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Material de Apoio - Processo Penal

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PROCESSO PENAL 
Prof. Nidal Ahmad 
 
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1) INQUÉRITO POLICIAL 
1.1) NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
O inquérito policial tem natureza de procedimento administrativo, já que não há 
imposição direta de uma sanção penal, constituindo-se em mera peça informativa, cuja finalidade 
precípua consiste em apurar as circunstâncias que envolveram o fato, a materialidade e a autoria 
das infrações penais. É o que se depreende do artigo 4º do Código de Processo Penal e artigo 2º, 
§ 1º, da Lei 12.830/2013, que dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo Delegado de 
Polícia. 
Nos termos do artigo 2º da Lei 12.830/2013, as funções de polícia judiciária e a 
apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, 
essenciais e exclusivas de Estado. Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, 
cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento 
previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da 
autoria das infrações penais. Assim, via de regra, a atribuição para presidir o inquérito policial é 
outorgada aos delegados de polícia de carreira, conforme as normas de organização policial dos 
Estados. 
Conforme dispõe o artigo 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal, a 
atribuição investigatória não é exclusiva da Polícia Judiciária. Assim, por expressa disposição de 
lei, os atos de investigação destinados à elucidação de crimes podem ser procedidos por outras 
autoridades administrativas, como, por exemplo, nos casos de inquéritos parlamentares por meio 
de instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), inquérito policial militar, 
investigações promovidas pelo Ministério Público. 
1.2) CARACTERÍSTICAS 
a) PROCEDIMENTO ESCRITO – Art. 9º 
Não é possível a existência de uma investigação verbal. 
Por isso, todas as peças do inquérito policial serão reduzidas a escrito ou 
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. 
b) SIGILOSO – Art. 20 
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Segundo o artigo 20 do CPP, o inquérito policial é sigiloso, devendo a autoridade 
assegurar no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da 
sociedade. 
O sigilo não se estende ao representando do Ministério Público nem à autoridade 
judiciária, que pode acompanhar os atos investigatórios. 
Todavia, nos termos da Súmula Vinculante nº 14, “é direito do defensor, no interesse 
do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em 
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam 
respeito ao exercício do direito de defesa.” 
c) OFICIALIDADE 
O inquérito policial é uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais, não 
podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade da ação penal seja atribuída ao 
ofendido. 
d) INDISPONIBILIDADE 
É indisponível. Após a sua instauração não pode ser arquivado pela autoridade policial 
(art. 17) 
e) INQUISITIVO 
Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades persecutórias 
concentram-se nas mãos de uma única autoridade, a qual, por isso, prescinde, para a sua 
atuação, da provocação de quem quer que seja, podendo e devendo agir de ofício, 
empreendendo, com discricionariedade, as atividades necessárias ao esclarecimento do crime e 
da sua autoria. 
É característica oriunda dos princípios da obrigatoriedade e da oficialidade da ação 
penal. 
Evidenciam a natureza inquisitiva do procedimento o art. 107 do CPP, proibindo 
arguição de suspeição das autoridades policiais, e o art. 14, que permite à autoridade policial 
indeferir diligência requerida pelo ofendido ou indiciado. 
 
 
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1.3) VALOR PROBATÓRIO 
O inquérito policial tem conteúdo informativo, tendo por finalidade fornecer ao MP ou 
ao ofendido, conforme a natureza da infração, os elementos necessários para a propositura da 
ação penal. 
Tem valor probatório, embora relativo, haja vista que os elementos de informação não 
são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, nem tampouco na presença do juiz 
de direito. 
Assim, a confissão extrajudicial, por exemplo, terá validade como elemento de 
convicção do juiz apenas se confirmada por outros elementos colhidos durante a instrução 
processual. 
1.4) INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL – Art. 5º 
I) INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO NO CASO DE AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA 
A) DE OFÍCIO (Art. 5º, I) 
A autoridade policial tem a obrigação de instaurar o inquérito policial, 
independentemente de provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e direto do fato, 
por meio de delação verbal ou por escrito feito por qualquer do povo, notícia anônima, por meio da 
sua atividade rotineira, ou no caso de prisão em flagrante. 
A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa 
causa (por ex. o fato não configurar, nem em tese, ilícito penal; quando estiver extinta a 
punibilidade ou quando não houver sinais de existência do fato). 
Se o fizer, o ato será impugnável pela via do habeas corpus (art. 648 e incisos do 
CPP). 
B) POR REQUISIÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA OU DO MINISTÉRIO PÚBLICO (Art. 5º, 
II) 
Nos termos do artigo 40 do CPP: “Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, 
os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério 
Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia”. 
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Todavia, se não estiverem presentes os elementos indispensáveis ao oferecimento da 
denúncia, a autoridade judiciária poderá requisitar a instauração de inquérito policial para a 
elucidação dos acontecimentos. 
O mesmo vale para o Ministério Público, quando conhecer diretamente de autos ou 
papéis que evidenciem a prática de ilícito penal (art. 129, VIII, CF/88, e art. 5º, II, CPP). 
A autoridade policial não pode se recusar a instaurar o inquérito, pois a requisição tem 
natureza de determinação, de ordem, muito embora inexista subordinação hierárquica. 
C) DELATIO CRIMINIS (REQUERIMENTO DO OFENDIDO OU DE QUALQUER DO POVO) – 
Art. 5º, II 
É a comunicação de um crime feita pela vítima ou qualquer do povo 
Nos casos de ação penal pública condicionada, o requerimento assume a forma de 
autorização para o início da persecução penal, e recebe o nome de representação. 
Além do ofendido, qualquer do povo, ao tomar conhecimento da prática de alguma 
infração penal em que caiba ação penal pública incondicionada, poderá comunica-la verbalmente 
ou por escrito, à autoridade policial, e esta, verificando a procedência das informações, mandará 
instaurar o inquérito (art. 5º, § 3º, CPP). 
Tendo o conhecimento da existência de um crime que se apura mediante ação pública 
por qualquer das formas acima mencionadas, a autoridade policial tem o dever de instaurá-lo. 
II) INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO NO CASO DE AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA – Art. 5, § 
4º 
A ação pública pode estar condicionada à representação da vítima ou à requisição do 
Ministério da Justiça. 
Portanto, o Inquérito não poderá ser instaurado senão com o oferecimento da 
representação. É a manifestação do princípio da oportunidade, que informa a ação penal pública 
condicionada até o momento do oferecimento da denúncia (art. 25 CPP). 
Trata a representação de simples manifestação de vontade da vítima, ou de seu 
representante legal, no sentido de permitir que o Estado, por meio dos órgãos próprios da 
persecução penal, desenvolva as necessárias atividades administrativo-judiciárias tendentes àsPROCESSO PENAL 
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investigações da infração penal, à apuração da respectiva autoria e à aplicação da lei penal 
objetiva. 
Nos termos do art. 100, § 1º, do CP, e 24, do CPP, podem oferecer representação o 
ofendido ou quem tiver qualidade para representá-lo, ou seja, representante legal da vítima, e, por 
força do artigo 39, caput, do CPP, o procurador com poderes especiais. 
III) INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO NO CASO DE AÇÃO PRIVADA – Art. 5º, § 5º 
Diz o art. 5º, § 5º: “Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá 
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la “. 
Tem essa qualidade o ofendido e o seu representante legal (art. 30). 
Na hipótese de morte ou ausência judicialmente declarada do titular, o direito de 
queixa passa a ser do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31). 
O requerimento não exige formalidades, mas é necessário que sejam fornecidos os 
elementos indispensáveis à instauração do inquérito policial ( art. 5º, § 1º ). 
O auto de prisão em flagrante é a peça inicial do inquérito policial e este só pode ser 
intentado após tal requerimento por força do art. 5º, § 5º. 
1.5) PROCEDIMENTO – Art. 6º 
Diante de regular notitia criminis a autoridade policial deve instaurar o inquérito policial 
destinado a apurar o fato em todas as suas circunstâncias e a autoria. 
Mesmo a existência de elementos que indicam ter ocorrido uma causa de excludente 
da antijuridicidade não impede a instauração do procedimento investigatório. 
Inicialmente, deve a autoridade policial, obrigatoriamente, de início “dirigir-se ao local, 
providenciando para que se não alterem o estado de conservação das coisas, até a chegada dos 
peritos criminais” ( art. 6º, I ). 
Deve também a autoridade “apreender os objetos que tiverem relação com o fato, 
após liberados pelos peritos criminais ( art. 6º, II ). Esses objetos devem, a final, acompanhar os 
autos do inquérito ( art. 11 ). 
A busca e apreensão poderão ser efetuadas: a) no local do crime; b) em domicílio; e c) 
na própria pessoa. 
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Cabe ainda à autoridade “colher todas as provas que servirem para o esclarecimento 
do fato e suas circunstâncias " ( art. 6º, III ). 
A autoridade deve ouvir o ofendido ( art. 6º, IV ). 
Deve a autoridade policial também, quando necessário, “proceder a reconhecimento 
de pessoas e coisas e a acareações“ ( art. 6º, VI ). 
