliza a palavra preferencialmente para indicar o local onde estes alunos devem ser atendidos. Vale lembrar que isto aconteceu no final dos anos 1980. ! Nessa época, usava-se a expressão pessoa portadora de deficiência para fazer referência àquela demanda de recursos especiali- zados para superar ou minimizar suas dificuldades. Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 98 CEDERJ Capítulo VII – Da família, da criança, do adolescente, do jovem e do idoso (...) Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar (...) § 1o. O Estado promoverá programas de assistência integral à saú- de da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediantepolíticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: (...) II. criação de programas de prevenção e atendimento especializa- do para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços co- letivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. A Constituição Federal (1988) tem ainda outros dispositivos que tratam das pessoas com deficiência e podem ser encontrados nos seguintes títulos: – Dos Direitos e Garantias Fundamentais (Art. 7o); – Da Organização do Estado (Art. 24); – Da Administração Pública (Art. 37); – Da Ordem Social (Art. 203); – Das Disposições Constitucionais Gerais (Art. 244). Dessa forma, a Constituição Brasileira de 1988 contempla dife- rentes temas, em variados aspectos, com vistas à dignidade humana, à promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor e idade, e quaisquer outras formas de discriminação e a prevalência dos direitos humanos. Para a Constituição, em seu Art. 208, o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. O apoio específico às pessoas com deficiência chegou com a Lei no 7.853, no ano seguinte. CEDERJ 99 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 Observe que, nesse período, os documentos oficiais adotavam: - o termo “integração”, para tratar da inserção das pessoas deficientes na sociedade; e - a expressão “pessoas portadoras de deficiência”, para se referir às pessoas deficientes. ! No ano seguinte à promulgação da Constituição, a Lei no 7.853 é aprovada para apoiar as pessoas com deficiência e sua integração social e, também, para a criação de um órgão que assegurasse os interesses destas pessoas junto ao Poder Público. LEI N0 7.853 DE 24 DE OUTUBRO DE 1989 Esse documento dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a coordenadoria nacional para integração da pessoa portadora de deficiência – corde, instituindo a tutela jurisdicional de interesses coletivos destas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, entre outras providências. No Artigo 2o, consta que Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas por- tadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. Passados dez anos, essa Lei é regulamentada por meio do Decreto no 3.298/99 que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Podemos perceber que, lentamente, em forma de lei e decretos, os direitos das pessoas com deficiência passam a constar da legislação brasilei- ra. As últimas três décadas foram o período mais produtivo neste sentido. Quer saber mais sobre a Corde e suas competências? Acesse: http://www.prolix.fraterbrasil.org.br/CORDE.htm A coordenadoria nacional para integração da pessoa portadora de deficiência – corde é o órgão do Departamento de Promoção dos Direitos Humanos da Secretaria de Estado dos Direitos Huma- nos, responsável pela gestão de políticas voltadas para inte- gração da pessoa portadora de defi- ciência, sendo o seu eixo focal a defesa de direitos e a promoção da cidadania. Atualmente, com base na Portaria nº 2.344,de 05/11/2010, a CORDE transfor- mou –se na Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 100 CEDERJ Em 1990, com o objetivo de estipular os direitos e as responsabi- lidades das crianças e dos adolescentes, até então definidos no contexto do Código Civil e da Constituição, foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente pelo presidente Fernando Collor de Mello. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI NO 8.069/90) Para efeito do Estatuto, considera-se criança a pessoa até 12 anos incompletos e adolescente, aquela entre 12 e 18 anos de idade (Art. 2o). Entre os temas tratados estão a saúde, a família, o trabalho, a guar- da, a justiça da infância e juventude, a infração, o lazer, o pátrio poder e o portador de deficiência. A educação é abordada nos Art. 53 a 59. O objetivo do estatuto é atender, promover e defender os direitos da criança e do adolescente. A proteção integral, segundo Costa (1990), implica mudanças que abrangem: As políticas sociais básicas, como: saúde, educação, habitação, trabalho, lazer, profissionalização e outras consideradas direito de todos e dever do Estado; as políticas assistenciais: as ações de assistência médica, psicológica e jurídica às crianças vitimizadas; defesa jurídico-social das crianças e adolescentes envolvidos em situações com implicações legais. