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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO – CAC DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE E EXPRESSÃO ARTÍSTICA CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA BRUNA RENATA BARBOSA E SILVA NOS PASSOS DO FREVO: CAMINHOS PARA VALORIZAÇÃO DO PASSISTA RECIFE - PE 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO – CAC DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE E EXPRESSÃO ARTÍSTICA CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA BRUNA RENATA BARBOSA E SILVA NOS PASSOS DO FREVO: CAMINHOS PARA VALORIZAÇÃO DO PASSISTA Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Licenciatura em Dança, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Dança. Orientadora: Profa Dra. Maria Claudia Alves Guimarães RECIFE - PE 2015 NOS PASSOS DO FREVO: CAMINHOS PARA VALORIZAÇÃO DO PASSISTA BRUNA RENATA BARBOSA E SILVA Aprovada em ____/____/_____. BANCA EXAMINADORA: _________________________________________________ Profa. Dra. Maria Claudia Alves Guimarães Orientadora __________________________________________________ Prof. Mestre Arnaldo Siqueira __________________________________________________ Prof. Dr. Everson Melquíades AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço à Deus que me permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo de minha vida, е não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer. À Universidade Federal de Pernambuco, pela oportunidade de fazer о curso. À minha orientadora Prof.ª Dr.ª Maria Claudia Alves Guimarães pelo suporte e pelo tempo que me dedicou e por suas correções е incentivos. A todos os meus professores de dança. À minha família, pelo amor, incentivo е apoio incondicional, em especial a minha avó Maria José, pois sem ela não teria iniciado a minha jornada artística e ao meu namorado, Junior Lopes, que durante todo esse tempo me apoiou. Meus agradecimentos a todos os entrevistados nessa monografia, especialmente aos amigos: Rennê Cabral, Rebeka Barbalho, José Valdomiro. Peço desculpas por não nominar aqui todos os companheiros de trabalhos е irmãos na amizade que fizeram parte da minha formação е que continuarão presentes em minha vida. A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, о meu muito obrigado. RESUMO Nos passos do frevo: caminho para valorização do passista A presente monografia, intitulada – “Nos passos do Frevo: caminhos para valorização dos passistas” – teve como objetivo discutir o processo de valorização dos passistas de frevo com o intuito de refletir sobre o que ainda precisa ser feito neste sentido. Tendo em vista que, em 2012, o frevo se tornou patrimônio imaterial da humanidade, achamos importante fazer este estudo sobre a condição de trabalho dos passistas. Assim, esta monografia engloba uma discussão que perpassa pela história do frevo, sobre o conceito de cultura popular e de patrimônio imaterial, e uma investigação sobre a condição profissional dos artistas que se dedicam à esta arte, ou melhor, dos diretores e dos passistas de alguns grupos atuantes na Cidade do Recife. Para realização deste estudo optamos por fazer pesquisa qualitativa entrevistando dezoito pessoas vinculadas a quatorze grupos de frevo do Recife. A entrevista foi feita de maneira estruturada, desenvolvida através de um questionário específico, tanto para os diretores como para os passistas, a fim de identificar o perfil de cada um e a sua condição o para que este seja realmente valorizado, e o passista tenha o reconhecimento de sua arte. Palavras-chaves: Dança, Frevo, Passo, Passistas, Patrimônio. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Passo Pernada --------------------------------------------------------- p.12 Figura 2 – Passo Rojão ----------------------------------------------------------- p.13 Figura 3 – Passo Malandro ------------------------------------------------------- p.13 Figura 4 – Passo Metrô-Subterrâneo -------------------------------------------- p.14 Figura 5 – Passo Saca-Rolha ----------------------------------------------------- p.15 Figura 6 – Passo Carpado --------------------------------------------------------- p.15 Figura 7 – Passo Festival de Bailarina ------------------------------------------ p.16 Figura 8 – Passo Tesoura ---------------------------------------------------------- p.16 Figura 9 – Passo Tesourão Aberto ----------------------------------------------- p.17 Figura 10 – Passo Martelo --------------------------------------------------------- p.17 LISTA DE TABELAS: Tabela 1: Grupos participantes do período carnavalesco de Recife. ----------- p.32 Tabela 2: Grupos entrevistados. ----------------------------------------------------- p.38 Tabela 3: Pessoas entrevistadas. ---------------------------------------------------- p.43 Sumário INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 7 1 – FREVO, ESSÊNCIA E EXCELÊNCIA. ........................................................................... 10 2 – CONSOLIDAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO. .................................................................... 24 3 – RECONHECIMENTO. ...................................................................................................... 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 47 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 48 7 INTRODUÇÃO O frevo é um ritmo genuinamente pernambucano e teve sua origem com os capoeiras e militares no final do século XIX. Nesse período devido a outros interesses particulares, os capoeiras eram designados a utilizar a capoeira para fins ilegais e também eram contratados para fazer a segurança de algumas agremiações que saíam em desfiles de carnaval e quando as agremiações se encontravam era causado o maior “furdunço” e, por isso a sua prática foi proibida pelos regentes da lei. Por esta razão, os capoeiras foram obrigados a utilizar sua criatividade para camuflar os golpes no intuito de não serem percebidos pelas autoridades. Com os objetos que tinham em mãos, que poderiam ser de um chapéu até uma sombrinha, os capoeiras escondiam suas armas e até transformavam os próprios objetos em armas disfarçadas. Com a necessidade de disfarçar os golpes, os capoeiras começaram a realizar um tipo de dança que viria se tornar a dança do frevo e assim, passaram a ser chamados de passistas. Na medida em que o frevo se propagava as pessoas começaram a se interessar pelo aprendizado desta dança, em decorrência deste interesse, Nascimento do Passo, um dos precursores da dança do frevo na cidade, viu a necessidade de abrir uma escola para poder ensinar a sua metodologia do frevo. E foi através de uma orquestra de frevo e passistas que dançavam na esquina da rua que moro que conheci e me apaixonei pelo frevo, vindo depois de um tempo a iniciar as minhas aulas na escola de frevo criada por Nascimento do Passo, levando-me a praticar e a dançar até os dias atuais. Pelo fato de estar há 15 anos envolvida com este tipo de dança senti a necessidade de discutir sobre a valorização dos passistas. Assim, esta monografia tem como objetivo a discussão do processo de valorização dos passistas de frevo, a partir de sua história, da mudança do entendimento do frevo como “folclore” para “patrimônio cultural imaterial da humanidade”, da análise das condições e das perspectivas de trabalho de quem se dedica a este tipo de dança. Diante do fato, do frevo ter se tornadopatrimônio imaterial da humanidade em 2012, achamos importante refletir nesta monografia sobre a condição de trabalho dos passistas, na medida em que não existe nenhuma pesquisa que trate sobre a questão. Para isto, no primeiro capítulo trataremos sobre a história do frevo música e do frevo dança, fazendo uma breve revisão bibliográfica a respeito. No segundo capítulo, discutiremos sobre a questão do folclore, da cultura popular e do patrimônio imaterial, verificando também através destas classificações o percurso de valorização pelo qual o frevo passou 8 conceitualmente. No terceiro capitulo, trataremos mais especificamente sobre os passistas, os coreógrafos e os diretores de grupos de frevo, levantando dados de 18 profissionais de 15 grupos de frevo que atuam na capital Pernambucana, a fim de traçarmos um perfil sobre a formação destes artistas, de sua condição de vida, de sua faixa de ganho, das dificuldades de trabalho, etc. Neste sentido, esperamos contribuir academicamente para que esta discussão comece a ser feita, e para que novos passos sejam dados no sentido de realmente conquistarmos uma valorização do trabalho destes artistas. 9 O “Frevo”... Que coisa é o Frevo? De onde veio essa voz que não é bem palavra porque não exprime ideia? É tudo e nada. É a ebulição do gozo, o vapor dos nossos instintos animais, que a língua não sabe traduzir e só o gesto deixa adivinhar [...] e o “Frevo” é isso que se vê, mas não se sabe dizer. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 22/02/1924). 10 1 – FREVO, ESSÊNCIA E EXCELÊNCIA. Um marco de criação entre conflitos O primeiro carnaval que Recife conheceu nos meados do século XIX, era chamado de entrudo, uma brincadeira de jogar limas de cheiros nas outras pessoas, que com o passar do tempo deixou de ter um sentido de diversão, para servir como objeto de agressão às pessoas de alta sociedade. Por esta razão, as limas-de-cheiro deixaram de serem compostas de água, farinha, trigo, ovos,... e passaram a ser compostas por águas fortes e outras drogas venenosas. Observando o que estava acontecendo, nos meados do século XIX o governo decretou que o entrudo, estava proibido em todo o país. Como nessa época o carnaval consistia apenas na brincadeira de entrudo, foi cogitado que não haveria mais carnaval. Diante disso, houve uma reunião no Congresso Nacional, onde foi definido que o carnaval não deixaria de existir, mas passaria a seguir as regras e padrões das festas europeias, o que acabou dando formato aos bailes de carnaval. Desta forma, foi delimitada a participação nos bailes apenas para os mais favorecidos. Com isso, o povo buscou criar seu carnaval nas ruas. Em todo o país o carnaval seguia os padrões europeus, com exceção de Pernambuco, onde a figura dos capoeiras, tidos como desordeiros, acompanhavam os batalhões da cidade provocando outros grupos. Assim em 1856, o governo proibiu a presença dos capoeiras na frente das bandas militares durante os desfiles. Conforme Duarte (s.d, p. 18), comenta: Esses capoeiras vinham de longa data acompanhando os batalhões. [...] O desfile desse pessoal era feito em moldes de verdadeiro delírio, pulando, girando o corpo, treinando os golpes da capoeira, ainda armados de cacête e aos gritos, desafiando os adversários para a luta, com a advertência de que “se vier, morre!”. Esses episódios de violência perduraram por muito tempo, apesar da proibição imposta pelo governo. Assim, os capoeiras começaram a seguir na frente das agremiações 1 , que começaram a surgir a partir de 1889. Esses clubes foram criados por amigos, trabalhadores, ex-escravos, e outros. Um dos primeiros clubes foi o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas no ano de 1889, formado por varredores da cidade, que tinha como objetivo a diversão, e como consequência a briga. Com a criação de diversos clubes, a polícia teve a necessidade de 1 Antes de ganharem a denominação agremiação elas eram chamadas de Clubes pedestres ou Clubes de Rua conforme a antropóloga Katarina Real. 11 dividir os horários dos desfiles para que não acontecessem encontros entre os clubes rivais, evitando desta forma, os conflitos, como o que é narrado a seguir: A rua era estreita. Os dois clubes pararam frente á frente e depois de entendimentos entre seus dirigentes ficou assentado que não haverá briga. Os dois se cumprimentariam, os estandartes se cruzariam numa mensagem de paz, no mais completo silêncio das orquestras, e, depois, cada uma seguiria seu destino. E dando execução aos entendimentos havidos, os dois porta- estandartes se aproximaram a passo lento, cada um se inclinou para o outro numa reverência rasgada, as bandeiras quase se tocando, tudo em meio ao mais respeitoso e total silêncio. Foi quando alguém, “cedendo aos nervos tensos”, informa o cronista gritou para um dos homens: - Fala na mãe desse corno, Zé! O impropério valeu por um grito de guerra. Pareceu que todo mundo estava esperando, de um lado e de outro, por êle, para começar uma briga. Não se soube nunca se Zé falou ou não na mãe do outro. O que se soube foi que os dois bandos se engalfinharam em luta corporal das mais violentas, lembrando os bons tempos dos “carnavais de sangue” das manchetes dos jornais antes da pacificação imposta pela Federação ou daquelas estocadas fatais que os capoeiras vibravam, com canos de chapéu-de-sol, nas barrigas volumosas dos negociantes portugueses da cidade. (DUARTE, s.d- p. 54) Diante da necessidade de se esconder dos policiais, os capoeiras que vinham à frente destas agremiações, com seus cassetetes, facas, canivetes, e canos de chapéu de sol tiveram que improvisar e começar a usar o guarda-chuva como instrumento de ação, transformando-o em arma a qualquer momento. Também tiveram a necessidade de modificar seus golpes para que à vista dos policiais, aparentassem ser apenas uma brincadeira. Com isso, foram surgiram os movimentos que se tornariam os passos de frevo. Contudo, não eram apenas os capoeiras que brigavam quando se encontravam com outra agremiação, as orquestras também tinham suas desavenças e isso acontecia por que uma orquestra queria tocar melhor e mais alto do que a outra, abafando o som, para que vencesse a disputa. Em decorrência disto surgiu o frevo abafo, como um dos gêneros do frevo de rua. Assim, foi como o frevo começou a ganhar sua forma abstrata, pela necessidade do povo ganhar as ruas, de se divertir e por consequência brigar. Por isso o significado da palavra frevo engloba os dois sentido, tanto o de diversão como o de briga. Segundo Duarte (s.d, p. 45) Na linguagem chã do povo, frevo quer dizer uma porção de coisas. Todo pernambucano compreenderá perfeitamente bem o que se quer dizer com a expressão, por exemplo, seguinte: 12 - Menino, ontem na rua Nova, foi um frevo!.... Ou então - O doutô estava falando do candidato dele. Que era isso e aquilo [...] Aí chegou a policia e começou o frevo... Segundo o pesquisador Valdemar de Oliveira (1985, p. 12) quem criou a palavra frevo foi Oswaldo de Oliveira empregando-a, pela primeira vez, na imprensa no dia 9 de fevereiro de 1907, no jornal recifense O Pequeno. Esta reportagem fala sobre o repertório da orquestra que tocara no baile realizado pelo clube Empalhadores do Feitosa. Como dizia Nascimento do Passo em suas aulas teóricas, a palavra frevo teve sua origem a partir da expressão frever, que induz ao verbo a ferver, chegando à palavra final frevo. Isso ocorreu em virtude da efervescência que se sentia ao ver a multidão passar, ou até mesmo, pela experiência de estar no meio dessa multidão.Como já foi dito, no intuito de disfarçar essas brigas no meio da multidão, para que os policiais pensassem que fossem apenas brincadeiras, os capoeiras fizeram modificações em alguns de seus golpes. Com isso, foram surgindo os primeiros passos do frevo, e, na medida em que estes capoeiras foram se apropriando das movimentações do passo, estes, começaram a ser chamados de passistas. Alguns passos tiveram sua origem nos golpes de capoeira tendo, portanto, o princípio de movimento: a ginga, o vigor e o improviso. Dentre os passos que ainda podemos identificar a forma da capoeira estão: Pernada – Chuta a perna direita à sua frente; realiza um giro de 360º, nesse giro acontece à troca das pernas; finalizando com a perna esquerda no lugar da perna direita. Passo Pernada Figura 1 – Acervo Pessoal. Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes 13 Rojão – O movimento começa na posição lateral. Perna direita flexionada para trás e braço direito flexionado a cima da cabeça, com um pulinho troca-se a perna e o lado e tudo se repete. Passo Rojão Malandro - com o apoio de uma das mãos no chão, joga-se as perna lateralmente em direção a cabeça. Passo Malandro Figura 3 - Acervo Pessoal. Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes Mas, além da capoeira, o frevo também recebeu influências de outras danças, como por exemplo, a dança russa e o balé clássico. De acordo com o relato de Oliveira (1985 apud Lélia, 2006) aconteceu em Recife uma apresentação de um grupo de dança russa, dentre o público estava o passista Nascimento do Passo, que após o espetáculo quis reproduzir ao seu modo os passos que viu, resultando na criação de novos passos de frevo, como, por exemplo: Figura 2 - Acervo Pessoal. Fotógrafo: Helder Tavares. Passista: Kezia Giles 14 Metrô Subterrâneo – em base 2 fechada retira um dos pés do chão esticando a perna a sua frente sem se levantar da base, a dinâmica do movimento ocorre na troca das pernas passando a sombrinha por baixo da perna. Passo Metrô Subterrâneo Saca-Rolha – em base fechada, levanta-se um pouco realizando uma torção na cintura e depois retornando a base fechada e depois para o outro lado. Passo Saca-rolha 2 Base – flexão total dos joelhos que pode ser com as pernas abertas ou fechadas, na nomenclatura do balé clássico se chama Grand Plié em primeira posição ou em sexta posição. Figura 5 – Acervo Pessoal Fotógrafo: Duda Santos. Passista: Bruna Renata Figura 4 – Acervo Pessoal. Fotógrafo: Duda Santos. Passista: Bruna Renata 15 Carpado – É um salto, que inicia na base fechada; o ápice do movimento se dá ao estar com as pernas abertas lateralmente. Passo Carpado Seguindo o mesmo exemplo russo, houve outros passos que tiveram embasamento no balé clássico, como, por exemplo: Festival de Bailarina – Base aberta e com pequenos pulos utiliza as pontas dos dedos de forma flexionada no chão, usando as pernas abertas, fechadas, cruzadas ou só uma perna. Passo Festival de Bailarina Figura 7 – Acervo Pessoal. Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes Figura 6 - Acervo Pessoal Fotógrafo: Helder Tavares. Passista: Junior Lopes. 16 Comuns são os traços de danças norte-americanas aqui chegadas e exibidas em teatros populares, o Helvética, o Parque, outros mais modernamente nos filmes musicados. Do cake-walk alguma coisa ficou, como do Charleston (ainda hoje se vê o jogo de braços a alternar com as pernas flectidas), do shimmy (busto tremelicando), de outras. O passo de cócoras, com jogo das pernas alternadamente jogadas para diante, é copiado, servilmente (menos no cruzamento dos braços) de danças de cossacos que andaram pelo Recife, há muitos anos passados. Da mesma maneira, de conjuntos salvos folclórico ficaram os grandes saltos com abertura das pernas nos ares, típicos de danças da Ucrânia ou da Geórgia. (OLIVEIRA, 1985, p. 111) Outro viés de inspiração para criação dos passos foram os instrumentos de trabalho usado no dia-a-dia, exemplos disso são os materiais como: Tesoura – Este passo se dá na movimentação de cruzamento e extensão das pernas e dos braços alternadamente. Passo Tesoura Figura 8 – Acervo Pessoal Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes Tesourão Aberto – O movimento inicia na base, com os braços levantados acima da cabeça e com um pequeno salto realiza a abertura das duas pernas apoiando-se sobre os calcanhares, no momento do pequeno salto os braços são abertos em movimento descendente, realizando um impulso natural de subida do corpo. 17 Passo Tesourão Aberto Figura 9 – Acervo Pessoal. Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes Martelo – O passo inicia na base, com os braços levantados a cima da cabeça com um pequeno salto realiza uma transferência de peso das duas pernas para uma apoiando-se no calcanhar, no momento do pequeno salto os braços são abertos em movimento descendente, realizando um impulso natural de subida do corpo. Passo Martelo Figura 10 – Acervo Pessoal. Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes Consequentemente essas relações dos passos com os materiais de trabalho, também deu origem aos nomes que alguns passos levam como podem os observar nos exemplos acima e como Zenaide expõe: De origens diversas os nomes dos passos são curiosos e muitos fazem referência a instrumentos e objetos presentes no cotidiano do trabalhador, 18 como dobradiça, alicate, chave de cano, serrote, tesoura, parafuso, martelo, britadeira. Outros foram batizados posteriormente por seus próprios criadores, que lhes davam nomes miméticos como saci, patinho, coice de burro, faz que vai mas não vai, banho de mar, grilo. Egídio Bezerra, Nascimento do Passo e, em seguida o Balé Popular do Recife foram responsáveis pela criação e “batismo” de vários passos. Bezerra (2011, p. 22). Hoje em dia é muito difícil calcular a quantidade exata de passos de frevo existente. Nascimento do Passo costumava dizer em suas aulas “A quantidade de passos existentes é a mesma que a quantidade de pernambucanos”. O desenvolvimento da música do frevo aconteceu paralelamente ao da dança. Como já foi dito, a música teve sua origem nas bandas militares 3 , por serem as únicas que realizavam as festas das cidades, tocando ritmos como marcha, polca e maxixe. Com o passar dos anos, a música foi sofrendo um hibridismo, que gerou a música do frevo. Inicialmente as composições eram apenas instrumentais, assim, chamado de Frevo de Rua, sendo composto por três divisões: Frevo-coqueiro, Frevo ventania e Frevo abafo. Para entender melhor a definição de cada tipo de frevo é importante compreender a composição instrumental de uma orquestra, formada por: trompetes, trombones, tuba, saxofone, clarinetes, requinta, flauta, flautim, surdo, caixa e pandeiro. Sendo assim, a diferença existente nesses frevos era o instrumento que mais se sobressaía, exemplos: no frevo-coqueiro, os instrumentos que geram notas agudas ganham destaque, se sobressaindo o trompete, exemplo: Música relembrando o norte – Maestro Severino Araújo; No frevo-ventania, se sobressai o saxofone por criar sequências ininterruptas de semicolcheias 4 , exemplo: Música Mexe com tudo – Maestro Levino Ferreira; No frevo-abafo, a característica é a necessidade de uma orquestra se sobressair ao toque de outra orquestra, ou seja, quanto mais alto melhor. Um exemplo disto é a música Cabelo de fogo do Maestro Nunes. 3 Atualmente, de acordo com o mapeamento realizado pelo músico e pesquisador Renan Pimenta, existem cerca de 160 bandas de música no Estado de Pernambuco,entre militares e civis, e a maioria tem o frevo como parte fundamental do seu repertório. Os músicos militares são liberados para compor as diversas orquestras de frevo do Recife e de Olinda, fazendo dessa atividade um rendimento financeiro extra. (LÉLIS, 2011- p. 16) 4 Nota que vale 1/4 de tempo ou metade da colcheia. 19 Com o início da música gravada em 1922, o ritmo ganhou mais força, e a partir da década de 1930, a música do frevo ganhou outras ramificações: Frevo Canção e o Frevo de Bloco. Neste sentido o Frevo Canção pode ser descrito como semelhante ao Frevo de Rua, no que, se refere à questão instrumental, sendo o que o diferencia enquanto gênero é a presença de um cantor à frente interpretando a melodia em palavras. Um dos frevos canção mais conhecido é a música: “Voltei Recife”, do compositor Capiba que tem sido interpretada por vários cantores, como por exemplo, Alceu Valença. Voltei, Recife Foi a saudade que me trouxe pelo braço Quero ver novamente "Vassoura" na rua abafando Tomar umas e outras e cair no passo Cadê "Toureiros"? Cadê "Bola de Ouro"? As "pás", os "lenhadores" O "Bloco Batutas de São José"? Quero sentir a embriaguês do frevo Que entra na cabeça depois toma o corpo e acaba no pé. Já o Frevo de Bloco surgiu a partir das serenatas realizadas por grupos de rapazes durante o carnaval que também iam para as ruas com seus instrumentos de pau e corda. Sua singularidade é o coral feminino. Um dos frevos de bloco mais conhecido é “Último Regresso”, do compositor Getúlio Cavalcante. Falam tanto que meu bloco está, dando adeus pra nunca mais sair. E depois que ele desfilar, do seu povo vai se despedir. Do regresso de não mais voltar, suas pastoras vão pedir: Não deixem não, que o bloco campeão, guarde no peito a dor de não cantar. Um bloco a mais é um sonho que se faz o pastoril da vida singular. É lindo ver o dia amanhecer, ouvir ao longe pastorinhas mil, dizendo bem, que o Recife tem, o carnaval melhor do meu Brasil. 20 Conforme já foi dito a música do frevo ganhou mais destaque quando começaram a ser gravadas, para que isso acontecesse a música teve a ajuda das rádios da cidade e da fábrica fonográfica Rozenblit. Desde os anos de 1950 as rádios Clube, Jornal do Commércio e Universitária começaram a promover programas de divulgação da música, como por exemplo: “Pernambuco você é meu”, “Carnaval de Pernambuco” e “O tema é frevo as suas ordens”. Em 1953 foi criada a Fábrica de Discos Rozenblit Ltda., que servia como mais um meio de difusão da música do frevo. Assim, a música começou a adquirir grandes proporções, a ponto de ser realizado um concurso de música. Os concursos de música em Pernambuco foram realizados pela Rádio Jornal do Comércio e Rádio Clube, revelando grandes intérpretes como Claudionor Germano e Expedito Baracho (LELIS, 2011, p.87). Devido à propagação da música do frevo, em 1956, a Prefeitura da Cidade do Recife decretou uma lei instituindo que os concursos de músicas carnavalescas para divulgação do frevo passariam a ser na pracinha do Diário. Em 1979, Leonardo Dantas 5 assumiu a Fundação de Cultura da Cidade do Recife e assim, nomeou o concurso de músicas como Frevança: Encontro Nacional do Frevo, alterando a data para o mês de setembro com o apoio de produção da Rede Globo Nordeste. Neste ano o concurso Frevança teve um número total de 359 frevos inscritos distribuídos nas modalidades: frevos de rua, bloco e canção. Ao final, foram selecionadas doze músicas que compuseram o CD que foi lançado no mesmo ano. Em 1980, o concurso incluiu outro gênero: o maracatu. A partir de 1985, a Fundação de Cultura perdeu o interesse no concurso. Sendo assim, a Rede Globo Nordeste assumiu a produção exclusiva do concurso até 1989, que a partir de então, passou a se chamar Recifrevo. O Recifrevo aconteceu até 1995, e depois foi substituído pelo Recife Frevoé, de 1996 a 2000, no qual também contou com o lançamento de um CD com as melhores músicas colocadas e com a distribuição das partituras das músicas para as orquestras da cidade afim de que todas soubessem tocar as músicas vencedoras. Tais iniciativas fizeram eco com o passado, uma vez que em 1930, as rádios, os jornais e as agremiações da cidade 5 LEONARDO Antônio DANTAS SILVA nasceu na cidade do Recife, em dez de dezembro de 1945. Filho de Antônio Machado Gomes da Silva Netto, técnico em máquinas e motores do Porto do Recife, e Ilídia Barbosa Dantas da Silva, professora primária, fez o seu curso secundário no Colégio Salesiano do Recife e o curso universitário na Universidade Católica de Pernambuco, onde, em 1969, recebeu o título de Bacharel em Direito. Exerce, na atualidade, a função de Assessor da Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, membro efetivo do Conselho Estadual de Cultura e Consultor de instituições culturais, dentre as quais o Instituto Ricardo Brennand. Atualmente atua como colaborador das Revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Rio), Notícia Bibliográfica e Histórica (PUC - Campinas), Continente Multicultural (Recife), Ciência & Trópico (Fundação Joaquim Nabuco – Recife), Planeta (São Paulo), Nossa História (Rio de Janeiro), Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco (Recife), dentre outros periódicos. 