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O CASO DA AZALÉIA NORDESTE Uma Experiência de Benefícios Sociais Gerados em Projetos Privados ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 1 - AO1 DIRETOR José Mauro Mettrau Carneiro da Cunha SUPERINTENDENTE Carlos Gastaldoni Elaboração: GERÊNCIA SETORIAL DE BENS DE CONSUMO NÃO DURÁVEIS José Eduardo Pessoa de Andrade - Gerente Flavia Menna Barreto Alexim - Estagiária Colaboração: Carlos Augusto Muller Ferreira - AO1/DEPAN 2 - Chefe David John Allen - AO1/DEPAN 2 Apoio Bibliográfico: Arthur Adolfo Guarido Garbayo - AP/COPED Apoio em Informática: Francisco de Assis Pereira França - AO1/GESIS Cristina Turano - AO1/GESIS Agradecimento: José Eduardo Zdanowicz - Diretor Adjunto da Calçados Azaléia S/A Maio de 2001 É permitida a reprodução parcial ou total deste artigo desde que citada a fonte. SETOR DE CALÇADOS ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................................. 1 2. O GRUPO AZALÉIA.......................................................................................................................................2 3. O PROJETO AZALÉIA NORDESTE .......................................................................................................2 3.1. Objetivo..................................................................................................................................................... 2 3.2. Geração de empregos......................................................................................................................... 3 4. INVESTIMENTOS E INCENTIVOS PÚBLICOS ..................................................................................5 5. A REGIÃO SÓCIO-ECONÔMICA – ITAPETINGA/BA.......................................................................5 6. OS RESULTADOS ECONÔMICO-FINANCEIROS INICIAIS DO PROJETO..........................11 7. AS AÇÕES E RESULTADOS SOCIAIS INICIAIS ..............................................................................12 8. CONCLUSÃO E PROPOSTAS ...............................................................................................................16 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................19 SETOR DE CALÇADOS 1 1. Introdução Nossa sociedade, predominantemente, atribuía ao setor público a exclusiva responsabilidade pela solução das questões sociais. O setor privado, por outro lado, só se dedicava a ações sociais de cunho filantrópico. Essa tradicional divisão de tarefas começou a ser modificada através da atuação de várias associações empresariais, entre as quais merecem destaque o Instituto Ethos e o Gife1, que adotaram o conceito da responsabilidade social corporativa. As empresas privadas que passaram a realizar investimentos e ações de natureza social constituíram-se como empresas socialmente responsáveis. Essas empresas, além de buscarem seus objetivos tradicionais (remuneração dos acionistas, satisfação dos clientes, etc) também procuram a promoção do crescimento profissional e social de seus funcionários, agregando, ao caso brasileiro, “o objetivo de combater a exclusão social e promover a cidadania de enorme parcela da população ainda à margem dos benefícios do desenvolvimento e da modernização econômica”2. Este estudo apresenta o caso da Azaléia Nordeste, projeto de investimento realizado pelo Grupo Azaléia, uma empresa nacional situada entre as cinco maiores organizações calçadistas do mundo, na região do município de Itapetinga, na Bahia. Foram destacados os resultados sociais potenciais ou já obtidos em conseqüência da realização desse investimento. Na realidade, a responsabilidade social corporativa do Grupo Azaléia antecede a fase atual de estímulo e sistematização dessas iniciativas. A empresa já nasceu sob valores culturais que preconizavam a ação social. A experiência acumulada em mais de 40 anos de atividades no município gaúcho de Parobé-RS, combinando a gestão de resultados, típica da esfera privada, sem descurar da atuação de tipologia pública, serviu de referência para a integração social que está sendo estruturada no Projeto Azaléia Nordeste. Na definição dos resultados sociais apresentados adotou-se conceito flexível, objetivando gerar o maior número possível de informações. Entendeu-se que essas informações poderiam posteriormente ser trabalhadas com o rigor conceitual que está sendo firmado pelas já citadas organizações empresariais. Portanto, o maior objetivo deste estudo é o de estimular, pela divulgação de experiências já realizadas, a multiplicação de novas ações empresariais de cunho social. Ao mesmo tempo, destacar que o BNDES, através de seus financiamentos a projetos com solidez de resultados econômico-financeiros, também desempenha a função de alavancar benefícios sociais resultantes desses projetos e constitui-se num parceiro de excelência para iniciativas empresariais dessa natureza. 