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Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas Letras e Artes – Departamento de Direito Patrícia Aurélia Del Nero Disciplina: DIR 130 – Instituições de Direito Turma 4 Profa. Patrícia Aurélia Del Nero UNIDADE 9 DIREITO PENAL Caracterização do Direito Penal Direito Penal é o ramo do Direito Público que disciplina o conjunto de prescrições emanadas do Estado, tendo o crime como fato gerador e, como conseqüência natural, a aplicação de uma punição ou pena. As normas penais estão contidas no Código Penal e em leis penais especiais. Ao acusado é garantida ampla defesa, só lhe sendo aplicada a punição que estiver prevista em lei. Trata-se de uma decorrência do princípio da reserva legal (Princípio da Legalidade) “Não há crime sem lei anterior que o defina; não há pena sem prévia cominação legal”. Crime: Noção Geral Crime é todo ato violador de um direito público e atentatório à vida social. Para que um ato seja considerado crime deverá conter três elementos essenciais: tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade. Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas Letras e Artes – Departamento de Direito Patrícia Aurélia Del Nero a. Tipicidade: o ato cometido pelo agente tem que ser um fato tipificado, isto é, estar definido em lei penal como sendo crime. b. Antijuridicidade: a conduta do agente tem que ser contrária ao ordenamento jurídico em vigor, estando consequentemente preconizada uma pena aplicável àquela violação legal. c. Culpabilidade: o sujeito contribuiu para a consumação do ilícito, em virtude da sua falta de diligência pessoal, e sua atitude acaba por determinar uma reprovação da ordem jurídica. Estando presentes os três elementos essenciais (tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade) ficará caracterizado o crime, nascendo em consequência a punibilidade, isto é, abre-se para o Estado o direito de impor a pena preconizada àquele fato criminoso. Há duas modalidades de crime: doloso e culposo. Crime doloso: o agente atua com a intenção deliberada de ofender o direito do próximo, tem pleno conhecimento do mal que está praticando, tem o firme propósito de atingir o objetivo desejado e assume os riscos de sua atitude delituosa. O estudo do crime doloso foge ao objetivo da disciplina. Limitar-nos-emos a estudar o crime culposo, dada a probabilidade de qualquer pessoa se envolver nessa situação, seja no exercício profissional, seja no seu dia-a-dia. Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas Letras e Artes – Departamento de Direito Patrícia Aurélia Del Nero Crime Culposo Crime culposo: o agente não teve a intenção deliberada de ofender o direito individual do próximo, porém de sua atitude resultou-lhe prejuízo ou violação de um dever pré- existente. A culpa advém da violação de um dever pré-existente. Não houve o intento deliberado e proposital de se ofender direito de outrem; o prejuízo surgiu de uma circunstância alheia à vontade do agente. No convívio social, a pessoa é obrigada a adotar certas condutas, isto é, ser dotada de discernimento e prudência para se evitar danos a terceiros. Ela tem que ser uma Pessoa Padrão. A culpa nasce da inobservância deste dever de diligência, qualidade abstrata dessa pessoa padrão. Numa situação objetiva: - se a conduta específica do agente não corresponder ao comportamento que teria uma pessoa padrão, dotada deste dever de diligência, nas mesmas circunstâncias; - se o resultado era previsível para uma pessoa padrão, mas o sujeito deixou de observar aquele cuidado necessário e previsível, então a conduta do sujeito é típica; - se a conduta tipificada contrariar o ordenamento jurídico, será uma conduta antijurídica. Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas Letras e Artes – Departamento de Direito Patrícia Aurélia Del Nero Modalidades de crime culposo Há 3 (três) modalidades de crime culposo: por imprudência, por negligência, por imperícia. Crime culposo por imprudência: Consiste na prática de um ato perigoso, sem observância de medidas de precaução e segurança, previsíveis e necessárias naquele momento e, como consequência ocorrendo o fato criminoso, resultando prejuízo à integridade da pessoa, ou infração à lei. No exercício de uma profissão técnica, onde a atenção deverá achar-se vigilante ao extremo, raramente o profissional cometerá um crime culposo por imprudência. Crime culposo por negligência: Resulta da omissão de uma precaução ou da indiferença em relação ao ato praticado, ordenada pela previdência e, como consequência ocorrendo o fato criminoso, resultando de tal omissão um prejuízo à integridade da pessoa, ou infração à lei. A negligência ocorre nas faltas do profissional que, sabendo executar um serviço, se descuida durante tal execução, por excesso de confiança em si mesmo, deixando de praticá-lo com os cuidados exigidos, advindo daí circunstâncias danosas ou prejudiciais à vítima. Exemplo.: Assumir responsabilidade técnica e não prestar a assistência técnica determinada em lei, vindo a ocorrer um fato delituoso, praticado por preposto do profissional, durante a sua ausência. Deixar ao alcance de criança remédios, venenos, inseticidas, explosivos, ferramentas/máquinas de corte, uma arma carregada, etc., vindo a acontecer um acidente com vítima, em decorrência de tal descuido. Crime culposo por imperícia: resulta da falta de aptidão, habilidade ou destreza para o exercício da profissão, por despreparo ou insuficiência de conhecimentos técnicos, resultando danos à integridade física ou a interesses jurídicos de terceiros. A imperícia é uma falha gravíssima, por ter como causa uma deficiência na formação profissional. Se o profissional vier a ser condenado num crime culposo por Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas Letras e Artes – Departamento de Direito Patrícia Aurélia Del Nero imperícia pura (sem traços de imprudência e de negligência), poderá ser enquadrado no art. 282, do Código Penal (inabilitação para o exercício profissional), acarretando-lhe, como pena acessória, a cassação do direito de continuar exercendo a profissão. Exemplo.: Uma construção planejada e executada por um Engenheiro ruiu, matando muitas pessoas e ferindo outras. A perícia constatou erro no dimensionamento das estruturas, onde não fora considerada a carga eventual a ser suportada (peso das pessoas e equipamentos). Como a responsabilidade não fora compartilhada com outro profissional, não há como esse Engenheiro fugir da imputação de imperícia, naquela ação profissional. Responsabilidade do profissional, no crime culposo Responsabilidade criminal Estará caracterizado o crime culposo, se estiverem presentes os elementos jurídicos tipificadores do delito, porque o agente deu causa ao resultado: - agente (o profissional que agiu com imprudência, imperícia ou negligência), - ato praticado (será objeto de apreciação pelo Poder Judiciário e enquadramento legal), - dano à pessoa (agravamento de situação anterior, prejuízos decorrentes do ato, morte), - culpa (imprevisão do que é previsível); No Código Penal ou em Leis Penais Especiais estarão previstas as penas imputáveis ao agente que praticou o delito (desde multa até penas privativas da liberdade), cabendo ao Juiz fazer a dosimetria da sua aplicação. Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas Letras e Artes – Departamento de Direito Patrícia Aurélia Del Nero Responsabilidade civil A condenação por crime culposo traz como consequência a responsabilidade civil, (conforme art. 186, do novo Código Civil): “Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência, imprudência ou imperícia violar direito e causar dano a outrem ainda queexclusivamente moral, comete ato ilícito”. Na responsabilidade civil, o patrão ou empregador (inclusive pessoa jurídica) é solidariamente responsável por atos praticados por seus empregados, serviçais ou prepostos, no exercício do trabalho que lhes compete. A responsabilidade civil é independente da responsabilidade criminal, isto é, com o pagamento da indenização, o agente não se livra do processo criminal, se o fato for tipificado como crime. No âmbito das Normas Éticas Ao atuar profissionalmente, o profissional poderá cometer erros: além do julgamento na forma das leis penais, além da indenização na forma das leis civis, se esses erros tiverem implicação no terreno ético-profissional, será julgado também pelo Conselho Profissional, cabendo à Comissão de Ética aplicar a pena preconizada àquela situação delituosa, na forma do Código de Ética da profissão.
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