Buscar

NOS PASSOS DO FREVO: CAMINHOS PARA VALORIZAÇÃO DO PASSISTA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO 
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO – CAC 
DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE E EXPRESSÃO ARTÍSTICA 
CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA 
 
 
BRUNA RENATA BARBOSA E SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
NOS PASSOS DO FREVO: 
CAMINHOS PARA VALORIZAÇÃO DO PASSISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RECIFE - PE 
2015 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO 
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO – CAC 
DEPARTAMENTO DE TEORIA DA ARTE E EXPRESSÃO ARTÍSTICA 
CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA 
 
 
BRUNA RENATA BARBOSA E SILVA 
 
 
 
 
 
NOS PASSOS DO FREVO: 
CAMINHOS PARA VALORIZAÇÃO DO PASSISTA 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de 
Licenciatura em Dança, como requisito parcial para 
obtenção do grau de Licenciado em Dança. 
Orientadora: Profa Dra. Maria Claudia Alves Guimarães 
 
 
 
 
 
RECIFE - PE 
2015 
 
 
 
NOS PASSOS DO FREVO: CAMINHOS PARA VALORIZAÇÃO DO PASSISTA 
 
BRUNA RENATA BARBOSA E SILVA 
 
Aprovada em ____/____/_____. 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
_________________________________________________ 
Profa. Dra. Maria Claudia Alves Guimarães 
Orientadora 
 
__________________________________________________ 
Prof. Mestre Arnaldo Siqueira 
 
__________________________________________________ 
Prof. Dr. Everson Melquíades 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Primeiramente agradeço à Deus que me permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo 
de minha vida, е não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os momentos 
é o maior mestre que alguém pode conhecer. À Universidade Federal de Pernambuco, pela 
oportunidade de fazer о curso. À minha orientadora Prof.ª Dr.ª Maria Claudia Alves Guimarães 
pelo suporte e pelo tempo que me dedicou e por suas correções е incentivos. A todos os meus 
professores de dança. À minha família, pelo amor, incentivo е apoio incondicional, em 
especial a minha avó Maria José, pois sem ela não teria iniciado a minha jornada artística e ao 
meu namorado, Junior Lopes, que durante todo esse tempo me apoiou. Meus agradecimentos 
a todos os entrevistados nessa monografia, especialmente aos amigos: Rennê Cabral, Rebeka 
Barbalho, José Valdomiro. Peço desculpas por não nominar aqui todos os companheiros de 
trabalhos е irmãos na amizade que fizeram parte da minha formação е que continuarão 
presentes em minha vida. A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha 
formação, о meu muito obrigado. 
 
 
 
 
RESUMO 
Nos passos do frevo: caminho para valorização do passista 
 
A presente monografia, intitulada – “Nos passos do Frevo: caminhos para valorização 
dos passistas” – teve como objetivo discutir o processo de valorização dos passistas de frevo 
com o intuito de refletir sobre o que ainda precisa ser feito neste sentido. Tendo em vista que, 
em 2012, o frevo se tornou patrimônio imaterial da humanidade, achamos importante fazer 
este estudo sobre a condição de trabalho dos passistas. Assim, esta monografia engloba uma 
discussão que perpassa pela história do frevo, sobre o conceito de cultura popular e de 
patrimônio imaterial, e uma investigação sobre a condição profissional dos artistas que se 
dedicam à esta arte, ou melhor, dos diretores e dos passistas de alguns grupos atuantes na 
Cidade do Recife. Para realização deste estudo optamos por fazer pesquisa qualitativa 
entrevistando dezoito pessoas vinculadas a quatorze grupos de frevo do Recife. A entrevista 
foi feita de maneira estruturada, desenvolvida através de um questionário específico, tanto 
para os diretores como para os passistas, a fim de identificar o perfil de cada um e a sua 
condição o para que este seja realmente valorizado, e o passista tenha o reconhecimento de 
sua arte. 
 
Palavras-chaves: Dança, Frevo, Passo, Passistas, Patrimônio. 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
Figura 1 – Passo Pernada --------------------------------------------------------- p.12 
Figura 2 – Passo Rojão ----------------------------------------------------------- p.13 
Figura 3 – Passo Malandro ------------------------------------------------------- p.13 
Figura 4 – Passo Metrô-Subterrâneo -------------------------------------------- p.14 
Figura 5 – Passo Saca-Rolha ----------------------------------------------------- p.15 
Figura 6 – Passo Carpado --------------------------------------------------------- p.15 
Figura 7 – Passo Festival de Bailarina ------------------------------------------ p.16 
Figura 8 – Passo Tesoura ---------------------------------------------------------- p.16 
Figura 9 – Passo Tesourão Aberto ----------------------------------------------- p.17 
Figura 10 – Passo Martelo --------------------------------------------------------- p.17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS: 
 
 
Tabela 1: Grupos participantes do período carnavalesco de Recife. ----------- p.32 
Tabela 2: Grupos entrevistados. ----------------------------------------------------- p.38 
Tabela 3: Pessoas entrevistadas. ---------------------------------------------------- p.43 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 7 
1 – FREVO, ESSÊNCIA E EXCELÊNCIA. ........................................................................... 10 
2 – CONSOLIDAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO. .................................................................... 24 
3 – RECONHECIMENTO. ...................................................................................................... 31 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 47 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 48 
 
 
 
7 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O frevo é um ritmo genuinamente pernambucano e teve sua origem com os capoeiras e 
militares no final do século XIX. Nesse período devido a outros interesses particulares, os 
capoeiras eram designados a utilizar a capoeira para fins ilegais e também eram contratados 
para fazer a segurança de algumas agremiações que saíam em desfiles de carnaval e quando as 
agremiações se encontravam era causado o maior “furdunço” e, por isso a sua prática foi 
proibida pelos regentes da lei. Por esta razão, os capoeiras foram obrigados a utilizar sua 
criatividade para camuflar os golpes no intuito de não serem percebidos pelas autoridades. 
Com os objetos que tinham em mãos, que poderiam ser de um chapéu até uma sombrinha, os 
capoeiras escondiam suas armas e até transformavam os próprios objetos em armas 
disfarçadas. Com a necessidade de disfarçar os golpes, os capoeiras começaram a realizar um 
tipo de dança que viria se tornar a dança do frevo e assim, passaram a ser chamados de 
passistas. Na medida em que o frevo se propagava as pessoas começaram a se interessar pelo 
aprendizado desta dança, em decorrência deste interesse, Nascimento do Passo, um dos 
precursores da dança do frevo na cidade, viu a necessidade de abrir uma escola para poder 
ensinar a sua metodologia do frevo. 
E foi através de uma orquestra de frevo e passistas que dançavam na esquina da rua 
que moro que conheci e me apaixonei pelo frevo, vindo depois de um tempo a iniciar as 
minhas aulas na escola de frevo criada por Nascimento do Passo, levando-me a praticar e a 
dançar até os dias atuais. Pelo fato de estar há 15 anos envolvida com este tipo de dança senti 
a necessidade de discutir sobre a valorização dos passistas. Assim, esta monografia tem como 
objetivo a discussão do processo de valorização dos passistas de frevo, a partir de sua história, 
da mudança do entendimento do frevo como “folclore” para “patrimônio cultural imaterial da 
humanidade”, da análise das condições e das perspectivas de trabalho de quem se dedica a 
este tipo de dança. Diante do fato, do frevo ter se tornadopatrimônio imaterial da humanidade 
em 2012, achamos importante refletir nesta monografia sobre a condição de trabalho dos 
passistas, na medida em que não existe nenhuma pesquisa que trate sobre a questão. 
Para isto, no primeiro capítulo trataremos sobre a história do frevo música e do frevo 
dança, fazendo uma breve revisão bibliográfica a respeito. No segundo capítulo, discutiremos 
sobre a questão do folclore, da cultura popular e do patrimônio imaterial, verificando também 
através destas classificações o percurso de valorização pelo qual o frevo passou 
8 
 
 
conceitualmente. No terceiro capitulo, trataremos mais especificamente sobre os passistas, os 
coreógrafos e os diretores de grupos de frevo, levantando dados de 18 profissionais de 15 
grupos de frevo que atuam na capital Pernambucana, a fim de traçarmos um perfil sobre a 
formação destes artistas, de sua condição de vida, de sua faixa de ganho, das dificuldades de 
trabalho, etc. Neste sentido, esperamos contribuir academicamente para que esta discussão 
comece a ser feita, e para que novos passos sejam dados no sentido de realmente 
conquistarmos uma valorização do trabalho destes artistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O “Frevo”... Que coisa é o Frevo? De onde veio essa voz que não é 
bem palavra porque não exprime ideia? É tudo e nada. É a ebulição 
do gozo, o vapor dos nossos instintos animais, que a língua não sabe 
traduzir e só o gesto deixa adivinhar [...] e o “Frevo” é isso que se 
vê, mas não se sabe dizer. (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 22/02/1924). 
 
10 
 
 
1 – FREVO, ESSÊNCIA E EXCELÊNCIA. 
Um marco de criação entre conflitos 
O primeiro carnaval que Recife conheceu nos meados do século XIX, era chamado de 
entrudo, uma brincadeira de jogar limas de cheiros nas outras pessoas, que com o passar do 
tempo deixou de ter um sentido de diversão, para servir como objeto de agressão às pessoas 
de alta sociedade. Por esta razão, as limas-de-cheiro deixaram de serem compostas de água, 
farinha, trigo, ovos,... e passaram a ser compostas por águas fortes e outras drogas venenosas. 
Observando o que estava acontecendo, nos meados do século XIX o governo decretou que o 
entrudo, estava proibido em todo o país. Como nessa época o carnaval consistia apenas na 
brincadeira de entrudo, foi cogitado que não haveria mais carnaval. Diante disso, houve uma 
reunião no Congresso Nacional, onde foi definido que o carnaval não deixaria de existir, mas 
passaria a seguir as regras e padrões das festas europeias, o que acabou dando formato aos 
bailes de carnaval. Desta forma, foi delimitada a participação nos bailes apenas para os mais 
favorecidos. Com isso, o povo buscou criar seu carnaval nas ruas. Em todo o país o carnaval 
seguia os padrões europeus, com exceção de Pernambuco, onde a figura dos capoeiras, tidos 
como desordeiros, acompanhavam os batalhões da cidade provocando outros grupos. Assim 
em 1856, o governo proibiu a presença dos capoeiras na frente das bandas militares durante os 
desfiles. Conforme Duarte (s.d, p. 18), comenta: 
 
Esses capoeiras vinham de longa data acompanhando os batalhões. [...] O 
desfile desse pessoal era feito em moldes de verdadeiro delírio, pulando, 
girando o corpo, treinando os golpes da capoeira, ainda armados de cacête e 
aos gritos, desafiando os adversários para a luta, com a advertência de que 
“se vier, morre!”. 
 
