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Apostila alunos_aulas 1 a 9

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Material esquematizado para estudo 
 
 
 
CONSTITUCIONAL AVANÇADO 
 
 
 
PARTE I 
2019.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
Aulas 1 e 2 - Teoria Geral do Controle de Constitucionalidade 
 
As premissas do controle de constitucionalidade 
 
Para que se possa falar em controle judicial de constitucionalidade, é necessário 
observar dois conceitos fundamentais, quais sejam a supremacia da Constituição e a 
rigidez constitucional. Ou seja, as premissas do controle de constitucionalidade são 
exatamente estes dois conceitos. 
 
A ideia de que a Constituição é dotada de supremacia em face das demais normas 
infraconstitucionais que integram a ordem jurídica como um todo é um fenômeno que 
somente se consolida com a famosa decisão do Juiz Marshall, nos Estados Unidos da 
América, no caso Marbury v. Madison, em 1803. 
 
No âmbito do constitucionalismo democrático moderno, tal decisão é a origem do 
controle de constitucionalidade, na medida em que selou, definitivamente, o princípio 
da supremacia da Constituição, cuja efetividade passou a ser garantida pela 
intervenção do Poder Judiciário nos casos de violação ao texto constitucional. Assim, 
ficou consolidada a competência da Suprema Corte para invalidar todos os atos do 
Poder Público que, por ventura, vierem a contrariar a Constituição, norma suprema 
que se coloca acima dos poderes constituídos do Estado. 
 
Coloca-se assim a Constituição fora da esfera de atuação da vontade circunstancial 
das maiorias legislativas. Portanto, a ideia de controle de constitucionalidade está 
vinculada ao conceito de Estado de Direito, aqui vislumbrado como principal produto 
do constitucionalismo democrático, cujas origens remontam aos grandes movimentos 
revolucionários liberais do século XVIII (Revolução americana de 1776 e Revolução 
francesa de 1789). 
 
Em linhas gerais, o constitucionalismo democrático e, na sua esteira, o Estado de 
Direito, surgem como reação ao Estado Absoluto, com o objetivo específico de limitar 
o exercício arbitrário do poder estatal. Nesse sentido, o leitor vai compreender 
facilmente que a limitação do poder do Estado ocorre a partir de dois grandes eixos 
propulsores, a saber: 
 
a) separação de poderes, ou seja, poderes independentes e harmônicos entre si; 
b) positivação de um catálogo de direitos fundamentais do cidadão comum. 
 
Observe, aqui, com atenção, que não haverá Estado de Direito se não houver o 
equilíbrio entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (princípio da separação 
de poderes). Da mesma forma, não haverá Estado de Direito sem o estabelecimento 
de um regime jurídico de proteção dos direitos fundamentais, que se coloque acima 
das razões de Estado. 
 
Em consequência, o princípio da supremacia da Constituição pressupõe verticalidade 
normativa que se impõe aos atos emanados do Poder Constituinte Derivado 
Reformador, que não podem contrariá-la. Portanto, há que se compreender que a 
supremacia da Constituição é fruto de uma estratégia hermenêutica liberal de limitação 
do poder do Estado. Cabe ao Poder Constituinte Originário (único detentor de 
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legitimidade para criar o novo Estado e a nova Constituição) estabelecer as limitações 
constitucionais que serão impostas ao Poder Constituinte Derivado Reformador (poder 
constituído). 
 
Tais limitações constitucionais são: 
a) de ordem material (cláusulas pétreas); 
b) de ordem formal (observância das regras do processo legislativo constitucional); 
c) de ordem circunstancial (proibição de Emendas Constitucionais durante uma 
Intervenção Federal, Estado de Defesa ou Estado de Sítio). 
 
Assim, observe, com atenção, que, quando o Poder Constituinte Derivado Reformador 
viola direitos fundamentais do cidadão comum ou fere de morte a supremacia de uma 
Constituição rígida e escrita, o mecanismo de controle de constitucionalidade é 
acionado como elemento garantidor da restauração de equilíbrio do sistema jurídico, 
retirando o ato inconstitucional do mundo jurídico. 
 
Manoel Gonçalves Ferreira Filho destaca as diferenças entre rigidez e flexibilidade 
constitucionais, bem como as diferenças entre Poder Constituinte Originário e Poder 
Constituinte Derivado, valendo, pois, reproduzir suas palavras: A distinção entre 
Constituição rígida e Constituição flexível, entre Poder Constituinte originário e Poder 
Constituinte derivado, implica a existência de um controle de constitucionalidade. De 
fato, onde este [controle de constitucionalidade] não foi previsto pelo constituinte, não 
pode haver realmente rigidez constitucional ou diferença entre o Poder Constituinte 
originário e o derivado. Em todo Estado onde faltar controle de constitucionalidade, a 
Constituição é flexível; por mais que a Constituição se queira rígida, o Poder 
Constituinte perdura ilimitado em mãos do legislador. (FERREIRA FILHO, 2009, p. 34) 
 
De tudo se vê, portanto, que os conceitos de rigidez constitucional e supremacia da 
Constituição estão associados diretamente à ideia de controle de constitucionalidade, 
ou seja, a supremacia e a rigidez constitucionais são as duas premissas 
imprescindíveis para o controle de constitucionalidade. 
 
A questão que se impõe agora é saber se é o controle de constitucionalidade que 
garante a rigidez constitucional e a supremacia da Constituição, ou, o contrário, isto é, 
se são estas que garantem aquele? 
 
Hans Kelsen muito se aproxima de tal questionamento quando alerta que “uma 
Constituição que não dispõe de garantia para anulação de atos inconstitucionais não 
é, propriamente, obrigatória, (...) não passa de uma vontade despida de qualquer força 
vinculante”. (MENDES & BRANCO, 2013, p.1003-1004). Assim, a grande reflexão que 
a questão encerra é a visão de que a plasticidade constitucional (flexibilidade 
constitucional) inviabiliza um sistema judicial de controle de constitucionalidade, na 
medida em que o Poder Constituinte Derivado Reformador continuará atuando como 
se Poder Originário fosse, ou seja, de modo soberano, ilimitado, incondicionado. 
 
Portanto, sob os influxos de uma Constituição flexível, não escrita, o legislador 
ordinário, sem nenhum tipo de limitação, tem o poder de alterar a Constituição da 
mesma forma com que edita uma lei infraconstitucional, uma vez que o poder 
constituinte ilimitado e incondicionado continua em suas mãos. Trata-se da 
supremacia do Parlamento e, não, da Constituição. 
 
Assim, já não resta mais nenhuma dúvida de que a rigidez constitucional e a 
supremacia da Constituição são pressupostos do controle de constitucionalidade, da 
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mesma forma que o controle de constitucionalidade feito por um órgão 
onstitucionalmente competente é premissa para uma Constituição rígida e suprema. 
 
Não existirá controle de constitucionalidade se não houver uma Constituição rígida e 
com supremacia, da mesma forma que não haverá supremacia constitucional e nem 
Constituição rígida se não houver controle de constitucionalidade. Além dessa 
conexão direta entre rigidez constitucional e supremacia da Constituição, é importante 
destacar, ainda, que o controle de constitucionalidade configura-se como garantia dos 
direitos fundamentais do cidadão comum, bem como da delimitação da fronteira de 
atuação do Estado a partir das limitações materiais, formais e circunstanciais ao Poder 
Constituinte Derivado (Reformador e Decorrente), perfazendo as características da 
vida democrática em um verdadeiro Estado de Direito. 
 
Em outros termos, pode-se afirmar que os conceitos de rigidez constitucional, 
supremacia da Constituição, limitações constitucionais ao Poder Constituinte Derivado 
Reformador estabelecidas pelo Poder Constituinte Originário (nítida distinção entre 
poder originário e poder derivado) e controle de constitucionalidade estão 
umbilicalmente interligados; formam um único corpo epistemológico. 
 
A figura a seguir sintetiza tais ideias. 
 
 
 
Assim sendo, o leitor haverá de concordar que os conceitos de rigidez constitucional, 
supremaciada Constituição, limitações constitucionais ao Poder Constituinte Derivado 
Reformador e controle de constitucionalidade, são mutuamente dependentes, sendo 
irrelevante determinar quem é pressuposto de quem. 
Como já se viu, sem um órgão controlador da constitucionalidade das leis não se pode 
falar em rigidez constitucional, supremacia da Constituição e distinção entre poder 
constituinte originário e derivado. Firme é a convicção de que a existência de um 
órgão constitucionalmente competente para exercer o controle de constitucionalidade 
é a condição de possibilidade da rigidez constitucional, da supremacia da Constituição 
e da distinção entre poder originário soberano e poder derivado limitado. 
 
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Com rigor, somente é correto falar em Estado Democrático de Direito se a supremacia 
da Constituição puder ser garantida por órgão competente (Poder Judiciário) com 
força de fiscalização sobre os atores responsáveis pela elaboração normativa ordinária 
(Poder Constituinte Derivado Reformador). Para que haja controle de 
constitucionalidade, é necessário que a Constituição determine qual é o órgão ou 
quais são os órgãos com legitimidade democrática para aferir possíveis violações à 
Constituição. Realmente, se não houver tal órgão próprio destinado a negar validade 
às leis atentatórias aos princípios e regras da Constituição, não há como resguardar 
sua superioridade perante as leis ordinárias. 
 
Em um verdadeiro Estado Democrático de Direito, devem existir meios de aferição da 
compatibilidade vertical dos atos estatais inferiores com a Constituição por órgão 
próprio destinado para esta finalidade, ou pelo Poder Judiciário, sendo que este último 
apresenta a vantagem de não participar da produção de leis. O legislador ordinário 
poderá modificar a seu talante as regras constitucionais, se não houver órgão 
destinado a resguardar a superioridade destas sobre as ordinárias. Mas ainda, órgão 
com força bastante para fazê-lo. Isto não quer dizer que é preciso prever 
expressamente a Constituição esse controle, para que ela seja de fato rígida. Basta 
que de seu sistema tal deflua. (FERREIRA FILHO, 2009, p. 34). O sistema das 
Constituições rígidas assenta numa distinção primacial entre poder constituinte e 
poderes constituídos. Disso resulta a superioridade da lei constitucional, obra do poder 
constituinte, sobre a lei ordinária, simples ato do poder constituído, um poder inferior, 
de competência limitada pela Constituição mesma. As Constituições rígidas, sendo 
Constituições em sentido formal, demandam um processo especial de revisão. 
(BONAVIDES, 2010, p. 296). 
 
