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1 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 2. HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS .................................................................................................... 4 3. Suécia ...................................................................................................... 5 4. Estados Unidos ........................................................................................ 5 5. Brasil ........................................................................................................ 6 6. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS ........................................................... 9 7. O INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS ............................................. 11 8. ALGUNS MITOS SOBRE O PROFISSIONAL INTÉRPRETE ............... 14 9. CÓDIGO DE ÉTICA ............................................................................... 15 10. O INTÉRPRETE EDUCACIONAL ......................................................... 18 11. REGULAMENTO PARA ATUAÇÃO COMO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS ............................................................................................ 24 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 28 3 1. INTRODUÇÃO Fonte: 3.bp.blogspot.com Segundo o dicionário Aurélio, intérprete é a pessoa que serve de intermediário para fazer compreender indivíduos que falam diferentes idiomas. Essa apostila pretende retratar sobre a importância desse profissional, sua história, seu código de ética e a regulamentação dessa profissão. Para ser um intérprete, esse profissional deve se manter imparcial, evitando com que religião ou vínculos de amizade interfira em seu trabalho. O processo de interpretação é uma habilidade científica que o cérebro aprende após muito treino e dedicação, portanto ser filho de pais surdos não é sinônimo de qualificação. Além disso, o intérprete tem que ser bilíngue, procurar participar de seminários, saber trabalhar em equipe, ter equilíbrio durante a interpretação e ser capaz de admitir suas limitações quando não se sentir capaz. 4 2. HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS Fonte: 1.bp.blogspot.com Em vários países há tradutores e intérpretes de língua de sinais. A história da constituição deste profissional se deu a partir de atividades voluntárias que foram sendo valorizadas enquanto atividade laboral na medida em que os surdos foram conquistando o seu exercício de cidadania. A participação de surdos nas discussões sociais representou e representa a chave para a profissionalização dos tradutores e intérpretes de língua de sinais. Outro elemento fundamental neste processo é o reconhecimento da língua de sinais em cada país. À medida que a língua de sinais do país passou a ser reconhecida enquanto língua de fato, os surdos passaram a ter garantias de acesso a ela enquanto direito linguístico. Assim, consequentemente, as instituições se viram obrigadas a garantir acessibilidade através do profissional intérprete de língua de sinais. A seguir serão apresentados os fatos históricos relevantes sobre a constituição 5 do profissional intérprete de língua de sinais na Suécia, nos Estados Unidos e no Brasil. 3. Suécia a) Presença de intérpretes de língua de sinais sueca em trabalhos religiosos por volta do final do século XIX (Suécia, 1875). B). Em 1938, o parlamento sueco criou cinco cargos de conselheiros para surdos que imediatamente não conseguia atender a demanda da comunidade surda. C). Em 1947, mais de 20 pessoas assumiram a função de intérprete. D). Em 1968, por uma decisão do Parlamento, todos os surdos teriam acesso ao profissional intérprete livre de encargos diante de reivindicações da Associação Nacional de Surdos. Neste ano, também foi criado o primeiro curso de treinamento de intérprete na Suécia organizado pela Associação Nacional de Surdos, junto à Comissão Nacional de Educação e à Comissão Nacional para Mercado de Trabalho. E). Em 1981, foi instituído que cada conselho municipal deveria ter uma unidade com intérpretes. 4. Estados Unidos A). Em 1815, Thomas Gallaudet era intérprete de Laurent Clerc (surdo francês que estava nos EUA para promover a educação de surdos). B). Ao longo dos anos, pessoas intermediavam a comunicação para surdos (normalmente vizinhos, amigos, filhos, religiosos) como voluntários utilizando uma comunicação muito restrita. C). Em 1964, foi fundada uma organização nacional de intérpretes para surdos (atual RID), estabelecendo alguns requisitos para a atuação do intérprete. D). Em 1972, o RID começou a selecionar intérpretes oferecendo um registro após avaliação. O RID apresenta, até os dias de hoje, as seguintes funções: selecionar os intérpretes, certificar os intérpretes qualificados; manter um registro; 6 promover o código de ética; e oferecer informações sobre formação e aperfeiçoamento de intérpretes. 