Esses episódios de violência perduraram por muito tempo, apesar da proibição imposta 
pelo governo. Assim, os capoeiras começaram a seguir na frente das agremiações
1
, que 
começaram a surgir a partir de 1889. Esses clubes foram criados por amigos, trabalhadores, 
ex-escravos, e outros. Um dos primeiros clubes foi o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas 
no ano de 1889, formado por varredores da cidade, que tinha como objetivo a diversão, e 
como consequência a briga. Com a criação de diversos clubes, a polícia teve a necessidade de 
 
1
 Antes de ganharem a denominação agremiação elas eram chamadas de Clubes pedestres ou 
Clubes de Rua conforme a antropóloga Katarina Real. 
11 
 
 
dividir os horários dos desfiles para que não acontecessem encontros entre os clubes rivais, 
evitando desta forma, os conflitos, como o que é narrado a seguir: 
A rua era estreita. Os dois clubes pararam frente á frente e depois de 
entendimentos entre seus dirigentes ficou assentado que não haverá briga. Os 
dois se cumprimentariam, os estandartes se cruzariam numa mensagem de 
paz, no mais completo silêncio das orquestras, e, depois, cada uma seguiria 
seu destino. E dando execução aos entendimentos havidos, os dois porta-
estandartes se aproximaram a passo lento, cada um se inclinou para o outro 
numa reverência rasgada, as bandeiras quase se tocando, tudo em meio ao 
mais respeitoso e total silêncio. Foi quando alguém, “cedendo aos nervos 
tensos”, informa o cronista gritou para um dos homens: - Fala na mãe desse 
corno, Zé! 
O impropério valeu por um grito de guerra. Pareceu que todo mundo estava 
esperando, de um lado e de outro, por êle, para começar uma briga. Não se 
soube nunca se Zé falou ou não na mãe do outro. O que se soube foi que os 
dois bandos se engalfinharam em luta corporal das mais violentas, 
lembrando os bons tempos dos “carnavais de sangue” das manchetes dos 
jornais antes da pacificação imposta pela Federação ou daquelas estocadas 
fatais que os capoeiras vibravam, com canos de chapéu-de-sol, nas barrigas 
volumosas dos negociantes portugueses da cidade. (DUARTE, s.d- p. 54) 
 
Diante da necessidade de se esconder dos policiais, os capoeiras que vinham à frente 
destas agremiações, com seus cassetetes, facas, canivetes, e canos de chapéu de sol tiveram 
que improvisar e começar a usar o guarda-chuva como instrumento de ação, transformando-o 
em arma a qualquer momento. Também tiveram a necessidade de modificar seus golpes para 
que à vista dos policiais, aparentassem ser apenas uma brincadeira. Com isso, foram surgiram 
os movimentos que se tornariam os passos de frevo. 
Contudo, não eram apenas os capoeiras que brigavam quando se encontravam com 
outra agremiação, as orquestras também tinham suas desavenças e isso acontecia por que uma 
orquestra queria tocar melhor e mais alto do que a outra, abafando o som, para que vencesse a 
disputa. Em decorrência disto surgiu o frevo abafo, como um dos gêneros do frevo de rua. 
Assim, foi como o frevo começou a ganhar sua forma abstrata, pela necessidade do 
povo ganhar as ruas, de se divertir e por consequência brigar. Por isso o significado da palavra 
frevo engloba os dois sentido, tanto o de diversão como o de briga. Segundo Duarte (s.d, p. 
45) 
 
Na linguagem chã do povo, frevo quer dizer uma porção de coisas. Todo 
pernambucano compreenderá perfeitamente bem o que se quer dizer com a 
expressão, por exemplo, seguinte: 
12 
 
 
- Menino, ontem na rua Nova, foi um frevo!.... 
Ou então 
- O doutô estava falando do candidato dele. Que era isso e aquilo [...] Aí 
chegou a policia e começou o frevo... 
 
 Segundo o pesquisador Valdemar de Oliveira (1985, p. 12) quem criou a palavra 
frevo foi Oswaldo de Oliveira empregando-a, pela primeira vez, na imprensa no dia 9 de 
fevereiro de 1907, no jornal recifense O Pequeno. Esta reportagem fala sobre o repertório da 
orquestra que tocara no baile realizado pelo clube Empalhadores do Feitosa. Como dizia 
Nascimento do Passo em suas aulas teóricas, a palavra frevo teve sua origem a partir da 
expressão frever, que induz ao verbo a ferver, chegando à palavra final frevo. Isso ocorreu em 
virtude da efervescência que se sentia ao ver a multidão passar, ou até mesmo, pela 
experiência de estar no meio dessa multidão.Como já foi dito, no intuito de disfarçar essas brigas no meio da multidão, para que os 
policiais pensassem que fossem apenas brincadeiras, os capoeiras fizeram modificações em 
alguns de seus golpes. Com isso, foram surgindo os primeiros passos do frevo, e, na medida 
em que estes capoeiras foram se apropriando das movimentações do passo, estes, começaram 
a ser chamados de passistas. 
Alguns passos tiveram sua origem nos golpes de capoeira tendo, portanto, o princípio 
de movimento: a ginga, o vigor e o improviso. Dentre os passos que ainda podemos 
identificar a forma da capoeira estão: 
Pernada – Chuta a perna direita à sua frente; realiza um giro de 360º, nesse giro 
acontece à troca das pernas; finalizando com a perna esquerda no lugar da perna direita. 
Passo Pernada 
 
Figura 1 – Acervo Pessoal. 
Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes 
 
13 
 
 
 
Rojão – O movimento começa na posição lateral. Perna direita flexionada para trás e 
braço direito flexionado a cima da cabeça, com um pulinho troca-se a perna e o lado e tudo se 
repete. 
Passo Rojão 
 
 
 
 
 
 
Malandro - com o apoio de uma das mãos no chão, joga-se as perna lateralmente em 
direção a cabeça. 
Passo Malandro 
 
Figura 3 - Acervo Pessoal. 
Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes 
 
Mas, além da capoeira, o frevo também recebeu influências de outras danças, como 
por exemplo, a dança russa e o balé clássico. De acordo com o relato de Oliveira (1985 apud 
Lélia, 2006) aconteceu em Recife uma apresentação de um grupo de dança russa, dentre o 
público estava o passista Nascimento do Passo, que após o espetáculo quis reproduzir ao seu 
modo os passos que viu, resultando na criação de novos passos de frevo, como, por exemplo: 
Figura 2 - Acervo Pessoal. 
Fotógrafo: Helder Tavares. Passista: Kezia Giles 
14 
 
 
Metrô Subterrâneo – em base
2
 fechada retira um dos pés do chão esticando a perna a 
sua frente sem se levantar da base, a dinâmica do movimento ocorre na troca das pernas 
passando a sombrinha por baixo da perna. 
Passo Metrô Subterrâneo 
 
 
 
 
 
 
 
Saca-Rolha – em base fechada, levanta-se um pouco realizando uma torção na cintura 
e depois retornando a base fechada e depois para o outro lado. 
Passo Saca-rolha 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2
 Base – flexão total dos joelhos que pode ser com as pernas abertas ou fechadas, na nomenclatura do 
balé clássico se chama Grand Plié em primeira posição ou em sexta posição. 
Figura 5 – Acervo Pessoal 
Fotógrafo: Duda Santos. Passista: Bruna Renata 
Figura 4 – Acervo Pessoal. 
Fotógrafo: Duda Santos. Passista: Bruna Renata 
15 
 
 
Carpado – É um salto, que inicia na base fechada; o ápice do movimento se dá ao 
estar com as pernas abertas lateralmente. 
Passo Carpado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Seguindo o mesmo exemplo russo, houve outros passos que tiveram embasamento no 
balé clássico, como, por exemplo: 
Festival de Bailarina – Base aberta e com pequenos pulos utiliza as pontas dos dedos 
de forma flexionada no chão, usando as pernas abertas, fechadas, cruzadas ou só uma perna. 
 
Passo Festival de Bailarina 
 
Figura 7 – Acervo Pessoal. 
Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes 
 
 
Figura 6 - Acervo Pessoal 
Fotógrafo: Helder Tavares. Passista: Junior Lopes. 
16 
 
 
Comuns são os traços de danças norte-americanas aqui chegadas e exibidas 
em teatros populares, o Helvética, o Parque, outros mais modernamente nos 
filmes musicados. Do cake-walk alguma coisa ficou, como do Charleston 
(ainda hoje se vê o jogo de braços a alternar com as pernas flectidas), do 
shimmy (busto tremelicando), de outras. O passo de cócoras, com jogo das 
pernas alternadamente jogadas para diante, é copiado, servilmente (menos no 
cruzamento dos braços) de danças de cossacos que andaram pelo Recife, há 
muitos anos passados. Da mesma maneira, de conjuntos salvos folclórico 
ficaram os grandes saltos com abertura das pernas nos ares, típicos de danças 
da Ucrânia ou da Geórgia. (OLIVEIRA, 1985, p. 111) 
 
Outro viés de inspiração para criação dos passos foram os instrumentos de trabalho 
usado no dia-a-dia, exemplos disso são os materiais como: 
Tesoura – Este passo se dá na movimentação de cruzamento e extensão das pernas e 
dos braços alternadamente. 
Passo Tesoura 
 
Figura 8 – Acervo Pessoal 
Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes 
 
Tesourão Aberto – O movimento inicia na base, com os braços levantados acima da 
cabeça e com um pequeno salto realiza a abertura das duas pernas apoiando-se sobre os 
calcanhares, no momento do pequeno salto os braços são abertos em movimento descendente, 
realizando um impulso natural de subida do corpo. 
 
