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Ederaldo Gentil: O Ouro do Samba Baiano

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EDERALDO GENTIL: O RESGATE DA MEMÓRIA E OBRA DO “OURO DO SAMBA BAIANO”
Francisco Inácio Schvarzman Araujo Silva (Instituto de Artes – UNESP)
Licenciado em Educação Musical pelo Instituto de Artes da UNESP. É professor de música do programa Guri Santa Marcelina, músico do Grupo Saracura e violonista e compositor do grupo Angatú.
RESUMO
A história da cultura popular urbana brasileira carece ainda hoje, por sua própria natureza enquanto forma artística, de fontes escritas que corroborem os mitos e ‘estórias’ em torno da vida e das conquistas de intérpretes, instrumentistas e/ou compositores. Este artigo procura explicar quem foi Ederaldo Gentil e qual foi a relevância e impacto de sua obra e atuação política dentro do contexto – local e momento histórico – em que cresceu e se formou como artista.
PALAVRAS-CHAVE: Ederaldo Gentil, cultura popular, samba
ABSTRACT
The history of brazilian popular urban culturue still lacks – owing to its nature as an artistic form – written sources that confirm myths and stories about the life and accomplishments of performers, instrumentalists and/or composers. This article seeks to explains who was Ederaldo Gentil, as well as the relevance and impact of his work within the local and historical context of his upbringing apprenticeship as an artists.
KEYWORDS: Ederaldo Gentil, popular culture, samba
	
INTRODUÇÃO
	O historiador Hermano Vianna em sua obra “O Mistério do Samba” buscou investigar como se deu a formação do samba como símbolo de identidade nacional frente aos outros estilos de música presentes no Brasil do século XIX e XX. No começo do século XX o carnaval carioca, diferente do que muitos possam imaginar, era regido não pelos samba-enredos, que hoje tomaram conta dessa festa, mas por diversas músicas de caráter regional ou até compostas fora do país.
	O próprio carnaval, descrito por Oswald de Andrade como “o acontecimento religioso da raça”, não era festa movida apenas por músicas que poderiam ser classificadas como brasileiras. [...] polcas, valsas, tangos, mazurcas, schottishes e outras novidades norte-americanas como o charleston e o Fox-trot. Do lado nacional, a variedade também imperava: ouviam-se o maxixe, modas, marchas, cateretês e desafios sertanejos. (Vianna 1995: 111)
No entendimento de Vianna os anos 30, com o advento do rádio e a chegada de diversas gravadoras ao Rio de Janeiro como a RCA, a Brunswick e a Columbia foram o terreno fértil para a definição do então samba carioca como estilo musical brasileiro. A então capital brasileira transmitia os programas de maior audiência (Vianna 1995: 110): as ondas do rádio influenciavam e colonizavam o país com o samba carioca. O projeto nacionalista de Getúlio Vargas a partir da revolução de 30 produziu com o samba uma relação simbiótica: o Projeto do Estado Novo de construção de identidade brasileira alçou o samba à categoria de música nacional e esta se tornou uma das marcas registradas, um dos símbolos do “ser brasileiro”. O governo de Vargas deu visibilidade e mercado para os sambistas, tanto em espaços considerados da elite, como o Palácio do Catete, quanto em terras estrangeiras. Um exemplo disso é o grupo de Pixinguinha “Oito Batutas” que se apresentaram no Pavilhão da General Motors na embaixada americana e obtiveram financiamento para tocar na França e na Bélgica (Vianna 1995: 114). Essa contextualização acima desmistifica muitas impressões que possamos ter a respeito de temas como o carnaval, a música brasileira, o samba e a própria identidade nacional. Compreender que essas categorias foram construções históricas de uma época e que serviram a determinados grupos e fins políticos é essencial para que possamos compreender quem foi o protagonista da pesquisa que aqui se pretende fazer, o compositor soteropolitano Ederaldo Gentil.
	A vitória do samba era a também a vitória de um projeto de nacionalização e modernização da sociedade brasileira. O Brasil saiu do Estado Novo com o elogio (pelo menos em ideologia) da mestiçagem nacional, a Companhia Siderúrgica Nacional, o Conselho Nacional do Petróleo, partidos políticos nacionais, um ritmo nacional. Na música popular, o Brasil tem sido, desde então, o Reino do Samba (Vianna 1995: 127).
Gentil é um compositor que produziu uma obra híbrida, composta de influências regionais baianas1 A partir da contextualização colocada aqui definimos o “regional” em oposição ao nacional, ou seja, tudo aquilo que historicamente não foi construído como identidade do povo brasileiro como um todo. e influências do samba, que já se havia configurado como a música nacional por excelência. Tendo nascido na década de 40, sua juventude teve a influência dos meios de comunicação de massa (rádio e TV), através do qual se deu seu contato com o samba carioca. Nelson Rufino, um dos compositores contemporâneos e amigos de Ederaldo Gentil nos revela em uma entrevista dada ao projeto que o carnaval soteropolitano começou a surgir influenciado – e não seria exagero dizer, copiado – pela experiência deste samba carioca que colonizava o país. A estrutura das escolas de samba, dos desfiles e da premiação eram todas importadas do Rio de Janeiro. (Rufino 2015)
É possível também identificar na obra de Ederaldo Gentil a influência religiosa afro-brasileira do candomblé; diversas músicas suas abordam esse universo como “2 de fevereiro”, “In-lê-in-lá” e “Luandê”, para citar alguns exemplos. Gentil compunha sambas ao mesmo tempo que compunha afoxés(ou ijexás).2 Existe um conflito em relação ao uso dessas duas palavras que não vale o aprofundamento neste momento da pesquisa. Existem duas compreensões diferentes: a de que o nome afoxé seria dado à celebração profano-religiosa na qual seria tocado o ritmo do ijexá. A segunda compreensão entende que se diz o ritmo do afoxé para ocasiões profanas e o ijexá para ocasiões religiosas como um ritmo que se toca exclusivamente para os orixás. Embora Ederaldo Gentil fosse um compositor reconhecido por seus pares e aplaudido pelos críticos a vendagem de seus CDs não era suficiente para que as gravadoras continuassem investindo nele.
Este artigo busca justificar a importância desta figura da música brasileira como alguém capaz de narrar uma realidade temporal e específica de Salvador ao mesmo tempo que fundou, junto de outros colegas, uma tradição soteropolitana do samba urbano. Este trabalho busca cumprir estes objetivos utilizando-se principalmente de fontes biográficas como notícias de época e entrevistas de amigos e estudiosos de sua obra. Também buscou entendê-lo através de uma perspectiva mais ampla do que foi a Bahia e o ‘ser baiano’ no século XX e de análises feitas pelo próprio autor deste artigo. 
Além do que foi exposto acima acredito que colaboração e mérito deste trabalho é também apresentar todo um panorama: desde a criação do samba como figura de identidade nacional - abordado por Hermano Vianna - passando por uma história geral do Estado da Bahia e da cidade de Salvador - contada científica e ao mesmo tempo literariamente por Antonio Risério, mas também por figuras como Pierre Verger e Caetano Veloso -, uma breve biografia de quem foi Ederaldo Gentil e com esse material em mãos apresentar também uma análise de sua importância e relevância como artista e como ser político.