Com efeito, de nada adiantaria a imposição de limites materiais ao Poder 
Constituinte Derivado Reformador, se Emendas Constitucionais violadoras de 
cláusulas pétreas não fossem declaradas inconstitucionais, por órgão 
constitucionalmente competente para tanto. Da mesma forma, de nada adiantariam as 
limitações formais, se os atos legiferantes dos Poderes Legislativo e Executivo 
desrespeitassem o processo legislativo constitucional e não fossem retirados do 
mundo jurídico. Finalmente, de nada adiantaria estabelecer limitações de ordem 
circunstancial, se Emendas Constitucionais fossem promulgadas durante uma 
Intervenção Federal, Estado de Defesa ou Estado de Sítio e, mesmo assim, 
continuassem a gerar efeitos no ordenamento jurídico. 
 
É de se concluir, portanto, que as limitações materiais, formais e circunstanciais que 
informam a rigidez e a supremacia constitucionais seriam inócuas se não existisse 
órgão constitucionalmente competente para realizar o controle de constitucionalidade 
das leis. Sem fiscalização por órgão independente, não há controle de 
constitucionalidade, sem controle de constitucionalidade, não há rigidez constitucional, 
não há distinção entre poder originário e derivado, não há supremacia da Constituição, 
não há efetiva separação de poderes e não há garantia dos direitos fundamentais. 
Logo, não há Estado Democrático de Direito. 
 
Uma vez examinadas as premissas do controle de constitucionalidade, é preciso agora 
estudar os diferentes tipos de inconstitucionalidade. 
 
A ideia de controle de constitucionalidade está ligada à Supremacia da Constituição 
sobre todo o ordenamento jurídico e, também, à de rigidez constitucional e proteção 
dos direitos fundamentais. 
 
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Ocupando a constituição a hierarquia do sistema normativo é nela que o legislador 
encontrará a forma de elaboração legislativa e o seu conteúdo. A ideia de intersecção 
entre controle de constitucionalidade e constituições rígidas é tamanha que o Estado 
onde inexistir o controle, a Constituição será flexível, por mais que a mesma se 
denomine rígida, pois o Poder Constituinte ilimitado estará em mãos do legislador 
ordinário. 
 
A supremacia constitucional adquiriu tamanha importância nos Estados Democráticos 
de Direito, que Cappelletti afirmou que o nascimento e expansão dos sistemas de 
justiça constitucional após a Segunda Guerra Mundial foi um dos fenômenos de maior 
relevância na evolução de inúmeros países europeus. A primordial finalidade de 
controle de constitucionalidade, qual seja, a proteção dos direitos fundamentais. 
 
O controle de constitucionalidade configura-se, portanto, como garantia de supremacia 
dos direitos e garantias fundamentais previstos na constituição que, além de 
configurarem limites ao poder do Estado, são também uma parte da legitimação do 
próprio Estado, determinando seus deveres e tornando possível o processo 
democrático em um Estado de Direito. 
 
CONCEITO 
 
Controlar a constitucionalidade significa verificar a adequação (compatibilidade) de 
uma lei ou de um ato normativo com a constituição, verificando seus requisitos formais 
e materiais. Somente as normas constitucionais positivadas podem ser utilizadas 
como paradigma para a análise da constitucionalidade de leis ou atos normativos 
estatais (bloco de constitucionalidade). 
 
BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
Em razão da pluralidade de acepções de constituição, a abrangência material do bloco 
de constitucionalidade pode variar conforme o significado atribuído. 
 
- Em sentido estrito, compreende a totalidade de normas constitucionais, 
expressas ou implícitas, constantes da constituição formal. Corresponde, 
portanto, ao conceito de parâmetro (ou "norma de referência") do controle de 
constitucionalidade. 
 
- Em sentido amplo abrange, além das normas formalmente constitucionais, as 
apenas materialmente constitucionais - e.g., normas de direitos humanos 
compreendidas no Pacto de São José da Costa Rica -, além de outras que, 
embora situadas abaixo da constituição, são "vocacionadas a desenvolver, em 
toda a sua plenitude, a eficácia dos postulados e dos preceitos inscritos na Lei 
Fundamental."1 
 
NATUREZA DA NORMA INCONSTITUCIONAL 
 
Primeira concepção: parte do pressuposto de que uma norma só existe, em termos 
jurídicos, quando pertence a um ordenamento jurídico vigente, ou seja, quando é 
reconhecida pelos órgãos primários ou quando sua edição está autorizada por outra 
norma pertencente ao sistema. As normas inconstitucionais, por não reunirem tais 
condições, devem ser consideradas como atos inexistentes. 
 
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Segunda concepção: adotada pelo sistema austríaco, situa-se no extremo oposto ao 
considerar a norma inconstitucional como ato anulável, ou seja, válido e eficaz 
enquanto não houver a decretação de inconstitucionalidade pelo tribunal 
constitucional. Sob essa óptica, a decisão judicial tem natureza constitutiva por anular 
(ou cassar) a norma, e não apenas declarar uma nulidade preexistente. 
 
Terceira concepção (clássica): adotada nos EUA e no Brasil, considera a norma 
inconstitucional como ato nulo. Nessa perspectiva, a inconstitucionalidade é vício 
insanável capaz de fulminar a norma desde a sua origem, tendo a decisão judicial 
natureza declaratória, ou seja, o órgão judicial apenas reconhece algo preexistente. 
 
FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADE 
 
No âmbito da teoria constitucional contemporânea,deve prevalecer como um dos 
grandes pilares de um verdadeiro Estado de Direito o princípio da separação de 
Poderes, que juntamente com o catálogo de direitos fundamentais do cidadão comum 
irão perfazer a essência do constitucionalismo democrático. Em consequência, o 
equilíbrio entre os três poderes e o respeito ao texto constitucional tornam-se o eixo 
central do Estado de Direito, sem o qual não haverá verdadeira sociedade democrática 
e plural. 
 
Portanto, quando um dos Poderes do Estado extrapola as fronteiras que lhe foram 
traçadas pela Constituição, cria as condições de possibilidade para os demais Poderes 
agir no sentido de restaurar a ordem constitucional. Isto significa dizer que existe uma 
série de atos que se caracterizam como inconstitucionais, devendo, pois, serem 
retirados do mundo jurídico. Um ato inconstitucional nada mais é do que a ação ou 
omissão que não se coaduna, total ou parcialmente, com o texto constitucional, seja 
formal, seja materialmente. É correto afirmar, portanto, que a inconstitucionalidade de 
uma lei ou ato normativo pode ser aferida a partir de diferentes critérios, como, por 
exemplo, quanto ao objeto (inconstitucionalidade material ou formal), quanto à conduta 
(inconstitucionalidade por ação/comissiva ou por omissão/omissiva), quanto à relação 
que mantém com a Constituição (inconstitucionalidade direta ou por derivação/reflexa); 
quanto ao tempo (inconstitucionalidade originária ou superveniente) e muitos outros. 
 
Portanto, não resta nenhuma dúvida de que a inconstitucionalidade de um 
determinado ato estatal poderá se manifestar de várias maneiras. Daí a importância de 
uma sistematização acerca de suas principais espécies. 
 
1. Quanto à norma constitucional ofendida ou quanto ao objeto: formal ou 
material 
 
A inconstitucionalidade quanto ao objeto pode ser decomposta em dois tipos, a saber: 
inconstitucionalidade material e a inconstitucionalidade formal. A figura a seguir 
sintetiza tal divisão. 
 
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A inconstitucionalidade material ocorre quando há violação ao conteúdo do texto 
constitucional, ou seja, quando uma norma fere, por exemplo, um princípio ou preceito 
constitucional ou um direito fundamental. Assim sendo, uma norma que, por exemplo, 
afronte o núcleo essencial do princípio da dignidade da pessoa humana seria 
materialmente inconstitucional. 
 
Observe, com atenção que a ofensa ao conteúdo da Constituição representa um vício 
insanável, vale dizer, essa norma sempre seria considerada inconstitucional, mesmo 
que tivesse cumprido rigorosamente todas as etapas formais do processo legislativo. 
O vício material de inconstitucionalidade pressupõe a violação de uma conduta 
imposta pela Constituição, ou seja, há um descompasso entre o conteúdo do ato 
público e a Constituição. Isto significa dizer que a inconstitucionalidade material da lei 
ou ato normativo surge com a discrepância entre o ato do legislador (em sua 
substância) e as regras e princípios constitucionais. 
 
Em termos simples, a inconstitucionalidade material, também denominada de 
inconstitucionalidade de conteúdo ou substancial, está relacionada à "matéria" do texto 
constitucional, ao seu conteúdo jurídico-axiológico. No dizer do Min. Barroso: A 
inconstitucionalidade material expressa uma incompatibilidade de conteúdo, 
substantiva entre a lei ou ato normativo e a Constituição. Pode traduzir-se no confronto 
com uma regra constitucional - e.g., a fixação da remuneração de uma categoria de 
servidores públicos acima do limite constitucional (art. 37, XI) - ou com um princípio 
constitucional, como no caso de lei que restrinja ilegitimamente a participação de 
candidatos em concurso público, em razão do sexo ou idade (arts. 5º, caput, e 3º, IV), 
em desarmonia com o mandamento da isonomia. O controle material de 
constitucionalidade pode ter como parâmetro todas as categorias de normas 
constitucionais: de organização, definidoras de direitos e programáticas. (BARROSO, 
2009, p. 29) 
 
Em síntese, a inconstitucionalidade material, diferentemente da formal, diz respeito ao 
mérito conteudístico da Carta Ápice, não podendo, por via de consequência, ser 
sanada. Nesse sentido, a inconstitucionalidade material envolve a aferição do desvio 
de poder ou do excesso de poder legislativo a partir da aplicação do princípio da 
proporcionalidade e seus subprincípios da adequação e necessidade. 
 
