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Capítulo 2 Ovinocultura na Região Sul do Brasil Cleber Cassol Piresa Sergio Carvalhob Stefani Macaric Tatiana Pfüller Wommerd Introdução O ovino é uma espécie privilegiada, pois devido à sua diversidade de produção e à sua adaptação a diferentes condições edafoclimatológicas, difundiu-se por quase todas as regiões do mundo. Em algumas delas, a explo- ração é realizada por meio de técnicas primitivas, apenas visando à subsistência das populações desfavo- recidas. Por outro lado, em outras, como Nova Zelândia, Austrália, Uruguai, Argentina e algumas regiões do Brasil, faz-se uso de técnicas mais avançadas, objeti- vando a elevação da rentabilidade econômica. Na região Sul do Brasil, a ovinocultura está entre as principais atividades pecuárias desenvolvidas. Conforme Viana (2008), seu estabelecimento como exploração econômica se deu no começo do século XX, com a valorização da lã no mercado internacional e, a partir da década de 1940, com o incremento tec- nológico da produção. A produção de lã, por intermédio da criação de raças laneiras e mistas, foi o principal objetivo da exploração econômica da ovi- nocultura, na qual os sistemas produtivos eram desenvolvidos com o intuito de obter a maximização da produção de lã nos rebanhos, enquanto a produção a Professor Titular da Universidade Federal de Santa Maria-Departamento de Zootecnia – cpires@ccr.ufsm.br b Professor Adjunto da Universidade Federal de Santa Maria-Departamento de Zootecnia – scarvalhoufsm@hotmail.com c Pós-doutoranda da Universidade Federal de Santa Maria-Departamento de stefomimacari@yahoo.com.br d Professora de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (IFMS), câmpus Ponta Porã – tatiwommer@hotmail.com ou tatiana.wommer@ufsm.edu.br de carne, produto considerado secundário, apenas supria o consumo dos estabelecimentos rurais. Durante o século passado, a ovinocultura passou por períodos de progressos e crises. As décadas de 1940, 1950 e 1960 ficaram marcadas pela ascensão da atividade com a lã, porém os períodos de crise vieram nos anos 1970 com o apoio maciço do gover- no para a agricultura. Nas décadas subsequentes, a atividade sofreu com o fechamento das cooperativas, o fim do crédito subsidiado e a crise da lã no mercado internacional. Este cenário fez com que muitos pro- dutores deixassem a atividade, o que causou redução drástica no rebanho (Boffil, 1996). Com o desenvolvimento da ovinocultura laneira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), em 1974 o Brasil apresenta- va um efetivo de rebanho de 18.876.770 cabeças (Tabela 2.1), quando 66,17% dos animais encontravam- se no Rio Grande do Sul, principalmente animais das raças Corriedale, Ideal (Polwarth) e Merino. Portanto, havia na época uma grande concentração do rebanho ovino nacional no Rio Grande do Sul, onde a produção laneira apresentava grande importância econômica e social para a cadeia produtiva da ovinocultura e, con- Ovinocultura na região Sul do Brasil 13 sequentemente, para o Estado e para o país. No final da década de 1980, com o surgimento do fio sintético, produto derivado do petróleo com características de maior resistência, uniformidade, produção não estacio- nal, mais abundante e barato, quando comparado ao fio de lã ovina, houve uma desvalorização comercial da lã, repercutindo em desestímulo do sistema de produção. Essa crise estendeu-se durante a década de 1990, o que fez muitos produtores desistirem da atividade, reduzindo significantemente o rebanho comercial, gerando a desestruturação de toda a cadeia produtiva. Outro fator que contribuiu para a redução do rebanho foi o crescimento da área de lavoura, destacando-se as culturas da soja e do arroz, e mais recentemente o aumento da silvicultura. Características O Rio Grande do Sul sempre se caracterizou por ser o