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resenha critica a admirável mundo novo sob óptica do livro apologia a historia de March bloch

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
CAMPUS PETROLINA
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
MARIA ISABEL MAIONE GUTERRES OLIVERA
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO ADIMIRAVEL MUNDO NOVO
 Resenha critica apresentada como requisito para avaliação da 
 disciplina de Introdução aos Estudos Históricos, solicitada 
 professora Dra. Edianne Nobre.
 
 
 
PETROLINA
NOVEMBRO DE 2017
Um mundo sem História
HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. Trad. Vidal de Oliveira e Lino Vallandro. 5º Edição. Porto Alegre: Editora Globo, 1979.
As reflexões possíveis sobre a contemporaneidade nos remetem as questões sociais e históricas. E como uma forma de compreender o presente, leva a um caminho que nos direciona ao passado. Essa interligação para as nossas ações anteriores e consequências do seguinte, é a base para a narrativa histórica. Ela possui como status de ciência a importância enorme em nossas vidas e nos conduz à reflexão sobre nossas condutas. 
Através dessas abordagens, vemos que as relações dos indivíduos do século XX modificaram com a posterioridade do século atual, onde percebemos que a influência da tecnologia e multiculturalismo tornou-se presente em muitos locais do globo, demonstrando assim, um distanciamento nas relações simples dos indivíduos. Assim, refiro-me ao clássico do escritor Aldous Huxley. O Admirável Mundo Novo foi escrito na década de 30 do século XX, e continua atual quando se trata das diferenças das classes sociais, as opressões morais, condicionamento forçado do individuo e um determinismo social no presente.
Em relação à distopia do livro, vemos que esse novo mundo apresenta complicações quando comparamos para o nosso plano real. O autor fez uma crítica que se assemelha ao pessimismo da história profética de Kant[footnoteRef:1]. Um local com a aparência de progresso, porém desestruturado das decisões de cada indivíduo. As concepções e relações dos personagens são pré-determinadas e condicionadas para o padrão do Estado. Isso é crucial para compreendermos a incapacidade de alguns deles não possuírem um senso crítico sobre o seu mundo e convívio. Também sobre os personagens, a moralidade imposta por um governo onde se condiciona mais a segregação do que a punição de um infrator, no tocante a sociedade de castas na obra utilizam o regime de condicionamento provocado, como visto entre os Alfas e Ípsilons onde são induzidos para que se mantenham em suas próprias colocações, sem haver a interação desses indivíduos, este mesmo fato ocorre na índia por mais que o sistema de castas tenha sido “extinto” no final da década de 40, ainda é praticado por uma parte da população fruto de resquícios de uma sociedade de castas onde eram submetidos a uma hierarquia que segregava seus integrantes como pode ser observado no livro. [1: Immanuel Kant é um filosofo moderno Prussiano. Ele idealiza um pensamento positivo da racionalidade humana no decorrer da história.] 
Mas como poderia o conteúdo do Admirável Mundo Novo assemelhar-se com a atualidade? Primeiramente, trazemos as concepções do sociólogo Zygmunt Bauman para discussão. Hoje, a liquidez das relações, ou seja, o esfriamento e a rápida transição das relações humanas diante da globalização estão evidentes e a toda força. Segundo o próprio sociólogo, as redes sociais são de rápidas substituições de amizades e de relacionamentos diante da formação dos indivíduos de uma comunidade, a quem apresenta laços afetivos mais profundos (BAUMAN, 2016). Segundo, a produção intelectual primária ou primeiro Estado seria a família (ROUSSEAU, 2013 p.18) onde os primeiros aspectos morais e sistemáticos de ordem são condicionados ao ser humano. 
Semelhante à obra, os indivíduos pós-modernos estão mais voltados às condições profissionais do que a uma antiga formação tradicional social chamada família, que no caso poderia causar um choque dessa transição entre nós. Através disso, a mutação de formas e grupos sociais está de encontro com a liquidez das redes sociais e avanços tecnológicos. Pela visão pessimista, há sim uma coincidência até comparativa da distopia de Huxley e o traçar das ações dos indivíduos pós-modernos. Consequente de um acontecimento marcante na obra, o marco temporal da historia modifica-se como as tradições e memórias da sociedade, sendo que os conceitos familiares e ideológicos desaparecem do senso comum, reservados ao nível de censura e moralmente ultrapassados pela autoridade governamental, que tudo controla.