O vício de inconstitucionalidade substancial por violação ao subprincípio da 
adequação ocorre quando se constata a incompatibilidade da lei com os fins 
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constitucionalmente previstos. Já a inconstitucionalidade substancial por violação ao 
subprincípio da necessidade ocorre quando a lei impugnada não é aquela que traz a 
menor restrição ao outro direito constitucional em colisão. 
 
Já a inconstitucionalidade formal pressupõe a violação das normas do devido 
processo legislativo (seja um vício de iniciativa, seja outro vício qualquer do curso 
normal de feitura da norma), bem como a violação das normas determinantes do 
sistema constitucional de repartição de competências. 
 
Observe, com atenção, que a institucionalidade formal se configura quando uma regra 
qualquer do devido processo legislativo deixa de ser observado, seja um vício de 
iniciativa, como, por exemplo, os projetos de iniciativa privativa do Presidente da 
República, seja um quórum qualificado que deixa de ser cumprido, como, por exemplo, 
a maioria absoluta para um projeto de lei complementar. Quando o vício de 
inconstitucionalidade é relativo à violação do sistema constitucional de repartição de 
competências, temos a chamada inconstitucionalidade formal orgânica. Assim, 
observe que a inconstitucionalidade formal orgânica é apenas uma espécie do gênero 
inconstitucionalidade formal. Sua caracterização ocorre quando um ente federativo 
legisla na competência de outro. Como exemplos de inconstitucionalidade formal 
orgânica, podemos citar uma lei federal que regula o tempo de espera em filas de 
banco em determinado município, ou, então, lei estadual que legisla sobre direito 
penal sem autorização de lei complementar federal. 
 
Além da inconstitucionalidade formal orgânica atrelada ao vício de competência dos 
entes federativos, existem ainda duas outras modalidades de inconstitucionalidade 
formal propriamente dita e que são: 
 
a) a inconstitucionalidade formal subjetiva (vício de iniciativa no processo 
legislativo); 
b) a inconstitucionalidade formal objetiva (qualquer outro vício do processo 
legislativo, exceto o vício de iniciativa). 
 
- Inconstitucionalidade formal (ou nomodinâmica) ocorre quando há violação de norma 
constitucional definidora de formalidades ou procedimentos relacionados à elaboração 
de atos normativos. Subdivide-se em três subespécies. 
 
- inconstitucionalidade formal propriamente dita procede da violação de norma 
constitucional referente ao processo Legislativo. Pode ser: 
- subjetiva, no caso de Leis e atos emanados de autoridades 
incompetentes; ou, 
- objetiva, quando Leis ou atos normativos são elaborados em 
desacordo com as regras procedimentais; 
 
- inconstitucionalidade formal orgânica resulta da violação de norma 
constitucional definidora do órgão competente para tratar da matéria. 
 
- inconstitucionalidade formal por violação a pressupostos objetivos decorre da 
inobservância de requisitos constitucionalmente previstos para a elaboração de 
determinados atos normativos como, por exemplo, a relevância e urgência 
exigidas para edição de medidas provisórias (CF, art. 62). 
 
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- Inconstitucionalidade material (ou nomoestática) ocorre quando o conteúdo de Leis 
ou atos normativos contraria normas constitucionais de fundo, como as definidoras de 
direitos ou deveres. 
 
Finalmente, é importante destacar que a Súmula número cinco não mais vigora, pois, 
o atual entendimento do STF é no sentido de que a sanção do Presidente da 
República não sana o vício de iniciativa, isto é, o fato de o Chefe do Poder Executivo 
ter sancionado uma leicuja iniciativa legislativa era sua, não livra tal ato de ser 
declarado inconstitucional por vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal 
subjetiva). 
 
2. Quanto ao tipo de conduta 
 
A inconstitucionalidade quanto à conduta pode ser decomposta em dois tipos, a saber: 
inconstitucionalidade por ação (comissiva) e a inconstitucionalidade por omissão 
(omissiva). 
 
A inconstitucionalidade por ação surge quando uma lei ou ato normativo viola o texto 
constitucional, extrapolando os limites jurídicos impostos por ela. Portanto, a 
inconstitucionalidade por ação pressupõe um ato positivo contrário à Constituição. Ou 
seja, diferentemente da inconstitucionalidade por omissão que pressupõe uma inação 
estatal relativa a um dever constitucional de legislar, a inconstitucionalidade por ação é 
aquela que nasce com uma ação positiva do Estado, que por algum motivo afronta a 
Constituição. 
 
Em linhas gerais, a inconstitucionalidade por ação tem um campo de atuação que 
projeta a imagem de atos estatais reais incompatíveis com a Carta Ápice, não 
importando a caracterização dessa violação, seja relativa à forma ou conteúdo. O que 
importa aqui ressaltar é que esse tipo de inconstitucionalidade requer uma conduta ou 
ação positiva do Estado-legislador, cujo conteúdo ou forma são incompatíveis com a 
ordem constitucional. 
 
Já a inconstitucionalidade por omissão será configurada quando o Estado deixar de 
agir positivamente diante de um comando constitucional. A omissão inconstitucional, 
seja do legislador/administrador democrático, seja do juiz contramajoritário, pressupõe 
um “não fazer” do Estado, que neutraliza a eficácia positiva ou simétrica da norma 
constitucional em tela. 
 
Com rigor, somente pode ser objeto de uma declaração de inconstitucionalidade por 
omissão, um não fazer do Estado relativo a uma norma de eficácia limitada, na medida 
em que tais normas têm sua efetividade ou eficácia social atrelada a uma ação 
legiferante superveniente do legislador democrático. Nesse sentido, a jurisprudência 
consolidada do Supremo Tribunal Federal entende que a inconstitucionalidade por 
omissão somente se caracteriza quando o “não fazer estatal” deixa de regulamentar 
normas constitucionais de eficácia limitada, exatamente porque são as únicas cuja 
aplicabilidade depende da intervenção legislativa superveniente do legislador. (STF, 
Pleno, ADO n. 297, julgamento em 25/04/96, rel. Min. Octávio Gallotti) 
 
Observe que as normas de eficácia plena e as normas de eficácia contida, cuja 
característica em comum é a entrada no mundo jurídico com aplicabilidade direta e 
imediata, vale explicitar, a entrada no mundo jurídico com eficácia positiva ou 
simétrica, não são suscetíveis de gerar a declaração de inconstitucionalidade por 
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omissão. Em termos simples, contra normas de eficácia plena ou normas de eficácia 
contida, não cabe a declaração de inconstitucionalidade por omissão. 
 
Além disso, a doutrina costuma também classificar a inconstitucionalidade por omissão 
em dois subtipos, a saber: a omissão total ou omissão parcial. Na omissão total ou 
absoluta, o non facere do Estado atinge por completo o mandamento constitucional, 
que deixa de ser cumprido integralmente. Ou seja, não existe nenhuma norma 
regulamentadora do dispositivo constitucional em apreço. 
 
Já a inconstitucionalidade por omissão parcial ocorre quando houver o 
descumprimento parcial da norma constitucional, vale dizer, quando a lei 
regulamentadora até existe, porém regula de modo deficiente ou insuficiente a norma 
de eficácia limitada paradigma do controle. 
 
Nesse sentido, é importante destacar que o STF já reconheceu a inconstitucionalidade 
por omissão parcial no caso da lei que regulamentou o salário mínimo (artigo 7°, IV, da 
CRFB/88). Entendeu a Corte Suprema Constituição que a lei fixou o salário mínimo 
em condições insatisfatórias em relação ao determinado no mandamento 
constitucional. 
 
Salário Mínimo. Valor Insuficiente. Situação de Inconstitucionalidade por 
Omissão Parcial. A insuficiência do valor correspondente ao salário mínimo, 
definido em importância que se revele incapaz de atender às necessidades 
vitais básicas do trabalhador e dos membros de sua família, configura um claro 
descumprimento, ainda que parcial, da Constituição da República, pois o 
legislador, em tal hipótese, longe de atuar como o sujeito concretizante do 
postulado constitucional que garante à classe trabalhadora um piso geral de 
remuneração (CF, art. 7º, IV), estará realizando, de modo imperfeito, o 
programa social assumido pelo Estado na ordem jurídica. (...) As situações 
configuradoras de omissão inconstitucional – ainda que se cuide de omissão 
parcial, derivada da insuficiente concretização, pelo Poder Público, do 
conteúdo material da norma impositiva fundada na Carta Política, de que é 
destinatário – refletem comportamento estatal que deve ser repelido, pois a 
inércia do Estado qualifica-se, perigosamente, como um dos processos 
informais de mudança da Constituição, expondo-se, por isso mesmo, à censura 
do Poder Judiciário. (STF, Ação Direta de Inconstitucionalidade – Medida 
Cautelar n. 1.458, julgada em 23/05/96). Mas o que significa dizer que a lei 
regula de modo deficiente, imperfeito ou insuficiente? A não observância do 
princípio da isonomia pode ser enquadrada como uma regulamentação 
deficiente, imperfeita ou insuficiente? 
 
Significa dizer que a regulamentação de modo deficiente, imperfeito ou insuficiente 
não viabiliza o pleno gozo dos efeitos pretendidos pela norma constitucional de 
eficácia limitada. Portanto, a resposta ao segundo questionamento é afirmativa, ou 
seja, a omissão parcial também estará caracterizada quando a lei existente violar o 
princípio da isonomia, não permitindo que a regulamentação integral seja aproveitada 
por todos os beneficiários possíveis. 
 