21 passaram a promover os concursos de passo, que tinham como objetivo incentivar a criatividade dos passistas da cidade. Na década de 1950, o prefeito Djair Brindeiro criou a lei de número 3.346 de 7 de junho de 1955 que incube a Prefeitura Municipal do Recife por intermédio do Departamento de Documentação e Cultura a organização do carnaval. E, em 26 de janeiro de 1956, o prefeito Pelópidas Silveira anunciou o decreto n° 01351 que regulamenta a lei mencionada. E nessa lei os concursos também são mencionados, como pode ser visto a seguir: § 2º O D.D.C., dentro das atribuições que lhe são conferidas nêste Regulamento promoverá, com aprovação prévia do Prefeito, anualmente, concursos de músicas (frevos e frevos-canção) e de passos. [sic] Em 1982, o concurso de passo deixou de acontecer na pracinha do diário e passou a ser realizado no Pátio de São Pedro. É difícil traçar um histórico sobre o concurso de passo, pois não há material suficiente a esse respeito, contudo o concurso existe até os dias atuais, a Prefeitura do Recife através da Fundação de Cultura da Cidade do Recife continua com a organização do concurso que ainda acontece no Pátio de São Pedro sempre no início do ano, uns dias antes do carnaval 6 . A realização destes concursos serviu para descobrir e divulgar grandes passistas ao longo dos anos, mas os que nunca deixaram de ser lembrado são: Egídio Bezerra, Sete Molas, Coruja e Nascimento do Passo. Segundo Nascimento do Passo em 1958 ocorreu um dos maiores concursos de passo que tinha como premiação de 15 mil cruzeiros e a eliminatória foi realizada no auditório da rádio Tamandaré e a final na pracinha do Diário 7 . Dentre os passistas mencionados destaco Nascimento do Passo, que com o passar do tempo viu a necessidade de ensinar o passo para todos os interessados, aperfeiçoando assim o método de ensino Nascimento do Passo. Em 1973, surge a primeira academia do passo gratuita localizada no bairro do Ibura, incentivando assim a população a aprender o passo. Ainda na década de 70, Nascimento é convidado para ensinar o passo aos bailarinos recém- 6 Em um acervo particular de entrevistas, perguntei a pessoas que já tiveram ou ainda tem envolvimento com o concurso de passo (participantes e jurados), o que eles achavam que deveria melhorar. Todas as respostas indicavam que há uma necessidade de ser analisada a sua organização, em como proporcionar a devida valorização dos campeõese rever os valores de premiação, pois, dentre todos os concursos realizados no período pré-carnavalesco o concurso de passo obtêm uma das menores premiações. 7 Entrevista concedida por Nascimento do Passo ao programa “O melhor no Nordeste”, com Rhaldney Santos, programa exibido em fevereiro de 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GkHdjUR00AI. Acesso em: 11.jul.2015. https://www.youtube.com/watch?v=GkHdjUR00AI 22 formados do Balé Popular do Recife e ao Grupo Folclórico Cleonice Veras. Em 1996, a academia do passo a ser chamada de Escola de Frevo Maestro Fernando Borges se localizando na Encruzilhada. Sendo a grande responsável pela criação de grandes passistas existentes em todo o mundo, passistas estes que observavam a necessidade de transmitir cada vez mais o passo e criavam seus grupos de frevo. A partir disso Nascimento viu que seu sonho estava sendo realizado, e que dependendo dele o frevo não morreria. Neste capitulo é fácil compreender como o frevo música e dança surgiram, como se deu o processo de divulgação e difusão e quem foram os responsáveis por esses acontecimentos. O capitulo também apresenta a importância que esse movimento teve na cidade. No próximo capitulo vamos entender como o frevo se tornou um Patrimônio Imaterial da Humanidade. 23 Cultura Chama-se cultura o que é feito pelos homens, ou resulta do trabalho deles e de seus pensamentos. [...] Uma casa qualquer [...] é claramente um produto cultural, porque é feita pelos homens. A mesma coisa se pode dizer de um prato de sopa, de um picolé ou de um diário. Mas essas são coisas da cultura material, que se podem ver, medir, pesar. Há, também, para complicar, as coisas da cultura imaterial [...]. A fala, por exemplo, que se revela quando a gente conversa, [...] é criação cultural. [...] Além da fala, temos as crenças, as artes, que são criações culturais porque inventadas pelos homens e transmitidas uns aos outros através das gerações. [...] (RIBEIRO, 1995 apud BOULOS JUNIOR, 2012 p. 34). 24 2 – CONSOLIDAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO. De Pernambuco para o mundo. Como vimos no primeiro capítulo, o percurso para a valorização do frevo foi muito grande até que este conseguisse destaque, tanto na cidade do Recife, como no país e no mundo, e fosse considerado com patrimônio imaterial da humanidade. Durante muito tempo, antes de ser classificado como “cultura popular”, ou mais recentemente como “patrimônio imaterial”, o frevo era visto como “folclore”. Desde o final do século XVIII, a partir das grandes mudanças sociais ocorridas na Europa, a cultura popular começou a despertar o interesse dos intelectuais ocidentais. Com isso, a cultura deixou de ser apenas erudita e popular, como também, rural e urbana; oral e escrita; tradicional e moderna. Com o receio do desaparecimento dos costumes da cultura popular, os intelectuais viram nas festas, poesias, jogos e danças um modo de preservação da cultura popular. De acordo com Catenacci (2001), o termo folclore vem da língua inglesa – folk (povo), lore (saber) – tendo sido criado pelo arqueólogo Willian John Thoms em 22 de agosto de 1946 e adotado com poucas adaptações por grande parte das línguas europeias, chegando ao Brasil com a grafia pouco alterada: folclore. O termo identificava o saber tradicional preservada pela transmissão oral entre os camponeses e substituía outros que eram utilizados com o mesmo objetivo. Podemos definir o folclore como um conjunto de mitos e lendas que as pessoas passam de geração para geração. Muitos nascem da pura imaginação das pessoas, principalmente dos moradores das regiões do interior do Brasil. Muitas destas histórias foram criadas para passar mensagens importantes ou apenas para assustar as pessoas. O folclore pode ser dividido em lendas e mitos. Muitos deles deram origem às festas populares, que ocorrem pelos quatro cantos do país. (HAURÉLIO, Marco s.d) Por outro lado, segundo Arantes (2012, p.16-17) quando se pensa a “cultura popular” como “folclore”, ou seja, “como um conjunto de objetos, práticas e concepções (sobretudo 25 religiosas e estéticas) consideradas “tradicionais”, se nega o caráter de transformação pela qual estes passam. É neste sentido, que Arantes afirma: Pensar a “cultura popular” como sinônimo de “tradição” é reafirmar constantemente a ideia de que a sua Idade de Ouro deu-se no passado. Em consequência disso, as sucessivas modificações por que necessariamente passaram estes objetos, concepções e práticas não podem ser compreendidas, senão como deturpadoras ou empobrecedoras. Aquilo que se considera como tendo tido vigência plena no passado, só pode ser interpretado no presente, como curiosidade. (2012, p. 17-18). Contudo, conforme vemos através de Brandão (1983, p. 105), a própria denominação de “folclore”, também abarca um conceito que considerava “a parte em um mundo onde o povo é sujeito subalterno”, na qual o sujeito é anônimo, transmitindo uma cultura tradicional, de uma geração para outra, de modo informal. Neste sentido, o termo também trazia um lado pejorativo, que relegava a cultura popular a um segundo plano. Por outro lado, na medida em que o frevo começou a ser descrito como uma dança popular, e não mais como “folclore”, notamos que ele já deu um passo adiante no sentido de ser mais valorizado. Assim, enquanto o folclore