2. UMA BREVE HISTÓRIA DA BAHIA DO SÉCULO XX
2.1 Economia e Política – Do Saveiro ao Centro Industrial de Aratu
O Estado da Bahia e sua capital Salvador, ao começo do século XX já não são mais tão relevantes para o panorama político-econômico de um Brasil agora independente e que há pouco tornara-se uma república. A província que abrigou a capital nacional até 1763 perdeu essa centralidade para o sul-sudeste durante o século XIX: quem dava agora as cartas na política nacional eram os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais além da capital federal Rio de Janeiro. É importante recordar que é do começo do século XX (1913) a instituição da política do “café-com-leite”.3 A política do “café-com-leite” consiste em um pacto nunca escritofeito na cidade mineira de Ouro Fino que estabelecia um revezamento entre paulistas e mineiros na presidência da República. 
É nesta época que certas estatísticas sugerem uma Salvador paralisada. “Pode-se dizer que a Cidade da Bahia4 Termo utilizado pelo autor da obra em questão para se referir a Salvador contava com cerca de 110 mil habitantes em 1872 – e que, em 1890, não ultrapassaria a casa dos 150 mil.[…] durante toda a primeira metade do século XX –, Salvador será a capital brasileira que irá apresentar as menores taxas anuais de crescimento populacional.” (Risério 2004: 296) Enquanto isso, para se ter uma ideia, entre em 1890 e 1900 a cidade de São Paulo “passou de cerca de 65 mil habitantes para cerca de 240 mil habitantes.” (Risério 2004: 297) Esse crescimento vertiginoso do estado paulista se deve ao aumento das exportações de café. Este produto já representava, entre 1898 e 1910, 52,7% de todas as exportações brasileiras. Este número saltou para 72,5% entre e 1924 e 1929. Enquanto isso o fumo e o açúcar, principais produtos baianos, representavam, juntos, nestes dois respectivos períodos 4,7%(1898-1910) e 2,4%(1924-1929).
Em razão destas causas macro-econômicas o estado da Bahia e a cidade de Salvador não conseguiram se transformar em um núcleo industrial e continuaram sendo, segundo Antonio Risério em A História da Cidade da Bahia “[…] a Bahia do saveiro, do terno branco, da vegetação exuberante, das ruas que se espreguiçam sob o sol”.(Risério, 2004: 295) As atividades industriais baianas se resumiam ao pólo industrial têxtil em Ilhéus e ainda assim eram muito reativas e subordinadas aos ventos das exportações e importações. (Gabrielli 1975 apud Risério 2004: 302)
	O ensaio capitalista-industrial da Bahia não cortara “a ligação umbilical com o setor exportador”. A queda na demanda externa do acúcar implicava a queda na demanda interna dos produtos da indústria.[…] Em suma, o que tínhamos eram umas poucas fábricas – e todas elas atreladas aos ramos tradicionais de nossa economia. O simples fato de nossa indústria têxtil ter se concentrado na produção de tecidos grossos para vestir escravos e ensacar mercadorias é um atestado definitivo dessa dependência. (Risério 2004: 302)
Risério é muito preciso no texto acima: a tentativa de industrialização baiana na primeira metade do século XX não passou de um ensaio e a Bahia, nessa passagem do século XIX para o XX perdera até mesmo seu protagonismo regional econômico para a cidade do Recife. Devido ao seu exagerado apego às estruturas coloniais, agrárias e exportadoras, o estado da Bahia e sua capital perderam a oportunidade de se inserir na primeira fase de modernização nacional.
A partir da década de 1950 assistiu-se a uma mudança neste cenário e a Bahia ingressaria decisivamente no capitalismo moderno: a criação de um setor petroleiro e uma política de isenção tributária do governo Federal alteraram radicalmente os padrões de produção e crescimento da região nordestina. O processo de industrialização centro-sulista começou a carecer de sua matriz energética básica: o petróleo. Em tempos de nacionalismo econômico o Estado tomou a si a tarefa de encabeçar esse projeto e investir na prospecção e refino do petróleo. Resultado deste processo foi a criação da Petrobrás no ano de 1953 e quase que de imediato a exploração de fontes de petróleo na bacia do Recôncavo baiano que já haviam sido descobertas desde 1939.
“O que essas atividades petrolíferas produziram, em nosso ambiente, cabe numa palavra: impacto.” (Risério 2004: 317) Antes terra de canaviais e engenhos a chegada da Petrobras à Bahia irá trazer uma “atividade econômica totalmente estranha à matriz técnica e social da economia baiana”. (Oliveira 1987 apud Riserio 2004: 317) Uma Bahia acostumada por pelo menos três séculos a depender da produção do açúcar agora teria sua paisagem transformada pela exploração e refino petrolífero. Caetano Veloso em Verdade Tropical nos conta que “[...]operário de capacete era uma novidade que, em Santo Amaro5 Município da região metropolitana de Salvador […] aparecera recentemente com a Petrobrás”. (Veloso 1997 apud Risério 2004: p.317) Veloso explica que o maior poder aquisitivo dos jovens operários da cidade os permitiu renovar as fachadas de suas casas – fato que, na sua opinião “[…] destruiu, em pouco tempo, grande parte do tesouro arquitetônico do Recôncavo”. (Veloso 1997 apud Risério 2004: 317)
A estatal trouxe ao estado um inédito volume de investimentos em toda a sua história. Este aspecto somado à expansão salarial graças à empresa chegou a inclusive movimentar a indústria da construção civil e causar aumento de preços em cidades do Recôncavo como Santo Amaro. Estava em curso um desenvolvimento e aumento da população naquela região. O país, entretanto, ainda apresentava uma disparidade muito grande de ritmos de crescimento em suas diferentes regiões e o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek acelerara ainda mais essa disparidade. Foi nessa época que o economista Celso Furtado apresentou a Juscelino as conclusões do GTDN – Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, alertando o presidente sobre os perigos estruturais dessa situação.
Ciente dessa disparidade o Governo irá providenciar, no início da década de 60, através de incentivos fiscais via Sudene – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – a oferta de capitais que possibilitariam a montagem de um setor industrial na região. Como resultado “esse amplo movimento inverte a situação anterior: de exportador de capitais, o Nordeste passa a importador. Serão os capitais do Centro-Sul e capitais internacionais que afluem à região beneficiados pela dedução do imposto de renda”. (Oliveira 1987 apud Risério 2004: 319) O Estado da Bahia foi aquele que mais se beneficiou com a onda de investimentos para o nordeste nas décadas de 60 e 70 e isso trouxe impactos para a capital Salvador. Além do evidente aumento da oferta de empregos no setor industrial esse capital que afluiu para terras baianas também aqueceu o setor de serviços.
	Foram criados por aqui cerca de 260 mil empregos, segundo especialistas na matéria. E é por isso, também, que esses mesmos especialistas falam de uma desruralização, nessa época, daquilo que então se convencionou definir como a Área Metropolitana de Salvador. A região deixa para trás, arquivada a sua secular disposição agrícola. (Risério 2004: 320)
	Outros dois aspectos dessa expansão do capitalismo brasileiro para a região nordeste foram a construção na década de 50 da BR-324 (estrada Rio-Bahia) e a construção da usina hidrelétrica de Paulo Afonso. O fim definitivo do que se pode chamar de um isolamento da economia baiana em relação ao corpo econômico brasileiro veio após o golpe militar de 1964 com a implantação do Centro Industrial de Aratu (CIA).