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei no 8.069/90) tem mais de 267 artigos, capítulos e títulos, e dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Para conhecer mais sobre o Estatuto da Criança e do Ado- lescente, acesse o site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/L8069.htm. PLANO DECENAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS (1993) O governo brasileiro apresentou o Plano Decenal de Educação para Todos em Nova Delhi, em um encontro promovido pela Unicef e pelo Banco Mundial que reuniu os nove países mais populosos do pá t r i o p o d e r É um conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e aos bens do filho menor não emanci- pado, exercido em igualdade de condi- ções, por ambos os pais, tendo em vista o interesse e a prote- ção do filho. es tat u t o É a Lei orgânica que expressa formalmen- te os princípios que regem a organização de um Estado, socie- dade ou associação. A Constituição é o estatuto fundamental de uma Nação. CEDERJ 101 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 Terceiro Mundo − Tailândia, Brasil, México, Índia, Paquistão, Ban- gladesh, Egito, Nigéria e Indonésia −, que juntos, na época, possuíam mais da metade da população mundial. Situando... O Plano Decenal de Educação para Todos foi elaborado pelo Ministério da Educação (MEC), destinado a cumprir, no período de uma década (1993 a 2003), as resoluções e metas da Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jontiem, na Tailândia, em 1990. Este documento é considerado "um conjunto de diretrizes políticas, voltado para a recu- peração da escola fundamental no país". Em seu conjunto, o Plano Decenal de Educação marca a aceitação formal, pelo Governo Federal brasileiro, das teses e estratégias que es- tavam sendo formuladas nos foros internacionais mais significativos na área da melhoria da Educação Básica, entre eles a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990). As principais ideias contidas no Plano Decenal têm origem na preocupação da comunidade internacional com a educação, tendo em vista o novo cenário social, advindo da sociedade da informação. Neste sentido, a Educação Fundamental tem sido considerada um "passaporte para a vida," devendo desenvolver em todas as pessoas um corpo de conhecimentos essenciais e um conjunto mínimo de competências cog- nitivas, para que possam viver em ambientes saturados de informações e continuar aprendendo (MENEZES; SANTOS, 2002). O plano expressa sete objetivos gerais de desenvolvimento da Educação Básica: 1. satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, provendo-lhes as competências fundamentais requeridas para a participação na vida econômica, social, política e cultural do país, especialmente as necessidades do mundodo trabalho; 2. universalizar, com equidade, as oportunidades de alcançar e manter níveis apropriados de aprendizagem e desenvolvimento; 3. ampliar os meios e o alcance da Educação Básica; 4. favorecer um ambiente adequado à aprendizagem; Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 102 CEDERJ 5. fortalecer os espaços institucionais de acordos, parcerias e compromisso; 6. incrementar os recursos financeiros para manutenção e para investimentos na qualidade da Educação Básica, conferindo maior efi- ciência e equidade em sua distribuição e aplicação; 7. estabelecer canais mais amplos e qualificados de cooperação e intercâmbio educacional e cultural de caráter bilateral, multilateral e internacional. Esses objetivos serão lembrados alguns anos depois, em 1996, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, ao consolidar e ampliar o dever do poder público com a educação em geral e, em parti- cular, com o Ensino Fundamental. Dessa forma, o Plano Decenal de Educação tem como foco principal à universalização da Educação Básica e a erradicação do analfabetismo. A pessoa deficiente é incluída como um dos segmentos da clientela escolar e passa a receber mais atenção para alcançar esta universalização com qualidade e equidade. Para tanto, é necessário que se implementem estratégias de ensino que atendam às necessidades es- pecíficas de aprendizagem do aluno especial e que se empreguem todos os esforços no sentido de melhorar o acesso e garantir a permanência escolar destes alunos. Em 2001, sete anos após a aprovação do Plano Decenal de Edu- cação para Todos, o Congresso Nacional aprova o Plano Nacional de Educação – Lei no 10.702 e, no ano seguinte, entra em vigor a primeira Política de Educação Especial do país. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL (1994) A Política Nacional de Educação Especial (PNEE), segundo a Secretaria do MEC (1994), é: A ciência e a arte de estabelecer objetivos gerais e específicos, de- correntes da interpretação dos interesses, necessidades e aspirações de pessoas portadoras de deficiências, condutas típicas (problemas de conduta) e de altas habilidades (superdotados), assim como o de bem orientar todas as atividades que garantam a conquista e a manutenção de tais objetivos (p. 7). eq u i d a d e Significa igualdade ou disposição de reconhecer igual- mente o direito de cada um. condutas típicas São manifestações de comportamentos típicos de pessoas com síndromes e quadros psicóticos neurológicos ou psi- quiátricos. Elas oca- sionam atrasos no desenvolvimento e prejuízos no relacio- namento social em grau que necessite atendimento educa- cional especializado. Enquanto síndrome, é um conjunto de sintomas e de sinais que podem ser pro- duzidos por mais de uma causa. CEDERJ 103 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 O conteúdo da Política de Educação Especial fundamenta-se na Constituição Federal (1988), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei no 5.692/71, com redação alterada pela Lei no 7.044/82), no Plano Decenal de Educação para Todos/MEC (1993) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990). A Política Nacional de Educação Especial, de 1994, orienta o processo de integração instrucional que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “(...) têm condições de acompa- nhar e de desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”(p.19). Cabe observar que, a partir da compreensão de padrões homo- gêneos de aprendizagem e de participação, a Política não provoca uma reformulação das práticas educacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes potenciais de aprendizagem no ensino comum, mas mantém a responsabilidade da educação destes alunos exclusivamente no âmbito da Educação Especial. No mesmo ano, entra em vigor a Portaria que trata da formação de docentes e de profissionais que trabalham com pessoas com necessi- dades especiais. PORTARIA NO 1.793 DE DEZEMBRO DE 1994 O trabalho educacional com os alunos deficientes requer dos pro- fessores e profissionais do ensino conhecimentos específicos e formação continuada. Tendo em vista que poucos detêm conhecimentos na área, o MEC toma a iniciativa de recomendar a inclusão destes conteúdos na formação universitária de docentes. Em forma de documento, a Portaria no 1.793/94 dispõe sobre a necessidade de complementar os currículos de formação de docentes e de outros profissionais que interagem com portadores de necessidades espe- ciais – como ainda eram chamados na época – e dá outras providências. Nessa Portaria, consta a recomendação de inclusão da disciplina “Aspectos Ético-Político-Educacionais da Normalização e Integração da Pessoa Portadora de Necessidades Especiais”, prioritariamente, nos cursos de Pedagogia, Psicologia e de todas as Licenciaturas (Art.1o). A disciplina relacionada pela Portaria para complementar os currículos trata de temas como a normalização e a integração da pessoa Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 104 CEDERJ com necessidades especiais. Vale lembrar que normalização significa oferecer às pessoas com necessidades especiais as mesmas condições e oportunidades sociais, educacionais e profissionais dos demais indi- víduos. Normalização significa aceitar a maneira de estes indivíduos viverem com direitos e deveres. É respeitar as características pessoais, enquanto integração significa considerar os valores democráticos da igualdade, da participação ativa e do respeito a deveres e direitos so- cialmente estabelecidos. Integração implica reciprocidade e envolve a aceitação daquele que se insere. A Portaria no 1.793/94 recomenda a inclusão da disciplina “Aspec- tos Ético-Político-Educacionais da Normalização e Integração da Pessoa Portadora de Necessidades Especiais” também para os cursos de Ciência da Saúde – Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fono- audiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Terapia Ocupacional – e para os cursos de Serviço Social e demais cursos superiores, de acordo com suas especificidades (Art. 2o). A importância deste conteúdo se dá porque, até então, não havia qualquer orientação neste sentido para os profissionais que atendem as pessoas de uma maneira geral e, inclusive, aquelas com necessidades especiais. Há ainda a recomendação da manutenção e expansão de estudos adicionais, cursos de graduação e de especialização já organizados para as diversas áreas da Educação Especial (Art. 