1 Essas ações empresariais de cunho social foram apresentadas nos Relatos Setoriais nos 1 e 2, elaborados pela Gerência de Estudos Setoriais – Geset/AS do BNDES. 2 Programa “Empresas, Responsabilidade Corporativa e Investimentos Sociais”. SETOR DE CALÇADOS 2 2. O Grupo Azaléia Uma pequena fábrica, com equipamentos de segunda mão, conduzida pelos cinco sócios fundadores e suas respectivas esposas, iniciou no 2o semestre de 1958, em Parobé, Rio Grande do Sul, a produção de calçados femininos que viria a se constituir na base para a consolidação do grupo industrial em formação. Passados mais de 40 anos, aquela pequena fábrica foi transformada no Grupo Azaléia, cuja dimensão pode ser visualizada na tabela 1, com valores relativos ao encerramento do ano 2000. Tabela 1 – Informações básicas do Grupo Azaléia Fábricas / Localização Complexo Industrial da Matriz Parobé / RS Calçados Azaléia São Sebastião Ltda São Sebastião do Caí / RS Azaléia Calçados Conceição Ltda São Sebastião do Caí / RS Azaléia Calçados Novo Hamburgo Ltda Novo Hamburgo / RS Azcouro – Indústria de Couros Ltda Uruguaiana / RS Itapetinga / BA Calçados Azaléia Nordeste S/A Itaporanga d’Ajuda / SE Principais produtos Azaléia Calçados femininos Dijean Tênis esportivos Olympikus Número de empregados 13.809 Informações financeiras Vendas líquidas R$ 561,0 milhões Exportações R$ 112 milhões Lucro líquido R$ 53,7 milhões Valor do ativo total R$ 593,3 milhões Valor do patrimônio líquido R$ 333,6 milhões Volume de vendas Vendas totais 34,7 milhões de pares Vendas no mercado interno 26,7 milhões de pares Exportações 7,9 milhões de pares Fonte: Azaléia. Elaboração própria. 3. O projeto Azaléia Nordeste 3.1. Objetivo Implantação de um complexo industrial (matriz) para a fabricação de calçados femininos e esportivos no município de Itapetinga - Bahia e em galpões SETOR DE CALÇADOS 3 industriais (filiais), no próprio município e em municípios vizinhos, com capacidade instalada para produzir 50.000 pares/dia. O complexo industrial (matriz) é integrado por 15 pavilhões, destinados às operações industriais e aos demais serviços auxiliares. O conceito do projeto considera ainda a fabricação do cabedal, parte superior do calçado, num conjunto de galpões (filiais), construídos pelo poder público municipal ou estadual, com máquinas fornecidas pela Azaléia. A montagem final do calçado é conduzida no complexo industrial de Itapetinga. Atualmente a empresa está utilizando cerca de 80% da capacidade instalada, tendo produzido 5,58 milhões de pares no ano 2000, atingindo uma média de 32.000 pares/dia, dos quais 19.600 de calçados esportivos e 12.400 de sandálias. A empresa estima que a produção total atinja a 54.000 pares/dia até o finalde 2001. 3.2. Geração de empregos Previsão inicial de 4.418 empregos diretos e 2.774 indiretos. Em 2000 a Azaléia Nordeste S. A. foi responsável pela geração de 1.351 novos postos de trabalho, com a abertura de 9 filiais, atingindo ao final do período o total de 4.412 empregos diretos. Os serviços auxiliares do complexo geram 135 empregos indiretos, conforme a seguinte discriminação: • refeitório (68 pessoas) • jardinagem (6 pessoas) • serviços de montagem (6 pessoas) • instalações elétricas e marcenaria (16 pessoas) • confecção de uniformes (6 pessoas) • serviço de transporte de funcionários (33 pessoas) A tabela 2 mostra a distribuição dos empregos diretos na matriz e nas diversas filiais da região de Itapetinga. SETOR DE CALÇADOS 4 Tabela 2 – Instalações industriais e geração de emprego Unidade Município Empregos diretos Matriz (complexo industrial) Itapetinga 2.808 Filial 1 (galpão industrial) Itapetinga 222 Filial 4 (galpão industrial) Itapetinga 197 Filial 5 (galpão industrial) Itapetinga 82 Filial 2 (galpão industrial) Itororó 72 Filial 18 (galpão industrial) Itororó 42 Filial 23 (galpão industrial) Itororó 39 Filial 3 (galpão industrial) Itambé 85 Filial 6 (galpão industrial) Itambé 84 