5. Brasil http://4.bp.blogspot.com/-gQz7Hc7VQe4/UBFnVQSV6kI/AAAAAAAAlLo/de56XJT7bCo/s1600/novo.jpg a) Presença de intérpretes de língua de sinais em trabalhos religiosos iniciados por volta dos anos 80. B). Em 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais organizado pela FENEIS que propiciou, pela primeira vez, o intercâmbio entre alguns intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profissional intérprete. C). Em 1992, realizou-se o II Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de Sinais, também organizado pela FENEIS que promoveu o intercâmbio entre as diferentes experiências dos intérpretes no país, discussões e votação do regimento interno do Departamento Nacional de Intérpretes fundado mediante a aprovação do mesmo. D). De 1993 a 1994, realizaram-se alguns encontros estaduais. e) A partir dos anos 90, foram estabelecidas unidades de intérpretes ligadas aos escritórios regionais da FENEIS. Em 2OO2, a FENEIS sedia escritórios em São 7 Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Brasília e Recife, além da matriz no Rio de Janeiro. F). Em 2000, foi disponibilizada a página dos intérpretes de língua de sinais www.interpretels.hpg.com.br também foi aberto um espaço para participação dos intérpretes através de uma lista de discussão via e-mail. Esta lista é aberta para todos os intérpretes interessados e pode ser acessada através da página dos intérpretes. G). No dia 24 de abril de 2OO2, foi homologada a lei federal que reconhece a língua brasileira de sinais como língua oficial das comunidades surdas brasileiras. Tal lei representa um passo fundamental no processo de reconhecimento e formação do profissional intérprete da língua de sinais no Brasil, bem como, a abertura de várias oportunidades no mercado de trabalho que são respaldadas pela questão legal. A seguir consta a transcrição desta lei: LEI N° 10436, DE 24 DE ABRIL DE 2OO2 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1° É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-secomo Língua Brasileira de Sinais -Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil Art. 2 o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. 8 Art. 3° As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4 o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5 o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2OO2; 181° da Independência e 114 o 'da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza Esta lei representa uma conquista inigualável em todo o processo dos movimentos sociais surdos e tem consequências extremamente favoráveis para o reconhecimento do profissional intérprete de língua de sinais no Brasil. Além desta lei, vale destacar as seguintes leis que respaldam a atuação do intérprete de língua de sinais direta ou indiretamente: • Lei 1O.O98/OO (Lei da acessibilidade) • Lei 1O.172/O1 (Lei do Plano Nacional de Educação) • Resolução MEC/CNE: O2/2OO1 (Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica) • Portaria 3284/2OO3 que substituiu a Portaria 1679/99 (acessibilidade à Educação Superior) O resultado de uma pesquisa realizada sobre intérpretes na Europa conclui que à medida que os surdos ampliam suas atividades e participam nas atividades políticas 9 e culturais da sociedade, o intérprete de língua de sinais é mais qualificado e reconhecido profissionalmente. 6. LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com/ A língua brasileira de sinais é uma língua visual-espacial articulada através das mãos, das expressões faciais e do corpo. É uma língua natural usada pela comunidade surda brasileira. Estudos sobre essa língua foram iniciados no Brasil pela Gladis Knak Rehfeldt (A língua de sinais do Brasil, 1981). Há também artigos e pesquisas realizadas pela Lucinda Ferreira-Brito que foram publicadas em forma de um livro em 1995 (Por uma gramática das línguas de sinais). Depois desses trabalhos, as pesquisas começaram a explorar diferentes aspectos da estrutura da língua brasileira de sinais. Vale mencionar alguns exemplos, tais como Fernandez (199O), um trabalho de psicolinguística; Karnopp (1994) que estudou aspectos de aquisição de fonologia por crianças surdas de pais surdos; Felipe (1993) que propõe uma tipologia de verbos em língua brasileira de sinais; os meus trabalhos: Quadros (1995) que apresenta uma análise da distribuição dos pronomes na língua brasileira de sinais e as repercussões desse aspecto na aquisição da linguagem de crianças surdas de pais surdos (publicado parcialmente em forma de 10 livro em 1997 - Educação de surdos: a aquisição da linguagem) e Quadros (1999) que apresenta a estrutura da língua brasileira de sinais. Tais pesquisas associadas às atividades dirigidas pela Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo (FENEIS) foram responsáveis pelo reconhecimento da língua brasileira de sinais como uma língua de fato no Brasil. Como uma língua percebida pelos olhos, a língua