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OVINOCULTURA DE CORTE Zootecnistas Marcel Hastenpflug Tatiana Pfüller Wommer 1 – Introdução A ovinocultura vem demonstrando um crescente aumento nos últimos anos, com um mercado consumidor cada vez mais exigente por produtos de qualidade. Por esse crescimento é que se tornam cada vez mais essenciais às pesquisas e o uso de novas tecnologias. Várias pesquisas têm sido conduzidas para explorar os diversos campos e aptidões dos ovinos. Estudos visando a produção de carne desempenho de cordeiros, leite e seus derivados, têm sido desenvolvidos demonstrando que a produção ovina pode ser amplamente aproveitada e diversificada. A crescente valorização e demanda pela carne ovina, principalmente a oriunda de animais jovens, tem estimulado a intensificação dos sistemas produtivos, os quais buscam maior agilidade na terminação e comercialização das carcaças sendo o cordeiro a categoria animal que fornece os maiores rendimentos de carcaça e maior eficiência de produção, devido a sua alta velocidade de crescimento. 2 - Escolha dos animais Um dos quesitos preponderantes para a implantação de um sistema produtivo de ovinos competitivo, é a escolha dos animais com qualidade para não frustrar o início da atividade. O primeiro ponto é a opção pela raça que se vai trabalhar, levando em consideração a finalidade que se quer obter, seja para um sistema de produção de carne, leite, pele ou lã. A demanda de produtos da ovinocultura encontra-se reprimida, sendo que o mercado atual é suprido com a matéria-prima importada principalmente do Uruguai e Nova Zelândia. O consumo de carne ovina cresceu substancialmente nos últimos dez anos, porém situa-se em torno de 1,2 kg por habitante por ano. Com isso, já que a pele pode ser considerada como uma conseqüência à produção de carne, a atividade está voltada quase que totalmente para o produto carne, portanto, nesse ponto que nos atemos no momento de tomar decisão sobre a escolha das matrizes e reprodutores. Sendo assim, os pontos principais a serem observados nos animais de raças de aptidão carniceira são os seguintes: 2 - o arqueamento de costela avantajado, pois indica uma boa capacidade ingestiva, ponto determinante quando o objetivo principal é ganho de peso; - área de lombo, que está relacionado com a quantidade de carne nesta região, consequentemente, com rendimento de carré; - colocação correta dos aprumos, que estão diretamente relacionados com a locomoção, indispensável para a caminhada dos animais na procura por alimento e do macho em relação à fêmea na época de acasalamento. Da mesma forma, os aprumos sentados das patas e mãos, significam que o animal não suportou o seu próprio peso, fato este altamente indesejável, pois se preconiza por animais extremamente pesados. Ainda os defeitos anatômicos de tamanho de boleto, quando curto ou comprido demais, que é um caráter de aprumos que está ligado principalmente com a reprodução, pois indicam machos que não são eficientes na monta e fêmeas que não a suportam; - abertura de peito, que indica capacidade respiratória, denotando resistência física; - ausência de prognatismo, para se evitar problemas na apreensão dos alimentos e ruminação, que causam danos à eficiência digestiva; - observar a feição da cabeça, para sempre denotar masculinidade nos reprodutores e feminilidade nas matrizes; - verificar a mobilidade dos testículos, o perímetro escrotal e a ausência de nódulos no epidídimo dos reprodutores; - analisar quaisquer defeitos na vulva, úbere e tetos das matrizes; - por fim, procurar adquirir reprodutores com teste andrológico comprovado e matrizes também de criatórios idôneos, livres de doenças e defeitos. Cabe lembrar, que a maioria dos defeitos anatômicos são genéticos, bem como os caracteres de valor econômico desejáveis são de alta herdabilidade. 3- Manejo reprodutivo do rebanho As ovelhas são poliéstricas estacionais, ou seja, possuem vários cios em uma época do ano. Essa espécie necessita de estímulos externos para um favorecimento do período reprodutivo, sendo a alimentação, clima, temperatura e luminosidade fatores de grande importância para o sucesso da reprodução. A alimentação entra como um fator marcante, pois uma nutrição adequada vai acarretar em uma taxa de fecundidade satisfatória. O clima é importante no que se diz respeito 3 à implantação das pastagens e maior oferta de alimentos quando se fizer necessário. Temperaturas elevadas podem afetar a fertilidade dos carneiros e também acarretar em elevada morte embrionária. As ovelhas começam a apresentar cio quando