 
 
 
17 
 
 
Passo Tesourão Aberto 
 
Figura 9 – Acervo Pessoal. 
Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes 
 
Martelo – O passo inicia na base, com os braços levantados a cima da cabeça com um 
pequeno salto realiza uma transferência de peso das duas pernas para uma apoiando-se no 
calcanhar, no momento do pequeno salto os braços são abertos em movimento descendente, 
realizando um impulso natural de subida do corpo. 
Passo Martelo 
 
Figura 10 – Acervo Pessoal. 
Fotógrafo: Rennê Cabral. Passista: Junior Lopes 
 
 
Consequentemente essas relações dos passos com os materiais de trabalho, também deu 
origem aos nomes que alguns passos levam como podem os observar nos exemplos acima e 
como Zenaide expõe: 
 
De origens diversas os nomes dos passos são curiosos e muitos fazem 
referência a instrumentos e objetos presentes no cotidiano do trabalhador, 
18 
 
 
como dobradiça, alicate, chave de cano, serrote, tesoura, parafuso, martelo, 
britadeira. Outros foram batizados posteriormente por seus próprios 
criadores, que lhes davam nomes miméticos como saci, patinho, coice de 
burro, faz que vai mas não vai, banho de mar, grilo. Egídio Bezerra, 
Nascimento do Passo e, em seguida o Balé Popular do Recife foram 
responsáveis pela criação e “batismo” de vários passos. Bezerra (2011, p. 
22). 
 
Hoje em dia é muito difícil calcular a quantidade exata de passos de frevo existente. 
Nascimento do Passo costumava dizer em suas aulas “A quantidade de passos existentes é a 
mesma que a quantidade de pernambucanos”. 
O desenvolvimento da música do frevo aconteceu paralelamente ao da dança. Como já 
foi dito, a música teve sua origem nas bandas militares
3
, por serem as únicas que realizavam 
as festas das cidades, tocando ritmos como marcha, polca e maxixe. Com o passar dos anos, a 
música foi sofrendo um hibridismo, que gerou a música do frevo. Inicialmente as 
composições eram apenas instrumentais, assim, chamado de Frevo de Rua, sendo composto 
por três divisões: Frevo-coqueiro, Frevo ventania e Frevo abafo. Para entender melhor a 
definição de cada tipo de frevo é importante compreender a composição instrumental de uma 
orquestra, formada por: trompetes, trombones, tuba, saxofone, clarinetes, requinta, flauta, 
flautim, surdo, caixa e pandeiro. 
Sendo assim, a diferença existente nesses frevos era o instrumento que mais se 
sobressaía, exemplos: no frevo-coqueiro, os instrumentos que geram notas agudas ganham 
destaque, se sobressaindo o trompete, exemplo: Música relembrando o norte – Maestro 
Severino Araújo; 
No frevo-ventania, se sobressai o saxofone por criar sequências ininterruptas de 
semicolcheias
4
, exemplo: Música Mexe com tudo – Maestro Levino Ferreira; 
 No frevo-abafo, a característica é a necessidade de uma orquestra se sobressair ao 
toque de outra orquestra, ou seja, quanto mais alto melhor. Um exemplo disto é a música 
Cabelo de fogo do Maestro Nunes. 
 
3
 Atualmente, de acordo com o mapeamento realizado pelo músico e pesquisador Renan Pimenta, 
existem cerca de 160 bandas de música no Estado de Pernambuco,entre militares e civis, e a maioria tem o frevo 
como parte fundamental do seu repertório. Os músicos militares são liberados para compor as diversas 
orquestras de frevo do Recife e de Olinda, fazendo dessa atividade um rendimento financeiro extra. (LÉLIS, 
2011- p. 16) 
4
 Nota que vale 1/4 de tempo ou metade da colcheia. 
19 
 
 
 Com o início da música gravada em 1922, o ritmo ganhou mais força, e a partir da 
década de 1930, a música do frevo ganhou outras ramificações: Frevo Canção e o Frevo de 
Bloco. Neste sentido o Frevo Canção pode ser descrito como semelhante ao Frevo de Rua, no 
que, se refere à questão instrumental, sendo o que o diferencia enquanto gênero é a presença 
de um cantor à frente interpretando a melodia em palavras. Um dos frevos canção mais 
conhecido é a música: “Voltei Recife”, do compositor Capiba que tem sido interpretada por 
vários cantores, como por exemplo, Alceu Valença. 
 
Voltei, Recife 
Foi a saudade que me trouxe pelo braço 
Quero ver novamente "Vassoura" na rua abafando 
Tomar umas e outras e cair no passo 
 
Cadê "Toureiros"? 
Cadê "Bola de Ouro"? 
As "pás", os "lenhadores" 
O "Bloco Batutas de São José"? 
Quero sentir a embriaguês do frevo 
Que entra na cabeça depois toma o corpo e acaba no pé. 
 
Já o Frevo de Bloco surgiu a partir das serenatas realizadas por grupos de rapazes 
durante o carnaval que também iam para as ruas com seus instrumentos de pau e corda. Sua 
singularidade é o coral feminino. 
Um dos frevos de bloco mais conhecido é “Último Regresso”, do compositor Getúlio 
Cavalcante. 
Falam tanto que meu bloco está, 
dando adeus pra nunca mais sair. 
E depois que ele desfilar, 
do seu povo vai se despedir. 
 
Do regresso de não mais voltar, 
suas pastoras vão pedir: 
Não deixem não, que o bloco campeão, 
guarde no peito a dor de não cantar. 
Um bloco a mais é um sonho que se faz 
o pastoril da vida singular. 
 
É lindo ver o dia amanhecer, 
ouvir ao longe pastorinhas mil, 
dizendo bem, que o Recife tem, 
o carnaval melhor do meu Brasil. 
 
20 
 
 
Conforme já foi dito a música do frevo ganhou mais destaque quando começaram a ser 
gravadas, para que isso acontecesse a música teve a ajuda das rádios da cidade e da fábrica 
fonográfica Rozenblit. Desde os anos de 1950 as rádios Clube, Jornal do Commércio e 
Universitária começaram a promover programas de divulgação da música, como por exemplo: 
“Pernambuco você é meu”, “Carnaval de Pernambuco” e “O tema é frevo as suas ordens”. Em 
1953 foi criada a Fábrica de Discos Rozenblit Ltda., que servia como mais um meio de 
difusão da música do frevo. Assim, a música começou a adquirir grandes proporções, a ponto 
de ser realizado um concurso de música. 
Os concursos de música em Pernambuco foram realizados pela Rádio Jornal do 
Comércio e Rádio Clube, revelando grandes intérpretes como Claudionor Germano e 
Expedito Baracho (LELIS, 2011, p.87). Devido à propagação da música do frevo, em 1956, a 
Prefeitura da Cidade do Recife decretou uma lei instituindo que os concursos de músicas 
carnavalescas para divulgação do frevo passariam a ser na pracinha do Diário. 
Em 1979, Leonardo Dantas
5
 assumiu a Fundação de Cultura da Cidade do Recife e 
assim, nomeou o concurso de músicas como Frevança: Encontro Nacional do Frevo, alterando 
a data para o mês de setembro com o apoio de produção da Rede Globo Nordeste. Neste ano o 
concurso Frevança teve um número total de 359 frevos inscritos distribuídos nas modalidades: 
frevos de rua, bloco e canção. Ao final, foram selecionadas doze músicas que compuseram o 
CD que foi lançado no mesmo ano. Em 1980, o concurso incluiu outro gênero: o maracatu. A 
partir de 1985, a Fundação de Cultura perdeu o interesse no concurso. Sendo assim, a Rede 
Globo Nordeste assumiu a produção exclusiva do concurso até 1989, que a partir de então, 
passou a se chamar Recifrevo. O Recifrevo aconteceu até 1995, e depois foi substituído pelo 
Recife Frevoé, de 1996 a 2000, no qual também contou com o lançamento de um CD com as 
melhores músicas colocadas e com a distribuição das partituras das músicas para as orquestras 
da cidade afim de que todas soubessem tocar as músicas vencedoras. Tais iniciativas fizeram 
eco com o passado, uma vez que em 1930, as rádios, os jornais e as agremiações da cidade 
 
5
 LEONARDO Antônio DANTAS SILVA nasceu na cidade do Recife, em dez de dezembro de 1945. 
Filho de Antônio Machado Gomes da Silva Netto, técnico em máquinas e motores do Porto do Recife, e Ilídia 
Barbosa Dantas da Silva, professora primária, fez o seu curso secundário no Colégio Salesiano do Recife e o 
curso universitário na Universidade Católica de Pernambuco, onde, em 1969, recebeu o título de Bacharel em 
Direito. Exerce, na atualidade, a função de Assessor da Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, membro 
efetivo do Conselho Estadual de Cultura e Consultor de instituições culturais, dentre as quais o Instituto Ricardo 
Brennand. Atualmente atua como colaborador das Revistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Rio), 
Notícia Bibliográfica e Histórica (PUC - Campinas), Continente Multicultural (Recife), Ciência & Trópico 
(Fundação Joaquim Nabuco – Recife), Planeta (São Paulo), Nossa História (Rio de Janeiro), Jornal do 
Commercio e Diário de Pernambuco (Recife), dentre outros periódicos. 
21 
 
 
passaram a promover os concursos de passo, que tinham como objetivo incentivar a 
criatividade dos passistas da cidade. Na década de 1950, o prefeito Djair Brindeiro criou a lei 
de número 3.346 de 7 de junho de 1955 que incube a Prefeitura Municipal do Recife por 
intermédio do Departamento de Documentação e Cultura a organização do carnaval. E, em 26 
de janeiro de 1956, o prefeito Pelópidas Silveira anunciou o decreto n° 01351 que 
regulamenta a lei mencionada. E nessa lei os concursos também são mencionados, como pode 
ser visto a seguir: 
§ 2º O D.D.C., dentro das atribuições que lhe são conferidas nêste 
Regulamento promoverá, com aprovação prévia do Prefeito, anualmente, 
concursos de músicas (frevos e frevos-canção) e de passos. [sic] 
 
Em 1982, o concurso de passo deixou de acontecer na pracinha do diário e passou a 
ser realizado no Pátio de São Pedro. É difícil traçar um histórico sobre o concurso de passo, 
pois não há material suficiente a esse respeito, contudo o concurso existe até os dias atuais, a 
Prefeitura do Recife através da Fundação de Cultura da Cidade do Recife continua com a 
organização do concurso que ainda acontece no Pátio de São Pedro sempre no início do ano, 
uns dias antes do carnaval 
6
. 
A realização destes concursos serviu para descobrir e divulgar grandes passistas ao 
longo dos anos, mas os que nunca deixaram de ser lembrado são: Egídio Bezerra, Sete Molas, 
Coruja e Nascimento do Passo. 
Segundo Nascimento do Passo em 1958 ocorreu um dos maiores concursos 
de passo que tinha como premiação de 15 mil cruzeiros e a eliminatória foi 
realizada no auditório da rádio Tamandaré e a final na pracinha do Diário
7
. 
 