Filial 7 (galpão industrial) Potiraguá 77 Filial 8 (galpão industrial) Itarantim 191 Filial 9 (galpão industrial) Macarani 191 Filial 17 (galpão industrial) Macarani 45 Filial 10 (galpão industrial) Maiquinique 73 Filial 19 (galpão industrial) Firmino Alves 49 Filial 20 (galpão industrial) Firmino Alves 45 Filial 21 (galpão industrial) Ibicuí 41 Filial 22 (galpão industrial) Iguaí 67 Filial 24 (galpão industrial) (*) Caatiba 2 Filial 25 (galpão industrial) (*) Nova Canaã - Total 4.412 Fonte: Azaléia. (*) - em fase de implantação. Fontes de recursos Tabela 3 – Investimento e fontes de recursos Fontes R$ mil % Investimento Total 117.253 100 1. Recursos Próprios 58.320 50 2. Sistema BNDES 29.525 25 BNDES 17.102 15 FINAME 12.423 10 3. Outros Financiamentos 29.408 25 FINOR 15.137 13 Financiamento de Fornecedores 14.271 12 Fonte: BNDES. SETOR DE CALÇADOS 5 4. Investimentos e Incentivos Públicos O projeto Azaléia Nordeste, implantado com 50% de recursos próprios e 50% de recursos financiados, pelo BNDES e outras instituições, também se beneficiou de investimentos suplementares realizados pelo setor público, principalmente na área de infra-estrutura. A existência de uma infra-estrutura industrial representaria um fator de atração para os investimentos na região, além da disponibilidade de mão-de-obra de baixo custo. O Estado da Bahia, para o setor calçadista, oferece “terreno a preço incentivado, com disponibiização de energia elétrica, gás natural, telefone, água e esgoto no pórtico de acesso ao empreendimento” 3. Foi construído, pelo governo estadual, novo acesso ao distrito industrial de Itapetinga, com uma ponte de 87 metros sobre o rio Catulé, que corta a cidade. O aeroporto de Itapetinga, a um custo de R$ 1,8 milhão, foi preparado para receber jatinhos e aviões de médio porte. As estradas vicinais da região também estão sendo pavimentadas pelo Governo do Estado.4 A implantação dos galpões das filiais, incluindo o terreno e as instalações físicas, também está sendo assumida pelo Governo estadual. A Azaléia contribui com o investimento nas máquinas. Além dos investimentos, o Estado oferece outros incentivos para as indústrias calçadistas que se instalam na Bahia, destacando-se o crédito presumido de até 90% do imposto incidente durante o período de até 15 anos de produção e o diferimento do ICMS devido5. O treinamento da mão-de-obra está sendo assumido, conjuntamente pelo SENAI, pelo Governo do Estado e pela empresa. 5. A Região Sócio-Econômica – Itapetinga/BA A cidade de Itapetinga localiza-se na região sudeste do Estado da Bahia, distando pouco mais de 100 km das cidades de Vitória da Conquista e de Itabuna, e 570 km de Salvador. Na classificação adotada pela Secretaria Estadual de Planejamento, a cidade integra o Eixo Planalto de Desenvolvimento Econômico. Os mapas seguintes permitem visualizar a posição geográfica do município de Itapetinga e dos demais municípios onde estão sendo instaladas as filiais do projeto Azaléia. 3 Informação da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração, na página do Governo da Bahia na internet. 4 Balanço Anual/Gazeta Mercantil, outubro de 2000. 5 Página do Governo da Bahia na internet. SETOR DE CALÇADOS 6 Mapa 1 - Posição geográfica do Município de Itapetinga Mapa 2 - Itapetinga e os municípios com filiais do Projeto Azaléia A microrregião do município de Itapetinga, além dos municípios vizinhos, atravessou uma fase de regressão econômica nos últimos anos, pelo menos até SETOR DE CALÇADOS 7 1996, dependente da pecuária bovina extensiva, destinada principalmente à produção de carne. A tabela 4 resume alguns indicadores dessa regressão: Tabela 4 – População e indicadores econômicos do município 1980 1996 2000 Indicador Valor Índice Valor Índice Valor Índice População (4) Município de Itapetinga 47.417 100 54.279 114 57.800 122 Estado da Bahia 9.454.346 100 12.541.675 133 13.066.764 138 Produto Interno Bruto (5), em US$ milhões de 1998 Município de Itapetinga 149 100 104 70 n.d. Outros municípios com filiais da Azaléia (1) 256 100 201 79 n.d. Estado da Bahia 24.486 100 32.206 132 n.d. Rebanho bovi no de Itapetinga(6), em cabeças (2) 201.515 100 97.239 48 (3) 91.640 Obs.: (1) Municípios citados na tabela 2, com exceção de Nova Canaã; (2) em 1985; (3) em 1998. Fonte: (4) IBGE, incluindo resultados preliminares do Censo 2000; (5) e (6) - Dados básicos IBGE/IPEA e IBGE – Censo Agropecuário apud SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia - www.sei.ba.gov.br, Anuários Estatísticos 1997,1999 e 2000 - SEI/BA. Elaboração própria. Entre 1980 e 1996, a população de Itapetinga cresceu menos da metade do que a população do Estado da Bahia (14% e 33% respectivamente). Entre 1996 e 2000, a população do município já cresceu 50% a mais do que a do Estado (6,5% e 4,2%, respectivamente), provavelmente já como consequência da implantação do projeto da Azaléia. Também, entre 1980 e 1996, enquanto o PIB do Estado cresceu 32%, o PIB do município regrediu 30% e o dos demais municípios com filiais do projeto regrediu 21%. E a pecuária bovina, principal atividade econômica do município, teve seu número de cabeças reduzido a menos da metade entre 1985 e 1996. Em 1998, o número de cabeças representava apenas 45% do valor de 1985. As próximas tabelas mostram alguns indicadores econômicos e sociais do município. Saúde Tabela 5 – Indicadores relacionados a área da Saúde Categoria 1996 1998 1999 Hospitais conveniados ao SUS 2 2 2 Leitos contratados 167 167 167 Servidores estaduais na área de saúde n.d. 88 n.d. Servidores de nível superior n.d. 43 n.d. Servidores médicos n.d. 20 n.d. SETOR DE CALÇADOS 8 Fonte: MS/SUS apud SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, www.sei.ba.gov.br; Anuários Estatísticos 1997,1999 e 2000, SEI/BA. Elaboração própria. SETOR DE CALÇADOS 9 Embora com apenas dois hospitais, oferecia 3,1 leitos por mil habitantes, superior à média do Estado da Bahia, com 2,2 em 1997, e inferior à média brasileira de 1992, 3,6. O número de médicos, apenas 0,4 por mil habitantes, sem considerar os médicos não vinculados à área pública, é inferior à média total do Estado da Bahia de 0,7 e à média nacional de 1,3 , segundo dados do Conselho Federal de Medicina para 1997. Educação Tabela 6 - Indicadores relacionados a Área da Educação Nível de ensino Nº de estabelecimentos Nº de matrículas Nº de docentes 1996 1999 1996 1999 1996 1999 Pré-escolar38 37 3.920 1.598 82 82 1º grau 51 55 11.580 15.869 428 520 2º grau 4 5 1.578 2.353 104 127 Total 93 97 17.078 19.820 614 729 Fonte: MEC apud SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, www.sei.ba.gov.br; Anuários Estatísticos 1997,1999 e 2000, SEI/BA. Elaboração própria. Os indicadores da área de educação apontam melhorias entre 1996 e 1999, destacando-se o número de matrículas, com aumento de 16%, e o número de docentes, com aumento de 19%. No número de matrículas, enquanto o pré- escolar diminuiu, o aumento foi de 37% no 1º grau e de 50% no 2º grau. No número de docentes, o aumento foi, para cada um desses dois últimos graus, de 22%. Em 1999, com cerca de 37% da população matriculada, até o 2º grau, e 13 docentes por cada mil habitantes, as estatísticas da educação apresentam dados mais favoráveis que as da saúde. Cálculos para o Brasil, em 1998, baseados nas estatísticas do MECe no IBGE, apontam para a taxa de 30% de matrícula nos mesmos níveis citados. Existem, também, cursos profissionalizantes do SENAC e cursos superiores de Pedagogia e Zootecnia, embora sem quantificação pela fonte utilizada. SETOR DE CALÇADOS 10 Produção agrícola e animal Tabela 7 – Valores da produção agrícola e animal 1996 1997 1998 Per capita (1) Agrícola Banana, em kg 4.000 5.000 5.000 0,092 Limão, em kg n.d. n.d. 46.000 0,847 Animal Leite de vaca, em mil litros 2.999 2.939 n.d. 0,054 Ovos de galinha, em mil dúzias 9 13 n.d. 0,166 Obs.: (1) Produção agrícola, de 1998 em relação à população de 1996; produção animal, de 1997 em relação à população de 1996. Fonte: IBGE – PAM; IBGE – Censo Agro 95/96 apud SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, www.sei.ba.gov.br; Anuários Estatísticos 1997,1999 e 2000, SEI/BA. Elaboração própria. Essas estatísticas de produção de alguns alimentos evidencia um quadro de carência. A produção de banana atingiu somente 92 gramas/habitante/ano, a de limão, 847 gramas/habitante/ano, ambas em 1998, a de leite alcançou cerca de 54 litros/habitante/ano, a de ovos, apenas 2,9 unidades/habitante/ano, ambas em 1997. Receitas públicas Tabela 8 – Valores das receitas públicas do Município de Itapetinga 1996 (3) 1999 (4) Per capita, em R$ (2) R$ milhões R$ milhões em R$ Receitas tributárias do município 0,4 0,6 10,4 Outras receitas 0,1 0,2 3,8 Transferências correntes do Estado 3,9 4,7 87,3 Transferências correntes da União 3,2 6,0 110,0 Outras transferências correntes (1) 0,9 - - Receita de capital 0,0 0,1 2,7 Total geral das receitas 8,6 11,6 214,2 Obs.: (1) Classificação não especificada a origem pela fonte; (2) Receita de 1999 em relação à população de 1996. Fonte: (3) Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, Registros Administrativos 1996- 1998 e IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil 1997 apud página ibge.gov.br/cidadesat; (4) TCM - Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia. Elaboração própria. A arrecadação total do município já aumentou entre 1996 e 1999, embora os recursos movimentados durante a fase de implantação da fábrica possam ter contribuído para esse aumento, é difícil explicá-lo por uma associação direta com o projeto da Azaléia. Entretanto, o montante total das receitas ainda caracteriza a situação de carência do município – R$ 214,2 por habitante ano em 1999. O conjunto desse quadro sócio-econômico desfavorável, sem dúvidas, deverá ser revertido com a implantação e operação do projeto Azaléia – NE. SETOR DE CALÇADOS 11 6. Os Resultados Econômico-Financeiros Iniciais do Projeto As atividades da empresa foram iniciadas em 1998, ocorrendo as primeiras vendas no final do primeiro trimestre do ano. A concretização efetiva do projeto, porém, só foi alcançada no ano 2000, com a utilização de 70% de sua capacidade de produção. São produzidos atualmente 32.000 pares/dia, dos quais 19.600 calçados esportivos e 12.400 sandálias. A evolução das vendas e do lucro líquido, vistas no gráfico abaixo, evidencia o crescimento significativo dos resultados da empresa. Gráfico 1 - Evolução dos resultados da Azaléia - NE 0 20 40 60 80 100 120 R $ m ilh õe s 1998 1999 2000 Vendas líquidas Lucro líquido Refletindo a consolidação do projeto, a evolução dos impostos e encargos sociais gerados também é bastante significativa, com aumento de 2.350% entre 1998 e 2000, conforme mostrado na tabela seguinte. Em 2000, esses impostos e encargos gerados (R$ 15,9 milhões) já superaram o total das receitas do Município de Itapetinga em 1999 (R$ 11,6 milhões). Tabela 9 – Impostos e encargos sociais gerados Valores em R$ mil Descrição 1998 1999 2000 FGTS 56 399 729 INSS 195 1.342 2.392 IOF 0 50 2 IRRF 6 98 50 CPMF 37 197 546 IPI 0 0 0 ICMS 49 337 721 Outros impostos estaduais 0 14 18 PIS 55 465 742 COFINS 171 1.744 3.424 IRPJ 16 839 5.160 Contribuição Social 63 372 2.083 Impostos e Taxas Municipais 0 2 2 TOTAL 648 5.859 15.869 Fonte: Azaléia. SETOR DE CALÇADOS 12 O gráfico 2 mostra que o mercado interno é o principal destino das vendas da empresa, com 96,57%. Os maiores compradores são os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, responsáveis por 39,87% do faturamento. No conjunto, a proporção das vendas para os Estados do Nordeste se restringe a 20,09%. Gráfico 2 – Destino das vendas 3,43% 76,48% 20,09% Região Nordeste Demais Regiões Exportação Como visto a seguir, no gráfico 3, o projeto ainda é muito dependente das matérias-primas vindas de outros Estados, com 81,14%. O Estado do Rio Grande do Sul concentra o fornecimento com 80% do total. No próprio Estado da Bahia, o projeto se abastece com apenas 17,44% de suas matérias-primas, indicando possibilidade de melhorias no sistema de logística e potencial de mercado para a instalação de fábricas de componentes nesse Estado. Gráfico 3 – Origem das matérias-primas 1,42% 81,14% 17,44% Bahia Outros Estados Importações 7. As Ações e Resultados Sociais Iniciais A ação social da empresa se manifesta nos procedimentos diretamente associados à sua atividade fim, ou seja, na seleção, treinamento e recrutamento de pessoal, nos procedimentos relativos à saúde de seus funcionários e em diversas outras iniciativas não relacionadas à sua atividade. A seguir, são resumidas as principais ações. SETOR DE CALÇADOS 13 Na seleção, treinamento e recrutamento de pessoal Critérios utilizados na seleção dos funcionários: a) Postura “politicamente correta”: • ausência de restrição por sexo • ausência de restrições às pessoas portadoras de deficiência (existem vários funcionários que se enquadram neste grupo) • não exigência de experiência prévia na produção de calçados b) Exigências: • idade mínima de 18 anos • escolaridade mínima de 1º grau incompleto (acima da 5ª série) • residência em Itapetinga ou na cidade onde está localizada a filial • conclusão, com aprovação, do treinamento do SENAI c) Preferência: • candidatos com familiares trabalhando na empresa