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PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 1 Psicopedagogia Clínica PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 2 Psicopedagogia Clínica Informações da aula: aula 1 Título da aula: Implicação e Intervenção na Psicopedagogia Clínica Na ordem do saber, para que as coisas se tornem o que faz o que são o que foram, é necessário esse ingrediente, o sal das palavras. É esse gosto das palavras que faz o saber profundo e fecundo. (BARTHES, 2010) A existência da psicopedagogia clínica como área de conhecimento e de saberes teóricos e práticos claramente identificáveis relacionados com outros ramos e outras especialidades da psicologia e da educação, mas ao mesmo tempo distintos dela, tem sua origem na convicção de que a educação e o ensino podem melhorar sensivelmente com a utilização adequada dos conhecimentos psicológicos. Buscamos compreender a relação da prática psicopedagógica com os saberes teóricos que fazem parte desta atuação psicopedagógica. A clínica psicopedagógica tem seu lugar na leitura dos fenômenos inconscientes e nas relações transferencial e contratransferencial, observadas na prática. A atuação do psicopedagogo tem como base de investigação o conceito de alteridade. “O pesquisador pretende ser aquele que recebe e acolhe o estranho. Abandona seu território, desloca-se em direção ao país do outro, para construir uma determinada escrita da alteridade e poder traduzi-la e transmiti-la”. (AMORIM: 2001, p. 123) A observação participante possibilita ao pesquisador obter as percepções das pessoas e expressões por intermédio de sentimentos, pensamentos e crenças. É importante, desse modo, que o pesquisador tenha domínio dos padrões linguísticos e PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 3 das variações da linguagem dos indivíduos observados, a fim de poder registrar com fidedignidade os elementos levantados e poder interagir com indivíduos. O psicopedagogo se coloca como “aprendente”/”ensinante”, procura investigar o outro numa postura sensível ao se colocar no lugar do outro, mantém a separação clínica para que o contratransferencial do terapeuta não venha prejudicar a prática psicopedagógica. Ele procura questionar o que conhece e o que não conhece, mantendo olhar e escuta sobre a singularidade do sujeito a ser investigado, com habilidade de implicação e distância na relação terapêutica. O educador não pode ser aquele indivíduo que fala horas a fio a seu aluno, mas aquele que estabelece uma relação e um diálogo íntimo com ele, bem como uma afetividade que busca mobilizar sua energia interna. É aquele que acredita que o aluno tem a capacidade de gerar ideias e colocá-las a serviço de sua vida. As bases da teoria têm como objetivo estabelecer uma rede de proteção/sustentação como saída da dependência teórica para autoria do pensamento num espaço dinâmico de construção de autoria, estabelecendo a articulação entre inteligência/subjetividade, objetividade/desejo num espaço transicional de jogar e criar. O psicopedagogo tem como atuação o diagnóstico e a intervenção institucional e clínica em fase de pesquisa e ação utilizando-se de instrumentos de análises que favoreçam a identificação dos modelos e modalidades de aprendizagem na busca de significado e sintomas encontrados na família, na escola e no sujeito. O lugar da técnica psicopedagógica não pode ser de prisão, submissão e dependência, no qual o poder e o domínio se estabelecem dificultando o espaço de pensar, criar, inventar recursos para que o cliente possa viver uma situação única. É um lugar de intervir promovendo novas versões, caminhos junto ao cliente. Fernández (2008) afirma que o diagnóstico para o terapeuta deve ter a mesma função que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário. É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo, recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos. O ensinante abre mão do poder e saber antecipado, no compromisso de “perder algo”, para que possa ganhar e recomeçar, estabelecendo assim uma confiança em si e no PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 4 outro, com alegria e prazer, numa relação de crer e querer na sua prática. Assim, o aprendente deseja, reconstrói e recorre ao saber, dando sentido ao aprendido no desejo de criar e reinventar seu aprendizado. A partir do seu desejo de ressignificar fantasias do aprender e restaurar o vínculo com o objeto do conhecimento reconstrói sua autoimagem, reconhece-se pensante/autor, aprende a tolerar frustração e repara o vínculo com o ensinante. A especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a ser alcançado: a eliminação do sintoma, diferentemente do que ocorre no tratamento psicanalítico. Assim, a relação psicopedagogo-paciente é mediada por atividades bem definidas, cujo objetivo é solucionar rapidamente os efeitos mais nocivos do sintoma para logo depois dedicar-se a afiançar os recursos cognitivos. (PAÍN: 2004, p. 77) Visca (1987) nos apresenta a seguinte citação: “Os pais, invariavelmente ainda que com intensidades diferentes, durante a anamnese tentam impor sua opinião, sua ótica, consciente ou inconscientemente. Isto impede que o agente corretor se aproxime ‘ ingenuamente’ do paciente para vê-lo tal como ele é, para descobri-lo”. Com isso, é importante que o psicopedagogo fique atento às demandas presentes em todo diagnóstico psicopedagógico. Ao se implicar com o cliente, o psicopedagogo precisa ficar atento às demandas existentes nas redes de relações do cliente, mantendo-se em constante dinamismo para que possa levar o cliente a aprender, reconstruir e ressignificar estas redes. Com isso, restabelece no cliente um verdadeiro “encontro” com o processo de aprendizagem. Informações da aula: aula 2 Título da aula: Winnicott na Psicopedagogia Clínica “Onde o brincar não é