3o). Desde aquela época, 1994, estava sinalizada com essa Portaria a necessidade de que os currículos da formação de docentes incluíssem conteúdos sobre as pessoas com necessidades especiais. Porém, isso só se efetivou, mesmo que de forma tímida e pontual, por meio de inicia- tivas isoladas e de maneira gradativa, por profissionais que detinham conhecimento e prática nessa área. Atualmente, pode ser observado que muitos cursos de Licenciatu- ra têm pelo menos uma disciplina voltada à educação das pessoas com necessidades especiais e, nem sempre, é uma disciplina obrigatória. Dada a abrangência e a complexidade do tema, esta oferta é insuficiente para a formação docente. Quando futuros profissionais estão ainda na universidade, eles têm a oportunidade de ampliar e aprofundar seus conhecimentos, no sentido de estudar e pesquisar sobre novos campos do saber e, quando estes alunos são desafiados e orientados para inovadoras formas de pensar, a formação universitária se enriquece e as futuras atividades profissionais CEDERJ 105 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 e docentes se transformam qualitativamente, de maneira a possibilitar práticas adequadas às necessidades destas pessoas. Assim, é na formação universitária a melhor possibilidade de incluir novos conhecimentos.Atende aos Objetivos 1 e 2 1. Para se familiarizar com a legislação estudada até aqui e reconhecer a importância dessas conquistas para as pessoas com necessidades especiais, realize a atividade abaixo. Consultando o texto da aula, preencha o quadro abaixo com as informa- ções que obteve sobre a legislação, no que diz respeito às pessoas com necessidades especiais. Considere que na primeira coluna do quadro abaixo constam várias datas, correspondentes aos títulos da Legislação e Políticas Públicas da segunda coluna: • preencha a terceira coluna com 3 pontos destacados de cada documento correspondente. Data Títulos das Leis e/ ou Portarias Relacione pelo menos 3 aspectos importantes direcionados às pessoas com necessidades especiais 1988 Constituição Federal 1. 2. 3. 1989 Lei no 7.853 1. 2. 3. 1990 Estatuto da Criança e do Adolescente Lei no 8.069/90 1. 2. 3. 1993 Plano Decenal de Educação para Todos 1. 2. 3. ATIVIDADE Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 106 CEDERJ Data Títulos das Leis e/ ou Portarias Relacione pelo menos 3 aspectos importantes direcionados às pessoas com necessidades especiais 1994 Política Nacional de Educação Especial 1. 2. 3. 1994 Portaria no 1.793 1. 2. 3. RESPOSTAS COMENTADAS Ao realizar esta atividade, você pode ter destacado, a seu critério, diferentes aspectos. O importante ao revisar o conteúdo da aula, agora de forma sistemática, é que você tenha percebido, com mais detalhes, cada uma dessas legislações, quanto ao atendimento das pessoas com defi ciências. Você pode ter destacado na Constituição Federal, por exemplo, os seguintes pontos: 1. é competência da União, dos Estados, Distrito Federal e dos municípios cuidar da saúde, da assistência pública e da proteção das pessoas com defi ciência;. 2. a educação é direito de todos e dever do Estado e da família;. 3. é dever do Estado garantir o atendimento especializado aos por- tadores de defi ciência, preferencialmente na rede regular de ensino. Na Lei no 7.853 de 1989, você pode ter respondido que: 1. ela dispõe sobre o apoio e a integração social das pessoas por- tadoras de defi ciência; 2. dispõe também sobre a Coordenadoria para a Integração da Pessoa Portadora de Defi ciência – Corde; 3. cabe assegurar às pessoas com defi ciência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade. E assim por diante, até completar o quadro proposto pela atividade. Cabe a você a escolha dos pontos que considera mais interessantes, no que diz respeito às pessoas defi cientes. ATIVIDADE CEDERJ 107 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LDB/1996) Antes de se tratar da Educação Especial, na atual Lei de Diretrizes e Bases (1996), vale mencionar que a Lei no 4.024/61 já reconhecia a Educação Especial, no Art. 88, que tratava do direito dos excepcionais à educação e que ela deveria ser feita no sistema geral de ensino, para que os deficientes fossem integrados à comunidade. Tal lei não criou compro- missos para a escola pública, apoiando somente as iniciativas privadas. Dez anos depois, o Art. 9o da Lei 5.692/71 dispõe que os alunos que apresentavam deficiências físicas ou mentais, que se encontravam em atraso considerável com relação à idade regular de matrícula e os superdotados deveriam receber tratamento especial. São três as leis que fixam as diretrizes e bases do ensino (LDBs): Lei no 4.024/61 Lei no 5.692/71 Lei no 9.394/96 Na atual LDB (Lei no 9.394/96), o Capítulo V trata especificamente da Educação Especial em seus artigos 58, 59 e 60. Capítulo V − Da Educação Especial Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencial- mente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. § 1o. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2o. O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 108 CEDERJ § 3o. A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a Educação Infantil. Quanto ao sistema de ensino Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I − currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organiza- ção específicos, para atender às suas necessidades; II − terminalidade específica para aqueles que não puderem atin- gir o nível exigido para a conclusão do Ensino Fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III − professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV − educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V − acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais su- plementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. Quanto aos órgãos normativos Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelece- rão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em Educação Especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. Parágrafo único. O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, in- dependentemente do apoio às instituições previstas neste artigo. Alguns pontos que podem ser observados na LDB/1996 reforçam as legislações anteriores e apontam a direção para o atendimento aos alunos com necessidades especiais: CEDERJ 109 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 • Educação Especial, como modalidade de educação escolar, ofe- recida preferencialmente na rede regular de ensino; • quando necessário, serviços de apoio especializado para atender às especificidades desses alunos; • em função das condições dos alunos, quando não for possível o atendimento em classes comuns de ensino regular, o atendimento será feito em classes, escolas ou serviços especializados; • a oferta de Educação Especial é dever constitucional do Estado e tem início durante a Educação Infantil, de zero a seis anos. No final da década de 90, com a passagem gradativa dos alunos com deficiência aos níveis mais adiantados da escolarização, há a preo- cupação de que eles, quando na universidade, encontrem condições favo- ráveis para prosseguirem seus estudos. Neste sentido, o MEC elabora um documento orientando alguns procedimentos para melhor atendê-los. AVISO CIRCULAR MEC/GM NO 277/96 Em maio de 1996, o então ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, enviou um documento para os reitores das Instituições de Ensino Superior − IES para que “empreendessem esforços no sentido de adequar-se, estruturalmente, para criar condições próprias, de forma a possibilitar o acesso dos alunos portadores de deficiência ao 3o grau” (MEC,1996). Na época, a despeito do elevado número de solicitações dos pais dos alunos comdeficiência, os levantamentos do Brasil não contemplavam o atendimento educacional às pessoas com deficiência. O documento alertava sobre os principais procedimentos para atender a esses alunos, desde a elaboração do edital, o atendimento durante as provas e, para a correção das provas, trazia, inclusive, uma série de sugestões que visavam ao acesso desses candidatos ao 3o grau, com bancas especiais; textos ampliados, lupas ou outros recursos ópticos especiais para pessoas com baixa visão − na época chamadas pessoas com visão subnormal −; utilização de recursos e equipamentos específi- cos para cegos, como provas orais e/ou em Braille, sorobã, máquina de datilografia comum ou Perkins/Braille, dosvox adaptado ao computador; intérprete, no caso de Língua de Sinais no processo de avaliação dos candidatos surdos. sorobã É um instrumento uti- lizado para trabalhar cálculos e operações matemáticas. Espécie de ábaco que contém cinco contas em cada eixo e borracha com- pressora para deixar as contas fixas. dosvox Sistema operacional, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que possui um conjunto de ferramentas e apli- cativos próprios, além de jogos, agenda, chat. Pode ser obtido gra- tuitamente por meio de download, a partir do site do projeto Dosvox. Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 110 CEDERJ Para baixar e conhecer o Dosvox, acesse: http://intervox.nce. ufrj.br/dosvox Enfim, concluía no Aviso Circular: (...) espero que essa Instituição possa, ainda, desenvolver ações que possibilitem a flexibilização dos serviços educacionais e da infraestrutura, bem como a capacitação de recursos humanos, de modo a melhor atender às necessidades especiais dos portadores de deficiência, possibilitando sua permanência, com sucesso, em certos cursos. Atualmente, você já deve ter visto ou ter tomado conhecimento sobre a utilização desses recursos especializados para o atendimento das pessoas com deficiência ou necessidades educacionais especiais em provas, concur- sos e vestibulares. No entanto, você sabia que o Ministério da Educação, há mais de uma década, havia feito orientações com este conteúdo para as Instituições de Ensino Superior – IES? Com vistas a uma política de diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de aplicação, o MEC institui a Comissão Brasileira de Braille. PORTARIA NO 319 DE 26 DE FEVEREIRO DE 1999 Considerando-se que o Sistema Braille, conhecido universalmente como código ou meio de leitura e escrita das pessoas cegas, o Ministério da Educação institui, na Portaria no 319/99, a Comissão Brasileira de Braille, vinculada à Secretaria de Educação Especial/Seesp. Essa iniciativa se deu em função do interesse do Governo Federal em adotar para todo o país (...) uma política de diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de aplicação, compreendendo especialmente a Língua Portuguesa, CEDERJ 111 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 a Matemática e outras Ciências, a Música e a Informática; con- siderando a permanente evolução técnico-científica que passa a exigir sistemática avaliação, alteração e modificação dos códigos e simbologia Braille, adotados nos países de Língua Portuguesa e Espanhola; e, finalmente, considerando a necessidade do estabele- cimento de permanente intercâmbio com comissões de Braille de outros países, de acordo com a política de unificação do Sistema Braille, a nível internacional, resolve (...) Instituir no Ministério da Educação, vinculada à Secretaria de Educação Especial/Seesp e presidida pelo titular desta, a Comissão Brasileira do Braille, de caráter permanente. O Ministério da Justiça, no mesmo ano, cria o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência Conade. DECRETO NO 3.076/99 No ano de 1999, por meio do Decreto no 3.076, o Ministério da Justiça cria o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de deficiência (Conade). O Conade é um órgão superior criado para acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da pessoa com deficiência e das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer e política urbana, dirigidos a este grupo social. O Conade faz parte da estrutura básica da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, atualmente denominada Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (2010). Você pode estar perguntando: o que fez o governo brasileiro criar o Conade? Naquela época, segundo o Censo de 2000 do IBGE, no Brasil existiam 24,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência ou incapacidade, o que representava 14,5% da população brasileira. O Conade foi criado então para que essa população possa tomar parte do processo de definição, planejamento e avaliação das políticas destinadas à pessoa com deficiência. Isto se daria por meio da articulação e do diá- logo com as demais instâncias sociais e com os gestores de administração pública direta e indireta. Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 112 CEDERJ Entre as competências do Conade, segundo o Artigo 2o do Decreto no 3.076/99, de que estamos tratando, podemos destacar: I – zelar pela efetiva implantação da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência; II – acompanhar o planejamento e avaliar a execução das políti- cas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, po- lítica urbana e outras relativas à pessoa portadora de deficiência; (...) V – acompanhar e apoiar as políticas e as ações dos Conselhos dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência no âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VI – propor a elaboração de estudos e pesquisas que objetivem melhoria da qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência; VI – propor e incentivar a realização de campanhas visando à prevenção de deficiências e a promoção dos direitos da pessoa portadora de deficiência; (...) No Artigo 4o consta que: Poderão ser instituídas outras instâncias deliberativas pelos Es- tados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, que integrarão o sistema descentralizado dos direitos da pessoa portadora de deficiência. Quer conhecer mais sobre o Conade? Acesse os sites http://portal.mj.gov.br/conade e http://www. direitoshumanos.gov.br/pessoas-com-deficiencia-1/conade Em 1999, é aprovada a política para a integração da pessoa defi- ciente, para orientar e assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas com deficiência. CEDERJ 113 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 