era visto como o conjunto de tradições, mitos e lendas que em partes são criados no imaginário das pessoas e passado de geração em geração, o conceito de cultura engloba o estudo do saber. A cultura popular está presente em tudo aquilo que pode envolver o sentir, o pensar, o agir das pessoas. Ela existe entre nós desde os povos primitivos. Embora, como afirma Arantes (2012, p. 7), a cultura popular esteja longe de ser “um conceito bem definido pelas Ciências Humanas e pela Antropologia Social [...], são muitos os seus significados e bastante heterogêneos e variáveis os eventos que esta expressão recobre”. Isto porque, segundo este autor, este conceito remete a um leque diversificado de concepções e pontos de vistas “que vão desde a negação (implícita ou explícita) de que os fatos por ela identificados contenham alguma forma de “saber”, até o extremo de atribuir-lhes o papel de resistência contra a dominação de classe”. Ademais, hoje já se entende a cultura como um processo dinâmico, visto que “transformações (positivas) ocorrem, mesmo quando intencionalmente se visa congelar o tradicional para impedir sua „deterioração‟”. Nas abordagens histórico-culturais, encontram-se três fases constitutivas da formação do conceito de cultura popular. Segundo Rocha (2009, p. 221), a primeira fase, compreendida 26 entre as décadas de 1920 e 1960, é marcada por grande disputa metodológica, entre os estudos folclóricos e a emergente sociologia paulista à respeito da autoridade e legitimidade científica do campo. A segunda, desenvolvida no período que vai da década de 1960 até a década de 1980, caracteriza-se pela ampla divulgação do conceito de cultura popular com um sentido acentuadamente político ideológico. A terceira fase, a partir dos anos de 1990, coincide com a revitalização do conceito de patrimônio cultural, principalmente no sentido de patrimônio imaterial. Mas afinal, o que seria o patrimônio cultural? Patrimônio cultural é a herança de todo um povo. Contudo, como esta definição é muito abrangente, o patrimônio cultural foi dividido em dois tipos: patrimônio material e patrimônio imaterial. O patrimônio material se refere a algo que de alguma maneira possa ser palpável, como por exemplo: obras arquitetônicas, cidades e santuários. O patrimônio imaterial engloba tudo o que não pode ser tocado, como porexemplo: danças, músicas, línguas, festivais entre outros. “Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com sua natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade e humana”. (CONVENÇÃO PARA SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL, 2003, p. 3) Mas, para que uma obra arquitetônica, uma cidade ou um determinado tipo de dança ou música, seja considerado como patrimônio, é preciso que ele se encaixe nos padrões de um “patrimônio”, sendo algo que realmente seja aclamado pelo povo, que faça parte da vida cultural de uma população. Por isso, foi criado no Brasil o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para que este pudesse representar, receber e analisar todas as propostas de possíveis patrimônios mateiras e imateriais. Foi através deste Instituto que uma comissão organizou a candidatura do frevo para que este se tornasse patrimônio. Para isso foi necessário fazer um grande levantamento de tudo o que o frevo foi, é e faz pelas pessoas do Estado de Pernambuco. Segundo o IPHAN, temos que reconhecer as comunidades atuantes para criação do patrimônio, sendo: Em especial as indígenas os grupos e, em alguns casos, os indivíduos desempenham um importante papel na produção, salvaguarda, manutenção e recriação do patrimônio cultural imaterial, assim contribuindo par enriquecer a diversidade cultural e a criatividade humana. (CONVENÇÃO PARA 27 SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL, 2003, p. 2) Após o candidato a patrimônio ser aprovado, os dirigentes da cidade chamados pelo IPHAN de Estado Partes, tem por obrigação criar um plano de salvaguarda desse patrimônio. A salvaguarda é a garantia de que serão tomadas medidas para que o patrimônio continue a existir. Alguns exemplos dessas medidas: a identificação, a documentação, a investigação, a preservação, a proteção, a promoção, a valorização, a transmissão. Em 2007, o frevo ganhou o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil e seu anúncio de aprovação foi concedido no dia do seu centenário, concedendo uma grande alegria ao seu Estado de origem. No mesmo ano, a UNESCO juntamente com o IPHAN, inscreveram o frevo para se tornar patrimônio cultural imaterial da humanidade, sendo a única expressão da cultura brasileira a ser levada para o comitê de aprovação nesse ano. Com isso, em 2012, o frevo se tornou patrimônio cultural imaterial da humanidade, sendo reconhecido mundialmente. O frevo como patrimônio imaterial é divulgado como forma de manifestação cultural musical, coreográfica e poética de caráter coletivo. Acredita-se que a proteção desse bem como patrimônio nacional repercute positiva e eficientemente, promovendo um processo ativo de conscientização no plano local e nacional, especialmente entre as novas gerações, acerca da sua importância e salvaguarda. (LÉLIS, 2006, p.118) O plano de salvaguarda do frevo foi dividido em alguns eixos, nos quais foram distribuídos os objetivos a serem atingidos. Dentre eles estava a criação de um museu do frevo: o Paço do Frevo, com o propósito de preservação, de documentação, catalogação, transmissão e informação. Conforme afirmamos anteriormente, o foco nessa monografia é o passista e a sua valorização. Nesse sentido, cabe apontarmos que nesse plano de salvaguarda foram poucos momentos em que encontramos um eixo que pudesse ajudar na valorização do passista. Dentre estas, verificamos alguns momentos. No Paço do Frevo, as aulas de frevo são realizadas de terça-feira à sexta-feira, e ministradas, atualmente, pelos professores Alexandre Macedo e Inaê Silva. Outro evento que acontece no Paço do Frevo é o Sábado no Paço, momento em que os grupos podem se apresentar para o público, havendo uma programação pré-definida. 28 Contudo essas apresentações não são apenas de grupos de passistas, mas também de agremiações. De acordo com o plano de salvaguarda, na parte direcionada a Escola de Frevo, encontram-se alguns objetivos que ainda serão atingidos, sendo eles: Requalificar tecnicamente os instrutores; Fortalecer a Companhia de Dança; Inserir os formandos no mercado de trabalho e no circuito de dança; Propiciar o desenvolvimento da autoestima e convivência salutar; Desenvolver o pensamento crítico; Dar continuidade ao programa de aprendizado da dança do frevo e implantar o curso profissionalizante; Fomentar o empreendedorismo e a sustentabilidade por meio da Escola de Dança. Estabelecer e oferecer três categorias de aprendizado para o público: lúdica, passista, profissionalizante; Reconhecer o nível de excelência profissional da Companhia de Dança; Metodologia – elaborar um plano pedagógico completo, com grade curricular adequada ao curso profissionalizante; Oferecer estágio curricular para o curso profissionalizante; Descentralizar o ensino da dança do frevo por meio da itinerância; Oferecer aos seus alunos e público pesquisador uma biblioteca com acervo específico de dança; Reestruturar o quadro funcional; Ampliar o espaço físico da escola. Na proposta de obter um local, que durante um dia por semana se torne o ponto de encontro do frevo ficou para o Pátio de São Pedro que passaria a se chamar Pátio do frevo e em sua programação constaria apresentações semanais de atrações artísticas entre elas grupos de passistas de frevo e a possibilidade de um passista ser homenageado. O plano de salvaguarda também propõe melhorias de divulgação, melhorias das premiações em dinheiro e de infraestrutura para os concursos de frevo (concurso de passo). 29 Contudo, diante de todas essas ações para salvaguarda do frevo, verificamos que ainda há um longo caminho para que isto se reflita realmente em uma valorização dos passistas pernambucanos, proporcionando-lhe um maior reconhecimento de sua atuação como profissionais, como veremos a seguir, no próximo capítulo. 