possível, o trabalho efetuado pelo terapeuta é dirigido então no sentido de trazer o paciente de um estado em que não é capaz de brincar para um estado em que o é”. (WINNICOTT, 2008) PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 5 Donald Woods Winnicott nasceu em Plymonth, Inglaterra (1896-1971). Pediatra e pensador Inglês, renovou o legado de Freud e elaborou conceitos durante uma experiência de 40 anos na clínica com crianças e adolescentes, desenvolvendo na consulta terapêutica o jogo dos rabiscos. Fez estudo pormenorizado da relação mãe- filho e das influências da família e do ambiente, postulando a interação de processos inatos de maturação com a presença de um ambiente (facilitador), desde uma fase de dependência absoluta até a independência. Desenvolveu as teorias do objeto, espaço e self com base no desenvolvimento da criança. Postula a existência de um objeto subjetivo (inicial) interno e de um objeto objetivo (posterior) externo como também de objetos transicionais, caracterizado pela importância do brincar, formulando assim o conceito de fenômenos transicionais em psicanálise. Na teoria do espaço, formula a existência de um espaço potencial, de uma zona intermediária entre a realidade interna e a realidade externa, entre a mãe e o bebê, em que se realizam o jogo e o brincar, origem de todas as atividades sócio- criativo-culturais. No self, encontramos a polarização entre um verdadeiro self espontâneo e criativo, fonte de alegria e dasaúde mental, em oposição ao self artificialmente constituído por submissão e excessiva adaptação ao meio. Considera o desenvolvimento herança de um processo de maturação, da acumulação de experiências de vida; esse desenvolvimento só podendo ocorrer num ambiente propiciador. O processo do desenvolvimento pode ser descrito em termos de dependência absoluta, dependência relativa e caminhar rumo à independência. Winnicott, através das suas observações na prática clínica, começa a observar a relação entre a mãe e o bebê, e a partir daí conceitua esta relação como importante para o desenvolvimento da criança, mostrando que a função materna tem como referência os seguintes conceitos: Holding (tem relação com a capacidade da mãe de se identificar com o seu bebê. O Holding deficiente produz extrema aflição com sensação despedaçamento, sensação de estar num poço sem fundos); Manipulação (cujo conceito estaria vinculado ao toque no corpo do bebê, facilitando assim a formação de uma parceria psicossomática na criança. Isso contribui para a formação do sentido do “real”, por oposição ao “irreal”. A manipulação deficiente trabalha contra PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 6 o desenvolvimento do tônus muscular); e Apresentação de Objetos (Winnicott nos apresenta ao conceito de objeto transicional utilizado na prática clínica infantil como modelo de catarse de emoções representadas e vividas pela criança. É na apresentação de objetos que se evidencia a relação vivida entre mãe e bebê. A criança aprende a tolerar a angústia de separação e ausência materna. Apresentação de objetos favorece os objetos se tornarem reais, construindo assim o impulso criativo. O conceito de objeto transicional tornar-se base para reconhecimento do sujeito no processo psicoafetivo). Segundo Winnicott (2008), fantasia faz parte da criança, que pode ser definido como uma elaboração imaginativa das funções físicas. A fantasia logo se torna infinitamente complexa, mas é possível que de início seja restrita em termos de quantidade. A observação direta não possibilita ter acesso às fantasias de uma criança pequena, mas todo tipo de brincadeira indica a existência de fantasia. A fantasia evolui consideravelmente no decorrer do primeiro ano de vida. É importante reafirmar que, embora isso ocorra como manifestação da tendência natural ao desenvolvimento, a evolução vai depender da relação que for estabelecida na apresentação de objetos que possam favorecer a fantasia da criança. A relação que a criança desenvolve com os objetos se caracteriza inicialmente de forma parcial, como no caso do bebê, que se relaciona com o seio da mãe havendo consciência da figura dela, embora o bebê possa “conhecer” a mãe em momentos de contato afetuoso. É gradual a integração da personalidade da criança que faz com que o objeto parcial (seio, etc.) possa ser entendido como pertencente a uma pessoa inteira. Posteriormente, teremos a ampliação desse objeto através da utilização dos brinquedos como objeto transicional. É na interação com esses objetos que a criança vai compreendendo a relação “presença e ausência” da mãe, estimulando a fantasia e construindo assim mecanismos para superar a transição das idades. É no brincar que a criança constrói mecanismos de frustrações e desenvolve a espontaneidade, condição importante para sua personalidade. É importante ressaltar a utilização dos brinquedos na educação infantil como espaço transicional facilitador para construção do desenvolvimento emocional e maturacional da criança. O educador tem obrigação de entender e respeitar esse momento do desenvolvimento da criança para que ela possa se constituir um adulto PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 7 saudável emocionalmente. A educação infantil se responsabiliza pela construção do processo cognitivo saudável, à medida que ela favorece apresentação de objetos para o conhecimento da criança. Assim, através dos seus esquemas cognitivos, a criança pode assimilar e acomodar estes objetos, adaptando-os ao real. A ausência e o empobrecimento de apresentação destes objetos favorecem a formação de indivíduo cognitivamente e emocionalmente limitado no seu desenvolvimento. O psicopedagogo se utiliza de objetos transicionais para resgatar, recriar e reconstruir as etapas do desenvolvimento. As demandas psicopedagógicas surgem pela apresentação dos sintomas desencadeados