há uma diminuição gradativa na quantidade de luz diária, ou seja, o sistema reprodutivo age com fotoperíodo negativo. Nos carneiros, a mobilidade espermática é maior com a redução da luminosidade. Porém, devido à localização dos animais em relação a sua origem, algumas raças ovinas são menos afetadas por esta estacionalidade. O ciclo estral das fêmeas ovina dura entre 17 e 21 dias e o cio nos animais adultos oscila entre 30 e 36 horas, com extremos de 24 a 48 horas. Nas fêmeas jovens essa duração é sensivelmente menor, de 3 a 24 horas. Existem diversos fatores que incidem sobre a duração do cio, porém os que mais se destacam são: a) Raça: nas raças de lã a duração do cio é maior que nas raças de carne. b) Idade: aumenta com a mesma c) Momento da temporada reprodutiva: na metade do período a duração do cio é maior que no início e final do período. O início da puberdade ocorre ao redor de um peso constante (30 a 40 KG) que varia com a raça, geralmente ocorre por volta dos seis meses. Porém as borregas ainda não estarão aptas a reprodução. O ideal é aos quatorze meses, quando atingem 65 a 70% do peso adulto, porém existem formas de manejo para adiantamento da idade. A apresentação do cio da cordeira é entre seis e nove mesess, no início de sua puberdade. O ciclo estral é composto por: a) Proestro: desenvolvimento dos folículos (estrutura do ovário que contém o óvulo), não aceita a monta, apresenta a vulva congestionada, começando a produzir muco. b) Estro: há sinais externos como agitação da cauda, micção constante, diminui a ingestão de alimentos, aceita o macho e deixa-se montar. c) Metaestro: ocorre nesta fase à ovulação, a fêmea não aceita mais o macho, há crescimento do corpo lúteo, formado a partir da ruptura do folículo e liberação do óvulo. d) Diestro: involução do corpo lúteo, casa não haja fecundação. As ovelhas são muito discretas quanto a sintomas da ocorrência do estro, necessitando portanto de um rufião para identificação do cio. 4 No caso dos carneiros a puberdade inicia com uma idade similar a das cordeiras. O início da atividade sexual é marcada pela apresentação de instintos reprodutivos (monta em machos e fêmeas, interesse sexual pelas fêmeas, etc.), mesmo antes de atingirem a puberdade total, que somente será alcançada quando os espermatozóides se encontrarem viáveis para fecundação, ou seja, com volume e qualidade adequados. Estarão realmente aptos à reprodução com aproximadamente 12 a 18 meses (GRANADOS, 2001). 3.1 - Fatores que afetam a fertilidade das matrizes O período do ano de maior fertilidade para os ovinos é nos meses de dezembro a abril, variando para raças de carne e de lã. Alguns fatores afetam a fertilidade das fêmeas: a) Idade: a porcentagem de partos múltiplos aumenta paulatinamente até o quinto ou sexto ano de vida, logo após há um rápido declínio. b) Peso corporal: a fertilidade está diretamente correlacionada com o peso dos animais no momento da monta até um determinado ponto, onde começará a diminuir o número de óvulos liberados. Sabemos que os hormônios da reprodução são antagônicos aos hormônios lipídicos. Na hora do parto, o excesso de gordura na região pélvica pode tornar o nascimento mais dificultoso. c)Nutrição: um estímulo antes e durante o período reprodutivo, conhecido como “flushing”, incrementa significativamente a taxa ovulatória e a incidência de partos múltiplos. O “flushing” consiste em um choque no aporte nutricional dado as matrizes, oferecido três semanas antes e até três semanas durante o serviço, permitindo as fêmeas um incremento de três a quatro quilogramas no seu peso. Este abalo nutricional aumenta a produção hormonal hipofisiária do animal, tendo maior maturação dos óvulos e conseqüentemente, uma maior porcentagem de concepções. O “flushing” incrementa o número de ovulações múltiplas em ovelhas férteis, porém não diminui a porcentagem de matrizes inférteis. Esta prática, só é conveniente de ser aplicada se na propriedade dispõem-se de adequada alimentação a ser dada no terço final da gestação, que é o período de maior exigência. Em fêmeas de primeira cria não é aconselhada à aplicação do “flushing”, já que os partos múltiplos geralmente trazem problemas de abandono de crias e de distocia. 3.2 - Fatores que afetam a fertilidade dos machos a) Temperatura ambiente: se a temperatura do meio ambiente for muito elevada pode acarretar em baixa viabilidade espermática. A temperatura corporal dos ovinos adultos é 5 entre 39 e 40ºC, porém a temperatura testicular é inferior a corporal, na ordem de 5 a 7ºC, isto porque o escroto exerce uma função termorreguladora. b) Idade: a fertilidade se reduz sensivelmente em machos com mais de cinco anos, sendo necessário à reposição destes reprodutores. c) Deficiência de Vitamina A: esta vitamina é essencial para a formação das células que revestem os canais seminíferos. A sua deficiência conduz a uma produção de sêmen de baixa qualidade. 