No que toca ao reconhecimento, deve-se atentar para as formalidades previstas no 
artigo 226 do CPP: antes do reconhecimento, a pessoa que tiver de fazê-lo deverá fornecer a 
descrição física daquela que deva ser reconhecida; a pessoa ser reconhecida deve ser colocada 
ao lado de outras com características semelhantes; do reconhecimento lavrar-se-á auto 
pormenorizado, subscrito pela autoridade policial, pela pessoa que reconheceu e por 02 
testemunhas instrumentárias. 
Deve ainda a autoridade “determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo 
delito e a quaisquer outras perícias “ ( art. 6º, VII ). 
O exame de corpo delito é indispensável todas as vezes que a infração deixar 
vestígios, constituindo-se na verificação dos elementos exteriores ou da materialidade da infração 
penal pelo perito. 
O indiciado, porém, não está obrigado a participar da reconstituição, ainda que tenha 
confessado o delito no interrogatório. Se, em termos constitucionais, pode permanecer calado (art. 
5º, LXIII ), com muito maior razão não pode estar obrigado a produzir prova contra si mesmo. 
Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem 
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, 
indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 
1.6) RECONSTITUIÇÃO SIMULADA DOS FATOS (Art. 7º) 
A reprodução simulada dos fatos (reconstituição do crime) poderá ser feita, contanto 
que não atente contra a moralidade ou a ordem pública. 
O indiciado poderá ser forçado a comparecer (art. 260 CPP), mas de participar da 
reconstituição, prerrogativa que lhe é garantida pelo direito do silêncio e se corolário, o princípio 
de que ninguém está obrigado a fornecer prova contra si (art. 5º, LXIII, da CF/88). 
 
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1.7) ENCERRAMENTO – Art. 10 
Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso relatório do 
que tiver sido apurado no inquérito policial (art. 10, §1º, 1ª parte). 
Não cabe a autoridade na sua exposição emitir qualquer juízo de valor, expender 
opiniões ou julgamentos, mas apenas prestar todas as informações colhidas durante as 
investigações e as diligências realizadas. 
Quando da instauração do inquérito, a autoridade já deve classificar o crime, ou seja, 
dar a capitulação ou definição jurídica do ilícito penal praticado. Após a conclusão das 
investigações, se os elementos colhidos indicam Ter ocorrido outra infração penal que não a 
mencionada na portaria, a classificação deve ser alterada. 
De qualquer forma, a classificação efetuada pela autoridade policial é provisória e não 
vincula o MP para o oferecimento da denúncia ou o querelante para a propositura da queixa. 
Concluído o inquérito e elaborado o relatório, a autoridade deverá remeter os autos ao 
juiz competente ( art. 10, §1º, 2ª parte ). 
Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessam a prova, devem 
acompanhar os autos (art. 11). 
Do juízo, os autos devem ser remetidos ao órgão do Ministério Público, para que este 
adote as medidas cabíveis. 
1.8) PRAZO – Art. 10 
Quando o indiciado estiver solto, a autoridade policial deverá concluir as investigações 
no prazo de 30 dias, contados a partir do recebimento da notitia criminis. 
Nesta hipótese, isto é, quando o agente estiver solto, o § 3º do mesmo artigo permite a 
prorrogação do prazo pelo juiz sempre que o inquérito não estiver concluído dentro do prazo legal, 
desde que o caso seja de difícil elucidação. 
Findo o inquérito, pode o Ministério Público devolver os autos para novas diligências, 
que entender imprescindíveis (art. 16 CPP). 
Se o indiciado estiver preso, o prazo para a conclusão do inquérito é de dez dias. 
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Esse prazo não pode ser prorrogado e, excedido, haverá constrangimento ilegal a 
liberdade de locomoção do indiciado, sanável pela via do habeas corpus, sem prejuízo para o 
prosseguimento do inquérito policial. 
Nos termos do artigo 51 da Lei 11.343/2006, o inquérito policial será concluído no 
prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Nos 
termos do parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, 
ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. 
Na Justiça Federal, estando o acusado preso, a prazo para a conclusão do inquérito 
policial será de 15 dias, prorrogável por mais 15 dias (art.66 da lei 5010/66). 
1.9) INDICIAMENTO 
Indiciamento é a imputação a alguém, no inquérito policial, da prática do ilícito penal, 
sempre que houver razoáveis indícios de sua autoria. 
Deve resultar da concreta convergência de indícios que apontam determinada pessoa 
ou determinadas pessoas como praticantes de fatos ou atos tidos pela legislação penal em vigor 
como típicos, antijurídicos e culpáveis. 
O indiciado no inquérito também pode ser conduzido coercitivamente para ser 
interrogado. Não está, entretanto, obrigado a responder as perguntas que lhe forem feitas pois é 
um direito individual assegurado pela CF vigente o de permanecer calado (art. 5º, LXIII, CF/88).Deve ainda a autoridade policial ordenar a identificação do indiciado “pelo processo 
dactiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes” ( art. 6º, VIII ). 
1.10) DEVERES DA AUTORIDADE POLICIAL – Art. 13 
Além das referidas nos arts. 6º e 7º do CPP, à autoridade policial incumbe outras 
providências, referidas no art.13. 
Em primeiro lugar, deve “fornecer às autoridades judiciárias as informações 
necessárias à instrução e julgamento dos processos” ( inc. I ). 
Deve, ainda, “realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo MP” ( inc. II). 
As requisições, que podem ser apresentadas à autoridade policial a qualquer 
momento, antes, durante ou após o inquérito, são ordens a que ela está obrigada a atender, ainda 
quando não lhe pareça adequadas. 
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Compete ainda à autoridade policial “cumprir os mandados de prisão expedidos pelas 
autoridades judiciárias” ( inc. III ), incluindo-se aqui os mandados referentes às prisões provisórias 
ou decorrentes de condenação transitada em julgado a pena privativa de liberdade. 
Cabe-lhe ainda “representar acerca da prisão preventiva” (inc. IV). 
Assim, estando presentes, a seu critério, os pressupostos previstos nos arts. 312 e 
313 do CPP, deve representar para a decretação da prisão preventiva, fundamentando o pedido 
sobre a necessidade ou conveniência da medida cautelar. 
1.11) REQUERIMENTO DE DILIGÊNCIAS – Art. 14 
Apesar de ser o inquérito policial um procedimento inquisitivo, em que não vigora o 
princípio do contraditório, possibilita a lei que o indiciado requeira diligência para esclarecimento 
do fato, em seu benefício. 
A mesma faculdade é concedida ao ofendido. 
Diante do dispositivo também é possível a ambos requerer a juntada aos autos do 
inquérito de documentos relativos ao fato e à prova dele e de suas circunstâncias. Cabe, 
entretanto, à autoridade policial, segundo seu critério, deferir ou não tais requerimentos. 
1.12) ARQUIVAMENTO – Art. 17 
Ainda que provada a inexistência do fato ou que não se tenha apurado a autoria do 
ilícito penal, a autoridade policial não pode mandar arquivar o inquérito (Art. 17). Tal providência 
cabe ao juiz, a requerimento do órgão do Ministério Público (art. 28). 
A autoridade policial, incumbida apenas de colher os elementos para a formação do 
convencimento do titular da ação penal, não pode arquivar os autos de inquérito, pois o ato 
envolve, necessariamente, a valoração do que foi colhido. 
Faltando a justa causa, a autoridade policial pode deixar de instaurar o inquérito, mas, 
uma vez feito, o arquivamento só se dá mediante decisão judicial, provocada pelo Ministério 
Público, e de forma fundamentada, em face do princípio da obrigatoriedade da ação penal. 
Nos termos do artigo 28 do CPP, se o juiz discordar do pedido de arquivamento do 
representante do Ministério Público, deverá remeter os autos ao procurador-geral de justiça, o 
qual poderá oferecer a denúncia, designar outro órgão do Ministério Público para fazê-lo, ou 
insistir no arquivamento, quando, então, estará o juiz obrigado a atende-lo. 
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O promotor ou procurador designado pelo procurador-geral para oferecer denúncia 
estará obrigado a fazê-lo, haja vista que não atua, no caso, em nome próprio, mas no da 
autoridade que o designou; ele age por delegação. Não há, portanto, qualquer ofensa ao princípio 
institucional da independência funcional. 
O despacho de arquivamento do inquérito é, via de regra, irrecorrível. 
É inadmissível a instauração da ação penal subsidiária da pública, no caso de 
arquivamento do inquérito a pedido do Ministério Público, pois aquela soe é cabível se houver 
inércia do órgão ministerial. 
1.13) NOVAS PESQUISAS APÓS O ARQUIVAMENTO – Art. 18 
Arquivado o inquérito por falta de provas, a autoridade policial poderá, enquanto não 
se extinguir a punibilidade pela prescrição, proceder a novas pesquisas, desde que surjam outras 
provas, isto é, novas provas, que alterem o panorama probatório dentro do qual foi concebido e 
acolhido o pedido de arquivamento. 