pela criança e evidenciados na escola. Podemos observar que estes sintomas se apresentam por uma falha na apresentação e objetos transicionais no desenvolvimento. Segundo Winnicott, o terapeuta atua na apresentação de objetos num espaço sustentador de ego para construção das relações psicoafetivas. Reconstruindo o desenvolvimento emocional, estaremos resgatando o universo cognitivo da criança, para que ela possa se transformar em autora no processo de aprendizagem. Os esquemas iniciais da criança se encontram em condição facilitadora para assimilar e acomodar ao real, o que favorece a construção dos aspectos cognitivos que envolvem a aprendizagem. Informações da aula: aula 3 Título da aula: As modalidades da Aprendizagem na Prática Psicopedagógica “O sujeito que não aprende não realiza nenhuma das funções sociais da educação, acusando, sem dúvida, o fracasso dela, mas sucumbindo a esse fracasso”. (PAÍN, 2004) As modalidades de aprendizagem surgem quando ocorre o predomínio de um processo sobre o outro em decorrência da inibição precoce de atividades assimilativo acomodativas. Segundo Alicia Fernández (2008), no momento do diagnóstico, pretendemos fazer um corte que nos permita observar a dinâmica da modalidade de aprendizagem. Descrever a modalidade de aprendizagem envolve a imagem de si próprio como aprendente, a forma como agem as figuras ensinantes pai e mãe, o PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 8 vínculo com o objeto de conhecimento, a história das aprendizagens (principalmente algumas cenas que fazem a novela pessoal do aprendente), a maneira de jogar e a modalidade de aprendizagem familiar nos diz que este sujeito tem tanto medo de errar quanto de acertar, porque o erro mostra o quanto é incapaz e o acerto o coloca em lugar de evidência e destaque, o que leva o sujeito a uma situação conflituosa e pouco confortável. Alicia Fernández (2008) nos apresenta três grandes grupos de modalidades de aprendizagem que dificultam e perturbam o aprender: hipoassimilação, hiperassimilação, hiperacomodação e hipoacomodação. Nestas modalidades, identificamos a maneira com que o indivíduo lida com a sua aprendizagem ou seu molde relacional. No processo de aprendizagem, verificamos as seguintes características do educando: Hipoassimilação – Pobreza de contato com objeto, o desenvolvimento dos esquemas encontra-se empobrecidos, déficit lúdico e pouca criatividade. Hiperacomodação – Pobreza de contato com a subjetividade. Predomínio do processo de aprendizagem por imitação, falta de iniciativa, tendência à obediência. Superestimulação da imitação – Quando a criança não tem a oportunidade de tomar decisões, de trabalhar a sua autonomia, tornando-se um sujeito sem iniciativa, pouco criativo e muito obediente. Encontraremos problemas de aprendizagem em português, matemática, geografia etc. O aluno emite as seguintes frases: “não posso”, “repete”. Caracteriza-se por possuir uma rigidez no pensar, dificultando a aprendizagem. O objeto a conhecer se encontra em proporções maiores do que o sujeito autor, o que gera insegurança para quem está aprendendo. Hiperassimilativo –O predomínio da subjetivação, da desrealização do pensamento. Internalização prematura dos esquemas com um predomínio do lúdico. “Não sei” como resposta às questões colocadas pelo professor. Hipoacomodativo – Pobreza de contato com o objeto. Falta de estimulação por parte da família e da educação infantil. Existe um abandono em respeitar o ritmo do desenvolvimento da criança no seu aprendizado, não se estimula a necessidade da criança de repetir as experiências sobre o objeto. Temos então as seguintes falas do aluno: “Não sei” e “O outro é quem sabe”. Assim se caracteriza o conceito de oligotimia, em que o “outro” domina o saber que o sujeito acredita não deter. PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 9 Hipoassimilação/hipoassimilação – Encontramos a seguinte frase: “Não me interessa”, faz parte desta forma de aprendizagem. Encontraremos nessa modalidade de aprendizagem as características relatadas da hipoacomodação e hipoassimilação, que significa uma ausência total de vínculo com o objeto do conhecimento, o aluno não possui nenhuma forma de desejo que chame atenção para o aprendizado. O saber se apresenta totalmente distante de uma realidade vivida por ele. Encontraremos esta modalidade em muitos adolescentes com dificuldades de aprendizagem. “Identificar a modalidade de aprendizagem do sujeito é importante, para que o professor possa rever sua metodologia, tentando adequá-la às dificuldades do aluno, com o propósito de (re)significar sua aprendizagem”. (SAMPAIO, 2013, p. 57) Informações da aula: aula 4 Título da aula: A Família na Psicopedagogia Clínica “O dito, ainda que tente cobrir o não dito, é tecido de forma a deixar transparecer o não dito”. (ASSUMPÇÃO, 2003) Encontramos no atendimento psicopedagógico a possibilidade de ressignificar a comunicação interpessoal vivida na família, como revelar e desvelar o não dito através do dito, melhorando assim comunicação do cliente consigo próprio, com a família e com a escola. Estabelecem-se as bases para mudança na sua conduta. O duplo vínculo designa o distúrbio na comunicação entre duas pessoas na experiência familiar. A ausência de clarificação das mensagens e a desqualificação das mensagens provocam ansiedade e dificuldade no relacionamento. Ao entendermos as bases históricas da teoria do duplo vínculo, iremos compreender a origem do desenvolvimento da terapia familiar. John Weakland e Carl Whitakes apresentam a conferência “Beyound Double Bind”. Desenvolvia-se até então uma teoria da esquizofrenia a nível individual, duplo vínculo insere o paciente no contexto familiar. As mudanças de princípios estáticos em dinâmicos exigiam uma revisão das teorias psiquiátricas. Gregory Bateson, Lou Jackson, Jay Haley e John Weakland, em 