2.2 Cultura – O caldeirão soteropolitano
O fim desse isolamento da economia baiana trouxe consequências para o campo da cultura que transformariam para sempre o estado: a fundação da Universidade da Bahia6 Atual Universidade Federal da Bahia por Edgard Santos em meados da década de 40 trouxe artistas da avant-garde cultural europeia. Pessoas que fugiram do nazifascismo e/ou do comunismo em suas terras natais vieram para eletrizar a capital baiana. Chegam a Salvador nessa época o compositor austríaco de música dodecafônica Koelreutter, a bailarina e coreógrafa polonesa Yanka Rudzka, o pensador português Agostinho Silva e a arquiteta modernista Lina Bo Bardi.
Koelreutter viria com a missão de organizar os Seminários de Música da Bahia, uma instituição que foi o embrião da futura escola de Música da Universidade Federal da Bahia, fundada em 1954. O compositor austríaco
[...]trouxe, para uma cidade extraordinariamente musical, em termos populares, o repertório erudito, revisto pela ótica da vanguarda num verdadeiro exercício de estética sincrônica. Uma injeção de Bach, Schoenberg e Cage na terra do samba-de-roda, das claras e refinadas canções praieiras de Dorival Caymmi e do violão de João Gilberto. (Risério 2004:329)
	Na mesma toada a Rudzka viria para fundar o curso de dança da universidade e Agostinho Silva para montar o CEAO(Centro de Estudos Afro-Orientais). Lina Bo Bardi estaria encarregada de dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia. (Risério 2004)
	A Universidade da Bahia e esta avant-garde europeia eletrizaram e mexeram com a cidade e a população soteropolitana. Estas informações que chegavam pela via universitária circulavam pela cidade em bares, cursos, clubes de cinema, suplementos jornalísticos e outros meios em um processo que Risério dá o nome de entrelaçamento da cultura boêmia e da cultura universitária. Esta dialética entre o cosmopolita e o antropológico, entre o samba de roda e o dodecafonismo, entre o terreiro e a universidade, entre a informação de ponta e a cultura popular produzirá – no campo das artes – movimentos como o Cinema Novo e na Tropicália.
Parte dessa cultura boêmia é retratada no documentário Samba Riachão (2001)7 Samba Riachão. 2001 Dir: Jorge Alfredo. DVD. Braskem e Truq Cine Tv Vídeo. 99 min. Son. . Riachão é o apelido do sambista soteropolitano Clementino Rodrigues, sambista bem-humorado e extrovertido, que em suas composições assume papel de cronista e narrador musical de Salvador. O filme contará sua história e permitirá que ele conte suas estórias. Estórias essas que nos auxiliam a compreender e visualizar o que era esse universo boêmio e esse samba urbano da capital baiana.
Nascido em 1921 Riachão é uma testemunha viva de toda essa transformação pela qual passou Salvador e a produção artística que se dava nessa cidade. Como Ederaldo Gentil, Riachão é um sambista proveniente de uma classe média-baixa urbana, assim como Batatinha, Panela, Edil Pacheco e Walmir Lima, entre outros. Clarindo Silva em um trecho do documentário nos explica: “Batatinha trabalhava. Era tipógrafo e fazia samba. Riachão era contínuo de um banco e fazia samba. Panela era corretor e fazia samba! Walmir Lima também tinha sua profissão e fazia samba. Então isso foi desmistificando a coisa de que samba era coisa marginal." 8 SILVA, Clarindo apud SAMBA Riachão 2001 
Figura 1: Batatinha,Ederaldo e Edil Pacheco
Salvador era um lugar onde sambistas e intelectuais se encontravam, se esbarravam, e partilhavam de um espaço onde se dava este entrelaçamento da vida universitária e da vida boêmia: ao mesmo tempo em que Koelreutter ministrava os Seminários de Música da Bahia e injetava Bach, Schoenberg e John Cage na terra do samba de roda os sambistas acima citados se encontravam em lugares como a Cantina da Lua, no Largo Terreiro de Jesus, para tocar.
É preciso inserir ainda mais uma variável nesta equação: o componente étnico-religioso do candomblé e da cultura jeje-nagô, imprescindível nessa dialética entre cosmopolita-antropológico. Olhemos por um instante para a figura de um parisiense que chega à Bahia em 1946 e por ela se apaixona, pelo candomblé se hipnotiza e para cá se muda: Pierre Verger. Este se autodescreve como um playboy parisiense que tirava rachas na rua.25O filme Pierre Fatumbi Verger: Mensageiro entre dois mundos contará sobre a vida deste homem e como se deu esta metamorfose. O parisiense produziu também um importante trabalho de registro fotográfico da Bahia e de outros lugares do mundo ao qual viajou.
	Foi em 1948 [...]que ele esteve pela primeira vez no Ilê Axé Opô Afonjá, pouco antes de partir para a África, onde teria uma bolsa de estudos para fotografar rituais religiosos. Mãe Senhora se ofereceu para consagrar a sua cabeça a Xangô. Iniciou-se aí a longa amizade de Verger com o povo de santo. (Fundação Pierre Verger [200-?], acesso em 13/04/2017)
Pierre Verger foi uma ponte, um mensageiro, como diz o nome do documentário. Um mensageiro entre o mundo europeu e o mundo afro-americano, entre o mundo laico,racionalista e desencantado e o mundo mágico e espiritual, entre o candomblé da Bahia e os rituais religiosos africanos. “Na África, esteve com descendentes dos antigos soberanos que originaram os mitos; conheceu os locais sagrados, assistiu e participou de rituais”(Fundação Pierre Verger [200-?] , acesso em 13/04/2017). Trouxe também esta contribuição ao candomblé baiano, mergulhou ainda mais fundo na tradição. Verger é portanto a evidência que passou neste mundo da dialética cosmopolita-antropológico. Sua trajetória expressa o que acontecia, em doses maiores ou menores, com todos aqueles que viviam Salvador: de alguma forma todos estavam vivenciando esta mistura, todos estavam dentro deste caldeirão: deste ambiente onde Koelreutter, o Ilê Axé Opô Afonjá e Ederaldo Gentil produziam cultura.
Podemos concluir portanto que Ederaldo Gentil cresceu em uma Salvador pulsante. Já sem o protagonismo e centralidade antes vividas nos tempos coloniais a ex-capital precisou se reconfigurar economicamente. Na segunda metade do século XX a produção de açúcar dava lugar à exploração e refino do petróleo como a principal atividade econômica da região; o Programa de Metas e a Sudene produziram incentivos para as empresas montarem na região do Recôncavo suas fábricas, resultando no Centro Industrial de Aratu. Paralelamente a isso a fundação da UFBA movimentava o cenário cultural soteropolitano com a chegada de europeus de destaque em todas as linguagens artísticas. Uma nova Bahia produziu novos intérpretes baianos. De um lado nomes como Glauber Rocha, Caetano Veloso, Tom Zé e Gilberto Gil; pessoas de uma classe média intelectual que tiveram a oportunidade de estar com suas antenas ligadas para fazer a ponte entre a informação vanguardista europeia e a nossa realidade brasileira, sintetizando assim movimentos como a Tropicália e o Cinema Novo. De outro lado teremos nomes vindos de uma classe média baixa urbana; que durante a maior parte da vida não trabalharam como artistas e que interpretaram a Bahia e Salvador de uma forma completamente diferente dos primeiros: Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Riachão, Batatinha e Nelson Rufino foram parte de uma geração que reconfigurou o samba urbano baiano, um samba influenciado sim pelas batucadas cariocas, mas que não abria mão de sua identidade – um samba intrinsecamente ligado ao carnaval de Salvador. A obra de Ederaldo Gentil destaca-se, por um lado, pelo apuro estético e densidade metafórica – como em uma de suas músicas “O Ouro e Madeira” - e por outro pela forma muito aguda de se tratar a questão racial e social no país. Os aspectos da vida e obra do compositor serão abordados no capítulo seguinte.