O custo médio da mão-de-obra é de R$ 425,60 mensais (já incluídos os encargos sociais) e a escolaridade média do corpo funcional é de primeiro grau incompleto (acima da 5ª série). Os funcionários da produção trabalham em turnos: em dois turnos, os de calçados, e em três turnos, os de solado e outros componentes. Treinamento A Empresa mantém convênio com o SENAI para treinar seus funcionários. O treinamento é efetuado dentro da Empresa através de um programa com a duração de 540 horas. Durante este período, os alunos recebem auxílio do SENAI, em dinheiro, alimentação e vale-transporte. Desde o início desse convênio, já receberam treinamento 6.174 pessoas. Dos 5.262 concluintes do curso, 5.071 foram contratados pela Calçados Azaléia Nordeste S/A. No início de 2001, 200 pessoas recebiam treinamento, prevendo-se a abertura de 1.500 a 2.000 novasvagas no decorrer desse ano. Na área de saúde dos funcionários a) instalações e estrutura: Ambulatório médico com três enfermeiras e dois médicos, para atendimento da saúde do trabalhador através da Medicina do Trabalho. SETOR DE CALÇADOS 14 O Setor de Segurança no Trabalho, formado por engenheiros e técnicos em segurança, desenvolve suas atividades implementando melhorias necessárias para minimizar os riscos de acidentes de trabalho e promovendo atividades educativas e preventivas, visando garantir a segurança dos trabalhadores e da Empresa. b) convênios e programas: • Convênio com médica ginecologista para o atendimento de todas as funcionárias, realizando trabalho educativo e preventivo, principalmente em relação às doenças sexualmente transmissíveis e à saúde da mulher. • Programas de recuperação de pessoas viciadas no uso de drogas. c) resultado da avaliação das condições de saúde dos funcionários De um modo geral, as condições dos funcionários são consideradas regulares, embora, conforme informações levantadas nas fichas funcionais, sejam encontradas doenças associadas à carência social, como alguns problemas dentários e desnutrição. Existem também enfermidades relacionadas à falta de higiene, como verminoses, e ainda alguns casos de tuberculose. Segundo a empresa, as melhorias nas condições de saúde e no nível de escolaridade são bastante visíveis. Em outros benefícios a) participação dos funcionários nos resultados da empresa b) convênio com as creches do município c) prédio da Associação dos Funcionários, em construção, que deverá ser uma importante área de lazer e integração Participação em projetos filantrópicos, sociais e culturais • IPAM (Instituto de Promoção e Amparo ao Menor de Itororó) – trabalha com menores de rua, em conjunto com o Banco do Brasil; • APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Itapetinga – auxílio com calçados; • Asilo de Idosos de Itapetinga – fornecimento de calçados e, diariamente, de alimentação; • Orquestra Filarmônica de Meninos Carentes (Itapetinga) – auxílio financeiro e fornecimento de calçados aos alunos; • Creches municipais da cidade de Itapetinga – fornecimento de material didático, ajuda financeira e presentes de Natal para as crianças; • Lar dos Meninos de Rua (Itororó) – fornecimento de material esportivo e calçados; SETOR DE CALÇADOS 15 • Associações de Bairros – distribuição de cestas básicas no Natal, em torno de 3 toneladas de alimentos. Esta iniciativa conta com o apoio do Coral Azaléia; • Outros projetos culturais e sociais – patrocínio aos Cantores da Terra, aos escritores da cidade e a eventos comunitários na cidade de Itapetinga e outros municípios próprios (Maiquinique, Itarantim, Macarani, etc). Resultados Sociais A rigor, a avaliação dos resultados sociais demandaria a definição de indicadores e o acompanhamento de sua evolução. Os dados disponíveis são apenas indicações preliminares do processo de melhoria de qualidade de vida que atravessa a cidade de Itapetinga, decorrente da instalação do projeto da Azaléia e do conseqüente aumento de empregos gerados e incremento de renda da população. Essas indicações preliminares são discriminadas a seguir: • diminuição do desemprego – Embora não existam estatísticas disponíveis sobre o desemprego local, o simples cotejo dos dados das tabelas 2 e 10 permite avaliar o impacto do projeto da Azaléia sobre o desemprego na região. Tabela 10 – Estrutura do pessoal ocupado no município de Itapetinga, em 1996 Classificação da atividade empregadora Número de pessoas ocupadas Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 