30 A nossa vida é um carnaval A gente brinca escondendo a dor E a fantasia do meu ideal É você, meu amor Sopraram cinzas no meu coração Tocou silêncio em todos clarins Caiu a máscara da ilusão Dos Pierrots e Arlequins Vê colombinas azuis a sorrir laiá Vê serpentinas na luz reluzir Vê os confetes do pranto no olhar Desses palhaços dançando no ar Vê multidão colorida a gritar lará Vê turbilhão dessa vida passar Vê os delírios dos gritos de amor Nessa orgia de som e de dor (Moacyr Franco) 31 3 – RECONHECIMENTO. Onde está a valorização do passista? Neste capítulo discutiremos sobre a condição dos passistas profissionais, a partir da visão tanto dos diretores e dos coreógrafos de alguns grupos elencados, como também dos passistas integrantes destes grupos. Para tanto, adotamos um percurso metodológico, propondo um estudo descritivo, com uma abordagem qualitativa, a fim de poder traçar um perfil profissional de alguns diretores e coreógrafos e dos passistas de algumas companhias atuantes no Recife, verificando questões, como, por exemplo, a formação escolar, o conhecimento de outros tipos de danças, há quanto tempo que estes se dedicam ao frevo, a faixa etária, o valor recebido por espetáculo, etc., e se o diretor e o passista conseguem sobreviver de seu trabalho artístico com frevo e se o grupo consegue permanecer atuante durante todo o ano. A pesquisa qualitativa trabalha com a interpretação de textos através das entrevistas realizadas, não valorizando uma exatidão numérica, e tem como objetivo apresentar uma amostra do espectro dos pontos de vistae compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações “em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos” (GASKELL in BAUER&GASKELL, 2015, p.35). A pesquisa tem como estrutura entrevistas semiestruturadas 8 podendo ter um único respondente ou com um grupo de respondente. Como cenário do estudo, fizemos um levantamento através da Prefeitura da Cidade do Recife dos grupos de frevo atuantes na cidade durante o carnaval. 8 Perguntas da entrevista estruturada localizada no apêndice, p. 52 32 Tabela 1: Listagem dos grupos participantes do período carnavalesco de Recife Grupo de Passista Mariza Lopez Balé Popular do Recife Companhia Folguedos de Dança Saltos Companhia de Dança Movimento Cultural Fazendo Arte Companhia Trapiá de Dança Balé Multicultural do Recife Grupo Folclórico Egídio Bezerra Grupo de Frevo Tia Mariza Grupo Cultural de Dança Refúgio do Frevo Companhia de Dança no Ritmo do Compasso Companhia de Dança Estrelando no Passo Passistas da Escola de Frevo Companhia de Dança Perna de Palco Companhia de Dança Angel de Brasília Teimosa Companhia de Dança Angelita Kerollainne Companhia Cultural da Bomba do Hemetério Companhia Expressão da Dança Studio Viégas de Formação em Dança Companhia Forrobodó Lúden Companhia de Dança Movimento Companhia de Dança Balé Brincantes de Pernambuco Pé Nambuco Companhia Brasiliart de Dança 33 Balé Deveras Grupo de Passistas na Onda do Frevo Companhia de Dança Giselly Andrade Balé Popular Pernambucanidade Companhia de Dança Daruê Mamulengo Grupo Folclórico Mudança Popular Balé Brasílica Companhia Tradição de Dança Companhia de Dança Filhos de Pernambuco Passistas Viver a Vida Passistas Foliões Companhia de Dança Brasil Brinquedo Passistas Campeões Faceta Cia de Dança Arte e Dança Popular de Pernambuco Companhia de Dança Ogun Odé Companhia Dançantes do Passo Companhia Raízes de Dança Passistas Campeões Bale Expressão e Arte de Pernambuco Companhia Muganga Grupo Pernambucanidade Companhia de Dança Luadart Grupo Dança em Movimento Grupo Artefatos Companhia Brim com Caruá 34 Passistas Luz do Amanhecer Turma do Briquedançar Companhia Aje de Dança Companhia Luar de Prata Companhia Brasil por Dança Balé Folclórico de Jaboatão Grupo Cultural Recifogosas Grupo de Dança e Teatro 100% Show Passistas da Companhia Pequenas Estrelas Passistas Jardim do Frevo Reversos Companhia de Dança Grupo Guerreiros do Passo Companhia de Frevo do Recife 35 Levando em conta a definição de “profissional” – que normalmente engloba o conceito tanto de conhecimento da atividade como de ganho pelo trabalho exercido, a fim de traçar um perfil do profissional de frevo, optamos por excluir os grupos formados por crianças e/ ou adolescentes, visto que, na maior parte das vezes, estes ainda não detem um conhecimento tão profundo a respeito do frevo, além de que estas vivem com suas famílias, tendo seu sustento garantido por estes, não dependendo de seu trabalho. Assim, procuramos investigar apenas os grupos formados por adultos ou que a maior parte dos componentes fossem maiores de idade e que apresentassem um perfil profissional ou semi-profissional, tendo no minimo cinco anos de atuação. Dentro desses critérios, dos 64 grupos relacionados acima, verificamos que apenas 20 se enquadravam nesse perfil. Destes 20 grupos conseguimos, no decorrer desta pesquisa, contatar 15 grupos e 9 passistas, visto que muitos dos diretores e ou componentes dos grupos não tiveram disponibilidade para nos atender. Diante disso, nas linhas abaixo descreveremos brevemente sobre as 15 companhias e / ou grupos que contribuiram com o levantamento de dados para este estudo: COMPANHIA PERNA DE PALCO Fundada em 1997, por Nara Frej e Anna Miranda. A companhia não tem sede própria e nem local certo de ensaio. É dirigida por Nara Frej e coreografada por Anna Miranda. Possui 12 integrantes, que estão na da faixa etária de 18 a 30 anos. Em geral atua durante todo o ano. COMPANHIA DE FREVO DO RECIFE Fundada em 2003, por Alexandre Macedo. A companhia tem sede própria, localizada na Rua Castro Alves, nº 44, no Bairro da Encruzilhada, em Recife. É dirigida por Rennê Cabral e Bruna Renata. Possui 11 integrantes, que estão na faixa etária de 17 a 35 anos. Em geral atua durante todo o ano, com ênfase no carnaval. COMPANHIA TRADIÇÃO DE DANÇA Fundada em 2007, por Bhrunno Henryque e Fernanda Alves. A companhia não tem sede própria, e os ensaios acontecem em diversos locais (como, por exemplo, a Praça do Morro, a sede das agremiações carnavalescas, entre outros) no bairro do Morro da Conceição. É dirigida por Bhrunno Henryque e Fernanda Alves. Possui 10 integrantes, que estão na faixa etária de 14 a 24 anos. Em geral, atua durante todo o ano. 36 STUDIO VIÉGAS DE FORMAÇÃO EM DANÇA Fundada em 2010, por Jorge Viégas. A sede da companhia está em construção, mas já é utilizada, mesmo inacabada, para os ensaios. Está localizada na Rua Visconde Cairú, nº 116, no Bairro Campo Grande, em Recife-PE. É dirigida por Junior Viégas. Possui 10 integrantes, que estão na faixa etária de 16 a 25 anos. Em geral atua durante todo o ano, com ênfase no carnaval. GRUPO DE PASSISTAS NA ONDA DO FREVO Fundada em 1989, por Valdir Nunes. A companhia não tem sede própria. É dirigida por Valdir Nunes. Possui 10 integrantes, que estão na faixa etária de 15 a 50 anos. Em geral atua apenas no Carnaval. GRUPO GUERREIROS DO PASSO Fundada em 2005, por ex-professores da Escola de Frevo. A companhia não tem sede própria, mas ensaia na Praça do Hipódromo. É dirigida por Eduardo Araújo. Possui 12 integrantes, que estão na faixa etária de 26 a 46 anos. Em geral atua apenas no período pré-carnavalesco. LÚDEN COMPANHIA DE DANÇA Fundada em 2008, por José Valdomiro. A companhia não tem sede própria. É dirigida por José Valdomiro. Possui 8 integrantes, que estão na faixa etária de 18 a 29 anos. Em geral atua apenas no Carnaval; GRUPO DE DANÇA E TEATRO 100% SHOW Fundada em 1999, por Ana Celi. A companhia ensaia na Rua Morro do Pilar, nº 144, no Bairro de Monte Verde, em Recife. É dirigida por Ana Celi. Possui 18 integrantes, que estão na faixa etária de 15 a 40 anos. Em geral atua nos ciclos festivos (Carnaval, São João e Natal). COMPANHIA RAÍZES DE DANÇA Fundada em 1984, por Gilson Cruz, Edeilton Marinho, Ivanildo e Welsiton Araújo. A companhia tem sede própria localizada no Cabo de Santo Agostinho. É dirigida por Gilson Cruz. Possui 20 integrantes, que estão na faixa etária de 17 a 50 anos. Em geral atua durante todo o ano. 37 COMPANHIA DE DANÇA GISELLY ANDRADE Fundada em 1998, por Ana Farias. A companhia tem sede própria localizada no bairro de Água Fria. É dirigida por Ana Farias e Giselly Andrade. Possui 18 integrantes, que estão na faixa etária de 07 a 27 anos. Em geral atua durante todo o ano. SALTOS COMPANHIA DE DANÇA Fundada em 2008, por Everson Natanael (Diamante) e Cristiane. A companhia tem sede própria. É dirigida por Everson Natanael. Possui 15 integrantes, que estão na faixa etária de 15 a 18 anos. Em geral atua durante todo o ano. BALÉ POPULAR DO RECIFE Fundada em 1977, por André Madureira. A companhia tem sede própria localizada na Rua do Sossego, nº 52, no Bairro da Boa Vista, em Recife. É dirigida por Ângela Fisher e Angélica Madureira. Possui 18 integrantes, que estão na faixa etária de 17 a 40 anos. Em geral atua durante todo o ano. COMPANHIA DANÇANTES DO PASSO Fundada em 2008, por amigos da quadrilha junina Pé Quente. A companhia tem sede própria localizada na Rua Júlio José de Souza, nº 156, no Bairro de Água Fria, em Recife. É dirigida por Gilberto Chiprão. Possui 30 integrantesdurante o carnaval, que estão na faixa etária de 10 a 35 anos. Em geral atua durante todo o ano. BALÉ MULTICULTURAL DO RECIFE Fundada em 2009, por Adriano da Silva. A companhia não tem sede própria e ensaia no Sitio Trindade ou no bairro Alto José do Pinho. É dirigida por Adriano da Silva. Possui 8 integrantes, que estão na faixa etária de 12 a 30 anos. Em geral atua nos ciclos festivos. COMPANHIA MUNGANGAS Fundada em 1994, por Katiane Maranhão. A companhia tem sede própria localizada no bairro de Cadeias, Recife. É dirigida por Rodolfho Montenegro. Possui 16 integrantes, que estão na faixa etária de 12 a 40 anos. Em geral atua durante todo o ano. 38 COMPANHIA FOLGUEDOS DE DANÇA Fundada em 2002, por Marivaldo Chagas. A companhia não tem sede própria. É dirigida por Marivaldo Chagas. Possui 14 integrantes, que estão na faixa etária de 12 a 45 anos. Em geral atua nos ciclos festivos. 