3. QUEM FOI EDERALDO GENTIL?
	"Bem, eu nasci no Largo dois de Julho... Me criei no Tororó e hoje eu resido na Soledade. Eu iniciei a compor em escola de samba, né? Porque eu fazia parte da bateria da escola de samba Filhos do Tororó." (Gentil 1974) É assim que o tímido e algo misterioso Ederaldo Gentil Pereira se apresenta no programa "MPB Especial" produzido e veiculado pela TV Cultura. 9 MPB Especial Nascido em 1944 na cidade de Salvador o menino Ederaldo afirma ter tido uma infância de pouco carinho e muita esquina. "Corri picula, joguei bola, joguei ferrinho, joguei gude, ioiô e pião. E nunca me faltou esquina. Na esquina não faltava assunto." (Gentil 2005: 345) Mas não só de esquina e brincadeira vivia o menino de origem humilde: carregando sacos de feira Ederaldo entrou em contato com os cantadores de cordel
" [...] enquanto esperávamos a feira terminar pra levar os sacos pro depósito, ficávamos ouvindo os cantadores de cordel. Isso me levou a assimilar facilmente o espírito do cordel, a estrutura melódica dos desafios ao lado da composição da letra." (Gentil 2005: 347) 
 	Já adolescente Ederaldo muda-se em 1960 para o bairro do Tororó por ocasião da morte de seu pai. Nesse mesmo ano vai trabalhar com Albino Castro onde aprende a profissão de ourives e, posteriormente, relojoeiro. (Acervo Ederaldo Gentil 2017) É no Cordão Carnavalesco Filhos do Tororó	- que viria a se chamar, no ano de 1963, Escola de Samba Filhos do Tororó ( Projeto Memórias do Reinado de Momo 2015) – que se dá seu primeiro contato com o samba.
	Não era pequenoo reconhecimento que já muito novo o compositor obteve. Aos 24 anos foi premiado no primeiro de muitos concursos de composição aos quais concorreria. 
[...]fazia parte da bateria da escola de Samba Filhos do Tororó. Eu tocava tarol, instrumentozinho de duas baquetas. E lá eu havia aqueles concursos de músicas e eu tinha vergonha, sei lá, de mostrar os sambas que eu fazia. Mas até que um dia apareceu um concurso de músicas lá. Mas não era da Escola, era da Prefeitura. Aí eu fui lá e inscrevi o samba. E o samba ficou entre os vencedores do ano. Foi em 67 isso. Aí eu fui descoberto pela Escola de Samba.(Gentil 1974)
	A música premiada pelo 16º concurso de músicas de carnaval da SUTURSA (Superintendência de Turismo da Cidade de Salvador) chamava-se "Adeus Amor". Posteriormente Ederaldo se tornaria um dos mais importantes compositores de samba-enredo da E.S. Filhos do Tororó. O que o introspectivo sambista nos esconde nesta entrevista é que já em 1965 sua composição "Rio de Lágrimas", classificou-se em 6º lugar no mesmo concurso da SUTURSA (Acervo Ederaldo Gentil 2017) daquele ano e foi gravada, no ano seguinte, por Raquel Mendes no disco "Carnaval Da Bahia para o Brasil".10 Carnaval da Bahia para o Brasil. 1966. Sutursa. 
	Foi neste ambiente de festa e competitividade carnavalesca que Ederaldo formou-se músico: primeiro ritmista, mais tarde compositor. O projeto “Memórias do Reinado de Momo” produziu um trabalho de resgate do carnaval de Salvador de meados da década de 30 até o final dos anos 70 e para a execução desse projeto foram entrevistados diretores de bateria, presidentes e compositores das escolas de samba que compunham o cenário carnavalesco soteropolitano. Nelson Rufino – um dos entrevistados do projeto - foi um dos compositores da Escola de Samba Filhos do Tororó e suas composições disputavam quase todo ano com as de Gentil a seleção interna11 As escolas de samba realizam processo interno de seleção para escolher o samba-enredo que irá representá-la na avenida em cada ano. Baseado no enredo escolhido pela escola os compositores da agremiação devem compôr e inscrever o samba no referido processo. para o samba-enredo que representaria a escola no carnaval de cada ano. Nos carnavais de 1964 e 1965 será Rufino o compositor a assinar os enredos da escola. No ano seguinte Ederaldo Gentil se une à ala dos compositores da escola e inicia uma acirrada, porém amistosa, rivalidade com aquele. Compõe Dia de Festa para o carnaval daquele ano (1966) e Dois de Fevereiro para o carnaval do ano seguinte (1967). O primeiro samba-enredo reapareceria gravado em Samba Canto Livre de um Povo, primeiro LP de Ederaldo Gentil, lançado em 1975 e o segundo, um ano mais tarde, em Pequenino.
	Rufino nos conta de forma bem-humorada um curioso capítulo dessa disputa: em 1968 Ederaldo manteve sua hegemonia e assinou mais uma vez a composição do samba-enredo da escola daquele ano: História dos Carnavais. Internamente, porém, o samba-enredo vice-campeão, composto pelo rival, foi muito festejado e caiu nas graças e na boca da escola. Dessa disputa nasceu um “samba de sugesta” chamado “Veneno” de composição de Rufino e Walmir Lima. O “samba de sugesta” é uma espécie de samba de resposta, provocador, que após o carnaval daquele ano fizera sucesso entre os integrantes da escola. Conta-nos Rufino que certo dia foi buscar Walmir Lima no bairro de Pau Miúdo em Salvador para levá-lo para a casa de sua mãe no bairro de Curva Grande. “Quando eu cheguei […] [risos] ele (Walmir Lima) já tava com o cavaquinho com a melodia dizendo: bote aquela letra que tá engasgada aí [mais risos]" (Rufino 2015). Eis a letra do samba:
“Fizeram veneno de mim lá na escola
Quiseram abafar um samba meu
Mas sentimento é sentimento
O meu samba tinha tudo, vejam o que aconteceu
Foi nos ouvidos se infiltrando
E hoje a escola se orgulha do meu samba viver cantando
Pegou, pegou o meu samba, sim senhor!
E quem falou do meu samba fracassou” (Rufino 2015)
	
Inicialmente Gentil não sabia que Rufino assinara a parceria com Walmir Lima e este também não fizera questão de fazer muito alarde quanto à sua participação na composição do samba. Soninha, uma amiga da ex-mulher de Ederaldo, estava namorando Nelson Rufino na época e presenciara o momento em que o namorado teria tirado desengasgado a letra do samba de sugesta.
	Quando Ederaldo chega aí Soninha diz assim: - Cê tá todo triste aí e Nelson tá dando risada de você. E aí Ederaldo diz – Por que? - Ele também é autor do samba. - Como é que cê sabe? - Eu vi no dia que fizeram, na sexta-feira... Rapaz! Ederaldo pulou da cama pra sair, pra querer brigar comigo, cara! Coruba, meu apelido de infância, né? - Coruba! É verdade o que eu soube ontem? Eu disse – O que, Ederaldo? - Você é parceiro de Veneno mesmo? - Sou, Ederaldo. [risos] Ai meu Deus! [risos] Walmir carregado na quadra e eu saí de fininho, fui embora. (Rufino 2015)
	Pelo tom da entrevista dada por Rufino esta estória não viria a acabar com a amizade dos dois. Mas percebe-se que no fim das contas o grande vencedor do carnaval daquele ano foi Rufino. No ano seguinte seu parceiro em “Veneno” Walmir Lima foi convidado pela direção da Filhos do Tororó para compôr seu samba-enredo e este convite gerou um desentendimento entre Ederaldo e os diretores da Escola: aparentemente a disputa entre Walmir Lima e Gentil não era tão amistosa e saudável como a narrada anteriormente, – entre ele e Rufino – e deste desentendimento resultou a saída de Ederaldo da agremiação. (Américo Lisboa Junior [198?-]) Naquele ano Ederaldo apresentou o samba-enredo Samba canto livre de um povo pela Juventude do Garcia, uma das escolas arquirrivais da Filhos do Tororó. Esse samba foi gravado no LP de mesmo nome, em 1975.
