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UFR Disciplina: Ciência dos Materiais 1°Semestre de 2019 Professora: Dra. Vanessa Motta Chad E-mail: vanessamotta@ufmt.br FALHA ➢ A falha dos materiais de engenharia é quase sempre um evento indesejável devido a fatores como: → Risco e perda de vidas humanas; → Perdas econômicas; → Interferência com a disponibilidade de produtos e de serviços. ➢ As causas usuais de falhas são: → Seleção e processamento inadequado dos materiais; → Projeto inadequado do componente; → Negligência durante: o projeto, a construção ou a operação do equipamento (mau uso); → Aplicação de um novo projeto, ou de um novo material, que vem a produzir resultados inesperados (e indesejáveis). FALHA EXEMPLO DE FALHA EM PROJETO ➢ A Fiat foi intimada pelo Ministério da Justiça a pagar uma multa de 3 milhões de reais e a fazer o recall de aproximadamente 52.000 carros do modelo Stilo. ➢ Problema: O cubo da roda traseira se quebra, devido ao esforço na ponta do eixo, fazendo com que a roda solte, causando acidentes e riscos de morte. Fonte: Revista Quatro Rodas ➢Avaliação do CESVI (Centro de Experimentação e Segurança Viária): “O problema é causado pela baixa resistência à fratura do ferro fundido, que é reconhecidamente mais frágil e possui pouca capacidade de deformação plástica. Uma fratura poderia ocorrer com pequenos esforços acima das especificações ou mesmo sem qualquer esforço adicional fora das especificações.” ➢ Motivo: troca do material do cubo da roda, que era de aço e passou a ser fabricado de ferro fundido sem que houvesse o redimensionamento da peça. ➢ Solução: substituição do cubo da roda traseira por outro fabricado com aço. EXEMPLO DE FALHA EM PROJETO FUNDAMENTOS DA FRATURA ➢Por que estudar falhas? → Para entender os mecanismos dos diferentes modos de falha em serviço de componentes mecânicos ou de estruturas. Por exemplo falha por fadiga ou por fluência; → Para a prevenção de falhas em serviço; → Para que o engenheiro se antecipe, planeje a troca de componentes das máquinas antes de ocorrer possíveis falhas; → Para avaliar a causa da falha e tomar medidas preventivas apropriadas contra incidentes futuros. ➢ Fratura: consiste na separação de um corpo em duas ou mais partes em resposta a uma tensão imposta. ➢ A tensão aplicada pode ser de tração, compressão, cisalhamento ou torcional. ➢ Qualquer processo de fratura envolve duas etapas, a formação e a propagação de trincas, em resposta à imposição de uma tensão. ➢ Para materiais metálicos são possíveis dois modos de fratura: dúctil e frágil. → A classificação está baseada na habilidade de um material experimentar uma deformação plástica antes de fraturar. FUNDAMENTOS DA FRATURA ➢ A fratura frágil: → As trincas podem se espalhar de maneira extremamente rápida, com o acompanhamento de pouca ou nenhuma deformação plástica. → Tais trincas podem ser chamadas de instáveis, e a propagação da trinca, uma vez iniciada, irá continuar espontaneamente sem um aumento na magnitude da tensão aplicada. ➢ A fratura dúctil: → Apresenta extensa deformação plástica na vizinhança de uma trinca que está avançando. → O processo prossegue de maneira relativamente lenta à medida que o comprimento da trinca se estende. → Esse tipo de trinca é frequentemente chamado de estável. Isto é, ela resiste a qualquer extensão adicional a menos que exista um aumento na tensão, causando uma deformação apreciável nas superfícies da fratura. FUNDAMENTOS DA FRATURA ➢ As superfícies de fratura irão possuir características distintas, tanto no nível macroscópico quanto no nível microscópico. Fratura altamente dúctil na qual a amostra empescoça até uma fratura pontual, apresentando virtualmente uma redução de 100% na área. Exemplo: ouro puro em temperatura ambiente Fratura moderadamente dúctil após algum empescoçamento. Tipo mais comum de fratura para materiais dúcteis. Exemplo: aço ABNT 1020 Fratura frágil sem qualquer deformação plástica. Exemplo: ferro fundido FUNDAMENTOS DA FRATURA ➢ Fratura dúctil ➢ Comportamento típico da curva tensão-deformação até a fratura de um material dúctil: Fratura u Estricção Deformação () T en sã o ( ) e = 0,2% FRATURA DÚCTIL ➢ A fratura dúctil é quase sempre preferível por dois motivos: 1 – A fratura frágil ocorre repentinamente e catastroficamente, sem qualquer aviso, é uma consequência da espontânea e rápida propagação de uma trinca. → No caso da fratura dúctil, a presença de deformação plástica dá um alerta de que a fratura é iminente, permitindo que medidas preventivas sejam tomadas. 