Nesse sentido, a Súmula 524 do STF, “arquivado o inquérito policial por despacho do 
juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas 
provas”. 
Nada impede que novas provas modifiquem a matéria de fato, dando ensejo ao 
procedimento penal. 
Por isso, o Código permite que autoridade policial proceda a novas pesquisas, mesmo 
após o arquivamento do inquérito (art. 18). 
2) AÇÃO PENAL 
2.1) CONCEITO 
Ação penal é o direito de invocar-se o Poder Judiciário no sentido de aplicar o Direito 
Penal Objetivo. 
É o direito de agir exercido perante juízes e tribunais, invocando a prestação 
jurisdicional, que, na esfera criminal, é a existência da pretensão punitiva do Estado. 
Segundo o critério da titularidade, as ações penais são públicas ou privadas, conforme 
seja promovida pelo Ministério Público ou pela vítima e seu representante legal, respectivamente. 
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Dentro dos casos de ação pública, há outra subdivisão, em ação pública 
incondicionada e condicionada. 
Na ação pública incondicionada, o Ministério Público promoverá a ação 
independentemente da vontade ou interferência de quem quer que seja, bastando, para tanto, que 
concorram as condições da ação e os pressupostos processuais. 
Em outras palavras, a AÇÃO PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA quando o seu 
exercício não se subordina a qualquer requisito. Significa que pode ser iniciada sem a 
manifestação de vontade de qualquer pessoa. Ex. ação penal por crime de homicídio, aborto, etc. 
Na AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA, a sua atividade fica subordinada também à 
manifestação de vontade do ofendido ou do seu representante legal. É o que dispõe o art. 100, § 
1º, do CP. 
Assim, não havendo expressa disposição legal sobre a forma de se proceder, a ação 
será pública incondicionada; se houver, a ação será pública condicionada, ou então, ação privada, 
conforme o caso. 
2.2) AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA – Art. 24 
I) TITULARIDADE 
Cabe ao Ministério Público, com exclusividade, a propositura da ação penal pública, 
seja ela incondicionada ou condicionada. 
A CF/88 prevê, todavia, no art. 5º, LIX, uma única exceção: caso o Ministério Público 
não ofereça a denúncia no prazo legal, é admitida ação penal privada subsidiária, proposta pelo 
ofendido ou seu representante legal. A ressalva também está prevista no art. 29 do CPP e art. 
100, § 3º CP. 
II) PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE 
Identificada a hipótese de atuação, não pode o Ministério Público recusar-se a dar 
início à ação penal. 
No nosso ordenamento jurídico, quanto à ação penal pública, vigora o princípio da 
legalidade, ou obrigatoriedade, impondo ao órgão do MP, dada a natureza indisponível do objeto 
da relação jurídica material, a sua propositura, sempre que a hipótese preencher os requisitos 
mínimos exigidos. Não cabe a ele adotar os critérios de política ou utilidade social. 
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III) PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE – Art. 42 
Significa que oferecida a ação penal, o Ministério Público dela não pode desistir. 
A proibição é expressa no artigo 42 do CPP, chegando a atingir, inclusive, a matéria 
recursal, pois “O Ministério Público não poderá desistir do recurso que haja interposto” (art. 576 do 
CPP). 
IV) PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE 
Os encarregados da persecução penal devem agir de ofício, independentemente de 
provocação, salvo nas hipóteses em que a ação penal pública for condicionada à representação 
ou à requisição do Ministro da Justiça(art. 100, § 1º, e art. 24 CPP). 
V) PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA 
A ação só pode ser proposta contra a pessoa a quem se imputa a prática do delito. 
2.3) AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA 
I) CONCEITO 
É aquela cujo exercício se subordina a uma condição. Essa condição tanto pode ser a 
manifestação de vontade do ofendido ou de ser representante legal (representação), como 
também a requisição do Ministro da Justiça. 
Mesmo nesses casos a ação penal continua sendo pública, exclusiva do MP. 
O MP só pode dar início à ação se a vítima ou seu representante legal o autorizarem, 
por meio de uma manifestação de vontade. Mais ainda: sem a permissão da vítima, nem sequer 
poderá ser instaurado inquérito policial. 
Todavia, uma vez iniciada a ação penal, o Ministério Público a assume 
incondicionadamente, a qual passa a ser informada pelo princípio da indisponibilidade do objeto 
do processo, sendo irrelevante qualquer tentativa de retratação. 
Por ser exceção à regra de que todo crime se processa mediante ação pública 
incondicionada, os casos sujeitos à representação ou requisição encontram-se explícitos em lei. 
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A ação penal pública, seja incondicionada, seja condicionada, é promovida pelo 
Ministério Público por meio de denúncia, que constitui sua peça inicial (art. 100, § 1º, e art. 24 
CPP). 
II) NATUREZA JURÍDICA DA REPRESENTAÇÃO 
A representação é a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante 
legal no sentido de autorizar o desencadeamento da persecução penal em juízo. 
A natureza jurídica da representação é a de condição de procedibilidade da ação 
penal pública. Sem ela, o órgão do MP não pode iniciar a ação penal mediante o oferecimento da 
denúncia. 
A representação não tem forma especial, bastando a simples manifestação de vontade 
da vítima de ver processado o agente. 
III) TITULAR DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO – Art. 24 
A representação pode ser exercida pelo ofendido ou representante legal. 
Se o ofendido contar com menos de 18 anos ou for mentalmente enfermo, o direito de 
representação cabe exclusivamente a quem tenha qualidade para representá-lo. 
Ao completar 18 anos e não sendo deficiente mental, o ofendido adquire o direito de 
representar. 
Pode também ser exercido por procurador com poderes especiais (art. 39 CPP). 
No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o 
direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. 
Note-se que ele não está obrigado a representar. O mesmo procedimento deverá ser 
adotado se os interesses do representante colidirem com os do ofendido incapaz (art. 33 CPP). 
As pessoas jurídicas também poderão representar, desde que o façam por intermédio 
da pessoa indicada no respectivo contrato ou estatuto social, ou, no silêncio destes, pelos seus 
diretores ou sócios-gerentes (art. 37 CPP). 
 
 
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IV) PRAZO 
O direito de representação pode ser exercido dentro do prazo de 06 meses, contados 
do dia em que o ofendido ou seu representante legal veio a saber quem é o autor do crime (art. 38 
CPP). 
Trata-se de prazo decadencial, que não se suspende nem se prorroga, e cuja fluência, 
iniciada a partir do conhecimento da autoria da infração, é causa extintiva da punibilidade do 
agente (art. 107, IV, do CP). 
O prazo é contado de acordo com o art. 10 do CP, incluindo-se o dia do começo. 
Ex. Suponha-se que a vítima tome conhecimento da autoria no dia 04 de janeiro. O 
prazo termina no dia 3 de julho, às 24h. 
O prazo decadencial não pode ser interrompido nem suspenso. 
A consequência do não-exercício do direito de representação dentro do prazo legal é a 
extinção da punibilidade (art. 103 e 107, IV, 2ª figura, do CP). 
Cuidando-se de menor de 18 anos ou, se maior, de possuidor de doença mental, o 
prazo não fluirá para ele enquanto não cessar a incapacidade (decorrente da idade ou da 
enfermidade). 
O prazo flui, todavia, para o representante legal, desde que ele saiba quem é o autor 
do ilícito penal. Quando a vítima é menor de 18 anos, portanto, o prazo para representar ou 
ingressar com queixa-crime corre somente para o representante legal. 
VI) IRRETRATABILIDADE – Art. 25 
Nos termos dos arts. 25 do CPP e art. 102 do CP, “a representação será irretratável 
depois de oferecida a denúncia”. Assim, se o ofendido exerce o direito de representação, pode 
retirá-la antes de iniciar-se a ação penal com o oferecimento da denúncia. 
A retratação não impede o exercício do direito de representação desde que a 
retratação da retratação ocorra dentro do prazo legal. 
No que diz respeito a crimes envolvendo violência doméstica ou familiar contra a 
mulher, que se procedem mediante representação, como, por exemplo, o crime de ameaça (art. 
147 do CP), a renúncia à representação só será admitida perante o juiz, em audiência 
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especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o 
Ministério Público. É o que se extrai do artigo 16 da Lei 11340/2006. 
Lembrando que nos termos da Súmula 542 STJ “A ação penal relativa ao crime de 
lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada” 
2.4) AÇÃO PENAL PRIVADA 
I) CONCEITO 
É aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere a legitimidade 
para a propositura da ação penal à vítima ou a seu representante legal. 
A ação penal privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de seu 
representante legal 
A peça inicial da ação penal privada é a queixa, que não se confunde com a notitia 
criminis ou com o requerimento de instauração de inquérito policial. 
II) PRINCÍPIOS 
A) PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE OU CONVENIÊNCIA 
O ofendido tem a faculdade de propor ou não a ação de acordo com a sua 
conveniência, ao contrário da ação penal pública, informada que é pelo princípio da 
obrigatoriedade, segundo o qual não é dado ao seu titular, quando da sua propositura, ponderar 
qualquer critério de oportunidade e conveniência. 