1956, escreveram “Toward a Contribuition to Schizofrenia”. A psiquiatria moderna estabelece a necessidade de ver o indivíduo no contexto familiar, PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 10 conceituar os fatos interpessoais e psicoterapêuticos, considerando o indivíduo dentro da estrutura de uma situação social e desenvolver uma teoria que situe os grandes sistemas sociais e os fatos de natureza individual. Uma teoria unitária da comunicação. Na esfera social, a aquisição da informação acerca das relações se estabelece através da contínua e consistente exposição a fatores sociais, tais como a experiência do filho com a mãe, do indivíduo com outros membros da família e do indivíduo com seus pares na escola. O modelo metodológico do duplo vínculo se apresenta da seguinte maneira em relações as mensagens desqualificadoras: autodesqualificação; transações verbais (fuga, evasão, literalização e desqualificação do outro); respostas ou mensagens (retirada e aceitação). Observamos nas relações de comunicação familiar um tipo de mensagem que desqualifica a criança, desfavorecendo assim a construção da autoria no processo de aprendizagem. A família emite a mensagens desqualificadoras, tais como “Como você é tão burro!” ou quando, numa situação hipotética em que a mãe entra na sala e vê seu filho pequeno pendurado na janela, depois de ter falado muitas vezes para ele não subir na janela, assustada e com medo que seu filho caia, ela corre, puxa a criança para dentro e lhe diz bem alto: “Eu já te falei para não subir aí? Você não consegue aprender”. Nestas mensagens emitidas pela mãe ou por algum membro da família, encontramos a manutenção da desqualificação vivida nas relações familiares, que geram dificuldade na construção da identidade do sujeito e na construção da sua subjetividade na medida em que o sujeito depende emocionalmente desta relação para que possa se desenvolver emocionalmente e construir sua autoria na aprendizagem. Weiss (2004) afirma que a ansiedade sempre existe em uma situação diagnóstica, tanto por parte do profissional, que está em busca do desconhecido, quanto por parte do paciente e sua família, em função do desconhecimento da situação e pelo medo de vir a revelar aspectos pessoais ou da vida familiar que em alguns casos já são conhecidos e em outros são desconhecidos deles próprios. O sintoma do não aprender fala algo do sujeito e de sua história. O papel do psicopedagogo é desvelar o sintoma para que o sujeito possa se libertar para a busca do desejo de aprender. O desejo de apreender do sujeito não está revelado, encontra- PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 11 se prisioneiro no desejo da família. O papel do psicopedagogo é desvelar esse desejo através das intervenções vividas no setting terapêutico, assim o não dito se encontra desvelado pelo dito. A família se encontra em um emaranhado, no qual as crianças têm suas habilidades cognitivoafetivas inibidas, constituindo um nó simbólico no qual o terapeuta, juntamente com a família, busca encontrar uma ponta do fio para desvelar os sintomas, visando desvelar a comunicação que os gera e, com isso, favorecendo a circulação do aprender. Rubstein (2003) explica que crianças que se apresentam com dificuldades traumáticas e experienciando conflitos vividos pela família estarão com uma menor disponibilidade para enfrentar os desafios e as descobertas que estão implicadas no processo de construção do conhecimento. O universo da aprendizagem está inserido no contexto familiar. A relação entre o desejo do aprendente surge por intermédio da falta e do olhar de um outro que também deseja que o sujeito possa se constituir. O entendimento do terapeuta da dinâmica da família se torna extremamente importante através da compreensão do molde relacional da aprendizagem em que ele situa a formação do desejo de aprendizagem do aprendente. O entendimento através da escuta terapêutica das mensagens emitidas pela família revela as desqualificações percebidas pelo aprendente, mas não revelada pelo mesmo. O terapeuta tem como intervenção desvelar junto com o cliente essas mensagens para que ele possa ressignificar seu aprendizado perante a família e a ele próprio. Bakhtin (2000) nos apresenta a metalinguística como forma de entender o discurso do outro: “Chamo sentido o que é resposta a uma pergunta. O que não responde a nenhuma pergunta carece de sentido. O sentido é potencialmente infinito, mas só se atualiza no contato com outro sentido, o sentido do outro”. Assim, ele nos mostra as formas de alteridade vividas representadas no sentido do outro e as possibilidades de o sujeito revelar e desvelar as relações do Entre-Dois. PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 12 Informações da aula: aula 5 Título da aula: Diagnóstico Psicopedagógico: Modelos Visca e Weiss.“ ... justamente, eu acho que aprendizagem, para uma pessoa, abre o caminho da vida, do mundo, das possibilidades até ser feliz”. (VISCA, 2008) O diagnóstico em psicopedagogia tem como base a investigação, os desvios e as dificuldades da aprendizagem do cliente, da família e da escola. Segundo Ana Bossa, na Epistemologia Convergente, todo o processo do diagnóstico é estruturado para que possa observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o afetivo, de onde resulta o funcionamento do sujeito. Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico por meio de intervenções e da “escuta psicopedagógica”, para que “se possam decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção”. (BOSSA, 2000, p. 24) No diagnóstico, verificamos os vínculos de transferência na relação entre cliente e psicopedagogo, e fazemos o registro de diagnóstico como facilitador dos dados e eixo condutor para o tratamento. O diagnóstico psicopedagógico de Jorge Visca tem como construção sistemática as seguintes etapas: a) Entrevista contratual: significa o primeiro contato entre o cliente e o psicopedagogo; b) EOCA (Entrevista Operacional Centrada na Aprendizagem): a partir desse encontro, podemos estabelecer a modalidade de aprendizagem do sujeito e seu funcionamento cognitivo; c) Provas operatórias: se caracterizam pela investigação dos aspectos cognitivos do sujeito segundo o modelo piagetiano. Verificamos a estrutura cognitiva do sujeito, seus aspectos de conservação de objetos e o nível operatório em que se encontra; d) Técnicas projetivas: se apresentam através das pautas gráficas. No modelo Jorge Visca, investigamos os vínculos estabelecidos pelo sujeito em relação a sua aprendizagem, o grau de identificação do sujeito com o ensinante e como ele lida com aprendizagem na posição de aprendente; PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 13 e) Outros testes: investigam e complementam as etapas anteriores com atividades específicas sobre a dificuldade de aprendizagem apresentada pelo sujeito; f) Anamnese: história do nascimento e do desenvolvimento do sujeito e aspectos escolares que passaram por sua história; g) Devolução e retorno para os pais das etapas vivenciadas pelo cliente e o psicopedagogo ao longo do diagnóstico psicopedagógico; h) Informe psicopedagógico da construção do diagnóstico de forma escrita com etapas que foram observadas pelo psicopedagogo e que precisam ser trabalhadas, bem como encaminhamento, quando necessário, para outros profissionais. Encontramos no diagnóstico psicopedagógico uma possibilidade de levantamento de hipóteses através da pesquisa ação. O primeiro eixo condutor se denomina “a-histórico” e é apresentado através da queixa: os sintomas “dizem algo sobre o sujeito”, têm assim a visão do presente “aqui”, “agora” e “comigo”. Encontraremos na EOCA, em provas operatórias e entrevista da equipe da escola e no material escolar. O segundo eixo condutor denominamos “histórico”: tem como referência entender o sujeito em sua construção e visão do passado através da anamnese com a família, análise de laudos, relatórios escolares e álbuns fotográficos. Encontramos nessa fase um recorte de diferentes “histórias” que se integram na grande história do paciente. O diagnóstico psicopedagógico nos leva a conhecer verdadeiramente como o sujeito aprende, no sentido de aceitar este sujeito e fazer com que ele aprenda de verdade, buscando a sua verdadeira vocação para a aprendizagem como um sujeito autor da sua aprendizagem. Informações da aula: aula 6 Título da aula: A técnica do Desenho na Psicopedagogia Clínica “Apreciar o desenho da criança é perceber a dimensão do “belo” em toda a sua plenitude, que não se restringe ao visual da obra, mas ao encanto geral que ela emana”. (SANS, 2007) PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 14 “A expressão gráfica é uma manifestação da totalidade cognitiva e afetiva. Quanto mais a criança confia em si e no meio, mais ela se arrisca a criar e a se envolver com o que faz”. No final do século XIX, começou o interesse pelo desenho infantil, período em que as crianças começaram a ter acesso ao papel e ao lápis. Anteriormente, as crianças desenhavam no chão e nas paredes usando gravetos ou pedaços de carvão. Rizzi publica em 1887 “A arte das crianças pequenas”. O livro sistematizou os estudos sobre o desenho infantil e despertou o interesse pelo assunto. “O nível de desenvolvimento intelectual em que a criança se encontra é expresso em seus desenhos, mostrando o seu estágio emocional e perceptivo”. (SANS, 2007) Garatujas desordenadas – aproximadamente de 1 a 2 anos. A criança começa fazendo riscos descontrolados apenas pelo prazer de manusear o lápis e o papel. É importante que os pais e os professores valorizem esses riscos para não afetar o desenvolvimento da escrita no futuro. Fases da evolução do desenho: Primeira fase – Quando a criança percebe a relação gesto-traço, ou seja, quando percebe que o risco é uma resultante do seu movimento com o lápis. Há a fase da garatuja desordenada e a fase da garatuja ordenada. Garatujas desordenadas ocorrem quando do primeiro contato da criança com o lápis e o papel, situação em que a criança faz o desenho pelo prazer do movimento. Aparece com o traço livre, pois não há controle dos movimentos. Variam as formas de segurar o lápis. A criança não faz relação do olho com a mão, não havendo representação do desenho. A segunda fase – Quando a criança pode representar intencionalmente um objeto graficamente. Garatuja nomeada (a partir dos três anos): faz passagem do pensamento motor ao imagético frente ao desenho, ou seja, representa intencionalmente um objeto concreto através de uma imagem gráfica. Descreve verbalmente o que fez e começa a anunciar o que vai fazer. Relaciona o que desenha ao que viu ou vê, sendo que o significado do seu desenho é quase sempre só inteligível para ela mesma; Garatuja ordenada circular – perto dos três anos, começa a fechar as figuras através de formas circulares ou espiraladas. Segura o lápis como um adulto. Copia intencionalmente um círculo, mas não um quadrado. Descobre, mas não inventa PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 15 relações entre o que desenhou e a realidade. Com argila, começa a fazer bolas e “salsichas”. A fase pré-esquemática (dos quatro aos seis anos) – A consciência da analogia entre a forma desejada e o objeto representado se afirma. A relação em nível gráfico significante-significado se constrói definitivamente. Vemos aqui como a representação gráfica é muito mais tardia do que a lúdica e a verbal. Pré-esquema (1º fase) – Confundido com a garatuja circular. A ocupação do espaço não obedece nenhuma regra. A cor ainda é arbitrária (uma só cor). A criança desenha o que sabe do objeto, mas não o que vê, e os desenhos lembram formas geométricas. Pré-esquema (2º fase) – Preocupação com a ocupação do espaço, ainda