3.3 - Cuidados com os reprodutores Alguns cuidados devem ser tomados para garantir a eficácia dos machos na época de reprodução, sendo os mais importantes: - produção de sêmen de qualidade e em quantidade suficiente para fecundar um grande número de fêmeas em um período curto; - ter habilidade para montar e cobrir satisfatoriamente as matrizes em cio; - ter boa libido para procurar as fêmeas em cio; - apresentarem-se em estado físico/nutricional que permita resistir durante todo o período de monta; - cuidar cascos, problemas testiculares, prognatismo, entre outros; - revisar os reprodutores 45-50 dias antes da estação de monta, pois o processo de formação dos espermatozóides leva em torno de 45 dias para ser finalizado; - se possível, forneça aos reprodutores durante a fase reprodutiva, suplementos vitamínicos, que possuam entre outros elementos vitamina A. 3.4 - Cuidados com as fêmeas primíparas É fundamental separar as fêmeas de primeira cria das demais matrizes do rebanho, pois sendo inexperientes não serão procuradas pelos machos. Outro fator importante é a utilização de machos experientes e a utilização de rufiões para detectar o cio. Faz-se necessário também uma redução na área de pastejo para que as fêmeas de primeira cria não possam “fugir” dos machos. Importante salientar também, que quando se opta pela inseminação artificial nessa categoria, precisam-se utilizar antes rufiões que façam penetração, para romper o hímen da fêmea e permitir a chegada do espéculo até a cérvix. Nas fêmeas primíparas, também são indesejáveis partos múltiplos e escore corporal elevado em final de gestação. 6 3.5 - Duração da gestação É influenciada pela raça, idade, tipo de nascimento (simples ou múltiplos), e nutrição no último terço de gestação. Normalmente as raças de lã apresentam uma gestação mais duradoura, entre dois e três dias a mais. Assim também ocorre com fêmeas de primeira cria e em partos duplos. A nutrição influencia ao passo que uma dieta deficitária no terço final da gestação acarretará em uma redução de um a quatro dias no nascimento. Mas no geral, considera-se como período de duração da gestação, tanto para cabras como para ovelhas, algo em torno dos 150 dias. 3.6 - Sistemas de acasalamento Há diversos tipos de monta que podem ser utilizadas nestas criações. Cabe escolher a que oferece as melhores vantagens para cada objetivo de criação. Deve aliar simplicidade, bons resultados econômicos e máximo aproveitamento das matrizes e reprodutores. a) Monta Natural: É a mais utilizada. Os machos ficam soltos com as fêmeas e são introduzidos na proporção de 2- 3% com as matrizes e de 3-4% com as fêmeas de primeira cria. Há um menor controle neste sistema, mas não se sabe o pai e nem quando a fêmea foi coberta. Geralmente utilizado em criações extensivas. b) Monta dirigida ou controlada: Rufiões com marcadores coloridos identificam as fêmeas receptivas em um primeiro instante, normalmente durante o dia. No final do dia, separam-se as fêmeas marcadas e colocam-se os reprodutores. Há uma maior potencialização do uso do reprodutor, podendo vir a cobrir de 20-30 fêmeas por dia. Neste método há um controle de parição e paternidade bastante satisfatório. c) Inseminação artificial: É o método de reprodução em que as células sexuais masculinas (espermatozóides) são depositadas no trato genital feminino através de meios mecânicos que substituem os órgãos especializados do macho. Esse sistema permite que um reprodutor de alto valor zootécnico seja utilizado em um número muito maior de fêmeas, diminuindo assim gastos de manejo e alimentação com os reprodutores, melhorando o controle sanitário das fêmeas, potencializando assim a qualidade da progênie a ser gerada. 