Diante disso, se a autoridade policial se deparar com uma situação de flagrante delito 
de ação privada, ela só poderá prender o agente se houver expressa autorização do particular 
(art. 5º, § 5º, CPP). 
B) PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE 
Na ação privada, a decisão de prosseguir ou não até o final é do ofendido. 
Por isso, é possível ao ofendido dispor do conteúdo do processo até o trânsito em 
julgado da sentença condenatória, por meio do perdão ou da perempção (arts. 51 e 60, 
respectivamente). 
 
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C) PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE – Art. 48 
O ofendido pode escolher entre propor ou não a ação. Não pode, porém, escolher 
dentre os ofensores qual irá processar. Ou processa todos, ou não processa nenhum. 
O Ministério Público não pode aditar a queixa par anela incluir os outros ofensores, 
porque estaria invadindo a legitimação do ofendido. 
No caso, a queixa deve ser rejeitada em face da ocorrência da renúncia tácita no 
tocante aos não-incluídos, pois esta causa extintiva da punibilidade se comunica aos querelados 
(art. 49 CPP). 
D) PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA 
Significa que a ação penal só pode ser proposta em face do autor e do partícipe da 
infração penal, não podendo se estender a quaisquer outras pessoas. 
II) TITULAR – Art. 30 
São o ofendido ou seu representante legal (art. 30 CPP). 
Havendo concurso de crimes no qual um deles é de ação pública e o outro de ação 
penal de iniciativa privada, a queixa deve ser oferecida conjuntamente com denúncia, em 
litisconsórcio ativo.III) SUCESSORES DO OFENDIDO NA AÇÃO PRIVADA – Art. 31 
Se o ofendido morre ou é declarado ausente, o direito de oferecer queixa, ou de dar 
prosseguimento à acusação, passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31 do 
CPP), ressalvados os casos dos art. 236, parágrafo único, do CP. 
A doutrina e a jurisprudência tem considerado o rol como taxativo e preferencial, de 
modo que não pode ser ampliado (como, p. ex. para incluir o curador do ausente ou companheira 
do ofendido). 
Exercida a queixa pela primeira delas, as demais se acham impedidas de fazê-lo, só 
podendo assumir a ação no caso de abandono pelo querelante, desde que o façam no prazo de 
60 dias, observada a preferência do art. 36 do CPP, sob pena de perempção. 
 
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IV) PRAZO DA AÇÃO PENAL PRIVADA 
O prazo para o oferecimento da queixa-crime é de 06 meses, contados a partir da data 
do conhecimento da autoria do crime pelo ofendido ou seu representante legal (art. 38 CPP). 
O prazo é decadencial, conforme o art. 10 do CP, computando-se o dia do começo e 
excluindo-se o dia final. Do mesmo modo, não se prorroga em face de domingo, feriado e férias. 
No caso de ofendido menor de 18 anos, o prazo decadencial começa a ser contado no 
dia em que ele completar esta idade, e não no dia em que ele tomou conhecimento da autoria. 
Assim, operada a decadência para um, o outro poderá intentar a ação penal, dentro do 
prazo de 06 meses, a contar do dia em que tomou conhecimento pessoal da autoria. 
No caso de morte ou ausência do ofendido, o prazo decadencial de 06 meses 
começará a correr a partir da data em que qualquer dos sucessores elencados no artigo 31 tomar 
conhecimento da autoria (art. 38 CPP), exceto se, quando a vítima morreu, já tinha se operado a 
decadência. 
Tratando-se de ação penal privada subsidiária, o prazo será de 06 meses a contar do 
encerramento do prazo para o Ministério Público oferecer a denúncia (art. 29 CPP). 
Convém lembrar que o pedido de instauração de inquérito não interrompe o prazo 
decadencial. 
O prazo decadencial é interrompido no momento do oferecimento da queixa, pouco 
importando a data de seu recebimento. 
2.6) AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA – Art. 29 
I) Cabimento da ação privada subsidiária 
A ação penal privada subsidiária é proposta nos crimes de ação pública, condicionada 
ou incondicionada, quando o MP deixar de fazê-lo no prazo legal. 
É a única exceção prevista na própria CF, à regra da titularidade exclusiva do MP 
sobre a ação penal pública. 
O ofendido ou seu representante legal tem o lapso de 06 meses para intentar a ação 
penal subsidiária por meio de queixa substitutiva, contados a partir do dia em que se esgotou o 
prazo para o Promotor de Justiça iniciar a ação penal pública (art. 103, in fine, do CP) 
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A ação penal privada subsidiária da pública só cabe quando o órgão do MP ultrapassa 
inerte o prazo para o oferecimento da denúncia. 
Não tem cabimento nos casos de arquivamento do IP ou das peças de informação e 
quando o Promotor Público requer, tratando-se de indiciado solto, a devolução dos autos à 
autoridade policial no sentido de realização de diligencias imprescindíveis para o oferecimento da 
denúncia. 
Portanto, a ação privada subsidiária só pode ser intentada no caso de inércia do órgão 
do MP, ou seja, quando ele, no prazo que lhe é concedido para oferecer a denúncia, não a 
apresenta, não requer diligência, nem pede o arquivamento. 
Quanto à não-inclusão de indiciado na denúncia, não cabe a ação privada supletiva 
porque a inicial pode ser aditada até a sentença. 
3) DA RENÚNCIA – Art. 49 
3.1) CONCEITO DE RENÚNCIA DO DIREITO DE QUEIXA 
É a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de promover a 
ação penal privada. 
A renúncia significa desistir ou abdicar de algo. Neste contexto, demonstra que a 
vítima se recusa a tomar providência contra o seu agressor, em se tratando de crime de ação 
penal privada. 
A RENÚNCIA SÓ É POSSÍVEL ANTES DO INÍCIO DA AÇÃO PENAL PRIVADA. 
Assim, é oportuna a renúncia dentro dos seis meses previstos para o exercício da ação penal 
privada (art. 103 CP). 
Como decorrência natural do princípio da indivisibilidade da ação privada, a renúncia 
ao exercício do direito de queixa em relação a um dos autores do crime estende-se a todos os 
demais. 
Assim, renunciando com relação a um, beneficiados estarão os outros eventuais 
coautores. 
A renúncia pode ser: expressa e tácita. 
A renúncia expressa consta de declaração assinada pelo ofendido, seu representante 
legal ou procurador com poderes especiais, que não precisa ser advogado (art. 50 CPP). 
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Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a 
vontade de o ofendido ou seu representante legal iniciar a ação penal privada (art. 104, § único, 1ª 
parte). Ex. praticado um crime de injúria, o ofendido convida o ofensor para ser padrinho de 
batismo do seu filho, indicando com esse ato não ter vontade de contra ele oferecer queixa. 
No caso de concurso de pessoas, a exclusão de um dos ofensores indica renúncia, 
não podendo o Promotor de Justiça aditar a queixa para nela incluir o ofensor excluído. 
Dessa forma, se três são os autores do crime de ação penal privada, cumpre ao 
ofendido oferecer queixa contra todos ou nenhum. A exclusão de um importa renúncia tácita, 
estendendo-se aos demais, nos termos do art. 49 do CPP. 
4) PERDÃO DO OFENDIDO – Art. 51 
PERDÃO é o ato pelo qual INICIADA A AÇÃO PENAL PRIVADA, o ofendido ou seu 
representante legal desiste de seu prosseguimento, nos termos do art. 105, caput, do CP. 
É a manifestação de vontade, expressa ou tácita, do ofendido ou de seu representante 
legal, no sentido de desistir da ação penal privada já iniciada, ou seja, é a desistência manifestada 
após o oferecimento da queixa. 
O perdão só tem lugar na ação penal EXCLUSIVAMENTE PRIVADA. 
Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública (art. 100, § 3º), a desistência 
do ofendido de prosseguir com o processo não determina a extinção da punibilidade, mesmo que 
o réu aceite o perdão, pois se trata de ação penal pública, DEVENDO O MP ASSUMI-LA COMO 
PARTE PRINCIPAL (art. 29 do CPP). 
Quando há dois ou mais querelados, O PERDÃO CONCEDIDO A UM DELES SE 
ESTENDE A TODOS, sem que produza, entretanto, efeito em relação ao que o recusa (art. 51 
CPP; art. 106, I e III, CP). 
Assim, havendo dois réus, o perdão aceito por um produz efeito de extinguir a 
punibilidade também em relação ao outro, SALVO SE OCORRE RECUSA. Neste caso, a ação 
penal continua em relação ao querelado que o recusou. 
5) AÇÃO CIVIL EX DELICTO 
5.1) Noções Introdutórias 
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Diante da prática de uma infração penal, pode-se surgir duas espécies de pretensões, 
distintas entre si: a) a pretensão punitiva, ou seja, a pretensão do Estado em impor uma sanção 
penal; b) a pretensão à reparação do dano que a infração penal possa ter causado à determinada 
pessoa. 
É nesse sentido o disposto no artigo 186 do CC e, ainda, o artigo 927 do CC. 