brasileira de sinais apresenta algumas peculiaridades que são normalmente pouco conhecidas pelos profissionais. Fonte: organizesuavida.com.br Perguntas sobre os níveis de análises, tais como, a fonologia, a semântica, a morfologia e a sintaxe são muitos comuns, uma vez que as línguas de sinais são expressas sem som e no espaço. Porém, as pesquisas de várias línguas de sinais, como a língua de sinais americana e a língua brasileira de sinais, mostraram que tais línguas são muito complexas e apresentam todos os níveis de análises da linguística tradicional. A diferença básica está no canal em que tais línguas expressam-se para estruturar a língua, um canal essencialmente visual. Stokoe et al. (1976), Bellugi e Klima (1979), Liddell (198O), Lillo-Martin (1986) são exemplos clássicos de pesquisas da língua de sinais americana que trazem evidências da existência de todos os níveis de análise dessa língua. Karnopp (1994), Quadros (1995, 1999), Ferreira-Brito (1995) 11 e Felipe (1993) são exemplos de pesquisas que evidenciam a complexidade da língua brasileira de sinais. Fonologia é compreendida como a parte da ciência linguística que analisa as unidades mínimas sem significado de uma língua e a sua organização interna. Quer dizer, em qualquer língua falada, a fonologia é organizada baseada em um número restringido de sons que podem ser combinados em sucessões para formar uma unidade maior, ou seja, a palavra. Nas línguas de sinais, as configurações de mãos juntamente com as localizações em que os sinais são produzidos, os movimentos e as direções são as unidades menores que formam as palavras. 7. O INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS Fonte: ufjf.br/dircom/files/2010/04/libras.jpg O que envolve o ato de interpretar? 12 Envolve um ato COGNITIVO-LINGÜÍSTICO, ou seja, é um processo em que o intérprete estará diante de pessoas que apresentam intenções comunicativas específicas e que utilizam línguas diferentes. O intérprete está completamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com poder completo para influenciar o objeto e o produto da interpretação. Ele processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos. Quem é o intérprete de língua de sinais? É o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. No Brasil, o intérprete deve dominar a língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Ele também pode dominar outras línguas, como o inglês, o espanhol, a língua de sinais americana e fazer a interpretação para a língua brasileira de sinais ou vice-versa (por exemplo, conferências internacionais). Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação. O profissional intérprete também deve ter formação específica na área de sua atuação (por exemplo, a área da educação). Qual o papel do intérprete? Realizara interpretação da língua falada para a língua sinalizada e vice-versa observando os seguintes preceitos éticos: a) confiabilidade (sigilo profissional); b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias); c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação); d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados); 13 e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito). O que acontece quando há carência de profissionais intérpretes? Fonte: diariodosurdo.com.br/ Quando há carência de intérpretes de língua de sinais, a interação entre surdos e pessoas que desconhecem a língua de sinais fica prejudicada. As implicações disso são, pelo menos, as seguintes: a) os surdos não participam de vários tipos de atividades (sociais, educacionais, culturais e políticas); b) os surdos não conseguem avançar em termos educacionais; c) os surdos ficam desmotivados a participarem de encontros, reuniões, etc. d) os surdos não têm acesso às discussões e informações veiculadas na língua falada sendo, portanto, excluído da interação social, cultural e política sem direito ao exercício de sua cidadania; e) os surdos não se fazem "ouvir"; f) os ouvintes que não dominam a língua de sinais não conseguem se comunicar com os surdos. 14 O que é possível fazer? a) investigação sobre todos os serviços de intérpretes existentes oficiais e extraoficiais; b) criação de leis sobre o direito ao serviço de intérprete reivindicando que a sociedade assuma a responsabilidade desses serviços; c) reconhecimento da profissão de intérprete; d) realização de pesquisas sobre interpretação e as condições de trabalho dos intérpretes; e) formação sistemática para os intérpretes; f) aumento de cursos de línguas de sinais; g) criação de programas para a formação de novos intérpretes; h) cursos que orientem aos surdos como e quando usarem os serviços do intérprete. 