maior produtor de lã do país, decorrente da criação de raças especializadas na produção da fibra, produ- zindo, nos últimos anos, volume de lã acima de 90% do volume total brasileiro (Viana, 2008). Verifica-se que o Rio Grande do Sul sempre se caracterizou como o Estado onde foi tosquiado o maior número de ani- mais, que representa em torno de 90% do total (Tabela 2.2). Nota-se que houve, ao longo dos anos, uma redução do número total de animais tosquiados no país, sendo esta uma consequência direta da redu- ção verificada no Rio Grande do Sul, onde ocorreu, do ano de 1974 até 2009, uma queda de 71,62% do total de animais tosquiados. Esse aspecto reflete de forma direta a crise observada no setor laneiro, levan- do à queda significativa do rebanho ovino desse Estado, como consequência da redução do número de animais especializados para a produção de lã. Com a crise do setor laneiro, a ovinocultura gaúcha passou por um processo de reestruturação, tendo ocor- rido a introdução de raças especializadas para a produção de carne, como uma nova alternativa produtiva para o setor. Esse fato deu início ao processo de transição do sistema produtivo laneiro para o sistema de produção de cordeiros para abate, tornando-se, dessa forma, o produ- to carne a principal exploração econômica. Esse aspecto pode ser verificado quando se analisa a participação na Exposição Internacional de Esteio (RS) – Expointer (Fig. 2.1 e Tabela 2.3) de ovinos de raças especializadas para a produção de carne, comparativamente à participação de raças especializadas para a produção de lã. A Expointer é uma das maiores exposições agrope- cuária da América Latina e representa o momento e as tendências da agropecuária gaúcha e brasileira, em seus diferentes segmentos. Em 1970, somente 0,8% dos animais participantes da Expointer eram de raças espe- cializadas para a produção de carne. Com o passar dos anos, ocorreu uma mudança significativa e, no ano de 2010, de um total de 854 ovinos participantes, 75,64% eram de raças especializadas para a produção de carne (Texel, Ile de France, Suffolk, Hampshire Down ou Dorper). É importante ressaltar que esses são animais reprodutores, pertencentes a plantéis de cabanas, cujos descendentes, especialmente os carneiros, serão utili- zados nos diferentes rebanhos comerciais para implementar a genética de produção de carne. Deve-se ressaltar que, embora tenha ocorrido um estímulo do setor produtivo com redirecionamento da ovinocultura gaúcha de uma base de produção de lã para uma base de produção de carne, vários problemas Tabela 2.1 – Evolução do rebanho ovino no Brasil e nos estados da Região Sul Ano Brasil Rio Grande do Sul Santa Catarina Paraná 1974 18.876.770 12.490.066 186.022 216.059 1979 17.806.268 10.850.828 134.310 160.536 1984 18.447.244 10.992.870 181.305 261.925 1989 20.041.463 10.845.901 222.056 360.882 1994 18.436.098 9.711.917 228.648 597.616 1999 14.399.960 4.870.244 208.280 570.382 2004 15.057.838 3.826.650 200.974 488.142 2009 16.811.721 3.946.349 261.322 599.925 Evolução (%) 1974 a 2009 -10,94 -68,40 40,47 177,66 Fonte: IBGE (2009).,40177,66 14 Situação e Perspectivas da Ovinocultura no Brasil Tabela 2.2 – Distribuição dos ovinos tosquiados no Brasil de acordo com o Estado 1974 1984 1994 2004 2009 Bahia 10.435 – – – – Minas Gerais 36.859 24.250 12.465 9.778 5.382 São Paulo 7.236 15.380 25.478 30.932 24.460 Paraná 99.657 121.262 340.728 231.154 258.078 Santa Catarina 98.141 100.791 127.478 91.511 114.440 Rio Grande do Sul 11.976.973 9.926.651 8.540.303 3.337.379 3.398.678 Mato Grosso do Sul – 52.529 91.972 61.664 63.405 Mato Grosso 68.569 – – – – Goiás 11.157 5.692 540 160 100 Distrito Federal 40 – – – – Total no Brasil 12.309.067 10.246.555 9.138.964 3.762.578 3.864.543 Fonte: IBGE (2009). 