De fato, a prática do crime origina o jus puniendi para a aplicação da sanção penal 
mas também a obrigação de que o autor repare o dano pelo ilícito. 
A reparação do dano por ato ilícito prevista no art. 186 do CC está regulamentada 
especificamente para alguns ilícitos. EX: no caso do homicídio (art. 948 do CC); nos delitos de 
lesão corporal dolosa ou culposa (art. 949). 
5.2) Ação de execução ex delicto – Art. 63 
a) Generalidades 
Nos termos do artigo 91, inciso I,do CP, um dos efeitos da sentença penal 
condenatória é “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (art. 91, inc. I). 
Segundo o artigo 63 do CPP “transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-
lhe a execução, no juízo civil, para efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante 
legal e seus herdeiros”. 
Diante disso, a partir da sentença penal condenatória transitada em julgado, constitui-
se um título executivo, consubstanciado no artigo 515, VI, do Novo CPC. 
Nesse caso, no juízo cível discutir-se-á apenas o montante da indenização. 
b) Quantificação do valor indenizatório 
A partir da nova redação do artigo 387, IV, do CPP, introduzida pela Lei 11.719/2008, 
poderá o juiz, já na sentença penal condenatória, fixar o valor mínimo para reparação dos danos 
causados pela infração penal, considerando os prejuízos sofridos pela vítima. 
Esse arbitramento do valor mínimo pelo juiz criminal não impede, contudo, que a 
vítima busque, na esfera cível, o prejuízo efetivo que julga ter sofrido em consequência da 
infração penal. É o que dispõe o artigo 63, parágrafo único, do CPP. 
Em outras palavras, não obstante fixado o valor mínimo indenizatório na sentença 
penal condenatória (art. 387, IV, CPP), poderá a vítima ajuizar, desde logo, no juízo cível, ação de 
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execução ex delicto em relação ao montante fixado na sentença condenatória e, ainda, buscar a 
liquidação por artigos da sentença penal condenatória, com a finalidade de quantificar o prejuízo 
efetivamente sofrido com a prática criminosa. 
c) Legitimação – Art. 63 
A legitimação para a ação de execução “ex delicto” pertence ao ofendido, seu 
representante legal ou herdeiros, nos termos do artigo 63 do CPP. 
5.3) Ação civil ex delicto – Art. 64 
a) Generalidades 
Inexistindo sentença condenatória irrecorrível, a ação ordinária civil para reparação do 
dano pode ser proposta contra o autor do crime, seu responsável civil ou seu herdeiro (art. 64 do 
CPP). 
Na hipótese de correrem paralelamente a ação civil e a ação penal, o juiz poderá 
suspender o curso daquela até o julgamento definitivo desta (art. 64, parágrafo único, do CPP). 
Procura-se com a suspensão, evitar, o quanto possível, decisões contraditórias. 
A sentença cível que vier a ser prolatada, se procedente a ação, já poderá conter o 
valor do dano indenizável, não se exigindo, nesse caso, previamente à execução, a fase da 
liquidação da sentença. 
b) Legitimação – Art. 63 
Assim como na ação de execução ex delicto, a legitimação para a ação de execução 
“ex delicto” pertence ao ofendido, seu representante legal ou herdeiros, nos termos do artigo 63 
do CPP. 
5.4) Efeitos civis da sentença absolutória penal – Arts. 65/67 
Nos termos do artigo 66 do CPP, a sentença absolutória não exerce qualquer 
influência sobre o processo cível, salvo quando reconhece, expressamente, a inexistência material 
do fato ou afasta categoricamente a autoria ou participação. 
É nesse sentido o disposto no artigo 935 do CC, segundo o qual, a responsabilidade 
civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou 
quem seja o seu autor, quando essas questões se acharem decididas no juízo criminal. 
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6) COMPETÊNCIA 
6.1) CONCEITO 
Competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa os limites dentro dos quais o 
juiz pode prestar jurisdição). 
Conforme Renato Brasileiro, compreende-se a competência, por conseguinte, como a 
medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional poderá aplicar o direito ao 
caso concreto. 
6.2) ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA 
A doutrina tradicional distribui a competência considerando três aspectos diferentes: 
a) ratione materiae: estabelecida em razão da natureza do crime praticado. 
b) ratione personae: em razão da qualidade das pessoas incriminadas; 
c) ratione loci (art. 69, I e II): em razão do local em que foi praticado ou consumou-
se o crime, ou o local da residência do seu autor. 
6.3) COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA 
A) COMPETÊNCIA ABSOLUTA 
A competência absoluta tem origem em norma constitucional, razão pela qual 
apresenta como fundamento o interesse público na correta e adequada distribuição da justiça. 
Diante do interesse público, essa espécie de competência é indisponível às partes e 
deve ser aplicada de forma obrigatória. 
Logo, essa modalidade de competência não admite modificações, sendo 
improrrogável. É, aliás, o que dispõe o artigo 62 do novo CPC. Em síntese, tratando-se de 
competência absoluta, não pode ser prorrogada, nem modificada pelas partes, sob pena de 
implicar em nulidade absoluta. 
A competência absoluta tem certas características: 
a) pode ser arguida a qualquer tempo, enquanto não transitar em julgado a decisão. 
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Todavia, em se tratando de sentença condenatória ou absolutória imprópria, as 
nulidades absolutas podem ser arguidas mesmo depois do trânsito em julgado, já que existem 
medidas processuais cabíveis nessas hipóteses, como a revisão criminal e o habeas corpus. 
b) o prejuízo é presumido 
Considerando que tem origem em norma constitucional, a inobservância da 
competência absoluta importará em atentado a preceito constitucional, derivando daí o prejuízo. 
Ou seja, verificando-se hipótese de incompetência absoluta, deve o processo ser 
anulado desde o início. 
São exemplos de competência absolutas: a) competência em razão da matéria (Ex: 
competência da Justiça Federal, Militar, Eleitoral, Estadual, etc); b) competência por prerrogativa 
de função; 3) competência funcional. 
Assim, por exemplo, no caso da jurisdição comum e especial, dos juízes superiores e 
inferiores (competência originária e competência recursal) e segundo a natureza da infração 
penal, a competência é fixada muito mais por imposição de ordem pública, do que no interesse de 
uma das partes. 
B) COMPETÊNCIA RELATIVA 
No caso de competência de foro (territorial), porém, o legislador pensa 
preponderantemente no interesse de uma das partes. 
Costuma-se falar, nesses casos, em competência relativa, prorrogável, capaz de 
gerar, no máximo, se comprovado prejuízo, nulidade relativa. 
As características da competência relativa são: a) deve ser arguida oportunamente, 
que, no caso, deve ser no prazo da resposta à acusação (art. 396-A do CPP), sob pena de 
preclusão; b) o prejuízo deve ser comprovado. 
São exemplos de competências relativas: a) competência territorial; b) competência 
por prevenção (Súmula 706 do STF); c) competência por distribuição; d) competência por conexão 
ou continência. 
6.4) MOMENTO DA ARGUIÇÃO DA INCOMPETÊNCIA 
A exceção de incompetência está prevista no artigo 95, inciso II, do CPP, podendo ser 
oposta no prazo de defesa, que é de 10 dias a contar da efetiva citação (art. 396-A do CPP). 
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A incompetência absoluta pode ser arguida a qualquer tempo, inclusive após o trânsito 
em julgado da sentença penal, se for contra o réu. 
6.5) CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA 
Não sendo hipótese de foro por prerrogativa da função, deve-se estabelecer critério 
para fixação da competência. Nesse particular, pode-se adotar os seguintes passos, que devem 
ser seguidos de forma articulada: 
I) Identificar qual a Justiça Competente 
II) Identificar o foro competente 
III) Identificar o Juízo competente 
Em relação à matéria, existe, basicamente, as de competência das Justiças 
Especiais (Justiça Militar e Justiça Eleitoral) e da Justiça Comum (Federal e Estadual). 
Nesse sentido, emprimeiro lugar, deve-se verificar se o crime é da Justiça Especial 
Militar; num segundo momento, se não for da competência da Justiça Militar, analisar se é da 
competência da Justiça Eleitoral; para somente ao final, em não sendo da competência de 
nenhuma das justiças especializadas, passar à análise se é da competência da Justiça Comum 
Federal ou Estadual. 
6.6) COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL 
A competência da Justiça Federal é residual em relação às especiais; prevalece, por 
outro lado, sobre a Justiça Estadual, nos termos do art. 78, III, do CPP e Súmula 122 do STJ. 
Nos termos do artigo 109, IV, da Constituição Federal, é da competência da Justiça 
Federal os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou 
interesse da união ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as 
contravenções e ressalvada a competência da justiça militar e da justiça eleitoral. 
Assim, qualquer delito que atinja bens jurídicos de interesse da união será da 
competência da Justiça Federal. 
Não abrange as contravenções. Dispõe-se a súmula do STJ, no enunciado 38: 
“compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por 
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da 
União ou de suas entidades”. 
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Há que se ressaltar o previsto na Súmula 147 do STJ no sentido de que é 
competente a Justiça Federal para processar e julgar os crimes praticados contra funcionário 
federal, quando relacionados com o exercício da função. 