	Celso Sant'Ana, amigo pessoal de Ederaldo e integrante da Filhos do Tororó conta-nos uma história que revela a potência de compositor que tinha o amigo. Brigado com a escola onde se criou sambista - por conta do ocorrido narrado anteriormente - Gentil foi convidado pelas outras escolas para compôr seus sambas-enredo para o ano de 69.
Quando chegou o Carnaval aconteceu uma coisa incrível. Todas as nove escolas de Salvador cantaram nas ruas canções feitas por ele. Apenas uma escola trazia outra assinatura, justamente a Filhos do Tororó", conta Edil Pacheco, músico parceiro de Ederaldo. (Jornal A Tarde 2009 apud Acervo Ederaldo Gentil 2017)
No fim de 1972 Ederaldo Gentil fez as pazes com a agremiação que lhe formou músico e já de volta compôs o enredo para o carnaval de 73 que comemorava o cinqüentenário da maior iyalorixá da Bahia, Menininha do Gantois. O seu samba In-Lê-In-Lá foi vencedor e Gentil trouxe mais uma vitória para a Filhos do Tororó no carnaval soteropolitano.
	No ano de 1973 Ederaldo - já reconhecido compositor do carnaval baiano, e agora um compositor-revelação que acabara de ser gravado por Jair Rodrigues – muda-se para São Paulo e "assina com a gravadora paulista Chantecler, lançando seu primeiro disco, um compacto simples contendo duas composições suas, "Triste Samba" e "O Ouro e a Madeira". (Acervo Ederaldo Gentil 2017) Em entrevista para Guido Guerra Ederaldo nos conta das dificuldades e que passou na capital paulista
	"Lá passei bons bocados mas foi onde eu fiz O Ouro e a Madeira [...]. Gravei o compacto, mas a gravadora não me deu nenhuma força. Se recusou até a pagar os 150 cruzeiros, que correspondiam a um mês da pensão onde eu morava, na Rua Manoel Dutra, no mangue." (Gentil 2005: 350)
	Ederaldo também nos conta que teve muitos problemas com a polícia.
	“[...]fui preso várias vezes lá, sem estar fazendo nada, só por estar onde morava. Fui em cana três vezes. Aí um policial, que fazia a ronda no brega, por nome Januário, passou a me dar proteção, ficou meu amigo mesmo, de ir pra futebol comigo e nunca mais a polícia me deu bolo. Se não fosse ele minha vida seria caminhar pro Distrito pra explicar que era apenas um compositor baiano que estava tentando a sorte no sul-maravilha.” (Gentil 2005: 351)
	É neste exato ano - e esta entrevistadeixa isso muito claro - que Ederaldo se desencanta de vez com o sul-maravilha e decide voltar à Bahia. Além de todas essas dificuldades Ederaldo estava sofrendo de uma terrível inflamação nos rins: “Se é pra morrer, vou morrer na Bahia” (Gentil 2005: 351) exclamava o compositor. 
	O compacto lançado pela Chantecler não obteve uma expressiva vendagem mas Adelzon Alves, radialista e produtor musical, propôs a Gentil a regravação de O ouro e a Madeira, interpretada desta vez pelo conjunto Nosso Samba. A música estourou e conta Ederaldo que a partir daí a gravadora “se desdobrou em gentilezas”. “Me ofereceu um LP, me botou no melhor hotel de São Paulo, que era o Comodoro, o único que tinha piscina, me levou pra gravar o LP no Rio”. (Gentil 2005: 351) Nos anos 70 e 80 Gentil se consagraria também como compositor de canções fora do contexto dos enredos de escolas. Além de Jair Rodrigues Ederaldo foi também interpretado pela cantora Alcione. Rodrigues gravou Berequetê e Alô Madrugada para o álbum O talento e a bossa de Jair Rodrigues(1970). Neste trecho do depoimento ao programa MPB Especial - Sambas da Bahia o compositor conta sobre as dificuldades de estar fora do eixo Rio-São Paulo e de seu encontro com Jair Rodrigues.
	Bem...Foi difícil sim... Gravar. O compositor na Bahia gravar é meio difícil por causa da distância, né? Lá a gente faz as músicas e às vezes engaveta, as músicas ficam com as letras antigas já né? que o tempo passa… Mas eu fui feliz, né? Porque com três anos já eu compondo o Jair vem pra fazer um programa e eu fui apresentado a ele e ele marcou que eu fosse no hotel onde ele estava. Lá eu mostrei a ele “Berequetê” e ele disse: essa música eu gravo! Aí mandou que eu fizesse a fita, eu fui, entreguei e ele trouxe a fita pra gravar a música. Aí eu tinha… Naquela época eu estava namorando uma menina do Rio. E então(Ederaldo e seu conjunto de músicos riem!)Então eu fui ao Rio, né? Fui ver a garota… E lá eu achei por bem de ir visitar o Jair. Lá ele tava ensaiando com Os Originais(do Samba) e mandou que eu mostrasse mais músicas. Aí eu fui mostrando, quando eu mostrei “Alô Madrugada” ele disse: “Essa eu vou gravar também”.Mas eu não acreditei, né? Aí ele mandou que eu assinasse um contrato e tal. Assinei e… Voltei pra Salvador e um dia passando pela Baixa do Sapateiro eu escutei a música tocando numa casa de discos.[…] Aí foi aquele porre,né? Ali eu já não fui mais trabalhar, mais nada, de tão feliz que fiquei." (Gentil 1974)
	Depois de todas essas experiências já é possível afirmar que Ederaldo desenvolve a compreensão do modus operandi do mercado artístico e da indústria fonográfica. Que a rapidez com a qual a boa vontade e as boas intenções dos produtores e diretores de gravadora se esgotava quando os resultados comerciais não vinham era proporcional à rapidez com a qual o tapete vermelho lhe era estendido quando alguma música ou álbum estourava. 
	No ano de 1974 o programa MPB Especial – Sambas da Bahia vai ao ar pela TV Cultura. Junto com Riachão e Batatinha Gentil conta histórias, dá depoimentos – como os citados acima – e toca parte de sua obra. Este programa é um rico documento para os interessados na vida e obra de Ederaldo Gentil. Com um formato igual ao renomado programa Ensaio da extinta TV Tupi, que prosseguiu na TV Cultura, o compositor toca parte de sua obra e no intervalo entre as músicas responde perguntas que ao espectador não é “permitido” ouvir, muitas vezes contando histórias curiosas sobre a origem da composição, o significado da poesia ou mesmo a relevância de determinada obra para a vida do compositor. Ederaldo fala sobre seu início de carreira como ritmista, sobre o primeiro concurso de composições que ganhou e sobre os sambas-enredo que representaram a Filhos do Tororó nos carnavais; nos conta também um pouco de seu encontro com Jair Rodrigues e no interesse deste por suas composições, como colocado na transcrição acima.