Uma grande questão apresentada pelo autor, e a grande contribuição da obra, é a crítica sobre a necessidade da narrativa histórica de uma sociedade para não cair em autoritarismos e controle de uma classe dominadora e controladora geral. No Admirável Mundo Novo, vemos na teoria o que acontece sobre uma sociedade de uma perspectiva única da história, como a critica do historiador Inglês George Clark sobre o pensamento da história final e linear do Barão de Acton (CARR, 1982). Deve existir a necessidade da pluralidade de narrativas do passado, diversos pontos subjetivos entre contrastes e concordâncias. 
Esse aspecto no contexto da obra está tão explícito que mostra a substituição da figura de um deus para o empreendedor estadunidense Henry Ford, tornando-o o marco temporal histórico do presente. Não existe uma contribuição da história onde o ideal de progresso foi implantado na mente de seus indivíduos, sendo que as problemáticas, narrativas e análises tornaram-se “inúteis” para essa sociedade. Para o conceito do historiador inglês Edward Carr: “O historiador sem seus fatos não tem raízes é inútil. Os fatos sem seu historiador são mortos e sem significado”(CARR, 1982). Devido à falta dos historiadores da sociedade, acaba-se destituindo as interpretações dos fatos que questionam as abordagens do presente. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche também vê a destruição do homem interligado com a própria história. Se porventura a desmedida da historia desmorona a vida, essa própria vida desmorona toda a história (NIETSZCHE, 1983).
Comparando esse diálogo entre o livro e a história, há uma interligação entre a história e o presente, historia e a vida, o sistema e a história. O controle da narrativa em um único poder compromete a vida do presente, definindo-a. Essa é a crítica negativa proposta sobre a linearidade e determinação total da narrativa histórica que Marc Bloch faz em suas pesquisas sobre o método histórico. Para ele, o analisar do passado sempre modifica e é questionado, mesmo que seja imutável as suas ações ocorridas lá (BLOCH, 2001, p.75). No mundo novo, não existe questionamento pelo fato do que é determinado, mesmo para as questões subjetivas e abstratas como a felicidade e prazer. Inclusive, o uso de um entorpecente chamado “Soma”, impede os impulsos descontrolados de questionamentos ou que a pressão da moral imposta cause uma histeria que vai de encontro ao sistema. É na sociedade sem memória histórica que não tem força necessária para questionar os fatos reais e abstratos do devir.
Poderíamos ver inúmeras abordagens sobre a obra do escritor Aldous Huxley. As análises sobre sexualidade, aprofundamento sobre as Castas, educação, politica e sentimentos. Tópicos que em comparação ao nosso presente são discutidas e refletidas. Huxley parece também criticar as consequências do Darwinismo social presente em alguns regimes totalitários de seu tempo, sendo que seu avô foi um dos defensores da evolução das espécies anteriormente[footnoteRef:2]. Porém, a mais notável é a capacidade de mostrar a necessidade da história para o homem, pois os acontecimentos do enredo são uma massa controladora de incapacitados frágeis. Os selvagens possuem os relances da memória dos antepassados,mas sem o seu historiador mostra a inutilidade dos fatos e das fontes, pois não possuem a narrativa. Sendo assim, torna o clássico livro sempre atual, quando trata de questões que devem ser sempre avaliadas, como a necessidade de tal conhecimento. Os historiadores como Bloch e Carr alertam para o compromisso didático e cientifico da história, assim como vejo no meio literário a problemática que o autor transmite. A questão do quê nos tornaria sem a ponderação da história, é sempre importante e reflexiva. [2: Thomas Henry Huxley foi um dos mais notáveis defensores da evolução das espécies proposto pelo Naturalista Charles Darwin. As teorias das ciências naturais na metade do século XIX culminaram em alguns desastres para humanidade no século seguinte, pela total interligação com as ciências humanas.] 
Referências bibliográficas:
NIETZSCHE, Friedrich W. Da Utilidade e Desvantagem da História para a Vida. In: Obras Incompletas. Trad. Rubens Rodrigues T. Filho. 3º edição, São Paulo: Abril Cultural, 1983. P. 58-70.
CARR, Edward H. Historiador e seus fatos. In: O que é História? Conferências George Macaulay Trevelyan proferidas por E. H. Carr na Universidade de Cambridge, janeiro-março 1961. Trad. Lúcia Maurício de Alverga. 3º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Ofício do Historiador. Trad. André Telles. Apresentação à edição brasileira, Lilia Moritz Schwarcz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
KANT, Immanuel. Idéia de uma história universal com um propósito cosmopolita. Trad. Rodrigo Naves e Ricardo Terra. São Paulo: Brasiliense, 1986.
 BAUMAN, Zygmunt. “As redes sociais são uma armadilha”. El País Brasil, São Paulo, 8 de Jan. de 2016. Cultura. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/30/cultura/1451504427_675885.html
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Capítulo II: Das primeiras sociedades. In: Do Contrato Social. Trad. Ana Resende. São Paulo: Martin Claret,2013.

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