2 – Mais energia de deformação é exigida para induzir uma fratura dúctil, uma vez que materiais dúcteis são geralmente mais tenazes. (A tenacidade é a capacidade do material armazenar energia sem se romper. É indicada pela área total sob a curva tensão-deformação em tração para o material). FRATURA DÚCTIL FRATURA DÚCTIL – ESTÁGIOS DA FRATURA TAÇA E CONE (a) Empescoçamento inicial (c) Coalescência (junção) de cavidades para formar uma trinca (b) Pequena formação de cavidade ➢ A fratura taça e cone é característica de materiais que sofreram fratura dúctil. (d) Propagação da trinca (e) Fratura final por cisalhamento Fratura do tipo taça e cone no alumínio Cisalhamento Fribroso FRATURA DÚCTIL – ESTÁGIOS DA FRATURA TAÇA E CONE ➢ Exemplo: Aço ABNT 1020 submetido ao ensaio de tração. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 100 200 300 400 500 600 700 ( M P a ) (%) FRATURA DÚCTIL – ESTÁGIOS DA FRATURA TAÇA E CONE Fractografia mostrando microcavidades esféricas (dimples) características de uma fratura dúctil que resulta de cargas de tração uniaxiais (MEV). Fractografia mostrando microcavidades em formato parabólico características de uma fratura dúctil que resulta da aplicação de uma carga cisalhamento (MEV). FRATURA DÚCTIL – ESTÁGIOS DA FRATURA TAÇA E CONE FRATURA FRÁGIL ➢ Fratura frágil ➢ A fratura frágil ocorre sem qualquer deformação apreciável e através de uma rápida propagação de uma trinca. ➢ A direção do movimento da trinca está muito próxima de ser perpendicular à direção da tensão de tração aplicada e produz uma superfície de fratura relativamente plana. ➢ Pouca ou nenhuma deformação plástica existe na fratura frágil. ➢ Mesmo materiais que são normalmente dúcteis podem fraturar de modo frágil em baixas temperaturas com elevadas taxas de deformação (como no caso do impacto), ou quando há grandes trincas superficiais. FRATURA FRÁGIL ➢ Exemplo: Ferro fundido submetido ao ensaio de tração. 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0 50 100 150 200 250 300 ( M P a ) (%) FRATURA FRÁGIL Diagrama esquemático mostrando a propagação de uma trinca ao longo do contorno de grão em um fratura intergranular. ➢ Fratura intergranular (ao longo dos contornos de grão): Quando há inclusões nos contornos dos grãos, por exemplo, a trinca propaga-se ao longo dos contornos, pois apresentam menor resistência mecânica. Fractografia de um aço inoxidável 304 mostrando uma superfície de fratura intergranular. 4 mm Contornos de grãos Caminho de propagação da trinca ➢ Fratura transgranular (as trincas passam através dos grãos): a propagação da trinca corresponde à clivagem, ou seja, a quebra sucessiva e repetida de ligações atômicas ao longo de planos cristalográficos específicos. 160mm Fractografia de um aço inoxidável 316 mostrando uma superfície de fratura transgranular. Grãos Caminho de propagação da trinca Diagrama esquemático mostrando a propagação de uma trinca no interior dos grãos em uma fratura transgranular. FRATURA FRÁGIL FRATURA FRÁGIL ➢ Uma característica comum na fratura frágil é o padrão em V, produzido por frentes separadas de trincas que se propagam no material. Figura mostrando padrão em V de uma fratura frágil. As setas indicam a origem da trinca. ➢ Algumas superfícies de fratura frágil contêm linhas ou nervurasque se irradiam a partir do ponto de origem da trinca de acordo com um padrão em forma de leque . Imagem de uma superfície de fratura frágil mostrando nervuras radiais em formato de leque. As setas indicam a origem da trinca. Origem Direção de propagação da trinca FRATURA FRÁGIL CONCENTRADORES DE TENSÃO ➢ Concentradores de tensão: são irregularidades que perturbam o campo de tensão de um componente, amplificando o mesmo em suas proximidades. ➢ Podem ser defeitos microscópicos ou defeitos macroscópicos, como vazios, riscos, entalhes, cantos vivos, mudanças bruscas de seção. Distribuição de tensão normal Exemplos de concentradores de tensão ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO Um navio-tanque de óleo que fraturou de uma maneira frágil pela propagação de trincas ao redor do seu casco. ➢ Durante a Segunda Guerra Mundial, vários navios distantes do combate, repentinamente e abruptamente se partiram ao meio. ➢ Os navios eram construídos a partir de uma liga de aço que possuía ductilidade adequada de acordo com ensaios de tração à temperatura ambiente. ➢ As fraturas frágeis ocorreram em temperatura ambiente relativamente baixa, de aproximadamente 4°C, na vizinhança da temperatura de transição da liga. ➢ Cada trinca de fratura teve sua origem em algum ponto de concentração de tensões, como defeitos de fabricação, e então se propagou ao redor de todo o casco do navio. ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO ➢ Ensaio de fratura por impacto ➢ As condições do ensaio de impacto são escolhidas para representar aquelas condições mais severas em relação ao potencial de ocorrência de uma fratura: → Deformação a uma temperatura relativamente baixa; → Uma elevada taxa de deformação. ➢ Os ensaios de fratura por impacto são padronizados: → Norma ASTM E23 – Standard Test Methods for Notched Bar Impact Testing of Metallic Materials (Métodos Padrões de Ensaio para Testes de Impacto em Barras com Entalhe de Materiais Metálicos). ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO ➢ As técnicas Charpy e Izod, medem a energia de impacto. ➢ A diferença principal entre as técnicas Charpy e Izod está na maneira como o corpo de prova é sustentado. ➢ Esses testes são denominados ensaios de impacto, com base na maneira como é feita a aplicação da carga. ➢ Tanto na técnica Charpy como na técnica Izod, o corpo de prova possui o formato de uma barra com seção reta quadrada, na qual é usinado um entalhe com formato em V. Técnicas de ensaio por impacto ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO Corpos de prova utilizados em ensaios de impacto Charpy e Izod Entalhe Izod Charpy Entalhe ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO ➢ Descrição do ensaio Charpy: → No equipamento para realização dos ensaios de impacto, a carga é aplicada com um impacto instantâneo de um martelo (ou pêndulo) que é liberado de uma posição elevada que se encontra a uma altura fixa h. → A amostra fica posicionada na base. → Com a liberação, o martelo atinge e fratura o corpo de prova exatamente no entalhe, que atua como um ponto de concentração de tensões no impacto do pêndulo com o corpo de prova. → O pêndulo continua o seu balanço, elevando-se até uma altura máxima h’, que é inferior a h. → A absorção de energia, computada a partir da diferença entre h e h’, representa uma medida de energia de impacto. ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO Desenho esquemático de um equipamento para ensaios de impacto. ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO ➢ Uma das principais funções dos ensaios Charpy e Izod é a de determinar se um material experimenta ou não uma transição dúctil-frágil com a diminuição da temperatura e, se este for o caso, as faixas de temperaturas ao longo das quais isso acontece. ➢ A transição dúctil-frágil está relacionada com a dependência da absorção de energia de impacto medida em relação à temperatura. Essa transição é representada pela curva Energia de impacto x Temperatura. ➢ Estruturas construídas a partir de ligas que exibem esse comportamento dúctil-frágil devem ser usadas somente em temperaturas acima da temperatura de transição, a fim de evitar fraturas frágeis e catastróficas. Transição dúctil-frágil ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO ° ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO ➢ Metais CFC: → Não apresentam temperatura de transição. → Retém altas energias de impacto são dúcteis com o abaixamento da temperatura. → Exemplo: Al, Cu, Au, Ni ➢ Metais CCC e HC : → Apresentam temperatura de transição. → Esses metais e ligas devem ser usados somente em temperaturas acima da temperatura de transição para evitar falha catastrófica. → Exemplo: Estrutura CCC: Nb, Cr; Estrutura HC: Ti, Zn ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO ➢ A aparência da superfície da falha é um indicativo da natureza da fratura, e pode ser usada em determinações da temperatura de transição. ➢ No caso de fratura dúctil, a superfície de fratura é fibrosa (opaca) (caráter de cisalhamento; cisalhamento: deformação que sofre um corpo quando sujeito à ação de forças cortantes). ➢ A aparência de uma superfície que sofreu fratura frágil é granular (brilhosa) (caráter de clivagem, clivagem: propriedade que têm certos cristais de se fragmentar segundo determinados planos). ➢ Ao longo da transição dúctil-frágil, existirão características de ambos os tipos de fratura. Superfície de fratura ENSAIO DE FRATURA POR IMPACTO Superfícies de fratura de corpos de prova de um aço ABNT A36 que foram testados nas temperaturas indicadas (em °C) segundo o ensaio Charpy com entalhe em V. Fratura frágil Fratura dúctil