	No programa é possível ver também o lado humano da personalidade de Gentil – namorador, mas também tímido e introspectivo. Quando este comenta que iria para o Rio de Janeiro ver uma menina que ele estava namorando os músicos que o acompanhavam dão aquela risada de canto de boca, cenas que transcendem descrições verbais e só é possível compreendê-las ao assistir o vídeo. O lado tímido e introspectivo é possível notar na sua forma de falar, na economia de suas palavras, numa certa seriedade. Essa característica mais fechada de Ederaldo salta ainda mais aos olhos quando colocado em contraste com a figura pitoresca, algo teatral e circense, de Riachão.
Nos anos de 1975 a 1977 a cantora Alcione gravou quatro músicas de Gentil. A primeira foi “Espera”, composição feita em parceria com Batatinha e gravada para o álbum A voz do samba de 1975. Em 1976 grava Agolonã, também em parceria com Batatinha para A morte de um poeta e A volta do Mundo para o álbum Alerta Geral. Em 77 Feira do Rolo em Pra que chorar. Entre outros temos o caso de Eliana Pittman gravando Aruê-Lá em seu álbum Show (1971) e o Conjunto Nosso Samba gravando O Ouro e a Madeira para o álbum De Onde o Samba Vem (1969). (Acervo Ederaldo Gentil 2017)
	Outros importantes intérpretes como Noite Ilustrada, Beth Carvalho e Roberto Ribeiro também cantaram as composições de Ederaldo Gentil assim como seus amigos e parceiros Batatinha, Nelson Rufino e Edil Pacheco. 
	O projeto Acervo Ederaldo Gentil, - uma das principais fontes desse trabalho - vem realizando um excelente trabalho de pesquisa e resgate de suas composições assim como a digitalização e upload de parte de sua obra que só se encontrava disponível em vinil. O canal também disponibiliza vídeos de artistas da nova geração interpretando a obra de Ederaldo no clássico formato voz e violão: a cantora Larissa Luz e Luisão Pereira, sobrinho de Ederaldo, são alguns dos vídeos disponíveis.
	Ederaldo Gentil não se limitou a ser o tipo de compositor que prefere ficar por trás das cortinas. Foi também na década de 70 que gravou três álbuns nos quais interpretava suas próprias composições. O primeiro, lançado em 1973, tratava-se de um compacto com duas faixas – O Ouro e a Madeira/Triste Samba. (Acervo Ederaldo Gentil) Em 75 lançou seu primeiro LP Samba, Canto livre de um Povo. Em 1976 lançou o álbum Pequenino. Todos os três álbuns citados no parágrafo anterior foram gravados pela Chantecler – gravadora brasileira que teve papel fundamental na gravação e distribuição da música sertaneja, regional e romântica, gêneros tradicionalmente menosprezados pelas grandes gravadoras internacionais e que eram comprados, em sua maioria, por consumidores de menor poder aquisitivo. (Vicente 2010:74-85)
No álbum Pequenino Ederaldo produziu um gesto pioneiro: algo não relacionado com sua produção musical mas de igual relevância para o entendimento de sua vida e obra. A capa deste álbum é aparentemente trivial, pouco inovadora: trata-se de um retrato fotográfico do cantor tirado do peito para cima. O detalhe muito sutil deste retrato: Ederaldo Gentil aparece com o corpo despido e exibindo as contas de suas divindades. Gesto de importância política no contexto da luta racial e da luta pela legitimidade e reconhecimento da identidade e religiosidade africana. Segundo o historiador Jaime Sodré (Sodré 2014), Ederaldo é o primeiro artista a aparecer na capa de um disco dessa forma
 	 Figura 2: Capa do LP Pequenino
	Passa uma temporada de três anos (1980-1983) residindo no Rio de Janeiro. Neste período continuou tendo suas composições interpretadas e gravadas por diversos nomes da música brasileira. Entre os mais mainstream estão Roberto Ribeiro (Passarela da Vida) e novamente Jair Rodrigues (Aruê-Pan). 
De volta à Salvador o compositor conseguiu - após de jejum de sete anos sem gravar discos - produzir o LP Identidade (1983) de maneira independente. Um pouco antes de gravar o disco, em uma rápida entrevista concedida à TV Aratu Gentil afirma que este jejum ocorreu devido a problemas de acordo com as gravadoras. "Eu tive contrato mas não aceitei ascondições que eles queriam que eu viesse fazer o disco... e eles também não aceitavam as minhas condições" (Gentil 1983)12 Não são mencionadas na entrevista o nome ou nomes das gravadoras em questão Este foi o último álbum gravado com músicas inéditas que estampava seu nome na capa.
Nos anos 80 e 90 Ederaldo passa a assumir uma postura mais crítica e dura com o mercado e assume para si certo protagonismo com os rumos do samba e da tradição do carnaval de Salvador. Embora não tenha sido um artista de alcance massivo nas rádios por todo o país Ederaldo era um artista soteropolitano procurado para dar entrevistas, citado em pequenas matérias de jornal – no "A Tarde", por exemplo – e já chegou até a escrever um texto neste mesmo periódico. O declínio do carnaval das escolas de samba de Salvador - que estava sendo gradualmente substituído pela tradição dos blocos e dos trios elétricos a partir da década de 70 - e essa dificuldade de acordo entre o compositor e o mercado fonográfico foram os fatores determinantes para que Ederaldo se recolhesse da vida artística em 1993, ano que passa a residir com sua irmã. Na década de 90 e 2000 algumas composições suas foram gravadas. Em 99 seu parceiro Edil Pacheco lança o CD "Pérolas Finas", em sua homenagem: um álbum em que diversos artistas interpretavam suas músicas, entre eles Luiz Melodia, Gilberto Gil e Beth Carvalho (Acervo Ederaldo Gentil 2017). Em 2010 o VIII Festival da Rádio Educadora presta homenagem a ele com um show com participação de Edil Pacheco, Nelson Rufino e outros parceiros de carreira, produzido por seu sobrinho Luisão Pereira. (Acervo Ederaldo Gentil 2017)
De qualquer forma Ederaldo preferiu manter-se recluso na casa da irmã e veio a falecer em maio de 2012, aos 68 anos, de infecção generalizada. (Acervo Ederaldo Gentil 2017) 
Buscando responder a questão que dá nome a este capítulo: quem foi Ederaldo Gentil? Ederaldo Gentil foi um ritmista, cantor e compositor soteropolitano de médio alcance que conseguiu viver de suas composições e de sua carreira artística, aplaudido em todo o Brasil por outros artistas, interpretado por grandes cantores e acima de tudo, uma lenda como compositor do carnaval de escolas de samba de Salvador. É preciso certo aprofundamento e análise, entretanto, para entender o que Ederaldo Gentil representou como artista mas também como ator social inserido no contexto baiano descrito no capítulo 2. Essa análise virá no subcapítulo seguinte.
3.1 A obra de Ederaldo – Poesia, questão racial e candomblé
Jaime Sodré faz uma análise da obra de Ederaldo Gentil e ressalta sua relevância dividindo esta em três dimensões: a primazia da poesia sobre o batuque, luta racial e o aspecto da relação de sua obra com o candomblé.