100 Po rc en ta ge m (% ) 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Raças de carne Outras raças 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 Figura 2.1 – Evolução da participaçãode ovinos de raças de carne e de outras raças na Expointer. de organização de cadeia produtiva ainda precisam ser contornados. Para Calvete e Villwock (2007), a produção de carne ovina no país, e em particular, na região Sul é bastante favorável, devido às condições climáticas e de solo, entre outros fatores. A atividade, entretanto, necessita de melhor organização que pos- sibilite aumentar sua competitividade, uma vez que a produção atual não supre a demanda, pois as impor- tações têm sido um fato notório. Outros fatores, como sazonalidade, baixa qualidade do produto final, falta de cortes que facilitem o trabalho culinário, abate informal, carência de marketing e a falta de mão de obra qualificada prejudicam o desenvolvimento da cadeia produtiva como um todo. Face às dificuldades mensuradas, existem alguns aspectos positivos que devem ser considerados, como a alta demanda por carne ovina, e que nos permitem vislumbrar grandes perspectivas para a exploração da espécie. Neste sentido, iniciativas e alianças estraté- gicas entre organizações de produtores e o setor Ovinocultura na região Sul do Brasil 15 público e privado têm gerado programas de fomento à produção de carne ovina de qualidade na região Sul do Brasil. Um exemplo a ser citado refere-se ao Cor- deiro Herval Premium, que é um programa de carne ovina, com qualidade reconhecida por meio de uma marca garantida por um conselho regulador. Recentemente surgiu no Estado o Programa Cor- deiro de Qualidade ARCO, que vem como uma forma de identificar a valorizar a carne de cordeiro median- te obtenção de selos de qualidade de cordeiros sendo criados e produzidos com critérios técnicos preesta- belecidos. Um aspecto importante a ser destacado é o interes- se de frigorífico(s) em adaptar suas plantas para o abate de ovinos e também desenvolver programas de fomento para produção de carne – FOCO CRIA. Essas iniciativas têm grande importância para o restabelecimento da ovinocultura gaúcha, pois pro- porcionam uma forma mais segura de comercialização para os produtores rurais que tenham interesse em aumentar os seus rebanhos, ou investir na produção de carne ovina como um novo negócio de estabeleci- mentos rurais. O Rio Grande do Sul, no ano de 2009, segundo o IBGE [Pesquisa Pecuária Municipal, IBGE (2009)] possuía um efetivo de 3.946.349 cabeças ovinas. Quando se deseja aplicar estudos sobre a cadeia ovina, a região que se destaca é a Campanha Gaúcha, devido à sua tradição secular na atividade e por apresentar a maior concentração de ovinos do Estado (Figura 2.2). A Campanha Gaúcha é formada por rochas basál- ticas e sedimentares. Os solos são geralmente rasos e com bom teor de nutrientes, sustentando campos limpos e de bom rendimento forrageiro. A região apresenta a maior concentração fundiária do Estado; a produção predominante é a pecuária extensiva, atestando a hegemonia dos estancieiros. Em área menor, o arroz também se destaca contribuindo para a economia dos municípios inseridos na região. A agricultura familiar também está presente, porém a fraca participação de produções com condições de se autossustentar atesta a importância secundária dessa categoria social (Silva Neto e Basso, 2005). O Rio Grande do Sul é composto de 497 municípios e, destes, 23 apresentam um rebanho ovino composto de mais de 50 mil cabeças (Figura 2.2). A soma dos rebanhos desses municípios representa 72,21% do rebanho ovino do Estado, e a maior população ovina se encontra no município de Santana do Livramento, Tabela 2.3 – Evolução da participação de ovinos, de acordo com a raça, na Expointer Raça 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Merino Australiano 0 1 4 2 12 13 23 13 13 12 15 22 Ideal 37 35 31 40 36 42 54 64 