140 Indústrias extrativas 45 Indústrias de transformação 573 Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 108 Construção 29 Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos 1.288 Alojamento e alimentação 86 Transporte, armazenamento e comunicação 109 Intermediação financeira 112 Imobiliária, aluguéis e serviços prestados às empresas 141 Administração pública, defesa e seguridade social 831 Educação 89 Saúde e serviços sociais 210 Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 130 Total 3.891 Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 1996 e Malha Municipal Digital do Brasil 1997. O total de pessoas ocupadas, segundo o IBGE (ver tabela 10), alcançava 3.891 pessoas em 1996, considerando-se o emprego formal. Os empregos diretos gerados pelo projeto Azaléia alcançavam, apenas no município de Itapetinga (ver tabela 2), 3.309 pessoas em 2000. Mesmo considerando-se um aumento do número de pessoas ocupadas após 1996, a dimensão dos empregos gerados no projeto se aproxima, em ordem de grandeza, do total dos empregos formais do município. Não existe atividade empregadora no município que contribua em níveis SETOR DE CALÇADOS 16 próximos ao da Azaléia. As principais atividades (comércio, setor público e indústria de transfomação) ocupavam juntas 2.692 pessoas. Portanto, a natureza da atividade calçadista e a dimensão desse projeto proporcionaram uma oportunidade ímpar para a redução de desemprego na região. Se por um lado, a empresa passou a dispor de grande poder no local, por outro, também passou a assumir uma grande responsabilidade. • acesso à orientação de profissionais da área médica • redução do índice de natalidade (associada principalmente à falta de orientação, havendo casos de jovens com 4 filhos já aos 18 anos de idade) • recuperação de pessoas viciadas no uso de drogas - algumas dessas pessoas já estão trabalhando e ajudando suas famílias – desse grupo, famílias inteiras trabalham na Calçados Azaléia Nordeste S/A, incluindo pais, filhos, sobrinhos, primos, etc. • redução do êxodo populacional – a oferta de novos postos de trabalho contribui para a redução do êxodo da população masculina, que ocorria principalmente para o Estado de São Paulo, além de propiciar o próprio retorno para a região, em função das novas oportunidades surgidas. Conforme já observado na tabela 4, a população do município cresceu mais do que a do Estado no período 1996- 2000, revertendo a situação do período 1980-1996. Nas regiões onde existem instalações do projeto, as pessoas não são incentivadas ao abandono de suas cidades. Segundo o IBGE, a diferença entre a população feminina e masculina diminuiu de 1.271, em 1996, para 858, em 20006. Complementarmente, o retorno da população masculina favoreceu a retomada do contato dos filhos com seus pais, além de oferecer oportunidades para a recomposição de núcleos familiares desagregados. • retorno aos estudos – incentivados pelos novos postos de trabalho criados e pelas perspectivas de futuro. Anteriormente, além de limitadas em número de postos, essas perspectivas se restringiam às atividades de vaqueiro, fateiro, pedreiro, servente, doméstica ou funcionário público. 8. Conclusão e propostas Esse trabalho apresenta limitações muito claras por não ter realizado pesquisa de campo com a Prefeitura do município de Itapetinga, além de entrevistas com representantes de sua população e dos empregados da Azaléia Nordeste. Foi baseado, essencialmente, em pesquisa bibliográfica e em informações prestadas pela empresa. Entretanto, consideradas essas limitações, os resultados obtidos já permitem tirar algumas conclusões dos benefícios sociais obtidos através da atuação de empresas privadas. É óbvio que a decisão do Grupo Azaléia de implantar um conjunto industrial na região de Itapetinga foi motivada pela perspectiva de realização de 6 IBGE, Contagem da População 1996 e Resultado dos Dados Preliminares do Censo 2000. SETOR DE CALÇADOS 17 um negócio lucrativo, apoiado num conjunto de incentivos oferecidos pelo Governo do Estado da Bahia e pelo custo relativamente menor da mão-de-obra local. Por outro lado, dado seu pioneirismo na região,os riscos envolvidos foram elevados. Certamente, a experiência e o dinamismo do Grupo empreendedor no segmento de calçados, aliado à sua competência para lidar com questões sociais, contribuíram para que a empresa soubesse avaliar adequadamente