Em outros termos, a regulamentação será deficiente, imperfeita ou insuficiente, por 
exemplo, quando determinada lei regulamentadora conceder benefícios apenas a 
determinado grupo, não incluindo outros. Nesse sentido, a exclusão implícita de 
benefícios, embora não tenha sido positivada pela lei que outorga benefícios a certo 
grupo, caracteriza também a regulação deficiente, imperfeita ou insuficiente, na 
12 
medida em que exclui sua aplicação a outros segmentos. Em suma, é a própria Lei nº 
13.300/16 (Lei que disciplina o processo e o julgamento dos mandados de injunção 
individual e coletivo) que, inovando a ordem jurídica, faz referência direta à expressão 
“falta total ou parcial de norma regulamentadora”, expressão esta que não se encontra 
positivada na Constituição de 1988. Portanto, agora, a figura jurídica do Mandado de 
Injunção também é instrumento hábil para combater a omissão parcial, vale repetir, 
situações em que, apesar da existência de regulamentação, esta for insuficiente, nos 
termos do art. 2º, caput, e parágrafo único da referida lei. (GÓES & MELLO, 2016, p. 
101). 
 
Art. 2º da Lei nº 13.300/16. Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a 
falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos 
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à 
nacionalidade, à soberania e à cidadania. 
Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem 
insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente. 
 
Em síntese, resta indubitável que o reconhecimento da existência de omissão parcial 
representa um grande avanço no combate à síndrome de inefetividade das normas 
constitucionais de eficácia limitada. A figura jurídica do Mandado de Injunção é 
vocacionada para suprimir omissões normativas do legislador democrático, que 
tenham latitude para esvaziar completamente direitos e liberdades dos cidadãos, como 
no caso das normas constitucionais de eficácia limitada, em que a garantia de sua 
eficácia positiva ou simétrica fica dependente, necessariamente, de lei 
regulamentadora ulterior. Com isso, o direito que é garantidopela Constituição fica 
sem ser exercido porque condicionado à edição normativa superveniente. Eis aqui a 
importância do Mandado de Injunção: combater a síndrome de inefetividade das 
normas constitucionais de eficácia limitada a partir da concretização do direito faltante 
no caso concreto. 
 
- Inconstitucionalidade por ação: decorre de condutas comissivas (facere) contrárias 
a preceitos constitucionais. Verifica-se, portanto, quando os poderes públicos agem ou 
editam normas em desacordo com a constituição. 
 
- Inconstitucionalidade por omissão: ocorre quando não adotadas (non facere ou 
non praestare), ou adotadas de modo insuficiente, medidas legislativas ou executivas 
necessárias (conduta negativa) para tornar plenamente aplicáveis normas 
constitucionais carentes de intermediação. Quando o parlamento se abstém de 
cumprir, total ou parcialmente, o dever de legislar. 
 
Estado de coisas inconstitucional: O termo "estado de coisas 
inconstitudonal", indica lesões decorrentes de ações e omissões dos poderes 
da União, dos Estados e do Distrito Federal. Tem como pressupostos centrais: 
 
- pressuposto fático consiste na ocorrência de violação generalizada e 
sistêmica de direitos fundamentais a afetar um número elevado, e 
indeterminado de pessoas. A atuação judicial, nesse ambiente, se 
voltada a assegurar o direito apenas de determinados indivíduos ou 
grupos implicaria em proteção deficiente dos direitos fundamentais na 
sua dimensão objetiva. 
 
13 
- pressuposto político é a constatação da existência de reiteradas 
condutas comissivas e omissivas, por parte das autoridades públicas, 
tendentes a perpetuar ou agravar o quadro de inconstitucionalidade. 
 
- pressuposto jurídico refere-se às medidas necessárias à superação 
de tais violações. A correção do mau funcionamento sistêmico do 
Estado depende da atuação conjunta das autoridades no sentido de 
aprimorar as políticas públicas existentes, realocar recursos 
orçamentários e reajustar os arranjos institucionais. Tais providências 
consistem em determinações judiciais voltadas ao redimensionamento 
dos ciclos de formulação, implementação e avaliação de políticas 
públicas, a fim de viabilizar melhor coordenação estrutural. Deve ser 
assegurada uma margem de ação constitucionalmente adequada, não 
podendo o Judiciário substituir o Legislativo e o Executivo na 
implementação de tarefas que Lhes são próprias. 
 
3. Quanto à extensão 
 
- inconstitucionalidade total atinge a Lei, o ato normativo ou o dispositivo em sua 
integralidade, não restando partes válidas a serem aplicadas; 
 
- inconstitucionalidade parcial ocorre quando os poderes públicos deixam de adotar 
medidas suficientemente adequadas para tornar efetiva normas constitucionais 
(omissão parcial) ou quando apenas parte da Lei ou do dispositivo Legal afronta a 
constituição. 
 
4. Quanto ao momento 
 
- inconstitucionalidade originária ocorre quando a criação da norma-objeto contida 
na lei ou no ato normativo é posterior à norma-parâmetro ofendida. Nessa hipótese, a 
norma infraconstitucional possui vício de origem, independente do momento a partir do 
qual a declaração de inconstitucionalidade começa a produzir efeitos ("modulação dos 
efeitos temporais da decisão"). 
 
- inconstitucionalidade superveniente a norma-objeto é anterior à norma-parâmetro 
e, embora originariamente constitucional, torna-se posteriormente incompatível. Na 
jurisprudência do Supremo, essa relação é categorizada como não recepção (ou 
revogação), 5 seja a mudança decorrente de emenda ou do surgimento de nova 
constituição. 
 
5. Quanto ao prisma de apuração 
 
A inconstitucionalidade quanto à relação que mantém com a Constituição pode ser 
classificada em duas categorias, a saber: inconstitucionalidade direta e 
inconstitucionalidade indireta, também chamada de inconstitucionalidade por 
derivação ou inconstitucionalidade reflexa. Para compreender melhor esses dois tipos 
de inconstitucionalidade, é importante examinar os conceitos de atos primários e atos 
secundários, dentro da pirâmide normativa de Hans Kelsen. 
 
A figura a seguir mostra tal pirâmide de modo detalhado. 
 
14 
 
 
Observe, com atenção, pela pirâmide hierárquica (verticalidade fundamentadora 
kelseniana), que existe uma linha vertical de hierarquia, na qual uma norma constitui o 
fundamento de validade de outra. Ou seja, uma norma encontra fundamento naquela 
outra que lhe é imediatamente superior. 
Assim, os atos secundários (decretos regulamentadores de leis, ordens de serviço e 
portarias de Ministérios e Secretarias dos Estados, resoluções do Banco Central etc.) 
encontram seu fundamento de validade no âmbito normativo dos atos primários, que, 
por sua vez, se subordinam diretamente à Constituição, norma superior, ocupando o 
vértice da pirâmide hierárquica. 
 
Pela figura, fácil é perceber que os atos normativos primários (leis complementares, 
leis ordinárias, medidas provisórias, leis delegadas, decretos legislativos, resoluções 
do poder legislativo, decretos autônomos do Presidente da República, tratados 
internacionais que não versem sobre direitos humanos, regimentos Internos dos 
tribunais, resoluções do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do 
Ministério Público) retiram seus fundamentos diretamente da Constituição. 
 
Tais atos primários são considerados atos normativos dotados de autonomia 
nomológica, isto é, são atos normativamente autônomos, na medida em que, na 
pirâmide kelseniana, estão localizados imediatamente abaixo da Constituição. Ou seja, 
o fundamento direto e imediato de validade desses atos primários é a própria Carta 
Magna. É nesse sentido que parte da doutrina entende que a Constituição atua como 
fundamento de validade, engate lógico, enfim razão de ser dos atos primários. Em 
termos figurados, os atos primários bebem diretamente na norma superior 
constitucional, sua nascente e fonte geradora. 
 
Os atos normativos primários possuem força normativa capaz de criar, 
modificar ou revogar relações jurídicas, desde que observadas as diretrizes 
constitucionais. São atos com autonomia monológica que se caracterizam por 
possuir aptidão normativa capaz de inovar a ordem jurídica como um todo. 
Podem, portanto, alterar o universo normativo-político do Estado, gerando 
direitos e deveres em nível infraconstitucional. O mesmo não acontece com os 
secundários, que podem, no máximo, regular a aplicação desses direitos e 
15 
deveres, mas, nunca, determinar sua criação, modificação ou revogação no 
mundo jurídico. 
 
Assim sendo, fácil é perceber que os atos secundários, também denominados atos 
infralegais ou atos não-primários, estão localizados em patamar inferior aos atos 
primários, que lhes servem de nascente e engate lógico. Ou seja, os atos normativos 
secundários encontram como fundamento direto de validade os atos normativos 
infraconstitucionais, não havendo, portanto, nenhum vínculo direto com a Constituição. 
Tais atos estão direta e materialmente atrelados aos atos primários e não à 
Constituição, ou seja, para os atos infralegais, a Constituição aparece apenas como 
fundamento indireto, reflexo. 
 
É por isso que surge a classificação de inconstitucionalidade direta e indireta/ 
reflexa/indireta, ou seja, a inconstitucionalidade direta caracteriza a violação da 
Constituição por intermédio de um ato primário, enquanto a inconstitucionalidade 
indireta ocorre quando uma norma secundária viola indiretamente a Constituição. Na 
primeira modalidade, a norma primária viola a Constituição sem intermediação de 
qualquer outro ato ou veículo normativo. Há, portanto uma relação direta com a 
Constituição. É o caso, por exemplo, de lei estadual criando tipo penal, ou, então, 
medida provisória versando sobre direitos políticos. A afronta dessas espécies 
normativas é direta à Constituição (art. 22, I, a / art. 62, § 1º, I, a, ambos da CRFB/88). 
 
Diferente é a inconstitucionalidade indireta como, por exemplo, na hipótese de um 
decreto editado pelo Presidenteda República para regulamentar uma determinada lei 
infraconstitucional e feito de forma incompatível com a Constituição. 
Observe, com atenção, que nessa hipótese, o controle não é de constitucionalidade e, 
sim, controle de ilegalidade. O decreto regulamentador de lei não violou diretamente a 
Constituição. 
 
Assim sendo, é correto afirmar que o direito brasileiro não admite a existência de uma 
inconstitucionalidade por derivação, indireta, derivada, mediata, uma vez que a norma 
fundamentadora não é a Constituição, mas, sim, a lei infraconstitucional sendo 
regulamentada. É por isso que o conflito das normas infralegais com a Constituição 
caracteriza o vício de ilegalidade, que, em última instância, equivale à 
inconstitucionalidade indireta, reflexa ou oblíqua. 
 
