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DIREITO PENAL HOMICÍDIO PRIVILEGIADO: CONCEITO: “Se o agente comete o delito impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço” (art. 121, § 1º, CP). Não se trata de um delito autônomo, mas de um caso de diminuição de pena. Não alteram o crime (são circunstâncias), mas apenas a pena. Apesar do vocábulo “pode”, o entendimento que se firmou na doutrina e jurisprudência majoritária é de que, reconhecido o homicídio privilegiado pelos Jurados, o juiz deve reduzir a pena, ficando a seu critério somente o “quantum”, dentro dos moldes dados pelo dispositivo (redução de um sexto a um terço). FIGURAS: a) VALOR SOCIAL: Ocorre quando o motivo diz respeito a interesses coletivos. Ex.: Matar o traidor da pátria ou matar um perigoso bandido para que se assegure a tranqüilidade na comunidade, entre outros. b) VALOR MORAL: Ocorre quando o motivo diz respeito a um interesse individual, particular do agente, naquilo que a moral média reputa nobre e merecedor de indulgência. Ex.: Matar o estuprador da filha; homicídio eutanásico, entre outros. O valor social ou moral do motivo deve ser considerado sempre objetivamente, segundo a média existente na sociedade e não subjetivamente, segundo a opinião do agente. c) SUJEITO SOB O DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, LOGO EM SEGUIDA A INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA: Também conhecido como “homicídio emocional”, tem como requisitos: 1. Domínio do agente por violenta emoção: a emoção é um estado súbito e passageiro de instabilidade psíquica. É a perturbação da afetividade. Deve ser violenta, intensa, causando verdadeiro “choque emocional”, pois quem reage com frieza não pode invocar o privilégio. Existindo apenas a “influência da emoção”, ocorre somente a atenuante prevista no artigo 65, inciso II, alínea “c”, do CP. 2. Injusta provocação da vítima: por mais grave que seja a provocação, somente ocorrerá o homicídio privilegiado ser for ela injusta, antijurídica, sem motivo razoável. 3. Cometimento do crime logo em seguida à injusta provocação da vítima: Não é possível determinar-se tempo para a duração da violenta emoção. 1 DIREITO PENAL Todavia, não se verifica o privilégio quando se verifica um hiato, um espaço de tempo considerável entre a injusta provocação e o crime, que só será privilegiado se ocorrer enquanto durara a exasperação do estado do agente. A jurisprudência majoritária e doutrina entendem que a reação deve ser quase que imediata, momentos após. Um homicídio cometido horas ou dias depois da provocação injusta da vítima não é privilegiado. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO E CRIME HEDIONDO: Existe incompatibilidade entre o homicídio privilegiado e o crime hediondo. O homicídio simples, como visto, só é hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Por tal, não se compatibiliza com o “relevante valor social ou moral ou logo em seguida a injusta provocação da vítima”. “QUANTUM” DA REDUÇÃO DA PENA: Reduz a pena aplicada de um sexto a um terço, podendo, inclusive, ir aquém do mínimo legal previsto abstratamente. HOMICÍDIO QUALIFICADO: HIPÓTESES: Art. 121, § 2º, incisos I a V, CP. RESULTAM: 1- Dos MOTIVOS DETERMINANTES (I e II); 2- Dos MEIOS (III); 3- Da FORMA (IV); e 4- Da CONEXÃO com outro crime (V). QUALIFICAÇÃO PELOS MOTIVOS DETERMINANTES: a) MOTIVO TORPE: é o motivo abjeto, mais que baixo, vil, profundamente imoral. O legislador cita o homicídio mediante paga ou promessa de recompensa, torpe por excelência, deixando em aberto a qualificadora para abranger outros motivos torpes, como por exemplo, a inveja, a vingança, etc. É o chamado “homicídio mercenário”. 2 DIREITO PENAL A paga não precisa ser feita em numerário, podendo consistir em promessa de emprego ou promoção, perdão de dívida, casamento, etc. Por tal motivo, existe divergência doutrinária a respeito da necessidade da recompensa ter valor patrimonial, como é o caso da promessa de pagamento. Não será necessário que o homicida receba efetivamente a recompensa ou que a recebe por inteiro, bastando a promessa. b) MOTIVO FÚTIL: é o motivo insignificante, leviano, de somenos importância, o motivo desproporcionado com a conduta desempenhada. Ex.: matar o dono do bar que não quis servir “pinga”; matar por discussão familiar; matar por que a vítima pediu para que não batesse na esposa; pelo desafio da vítima; etc. QUALIFICAÇÃO PELOS MEIOS E MODOS DE EXECUÇÃO: Meio é o instrumento de que se serve o agente para a prática criminosa; modo de execução é a forma pela qual se apresenta a conduta. a) MEIOS: os meios que qualificam o homicídio são os que se revestem de insídia, crueldade, ou os que possam provocar perigo comum (fórmula genérica e mais abrangente). O venefício é o homicídio insidioso