3.7 – Indução e Sincronização de cio A indução de cio é um artifício interessante para duas finalidades principais. A primeira delas é quando se quer que as fêmeas apresentem cio fora do seu período estacional. A outra finalidade da indução de cio pode ser para apressar o final do período reprodutivo, 7 fazendo com que aquelas fêmeas que ainda não foram cobertas ou inseminadas ciclem, e assim se possa antecipar o término da temporada reprodutiva. Já a sincronização de cio, é uma técnica utilizada para que se possa formar lotes de fêmeas entrando em cio num mesmo período, facilitando assim o manejo reprodutivo. Ainda, a utilização das duas técnicas aliadas, ou seja, induzindo-se as fêmeas a apresentarem cio fora de época e escalonando grupos para serem fertilizadas em épocas diferentes do ano, é uma excelente ferramenta para de combater a estacionalidade na produção de cordeiros, podendo assim o produtor oferecer para o mercado animais para o abate durante todo o ano, e não somente num curto período, como é o ocasional. Para tanto, podem-se utilizar técnicas de estímulos hormonais, ou ainda um programa de luz artificial, onde se fornece luz e depois se retira, de forma a induzir a glândula hipófise ao comportamento natural de redução de fotoperíodo. Técnicas estas, que ao serem bem estudadas e executadas corretamente, oferecem resultados satisfatórios e bastante rentáveis, que cobrem os custos da operação em produtos oferecidos ao mercado. 4 – Nutrição Os ovinos são animais herbívoros ruminantes assim como os bovinos. A sua digestão microbiana faz com que estas espécies aproveitem a fibra dos alimentos de forma que com uma alimentação baseada em forragem verde natural ou cultiva e/ou forragens conservadas (fenos e silagens), podem ser suficientes para suprir suas necessidades nutricionais. Porém, alguns cuidados quanto à complementação mineral são importantes de serem observadas. Obviamente, isto não quer dizer que não seja interessante incrementar a dieta destes animais com alimentos concentrados de alto teor nutricional. Sendo assim, não existe uma fórmula pré-definida de uma alimentação balanceada para estes animais. As suas exigências são bastante dependentes da idade, raça (aptidão), estádio fisiológico, entre outros fatores. Embora sejam animais naturalmente rústicos, se dispensade alguns cuidados especiais, principalmente ao que tange as fases reprodutivas. Dentre elas, atenção deve ser dada nas fases de pré-cobertura (tanto para machos como para fêmeas), gestação (principalmente o terço final) e lactação, para que estes animais apresentem seu total potencial produtivo e um bem-estar fisiológico. 8 Os caprinos são geralmente menos exigentes que os ovinos, assim como os adultos, em ambas as espécies, têm uma necessidade nutricional reduzida em relação a animais jovens. Da mesma forma, relacionando-se a consumo, os caprinos apresentam uma menor necessidade de ingestão de matéria seca diária do que os ovinos, em contrapartida, têm um ganho de peso menor, pelo fato da eficiência em conversão alimentar destas espécies se assemelharem. Portanto, quando se pretende chegar a resultados produtivos satisfatórios nestas criações, faz-se necessário recorrer a tabelas de exigência nutricional, para que não falte nenhum elemento indispensável ao seu desenvolvimento, pois quando há déficit nutricional em algum ponto da dieta, mesmo com os demais itens estando cobertos, este fator se apresentará como um limitante para a eficácia da produção. Porém, como estes cálculos de arraçoamento exigem um conhecimento na área, recomenda-se que se recorra a um profissional da área pra que haja uma correta nutrição do rebanho. 5 - Planejamento Forrageiro Dentre os vários fatores que determinam o sucesso de um sistema produtivo, o planejamento forrageiro é um dos mais importantes, pois normalmente as forrageiras naturais ou cultivadas, serão a fonte principal da dieta dos nossos animais. Como já vimos anteriormente, essa opção pode ser o único elemento da nutrição dos ovinos. Quando se pensa em manejar uma pastagem para uma espécie ou categoria animal, faz-se necessário observar os hábitos de pastejo e a ingestão média diária destes indivíduos. Os ovinos possuem um hábito alimentar rasteiro e bastante seletivo, optando por forragens tenras. Porém, os ovinos se adaptam muito bem a forrageiras cultivadas ou naturais, sejam elas de crescimento prostrado, ereto ou cespitoso. Existem dois pontos conflitantes na administração de uma pastagem: primeiramente, que as plantas precisam de folhas para crescer; segundo, que os animais precisam de folhas para se alimentar. Portanto, o produtor necessita de sensibilidade para balancear estes dois pontos, a fim de proporcionar a manutenção dos “dois lados da moeda”. O manejo que visa potencializar a produção de forragem se inicia na escolha de espécies forrageiras de boa qualidade, e se estende pela necessidade de se oferecer condições adequadas de crescimento a elas. A fertilização e o manejo da área foliar são os elementos 9 centrais determinantes do crescimento da pastagem que mais facilmente podemos modificar através do