58 75 76 50 Corriedale 67 54 55 52 50 54 70 60 36 55 49 57 Romney Marsh 20 22 23 20 17 19 23 16 17 17 19 21 Hampshire Down 50 59 109 85 81 71 77 96 119 85 90 112 Texel 172 226 264 237 288 330 379 329 362 350 335 290 Ile de France 118 103 156 127 159 139 149 126 104 126 135 136 Suffolk 163 165 176 107 108 85 141 159 146 118 155 157 Dorper 0 0 0 0 0 0 2 42 33 19 39 26 White Dorper 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 21 7 Poll Dorset 0 16 27 14 18 8 19 23 23 21 29 24 Karacul 19 17 7 12 16 12 12 15 29 11 19 8 Crioula 0 0 14 15 39 49 61 76 66 51 81 78 Lacaune 9 9 8 0 0 0 0 0 6 8 7 0 Santa Inês 0 0 0 0 0 0 0 14 10 10 14 10 Total 655 707 874 711 824 822 1010 1036 1022 958 1083 998 Fonte: SAR (2005). 16 Situação e Perspectivas da Ovinocultura no Brasil com 10,18% do rebanho gaúcho. A tradição “ovelhei- ra” está arraigada nesses municípios, sendo ela, juntamente com a bovinocultura de corte, a matriz econômica da produção pecuária. Santa Catarina apresenta uma área de 95.346.181 km2 dividida com bases topográfica, ecológica e so- cioeconômica em três regiões distintas, caracterizadas pelo Litoral, Planalto e Oeste Catarinense. Caracteri- za-se por um relevo em sua grande maioria acidentado, favorecendo por limitações físicas a pre- valência de pequenas propriedades familiares. Os agricultores catarinenses vêm buscando diversificação de renda e investindo em ovinocultura, a priori vol- tada à produção de carne e lã, mais recentemente visando à produção leiteira, inclusive figurando como um dos Estados pioneiros na produção de derivados lácteos ovinos, pois 82% dos produtores desses ani- mais estão familiarizados com áreas inferiores a 50 ha (hectare). Apenas 67% da produção são inspecio- nados pelos órgãos oficiais, demonstrando o caráter de produção de subsistência dessas propriedades. Na década de 1970, o rebanho ovino catarinense representava 1,2% do rebanho na região Sul e menos de 1% do rebanho brasileiro. No final da década de 1980, ocorreu aumento no efetivo do rebanho, che- gando a apresentar praticamente o dobro da década anterior e com contínuo crescimento na década de 1990 e final dos anos 2000 (IBGE, 2009). Atualmente, o Estado de Santa Catarina conta com o 12o maior efetivo do país, 261.322 mil cabeças (ver Tabela 2.1), correspondendo a 1,6% do total brasilei- ro e responsável pela produção de 260 toneladas de lã (Tabela 2.4), terceiro maior produtor do país (IBGE, 2009). Existem 11 mil criadores em Santa Catarina, com potencial de crescimento principalmente na área do leite. O Estado teve crescimento triplicado, desde Figura 2.2 – Mapa com a distribuição da população ovina do Rio Grande do Sul. Fonte: IBGE (2009). Paraguai Argentina Santa Rosa Erechim Santa Catarina Santo Antônio Passo Fundo São Borja Caxias do Sul Uruguaiana Santa Maria Porto Alegre Bagé La go a d os Pa to s Pelotas Rio Grande Oceano Atlântico 0 40 80 120 km Uruguai Efetivo de ovinos por município, média 2001 – 2003 cabeças 0 – 5.000 5.001 – 50.000 50.001 – 100.000 100.001 – 413.470 Rio Grande do Sul: 4.054.271 cabeças Brasil: 14.494.189 cabeças Fonte: IBGE – Produção Pecuária Municipal Elaboração: SCP/DEPLAN – 06/2005 Ovinocultura na região Sul do Brasil 17 1980 até hoje, o que gera a expectativa de que a ovino- cultura passe a ser uma pujante atividade econômica (Portal do Agronegócio, 2009). A comercialização de lã para artesanato é outra fonte de renda proveniente da criação de ovinos e, neste item, Santa Catarina destaca-se pela criação de ovinos da raça Crioula Lanada, que durante quatro séculos sobrevive às adversidades climáticas da região, passando por um processo de seleção natural (Vaz, 2000). A criação da raça Crioula Lanada visa à pro- dução de carne, lã e pelego. Admite-se que a raça tenha quatro diferentes expressões genéticas; o encon- trado na Serra Catarinense é a ecotipo