Em linhas gerais, pode-se afirmar que a inconstitucionalidade indireta ou por derivação 
não deixa de representar uma violação de norma jurídica por ato de poder, porém não 
se confunde com a inconstitucionalidade direta, exatamente pela dignidade normativa 
do preceito violado, qual seja uma norma de dignidade normativa infraconstitucional. 
No Brasil, jurisprudência e doutrina não admitem a inconstitucionalidade indireta, 
reflexa, oblíqua, mediata ou por derivação, na medida em que o conceito de 
inconstitucionalidade fica restrito à inconstitucionalidade direta, deixando-se a 
inconstitucionalidade indireta o campo da ilegalidade. 
 
A figura a seguir, retirada da obra “Controle de Constitucionalidade” dos autores 
Guilherme Sandoval Góes e Cleyson de Moraes Mello, mostra com precisão a 
diferença entre controle de constitucionalidade e controle de legalidade. 
16 
 
 
Com a devida sensibilidade acadêmica, o leitor haverá de compreender que os 
conceitos de “inconstitucionalidade” e “ilegalidade” não se confundem. Com 
efeito, o controle que incide sobre atos infralegais (atos normativos secundários 
que retiram sua fonte de validade diretamente das leis infraconstitucionais) não 
é propriamente de constitucionalidade, mas sim de legalidade. (GÓES & 
MELLO, 2016, p. 85) 
 
Em conclusão, de tudo se vê, portanto, que o controle de legalidade é feito contra atos 
secundários ou infralegais e transita no campo do direito administrativo, enquanto que 
o controle de constitucionalidade é feito contra atos primários e milita no campo do 
direito constitucional. Uma vez examinada a diferença conceitual entre controle de 
constitucionalidade e controle de legalidade, é importante agora examinar as espécies 
do controle de constitucionalidade no âmbito do direito constitucional brasileiro. 
 
- inconstitucionalidade direta (imediata ou antecedente) resulta da violação frontal à 
constituição, ante a inexistência de ato normativo situado entre a norma-objeto e o 
parâmetro ofendido. 
 
- inconstitucionalidade indireta (ou mediato) ocorre quando da presença de norma 
interposta entre o objeto e o dispositivo constitucional. 
 
Quadro: formas de inconstitucionalidade 
 
Quanto ao tipo 
de conduta 
Ação 
Omissão 
Estado de coisas inconstitucional 
Quanto à 
norma ofendida 
Formal (normodinâmica) Propriamente dita Subjetiva e Objetiva 
Material (normoestática) Orgânica 
Por violação e pressupostos 
objetivos 
Quanto à 
extensao 
Total 
Parcial 
Quanto ao 
momento 
Originária 
Superveniente 
(não recepção/revogação) 
Quanto ao 
prisma de 
apuração 
Direta (imediata ou antecedente) 
Indireta (mediata) Consequente 
Reflexiva (oblíqua) 
 
FORMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
17 
 
O primeiro ponto a ser destacado deve ser o fato de que o sistema de controle de 
constitucionalidade das leis pode ser classificado segundo três grandes critérios, a 
saber: 
 
a) Quanto ao momento de realização do controle: controle preventivo ou repressivo; 
b) Quanto à natureza do órgão de controle: controle político ou judicial; 
c) Quanto ao órgão judicial que exerce o controle: controle difuso ou concentrado. 
 
O sistema brasileiro adotou diferentes modelos estrangeiros de controle de 
constitucionalidade, bem como criou diversas ações genuinamente brasileiras, que 
foram sendo concebidas após a redemocratização do País a partir da promulgação da 
Constituição de 1988. Com isso, temos um dos sistemas mais complexos do mundo, 
que engloba tanto o modelo repressivo quanto o modelo preventivo. O primeiro é uma 
espécie de controle que é feito após a norma entrar no mundo jurídico, já o segundo é 
o controle que é feito durante as fases de elaboração da norma, isto é, a norma ainda 
se encontra em fase de elaboração (projeto), mas já é objeto de controle de 
constitucionalidade. 
 
Da mesma forma, quanto à natureza do órgão de controle, o sistema brasileiro adotou 
tanto o controle político feito pelos Poderes Legislativo e Executivo, quanto o controle 
judicial feito pelo Poder Judiciário em determinada ação judicial. Finalmente, com 
relação ao critério relativo ao órgão judicial que exerce o controle, nosso sistema optou 
pelos dois modelos existentes, quais sejam, o sistema norte-americano do Judicial 
Review (controle difuso) e o sistema kelseniano -austríaco (controle concentrado). 
 
O sistema difuso norte-americano, também denominado de Judicial Review, é um 
sistema que se caracteriza pelo controle de constitucionalidade feito por qualquer um 
dos órgãos do Poder Judiciário (daí a designação de controle difuso) a partir de um 
determinado caso concreto (daí a designação de controle concreto ou subjetivo), 
tendo-se a questão de inconstitucionalidade como uma questão incidental (daí a 
designação de controle incidental). Portanto, o Judicial Review norte-americano 
projeta, a um só tempo, a ideia de controle difuso, concreto e incidental. 
 
Já o sistema concentrado, também denominado de sistema kelseniano-austríaco, é 
um sistema que se caracteriza pelo controle de constitucionalidade feito por apenas 
um órgão de cúpula do Poder Judiciário (daí a designação de controle concentrado no 
Tribunal Constitucional) sem depender de nenhum caso concreto (daí a designação de 
controle abstrato ou objetivo), tendo-se a questão de inconstitucionalidade como uma 
questão principal da ação (daí a designação de controle principal). Portanto, o sistema 
kelseniano-austríaco projeta, a um só tempo, a ideia de controle concentrado, abstrato 
e principal. Além disso, como bem destacam os professores Guilherme Sandoval 
Góes e Cleyson de Moraes Mello: Resta indubitável, portanto, os fatores que permitem 
afirmar que o Brasil ostenta o mais perfeito sistema de controle de constitucionalidade 
do mundo, sem rival em perspectiva comparada com o direito de outros Estados 
nacionais. Sem nenhuma dúvida, existem diversos mecanismos, situações, 
oportunidades e instrumentos de controle de constitucionalidade que só se encontram 
no Brasil, não se tendo notícia de similares no resto do mundo. O quadro a seguir 
mostra, em visão panorâmica, as diferentes modalidades de controle de 
constitucionalidade do nosso sistema. (GÓES & MELLO, 2016, p. 126/127) 
 
QUANTO AO MOMENTO DA 
REALIZAÇÃO DO 
CONTROLE 
Controle Preventivo: feito antes da 
norma entrear no mundo jurídico 
Controle repressivo: feito depois da 
norma entrar no mundo jurídico 
18 
 
QUANTO À NATUREZA DO 
ÓRGÃO CONTROLADOR 
 
Controle Político: feito pelos Poderes 
legislativo e executivo 
Controle Judicial ou jurídico: feito pelo 
Poder judiciário 
QUANTO AO ÓRGÃO 
JUDICIAL QUE EXERCE O 
CONTROLE 
 
Controle difuso: feito por qualquer 
órgão do judiciário 
Controle concentrado: feito 
exclusivamente peso STF 
QUANTO À FORMA DE 
CONTROLE JUDICIAL 
 
Controle por via incidental: feito a 
partir de um caso concreto 
Controle por via principal: feito de 
forma abstrata de lei ou ato normativo 
em tese 
 
Uma vez examinados os principais critérios e modelos de controle de 
constitucionalidade, você deve agora estudar, com maiores detalhes, o complexo 
sistema brasileiro, valendo, pois, começar com o controle preventivo de 
constitucionalidade, seja o controle político,seja o controle judicial. 
 
1. Quanto ao momento 
 
CONTROLE PREVENTIVO 
 
Tem como objeto leis ou atos normativos em formação. Pode ser exercido pelo: 
- Poder Legislativo: 
- em regra, pelas comissões de constituição e justiça, sem prejuízo de 
seu exercício pelo plenário das casas; 
- Outra possibilidade é no caso de delegação atípica, quando o 
Congresso aprecia o projeto de lei delegada elaborada pelo Presidente 
da República (CF, art. 68, § 3. º). 
 
- Poder Executivo: O Chefe do Executivo pode exercer o controle, de forma 
preventiva, opondo o veto jurídico a projeto de lei Considerado inconstitucional 
(art. 66, §1). 
 
- Poder Judiciário: ocorre excepcionalmente, nos casos de impetração de 
mandado de segurança por parlamentar (e apenas eles, nunca terceiros 
estranhos à atividade parlamentar) quando violadas as regras do processo 
legislativo. No caso de perda superveniente do mandato pelo impetrante, o 
mandado de segurança deve ser extinto por ausência superveniente de 
legitimidade ativa ad causam. 
 
Como já visto, o sistema brasileiro de controle de constitucionalidade, quanto ao 
momento de sua realização, pode ser classificado como preventivo ou repressivo. O 
controle será preventivo quando a tarefa de aferição de compatibilidade vertical 
Constituição-ato normativo for desempenhada durante o processo de elaboração do 
respectivo ato normativo, ou seja, antes mesmo de ele adentrar ao mundo jurídico. 
 
 Você pode verificar facilmente que tal tipo de controle incide, portanto, sobre projetos, 
sejam projetos de emenda constitucional (PEC), sejam projetos de lei (PL) ou qualquer 
outro ato normativo, passível de sofrer controle prévio ou preventivo. O fato é que, 
diferentemente das normas já formadas, cujo controle será repressivo, os projetos de 
emendas constitucionais e de leis ordinárias e complementares sofrerão controle 
preventivo, com o objetivo de impedir que atos normativos inconstitucionais entrem em 
vigor. 
 
Observe, com atenção, que o objetivo do controle preventivo ou prévio é evitar a 
publicação e promulgação de normas suscetíveis de serem declaradas 
19 
inconstitucionais. Portanto, a tarefa de fiscalização da constitucionalidade de projetos 
de emendas e leis é realizada ainda durante o processo de elaboração do ato 
legislativo correspectivo, isto é, antes mesmo de ele se completar; de adentrar ao 
mundo jurídico. Sua finalidade principal é evitar a entrada em vigor de um ato 
inconstitucional antes do término do devido processo constitucional legislativo. 
 