sem linha de base. A cor é arbitraria (preocupação com a diversidade), e a forma mais estruturada. A criança procura símbolos que representem o ambiente. Pré-esquema (3º fase) – Nela, a criança começa a estruturar seu desenho com a linguagem (bonecos, flores, girinos, sol etc.). Encontra-se no período pré-operatório (4 a 6/7 anos). Os símbolos estão relacionados com a criança, que é o centro do universo. Há a preocupação com a linha de base, em organizar as formas no espaço e com a linha de base nos desenhos. Usa o limite da folha como limite de base, o que indica que a criança percebeu as relaçõesentre ela e o meio. Há a representação do espaço e tempo e episódios diferentes são representados por imagem. A criança chega ao início do realismo quando ultrapassa a frustração do enfrentamento com o real. A forma e o fundo são conquistados, havendo um apuramento da decoração com riquezas de detalhes. Aparecem embrionariamente perspectivas no desenho. Acentua- se a necessidade do trabalho em grupo e da diversificação de técnicas. PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 16 Informações da aula: aula 7 Título da aula: A Utilização dos Jogos na Psicopedagogia Clínica “Toda ação vem a ser uma busca de um objeto significativo a partir da consciência de sua falta”. (OLIVEIRA, 1994) O brincar é fundamental para a formação da criança. A criança quando brinca é como se sonhasse: modifica a realidade ou repete os fatos dolorosos a fim de poder libertar-se de tensões ou pressões demasiado intensas, na conceptualização do brincar na leitura psicanalítica e neoanalítica. Em Freud, encontraremos na fase inicial do bebê que antecede a linguagem o jogo do “fort-da” (presença e ausência). A criança começa a se descobrir como sujeito de interação com outro sujeito. Na brincadeira da presença e ausência, veremos uma forma de linguagem e busca de contato com o outro. Winnicott nos mostra a importância dos “objetos transicionais” ocorrendo os “fenômenos transicionais”. Designa o brincar como objetos que não fazem parte do corpo do bebê, e ainda não são reconhecidos como externos a si. Melaine Klein (1921) estabelece o processo de catarse que se mobiliza com o jogo na interpretação dos problemas infantis. Anna Freud (1920) adota uma atitude mais pedagógica do que estritamente analítica. A tendência atual parece ser abusar menos da interpretação e assinalar maior importância a uma atitude pedagógica educacional do tratamento. Piaget (1954) nos mostra que a primeira forma de consciência é consciência elementar, ou seja, corporal. O bebê vivencia fisicamente a falta de algo, vai atrás e, de certa forma, se transforma, se acomoda para poder assimilar este objeto significativo. A inteligência é fundamentalmente sensorial – o bebê capta todas as informações que recebe através dos órgãos dos sentidos e motores, exprime-se através de movimentos. É uma inteligência prática, em que não há linguagem nem a capacidade de representar mentalmente os objetos. É graças à observação e à exploração do mundo que a rodeia que a criança constrói as estruturas cognitivas imprescindíveis ao desenvolvimento das estruturas lógicas que aparecerão mais tarde. Existe um movimento que leva o sujeito em busca do objeto, que vai de dentro para fora, eferente, e que exige esforço de transformação, de acomodação ativa. Uma vez acomodado, o sujeito o traz para si, num movimento inverso e recíproco ao primeiro, PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 17 de fora para dentro. O brincar para Piaget existe justamente quando há um predomínio da assimilação sobre o esforço e a tensão da acomodação. No início da vida, o bebê está aprendendo a lidar com seu próprio corpo. Na brincadeira de exercício, a criança exercita seus esquemas sensoriomotores e os coordena cada vez melhor. Temos assim no período sensoriomotor algumas fases do desenvolvimento da criança em relação ao brincar: Fases I e II - No final do primeiro mês e, com certeza, no segundo e no terceiro meses, com o predomínio da assimilação, o brincar se caracteriza por ser repetitivo e funcional com partes do corpo. Ex.: o brincar com partes do corpo; Fase III – Observamos relativa intencionalidade na ação. A criança repete algo descoberto por acaso, já se descentralizando ligeiramente, incluindo a interação com um objeto fora do corpo. Ex.: balançar um móbile; Fase IV – Oito meses. Seu universo cresce incrivelmente em abertura, organização e noção de permanência de objeto (objetos existem mesmo fora do seu alcance). Existe uma forma pré-simbólica de se comunicar; Fase V – 12 a 18 meses. O novo a atrai muito e faz com que ela vá até mais perto do objeto, o examine mais, o imite, o sinta mais através de novas formas de interação e combinação que vai criando e que dão a ela condições de descobrir novas propriedades dos objetos. À medida que a criança se abre ao meio e o explora com agilidade cada vez maior, mais forma uma ideia de si própria como um todo, separada do meio e em constante relação a ele. O processo de estruturação mental deve ser sempre visto em seus aspectos lógico, biológico e histórico, através dos quais o sujeito vai se organizando e tomando consciência de si como agente do próprio processo de desenvolvimento em relação ao objeto do conhecimento. Na brincadeira simbólica, dos 2 aos 4 anos, a criança aprende ao brincar, vivenciar e diferenciar a realidade da fantasia, o eu do outro. Ao fazer de conta que uma vareta é um carrinho, e movimentá-la pelo chão imitando o barulho do motor, a criança está consciente de que está imitando um carrinho, mas pode estar representando também uma fantasia inconsciente. No período pré-operatório, a linguagem é uma das mais importantes manifestações da função simbólica: as palavras e as frases representam pessoas, situações, objetos, ações. No jogo simbólico, no fazer de conta, a criança