mais característico. Se ministrado violentamente, sem insídia, não qualifica o crime. O fogo não é apenas meio cruel, como poderá ensejar o perigo comum. O explosivo provoca perigo para a comunidade, atingindo, quase sempre, vítimas outras além das pretendidas. A asfixia impede o exercício da função respiratória, apresentando-se como meio cruel. A tortura consiste na inflição de suplícios e tormentos inúteis, que antecedem a morte, sendo meio cruel por excelência. b) MODOS DE EXECUÇÃO: como no inciso anterior, o legislador principia com a fórmula exemplificativa: homicídio cometido à traição, de emboscada ou mediante dissimulação; e arremata com a fórmula genérica: ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. A traição caracteriza-se pela perfídia e pela deslealdade. Atualmente, o melhor entendimento é no sentido de que, para o reconhecimento da qualificadora da traição, necessário que se demonstre que havia uma prévia relação de confiança entre as partes e que o agente tenha se utilizado de tal situação para praticar o delito, como por exemplo, matar a esposa no quarto do casal, dormindo. Caso o autor mate outra pessoa, desconhecida, dormindo na rua, como exemplo, responderá por homicídio qualificado, porém, pela qualificadora genérica do recurso que dificulte ou impossibilite a defesa da vítima. . Na emboscada o agente espera a vítima descuidada, oculto, no local por onde ela irá passar, para colhê-la de surpresa. É a “tocaia. A dissimulação é a ocultação do próprio desígnio, é o disfarce que esconde o propósito delituoso (ex.: disfarce). A fraude precede a violência. A surpresa não foi expressamente enumerada no atual Código Penal. Todavia, qualifica o crime por ser um recurso que torne impossível ou dificulta a defesa do ofendido (ex.: vítima dormindo). Existem decisões tratando a surpresa como “traição”. 3 DIREITO PENAL QUALIFICAÇÃO EM RAZÃO DOS FINS PELOS QUAIS A CONDUTA É PRATICADA: FIGURAS: -Para assegurar a execução de outro delito. Ex. matar a empregada para seqüestrar a criança; -Para assegurar a ocultação de outro crime. Ex. Desastre ferroviário criminoso tido como acidente, onde o agente mata a testemunha para que não se descubra que houve o crime. O delito não é conhecido. -Para assegurar a impunidade de outro crime. Ex. o incendiário mata a testemunha do crime. É desconhecida somente a autoria; -Para assegurar vantagem em relação a outro crime. Ex. mata o parceiro do estelionato, com a finalidade de ficar com todo o produto do delito. Não há necessidade de vantagem patrimonial, podendo ser: Produto do crime - coisas adquiridas com o crime; Preço do crime - paga ou promessa de recompensa; ou Proveito do crime - qualquer outro que não seja produto e nem preço. O “outro” crime de que fala o dispositivo pode ser cometido por outra pessoa. CONCORRÊNCIA DO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO COM O QUALIFICADO: Existe entendimento de que não pode haver tal concorrência, ante a disposição do homicídio privilegiado no CP (§ 1° do art. 121, que diz respeito somente ao “caput”, máxime se tratando de causa de diminuição depena). Outra posição é no sentido de possibilidade da concorrência, porém, de forma parcial. As circunstâncias legais do homicídio privilegiado são de natureza SUBJETIVA. No homicídio qualificado, algumas são objetivas (§ 2º, III e IV, salvo a crueldade), outras, subjetivas (§ 2º, I, II e IV). Assim, não pode concorrer o privilégio com as qualificadoras de natureza subjetiva. Os motivos subjetivos determinantes são antagônicos - Ex. motivo fútil e de relevante valor moral. Poderá, no entanto, haver a concorrência, com as qualificadoras objetivas. Ex.: Homicídio eutanásico cometido mediante envenenamento; Pai que mata estuprador da filha, de emboscada. É a posição que se apresenta como melhor solução ao caso. CRIME HEDIONDO: Tentado ou consumado, o homicídio doloso qualificado, em qualquer de suas figuras típicas, é delito hediondo, nos termos do art. 1º, inc. I, parte final, da Lei nº 8.072/90, com redação da Lei nº 8.930/94. GENERALIDADES: 1. A premeditação não constitui qualificadora, podendo agravar a pena (art. 59, CP); 2. O parentesco também não qualifica a pena, apenas agravando-a (art. 61, II, “e”, CP); 4 DIREITO PENAL 3. Embora haja divergência doutrinária a respeito, de que as circunstâncias do homicídio qualificado de caráter pessoal, objetivas ou subjetivas, se comunicam entre os agentes, o entendimento majoritário e mais coerente é no sentido de que as circunstâncias subjetivas não se comunicam e as objetivas somente se comunicam quando entrarem na esfera de conhecimento do coautor ou partícipe; 4. Reconhecida mais de uma qualificadora, a primeira qualifica e as demais atuam como agravantes dela. 5
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