O controle preventivo é típico do direito francês, ou pelo menos, a França é o país 
mais citado por adotar tal tipo de controle. Com efeito, em França, o controle 
preventivo de constitucionalidade é feito exclusivamente pelo Conselho Constitucional, 
órgão encarregado de examinar previamente a constitucionalidade dos projetos de lei 
que tramitam no Parlamento, o que evidente faz com que o controle francês seja 
classificado como controle preventivo. 
 
O Conselho Constitucional é composto por nove Conselheiros escolhidos pelo 
Presidente da República e pelo Parlamento, tendo como membros natos os ex-
Presidentes. Com rigor, não é propriamente um órgão de jurisdição constitucional, na 
medida em que se manifesta previamente à promulgação das leis, em regra. Isto 
significa dizer por outras palavras que não há controle jurisdicional feito pelo Poder 
Judiciário, inabilitado que está para declarar a inconstitucionalidade das leis francesas. 
Nesse sentido, Luis Roberto Barroso mostra que: Embora o modelo francês seja 
frequentemente referido como o arquétipo do controle político de constitucionalidade 
das leis, afigura-se mais apropriada a designação de controle não judicial. É que, no 
fundo, é o fato de não integrar o Poder Judiciário e de não exercer função jurisdicional 
o que mais notadamente singulariza o Conseil Constitutionnel – junto com o caráter 
prévio de sua atuação. (BARROSO, 2009, p. 43) 
 
De tudo se vê, portanto, que o Conselho Constitucional francês, nos termos do artigo 
62 da Constituição de 1958, é o órgão responsável pelo controle preventivo de 
constitucionalidade, não podendo nenhuma lei ser promulgada nem posta em vigor se 
for declarada inconstitucional por ele. Em termos simples, o Conselho Constitucional 
afere previamente as propostas legislativas com o objetivo de verificar se existe 
alguma inconstitucionalidade. 
 
Entretanto, essa ideia de exclusividade do controle preventivo está sendo desfeita a 
partir do artigo 61-1 da Constituição de 1958 que autoriza o Conselho Constitucional a 
realizar o controle repressivo de determinada lei que “atente contra os direitos e 
liberdades que a Constituição garante”, desde que os pedidos de inconstitucionalidade 
sejam feitos pelo Conselho de Estado ou pela Corte de Cassação. 
 
Outro ponto importante a destacar é a ideia de que o controle preventivo ou prévio de 
constitucionalidade tanto pode ser exercido pelos Poderes Legislativo e Executivo, 
quanto pelo Poder Judiciário, daí sua divisão em duas modalidades distintas: controle 
preventivo político e controle preventivo judicial. 
 
Controle preventivo político 
 
Em linhas gerais, o controle preventivo político é aquele que é exercido pelos poderes 
do Estado encarregados das decisões de caráter político-democrático, legitimados 
pelo voto popular, ou seja, pelos Poderes Legislativo e Executivo. Trata-se, portanto, 
do controle preventivo político, que é feito durante o processo de criação de lei ou ato 
normativo, seja pelo Chefe do Poder Executivo, seja pelo Congresso nacional. A 
doutrina costuma destacar duas grandes modalidades desse tipo de controle, a saber: 
 
20 
a) controle preventivo político feito pelo Poder Legislativo a partir das Comissões de 
Constituição e Justiça (CCJ); 
b) controle preventivo político feito pelo Poder Executivo a partir do veto do Chefe do 
Poder Executivo. A figura a seguir sintetiza tal tipo de controle. 
 
 
 
Observe, com atenção, que o sistema constitucional brasileiro comporta duas 
hipóteses de controle preventivo político, nos moldes do sistema francês. A primeira 
hipótese surge com a atuação das Comissões Permanentes de Constituição, Justiça e 
Cidadania (CCJ), que tem sua base jurídica fincada no art. 58 da CRFB/88. Com 
efeito, durante o processo legislativo, a função da CCJ é avaliar previamente a 
compatibilidade dos projetos que serão apreciados pelo Plenário das respectivas 
Casas Legislativas, ou seja, julgam preliminarmente a constitucionalidade dos projetos 
que serão enviados para a sessão plenária do Parlamento, nos termos do Regimento 
Interno de cada uma das duas Casas Legislativas. 
 
Em termos gerais, cabe à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania analisar os 
aspectos constitucional, legal, jurídico, regimental e de técnica legislativa de projetos, 
emendas ou substitutivos sujeitos à apreciação do Plenário, bem como assunto de 
natureza jurídica ou constitucional que lhe seja submetido, em consulta, pelo 
Presidente da Casa Legislativa, pelo Plenário ou por outra Comissão, ou em razão de 
recurso previsto no próprio Regimento. 
 
Questão fundamental que surge é saber se o parecer dessas Comissões tem sempre 
força vinculante, ou seja, o que acontece quando a CCJ decide pela 
inconstitucionalidade de um projeto qualquer? A resposta é negativa. Com efeito, o 
parecer da CCJ não tem efeito vinculante, uma vez que tal parecer é suscetível de 
revisão pelo Plenário da Casa Legislativa. Assim, por exemplo, nos termos do art. 101, 
§§ 1º e 2º do Regimento Interno do Senado Federal, quando os projetos receberem 
pareceres contrários da CCJ, quanto ao mérito, serão tidos como rejeitados e 
arquivados definitivamente, salvo recurso de um décimo dos membros do Senado 
no sentido de sua tramitação. 
 
Além disso, tratando-se de inconstitucionalidade parcial, a Comissão poderá oferecer 
emenda corrigindo o vício. Trata-se da assim chamada Emenda Saneadora de 
Inconstitucionalidade. Em consequência, nãoobstante o parecer negativo da CCJ, 
seja do ponto de 
vista formal ou material, tal pronunciamento não tem força vinculante absoluta, 
podendo, assim, ser derrubado em certas situações. É exatamente por isso que parte 
21 
da doutrina (posição minoritária) entende que o parecer da CCJ não caracteriza 
realmente um controle preventivo político de constitucionalidade. 
 
Finalmente, é importante salientar que não existe controle preventivo político exercido 
pela CCJ nos projetos de medidas provisórias, resoluções dos tribunais e decretos 
autônomos do Chefe do Poder Executivo. Além do controle da CCJ, existe, também, 
uma segunda modalidade de controle preventivo político feito Poder Executivo e que é 
o veto do Presidente da República na elaboração das leis infraconstitucionais (leis 
complementares e leis ordinárias), conforme o art. 66, § 1º, da Constituição de 1988. 
 
Observe, com atenção, que o veto do Chefe do Poder Executivo, durante a criação da 
lei ou do ato normativo, caracteriza uma modalidade específica de controle preventivo 
político. Aqui, a atuação do Presidente da República e demais Chefes de Governo de 
âmbito estadual e municipal (Governador e Prefeito) no âmbito de controle preventivo 
político ocorre a partir do chamado veto jurídico. Somente o veto jurídico pode ser 
caracterizado como sendo um controle preventivo político, uma vez que é baseado na 
inconstitucionalidade do projeto de lei, total ou parcialmente. Ou seja, a compreensão 
de que um determinado projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo não se coaduna 
com o interesse público (veto político) não tem o condão de caracterizar controle de 
constitucionalidade, na medida em que não existe nenhuma incompatibilidade vertical 
com a Constituição. 
 
Trata-se de juízo estritamente político de conveniência e oportunidade. (BARROSO, 
2009, p. 68). Em consequência, a figura do veto político, que é oferecido em virtude de 
contrariar o interesse público, não viabiliza controle preventivo de constitucionalidade 
pelo Presidente da República. 
 
Diferentemente do que ocorre com a atuação das Comissões de Constituição, Justiça 
e Cidadania, a atuação do Presidente da República tem o condão de impedir que o 
projeto inconstitucional se converta em lei, não havendo, por isso, dúvidas quanto à 
caracterização do veto jurídico como modalidade de controle de constitucionalidade 
preventiva. No entanto, não há, por outro lado, nenhuma dúvida de que o veto do 
Presidente da República pode vir a ser derrubado pela maioria absoluta das Casas do 
Congresso Nacional, em sessão conjunta, nos termos do art. 67 da Constituição da 
República federativa do Brasil. 
 
Controle preventivo judicial 
 
Em regra, o controle preventivo no Brasil é político, ou seja, feito pelos Poderes 
Legislativo e/ou Executivo. Normalmente, não se atribui ao Poder Judiciário a 
competência para o exercício do controle preventivo de constitucionalidade. 
Entretanto, existe uma hipótese na qual o controle preventivo será jurisdicional e não 
político. Trata-se aqui de mandado de segurança impetrado por parlamentar em nome 
de seu direito líquido e certo de participar do devido processo legislativo. Ou seja, 
somente o parlamentar tem esse direito de participação em processo legislativo hígido, 
no qual as limitações constitucionais do poder constituinte derivado reformador serão 
observadas. 
 
Em consequência, toda vez que as limitações constitucionais (materiais, formais e 
circunstanciais) não forem observadas durante a execução de um projeto de lei ou ato 
normativo, surge para o parlamentar (deputado ou senador) a legitimidade ad causam 
para impetrar mandado de segurança. (GÓES & MELLO, 2016, p. 142). Ou seja, 
somente o parlamentar é legitimado para pleitear, mediante a impetração de mandado 
22 
de segurança em defesa de seu direito líquido e certo de participar do devido processo 
legislativo, o trancamento do processo legislativo que viole uma cláusula pétrea ou que 
deixe de observar as regras atinentes ao processo legislativo constitucional ou, ainda, 
que não cumpra as limitações de ordem circunstancial (proibição de aprovar emendas 
constitucionais durante uma intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio). 
Veja a questão a seguir. 
 