Serrana, que é frequentemente criado em regime semi-intensivo a intensivo (Silva, 2010). A produção de ovinos tem captado recursos e in- centivos governamentais, já que é vista no Estado como uma alternativa de renda para a pequena proprie- dade, considerando o retorno rápido que a ovinocultura propicia aos criadores, além dofato de que a atual produção não consegue atender à demanda existente e crescente de consumidores (SAR, 2005). Neste sentido, a ovinocultura brasileira ganhou impulso com a fundação da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos Leiteiros (ABCOL) sediada em Chapecó (SC) e com a introdução no país de animais da raça East Friesian, de tripla aptidão e grande pro- dução leiteira – originária da Alemanha. Essa raça é considerada por especialistas uma das que apresentam maiores produções no mundo, podendo alcançar até quatro litros por dia. Segundo estimativa da ABCOL, o país tem seis mil ovinos da raça East Friesian, aptos a produzir leite. Destes, três mil estão em Santa Ca- tarina (Nascimento, 2010). Outra raça de aptidão leiteira introduzida foi a Lacaune, da França, que atualmente está bem adapta- da às condições de clima e alimentação do Sul do Brasil (Brito et al., 2006). No Paraná, o rebanho ovino vem apresentando um crescente aumento nas últimas três décadas (ver Tabela 2.1). No final da década de 1970, o rebanho ovino paranaense representava menos de 1% do efetivo do rebanho nacional, quantidade esta inex- pressiva, e uma atividade econômica secundária à bovi nocultura leiteira e ao cultivo de lavouras. Acompanhando o crescimento da ovinocultura nacional, o estado do Paraná, no final da década de 1980, teve seu efetivo do rebanho ovino duplicado, atingindo uma representatividade de quase 2% do rebanho brasileiro. No final da década de 1990, apesar do significativo declínio da ovinocultura nacional, impulsionado principalmente pelo surgimento dos tecidos sintéticos e consequente queda do preço pago pela lã, falência de cooperativas e desistência de mui- tos produtores pela criação de ovinos com aptidão laneira, o rebanho ovino paranaense cresceu aproxi- madamente 63% em função do direcionamento da criação para produção de carne. Até a metade da década de 2000, a ovinocultura paranaense manteve seu efetivo de rebanho razoavel- mente estabilizado, assim como o rebanho nacional. A partir do ano 2005, a criação de ovinos desse Estado apresentou um crescimento contínuo, atingindo apro- ximadamente 4% de participação no rebanho nacional. Esse aumento proporcionou ao Estado do Paraná o sexto lugar no ranking nacional no ano de 2009. A atividade da ovinocultura no Estado do Paraná tem como objetivo a exploração de cordeiros exclusi- vamente para abate com a utilização de raças de carne, como a Texel, Ile de France e mais recentemente Dorper e White Dorper. Em função disto, o Paraná apresenta atualmente um sistema de criação mais intensivo, com uso de tecno- logia e sistema de organização em cooperativas. Um fato importante, que deve ser considerado e certamente contribui muito para o crescente desenvol- Tabela 2.4 – Produção de lã e participações relativas em ordem decrescente no ano de 2009 Unidades da Federação Quantidade de lã produzida (toneladas) Participações no total da produção (%) Brasil 11.395 100,0 Rio Grande do Sul 10.442 91,6 Paraná 520 4,6 Santa Catarina 260 2,3 Mato Grosso do Sul 103 0,9 São Paulo 60 0,5 Minas Gerais 8 0,1 Fonte: IBGE 2009. 