manejo (CARVALHO, 2004). Quando o solo possui boa fertilidade, usamos sementes ou mudas de boa qualidade e em quantidade suficiente, respeitamos o estabelecimento e crescimento da forragem, e utilizamos uma carga animal adequada, nosso sistema pastoril é um sucesso. Para sabermos se a pastagem está sendo bem conduzida, convém observarmos alguns pontos práticos: - a pastagem deve permanecer folhosa e abundante; - deve apresentar pouco ou nenhum solo descoberto; - as espécies indesejáveis devem ser raras ou nulas; - as folhas, com coloração verde intensa; - as raízes profundas, abundantes e vigorosas; - os animais passam pouco tempo pastejando e bastante tempo ruminando, em ócio ou em outra atividade; - os animais pastejam no início da manhã e ao final da tarde; - os animais têm elevada condição corporal. Obs: quando os ovinos passam mais do que oito horas do dia em pastejo e/ou quando houver ciclos de pastejo ao meio-dia ou à noite, em geral, são indicativos de insuficiência de alimentos. As espécies forrageiras recomendadas para a ovinocultura, são as mesmas indicadas para bovinos, tanto gramíneas como leguminosas, tropicais ou hibernais, anuais ou perenes. Cuidado especial deve ser dado quanto à utilização de gramíneas eretas de alto potencial produtivo, pois se tornam de difícil manejo. Outra precaução é para se evitar a utilização de Brachiaria decumbens, pois apresentam o problema do fungo saprófito que causa fotossensibilização nos animais. As pastagens com participação elevada de espécies leguminosas devem ser utilizadas com cautela, onde se devem introduzir os animais aos poucos, para ocorrer uma adaptação e evitar problemas de timpanismo. Os sistemas rotacionados para ovinos podem ser utilizados, porém precisam de um manejo muito cuidadoso para de evitar perdas por falta ou excesso de pasto, o que gera uma mão-de-obra bastante elevada. Portanto, um sistema contínuo de pastoreio bem manejado é a melhor opção para esta espécie. 10 A exploração integrada, ou pastejo misto, envolvendo mais de uma espécie de herbívoros pastejando um mesmo recurso forrageiro é uma excelente opção, pois maximiza a utilização da forragem de modo a proporcionar um aumento de produção animal que geralmente ultrapassa a soma do ganho das espécies utilizadas de forma isolada. A integração deste bovinos com ovinos pode apresentar várias outras benesses, tais como: - menor incidência de parasitas, devido a remoção das larvas pelo pastoreio com animais resistentes a espécies distintas do hóspede normal; - aproveitamento de áreas inacessíveis aos bovinos, que utilizam áreas mais planas, enquanto que os ovinos se aproveitam das zonas acidentadas; - aumento da capacidade de suporte em decorrência das diferentes preferências alimentares; - diversificação da produção; - controle de espécies indesejáveis; - entre outras vantagens, facilmente avaliadas pessoalmente pelo produtor que optar por esta atividade. Convém lembrar, que para a efetuação do cálculo de lotação correto para a utilização das pastagens, não devemos utilizar o peso vivo (PV) dos animais, e sim o peso metabólico (PM = PV0,75). Os animais menores produzem mais calor e consomem mais alimentos por unidade de peso vivo do que animais maiores. Portanto, uma vaca de 450 kg equivale a aproximadamente cinco ovelhas de 50 kg, e não nove como o peso vivo sugere. Considerando todos os pontos vistos acima, nota-se que não há uma diferença muito grande em manejar recursos forrageiros entre a espécie bovina e ovina, portanto, não existem dificuldades de manejo maiores do que aquelas que os produtores bovinos já estão acostumados a encontrar e solucionar. 6 - Controle Sanitário As enfermidades dos ovinos surgem de várias origens, como bactérias, vírus, da própria alimentação, de pastagens contaminadas, entre outras. Para que haja sempre um rebanho em boas condições sanitárias é primordial se ter medidas preventivas, a fim de se evitar perdas econômicas e desgastes fisiológicos muito maiores com os tratamentos dessas enfermidades. Dentre as doenças mais freqüentes na ovinocultura podemos destacar: 11 6.1 - Foot rot, podridão dos cascos ou pietin É uma doença altamente contagiosa causada por bactérias. Essa doença caracteriza-se por apresentar a epiderme interdigital e matriz do casco em estado necrosante e acentuado estado de manqueira. Para o estabelecimento dessa doença, primeiramente há a necessidade da invasão da epiderme interdigital pelo Fusobacterium necrophorum, que é um habitante normal encontrado no trato alimentar dos ovinos que contribui com uma invasão superficial, dando