Dentre os passistas mencionados destaco Nascimento do Passo, que com o passar do 
tempo viu a necessidade de ensinar o passo para todos os interessados, aperfeiçoando assim o 
método de ensino Nascimento do Passo. Em 1973, surge a primeira academia do passo 
gratuita localizada no bairro do Ibura, incentivando assim a população a aprender o passo. 
Ainda na década de 70, Nascimento é convidado para ensinar o passo aos bailarinos recém-
 
6
 Em um acervo particular de entrevistas, perguntei a pessoas que já tiveram ou ainda tem envolvimento 
com o concurso de passo (participantes e jurados), o que eles achavam que deveria melhorar. Todas as respostas 
indicavam que há uma necessidade de ser analisada a sua organização, em como proporcionar a devida 
valorização dos campeõese rever os valores de premiação, pois, dentre todos os concursos realizados no período 
pré-carnavalesco o concurso de passo obtêm uma das menores premiações. 
7
 Entrevista concedida por Nascimento do Passo ao programa “O melhor no Nordeste”, com Rhaldney 
Santos, programa exibido em fevereiro de 2011. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=GkHdjUR00AI. Acesso em: 11.jul.2015. 
https://www.youtube.com/watch?v=GkHdjUR00AI
22 
 
 
formados do Balé Popular do Recife e ao Grupo Folclórico Cleonice Veras. Em 1996, a 
academia do passo a ser chamada de Escola de Frevo Maestro Fernando Borges se 
localizando na Encruzilhada. Sendo a grande responsável pela criação de grandes passistas 
existentes em todo o mundo, passistas estes que observavam a necessidade de transmitir cada 
vez mais o passo e criavam seus grupos de frevo. A partir disso Nascimento viu que seu 
sonho estava sendo realizado, e que dependendo dele o frevo não morreria. 
Neste capitulo é fácil compreender como o frevo música e dança surgiram, como se 
deu o processo de divulgação e difusão e quem foram os responsáveis por esses 
acontecimentos. O capitulo também apresenta a importância que esse movimento teve na 
cidade. No próximo capitulo vamos entender como o frevo se tornou um Patrimônio Imaterial 
da Humanidade. 
 
23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cultura 
 Chama-se cultura o que é feito pelos homens, ou resulta do trabalho deles e de seus 
pensamentos. [...] Uma casa qualquer [...] é claramente um produto cultural, porque é feita 
pelos homens. A mesma coisa se pode dizer de um prato de sopa, de um picolé ou de um 
diário. Mas essas são coisas da cultura material, que se podem ver, medir, pesar. 
 Há, também, para complicar, as coisas da cultura imaterial [...]. A fala, por 
exemplo, que se revela quando a gente conversa, [...] é criação cultural. [...] 
 Além da fala, temos as crenças, as artes, que são criações culturais porque 
inventadas pelos homens e transmitidas uns aos outros através das gerações. [...] 
(RIBEIRO, 1995 apud BOULOS JUNIOR, 2012 p. 34). 
24 
 
 
 
2 – CONSOLIDAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO. 
De Pernambuco para o mundo. 
 
Como vimos no primeiro capítulo, o percurso para a valorização do frevo foi muito 
grande até que este conseguisse destaque, tanto na cidade do Recife, como no país e no 
mundo, e fosse considerado com patrimônio imaterial da humanidade. 
 
Durante muito tempo, antes de ser classificado como “cultura popular”, ou mais 
recentemente como “patrimônio imaterial”, o frevo era visto como “folclore”. 
Desde o final do século XVIII, a partir das grandes mudanças sociais ocorridas na 
Europa, a cultura popular começou a despertar o interesse dos intelectuais ocidentais. Com 
isso, a cultura deixou de ser apenas erudita e popular, como também, rural e urbana; oral e 
escrita; tradicional e moderna. Com o receio do desaparecimento dos costumes da cultura 
popular, os intelectuais viram nas festas, poesias, jogos e danças um modo de preservação da 
cultura popular. 
 
De acordo com Catenacci (2001), o termo folclore vem da língua inglesa – folk (povo), 
lore (saber) – tendo sido criado pelo arqueólogo Willian John Thoms em 22 de agosto de 
1946 e adotado com poucas adaptações por grande parte das línguas europeias, chegando ao 
Brasil com a grafia pouco alterada: folclore. O termo identificava o saber tradicional 
preservada pela transmissão oral entre os camponeses e substituía outros que eram utilizados 
com o mesmo objetivo. 
 
Podemos definir o folclore como um conjunto de mitos e lendas que as 
pessoas passam de geração para geração. Muitos nascem da pura imaginação 
das pessoas, principalmente dos moradores das regiões do interior do Brasil. 
Muitas destas histórias foram criadas para passar mensagens importantes ou 
apenas para assustar as pessoas. O folclore pode ser dividido em lendas e 
mitos. Muitos deles deram origem às festas populares, que ocorrem pelos 
quatro cantos do país. 
(HAURÉLIO, Marco s.d) 
 
 
Por outro lado, segundo Arantes (2012, p.16-17) quando se pensa a “cultura popular” 
como “folclore”, ou seja, “como um conjunto de objetos, práticas e concepções (sobretudo 
25 
 
 
religiosas e estéticas) consideradas “tradicionais”, se nega o caráter de transformação pela 
qual estes passam. É neste sentido, que Arantes afirma: 
 
Pensar a “cultura popular” como sinônimo de “tradição” é reafirmar 
constantemente a ideia de que a sua Idade de Ouro deu-se no passado. 
Em consequência disso, as sucessivas modificações por que 
necessariamente passaram estes objetos, concepções e práticas não 
podem ser compreendidas, senão como deturpadoras ou 
empobrecedoras. Aquilo que se considera como tendo tido vigência 
plena no passado, só pode ser interpretado no presente, como 
curiosidade. (2012, p. 17-18). 
 
 
Contudo, conforme vemos através de Brandão (1983, p. 105), a própria denominação 
de “folclore”, também abarca um conceito que considerava “a parte em um mundo onde o 
povo é sujeito subalterno”, na qual o sujeito é anônimo, transmitindo uma cultura tradicional, 
de uma geração para outra, de modo informal. Neste sentido, o termo também trazia um lado 
pejorativo, que relegava a cultura popular a um segundo plano. 
Por outro lado, na medida em que o frevo começou a ser descrito como uma dança 
popular, e não mais como “folclore”, notamos que ele já deu um passo adiante no sentido de 
ser mais valorizado. Assim, enquanto o folclore era visto como o conjunto de tradições, mitos 
e lendas que em partes são criados no imaginário das pessoas e passado de geração em 
geração, o conceito de cultura engloba o estudo do saber. A cultura popular está presente em 
tudo aquilo que pode envolver o sentir, o pensar, o agir das pessoas. Ela existe entre nós desde 
os povos primitivos. 
 
Embora, como afirma Arantes (2012, p. 7), a cultura popular esteja longe de ser “um 
conceito bem definido pelas Ciências Humanas e pela Antropologia Social [...], são muitos os 
seus significados e bastante heterogêneos e variáveis os eventos que esta expressão recobre”. 
Isto porque, segundo este autor, este conceito remete a um leque diversificado de concepções 
e pontos de vistas “que vão desde a negação (implícita ou explícita) de que os fatos por ela 
identificados contenham alguma forma de “saber”, até o extremo de atribuir-lhes o papel de 
resistência contra a dominação de classe”. Ademais, hoje já se entende a cultura como um 
processo dinâmico, visto que “transformações (positivas) ocorrem, mesmo quando 
intencionalmente se visa congelar o tradicional para impedir sua „deterioração‟”. 
 Nas abordagens histórico-culturais, encontram-se três fases constitutivas da formação 
do conceito de cultura popular. Segundo Rocha (2009, p. 221), a primeira fase, compreendida 
26 
 
 
entre as décadas de 1920 e 1960, é marcada por grande disputa metodológica, entre os estudos 
folclóricos e a emergente sociologia paulista à respeito da autoridade e legitimidade científica 
do campo. A segunda, desenvolvida no período que vai da década de 1960 até a década de 
1980, caracteriza-se pela ampla divulgação do conceito de cultura popular com um sentido 
acentuadamente político ideológico. A terceira fase, a partir dos anos de 1990, coincide com a 
revitalização do conceito de patrimônio cultural, principalmente no sentido de patrimônio 
imaterial. 
 
Mas afinal, o que seria o patrimônio cultural? Patrimônio cultural é a herança de todo 
um povo. Contudo, como esta definição é muito abrangente, o patrimônio cultural foi dividido 
em dois tipos: patrimônio material e patrimônio imaterial. 
O patrimônio material se refere a algo que de alguma maneira possa ser palpável, 
como por exemplo: obras arquitetônicas, cidades e santuários. O patrimônio imaterial engloba 
tudo o que não pode ser tocado, como porexemplo: danças, músicas, línguas, festivais entre 
outros. 
“Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, 
é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu 
ambiente, de sua interação com sua natureza e de sua história, gerando um 
sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover 
o respeito à diversidade cultural e à criatividade e humana”. (CONVENÇÃO 
PARA SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL, 
2003, p. 3) 
 
Mas, para que uma obra arquitetônica, uma cidade ou um determinado tipo de dança 
ou música, seja considerado como patrimônio, é preciso que ele se encaixe nos padrões de um 
“patrimônio”, sendo algo que realmente seja aclamado pelo povo, que faça parte da vida 
cultural de uma população. 
Por isso, foi criado no Brasil o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
(IPHAN), para que este pudesse representar, receber e analisar todas as propostas de possíveis 
patrimônios mateiras e imateriais. Foi através deste Instituto que uma comissão organizou a 
candidatura do frevo para que este se tornasse patrimônio. Para isso foi necessário fazer um 
grande levantamento de tudo o que o frevo foi, é e faz pelas pessoas do Estado de 
Pernambuco. Segundo o IPHAN, temos que reconhecer as comunidades atuantes para criação 
do patrimônio, sendo: 
Em especial as indígenas os grupos e, em alguns casos, os indivíduos 
desempenham um importante papel na produção, salvaguarda, manutenção e 
recriação do patrimônio cultural imaterial, assim contribuindo par enriquecer 
a diversidade cultural e a criatividade humana. (CONVENÇÃO PARA 
27 
 
 
SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL, 2003, 
p. 2) 
 
Após o candidato a patrimônio ser aprovado, os dirigentes da cidade chamados pelo 
IPHAN de Estado Partes, tem por obrigação criar um plano de salvaguarda desse patrimônio. 
A salvaguarda é a garantia de que serão tomadas medidas para que o patrimônio continue a 
existir. Alguns exemplos dessas medidas: a identificação, a documentação, a investigação, a 
preservação, a proteção, a promoção, a valorização, a transmissão. 
 