Ederaldo Gentil é em primeiro lugar alguém que inaugura uma nova concepção do samba baiano juntamente aos seus outros colegas, principalmente Batatinha, Rufino e Edil Pacheco. Sodré acredita que estes inauguram nova concepção do samba poético: o poema é parte integrante do samba e não apenas a batucada. “São sambistas daquela época que não faziam imitação do batuque do Rio de Janeiro: faziam uma produção de samba baiano em que era a poesia que governava (Sodré 2015)”. O historiador ressalta que o caráter poético das composições era presente mesmo em gêneros de samba aos quais comumente não eram muito empregados como os sambas-enredos. “Quando ele vai para o Carnaval o rigor ainda é poético! Não é refrãozinho fácil pra cantar no meio de rua não. O rigor é poético!”
Dito isto, debruçemo-nos por um instante em sua poesia.
Ederaldo Gentil - Luandê
[...]Iê, eu vim de Luanda aê
Eu vim de Luanda aê
Meu Luandá
Lá na Bahia
Todo branco
Tem um negro na família:
Jeje, banto ou nagô
Seu Doutor
Eu vim de Luanda pra namorar com sua filha
Negro amor, negro amor.[...]48
O texto acima é a letra de uma composição de Ederaldo Gentil chamada Luandê. 13 É preciso dizer que este compositor poderia muito bem ter sua obra analisada do ponto de vista de um “intérprete da Bahia”, alguém que no nível poético das letras de suas músicas interpreta a Bahia e - a baianidade - de forma muito particular e significativa. A letra da composição deixa clara duas ideias sobre essa baianidade. A primeira é a da mestiçagem; - “Lá na Bahia/Todo branco/Tem um negro na família” – o povo baiano é um povo misturado. E a segunda é a da consciência da busca de algum laço de origem do negro baiano com a África. Neste sentido o negro baiano é um negro que busca esse contato, que afirma “Eu vim de Luanda”.
O segundo aspecto da obra de Gentil apresentado pelo historiador Jaime Sodré é a forma aguda e corajosa com a qual Ederaldo em final dos anos 60, início dos anos 70 falava sobre a questão racial de frente, em um tempo em que o candomblé era inclusive perseguido (Sodré 2015). Luandê trata-se de uma música tocada em ritmo de ijexá, um ritmo tocado originalmente no contexto ritualístico de candomblé em homenagem a diversos orixás como Oxum, Ogum, Oxalá e Iemanjá. Diversos músicos à época estavam tocando e compondo música usando este ritmo fora do contexto religioso, Gilberto Gil era um deles. Ederaldo não usava este ritmo em vão: unido a este ritmo a poesia
clamava a origem banto de seu compositor: “Eu vim de Luanda”.
Antes de nos aprofundarmos na análise da abordagem de Ederaldo em relação a questão racial é preciso que entendamos o discurso da miscigenação e qual sua origem; a que este discurso se prestou a justificar. O discurso da miscigenação brasileira, do povo das três raças, é constantemente utilizado para pintar uma ideia homogênea e harmônica de construção de país e assim construir uma identidade brasileira também homogênea e harmônica. Índios, negros e brancos se misturaram neste país tropical e dessa rica mistura surgiu um povo ainda mais rico e diverso: o povo brasileiro. Discurso esse que emerge numa época de consolidação de Estados-nação para produzir uma identidade nacional brasileira e consequentemente, um Estado brasileiro. Essa narrativa, não deixando de ser parcialmente verdadeira, apresenta seus perigos entretanto: mascarar uma história de opressão e racismo, uma história de colonização e civilização de povos considerados pelo branco como selvagens. Trata-se de uma narrativa construída pelo branco.
Ederaldo Gentil então diz: “Todo branco/Tem um negro na família” logo depois de afirmar sua identidade e origem com Luanda. A narrativa da composição aqui é a narrativa negra, mais precisamente, a narrativa do povo banto, que veio de Luanda. É a aceitação do banto de que sim, houve miscigenação. Seus versos, porém, invertem a polaridade normalmente colocada e dizem não que o povo negro embranqueceu com a miscigenação mas de que foi o povo branco que escureceu.
	como se o compositor dissesse: “não me venham com racismo, aqui na Bahia todo branco tem um negro na família!”. Após este verso o compositor enumera os três povos negros. Não são quaisquer negros que estão na família do branco são “jeje, banto ou nagô”. Nos três próximos versos deste trecho Ederaldo ainda se refere ao branco (Seu Doutor) e ao apelo de conquista que tem o povo negro: “Seu Doutor/ Eu vim de Luanda pra namorar com sua filha/Negro amor”.
Por último o terceiro aspecto: Ederaldo é a expressão do sincretismo religioso baiano e resultado deste caldeirão cultural que era a Salvador a partir da segunda metade do século XX. Como já contado acima Ederaldo foi o primeiro artista a posar em uma capa de LP com as contas das suas divindades à mostra. Jaime Sodré considera que as letras de suas músicas mostram profundo conhecimento do candomblé. O Samba In-Lê-In-Lá dedicado à mãe menininha do Gantois é para o historiador um documento que certifica esse conhecimento de Gentil do candomblé e da língua iorubá. “Ele e Anísio(Félix) fazem uma verdadeira biografia. E ele, evidentemente junto com Anísio, pra dizer que sabe muito, ainda vai lá pega o iorubá e coloca na letra!” (Sodré 2015)
4. Conclusão
	Ederaldo Gentil é produto de seu tempo. Cresceu numa Salvadorculturalmente pulsante, numa Bahia recém-industrializada e em franca transformação. A tradição do samba de roda de Santo Amaro, do terno branco e das ruas que se espreguiçam sob o sol, ainda predominantes no começo do século XX, viriam a dar lugar a uma Bahia com sua paisagem transformada, a uma Salvador da agitação do frenético carnaval de trios elétricos e da axé music no fim desse mesmo século. Ederaldo se consolidou nessa transição, foi peça-chave de um carnaval que era também “espaço de contemplação”, (Memórias do Reinado de Momo 2017) 14 Espaço de contemplação uma vez que a preocupação da pessoa que estava de fora da escola era assistir ao desfile da escola, ao passo que hoje em dia as pessoas participam de forma ativa, como foliões, compondo os blocos e trios, modelo vigente hoje em dia na maior parte dos carnavais de rua. . 
	Ederaldo teve seu primeiro contato com a música através dos cantadores de cordel e nessa pulsante Salvador entrou em contato com o samba, com o afoxé, com a cultura do candomblé, com a capoeira; e de forma indireta, no fenômeno explicado por Risério como entrelaçamento da cultura boêmia com a cultura universitária, com os movimentos vanguardistas do Cinema Novo e Tropicália e com todas as outras discussões estéticas que permearam Salvador com a fundação da UFBA. Embora Ederaldo dissesse que não tinha grandes influências e que compunha de forma mais intuitiva, é de bom senso analisar que todas essas variáveis influenciaram este homem que, como dito na primeira frase deste capítulo, é produto de seu tempo. 
	A industrialização e a fundação da UFBA, entretanto, não foram capazes de mudar o cenário estrutural de desigualdade social e racial herdado pelo modelo escravista colonial. É nesse contexto que a obra e a vida de Ederaldo não podem ser divididas e analisadas em separado. Sua ação de posar com as contas de suas divindades à mostra na capa do álbum Pequenino era uma demanda por respeito a uma religião e prática cultural estigmatizada e muitas de suas músicas, como “Luandê”, acima analisada, são gritos de orgulho do povo negro. Identidade, música que dá nome a seu terceiro e último álbum, narra em sua letra as dificuldades de ser um trabalhador no país. “Mínimo salário é o meu ordenado/ Doze horas de trabalho, que felicidade! […] Com trinta de trabalho estou aposentado/e com mais de setenta eu penso em ser feliz.”(Acervo Ederaldo Gentil 2017) Ironias de uma sociedade profundamente desigual.