Evidentemente, por lesarem serviços da União, são também da competência da 
Justiça Federal os crimes praticados por funcionários federais no exercício da função. 
Por se limitar o art. 109, IV, da CF, às autarquias e empresas públicas, assentou-se 
no STJ que “compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar causas cíveis em que é 
parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento” (súmula 42). 
Por isso, não são da competência da Justiça Federal, mas da Justiça Estadual, os 
crimes praticados contra o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Crédito Cooperativo, a Rede 
Ferroviária Federal etc. 
Por força da CF, compete ainda à Justiça Federal o processo e julgamento dos 
“crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no país, o 
resultado tenha ou devesse Ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente” (art. 109, V). 
Ex: Súmula 522 do STF: “Salvo ocorrência de tráfico para o Exterior, quando, então, 
a competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o processamento dos 
crimes relativos a entorpecentes”. 
Estipula o parágrafo 5º que nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o 
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações 
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá 
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, 
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal 
Nesta hipótese, o deslocamento de um crime para a Justiça Federal somente deve 
dar-se quando realmente houver grave violação de direitos humanos, de caráter coletivo (como, 
por exemplo, um massacre produzido por policiais contra vários indivíduos). 
Tal medida teria a finalidade de assegurar o desligamento do caso das questões 
locais, mais próprias da Justiça Estadual, levando-o para a esfera federal, buscando, inclusive, 
elevar a questão à órbita de interesse nacional e não somente regional. 
 
 
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6.7) JUSTIÇA ESTADUAL 
É a competência mais residual de todas, pois o crime somente será julgado na 
Justiça Estadual quando não for da competência da Justiça Especial (Militar ou Eleitoral) e da 
Justiça Comum Federal. 
A propósito, havendo conflito entre a Justiça Comum Federal e Estadual, prevalece a 
Justiça Federal, nos termos do art. 78, III, CPP e Súmula 122 do STJ. 
Súmula 122 do STJ: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado 
dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, 
"a", do Código de Processo Penal.” 
6.8) COMPETÊNCIA TERRITORIAL 
Depois de estabelecida a competência da Justiça, ou seja, se se trata da 
competência da Justiça Militar, Eleitoral, Federal ou Estadual, deve-se verificar qual o juízo 
tramitará o processo, mediante a fixação da competência territorial, também chamada 
competência de foro. 
Trata-se de competência relativa, já que há interesse preponderantemente das 
partes, podendo, pois, ser modificada (prorrogada), seja por meio da conexão ou continência, 
seja por vontade das partes, pela não oposição de exceção de incompetência. 
6.9) DETERMINAÇÃO DO FORO COMPETENTE 
Estabelecida a Justiça competente, deve-se, agora, proceder à análise do foro 
competente, que se traduz na competência em razão do lugar, valendo-se das regras dos artigos 
70 e 71 do CPP. 
Para a determinação da competência lugar do crime é o lugar da consumação, ou 
seja, onde terminam por se reunir todos os elementos da definição do crime. 
No caso de tentativa, a competência é determinada “pelo lugar em que for praticado 
o último ato de execução” (art. 70, caput, Segunda parte). 
6.10) COMPETÊNCIA CRIME CONTINUADO E PERMANENTE – Art. 71 
Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de 
duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção (art. 71). 
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6.11) COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU – Art. 72, 73 
Duas são as hipóteses em que, não ocorrendo hipótese de fixação por outra razão, 
determina-se para o processo penal o forum domicilli. 
A primeira delas encontra-se no art. 72, caput: Não sendo conhecido o lugar da 
infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. 
A Segunda hipótese refere-se à ação privada exclusiva, em que o querelante 
poderá preferir o foro do domicílio ou residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da 
infração (art. 73, caput). 
Não sendo possível a aplicação das regras acima mencionadas por não ter o réu 
domicílio ou residência certa, sendo ignorado o seu paradeiro, é competente o juiz que primeiro 
tome conhecimento do fato (art. 72, § 2º). 
6.12) CAUSAS MODIFICADORAS DA COMPETÊNCIA (CONEXÃO OU CONTINÊNCIA) 
I) COMPETÊNCIA POR CONEXÃO – Art. 76 
A conexão existe quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um 
vínculo, um nexo, um liame que aconselha a junção dos processos, propiciando, assim, ao 
julgador perfeita visão do quadro probatório. 
São efeitos da conexão: a reunião das ações penais em um mesmo processo e a 
prorrogação da competência. 
A) CONEXÃO INTERSUBJETIVA – Art. 76, I 
* CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR SIMULTANEIDADE 
Diante da primeira parte do art. 76 (CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR 
SIMULTANEIDADE), há conexão se, ocorrendo duas ou mais infrações, “houverem sido 
praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas”. NÃO HÁ LIAME PSICOLÓGICO. 
Ex. o exemplo clássico é o de diversos assistentes de um jogo de futebol, 
ocasionalmente reunidos, praticarem depredações no estádio. 
* CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR CONCURSO 
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Pelo art. 76, I, 2ª parte, há conexão se as infrações forem praticadas “por várias 
pessoas em concurso, embora diverso o tempo e lugar”. É a hipótese de concurso de 
pessoas em várias infrações. 
* CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR RECIPROCIDADE 
Pelo art. 76, I, última parte, há conexão se oscrimes forem praticados “por várias 
pessoas, umas contra as outras”. EX: agressões entre componentes de dois grupos de 
pessoas em um baile. Ex2: É o caso da rixa. 
B) CONEXÃO OBJETIVA, LÓGICA OU MATERIAL: Art. 76, II 
Nos termos do artigo 76, II, a competência é determinada pela conexão se, no caso 
de várias infrações, “houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para 
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas”. 
* CONEXÃO INSTRUMENTAL OU PROBATÓRIA – Art. 76, III 
II) COMPETÊNCIA POR CONTINÊNCIA – Art. 77 
Diz que há continência quando uma coisa está contida em outra, não sendo 
possível a separação. 
A) CONTINÊNCIA EM RAZÃO DO CONCURSO DE PESSOAS – Art. 77, I 
Justifica-se a junção de processos contra diferentes réus, desde que eles tenham 
cometido o crime em conluio, com unidade de propósitos, tornando único o fato a ser apurado. 
Difere da conexão por concurso, porque nesta há vários agentes praticando vários fatos. 
B) CONTINÊNCIA EM RAZÃO DO CONCURSO FORMAL DE CRIMES – Art. 77, II 
O art. 70 refere-se ao concurso formal de crimes, em que, com uma mesma conduta 
o agente pratica dois ou mais crimes. 
O art. 73, 2ª parte refere-se ao erro de execução (aberratio ictus), em que, por 
acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, além de atingir a pessoa que 
pretendia ofender lesa outra. 
O art. 74, 2ª parte, refere-se ao resultado diverso do pretendido (aberratio criminis), 
em que fora da hipótese anterior, o agente além do resultado pretendido, causa outro. 
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Em todos os casos, está-se diante de concurso formal, razão pela qual, na essência, 
o fato a ser apurado é um só, embora existam dois ou mais resultados. 
III) FORO PREVALENTE 
A) COMPETÊNCIA PREVALENTE DO JÚRI – Art. 78, I 
Dispõe o art. 78, I: “no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da 
jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri”. 
STF Súmula nº 721 – “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece 
sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.” 
B) JURISDIÇÃO DA MESMA CATEGORIA – Art. 78, II 
Considera-se jurisdição da mesma categoria aquela que une magistrados aptos a 
julgar o mesmo tipo de causa. 
Ocorre, porém, que pode haver um conflito real entre esses magistrados. Ex: furto e 
receptação (conexão instrumental). Cada inquérito foi distribuído a um juiz diferente. Havendo 
conexão instrumental, torna-se viável que sejam julgados por um único juiz. 
Como ambos são de idêntica jurisdição, estabelecem-se regras para escolha do foro 
prevalente: 
B.1) FORO ONDE FOI COMETIDA A INFRAÇÃO MAIS GRAVE 
Tendo em vista que o primeiro critério de escolha é o referente ao lugar da infração, 
é possível que existam dois delitos sendo apurados em foros diferentes, tendo em vista que as 
infrações originaram-se em locais diversos (como no furto e receptação). 
Assim, elege-se qual é o mais grave para a escolha do foro prevalente: se for um 
furto qualificado e uma receptação simples, fixa-se o foro do furto (pena mais grave) como 
o competente. 
B.2) FORO ONDE FOI COMETIDO O MAIOR NÚMERO DE INFRAÇÕES 
Ex: Imagine-se que três furtos simples estejam sendo apurados em Santa Cruz, 
enquanto uma receptação simples – referente aos três furtos (três carros) - esteja tramitando na 
Comarca de Venâncio Aires. Embora a pena do furto e da receptação sejam idênticas, o 
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julgamento dos quatro crimes deve ser realizado em Santa Cruz, que possui o maior número 
de infrações. 