Em 2007, o frevo ganhou o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil e seu 
anúncio de aprovação foi concedido no dia do seu centenário, concedendo uma grande alegria 
ao seu Estado de origem. No mesmo ano, a UNESCO juntamente com o IPHAN, inscreveram 
o frevo para se tornar patrimônio cultural imaterial da humanidade, sendo a única expressão 
da cultura brasileira a ser levada para o comitê de aprovação nesse ano. Com isso, em 2012, o 
frevo se tornou patrimônio cultural imaterial da humanidade, sendo reconhecido 
mundialmente. O frevo como patrimônio imaterial é divulgado como forma de manifestação 
cultural musical, coreográfica e poética de caráter coletivo. Acredita-se que a proteção desse 
bem como patrimônio nacional repercute positiva e eficientemente, promovendo um processo 
ativo de conscientização no plano local e nacional, especialmente entre as novas gerações, 
acerca da sua importância e salvaguarda. (LÉLIS, 2006, p.118) 
 
O plano de salvaguarda do frevo foi dividido em alguns eixos, nos quais foram 
distribuídos os objetivos a serem atingidos. Dentre eles estava a criação de um museu do 
frevo: o Paço do Frevo, com o propósito de preservação, de documentação, catalogação, 
transmissão e informação. 
Conforme afirmamos anteriormente, o foco nessa monografia é o passista e a sua 
valorização. Nesse sentido, cabe apontarmos que nesse plano de salvaguarda foram poucos 
momentos em que encontramos um eixo que pudesse ajudar na valorização do passista. 
Dentre estas, verificamos alguns momentos. 
 
 No Paço do Frevo, as aulas de frevo são realizadas de terça-feira à sexta-feira, e 
ministradas, atualmente, pelos professores Alexandre Macedo e Inaê Silva. Outro 
evento que acontece no Paço do Frevo é o Sábado no Paço, momento em que os 
grupos podem se apresentar para o público, havendo uma programação pré-definida. 
28 
 
 
Contudo essas apresentações não são apenas de grupos de passistas, mas também de 
agremiações. 
 De acordo com o plano de salvaguarda, na parte direcionada a Escola de Frevo, 
encontram-se alguns objetivos que ainda serão atingidos, sendo eles: 
 Requalificar tecnicamente os instrutores; 
 Fortalecer a Companhia de Dança; 
 Inserir os formandos no mercado de trabalho e no circuito de dança; 
 Propiciar o desenvolvimento da autoestima e convivência salutar; 
 Desenvolver o pensamento crítico; 
 Dar continuidade ao programa de aprendizado da dança do frevo e implantar o 
curso profissionalizante; 
 Fomentar o empreendedorismo e a sustentabilidade por meio da Escola de 
Dança. 
 Estabelecer e oferecer três categorias de aprendizado para o público: lúdica, 
passista, profissionalizante; 
 Reconhecer o nível de excelência profissional da Companhia de Dança; 
 Metodologia – elaborar um plano pedagógico completo, com grade curricular 
adequada ao curso profissionalizante; 
 Oferecer estágio curricular para o curso profissionalizante; 
 Descentralizar o ensino da dança do frevo por meio da itinerância; 
 Oferecer aos seus alunos e público pesquisador uma biblioteca com acervo 
específico de dança; 
 Reestruturar o quadro funcional; 
 Ampliar o espaço físico da escola. 
 Na proposta de obter um local, que durante um dia por semana se torne o ponto de 
encontro do frevo ficou para o Pátio de São Pedro que passaria a se chamar Pátio do 
frevo e em sua programação constaria apresentações semanais de atrações artísticas 
entre elas grupos de passistas de frevo e a possibilidade de um passista ser 
homenageado. 
 O plano de salvaguarda também propõe melhorias de divulgação, melhorias das 
premiações em dinheiro e de infraestrutura para os concursos de frevo (concurso de 
passo). 
 
29 
 
 
Contudo, diante de todas essas ações para salvaguarda do frevo, verificamos que ainda 
há um longo caminho para que isto se reflita realmente em uma valorização dos passistas 
pernambucanos, proporcionando-lhe um maior reconhecimento de sua atuação como 
profissionais, como veremos a seguir, no próximo capítulo. 
 
 
 
 
30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A nossa vida é um carnaval 
A gente brinca escondendo a dor 
E a fantasia do meu ideal 
É você, meu amor 
Sopraram cinzas no meu coração 
Tocou silêncio em todos clarins 
Caiu a máscara da ilusão 
Dos Pierrots e Arlequins 
 
Vê colombinas azuis a sorrir laiá 
Vê serpentinas na luz reluzir 
Vê os confetes do pranto no olhar 
Desses palhaços dançando no ar 
Vê multidão colorida a gritar lará 
Vê turbilhão dessa vida passar 
Vê os delírios dos gritos de amor 
Nessa orgia de som e de dor 
(Moacyr Franco) 
 
31 
 
 
3 – RECONHECIMENTO. 
Onde está a valorização do passista? 
 
Neste capítulo discutiremos sobre a condição dos passistas profissionais, a partir da 
visão tanto dos diretores e dos coreógrafos de alguns grupos elencados, como também dos 
passistas integrantes destes grupos. 
Para tanto, adotamos um percurso metodológico, propondo um estudo descritivo, com 
uma abordagem qualitativa, a fim de poder traçar um perfil profissional de alguns diretores e 
coreógrafos e dos passistas de algumas companhias atuantes no Recife, verificando questões, 
como, por exemplo, a formação escolar, o conhecimento de outros tipos de danças, há quanto 
tempo que estes se dedicam ao frevo, a faixa etária, o valor recebido por espetáculo, etc., e se 
o diretor e o passista conseguem sobreviver de seu trabalho artístico com frevo e se o grupo 
consegue permanecer atuante durante todo o ano. 
A pesquisa qualitativa trabalha com a interpretação de textos através das entrevistas 
realizadas, não valorizando uma exatidão numérica, e tem como objetivo apresentar uma 
amostra do espectro dos pontos de vistae compreensão detalhada das crenças, atitudes, 
valores e motivações “em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais 
específicos” (GASKELL in BAUER&GASKELL, 2015, p.35). A pesquisa tem como 
estrutura entrevistas semiestruturadas
8
 podendo ter um único respondente ou com um grupo 
de respondente. 
Como cenário do estudo, fizemos um levantamento através da Prefeitura da Cidade do 
Recife dos grupos de frevo atuantes na cidade durante o carnaval. 
 
 
8
 Perguntas da entrevista estruturada localizada no apêndice, p. 52 
32 
 
 
Tabela 1: Listagem dos grupos participantes do período carnavalesco de Recife 
Grupo de Passista Mariza Lopez 
Balé Popular do Recife 
Companhia Folguedos de Dança 
Saltos Companhia de Dança 
Movimento Cultural Fazendo Arte 
Companhia Trapiá de Dança 
Balé Multicultural do Recife 
Grupo Folclórico Egídio Bezerra 
Grupo de Frevo Tia Mariza 
Grupo Cultural de Dança Refúgio do Frevo 
Companhia de Dança no Ritmo do Compasso 
Companhia de Dança Estrelando no Passo 
Passistas da Escola de Frevo 
Companhia de Dança Perna de Palco 
Companhia de Dança Angel de Brasília Teimosa 
Companhia de Dança Angelita Kerollainne 
Companhia Cultural da Bomba do Hemetério 
Companhia Expressão da Dança 
Studio Viégas de Formação em Dança 
Companhia Forrobodó 
Lúden Companhia de Dança 
Movimento Companhia de Dança 
Balé Brincantes de Pernambuco 
Pé Nambuco 
Companhia Brasiliart de Dança 
33 
 
 
Balé Deveras 
Grupo de Passistas na Onda do Frevo 
Companhia de Dança Giselly Andrade 
Balé Popular Pernambucanidade 
Companhia de Dança Daruê Mamulengo 
Grupo Folclórico Mudança Popular 
Balé Brasílica 
Companhia Tradição de Dança 
Companhia de Dança Filhos de Pernambuco 
Passistas Viver a Vida 
Passistas Foliões 
Companhia de Dança Brasil Brinquedo 
Passistas Campeões 
Faceta Cia de Dança 
Arte e Dança Popular de Pernambuco 
Companhia de Dança Ogun Odé 
Companhia Dançantes do Passo 
Companhia Raízes de Dança 
Passistas Campeões 
Bale Expressão e Arte de Pernambuco 
Companhia Muganga 
Grupo Pernambucanidade 
Companhia de Dança Luadart 
Grupo Dança em Movimento 
Grupo Artefatos 
Companhia Brim com Caruá 
34 
 
 
Passistas Luz do Amanhecer 
Turma do Briquedançar 
Companhia Aje de Dança 
Companhia Luar de Prata 
Companhia Brasil por Dança 
Balé Folclórico de Jaboatão 
Grupo Cultural Recifogosas 
Grupo de Dança e Teatro 100% Show 
Passistas da Companhia Pequenas Estrelas 
Passistas Jardim do Frevo 
Reversos Companhia de Dança 
Grupo Guerreiros do Passo 
Companhia de Frevo do Recife 
 