	Ederaldo integrou junto com os colegas Nelson Rufino, Walmir Lima, Edil Pacheco, Batatinha, Riachão, Panela e muitos outros artistas a geração que reconfigurou o samba urbano baiano, um samba influenciado por aquele consagrado no Rio de Janeiro.
	 Tenho convicção que uma comparação com o compositor e cantor Dorival Caymmi é apropriada uma vez que este é um dos mais importantes compositores do samba baiano, um dos pilares da música baiana no século XX. Não está em discussão aqui uma comparação entre qualidade e relevância estética desse último com o objeto desta pesquisa. Para melhor entendimento do que significa esse samba urbano e baiano a comparação é bastante elucidativa. Dorival Caymmi retrata e expressa a Bahia pré-industrial praieira enquanto Ederaldo retrata e expressa essa Bahia em transformação, urbana. Caymmi retrata o jangadeiro, o canoeiro, o pescador, os perigos do mar (Canções Praieiras 1954) enquanto Ederaldo retrata o proletário que bate ponto15 Caso da música Identidade (1984) ,as ladeiras de Salvador16 Em Ladeiras (1975) , sua experiência com a feira17 Em Feira do Rolo (1977) . Mesmo quando retrata a tradição, como em Dois de Fevereiro, samba-enredo falando sobre a comemoração ao dia de Iemanjá, o faz para a ocasião de desfile de carnaval, um carnaval inspirado na festa do Rio de Janeiro, um evento tipicamente urbano, portanto. Podemos traçar o paralelo de Caymmi com o arcadismo e seu elogio às paisagens naturais enquanto Ederaldo já está narrando os contrastes de uma sociedade urbana.
	Edil Pacheco chegou a dizer a uma entrevista para o jornal “A Tarde” quando da ocasião da vinda de jornalistas cariocas para cobrir o show O samba nasceu na Bahia (final da década de 70),que fez em parceria com Ederaldo que “o samba pode ter nascido na Bahia, mas o Rio de Janeiro cuidou e cuida melhor”. Gentil, junto com essa geração, não foi reconhecido devidamente por sua produção, em parte por essa certa negligência baiana em cuidar do seu samba, em parte por Salvador não ser mais uma cidade central para o país no que diz respeito ao aspecto político, econômico e cultural. Ederaldo Gentil nos ajuda a entender a Bahia, é peça essencial para quem quer entender mais profundamente o samba e, me arrisco a dizer, não deve nada a compositores de alto escalão deste gênero como Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa e Cartola.
	
Agradecimentos
Um trabalho nunca se faz sozinho, a inspiração e a ideia de um trabalho surge graças às pessoas com as quais convivemos, os livros que lemos, as notícias que buscamos ter.
Gostaria de agradecer primeiramente ao GRES Bule - agremiação de estudo e pesquisa do samba sediada no Bom Retiro e através da qual colaborei nos anos de 2014 e 2016 – e a todos os seus componentes e colaboradores. Quatro vezes por ano fazíamos homenagens a compositores do samba, buscando resgatar sua memória e manter acesa a chama da música genuína, constantemente enfraquecida por outras concepções do que seja a fruição musical do samba. Dentre estas homenagens foi feita uma homenagem a Ederaldo Gentil e através daquela experiência comecei a me aprofundar e me interessar mais por sua obra.
Agradeço também a todos aqueles que produziram os escassos materiais disponíveis de pesquisa sobre a vida e a obra de Ederaldo Gentil. Prof. Jaime Sodré, Lourival Augusto, Luiz Américo Lisboa Junior, Projeto Memórias do Reinado de Momo, o sobrinho de Ederaldo, Luisão Pereira e os jornalistas do Acervo Ederaldo Gentil. Feliz por saber da sincronia que estes últimos e eu estávamos, pesquisando e concluindo trabalhos sobre o sambista.
Agradeço a meu orientador Paulo Moura pela forma firme, crítica e rigorosa com a qual sempre avaliou meu trabalho e por sua disponibilidade para apreciá-lo.
À minha terapeuta Renata pelas orientações e pelo cuidado.
Por último agradeço àqueles que mais intimamente estão comigo: meu pai, minha mãe, minha irmã e meus amigos próximos. Se esse trabalho é feito com amor é porque amor recebo destes.
Dedico este trabalho aos familiares de Ederaldo Gentil, à sua memória e a toda a comunidade de sambistas. Espero estar fazendo uma contribuição importante para a divulgação e preservação de sua obra.
Referências bibliográficas:
	Acervo Ederaldo Gentil. Disponível em <www.ederaldogentil.com.br>. [Consulta em 28/08/2017]
	Américo Lisboa Junior, Luiz. [198-?]. Escolas de samba da Bahia. <http://www.academiadosamba.com.br/memoriasamba/artigos/artigo-211.htm>. [Consulta em 28/08/2017]
	Fundação Pierre Verger. [200-?]. Orixás: Verger e o Candomblé. <http://www.pierreverger.org/br/pierre-fatumbi-verger/sua-obra/pesquisas/orixas-verger-e-o-candomble.html>. [Consulta em 28/8/2017]
	Lemos, Davi. 2012. O samba da Bahia perde o mestre Ederaldo Gentil. <http://atarde.uol.com.br/cultura/noticias/1096563-o-samba-da-bahia-perde-o-mestre-ederaldo-gentil> [Consulta em 28/08/2017]
	Projeto Memórias do Reinado de Momo. Disponível em <http://memoriasdemomo.com.br/>. [Consulta em 28/08/2017]
	Risério, Antônio. 2000. Uma história da Cidade da Bahia. Salvador. Omar G.
	Vianna, Hermano.1995. O Mistério do Samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/Ed. UFRJ
Referências discográficas e audiovisuais
Entrevistas
	Gentil, Ederaldo. 1974. Entrevistador: Faro, Fernando: TV Cultura. Entrevista concedida ao programa MPB Especial Sambas da Bahia. https://www.youtube.com/watch?v=nKvhV4szoEU [Consulta em 27/09/2018]
	Gentil, Ederaldo. 1983. TV Aratu. Entrevista concedida à TV Aratu. https://www.youtube.com/watch?v=3bcDXgboUuA. [Consulta em 22/09/2018]
	Gentil, Ederaldo. 2005. Entrevistador:GUERRA, Guido: Ed. Academia de Letras das Bahia. Entrevista concedida ao livro de entrevistas "A Noite dos Coronéis".
	Rufino, Nelson. 2015. Entrevistador: Memórias do Reinado de Momo. Entrevista concedida para a realização do Projeto Memórias do Reinado de Momo. https://www.youtube.com/watch?v=_22H3m9dxgI. [Consulta em 22/09/2018]
	Sodré, Jaime. 2014. Entrevistador: Memórias do Reinado de Momo. Entrevista concedida para a realização do Projeto Memórias do Reinado de Momo. https://www.youtube.com/watch?v=82grJD5DT1U&t=158s. [Consulta em 22/09/2018]
Filmes
	Pierre Fatumbi Verger: Mensageiro entre dois mundos. 1998. Dir: Lula Buarque de Holanda. Conspiração Filmes. 82 min. Son. 
	Samba Riachão. 2001. Dir. Jorge Alfredo.DVD. Braskem e Truq Cine Tv Vídeo. 99 min. Son.

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