B.3) FORO RESIDUAL ESTABELECIDA PELA PREVENÇÃO 
Neste caso, havendo magistrados de igual jurisdição em confronto e não sendo 
possível escolher pela regra da gravidade do crime (ex: furto simples e receptação simples), nem 
pelo número de delitos (ambas as comarcas possuem um só feito), elege-se o juiz pela 
prevenção, isto é, aquele que primeiro conhecer de um dos processos torna-se 
competente para julgar ambos, avocando da Comarca ou Vara vizinha o outro. 
6.13) COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 
Determinadas pessoas, por exercerem funções específicas, possuem a prerrogativa 
de serem julgadas originariamente por determinados órgãos. Trata-se de foro por prerrogativa da 
função exercida e não privilégio da pessoa. 
Antes da análise das funções contempladas com a prerrogativa de serem julgadas 
originariamente por um tribunal, convém estabelecer o momento em que tal prerrogativa vigora. 
Nesse particular, se o crime é praticado antes de tomar posse de um mandato 
eletivo, cargo ou função pública, o agente passará a adquirir foro por prerrogativa de função 
quando assumir o cargo. 
Se o crime foi praticado durante o exercício do cargo ou função pública, por evidente 
o agente detém a prerrogativa de foro. 
Em qualquer circunstância, cessado o exercício do cargo ou função, cessa também o 
foro por prerrogativa da função, devendo o processo ser remetido para a Justiça competente, no 
primeiro grau de jurisdição.1 
Em síntese, o agente só terá foro por prerrogativa de função estiver exercendo a 
função. Cessada a função, cessa a prerrogativa. 
É o que se extrai da Súmula 451 do STF: “A competência especial por prerrogativa 
de função não se estende ao crime cometido após a cessação definitiva do exercício da função”. 
Passa-se, agora, à análise de algumas hipóteses de foro por prerrogativa de função: 
 
1 Para sempre só sogra. 
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6.13.1) COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
O STF já firmou entendimento de que a expressão “infrações penais comuns” do art. 
102, I, “b” e “c” abrange todas as modalidades de infrações penais, inclusive os crimes eleitorais, 
militares e as contravenções penais. 
Ao STF compete processar e julgar originariamente, nas infrações penais comuns, o 
Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios 
Ministros e o Procurador-Geral da República; 
Enquanto não sobrevier decisão condenatória, o presidente não estará sujeito à 
prisão. 
6.13.2) COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
Compete ao STJ processar e julgar originariamente, nos crimes comuns, incluindo 
crimes eleitorais e militares, os governadores dos Estados e do Distrito Federal. 
6.13.3) COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS 
Aos Tribunais Regionais Federais competem processar e julgar originariamente os 
juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, 
nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, 
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. 
Na parte final do artigo 108, inciso I, “a”, contém a ressalva em relação aos crimes 
eleitorais, de modo que, se um desses agentes praticar um crime eleitoral, será julgado pelo 
Tribunal Regional Eleitoral (TRE). 
6.13.4) COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA 
Nos termos do artigo 96, inciso III, da CF/88, compete aos Tribunais de Justiça dos 
Estados julgar juízes estaduais e do Distrito Federal, bem como dos membros do Ministério 
Público dos Estados. Contudo, a Constituição faz expressa ressalva à Justiça Eleitoral, de modo 
que, se qualquer desses agentes praticar crime eleitoral, será julgado no TRE. 
Os magistrados e os membros do MP devem ser julgados pelo Tribunal ao qual 
estão vinculados, pouco importando a natureza do crime que cometam (se federal ou doloso 
contra a vida) e o lugar da infração, seguindo-se a competência estabelecida na Constituição 
Federal. 
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Assim, caso um juiz estadual cometa um delito de competência da justiça federal 
será julgado pelo TJ do seu Estado. 
O mesmo se dá com o juiz federal que cometa um crime da esfera estadual: será 
julgado pelo TRF da sua área de atuação. 
Frise-se que pouco importa o lugar da infração penal. Se um juiz estadual de São 
Paulo cometer um delito no Estado do Amazonas, será julgado pelo TJ de São Paulo. 
Em se tratando de crime de competência do Tribunal do Júri continua prevalecendo a 
competência por prerrogativa de função, pois também prevista na Constituição Federal. 
6.13.5) COMPETÊNCIA PARA JULGAR PREFEITOS 
Se o prefeito cometer um crime de competência de Justiça Comum Estadual, será 
julgado no Tribunal de Justiça, mesmo na hipótese de crime doloso contra a vida, cuja 
competência é do Tribunal do Júri. 
Contudo, se praticar um crime eleitoral, será julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral 
(TRE). 
Se o delito for de competência da Justiça Federal será julgado pelo Tribunal Regional 
Federal (TRF). 
É o que se extrai da Súmula 702 do STF: “A competência do Tribunal de Justiça para 
julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça Comum Estadual; nos demais 
casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau”. 
Ver, ainda, as Súmulas 208 e 209 do STJ. 
6.13.6) PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E CONCURSO DE PESSOAS 
Se um agente que não detém prerrogativa comete crime comum junto com agente 
com prerrogativa de função, o processo será reunido para julgamento simultâneo. Assim, mesmo 
que não tenha foro por prerrogativa de função, o particular passará a tê-lo por extensão, 
cabendo ao Tribunal competente o julgamento dos dois agentes. 
É o que dispõe a Súmula 704 do STF: “Não viola as garantias do juiz natural, da 
ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do 
co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”. 
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6.13.7) FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E TRIBUNAL DO JÚRI 
Compete sempre ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 
121, § 1º, 121, § 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do CP, consumados ou 
tentados (ART. 74, § 1º). 
Súmula 603 do STF “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do 
juiz singular e não do Tribunal do Júri”. 
Dispõe ainda a lei que, se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra 
atribuída à competência do juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410 (ATUAL 419) 
(art. 74, § 3º, 1ª parte). 
 
Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a 
acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste 
Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz 
que o seja. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à 
disposição deste ficará o acusado preso. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 
Quando a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, em decorrência 
das respostas aos quesitos pelos jurados, não prevalece a regra e ao presidente cabe proferir 
a sentença em seguida (arts. 74, § 3º, 2ª parte, e 492, § 2º). 
Não obstante a competência do júri estar prevista na Constituição Federal, se a 
prerrogativa de função também estiver prevista na Constituição Federal, prevalece a prerrogativa 
de função, porquanto, em sendo ambas as competências constitucionais, prevalece a jurisdição 
superior do tribunal. 
Se a prerrogativa de função estiver prevista em Constituição Estadual ou lei 
ordinária, prevalece a competência do Tribunal do Júri, por estar prevista na Constituição 
Federal. 
É nesse sentido a Súmula 721 do STF, que tem a mesma redação da Súmula 
Vinculante nº 45 do STF: “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o 
foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.” 
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07) DA PROVA 
7.1) CONCEITO 
Trata-se de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a 
finalidade de comprovar a verdade de uma alegação. 
É o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinado pelo juiz visando à 
formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstancias. 
7.2) SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS –ART. 155 
O juiz deve lastrear a sua convicção em provas produzidas sob o crivo do contraditório, 
não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos trazidos da investigação, 
mormente a policial, que constitui a maior parte dos procedimentos preparatórios da ação penal. 
a) SISTEMA DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO 
O CPP adotou, como regra, o do lliivvrree ccoonnvveenncciimmeennttoo ddoo jjuuiizz, fundamentado na prova 
produzida sob o contraditório judicial (art. 155, caput, CPP), embora remanesçam exceções com 
resquícios dos sistemas da íntima convicção e da prova tarifada. 
b) SISTEMA DA ÍNTIMA CONVICÇÃO: 
É adotado nos julgamentos afetos ao Tribunal do Júri: Os jurados não estão vinculados 
às provas existentes no processo e não precisam fundamentar a decisão, podem decidir com base 
em critérios subjetivos. (art. 593, III, e §3°, CPP). 
c) SISTEMA DA PROVA TARIFADA, DA VERDADE LEGAL OU DA CERTEZA MORAL DO 
LEGISLADOR 
A lei estabelece o valor de cada prova, impede poder discricionário do juiz para decidir 
contra a previsão legal. 
Ex: art. 62 CPP - extinção da punibilidade pela morte do réu exige certidão óbito. 
 
 
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7.3) PROVAS ILEGAIS, VEDADAS OU PROIBIDAS: 
A Constituição em seu artigo 5°, inciso LVI, consagrou a regra da inadmissibilidade das 
provas ilícitas. Neste sentido, a doutrina majoritária sempre traçou uma diferenciação da prova 
ilícita (obtida com violação a uma regra de direito material) e a prova ilícita (obtida com violação 
ao uma regra de direito processual. 
a) PROVAS ILÍCITAS (art. 157 CPP): violação de regras direito material, produzindo 
reflexos diretos ou indiretos em direitos e garantias constitucionais. 
Ex: interceptação telefônica e busca e apreensão sem ordem judicial, violação carta 
lacrada, grampo, coação em interrogatório policial (afrontamento direito ao art. 5°, X, XI, XII, e 
LXIII, CF). 
