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Sentidos e classificação das Constituições

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TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 
 
SENTIDOS E CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
Segundo José Gomes Canotilho, a Constituição é a ordenação sistemática e racional da 
comunidade política através de documento escrito. 
 
1 Sentidos da Constituição 
 
1.1 Jurídico (Hans Kelsen) 
É a norma fundamental (válida) de um país, ou seja, o ápice de uma pirâmide, fundamento 
de validade do ordenamento jurídico. 
 
1.2 Político (Carl Schmitt) 
É o produto da decisão política fundamental de um povo, pois ela cria e estrutura o Estado, 
além de estipular a soberania de um povo. A Constituição é o único momento em que o povo se 
direciona ao Estado. 
 
1.3 Sociológico (Ferdinand Lassalle) 
Representa os fatores reais de poder, ou seja, o conjunto de forças políticas, econômicas e 
sociais que rege um país. 
 
2 Classificação das Constituições 
 
2.1 Origem 
2.1.1 Promulgadas 
Produzidas por Assembleias Nacionais Constituintes e editadas pelos representantes do 
povo. 
2.1.2 Outorgadas 
São impostas ao povo pelos detentores do poder político. 
2.1.3 Cesaristas/bonapartistas 
Elaborada pelo detentor do poder político e ratificada (ou não) pelo povo, ou seja, é feito 
um referendo. 
 
2.1.4 Pactuadas 
Acontecem em momentos de crise política, onde nasce de um pacto entre forças opostas. 
 
2.2 Conteúdo 
2.2.1 Formal 
Considera como norma constitucional toda norma que esteja no texto. 
2.2.2 Material 
Composta pelos princípios básicos sem os quais a Constituição se descaracteriza 
(essenciais, como a organização do Estado, limitação do poder estatal e tripartição do poder). 
 
2.3 Extensão 
2.3.1 Sintéticas 
Composta pelos princípios básicos das ordenação de um país. Ex.: EUA. 
2.3.2 Analíticas 
Busca apreender a realidade de um país; detalha suas normas, traçando verdadeiras 
regras a serem seguidas tanto pelo legislador infraconstitucional, quanto por todos os operadores 
do direito, na aplicação e interpretação das normas jurídicas de um dado ordenamento jurídico. 
Ex.: Brasil. 
 
2.4 Elaboração 
2.4.1 Dogmáticas 
Representa o momento político de um país. Ex.: Brasil, pois se deram várias rupturas que 
representaram os valores da época. 
2.4.2 Históricas 
Produção permanente; respeita o processo evolutivo de um país, além de fundar o poder 
constituinte. Ex.: EUA, Inglaterra. 
 
2.5 Ideologia 
2.5.1 Ortodoxas 
Vinculação total a uma certa ideologia. Ex.: China. 
2.5.2 Ecléticas 
Síntese de diversas correntes políticas. Ex.: Brasil. 
 
2.6 Ontologia 
2.6.1 Normativas 
Reflete perfeitamente bem os valores eleitos pelo povo em dado momento (alto grau de 
legitimidade), além de ter seus princípios e normas cumpridas no decorrer do tempo. 
2.6.2 Nominalistas 
A Constituição é considerada boa, mas não pode ser cumprida na realidade. Há, no 
entanto, a pretensão de que se torne normativa após determinado tempo. 
2.6.3 Semânticas 
Criada de maneira simbólica, não há pretensão de ser cumprida. 
 
2.7 Alterabilidade 
2.7.1 Imutáveis 
Não pode ser modificada, ou seja, não permite emendas constitucionais. 
2.7.2 Rígidas 
Tem processo legislativo mais complexo e dificultoso do que o adotado para as leis 
ordinárias. 
2.7.3 Flexíveis 
O processo legislativo é igual ao adotado para leis ordinárias. 
2.7.4 Semirrígidas 
Separam a parte material da formal, onde a parte material só pode ser modificada por 
processo legislativo dificultoso e a formal tem um processo legislativo mais flexível. 
 
2.7.5 Super-rígidas 
Uma parte pode ser mudada com processo dificultoso e outra parte é imutável. Não é o 
caso do Brasil, visto que as cláusulas pétreas podem ser sim modificadas, embora apenas para 
crescer, ou seja, não podem ser abolidas. 
 
2.8 Forma 
2.8.1 Escritas 
Sistematizadas e organizadas em um único documento. 
2.8.2 Não-escritas 
Não há um texto integral, pode ser costumeira/consuetudinária, estar desmembrada em 
vários códigos etc. Ex.: Inglaterra, onde a Constituição é consuetudinária, existe uma certa rigidez 
psicológica (Pontes de Miranda). 
 
2.9 Finalidade 
2.9.1 Garantista 
É aquela que possui um vasto catálogo de direitos e garantias fundamentais, sem, no 
entanto, intervir na discricionariedade do gestor público; objetiva principalmente proteger as 
liberdades públicas contra a arbitrariedade do Estado. Corresponde ao primeiro período de 
surgimento dos direitos humanos. Os ​garantistas são contrários à relativização dos direitos 
fundamentais. Os ​consequencialistas​, por outro lado, prezam pela opinião pública; desse modo, 
não se "limitam" à interpretação fiel da Constituição e relativizam os direitos fundamentais. 
2.9.2 Dirigente 
Concebida para proteger os direitos fundamentais, além de traçar diretrizes que devem 
nortear a ação estatal (suas escolhas políticas), prevendo, para isso, as chamadas normas 
programáticas. Limita a discricionariedade do poder político. Dirige o plano de desenvolvimento, 
como, por exemplo, erradicar a pobreza. 
 
2.10 Classificação das Constituições brasileiras 
 
1824 → outorgada, formal, analítica, histórica, eclética, garantista, semirrígida e normativa. 
 
1891 → promulgada, material, analítica, dogmática, eclética, garantista, rígida e normativa. 
 
1934 → promulgada, formal, analítica, dogmática, eclética, dirigente, rígida e normativa. 
 
1937 → outorgada, material, analítica, dogmática, ortodoxa, dirigente, rígida e semântica. 
 
1946 → promulgada, formal, analítica, dogmática, eclética, dirigente, rígida e normativa. 
 
1967 → outorgada, formal, analítica, dogmática, ortodoxa, garantista, rígida e semântica. 
 
1988 → promulgada, formal, analítica, dogmática, eclética, dirigente, rígida e normativa.

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