Na hipótese de apresentação de um projeto de emenda constitucional (PEC) que vise 
transformar o Brasil em um Estado Unitário, poderá determinado parlamentar impetrar 
mandado de segurança perante o STF solicitando a imediata interrupção da votação 
de tal PEC, arguindo violação de seu direito líquido e certo de participar do processo 
legislativo hígido? A resposta é afirmativa, pois, essa hipótese não caracterizaria uma 
questão “interna corporis” e, sim, violação de uma cláusula pétrea. Assim, é importante 
compreender que, muito embora ao Poder Judiciário, em geral, não se atribua 
competência para o exercício do controle preventivo de constitucionalidade, o direito 
brasileiro admite tal hipótese nos projetos de emenda à Constituição que vão de 
encontro às cláusulas pétreas. Nesse sentido, a jurisprudência do Supremo Tribunal 
Federal é firme no sentido de afirmar que os parlamentares estão legitimados para 
pleitear, mediante a impetração de mandado de segurança perante aquela Corte, o 
trancamento do processo legislativo nessas hipóteses, ou seja, deputados federais e 
senadores da República têm o direito público subjetivo de não deliberar sobre 
qualquer proposta de emenda tendente a abolir qualquer das cláusulas pétreas. 
 
 
 
Em suma, é correto afirmar que existem três modalidades de controle preventivo, duas 
do controle político (veto jurídico do Chefe do Poder Executivo e parecer negativo das 
Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania) e uma do controle judicial (Mandado 
de Segurança impetrado por Parlamentar perante o STF). Uma vez examinadas as 
espécies do controle preventivo, resta, agora, estudar as modalidades do controle 
repressivo ou posterior de constitucionalidade, cujo objetivo é retirar do ordenamento 
jurídico uma norma inconstitucional. 
 
CONTROLE REPRESSIVO (OU TÍPICO) 
23 
 
Tem por objeto leis e atos normativos já promulgados, editados e publicados. Pode ser 
exercido pelo: 
 
- Poder Legislativo: 
a) o Congresso pode: 
- sustar atos do Presidente da Repúb. que exorbitem os limites da 
delegação legislativa ou do poder regulamentar (art. 49, V). 
- rejeitar medidas provisórias: 
(I) por ausência dos requisitos objetivos de relevância e urgência 
(art. 62, §5); 
(II) por terem conteúdo incompatível com a Constituição ou por 
ela vedado (art. 62, §1); 
(III) por terem sido reeditadas na mesma sessão legislativa em 
que foram rejeitadas ou que tenham perdido sua eficácia por 
decurso de prazo (art. 62, §10). 
b) o Tribunal de Contas, órgão auxiliar do Legislativo, pode apreciar a 
constitucionalidade de leis e atos do Poder Público no exercício de suas 
atribuições (Súmula 347 /STF). 
 
- Pode Executivo: O Chefe do Poder Executivo pode negar cumprimento a leis 
e atos normativos considerados inconstitucionais. Para legitimar a negativa de 
cumprimento, de modo a evitar eventuais responsabilizações, deve justificá-la 
por escrito e dar publicidade ao ato. Tal prerrogativa é exclusiva do Chefe do 
Executivo, não sendo extensível a outras autoridades e órgãos. 
 
- Poder Judiciário: A competência para exercer o controle concentrado é 
reservada, quando o parâmetro violado for norma da constituição da República, 
ao Supremo Tribunal Federal; quando for norma da constituição estadual, aos 
tribunais de justiça. O controle difuso pode ser exercido por qualquer juiz ou 
tribunal, inclusive de ofício, dentro de suas respectivas competências. 
 
O controle repressivo também pode ser dividido em duas modalidades, quais sejam o 
controle repressivo político feito pelos Poderes Executivo e Legislativo e o Controle 
repressivo judicial feito pelo Poder Judiciário, seja em sede difusa, seja em sede 
abstrata. Vale, pois, iniciar, agora, o estudo docontrole repressivo político. 
 
Controle repressivo político 
 
O controle repressivo político é aquele que é exercido, depois de completo o processo 
de elaboração legislativa, pelos Poderes Executivo e Legislativo. Existem duas 
grandes modalidades desse controle, quais sejam: 
 
a) controle repressivo político feito pelo Poder Legislativo: exercido a partir de um 
Decreto Legislativo do Congresso Nacional que suspende a eficácia de um ato do 
Poder Executivo que tenha exorbitado de sua função regulamentar ou extrapolado os 
limites de delegação legislativa recebida, com amparo no art. 49, V, da CRFB/88; 
 
b) controle repressivo político feito pelo Poder Executivo: exercido a partir de um 
Decreto autônomo do Chefe do Poder Executivo, nas esferas federal, estadual e 
municipal, que suspende a aplicação de uma lei considerada inconstitucional, sob 
pena de crime de responsabilidade. 
 
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A primeira modalidade mostra que o Poder Legislativo exerce o controle repressivo 
político quando resolve suspender a eficácia de um ato normativo do Poder Executivo 
que tenha exorbitado de sua função regulamentar (Decreto Regulamentador de Lei) ou 
extrapolado os limites de delegação legislativa concedida (Lei Delegada), com amparo 
no art. 49, V, da CRFB/88. Observe que nesta modalidade de controle repressivo, um 
determinado ato normativo do Poder Executivo (Decreto Regulamentador de Lei ou Lei 
Delegada) está sendo privado de sua regular produção de efeitos pelo fato de ter 
invadido a esfera de competências do Poder Legislativo. 
 
A espécie normativa que susta os atos normativos do Poder Executivo (Decreto 
Regulamentador de Lei ou Lei Delegada) é um Decreto Legislativo do Congresso 
Nacional. Nesse sentido, a questão que se impõe, agora, é saber se tal Decreto 
Legislativo editado pelo Congresso Nacional pode ser objeto de uma Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI) perante o Supremo Tribunal Federal? A resposta deve ser 
afirmativa, na medida em que o Decreto Legislativo editado pelo Congresso Nacional é 
um ato normativo primário e federal, previsto no art. 59, VI, da CRFB/88, logo, ato 
passível de ser objeto de uma ADI. Em termos simples, cabe Ação Direta de 
Inconstitucionalidade de Decreto Legislativo que sustou um Decreto Regulamentador 
de Lei ou uma Lei Delegada do Chefe do Poder Executivo. 
 
Além desse caso, parte da doutrina também entende que fica caracterizado o controle 
repressivo político feito pelo Poder Legislativo quando o Congresso Nacional rejeita 
uma Medida Provisória em razão de algum vício de inconstitucionalidade, seja material 
ou formal. Com efeito, nos termos do art. 62, §5.º, da Constituição de 1988, o Poder 
Legislativo tem competência para proceder a rejeição de uma Medida Provisória no 
prazo de 60 dias, prorrogável uma única vez por mais 60 dias. 
 
Entretanto, aqui, o leitor deve observar, com atenção, que não há consenso na 
doutrina, com grandes dificuldades para a aceitação desta tese (que reconhece tal tipo 
de modalidade de controle repressivo político). Ou seja, há uma controvérsia acerca 
da classificação desse tipo de controle: seria controle preventivo ou repressivo. Parte 
da doutrina entende que: Neste último caso, contudo, não há consenso doutrinário, 
bem como existem também algumas dificuldades para se aceitar essa tese. Em 
primeiro lugar, tem-se dificuldade de se concluir que a rejeição se deu por motivo de 
inconstitucionalidade, especialmente porque as decisões legislativas, nestes casos, 
não vêm acompanhadas de fundamentação ou de motivação eminentemente políticas 
que são. Por outro lado, temos dúvidas em afirmar que essa seria uma hipótese de 
controle repressivo. Nesta perspectiva, interessa saber se o controle de 
constitucionalidade que incide sobre uma medida provisória seria preventivo ou 
repressivo. (GÓES & MELLO, 2016, p.146) 
 
Com isso, fica claro que o controle repressivo político comporta duas modalidades, 
que a figura a seguir ressalta com precisão. 
 
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Observe, com atenção, que o sistema constitucional brasileiro comporta duas 
hipóteses de controle preventivo político, nos moldes do tradicional sistema político 
francês. 
 
Controle repressivo judicial 
 
O controle judicial leva em consideração a natureza do órgão que exerce o controle e 
que no caso é o Poder Judiciário, daí a denominação de controle técnico como 
sinônimo de controle judicial, jurisdicional ou jurídico. Como toda decisão judicial, de 
caráter técnico, o ato de controle de constitucionalidade necessita de fundamentação 
jurídica, daí a ideia de que o sistema de controle de constitucionalidade judicial 
representa a chamada jurisdição constitucional. 
 
A questão que agora se impõe é saber se o ato judicial de controle de 
constitucionalidade é exclusivo do Supremo Tribunal Federal ou não?. Nesse mesmo 
sentido, é importante questionar quais são as duas modalidades do controle 
repressivo judicial? Em termos simples, a resposta à primeira pergunta é negativa, ou 
seja, o sistema brasileiro tanto admite o controle jurisdicional feito pelo Supremo 
Tribunal Federal quanto por qualquer outro órgão do Poder Judiciário com função 
jurisdicional. 
 
Ou seja, já respondendo o segundo questionamento, pode-se afirmar que o controle 
repressivo judicial tem duas modalidades, a saber: o controle difuso feito por qualquer 
juiz ou tribunal e o controle concentrado feito exclusivamente pelo Supremo Tribunal 
Federal. 
 
Em consequência, o controle judicial concentrado, também denominado controle 
abstrato ou principal, tem como característica marcante o fato de que cabe ao órgão 
de cúpula do Poder Judiciário a tarefa de controlar a constitucionalidade das leis num 
processo abstrato e cuja questão principal da ação é exatamente a declaração ou não 
de inconstitucionalidade dessas leis supostamente inconstitucionais. Observe, com 
atenção, que o controle concentrado de constitucionalidade fica restrito às hipóteses 
nas quais as ações serão propostas pelos legitimados do art. 103 da CRFB/88 e 
apresentadas diretamente ao órgão de cúpula do Poder Judiciário, isto é, o Supremo 
Tribunal Federal. Enquadram-se na modalidade de controle repressivo judicial 
concentrado, as seguintes ações: 
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a) ação direta de inconstitucionalidade (ADI); 
b) ação declaratória de constitucionalidade (ADC); 
c) arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF); 
d) ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO). 
 