origem a uma dermatite leve ou comumente chamada de “frieira”. Estando o animal com essa invasão superficial, dá-se mais facilmente o estabelecimento do Bacteroides nodosus, agravando a lesão e permitindo que o Fusobacterium necrophorum penetre mais profundamente, destruindo assim o tecido. O agente patogênico pode permanecer compoder infectante por três meses no tecido e vivo por até três anos. Os animais ficam extremamente debilitados, vindo a ter perdas na qualidade da lã, dificuldades para se alimentar e problemas na monta. Sua transmissão se dá principalmente em clima úmido, com temperaturas amenas e a presença de animais em estado crônico no rebanho. Sua maior incidência é na primavera e no outono e em anos com excesso de chuvas. A entrada desta doença em uma propriedade é geralmente através da compra de carneiros contaminados, com lesão crônica ou não aparente. É fundamental aparar os cascos dos animais duas ou três vezes ao ano para evitar um ambiente anaeróbico e propício para a proliferação da doença. Separar os animais infectados e a higienização das instalações também é de vital importância. Para o tratamento preventivo, pode-se realizar a aplicação de uma vacina oleosa denominada FOOT-VAC® ou pedilúvios com a utilização de sulfato de zinco ou formol em solução a 10% (AVILA et al., 2006). 6.2 - Ectima contagioso É uma doença de pele ou dermatite infecciosa transmissível, que acomete ovinos e caprinos, produzida por um vírus denominado Paravaccina, muito semelhante à varíola. É uma zoonose, ou seja, é transmitida também aos seres humanos. Causa lesões nas bordas dos lábios, podo dermite necrótica, pústulas nas mamas, fase interna das coxas, lábios da vulva e prepúcio. As perdas econômicas são grandes devido aos animais não conseguirem se alimentar normalmente. 12 A transmissão se dá por contato com animais infectados, sendo os cordeiros os mais suscetíveis à doença. As vias de eliminação da doença são as pústulas, vesículas e crostas secas. Tendo como portas de entrada a pele, órgãos genitais, mucosas, extremidades das patas. O tratamento preventivo se dá com a aplicação de uma vacina viva aplicada nos cordeiros aos dois meses e no rebanho uma única vez, pois tem ação duradoura. É realizada preferencialmente na parte interna da coxa, onde não houver lã e pêlos, faz-se uma raspagem no local e em seguida aplica-se a vacina. Forma-se no local, dentro de dois a três dias, uma crosta superficial, sendo esta uma reação normal da vacina. Se não formar a crosta, não houve eficácia da vacina (aplicação incorreta) e deve-se efetuar uma nova aplicação. Para evitar que os animais infectados transmitam o vírus para o rebanho, deve- se isolar os animais doentes, os vacinados e os adquiridos de outras propriedades. É muito importante após a retirada dos animas doentes, realizar uma completa desinfecção das instalações. A doença sendo benigna tem cura espontânea (MACHADO, 1998). 6.3 - Toxemia da prenhez É uma doença metabólica que acomete as ovelhas no terço final da gestação, tendo como causa a má alimentação recebida nesta fase. Ocorre principalmente nas fêmeas com partos múltiplos. Por ter uma baixa ingestão de energia, o organismo mobiliza tecido adiposo e essa excessiva mobilização de gordura não é metabolizada adequadamente pelo fígado, vindo a produzir corpos cetônicos que são responsáveis por alterações patológicas do sistema nervoso central. As matrizes apresentam os seguintes sintomas: cegueira temporária, isolamento, falta de apetite, ranger de dentes, excessiva salivação e tremores musculares. O tratamento preventivo se dá com o aumento do nível de nutrição das ovelhas no terço final da gestação, evitando-se movimentação e estresse do rebanho nos últimos dias de gestação. Evitar-se também mudanças repentinas na alimentação das matrizes durante a gestação. Já o tratamento curativo é utilizado por aplicação via endovenosa de glicose a 50% em doses repetidas, num período de dois a três dias e em situações de gravidade realizar cesariana. Na maioria das vezes, esta doença é letal. 