 
35 
 
 
Levando em conta a definição de “profissional” – que normalmente engloba o 
conceito tanto de conhecimento da atividade como de ganho pelo trabalho exercido, a fim de 
traçar um perfil do profissional de frevo, optamos por excluir os grupos formados por crianças 
e/ ou adolescentes, visto que, na maior parte das vezes, estes ainda não detem um 
conhecimento tão profundo a respeito do frevo, além de que estas vivem com suas famílias, 
tendo seu sustento garantido por estes, não dependendo de seu trabalho. Assim, procuramos 
investigar apenas os grupos formados por adultos ou que a maior parte dos componentes 
fossem maiores de idade e que apresentassem um perfil profissional ou semi-profissional, 
tendo no minimo cinco anos de atuação. Dentro desses critérios, dos 64 grupos relacionados 
acima, verificamos que apenas 20 se enquadravam nesse perfil. Destes 20 grupos 
conseguimos, no decorrer desta pesquisa, contatar 15 grupos e 9 passistas, visto que muitos 
dos diretores e ou componentes dos grupos não tiveram disponibilidade para nos atender. 
Diante disso, nas linhas abaixo descreveremos brevemente sobre as 15 companhias e / ou 
grupos que contribuiram com o levantamento de dados para este estudo: 
 COMPANHIA PERNA DE PALCO 
Fundada em 1997, por Nara Frej e Anna Miranda. A companhia não tem sede própria e nem 
local certo de ensaio. É dirigida por Nara Frej e coreografada por Anna Miranda. Possui 12 
integrantes, que estão na da faixa etária de 18 a 30 anos. Em geral atua durante todo o ano. 
 COMPANHIA DE FREVO DO RECIFE 
Fundada em 2003, por Alexandre Macedo. A companhia tem sede própria, localizada na Rua 
Castro Alves, nº 44, no Bairro da Encruzilhada, em Recife. É dirigida por Rennê Cabral e 
Bruna Renata. Possui 11 integrantes, que estão na faixa etária de 17 a 35 anos. Em geral atua 
durante todo o ano, com ênfase no carnaval. 
 COMPANHIA TRADIÇÃO DE DANÇA 
Fundada em 2007, por Bhrunno Henryque e Fernanda Alves. A companhia não tem sede 
própria, e os ensaios acontecem em diversos locais (como, por exemplo, a Praça do Morro, a 
sede das agremiações carnavalescas, entre outros) no bairro do Morro da Conceição. É 
dirigida por Bhrunno Henryque e Fernanda Alves. Possui 10 integrantes, que estão na faixa 
etária de 14 a 24 anos. Em geral, atua durante todo o ano. 
 
36 
 
 
 STUDIO VIÉGAS DE FORMAÇÃO EM DANÇA 
Fundada em 2010, por Jorge Viégas. A sede da companhia está em construção, mas já é 
utilizada, mesmo inacabada, para os ensaios. Está localizada na Rua Visconde Cairú, nº 116, 
no Bairro Campo Grande, em Recife-PE. É dirigida por Junior Viégas. Possui 10 integrantes, 
que estão na faixa etária de 16 a 25 anos. Em geral atua durante todo o ano, com ênfase no 
carnaval. 
 GRUPO DE PASSISTAS NA ONDA DO FREVO 
Fundada em 1989, por Valdir Nunes. A companhia não tem sede própria. É dirigida por 
Valdir Nunes. Possui 10 integrantes, que estão na faixa etária de 15 a 50 anos. Em geral atua 
apenas no Carnaval. 
 
 GRUPO GUERREIROS DO PASSO 
Fundada em 2005, por ex-professores da Escola de Frevo. A companhia não tem sede própria, 
mas ensaia na Praça do Hipódromo. É dirigida por Eduardo Araújo. Possui 12 integrantes, 
que estão na faixa etária de 26 a 46 anos. Em geral atua apenas no período pré-carnavalesco. 
 LÚDEN COMPANHIA DE DANÇA 
Fundada em 2008, por José Valdomiro. A companhia não tem sede própria. É dirigida por 
José Valdomiro. Possui 8 integrantes, que estão na faixa etária de 18 a 29 anos. Em geral atua 
apenas no Carnaval; 
 GRUPO DE DANÇA E TEATRO 100% SHOW 
Fundada em 1999, por Ana Celi. A companhia ensaia na Rua Morro do Pilar, nº 144, no 
Bairro de Monte Verde, em Recife. É dirigida por Ana Celi. Possui 18 integrantes, que estão 
na faixa etária de 15 a 40 anos. Em geral atua nos ciclos festivos (Carnaval, São João e Natal). 
 COMPANHIA RAÍZES DE DANÇA 
Fundada em 1984, por Gilson Cruz, Edeilton Marinho, Ivanildo e Welsiton Araújo. A 
companhia tem sede própria localizada no Cabo de Santo Agostinho. É dirigida por Gilson 
Cruz. Possui 20 integrantes, que estão na faixa etária de 17 a 50 anos. Em geral atua durante 
todo o ano. 
37 
 
 
 COMPANHIA DE DANÇA GISELLY ANDRADE 
Fundada em 1998, por Ana Farias. A companhia tem sede própria localizada no bairro de 
Água Fria. É dirigida por Ana Farias e Giselly Andrade. Possui 18 integrantes, que estão na 
faixa etária de 07 a 27 anos. Em geral atua durante todo o ano. 
 SALTOS COMPANHIA DE DANÇA 
Fundada em 2008, por Everson Natanael (Diamante) e Cristiane. A companhia tem sede 
própria. É dirigida por Everson Natanael. Possui 15 integrantes, que estão na faixa etária de 
15 a 18 anos. Em geral atua durante todo o ano. 
 BALÉ POPULAR DO RECIFE 
Fundada em 1977, por André Madureira. A companhia tem sede própria localizada na Rua do 
Sossego, nº 52, no Bairro da Boa Vista, em Recife. É dirigida por Ângela Fisher e Angélica 
Madureira. Possui 18 integrantes, que estão na faixa etária de 17 a 40 anos. Em geral atua 
durante todo o ano. 
 COMPANHIA DANÇANTES DO PASSO 
Fundada em 2008, por amigos da quadrilha junina Pé Quente. A companhia tem sede própria 
localizada na Rua Júlio José de Souza, nº 156, no Bairro de Água Fria, em Recife. É dirigida 
por Gilberto Chiprão. Possui 30 integrantesdurante o carnaval, que estão na faixa etária de 10 
a 35 anos. Em geral atua durante todo o ano. 
 BALÉ MULTICULTURAL DO RECIFE 
Fundada em 2009, por Adriano da Silva. A companhia não tem sede própria e ensaia no Sitio 
Trindade ou no bairro Alto José do Pinho. É dirigida por Adriano da Silva. Possui 8 
integrantes, que estão na faixa etária de 12 a 30 anos. Em geral atua nos ciclos festivos. 
 COMPANHIA MUNGANGAS 
Fundada em 1994, por Katiane Maranhão. A companhia tem sede própria localizada no bairro 
de Cadeias, Recife. É dirigida por Rodolfho Montenegro. Possui 16 integrantes, que estão na 
faixa etária de 12 a 40 anos. Em geral atua durante todo o ano. 
 
38 
 
 
 COMPANHIA FOLGUEDOS DE DANÇA 
Fundada em 2002, por Marivaldo Chagas. A companhia não tem sede própria. É dirigida 
por Marivaldo Chagas. Possui 14 integrantes, que estão na faixa etária de 12 a 45 anos. 
Em geral atua nos ciclos festivos. 
 
 
 
39 
 
 
TABELA 2: GRUPOS ENTREVISTADOS 
Companhias / 
Grupos 
Tempo de 
existência 
Nº de 
componentes 
Tem sede própria / 
não tem sede própria 
Período de 
atuação 
Balé Popular do 
Recife 
38 anos 18 Sim Ano todo 
Saltos Companhia 
de Dança 
7 anos 15 Sim Ano todo 
Companhia de dança 
Perna de Palco 
18 anos 12 Não Ano todo 
Studio Viégas de 
Formação em Dança 
5 anos 10 Sim Ano todo 
Lúden Companhia 
de Dança 
7 anos 8 Não Apenas no 
carnaval 
Grupo de Passistas 
na Onda do Frevo 
26 anos 10 Não Apenas no 
carnaval 
Companhia de 
Dança Giselly 
Andrade 
17 18 Sim Ano todo 
Companhia de 
Dança Tradição 
8 anos 10 Não Ano todo 
Companhia 
Dançantes do Passo 
7 anos 30 Sim Ano todo 
Companhia Raízes 
de Dança 
31 anos 20 Sim Ano todo 
Grupo de Dança e 
Teatro 100% Show 
16 anos 18 Sim Ano todo 
Grupo Guerreiros do 
Passo 
10 anos 12 Não Apenas no 
período pré-
carnavalesc
o 
Companhia de Frevo 
do Recife 
12 anos 11 Sim Ano todo 
Companhia 21 anos 16 Sim Ano Todo 
40 
 
 
Munguangas 
Companhia 
Folguedos de Dança 
13 anos 14 Não Ano Todo 
 
 
41 
 
 
Como participantes deste estudo, contamos com dois grupos de profissionais: diretores 
e coreógrafos dos grupos acima descritos. Vale ressaltar que na maioria dos grupos o diretor 
também atua na função de coreógrafo, e, com os passistas atuantes nestes grupos se 
encaixando dentro dos critérios já mencionados acima. As entrevistas seguiram um roteiro 
semiestruturado, foram feitas individualmente, em local tranquilo, livre de ruídos ou da 
influência de outras pessoas, sendo todas gravadas em vídeo com a câmera do celular, e 
depois digitalizadas no computador. 
É interessante dizer que dos quinze grupos entrevistados, apenas três trabalham apenas 
no período carnavalesco, as outras doze companhias trabalham durante todo ano visando os 
demais ciclos festivos para que assim consigam manter uma constância de apresentações. 
Foi perguntado a todos os diretores e aos passistas quantas apresentações os seus 
respectivos grupos costumam fazer por ano e por mês e se trabalhavam o ano todo ou só numa 
época específica. A partir deste levantamento verificamos que a as apresentações dos grupos 
ficam em uma média de 15 a 25 por ano, contudo a maioria das apresentações ocorrem nos 
meses dezembro, janeiro e fevereiro, pois são os meses que precedem o período carnavalesco. 
Nos meses do ano que não fazem parte desse ciclo festivo a média de apresentações fica de 0 
a 3. Poucos grupos conseguem manter uma temporada de apresentações ou fechar contratos 
duradouros com hotéis e empresas. Já em relação aos passistas existe uma quantidade mensal 
maior de apresentações, pois muitos participam de mais de um grupo e também fazem 
trabalhos solo, obtendo assim mais apresentações, numa média de 5 a 8 por mês. 
Dentre os tipos de eventos nos quais os grupos se apresentam verificamos aberturas de 
congressos, eventos carnavalescos, festas, espetáculos, etc. Mas, enfatizaremos os eventos 
carnavalescos por estes concentrar em maior número de apresentações. 
Perguntamos se algum grupo ou passista já sentiu alguma discriminação ou sofreu 
maus tratos em algum lugar. Tivemos respostas de grupos que nunca tiveram nenhum desses 
problemas e respostas daqueles que já sofreram descriminação e maus tratos. Um dos pontos 
comentados foi a grande diferença de tratamento entre bailarinos / passistas, músicos e artistas 
e a diferenciação de cachê entre passistas e outras classes artísticas. Reforçando essas 
afirmações a seguir alguns depoimentos: 
Passamos a noite toda no Marco Zero realizando apresentações, filmagens e 
etc [...] e quando cheguei ao palco estava muito cansado, ai a gente fez essa 
abertura do carnaval com a escola de frevo, e depois a gente dançava com a 
42 
 
 
companhia. ai eu cheguei e perguntei - “oh tem como me conseguir um 
energético, que eu estou aqui muito cansado, para ver se desperta” ai a galera 
muito grossa - “Não, não tem energético pra vocês não.” - “Ah beleza”. 
Então, terminamos de dançar e eu ia dança com Elba Ramalho, não troquei 
nem de roupa, só fez trocar de banda, quando entrei no camarim disse – “oh 
leva uns energéticos ali para o camarim do balé de Elba, não deram nem 30 
segundo que entrei no camarim chegou uma caixa de energético.” Então o 
mesmo bailarino, só que com situações diferentes. (Wanderley Aires) 
9
. 
 