imita, PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 18 representa um conjunto de comportamentos e de ações: finge que dorme, que lê o jornal etc. Os objetos passam a representar o que a criança deseja: um garfo pode ser um telefone ou um avião. A imagem mental (representação mental de objeto) ou a sua designação – pré-operatório – o fato de a criança já pensar, mas ainda não ser capaz de fazer operações mentais. À medida que manifestamos, quer através de palavras e/ou dramatizações, o que vivemos, aumentam nossas possibilidades de enxergar o que acontece conosco, e de realmente assimilar o vivido. A brincadeira simbólica apresenta o pensamento mágico pré-conceitual dessa idade. A criança dá vida aos objetos, atribui-lhes sensações e emoções (conversa com eles). É uma brincadeira predominante solitária, na qual ela vive os diferentes papéis. Quanto mais se aproxima dos quatros anos, mais complexas ficam as dramatizações. Pouco a pouca ensaia um simbolismo coletivo. A brincadeira simbólica após os quatro anos adquire características progressivamente sociais e introduz lentamente a brincadeira de regras, onde o combinado deve ser respeitado. A criança evolui para grandes cenas com enredos muito mais complexos e dramáticos, com classificação, simbolismo coletivo e aproximação da realidade objetiva. Dos quatro aos seis anos, as regras aparecem em jogo de movimento, criado pela criança ou transmitido social ou culturalmente. Saber ouvir o outro requer saber se colocar no lugar do outro. A criança aprende a perder no jogo. Para se conviver com o outro é necessário aceitá-lo separado de si e com vida própria. Nas operações concretas, o pensamento é lógico, desenvolvendo conceitos e sendo capaz de realizar operações mentais. Só é capaz de operar, de resolver problemas concretamente, se estiver na presença dos objetos, das situações. Desenvolve-se as noções de matérias sólida e líquida e, mais tarde, peso e volume. Desenvolve-se os conceitos de espaço, tempo, número e lógica. Dos dez anos em diante, é difícil prever o que uma criança vai gostar de fazer: a individualidade é um fato. Podemos sugerir a vida esportiva para iniciar a criança. Após os 12 anos, os interesses dos jovens começam a mesclar-se com os dos adultos. Pode-se observaristo claramente no êxito crescente dos jogos eletrônicos e videogames mais complexos considerados para toda a família. Os jovens também demonstram interesse por jogos de tabuleiros e de aventuras, particularmente aqueles do tema ‘negócios’. Os colecionadores de bonecos, carros em escala, trens, miniaturas PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 19 e animais de pelúcia começam geralmente a ter esses interesses durante a adolescência. Este estágio caracteriza-se pelo aparecimento de um novo tipo de pensamento: um pensamento abstrato, lógico e formal. Coloca mentalmente as hipóteses deduzindo as consequências: raciocínio hipotético-dedutivo. Pensa abstratamente, formula e verifica hipóteses. Esta capacidade abre caminho à reflexão filosófica e científica. Surge um novo tipo de egocentrismo: o egocentrismo intelectual, que leva o adolescente a considerar que através do seu pensamento pode resolver todos os problemas e que as suas ideias e convicções são as melhores. É importante conhecer as bases do desenvolvimento do brinquedo na prática psicopedagógica para que o psicopedagogo possa utilizar e articular esses saberes no diagnóstico e no tratamento do cliente na certeza da reconstrução dos aspectos motor, cognitivo e emocional. Informações da aula: aula 8 Título da aula: Pautas Gráficas – Modelo Jorge Visca “O pensamento fala por meio do desenho onde se diz mal ou não se diz nada, o que oferece a oportunidade de saber como o sujeito ignora”. (PAÍN, 1992) A técnica projetiva de Jorge Visca denominada Pautas Gráficas tem como objetivo investigar os vínculos que o sujeito pode estabelecer em relação à aprendizagem em três grandes domínios: escolar, familiar e consigo próprio. A maneira de o sujeito perceber, interpretar e estruturar o material ou a situação reflete os aspectos fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a apreensão do conhecimento, como procurar evitar, distorcer, omitir ou esquecer algo que lhe é apresentado, podendo se detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de aprendizagem de nível geral e especificamente escolar. (WEISS: 2004, p. 117) O que podemos avaliar por meio do desenho ou do relato é a capacidade do pensamento de construir uma organização coerente e harmoniosa e elaborar a PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 20 emoção. Jorge Visca nos traz a possibilidade de entendermos a dinâmica da aprendizagem nos diferentes níveis (consciente, pré-consciente e inconsciente). Vinculado ao domínio de si mesmo, domínio escolar e domínio familiar. No domínio escolar, através da representação gráfica do “Par Educativo”, investigaremos o vínculo entre o aluno e o professor. Verificaremos na posição do desenho na folha em que momento de aprendizagem se encontra este sujeito e como ele percebe esta relação. “Eu Com Meus Colegas de Sala de Aula” nos mostra como esse sujeito se representa perante o processo de aprendizagem. A planta da sala de aula verifica a posição do sujeito perante a turma, a representação do campo geográfico da sala, as localizações real e desejada da mesma e o tipo de aprendizagem do sujeito. Podemos representar o modelo de aprendizagem sistemática ou assistemática. No domínio familiar, Jorge Visca (2011) busca na representação da “Planta da Minha Casa” entender a representação do campo geográfico do lugar em que mora e a localização real dentro do mesmo vínculo de aprendizagem. Em “As Quatro Partes de um Dia”, busca-se a noção de tempo e espaço e os vínculos ao longo do dia, bem como na “Família Educativa” busca-se o vínculo de aprendizagem com o grupo