39 TABELA 2: GRUPOS ENTREVISTADOS Companhias / Grupos Tempo de existência Nº de componentes Tem sede própria / não tem sede própria Período de atuação Balé Popular do Recife 38 anos 18 Sim Ano todo Saltos Companhia de Dança 7 anos 15 Sim Ano todo Companhia de dança Perna de Palco 18 anos 12 Não Ano todo Studio Viégas de Formação em Dança 5 anos 10 Sim Ano todo Lúden Companhia de Dança 7 anos 8 Não Apenas no carnaval Grupo de Passistas na Onda do Frevo 26 anos 10 Não Apenas no carnaval Companhia de Dança Giselly Andrade 17 18 Sim Ano todo Companhia de Dança Tradição 8 anos 10 Não Ano todo Companhia Dançantes do Passo 7 anos 30 Sim Ano todo Companhia Raízes de Dança 31 anos 20 Sim Ano todo Grupo de Dança e Teatro 100% Show 16 anos 18 Sim Ano todo Grupo Guerreiros do Passo 10 anos 12 Não Apenas no período pré- carnavalesc o Companhia de Frevo do Recife 12 anos 11 Sim Ano todo Companhia 21 anos 16 Sim Ano Todo 40 Munguangas Companhia Folguedos de Dança 13 anos 14 Não Ano Todo 41 Como participantes deste estudo, contamos com dois grupos de profissionais: diretores e coreógrafos dos grupos acima descritos. Vale ressaltar que na maioria dos grupos o diretor também atua na função de coreógrafo, e, com os passistas atuantes nestes grupos se encaixando dentro dos critérios já mencionados acima. As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado, foram feitas individualmente, em local tranquilo, livre de ruídos ou da influência de outras pessoas, sendo todas gravadas em vídeo com a câmera do celular, e depois digitalizadas no computador. É interessante dizer que dos quinze grupos entrevistados, apenas três trabalham apenas no período carnavalesco, as outras doze companhias trabalham durante todo ano visando os demais ciclos festivos para que assim consigam manter uma constância de apresentações. Foi perguntado a todos os diretores e aos passistas quantas apresentações os seus respectivos grupos costumam fazer por ano e por mês e se trabalhavam o ano todo ou só numa época específica. A partir deste levantamento verificamos que a as apresentações dos grupos ficam em uma média de 15 a 25 por ano, contudo a maioria das apresentações ocorrem nos meses dezembro, janeiro e fevereiro, pois são os meses que precedem o período carnavalesco. Nos meses do ano que não fazem parte desse ciclo festivo a média de apresentações fica de 0 a 3. Poucos grupos conseguem manter uma temporada de apresentações ou fechar contratos duradouros com hotéis e empresas. Já em relação aos passistas existe uma quantidade mensal maior de apresentações, pois muitos participam de mais de um grupo e também fazem trabalhos solo, obtendo assim mais apresentações, numa média de 5 a 8 por mês. Dentre os tipos de eventos nos quais os grupos se apresentam verificamos aberturas de congressos, eventos carnavalescos, festas, espetáculos, etc. Mas, enfatizaremos os eventos carnavalescos por estes concentrar em maior número de apresentações. Perguntamos se algum grupo ou passista já sentiu alguma discriminação ou sofreu maus tratos em algum lugar. Tivemos respostas de grupos que nunca tiveram nenhum desses problemas e respostas daqueles que já sofreram descriminação e maus tratos. Um dos pontos comentados foi a grande diferença de tratamento entre bailarinos / passistas, músicos e artistas e a diferenciação de cachê entre passistas e outras classes artísticas. Reforçando essas afirmações a seguir alguns depoimentos: Passamos a noite toda no Marco Zero realizando apresentações, filmagens e etc [...] e quando cheguei ao palco estava muito cansado, ai a gente fez essa abertura do carnaval com a escola de frevo, e depois a gente dançava com a 42 companhia. ai eu cheguei e perguntei - “oh tem como me conseguir um energético, que eu estou aqui muito cansado, para ver se desperta” ai a galera muito grossa - “Não, não tem energético pra vocês não.” - “Ah beleza”. Então, terminamos de dançar e eu ia dança com Elba Ramalho, não troquei nem de roupa, só fez trocar de banda, quando entrei no camarim disse – “oh leva uns energéticos ali para o camarim do balé de Elba, não deram nem 30 segundo que entrei no camarim chegou uma caixa de energético.” Então o mesmo bailarino, só que com situações diferentes. (Wanderley Aires) 9 . Antigamente entravamos pela porta de trás, ai a gente teve que exigir a quem contratava a gente, entrar pela porta da frente. Por que só faríamos o espetáculo se fosse pela porta da frente, por que estávamos todos muito bem vestidos e não fazia feio a ninguém, só o material que teria que entrar por trás [...]. Era uma coisa meio constrangedora essa situação. (Ângela Fisher) 10 . Nem todos os lugares somos tratados por igual. Percebemos que algumas apresentações nós somos tratados como grandes artistas, onde tem camarim, frutas, água. Mas, em outras apresentações percebemos que existe sim a discriminação, às vezes chegamos na apresentação e somos tratados como qualquer outra pessoa, menos como um grande profissional. (Gilberto Chiprão) 11 . Contudo, essa diferenciação de tratamento vem desde o início da criação do frevo, quando a dança era marginalizada com os capoeiras e a música era tocada apenas por militares. Isto pode ser visto na reportagem de Rosália Vasconcelos para o Diário de Pernambuco, publicada no dia 16 de fevereiro de 2014: A desvalorização do passista de frevo pode ser evidenciada em premiações como o concurso de passistas, promovido pela Prefeitura do Recife [...] O valor a ser pago aos primeiros lugares totaliza R$ 11 mil, a serem distribuídos em quatro categorias: melhor passista adulto masculino e feminino e melhor passista juvenil masculino e feminino. “O prêmio de melhor passista equivale a 10% do prêmio de melhor composição para o carnaval” 12 . Alguns grupos já ganharam prêmios e apoios financeiros, dentre eles: Studio Viégas – Funcultura (2015), Melhor grupo no desfile das Virgens Abraça-Brasil (2014); Lúden Companhia de Dança – Festival Passo de Arte Melhor grupo de dança popular e melhor grupo da noite (2012); Cia de Frevo do Recife – 2º lugar no Youth American Grand Prix (2005); Balé Popular do Recife – Prêmio Ordem do Mérito entre outros; 9 Entrevista de Wanderley Aires concedida à Bruna Renata, no dia 23 de novembro de 2015. 10 Entrevista de Ângela Fisher concedida à Bruna Renata, no dia 10 de dezembro de 2015. 11 Entrevista de Gilberto Chiprão concedida à Bruna Renata, no dia 11 de dezembro de 2015. 12 Entrevista de Valéria Vicente concedida à jornalista Rosália Vasconcelos do Jornal Diário de Pernambuco, publicada no dia 16 de fevereiro de 2014. 43 A questão financeira dos grupos é bem difícil, pois poucos recebem apoio financeiro, e esse apoio ainda precisa ser pleiteadotodos os anos, os demais grupos dependem apenas dos cachês das apresentações para se sustentarem. Alguns retiram parte do cachê para confecção dos seus figurinos, já outros grupos não arcam com esses custos passando essa responsabilidade para os passistas arcarem os seus figurinos. Isso, um passista recebendo um cachê em média de 50,00 reais a 200,00 reais por apresentação. Nenhum dos diretores informou o valor recebido em seu cargo, mas a maioria afirmou que recebem a mais do que os passistas por estarem justamente dirigindo os grupos. Dos 14 diretores entrevistados apenas 6 estão cursando faculdade ou já estão formados. Ainda encontramos alguns “guerreiros” que tentam sobreviver apenas da dança, mas atuando como professores de dança em escolas, academia e outros lugares. Em relação aos passistas, todos possuem o ensino médio completo e só alguns conseguem cursar a faculdade. Isso se dá pelo fato de que precisam trabalhar e ficam sem tempo para estudar e se aprofundar em alguma área. Como afirma Ladimir Ferreira (Mika) “Os grupos de frevo precisam desenvolver atividades paralelas para sobreviver: dão aulas e apresentam outras danças. Isso impede uma formação continuada desses profissionais”. 13 Mediante à desvalorização dos passistas nos deparamos com um impasse enorme, que se chama CACHÊ. Mesmo, com a pretensão de valorização, o trabalho cultural não ganha seu devido reconhecimento, sendo sempre comparado com outros gêneros de trabalhos como relata ARANTES (2012, p, 14). Além da discrepância entre salários e ao lado das formações profissionais diversas, há um enorme desnível, de prestígio e de poder entre essas profissões, decorrente da concepção generalizada em nossa sociedade de que o trabalho intelectual é superior ao manual. Por que exponho essa questão? Porque é de difícil compreensão como os próprios passistas se desvalorizam ao ponto de passar uma manhã inteira ou mais subindo e descendo ladeiras dançando frevo por apenas 50,00 reais ou menos, isso, nos dias atuais. Como afirma Eduardo Araújo diretor do grupo Guerreiros do Passo “Já soube de cachês individuais de R$ 20, R$ 30 para apresentações em palco de uma hora” 14 . 