os riscos envolvidos e concluísse pela implantação do projeto. Implantado o projeto, o primeiro conjunto de benefícios sociais derivou da própria natureza da atividade industrial envolvida, a produção de calçados, intensiva em utilização de mão-de-obra. A geração de emprego e de renda vêm contribuindo para melhorar a qualidade de vida da região. Como resultado indireto pode ser citado que “de janeiro de 1998 a março deste ano, 516 estabelecimentos comerciais foram criados” ao lado de “uma preocupação maior dos estabelecimentos em melhorar suas instalações e o serviço prestado”, segundo o presidente da Comissão dos Dirigentes Lojistas da cidade de Itapetinga7. O segundo conjunto de benefícios sociais decorreu da filosofia da empresa, que considera como um de seus objetivos a promoção do crescimento profissional e social de seus funcionários. Incluem-se, nesse caso, a política de treinamento, as ações na área de saúde e a participação nos resultados, entre outras. Esse caminho, por outro lado, não é feito só de flores, existindo muitas pedras a serem ultrapassadas. A experiência da atuação da Azaléia numa região de forte concentração e organização operária, como no Pólo Calçadista do Rio Grande do Sul, certamente trouxe modernização para as relações entre o capital e trabalho na região de Itapetinga. Mesmo assim, podem aflorar conflitos em intensidade não prevista e aquela experiência, isoladamente, não ser suficiente para equacionar os novos problemas. No Seminário Tecnocouro, realizado em Salvador em março de 2001, o Presidente do Conselho de Administração da Azaléia advertia para a necessidade de uma discussão cuidadosa entre as Empresas, o Governo do Estado da Bahia e os Sindicatos de Trabalhadores visando a um entendimento que preservasse o interesse das diversas partes, sem desconhecer a complexidade do relacionamento capital-trabalho e as pressões para elevação salarial. O grande desafio é buscar um ponto de equilíbrio entre a tendência a médio prazo de elevação dos salários praticados pelo setor calçadista na Bahia e a manutenção das vantagens de custo que atraíram a implantação das novas fábricas para a região. Os benefícios sociais trazidos pelos empreendimentos precisarão estar suficientemente dosados para assegurar também as vantagens econômicas de competitividade. O terceiro grupo de benefícios sociais gerados compreende a contribuição da empresa para as atividades filantrópicas, sociais e culturais da região. São atividades que valorizam a cultura regional e contribuem para elevar a auto-estima de uma população reconhecidamente sofrida. 7 Citado no jornal Valor, 26.04.2001. SETOR DE CALÇADOS 18 No estágio atual, é necessário desenvolver um conjunto de indicadores para quantificar, com relativo grau de confiabilidade, a evolução das condições sociais da região de Itapetinga e sua relação com o projeto da Azaléia. Conforme mostrado, a experiência inicial desse projeto trouxe ganhos sociais que necessitam de contínua avaliação. O BNDES, além de participar no financiamento da implantação de projetos industriais, deve estar atento à complexidade das questões sociais e também participar no acompanhamento da evolução dos benefícios nessa área. A difusão dessa experiência poderá contribuir para enriquecer a compreensão dos problemas sociais e para diminuir a exclusão social ainda predominante em nosso País. SETOR DE CALÇADOS 19 9. Referências Bibliográficas • Balanço Social – Calçados Azaléia S/A - 1999 • Estudo de Benefícios Sociais – elaborado pela própria Azaléia • Gazeta Mercantil – Balanço Anual: Bahia (outubro de 2000) • Informações Municipais/99, Ano IV, nº 4 – Governo do Estado da Bahia – Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia • Os Novos Investimentos Calçadistas – Roberto Antônio F. Carneiro • Os 40 anos de Calçados Azaléia S/A 1958-1998 – Erica D. Sarlet • Página do IBGE: www.ibge.gov.br • Página do Ministério da Educação: www.mec.gov.br • Página do Ministério da Saúde: www.saúde.gov.br • Página da SEI: www.sei.ba.gov.br • Relato Setorial Nº 2 AS/GESET BNDES – Balanço Social e Outros Aspectos da Responsabilidade Corporativa • Relato Setorial nº1 AS/GESET BNDES – Empresas, Responsabilidade Corporativa e Investimento Social – Uma Abordagem Introdutória • Tendências da Economia Baiana – Governo da Bahia - Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia
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