familiar e cada um dos seus integrantes. No domínio consigo próprio, o “Desenho em Episódios” apresenta a delimitação da continuidade da identidade psíquica em função da quantidade dos afetos. O “Dia do Meu Aniversário” demonstra a representação que se tem de si e do contexto físico e sociodinâmico em um momento de transição de uma idade para outra. No desenho “Fazendo o que mais Gosto”, encontramos o tipo de atividade de que o sujeito mais gosta de fazer. Jorge Visca nos mostra a possibilidade de entendermos a posição do desenho na folha. Encontramos as seguintes representações do desenho segundo a leitura da posição na folha: a) Superior esquerda – O aprendente se encontra perante o ensinante exigente regressivo no processo de aprendizagem; b) Superior direita – O aprendente se apresenta exigente progressivo em relação à figura do ensinante; PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 21 c) No centro e na parte superior da folha – O aprendente se encontra exigente no processo de aprendizagem; d) No centro da folha, à esquerda – O aprendente se encontra regressivo em relação sua posição de aprendente na aprendizagem; e) No centro da folha – O aprendente se encontra equilibrado em relação à sua posição de aprendente na aprendizagem; f) No centro da folha, à direita – O aprendente se encontra regredido em relação à sua posição de aprendente na aprendizagem; g) No centro da folha, à direita – O aprendente se encontra progressivo em relação à sua posição de aprendente na aprendizagem; g) Na parte inferior da folha, à esquerda – O aprendente se encontra impulsivo regredido em relação à sua posição de aprendente na aprendizagem; h) Na parte inferior da folha, no centro – O aprendente se encontra impulsivo em relação à sua posição de aprendente na aprendizagem; i) Na parte inferior, à direita – O aprendente se encontra impulsivo progressivo em relação à sua posição de aprendente na aprendizagem. Encontraremos nas pautas gráficas as seguintes representações: a) Posição dos personagens frente a frente – Vínculo de aprendizagem bom; b) Posição dos personagens lado a lado – Vínculo de aprendizagem regular; c) Personagens em tamanhos pequenos – Não é um vínculo importante; d) Personagens em tamanhos médios – É um vínculo relativamente importante; e) Personagens em tamanho grande – É dada uma importância destacada, que pode ser positiva ou negativa; f) Personagens sem discriminação de tamanho – Vínculo confuso com quem ensina; g) Posição dos personagens com docente grande e aluno pequeno – Vínculo no qual supervaloriza o docente; h) Aluno grande e docente pequeno – Vínculo no qual subestima quem ensina; i) Apenas cabeças – Está supervalorizando o intelectual, o que se torna persecutório; j) O corpo do docente inacabado – Pode significar uma agressão oculta contra quem ensina; PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 22 l) Simplificação dos personagens – Desvalorização do vínculo de aprendizagem; m) Posição dos personagens em perspectiva – Vínculo positivo e maduro. Jorge Visca em suas pautas gráficas nos apresenta o tipo de vínculo que o aprendente estabelece com a aprendizagem. Em relação ao tipo de vínculo, observamos as seguintes leituras: a) Âmbito escolar – O entrevistado está ligado no aprendizado sistemático; b) Âmbito extraescolar – O entrevistado estabelece vínculo melhor com aprendizagem assistemática. As pautas gráficas são um recurso entre outros que fazem parte do diagnóstico psicopedagógico que permite investigar a dimensão, no que se refere ao vínculo que um sujeito estabelece com a aprendizagem, assim como também com as circunstâncias nas quais se opera essa aprendizagem. A característica do vínculo de aprendizageme as circunstâncias em que é produzido esse vínculo muitas vezes são totalmente desconhecidas pelo indivíduo que vivencia aprendizagem. Por ser uma técnica projetiva, ao desenhar o indivíduo toma consciência das proporções e da falta de conhecimento de certas partes, podemos verificar isso no desenho “Planta da Minha Casa”. Para Sara Paín, o que podemos avaliar por meio do desenho ou do relato é a capacidade do pensamento de construir uma organização coerente e harmoniosa e elaborar a emoção. Também permitirá avaliar a deterioração que se produz no próprio pensamento. Jorge Visca nos traz a importância de interpretarmos a técnica projetiva em função do sujeito em particular através do inventário feito em cada desenho. Por exemplo, no caso do desenho “Par Educativo” devemos pedir ao sujeito que ao término do desenho indique como se chamam e qual a idade dos personagens do desenho. Pede-se que a criança dê um título ao desenho e relate o que está acontecendo nele. Com isso, estaremos abordando o vínculo de aprendizagem em relação aos objetos de aprendizagem, a relação com quem ensina. A representação destas três unidades de análise “objetos”, “ensinante” e “aprendente” e de suas relações, são altamente representativas do tipo de vínculo que cada ser humano estabelece com a aprendizagem. PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA 23 Referências básicas: BÉDARD, Nicole. Como interpretar os desenhos da criança. São Paulo: Isis, 2010. p. 112. COGNET, Georges. Compreender e interpretar desenhos infantis. Petrópolis: Vozes, 2014. p. 238. GREIG, Philipe. A criança e seu desenho. Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 145. FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 261. _________________O saber em jogo: a psicopedagogia proporcionando autorias de pensamentos. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 179. _________________ Os idiomas do aprendente. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 223. MARRA. M. Marlene e COSTA, F. Liana. Temas da clínica do adolescente e da família. São Paulo: Ágora, 2010. p. 239. PORTO, Olívia. 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