POLÍTICA NACIONAL PARA A INTEGRAÇÃO DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA (DECRETO NO 3.298/99) O Decreto regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências sobre o tema. A Política Nacional para a integração da Pessoa Portadora de De- ficiência é um conjunto de orientações que tem como objetivo assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência. Segundo a Lei, cabe aos órgãos e entidades do poder público as- segurarem à pessoa portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive o direito à saúde, à educação, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, ao acesso à edificação pública, à habitação, ao transporte, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, entre outros que propiciem bem-estar pessoal, social e econômico. Esse Decreto, composto por artigos, com diferentes capítulos, considera em seu Art. 3o: I – deficiência – todaperda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II – deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recu- peração ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; III – incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capa- cidade de integração social com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa por- tadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. Os objetivos da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência são: − o acesso, ingresso e permanência das pessoas com deficiência em todos os serviços oferecidos à comunidade; − a integração dos órgãos e das entidades públicas e privadas nas Atualmente, com base na Portaria nº 2.344/2010, ao invés de se usar Política Nacional para a integração da Pessoa Portadora de Deficiência usa-se Política Nacional para a Inclusão da Pessoa com Deficiência. Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 114 CEDERJ diversas áreas de saúde, educação, transporte, assistência social, previ- dência, entre outros, visando à prevenção das deficiências, à eliminação das diversas causas e à inclusão social; − o desenvolvimento de programas setoriais para atendimento das necessidades especiais das pessoas com deficiência; − a formação de recursos humanos para o atendimento das pessoas com deficiência; − a garantia de efetividade aos programas de prevenção, de aten- dimento especializado e de integração social. Além disso, este Decreto define os diferentes tipos de deficiência, estabelece os instrumentos a serem utilizados pela Política, define a competência do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Conade), define a competência da Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), entre outras orientações. CONCLUSÃO A legislação e as políticas públicas no Brasil, voltadas para as pes- soas com deficiência, quando analisadas nas últimas décadas, registram avanços importantes, principalmente a partir da Constituição Brasileira (1988). Com estas diretrizes legais estabelecidas, tem início um novo mosaico de configuração em benefício das pessoas com deficiência. No entanto, ainda que ganhando espaços de direitos em diferen- tes áreas e segmentos, estas conquistas são ainda bastante acanhadas se consideradas sob a ótica da vida do deficiente em sociedade, com base em suas dificuldades e com vistas às suas possibilidades. Há necessidade de uma ação conjunta de todos os segmentos da sociedade, buscando minimizar a distância entre os dispositivos legais e o cotidiano, visando a operar, efetivamente, uma mudança de atitude em relação às pessoas com necessidades especiais. CEDERJ 115 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 ATIVIDADE FINAL Atende aos Objetivos 1 e 2 Para conhecer as leis e as políticas públicas no campo da Educação Especial e reco- nhecer a importância dos avanços e conquistas para as pessoas com necessidades especiais, em diferentes áreas, é necessária uma leitura atenta dos aspectos espe- cíficos da legislação. Assim, para ajudá-lo nesta atividade, após a leitura da aula, volte ao texto e preencha o quadro abaixo, consultando as principais legislações no que diz respeito às pessoas com necessidades especiais, em que deve constar: • na primeira coluna − a data correspondente à legislação mencionada; • na terceira coluna − os principais pontos que você destaca em cada documento estudado. Data Títulos das Leis e/ou Portarias Relacione pelo menos 3 aspectos importan- tes direcionados às pessoas com necessida- des especiais Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 1. 2. 3. Aviso Circular no 277 1. 2. 3. Portaria no 319 1. 2. 3. Decreto no 3.076 1. 2. 3. Política Nacional para a Integração da Pessoa Por- tadora de Deficiência 1. 2. 3. Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 116 CEDERJ R E S U M O As Leis, os Decretos, as Portarias, as Políticas e o Estatuto que estudamos nesta aula demonstram claramente as primeiras iniciativas no campo da legislação, advindas da compreensão das necessidades e dos direitos das pessoas deficientes. A Constituição do Brasil (1988) considera competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios cuidarem da saúde e assistência pública, dar proteção e garantia às pessoas portadoras de deficiência; considera a educação como direito de todos e dever do Estado e da família e, com relação à educação dos deficientes, o dever do Estado será efetivado mediante a garantia de atendimento educacional especializado, realizado preferencialmente na rede regular de ensino. A Lei no 7.853/1989 dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Corde, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes e dá outras providências. Entre seus artigos, estabelece que ao poder público e a seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem estar pessoal, social e econômico. Entre os temas de que trata o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) estão a saúde, a família, o trabalho, a guarda, a justiça da infância e da juventude, a infração, o lazer, o pátrio poder e o portador de deficiência. O objetivo do Estatuto é atender, promover e defender os direitos da criança e do adolescente. O Plano Decenal de Educação para Todos (1993) tem como foco principal a universalização da Educação Básica e a erradicação do analfabetismo. O portador de deficiência é incluído como um dos segmentos da clientela escolar e passa a receber mais atenção para se alcançar esta universalização com qualidade e equidade. Na Política Nacional de Educação Especial (1994), está enunciado um conjunto de objetivos que procura garantir o atendimento da pessoa com necessidades especiais. O objetivo geral é servir como orientação do processo global de educação das pessoas com deficiências e nos objetivos específicos estão relacionados muitos itens que se ocupam, entre outros aspectos, do desenvolvimento das potencialidades; do incentivo à autonomia, à cooperação, à integração na sociedade; CEDERJ 117 3 A U LA 6 M Ó D U LO 2 da eliminação de barreiras físicas; do desenvolvimento de ações integradas nas áreas de ação social, educação, saúde e trabalho. A Portaria no 1.793/1994 dispõe sobre a necessidade de complementar os currículos de formação de docentes e de outros profissionais que interagem com portadores de necessidades especiais − como eram chamados na época − e dá outras providências. Na LDB (1996), a Educação Especial tem destaque em três artigos que tratam do apoio aos educandos com necessidades especiais, que a educação deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino e que os sistemas de ensino deverão assegurar aos educandos com necessidades especiais currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender às suas necessidades, entre outras orientações. O Aviso Circular no 277/MEC/GM trata de uma solicitação aos reitores de Instituições Superiores para que empreendessem esforços no sentido de adequar-se, estruturalmente, para criar condições próprias,de forma a possibilitar o acesso dos alunos portadores de deficiência ao 3o grau. O documento alerta sobre os principais procedimentos para atender a estes alunos e faz algumas recomendações. A Portaria no 319 de 1999 institui no Ministério da Educação a Comissão Brasileira de Braille. O Decreto no 3.076/99 cria, no âmbito do Ministério da Justiça, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Conade). Este órgão superior foi criado para acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da pessoa com deficiência e das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer e política urbana dirigidos a este grupo social. A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, Decreto no 3.298/99, traz um conjunto de orientações que visam a assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência e objetivam, entre outras coisas, o acesso, ingresso e permanência das pessoas com deficiência em todos os serviços oferecidos à comunidade. Dessa forma, de acordo com os ganhos no campo da legislação, no decorrer dos anos, foram promovidos avanços em termos da integração dos ensinos regular e especial, e da ampliação de responsabilidades do sistema educacional e da sociedade em atender às necessidades do deficiente, assegurando seus direitos. Educação Especial | Marcos históricos nacionais da Educação Especial até o século XX 118 CEDERJ INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, dando continuidade aos conhecimentos legais, você estudará "As Pessoas com Necessidades Especiais no Século XXI".
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