6.4 – Verminoses 13 São as principais enfermidades acometidas nos ovinos de todas as idades. Os vermes que mais atacam essas espécies pertencem aos gêneros Haemonchus e Trichostrongylus. O primeiro aparece mais frequentemente nas épocas quentes do ano e habita o abomasso dos animais. Por ser um verme sugador, causa anemia severa, inapetência, prostração, diarréia, edema submandibular (papeira), perda na qualidade da lã. Já o Trichostrongylus é um verme que tem maior incidência nos meses de outono e habita o intestino delgado. Estes vermes lesam a mucosa intestinal, provocando a perda de proteínas séricas para a luz do intestino. É um parasita que causa redução do apetite, edema submandibular e diarréia preta e fétida, o que diferencia da diarréia causada pela entrada dos animais na pastagem. Animais submetidos a restrições alimentares, principalmente no nível de proteína, reduzem a resposta imunitária e, conseqüentemente, tornam-se mais sensíveis as infecções parasitárias. É importante realizar a seleção de animais resistentes, descontaminação das pastagens, controle químico nas épocas adequadas ao controle da fase parasitária, observando a resistência dos parasitos aos medicamentos utilizados. 6.5 - Miíases É uma enfermidade muito comum nos ovinos, conhecida popularmente por “bicheira” e que necessita de grande atenção para ser descoberta na fase inicial e evitar problemas mais danosos. As miíases são afecções causadas pelas larvas das moscas em órgãos e tecidos dos animais. As moscas normalmente realizam a postura em ferimentos recentes, tendo maior incidência nos meses de calor. Causam destruição dos tecidos, odor desagradável, hemorragia, anemia, falta de apetite e isolamento. Pode ser tratada com larvicidas de diversas bases químicas em forma de aerossóis, pomadas ou líquidos. É recomendado observar diariamente as lesões e retirar as larvas para acelerar a cicatrização. 7 - Manejo dos cordeiros do nascimento ao abate As primeiras horas de vida são de suma importância para o desenvolvimento dos cordeiros e cabritos. A quantidade de gordura marrom, reserva energética adquirida durante a gestação, irá sustenta-lós nas primeiras vinte horas de vida, mantendo a temperatura corporal, já que estes não possuem o sistema termorregulador ativo nas primeiras horas de 14 vida. A ingestão de colostro também é muito importante, pois é através dele que o animal adquirirá anticorpos primordiais ao seu desenvolvimento. Os cordeiros possuem maior capacidade de absorção desses anticorpos nas primeiras horas de vida, por isso que a imediata ingestão desse leite enriquecido é essencial. Da mesma forma, esta ingestão inicial é indispensável para a expulsão do mecônio (resíduo da alimentação placentária). O período imediato após o parto também será preponderante para o desenvolvimento do neonato desde então. Entre as ocasionais observações pós-parto, atenção especial deve ser dada ao comportamento da ovelha frente à recepção de sua cria. Muitas vezes, bastante ocasional em fêmeas primíparas, há a rejeição do filhote devido à falta de experiência. Esta também poderá ocorrer devido à baixa habilidade materna encontrada em alguns animais. O período crítico da união da matriz com a cria é curto, portanto esta não deve ser removida do contato com a mãe logo após o nascimento. Em caso de rejeição, limpar, secar e aquecer o filhote, procurando mantê-lo perto da mãe para forçá-la a aceitá-lo. O passo seguinte é a desinfecção do umbigo com solução de iodo, evitando assim o aparecimento de eventuais miíases. A castração, descola e assinalamento são etapas que inspiram cuidados e devem ser realizadas no mesmo dia, evitando assim maiores estresses. A castração é uma técnica a ser aplicada em machos destinados ao abate e deve ser realizada até o primeiro mês de vida, preferencialmente. Pode ser realizada com auxílio de burdizo, elastrador, faca ou bisturi, sendo o elastrador o método mais prático, simples, rápido e de menor contaminação, porém causa grande desconforto ao animal nas primeirashoras. Importante lembrar, que num sistema de produção de animais para o abate, quando os animais forem sacrificados antes dos 14 meses, não se faz necessária a castração. Isto, além de evitar um problema de estresse, faz com que o ganho de peso deste animal seja maior e que a deposição de gordura na carcaça seja menor, o que é de alto interesse comercial. Caso estes animais sejam abatidos um pouco mais tarde, e ainda assim pretende-se obter as vantagens citadas anteriormente, há ainda a ferramenta da castração térmica, que é o recolhimento dos testículos para o interior da cavidade abdominal. Esta técnica faz com que a produção hormonal que proporciona as características desejadas siga ativa, mas a espermatogênese fique comprometida pelo excesso de temperatura. Porém, deve-se tomar cuidado com esta técnica, para que seja executada corretamente e o animal realmente fique sem gametas viáveis. 