18 Situação e Perspectivas da Ovinocultura no Brasil vimento da ovinocultura desse Estado, são suas condições climáticas. Segundo a classificação de Köppen, a grande parte do Estado apresenta clima Cfa e Cfb (subtropical úmido) com temperatura média anual e pluviometria idênticas às encontradas em muitas cidades do Rio Grande do Sul, onde a ovino- cultura é explorada com êxito. Como exemplo, citamos a cidade de Santana do Livramento (RS), que apre- senta também um clima subtropical e é o município com o maior rebanho ovino do Estado. Nos anos de 1996 e 1997 foi realizado um estudo (Barbosa et al., 2001) sobre zoneamento bioclimático da ovinocultu- ra no Estado do Paraná (2.700 observações), com o objetivo de determinar uma distribuição mais racional de algumas raças ovinas, segundo a zona de conforto térmico das mesmas. Os autores concluíram que uma extensa faixa ao longo do litoral do Estado, até cerca de 200 km para o interior, até os limites das cidades de Castro, Telêmaco Borba, Laranjeiras do Sul da região Central e da cidade de Pato Branco da região Sudoeste, permite a criação das raças Hampshire Down, Ile de France e Texel, sem proporcionar maior empenho do metabolismo termorregulador. As perspectivas de crescimento da ovinocultura paranaense são muito promissoras, principalmente pela existência, recentemente, de incentivos estraté- gicos e apoio de entidades do governo (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná – SEAB; Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER; Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR; Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR) para a estruturação da cadeia produtiva. Uma estratégia nova do governo é a implantação de uma unidade de Produção de Matrizes e Reprodutores Ovinos e Genética Animal. Este projeto tem como objetivo ampliar a base genética de ovinos existente no Estado, proporcionar aos produtores animais me- lhorados e tornar o Paraná uma unidade-referência da federação em relação a material genético ovino de qualidade. Nesse projeto ainda se incluem unidades de apoio, como estudo de mercado, visando identificar a concorrência no mercado consumidor e manter uma escala de produção e oferta regular. Os incentivos governamentais estão voltados tam- bém para projetos de formação de associativismo com o objetivo de qualificar a produção e os processos produtivos e fortalecer as entidades de produtores (Associação Paranaense de Criadores de Ovinos – OVINOPAR). A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o IAPAR também incentivam pesquisas direcionadas à produção animal e ao desenvolvimento de espécies forrageiras cultivadas em distintas regiões do Estado. Por meio de pesquisas têm-se respostas importantes para que possam ser difundidas diferentes tecnologias e melhorias no sistema produtivo. Deve ser mencionado que no Estado do Paraná existe o Projeto Gourmet, com apoio da EMATER, cujo objetivo é promover ações para que a carne ovi- na seja inserida no mercado com as características que atendam às exigências do consumidor. Para isto são realizados cursos de análise sensorial, de cortes espe- ciais com a carne ovina, bem como técnicas de preparo desse produto. Dentre as ações desse projeto destaca-se também a difusão da carne pela criação do marketing empresarial e degustação em supermercado, feiras e eventos gastronômicos com o objetivo de educar o consumidor para esse produto diferenciado. REFERênCIAS BIBlIOGRáFICAS ASSENAT, L. Composición e propriedades. Ju: LUQUET, F.M. Lecle y pro- ductos lácteos: vaca-oveja-cabra. Zaragoza: Acribia, 1991. p. 277-313. BARBOSA, O.R. et al. Zoneamento bioclimático da ovinocultura no Estado do Paraná. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 30, n. 2, p. 454-460, 2001. BOFFIL, F.J. A reestruturação da ovinacultura gaúcha. Guaíba: Livraria e Editora Agropecuária, 1996. 137p. BRITO, M.A. et al. Composição do sangue e do leite em ovinos leiteiros do sul do Brasil: variações na gestação e na lactação. 2006. Ciência Rural, Santa Maria, v. 36, n. 3, p. 942-948, 2006. CALVETE, R.; VILLWOCK, L.H. Perfil da ovinocultura de lã e carne do Rio Grande do Sul e seus desafios para o futuro. 2007. 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