Alguns autores ainda incluem a chamada ação direta interventiva (ADINT) como uma 
quinta modalidade de controle concentrado efetuado pelo STF. Já o controle 
repressivo judicial difuso de constitucionalidade das leis se caracteriza pela 
possibilidade de qualquer juiz ou tribunal aferir – de forma incidental - a questão da 
inconstitucionalidade a partir de um determinado caso concreto. Assim, sendo, em 
sede de controle difuso, admite-se que qualquer órgão jurisdicional exerça essa tarefa 
de fiscalização de compatibilidade vertical com a Carta Ápice. 
 
Tal questão surge naturalmente durante a apreciação da causa como uma questão 
incidental, nunca como questão principal da lide, daí a designação de controle 
incidental de constitucionalidade. Portanto, observe, com atenção, que o controle 
difuso no Brasil é exercido no bojo de ações comuns, como, por exemplo, os 
mandados de segurança, as ações de conhecimento, de execução, cautelares etc. Ou 
seja, a atuação fiscalizadora do juiz ou tribunal não é a questão principal do processo, 
figurando, apenas, como um incidente que o magistrado deve antes aferir para poder 
apreciar o pedido formulado pelo autor da ação. 
 
2. Quanto à natureza do órgão 
 
- controle político é o realizado por órgãos sem poder jurisdicional. Adotado por 
países nos quais o exercício é atribuído ao Legislativo ou a órgãos criados 
especificamente para esse fim como, por exemplo, o Conseil Constitutionnel francês. 
 
- controle jurisdicional é o exercido por órgãos do Poder Judiciário. Ex: Brasil. 
 
- controlemisto: Quando adotados simultaneamente, como na Suíça, onde leis locais 
são submetidas ao controle jurisdicional e leis nacionais ao controle político realizado 
pela Assembleia Nacional. 
 
3. Quanto à finalidade 
 
- controle concreto (por via de defesa ou por via de exceção): a pretensão é 
deduzida em juízo através de processo constitucional subjetivo, exercido com a 
finalidade principal de solucionar controvérsia envolvendo direitos subjetivos. Nessa 
modalidade, antes de julgar a procedência do pedido, o juiz analisa, incidentalmente, a 
compatibilidade entre a norma impositiva da obrigação questionada e o parâmetro 
constitucional supostamente violado. 
 
- controle abstrato (por via de ação, por via direta ou por via principal): é voltado 
a assegurar a supremacia da constituição. Trata-se de processo constitucional de 
índole objetiva, sem partes formais, passível de ser instaurado incependentemente de 
interesse jurídico subjetivo. 
 
4. Quanto ao tipo de pretensão deduzida em juízo 
 
- Quando o controle de constitucionalidade visa primordialmente à proteção da 
ordem constitucional objetiva: a pretensão é deduzida em juízo através de processo 
constitucional objetivo. 
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- Quando tem por finalidade primordial a proteção de direitos subjetivos, a 
pretensão é deduzida em juízo através de processo constitucional subjetivo, no qual 
se busca não a declaração da inconstitucionalidade em si, mas a prevenção ou 
reparação da lesão a direito concretamente violado. 
 
5. Quanto à competência 
 
- controle difuso (ou aberto) pode ser exercido por qualquer órgão do Poder 
Judiciário. 
 
- controle concentrado (ou reservado) é atribuído exclusivamente a determinado 
tribunal. No direito brasileiro, pelo STF e pelos TJs. 
 
Quadro: formas de controle de constitucionalidade 
 
 
Quanto ao 
momento 
 
Preventivo 
PL Comissões de Constituição e Justiça, Plenário e delegação atípica (CF, art. 68, § 
3.0 ) 
PE Veto jurídico 
PJ Mandado de segurança impetrado por parlamentar quando houver inobservância 
do processo legislativo constitucional 
 
 
Quanto ao 
momento 
 
 
Repressivo 
 
PL 
Lei delegada/decreto (CF, art. 49, V) 
Medida provisória (CF, art. 62) 
Tribunal de Contas (Súmula 347 /STF) 
PE Negativa de cumprimento 
PJ Controle difuso 
Controle concentrado 
 
PL: Poder Legislativo 
PE: Poder Executivo 
PJ: Poder Judiciário 
 
Quanto à natureza do órgão Controle político 
Controle jurisdicional 
Quanto à finalidade do controle Concreto (incidental, por via de defesa ou por via de exceção) 
Abstrato (por via de ação, direta ou principal) 
Quanto ao tipo de pretensão 
deduzida em juízo 
Processo constitucional objetivo 
Processo constitucional subjetivo 
Quanto à competência Controle difuso (aberto ou sistema norte-americano) 
Controle concentrado (fechado, sistema austríaco ou sistema europeu) 
 
 
PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS DE CONSTITUCIONALIDADE DAS ESPÉCIES 
NORMATIVAS 
 
 
a) Requisitos formais 
 
O art. 5º, II, da Constituição Federal, consagra o princípio da legalidade ao determinar 
que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude 
de lei. Como garantia de respeito a este princípio básico, a própria Constituição prevê 
regras básicas na feitura das espécies normativas. Assim, o processo legislativo é 
verdadeiro corolário do princípio da legalidade (arts. 59 a 69, da Constituição Federal). 
 
Assim, inobservância das normas constitucionais de processo legislativo tem como 
consequência a inconstitucionalidade formal da lei ou ato normativo produzido, 
possibilitando pleno controle repressivo de constitucionalidade por parte do Poder 
Judiciário, tanto pelo método difuso quanto pelo método concentrado. 
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Requisitos formais Subjetivos: Referem-se à fase introdutória do processo 
legislativo, ou seja, à questão de iniciativa. 
 
Requisitos formais Objetivos: Referem-se às duas outras fases do processo 
legislativo: constitutiva e complementar. Assim, toda e qualquer espécie 
normativa deverá respeitar todo o trâmite constitucional previsto nos arts. 60 a 
69. Por exemplo, um projeto de lei complementar aprovado por maioria simples 
na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, sancionado, promulgado e 
publicado, apresenta um vício formal objetivo de inconstitucionalidade, uma vez 
que foi desrespeitado o quorum mínimo de aprovação, previsto no art. 69, qual 
seja, a maioria absoluta. 
 
b) Requisitos substanciais ou materiais 
 
Trata-se da verificação material da compatibilidade do objeto da lei ou do ato 
normativo com a Constituição Federal. 
 
DESCUMPRIMENTO DA LEI OU DO ATO NORMATIVO INCONSTITUCIONAL 
PELO PODER EXECUTIVO 
 
O Poder Executivo, assim como os demais Poderes de Estado, está obrigado a pautar 
sua conduta pela estrita legalidade. Dessa forma, não há como exigir-se do chefe do 
Poder Executivo o cumprimento de uma lei ou ato normativo que entenda 
flagrantemente inconstitucional, podendo e devendo, licitamente, negar-se 
cumprimento. Essa possibilidade restringe-se apenas ao Chefe do Poder Executivo, 
negando-se a possibilidade de qualquer funcionário administrativo subalterno 
descumprir a lei sob a alegação de inconstitucionalidade. Sempre que um funcionário 
subordinado vislumbrar o vício de inconstitucionalidade legislativa deverá propor a 
submissão da matéria ao titular do Poder. 
 
Poderá o Chefe do Poder Executivo determinar aos seus órgãos subordinados que 
deixem de aplicar administrativamente as leis ou atos normativos que considerar 
inconstitucionais. 
 
ESPÉCIES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
a) Em relação ao momento de realização 
 
Relativo ao momento do ingresso da lei ou ato normativo no ordenamento jurídico: 
 
- controle preventivo: pretende impedir que alguma norma maculada pela 
eiva da inconstitucionalidade ingresse no ordenamento jurídico, em regra 
realizado pelos poderes Executivo e Legislativo, evitando que uma espécie 
normativa inconstitucional passe a ter vigência e eficácia no ordenamento. 
 
- controle repressivo: busca dele expurgar a norma editada em desrespeito à 
Constituição. Em regra, realicado pelo Judiciário por meio da retirada do 
ordenamento da lei ou ato normativo contrários à Constituição. 
 
b) Controle repressive em relação ao órgão controlador 
 
- Político: Ocorre em Estados onde o órgão que garante a supremacia da 
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constituição sobre o ordenamento jurídico é distinto dos demais Poderes do 
Estado. 
 
- Judiciário ou jurídico: É a verificação da adequação (compatibilidade) de atos 
normativos com a constituição feita pelos órgãos integrantes do Poder Judiciário. 
É a regra adotada pelo Brasil. 
 
- Misto: Esta espécie de controle existe quando a constituição submete certas 
leis e atos normativos ao controle político e outras ao controle jurisdicional. 
 
c) Modelos clássicos de controle de constitucionalidade 
 
- Modelo norteamericano: O direito norte-americano – em 1803, no célebre 
caso Marbury v. Madison da Corte Suprema – afirmou a supremacia jurisdicional 
sobre todos os atos dos poderes constituídos, inclusive sobre o Congresso dos 
Estados Unidos da América, permitindo-se ao Poder Judiciário, mediante casos 
concretos postos em julgamento, interpreter a Carta Magna, adequando e 
compatibilizando os demais atos normativos com suas superiores normas. 
(criação do controle difuso) 
 
- Modelo austríaco: em 1920, a Constituição austríaca criou, de forma inédita, 
um tribunal – Tribunal Constitucional – com exclusividade para o controle judicial 
de constitucionalidade das leis e atos normativos, em oposição ao sistema 
adotado. Não se pretendia a resolução dos casos concretos, mas a anulação 
genérica da lei ou ato normativo incompatível com as normas constitucionais. 
(controle concentrado) 
 
No entanto, a consagração efetiva da necessidade de sujeição da 
vontade parlamentar às normas constitucionais, com a consequente 
criação dos Tribunais Constitucionais europeus, ocorreu após a 
constatação de verdadeira crise

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