Outros casos de afrontamento indireto à CF: interrogatório judicial de réu sem a 
presença de advogado ou sem prévia entrevista reservada com defensor (art. 185 CPP e art. 5°, 
LV, CF) e mediante coação (art. 186 CPP). 
Consequências do uso de provas ilícitas (art. 157 CPP): desentranhamento e, uma vez 
preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada, 
podendo as partes acompanhar o incidente. 
b) PROVAS ILEGÍTIMAS: 
São aquelas produzidas a partir da violação de normas de natureza eminentemente 
processual. 
Ex: perícia por apenas um perito não-oficial - art. 159, §1°; reconhecimento judicial do 
réu sem observância das formalidades do art. 226 do CPP; extinção da punibilidade sem juntada 
de certidão óbito - art. 62 CPP. 
C) PROVAS ILÍCITAS POR DERIVAÇÃO E A TEORIA DOS “FRUTOS DA ÁRVORE 
ENVENENADA” (ART. 157, §§1º E 2) 
As denominadas provas ilícitas por derivação dizem respeito àquelas provas em si 
mesmas lícitas, mas a que se chegou por intermédio da informação obtida por prova ilicitamente 
colhida. 
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É o caso da confissão extorquida mediante tortura, que venha a fornecer informações 
corretas a respeito do lugar onde se encontra o produto do crime, propiciando a sua regular 
apreensão. Esta últimaprova, a despeito de ser regular, estaria contaminada pelo vício na origem. 
Outro exemplo seria o da interceptação telefônica clandestina – crime punido com 
pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa (art. 10 da Lei 9296/96) – por intermédio 
da qual o órgão policial descobre uma testemunha do fato que, em depoimento regularmente 
prestado, incrimina o acusado. Haveria, igualmente, ilicitude por derivação. 
7.4) DAS PERÍCIAS – Art. 158 
A) Do exame de corpo de delito 
Exame de corpo de delito direto: é feito sobre o próprio corpo de delito – o cadáver, a 
janela arrombada, a chave utilizada. 
Exame de corpo de delito indireto: advém de um raciocínio dedutivo sobre um fato 
narrado por testemunhas, sempre que impossível o exame direto. 
B) Indispensabilidade do exame de corpo de delito Art. 158 e 167 
A falta de exame de corpo de delito enseja a ocorrência de nulidade. Sendo possível o 
exame de corpo de delito direto, não pode supri-lo o indireto (feita, por exemplo, através de prova 
testemunhal). 
O art. 167 do CPP cuida de hipótese diversa, qual seja, a do desaparecimento de todos 
os vestígios, principais e periféricos. Neste caso, pode a prova testemunhal suprir-lhe a falta. 
C) Do perito – Art. 159 
O perito é um auxiliar da justiça, devidamente compromissado, entranho às partes, 
portador de um conhecimento técnico altamente especializado e sem impedimentos ou 
incompatibilidades para atuar no processo. 
É considerado oficial quando investido na função por lei e não pela nomeação feita 
pelo juiz, ou seja, quando, após o regular concurso de provas e títulos, vem a ser nomeado e 
investido no cargo de perito. Daí a desnecessidade de esse perito prestar compromisso nos 
processos e investigações em que atua. 
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O art. 159 expressamente exige apenas “um perito oficial”, portador de diploma de 
curso superior. 
Não havendo perito oficial, “o exame será realizado por duas pessoas idôneas, 
portadoras de diploma de curso superior, preferencialmente na área específica dentre as que 
tiverem habilitação técnica relacionada com a realização do exame”. 
7.5) DO INTERROGATÓRIO 
É o ato judicial no qual o juiz ouve o acusado sobre a imputação contra ele formulada. 
Durante o curso do processo penal, que segue até o trânsito em julgado da decisão, a 
autoridade judiciária de 1º ou 2º grau, a qualquer momento, fora do instante próprio, que é o da 
realização da audiência de instrução e julgamento, pode ouvir o réu. 
A presença do defensor durante o interrogatório, do início ao fim, é obrigatória, sob 
pena de nulidade, nos termos do art. 185, caput, e § 1º, do CPP. 
O interrogatório do réu preso passa a ser realizado, em regra, no estabelecimento 
penal em que se encontrar o acusado, e não mais no fórum. 
Não sendo possível receber o juiz e as partes no presídio, por falta de condições 
indispensáveis, continua-se a realizar o interrogatório nos moldes das demais audiências, ou seja, 
no fórum, requisitando-se a apresentação do réu. 
O § 5º do art. 185 realça mais ainda o princípio constitucional da ampla defesa. Antes 
de o Magistrado proceder ao interrogatório, deverá assegurar ao réu o direito de, reservadamente, 
entrevistar-se com o seu Defensor. 
A lei processual estabelece ao acusado a possibilidade de confessar, negar, silenciar ou 
mentir. 
Ao réu é dado silenciar-se apenas em relação ao interrogatório de mérito (art. 187, § 
2º, CPP). 
A prerrogativa do direito ao silêncio não se aplica sobre a primeira parte do 
interrogatório (art. 187, § 1º), que cuida da identificação do réu, já que nesse momento não há 
espaço para qualquer atividade de cunho defensivo. 
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Neste ponto, o vício maior do interrogatório é a falta de informação sobre o direito de 
o indiciado ou acusado permanecer calado. Com efeito, o interrogatório do acusado ou mesmo 
suas declarações espontâneas perante o órgão estatal somente são válidos desde que tenha 
havido informação sobre a faculdade de calar. 
7.6) DA CONFISSÃO 
A) Conceito 
É a declaração voluntária, feita por um imputável, a respeito de fato pessoal e próprio, 
desfavorável e suscetível de renúncia. 
B) Valor probatório da confissão – Art. 197 
A confissão não tem força probatória absoluta. Por isso mesmo dispõe o CPP, no art. 
197, que o valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de 
prova, e para a sua apreciação o Juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, 
verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância. 
C) Silêncio como elemento para o convencimento do juiz – Art. 198 
A parte final do art. 198 não foi recepcionada pela CF/88, que, expressamente, 
conferiu ao réu a possibilidade de manter-se calado (art. 5º, LXIII), sem estabelecer qualquer 
consequência dessa opção, razão pela qual não pode a lei ordinária fixar conteúdo diverso. 
7.7) DO OFENDIDO – Art. 201 
Ofendido ou vítima é o sujeito passivo da infração, ou seja, é a pessoa que teve 
diretamente o seu interesse ou bem jurídico violado pela prática da infração penal. 
Uma vez intimado a prestar declarações, se o ofendido deixar de atender ao 
chamamento, sem motivo justo, poderá a autoridade mandar conduzi-lo à sua presença. 
A palavra do ofendido deve ser aceita com reservas, devendo o juiz confrontá-la com 
os demais elementos de convicção, por se tratar de parte interessada no desfecho do processo. 
Em certos casos, porém, é relevantíssima a palavra da vítima do crime. Assim, 
naqueles crimes clandestinos, como, por exemplo, crimes contra a dignidade sexual, que se 
cometem longe dos olhares de testemunhas, a palavra da vítima é relevante meio de prova. 
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7.8) PROVA TESTEMUNHAL 
A) Conceito 
É a pessoa que declara ter tomado conhecimento de algo, podendo, pois confirmar a 
veracidade do ocorrido, agindo sob o compromisso de estar sendo imparcial e dizendo a verdade. 
B) Capacidade para ser testemunha – Art. 202 
No processo penal toda pessoa poderá ser testemunha. Assim, nada impede que uma 
criança de 08 anos compareça em juízo para depor sobre fatos a que, porventura, tenha assistido. 
C) Obrigação de depor – Art. 206 
A própria lei impõe à testemunha o dever de testemunhar. Não se trata de um direito, 
mas de uma obrigação, passível de punição em caso de negativa. 
De outro lado, autoriza a lei escapem determinadas pessoas da obrigação de depor e, 
consequentemente, de falar a verdade do que sabem a respeito de fatos relevantes do processo. 
São indivíduos vinculados intimamente ao réu, dos quais não se pode exigir o esforço sobre-
humano de deferirem a quem amam. 
É verdade que o art. 206, na sua parte final, acentua que quando não for possível por 
outros modos obter-se ou integrar-se as provas do fato ou de sua circunstância, não poderá o 
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão eximir-se da obrigação de depor. A relevância do 
interesse público sobrepõe-se às relações de família. 
D) Proibição de depor – Art. 207 
Não se trata, neste caso, de mera faculdade ou direito, mas de imposição legal a 
determinadas pessoas, que, em razão da sua qualidade, não podem prestar depoimento, nem 
declarações. O sigilo lhes é exigência, em nome de interesses maiores, igualmente protegidos pela 
norma processual penal. 
E) Impedimento legal para o compromisso – Art. 208 
O juramento de dizer a verdade, que comprova o perfil de testemunha não será 
realizado no tocante aos doentes e deficientes mentais, aos menores de 14 anos e às pessoas 
referidas no art. 206 (o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge,

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