13 Entrevista de Lademir Ferreira (Mika) concedida à jornalista Rosália Vasconcelos do Jornal Diário de Pernambuco, publicada no dia 16 de fevereiro de 2014. 14 Entrevista de Eduardo Araújo concedida à jornalista Rosália Vasconcelos do Jornal Diário de Pernambuco, publicada no dia 16 de fevereiro de 2014. 44 Casos como esses já aconteceram, contudo isso foi de 7 a 8 anos atrás ou até quando se dançava por apenas um lanche. Atualmente acontece uma grande busca para que os passistas possam receber um cachê no mínimo “digno”. Aos passistas foi perguntado como a família de cada um aceitou a sua decisão de trabalhar com dança. Essa discussão sobre a questão da aceitação por parte da família é muito grande e não convêm debatê-la nesse momento, mas o que acontece é que os passistas às vezes sofrem desvalorização na sua própria casa. Tivemos depoimentos de que a família nunca acreditou que teria sucesso seguir uma profissão artística até que se prove ao contrário, a exemplo disso temos o depoimento de Arylson Matheus 15 de 19 anos: No início, minha família não apoiava a ideia de trabalhar com arte, somente com a arte. O sonho do meu pai era que me formasse em arquitetura, para seguir a tradição familiar, mas não me enquadrei com essas tradições e desviei o caminho para arte. Minha mãe não apoiou as minhas andanças. Por que eles achavam que isso não iria passar de uma fase na minha vida, mas com muito esforço conseguir mostrar a eles que posso viver sim da arte, basta querer e correr atrás, pois viver disso aqui, é complicado, não se da o valor devido a nossos artistas. Mas meu objetivo é evoluir com a Arte e fazer dela minha profissão por toda minha vida. Mas também, obtivemos depoimentos de famílias que oferecem todo o apoio que os passistas precisam. O que proporciona aos mesmos uma construção de confiança e alegria para encarar todas as barreiras à frente. Como a exemplo disso à família de Maria Lucrécia 16 “Minha família admira, gosta muito, minha mãe, meu esposo que também dança”; e família de Rebeca Gondim 17 “Meus pais me apoiam em tudo que faço com dança e nos estudos. Eu sou passista por incentivo da minha mãe que me levava para todas as aulas e apresentações. Meu pai enche os olhos de lágrima quando me ver dançar.” Contudo, ao final de cada depoimento foi colocada a falta de valorização que os passistas sofrem, levando a grupos como Guerreiros do Passo a deixarem de participar dos polos carnavalescos promovidos pela Prefeitura da Cidade do Recife, devido à falta de infraestrutura oferecido neles e a demora para receber os cachê, pagamento este que chega a demorar 8 meses como é o caso nesse ano de 2015, e, o porém, SE receber. 15 Entrevista de Arylson Matheus concedida à Bruna Renata no dia 07 de dezembro de 2015 16 Entrevista de Lucrécia concedida à Bruna Renata no dia 04 de dezembro de 2015 17 Entrevista de Rebeca Gondim concedida à Bruna Renata no dia 14 de dezembro de 2015 45 TABELA 3: ENTREVISTADOS ENTREVISTAD OS TEM OUTRA FORMAÇÃO EM DANÇA ESCOLARIDADE OUTRA PROFISSÃO Adriano da Silva Sim – Dança popular Formado em Ed. Física. Professor de Ed. Física Ana Farias Não Formação em Produção Cultural Não Ângela Fisher Sim – Dança popular Ensino fundamental completo Sim – Artesã Arylson Matheus Sim - Dança popular Ensino médio completo Não Bruno Henrique Sim - Dança popular, balé clássico e contemporâneo. Cursando Ed. Física Não Carlos Rennê Sim – Contemporâneo, dança popular e Balé clássico. Ensino médio completo Não David Albuquerque Sim – Dança Popular Cursando Ed. Física Sim – Professor de Ed. Física Edson Flávio Sim – Estileto dance Cursando licenciatura em dança Não Everson Natanael Sim – Balé clássico, jass, contemporâneo e dança popular Ensino médio completo Não Gil Silva Sim – Dança popular Engenheiro Agrônomo Sim – Engenheiro Gilberto Chiprão Sim – Balé clássico, jass, contemporâneo, balé afro Ensino médio completo Sim - Produtor cultural Jessica Almeida Sim – Dança popular Cursando pedagogia Sim – Pedagoga José Lopes Sim - Dança popular Cursando bacharelado em Ed. Física Não José Valdomiro Sim - Dança popular Bacharel em Ed. Física Não Junior Viégas Sim - Dança popular Ensino médio completo Não Maria L. Souza Sim - Dança popular Ensino médio completo Sim – Recepcionista Marivaldo Chagas Sim – Dança popular Ensino médio completo Sim - motorista Nara Frej Sim - Dança popular Pós-graduada Não Rebeca Gondim Sim – Contemporâneo, dança popular. Cursando licenciatura em dança Não Rodolfho Montenegro Sim – Dança popular e dança de salão Cursando Administração Sim – Comprador de móveis de decoração. Valdir Nunes Sim - Dança popular Cursando Ed. Física Não Wanderley Aires Sim - Dança popular Formado em Marketing Artista 46 A visão da desvalorização fica muito clara quando lemos os depoimentos e percebemos como a nossa gestão governamental ainda é muito falha, ao ponto de que a cada troca de gestão, tudo o que vem sendo construído de bom com relação à dança é destruído, o que nos deixa interpretar esses acontecimentos de diversas maneiras. Para falar isso, tenho como referência as entrevistas de Ângela Fisher e Rennê Cabral, nas quais eles nos contam sobre algumas tentativas governamentais de obter uma companhia que representasse a cidade. Um exemplo disso foi a criação do Balé Popular do Recife, na época em que Ariano Suassuna era secretário municipal da cultura de Pernambuco, o qual recebeuincentivo da prefeitura, chegando a passar por volta de dois anos com carteira de trabalho assinada, até o projeto ser cortado com a mudança de gestão. Por sua vez, na gestão do prefeito João Paulo, os passistas da Cia de Frevo do Recife recebiam uma bolsa salário para ajudar nos custos diários, isso até a gestão mudar e a história se repetir e ser cortado o projeto. Assim, encerro este capitulo, expondo o que nas maiorias das entrevistas foi dito, que a falta de valorização começa dentro da nossa própria casa, no estado de Pernambuco. 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de tudo que foi exposto nos capítulo anteriores, do árduo percurso do frevo até os dias atuais, do grande processo de pesquisa para se tornar um patrimônio e de como seus representantes da dança do frevo, os passistas, ainda sofrem um processo de desvalorização profissional. Conclui-se que o caminho para chegar a uma devida valorização ainda é grande. Diante disto, proponho algumas ideias de melhorias. Sendo assim, coloco em primeiro lugar a necessidade de haver uma associação que defenda os interesses dos profissionais da dança do frevo, ou seja, a criação de um sindicato dos passistas de frevo, que lute para que casos como dos cachês irrisórios que são pagos como fora dito no último capítulo. Esse sindicato tentaria propor um planejamento de alicerces que assista e ofereça uma melhor qualidade de trabalho à classe dos passistas. Seguindo, penso que seria de grande estímulo para os grupos a realização de um festival de frevo, pois assim iria estimular os grupos do estado a criarem novas coreografias e espetáculos, e que esse festival também os ajude a se promoverem na cidade aumentando assim a autoestima e por consequência a valorização. Analisar e reestruturar o concurso de passos, para que realmente atinja os objetivos que são descritos no regulamento todos os anos, oferecendo assim, a valorização dos passistas campeões durante todo o ano, e não apenas no momento de realização do concurso. Continuando, penso que deve-se criar um projeto que estude a possibilidade de obter uma formação profissional como é citado no plano de salvaguarda e assim também efetuar a criação da companhia que seria mantida pelos órgão governamentais, a exemplo disto temos companhias de diversos estados que são mantidas pelo poder governamental. Para finalizar temos a necessidade de ampliar o conhecimento do frevo, por isso pensei na criação de diversos CPPFs, ou seja, Centro Pernambucano do Passo do Frevo, com o objetivo de serem espalhados por diversos pontos do estado e posteriormente pelo país. Em vista dos argumentos apresentados, penso que ao iniciar tais atividades consigamos finalmente iniciar uma possível valorização dos passistas e do frevo. 48 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Magdalena (org.) Comitê Gestor de Salvaguarda do frevo: Memórias 2011 – 2014, Recife: Secretaria de Cultura/ Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2014. ALVES, Elder Patrick Maia. 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