15 A descola deve ser utilizada nos ovinos, pois evita o acúmulo de excrementos e terra no períneo e também acidentes com reprodutores na hora da cópula. Nas raças deslanadas a descola não deve ser feita, pois ajuda na repulsão das moscas. Nos machos a descola é feita junto à base e nas fêmeas a cinco centímetros, auxiliando na proteção da vulva contra raios solares e moscas. Pode ser realizada com faca, elastrador ou descolador australiano (com cauterização). O assinalamento deve ser realizado para maior controle zootécnico de matrizes e reprodutores, pode ser com brinco, mossa ou tatuagem com nanquim. Os animais de alto padrão e pureza racial, normalmente são tatuados e registrados pela A.R.C.O. (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos). Passo importante na ovinocultura é o momento adequado para se executar o desmame das crias. Pode ser utilizado o desmame precoce (aos 45 dias) quando se deseja uma terminação em confinamento desses animais, desmame normal (aos 90 dias de idade) e o desaleitamento natural, ocorrendo por vontade da fêmea ou de acordo com a ingestão de matéria seca do filhote. Quando se pretende terminar os animais em pastagem, recomenda-se manter os cordeiros com a mãe até o momento do abate, pois isto proporciona um ganho de peso muito superior e uma chegada em peso de abate antecipada. Porém, isto gera um desgaste bastante grande para a fêmea, o que pode comprometer a próxima cobertura. Portanto, o produtor vai tomar a decisão de acordo com os seus interesses comerciais. Os cordeiros irão atingir idade de abate de acordo com o peso, o que vai ser diversificado de acordo com o manejo utilizado na propriedade. Normalmente, o produto de melhor aceitação no mercado são animais entre os quatro e oito meses, apresentando peso vivo próximo aos 30 kg e consequentemente, uma carcaça na volta dos 12 kg, ocasião esta em que os animais apresentam pouca deposição de gordura sobre a carcaça, marmoreio adequado, maciez e suculência. Produto este de alta qualidade e muito vendável. 8 - Considerações finais A produção de carne ovina tem participação sócio-econômica crescente nos vários estados da federação brasileira e consolida-se cada vez mais como uma excelente alternativa de diversificação de produção e incremento de renda para os pequenos e médios produtores. A região central do Rio Grande do Sul apresenta uma potencialidade invejável para a inserção desta atividade no mercado e já vem apresentando um crescimento acelerado 16 nos últimos anos. O produtor, ao atentar para estas criações, rapidamente tem um ganho financeiro que lhe proporciona meios de aumentar e melhorar o sistema produtivo num todo. Portanto, a ovinocultura, além de ser altamente sustentável, pode trazer esta sustentabilidade aos outros elos da cadeia produtiva, devido à rapidez em seu retorno financeiro. Para que haja o sucesso desejado no início da atividade e não se tenham surpresas desagradáveis que tragam desânimo para o produtor, basta seguir algumas recomendações vistas neste capítulo e buscar assistência técnica especializada. Da mesma forma, é interessante que haja uma cooperação entre os produtores, para que estes possam unir forças na hora da venda do produto final, evitando-se especulações por parte das empresas frigoríficas e abatedouros. Assim, os produtores que optarem pela ovinocultura, terão capacidade para tornarem-se competitivos no mercado regional, nacional e quiçá internacional. 9 – Bibliografia Citada ÁVILA, V.S.; COUTINHO, G.; RAMOS, C.I. Saúde ovina em Santa Catarina – prevenção e controle. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A., Florianópolis. v.1, p.24-50., 2006. CARVALHO, P.C.F.; BONINO, J.; CONDORELLI, E,; [Org.] PEREIRA NETO, O.A. Práticas em ovinocultura – ferramentas para o sucesso. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, Porto Alegre, 2004. 146p. GRANADOS, L.B.C. Aspectos gerais da reprodução de caprinos e ovinos. Capacitação dos técnicos e produtores do Norte e Noroeste Fluminense em reprodução de caprinos e ovinos. v.1, p.36-78, 2001. LEITE, E.R. Ovinocaprinocultura – a modernização do agronegócio. Empresa Brasileira e Pesquisa Agropecuária, Sobral, 2003, 40p. MACHADO, E.C. Doenças infecciosas em ovinos e caprinos. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, UFBA: Salvador. v.2, 1998, 159p. Site da internet: www.ibge.gov.br. Visualizado em 29/11/2008, disponível em [http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=pr&tema=pecuaria2005&titulo=Pecu%E1 ria%202005]. http://www.ibge.gov.br http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=pr&tema=pecuaria2005&titulo=Pecu%E1 This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF. http://www.win2pdf.com
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