Antigamente entravamos pela porta de trás, ai a gente teve que exigir a quem 
contratava a gente, entrar pela porta da frente. Por que só faríamos o 
espetáculo se fosse pela porta da frente, por que estávamos todos muito bem 
vestidos e não fazia feio a ninguém, só o material que teria que entrar por 
trás [...]. Era uma coisa meio constrangedora essa situação. (Ângela Fisher) 
10
. 
 
Nem todos os lugares somos tratados por igual. Percebemos que algumas 
apresentações nós somos tratados como grandes artistas, onde tem camarim, 
frutas, água. Mas, em outras apresentações percebemos que existe sim a 
discriminação, às vezes chegamos na apresentação e somos tratados como 
qualquer outra pessoa, menos como um grande profissional. (Gilberto 
Chiprão) 
11
. 
 
Contudo, essa diferenciação de tratamento vem desde o início da criação do frevo, 
quando a dança era marginalizada com os capoeiras e a música era tocada apenas por 
militares. Isto pode ser visto na reportagem de Rosália Vasconcelos para o Diário de 
Pernambuco, publicada no dia 16 de fevereiro de 2014: 
 
A desvalorização do passista de frevo pode ser evidenciada em premiações 
como o concurso de passistas, promovido pela Prefeitura do Recife [...] O 
valor a ser pago aos primeiros lugares totaliza R$ 11 mil, a serem 
distribuídos em quatro categorias: melhor passista adulto masculino e 
feminino e melhor passista juvenil masculino e feminino. “O prêmio de 
melhor passista equivale a 10% do prêmio de melhor composição para o 
carnaval” 
12
. 
 
Alguns grupos já ganharam prêmios e apoios financeiros, dentre eles: Studio Viégas – 
Funcultura (2015), Melhor grupo no desfile das Virgens Abraça-Brasil (2014); Lúden 
Companhia de Dança – Festival Passo de Arte Melhor grupo de dança popular e melhor grupo 
da noite (2012); Cia de Frevo do Recife – 2º lugar no Youth American Grand Prix (2005); 
Balé Popular do Recife – Prêmio Ordem do Mérito entre outros; 
 
 
9
 Entrevista de Wanderley Aires concedida à Bruna Renata, no dia 23 de novembro de 2015. 
10
 Entrevista de Ângela Fisher concedida à Bruna Renata, no dia 10 de dezembro de 2015. 
11
 Entrevista de Gilberto Chiprão concedida à Bruna Renata, no dia 11 de dezembro de 2015. 
12
 Entrevista de Valéria Vicente concedida à jornalista Rosália Vasconcelos do Jornal Diário de 
Pernambuco, publicada no dia 16 de fevereiro de 2014. 
43 
 
 
A questão financeira dos grupos é bem difícil, pois poucos recebem apoio financeiro, e 
esse apoio ainda precisa ser pleiteadotodos os anos, os demais grupos dependem apenas dos 
cachês das apresentações para se sustentarem. Alguns retiram parte do cachê para confecção 
dos seus figurinos, já outros grupos não arcam com esses custos passando essa 
responsabilidade para os passistas arcarem os seus figurinos. Isso, um passista recebendo um 
cachê em média de 50,00 reais a 200,00 reais por apresentação. Nenhum dos diretores 
informou o valor recebido em seu cargo, mas a maioria afirmou que recebem a mais do que os 
passistas por estarem justamente dirigindo os grupos. 
Dos 14 diretores entrevistados apenas 6 estão cursando faculdade ou já estão 
formados. Ainda encontramos alguns “guerreiros” que tentam sobreviver apenas da dança, 
mas atuando como professores de dança em escolas, academia e outros lugares. Em relação 
aos passistas, todos possuem o ensino médio completo e só alguns conseguem cursar a 
faculdade. Isso se dá pelo fato de que precisam trabalhar e ficam sem tempo para estudar e se 
aprofundar em alguma área. Como afirma Ladimir Ferreira (Mika) “Os grupos de frevo 
precisam desenvolver atividades paralelas para sobreviver: dão aulas e apresentam outras 
danças. Isso impede uma formação continuada desses profissionais”. 
13
 
Mediante à desvalorização dos passistas nos deparamos com um impasse enorme, que 
se chama CACHÊ. Mesmo, com a pretensão de valorização, o trabalho cultural não ganha seu 
devido reconhecimento, sendo sempre comparado com outros gêneros de trabalhos como 
relata ARANTES (2012, p, 14). 
 
Além da discrepância entre salários e ao lado das formações profissionais 
diversas, há um enorme desnível, de prestígio e de poder entre essas 
profissões, decorrente da concepção generalizada em nossa sociedade de que 
o trabalho intelectual é superior ao manual. 
 
Por que exponho essa questão? Porque é de difícil compreensão como os próprios 
passistas se desvalorizam ao ponto de passar uma manhã inteira ou mais subindo e descendo 
ladeiras dançando frevo por apenas 50,00 reais ou menos, isso, nos dias atuais. Como afirma 
Eduardo Araújo diretor do grupo Guerreiros do Passo “Já soube de cachês individuais de R$ 
20, R$ 30 para apresentações em palco de uma hora” 
14
. 
 
13
 Entrevista de Lademir Ferreira (Mika) concedida à jornalista Rosália Vasconcelos do Jornal Diário de 
Pernambuco, publicada no dia 16 de fevereiro de 2014. 
14
 Entrevista de Eduardo Araújo concedida à jornalista Rosália Vasconcelos do Jornal Diário de 
Pernambuco, publicada no dia 16 de fevereiro de 2014. 
44 
 
 
 Casos como esses já aconteceram, contudo isso foi de 7 a 8 anos atrás ou até quando 
se dançava por apenas um lanche. Atualmente acontece uma grande busca para que os 
passistas possam receber um cachê no mínimo “digno”. 
Aos passistas foi perguntado como a família de cada um aceitou a sua decisão de 
trabalhar com dança. Essa discussão sobre a questão da aceitação por parte da família é muito 
grande e não convêm debatê-la nesse momento, mas o que acontece é que os passistas às 
vezes sofrem desvalorização na sua própria casa. Tivemos depoimentos de que a família 
nunca acreditou que teria sucesso seguir uma profissão artística até que se prove ao contrário, 
a exemplo disso temos o depoimento de Arylson Matheus
15
 de 19 anos: 
No início, minha família não apoiava a ideia de trabalhar com arte, somente 
com a arte. O sonho do meu pai era que me formasse em arquitetura, para 
seguir a tradição familiar, mas não me enquadrei com essas tradições e 
desviei o caminho para arte. Minha mãe não apoiou as minhas andanças. Por 
que eles achavam que isso não iria passar de uma fase na minha vida, mas 
com muito esforço conseguir mostrar a eles que posso viver sim da arte, 
basta querer e correr atrás, pois viver disso aqui, é complicado, não se da o 
valor devido a nossos artistas. Mas meu objetivo é evoluir com a Arte e fazer 
dela minha profissão por toda minha vida. 
 
Mas também, obtivemos depoimentos de famílias que oferecem todo o apoio que os 
passistas precisam. O que proporciona aos mesmos uma construção de confiança e alegria 
para encarar todas as barreiras à frente. Como a exemplo disso à família de Maria Lucrécia 
16
 
“Minha família admira, gosta muito, minha mãe, meu esposo que também dança”; e família 
de Rebeca Gondim
17
 “Meus pais me apoiam em tudo que faço com dança e nos estudos. Eu 
sou passista por incentivo da minha mãe que me levava para todas as aulas e apresentações. 
Meu pai enche os olhos de lágrima quando me ver dançar.” Contudo, ao final de cada 
depoimento foi colocada a falta de valorização que os passistas sofrem, levando a grupos 
como Guerreiros do Passo a deixarem de participar dos polos carnavalescos promovidos pela 
Prefeitura da Cidade do Recife, devido à falta de infraestrutura oferecido neles e a demora 
para receber os cachê, pagamento este que chega a demorar 8 meses como é o caso nesse ano 
de 2015, e, o porém, SE receber. 
 
 
15
 Entrevista de Arylson Matheus concedida à Bruna Renata no dia 07 de dezembro de 2015 
16
 Entrevista de Lucrécia concedida à Bruna Renata no dia 04 de dezembro de 2015 
17
 Entrevista de Rebeca Gondim concedida à Bruna Renata no dia 14 de dezembro de 2015 
 
45 
 
 
TABELA 3: ENTREVISTADOS 
ENTREVISTAD
OS 
TEM OUTRA 
FORMAÇÃO EM 
DANÇA 
ESCOLARIDADE OUTRA 
PROFISSÃO 
Adriano da Silva Sim – Dança popular Formado em Ed. Física. Professor de Ed. 
Física 
Ana Farias Não Formação em Produção 
Cultural 
Não 
Ângela Fisher Sim – Dança popular Ensino fundamental 
completo 
Sim – Artesã 
Arylson Matheus Sim - Dança popular Ensino médio completo Não 
Bruno Henrique Sim - Dança popular, 
balé clássico e 
contemporâneo. 
Cursando Ed. Física Não 
Carlos Rennê Sim – Contemporâneo, 
dança popular e Balé 
clássico. 
Ensino médio completo Não 
David 
Albuquerque 
Sim – Dança Popular Cursando Ed. Física Sim – Professor de 
Ed. Física 
Edson Flávio Sim – Estileto dance Cursando licenciatura em 
dança 
Não 
Everson Natanael Sim – Balé clássico, jass, 
contemporâneo e dança 
popular 
Ensino médio completo Não 
Gil Silva Sim – Dança popular Engenheiro Agrônomo Sim – Engenheiro 
Gilberto Chiprão Sim – Balé clássico, jass, 
contemporâneo, balé afro 
Ensino médio completo Sim - Produtor 
cultural 
Jessica Almeida Sim – Dança popular Cursando pedagogia Sim – Pedagoga 
José Lopes Sim - Dança popular Cursando bacharelado 
em Ed. Física 
Não 
José Valdomiro Sim - Dança popular Bacharel em Ed. Física Não 
Junior Viégas Sim - Dança popular Ensino médio completo Não 
Maria L. Souza Sim - Dança popular Ensino médio completo Sim – 
Recepcionista 
Marivaldo Chagas Sim – Dança popular Ensino médio completo Sim - motorista 
Nara Frej Sim - Dança popular Pós-graduada Não 
Rebeca Gondim Sim – Contemporâneo, 
dança popular. 
Cursando licenciatura em 
dança 
Não 
Rodolfho 
Montenegro 
Sim – Dança popular e 
dança de salão 
Cursando Administração Sim – Comprador 
de móveis de 
decoração. 
Valdir Nunes Sim - Dança popular Cursando Ed. Física Não 
Wanderley Aires Sim - Dança popular Formado em Marketing Artista 
 
 
46 
 
 
A visão da desvalorização fica muito clara quando lemos os depoimentos e 
percebemos como a nossa gestão governamental ainda é muito falha, ao ponto de que a cada 
troca de gestão, tudo o que vem sendo construído de bom com relação à dança é destruído, o 
que nos deixa interpretar esses acontecimentos de diversas maneiras. Para falar isso, tenho 
como referência as entrevistas de Ângela Fisher e Rennê Cabral, nas quais eles nos contam 
sobre algumas tentativas governamentais de obter uma companhia que representasse a cidade. 
Um exemplo disso foi a criação do Balé Popular do Recife, na época em que Ariano Suassuna 
era secretário municipal da cultura de Pernambuco, o qual recebeuincentivo da prefeitura, 
chegando a passar por volta de dois anos com carteira de trabalho assinada, até o projeto ser 
cortado com a mudança de gestão. Por sua vez, na gestão do prefeito João Paulo, os passistas 
da Cia de Frevo do Recife recebiam uma bolsa salário para ajudar nos custos diários, isso até 
a gestão mudar e a história se repetir e ser cortado o projeto. Assim, encerro este capitulo, 
expondo o que nas maiorias das entrevistas foi dito, que a falta de valorização começa dentro 
da nossa própria casa, no estado de Pernambuco. 
 
47 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Diante de tudo que foi exposto nos capítulo anteriores, do árduo percurso do frevo até 
os dias atuais, do grande processo de pesquisa para se tornar um patrimônio e de como seus 
representantes da dança do frevo, os passistas, ainda sofrem um processo de desvalorização 
profissional. Conclui-se que o caminho para chegar a uma devida valorização ainda é grande. 
Diante disto, proponho algumas ideias de melhorias. Sendo assim, coloco em primeiro lugar a 
necessidade de haver uma associação que defenda os interesses dos profissionais da dança do 
frevo, ou seja, a criação de um sindicato dos passistas de frevo, que lute para que casos como 
dos cachês irrisórios que são pagos como fora dito no último capítulo. Esse sindicato tentaria 
propor um planejamento de alicerces que assista e ofereça uma melhor qualidade de trabalho 
à classe dos passistas. Seguindo, penso que seria de grande estímulo para os grupos a 
realização de um festival de frevo, pois assim iria estimular os grupos do estado a criarem 
novas coreografias e espetáculos, e que esse festival também os ajude a se promoverem na 
cidade aumentando assim a autoestima e por consequência a valorização. Analisar e 
reestruturar o concurso de passos, para que realmente atinja os objetivos que são descritos no 
regulamento todos os anos, oferecendo assim, a valorização dos passistas campeões durante 
todo o ano, e não apenas no momento de realização do concurso. Continuando, penso que 
deve-se criar um projeto que estude a possibilidade de obter uma formação profissional como 
é citado no plano de salvaguarda e assim também efetuar a criação da companhia que seria 
mantida pelos órgão governamentais, a exemplo disto temos companhias de diversos estados 
que são mantidas pelo poder governamental. Para finalizar temos a necessidade de ampliar o 
conhecimento do frevo, por isso pensei na criação de diversos CPPFs, ou seja, Centro 
Pernambucano do Passo do Frevo, com o objetivo de serem espalhados por diversos pontos 
do estado e posteriormente pelo país. Em vista dos argumentos apresentados, penso que ao 
iniciar tais atividades consigamos finalmente iniciar uma possível valorização dos passistas e 
do frevo. 
 
 
48 
 
 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ALMEIDA, Magdalena (org.) Comitê Gestor de Salvaguarda do frevo: Memórias 2011 
– 2014, Recife: Secretaria de Cultura/ Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2014. 
 
ALVES, Elder Patrick Maia. Diversidade Cultural, Patrimônio Cultural Material e 
Cultura Popular: a Unesco e a Construção de um Universalismo Global. Disponível em: 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922010000300007. 
Acesso em: 15.nov.2015 
 
AMORIM, Maria Alice. 100 anos de frevo: irreverência e tradição. Recife: Folha de 
Pernambuco, 2008. 
 
ARANTES, Antônio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 2012. 
(Coleção Primeiros Passos; 36) 
 
ARAÚJO, Giovanna De Aquino Fonseca. Trajetória histórica conceitual sobre 
património imaterial e cultural no Brasil e em Portugal tendo as Feiras como lugar 
de investigação. Disponível em: 
http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364700080_ARQUIVO_textocomplet
o.pdf. Acesso em: 11.nov.2015 
 
ARAÚJO, Rafaela Albuquerque Valença de. Abordagem Qualitativa Na Pesquisa Em 
Administração: Um Olhar Segundo a Pragmática da Linguagem. Disponível em: 
http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnEPQ/enepq_2013/2013_EnEPQ196.pdf. 
Acesso em: 04.dez.2015. 
 
ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de, 1962. Festas: Máscaras do Tempo: Entrudo, 
Mascarada e Frevo no Carnaval do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 
1996. 
 
BARBOSA, Virginia. Katarina Real. Disponível em: 
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article
&id=919:katarina-real&catid=46:letra-k&Itemid=1. Acesso em: 09.ago.2014. 
 
BAUER, Martin W.; GASKELL, George (Orgs.) Pesquisa qualitativa com texto: 
imagem e som: um manual prático. 13 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. 
 
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. São Paulo: Brasiliense, 1983. 
 
Cartilha do Carnaval 2009. Recife, [s.n.], 2009. 
 
COELHO, Gilberto. Nossos Carnavais. 1 ed. – Recife. 1991. 
 
Convenção Para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Disponível em: 
http://www.unesco.org/culture/ich/doc/src/00009-PT-Brazil-PDF.pdf. Acesso em: 
11.dez.2015. 
 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922010000300007
http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364700080_ARQUIVO_textocompleto.pdf
http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364700080_ARQUIVO_textocompleto.pdf
http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnEPQ/enepq_2013/2013_EnEPQ196.pdf
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=919:katarina-real&catid=46:letra-k&Itemid=1
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=919:katarina-real&catid=46:letra-k&Itemid=1
http://www.unesco.org/culture/ich/doc/src/00009-PT-Brazil-PDF.pdf
49 
 
 
DALFOVO, Michael Samir; LANA, Rogério Adilson; SILVEIRA, Amélia. Métodos 
quantitativos e qualitativos: um resgate teórico. Revista Interdisciplinar Científica 
Aplicada, Blumenau, v.2, n.4, p.0113, Sem II. 2008 
 
DANTAS, Leonardo. Disponível em: 
<http://www.academia.org.br/abl/media/Leonardo%20Dantas.pdf>. Acesso em: 
27.fev.2016 
 
DINIZ, André, 1970. Almanaque do carnaval: a história do carnaval, o que ouvir, o que 
ler, onde curtir / André Diniz. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/se/v25n3/07.pdf. Acesso em: 11.nov.2015. 
 
DUARTE, Ruy. História Social do Frevo. – Rio de Janeiro – Ed. Leitura, s.d. 
 
FERRAREZI Junior, Celso. Guia do trabalho científico: do projeto à redação final: 
monografia, dissertação e tese. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2013. 
 
FERREIRA NETO, José Olímpio e CUNHA FILHO, Francisco Humberto. Capoeira, 
Patrimônio Cultural Imaterial: Críticas e Reflexões. Disponível em: 
http://inspirebr.com.br/uploads/midiateca/161f8185e0cd34db18fb1672b925ec3d.pdf. 
Acesso em: 11.dez.2015 
 
GIMENES, Carlos Eduardo Reinaldo. A Importância do Patrimônio Imaterial no 
Impacto Ambiental. Disponível em: 
http://www.scientiaconsultoria.com.br/site2009/pdf/estudos/CGimenes.pdf. Acesso em: 
11.nov.2015. 
 
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia 
científica 5 ed. São Paulo: Atlas 2003. 
 
LÉLIS, Carmem. Frevo Patrimônio Imaterial do Brasil: síntese do dossiê de 
candidatura. Organizadores: Hugo Menezes, Leilane Nascimento. Recife: Fundação de 
Cultura Cidade do Recife, 2011. 
 
LÉLIS, Carmem. Dossiê de candidatura do frevo. Organizadores: Hugo Menezes, 
Leilane Nascimento. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2006. 
 
LIMA, Claudia M. de A. R. Frevo. Disponível em: 
<http://www.trabahosfeitoss.com/ensaios/Frevo/53174639.html>. Acesso em: 27.jul.2014. 
 
MCCALL, Dawn L. Um Legado Vivo: Preservação do Patrimônio Imaterial. Disponível 
em: <http://photos.state.gov/libraries/amgov/30145/publications-portuguese/1010p.pdf.> 
Acesso em: 11.nov.2015. 
 
OLIVEIRA, Maria Goretti Rocha de. Danças populares como espetáculo publico no 
Recife, de 1979 a 1988. Recife: O autor, 1991. 
 
OLIVEIRA, Valdemar de. Frevo, capoeira e passo.

Continue navegando