8. ALGUNS MITOS SOBRE O PROFISSIONAL INTÉRPRETE Fonte: imgs.concursoseempregos.opovo.com.br/ Professores de surdos são intérpretes de língua de sinais Não é verdade que professores de surdos sejam necessariamente intérpretes de língua de sinais. Na verdade, os professores são professores e os intérpretes são intérpretes. Cada profissional desempenha sua função e papel que se diferenciam 15 imensamente. O professor de surdos deve saber e utilizar muito bem a língua de sinais, mas isso não implica ser intérprete de língua de sinais. O professor tem o papel fundamental associado ao ensino e, portanto, completamente inserido no processo interativo social, cultural e linguístico. O intérprete, por outro lado, é o mediador entre pessoas que não dominam a mesma língua abstendo-se, na medida do possível, de interferir no processo comunicativo. As pessoas ouvintes que dominam a língua de sinais são intérpretes Não é verdade que dominar a língua de sinais seja suficiente para a pessoa exercer a profissão de intérprete de língua de sinais. O intérprete de língua de sinais é um profissional que deve ter qualificação específica para atuar como intérprete. Muitas pessoas que dominam a língua de sinais não querem e nem almejam atuar como intérpretes de língua de sinais. Também, há muitas pessoas que são fluentes na língua de sinais, mas não têm habilidade para serem intérpretes. Os filhos de pais surdos são intérpretes de língua de sinais Não é verdade que o fato de ser filho de pais surdos seja suficiente para garantir que o mesmo seja considerado intérprete de língua de sinais. Normalmente os filhos de pais surdos intermediam as relações entre os seus pais e as outras pessoas, mas desconhecem técnicas, estratégias e processos de tradução e interpretação, pois não possuem qualificação específica para isso. Os filhos fazem isso por serem filhos e não por serem intérpretes de língua de sinais. Alguns filhos de pais surdos se dedicam a profissão de intérprete e possuem a vantagem de ser nativos em ambas as línguas. Isso, no entanto, não garante que sejam bons profissionais intérpretes. O que garante a alguém ser um bom profissional intérprete é, além do domínio das duas línguas envolvidas nas interações, o profissionalismo, ou seja, busca de qualificação permanente e observância do código de ética. Os filhos de pais surdos que atuam como intérprete têm a possibilidade de discutir sobre a sua atuação enquanto profissional intérprete na associação internacional de filhos de pais surdos (www.coda-international.org). 9. CÓDIGO DE ÉTICA 16 Fonte: 1.bp.blogspot.com O código de ética é um instrumento que orienta o profissional intérprete na sua atuação. A sua existência justifica-se a partir do tipo de relação que o intérprete estabelece com as partes envolvidas na interação. O intérprete está para intermediar um processo interativo que envolve determinadas intenções conversacionais e discursivas. Nestas interações, o intérprete tem a responsabilidade pela veracidade e fidelidade das informações. Assim, ética deve estar na essência desse profissional. A seguir é descrito o código de ética que é parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes (FENEIS). Registro dos Intérpretes para Surdos - em 28-29 de janeiro de 1965, Washington, EUA) Tradução do original Interpreting for Deaf People, Stephen (ed.) USA por Ricardo Sander. Adaptação dos Representantes dos Estados Brasileiros - Aprovado por ocasião do II Encontro Nacional de Intérpretes - Rio de Janeiro/RJ/Brasil - 1992. CAPÍTULO 1 Princípios fundamentais Artigo 1 o . São deveres fundamentais do intérprete: 1°. O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidencias, as quais foram confiadas a ele; 17 2 o . O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões próprias, a menos que seja requerido pelo grupo a fazê-lo; 3 o . O intérprete deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade, sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. Ele deve lembrar-se dos limites de sua função e não ir além de a responsabilidade; 4°. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais, quando necessário, especialmente em palestras técnicas; 5°. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, durante o exercício da função. CAPITULO 2 Relações com o contratante do serviço 6°. O intérprete deve ser remunerado por serviços prestados e se dispor a providenciar serviços de interpretação, em situações onde fundos não são possíveis; 7°. Acordos em níveis profissionais devem ter remuneração de acordo com a tabela de cada estado, aprovada pela FENEIS. CAPITULO 3 Responsabilidade profissional 8°. O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais ou outras em seu favor; 9 o . O intérprete deve considerar os diversos níveis da Língua Brasileira de Sinaisbem como da Língua Portuguesa; 2O°. Em casos legais, o intérprete deve informar à autoridade qual o nível de comunicação da pessoa envolvida, informando quando a interpretação literal não é possível e o intérprete, então terá que parafrasear de modo claro o que está sendo dito à pessoa surda e o que ela está dizendo à autoridade; 11º. O intérprete deve procurar manter a dignidade, o respeito e a pureza das línguas envolvidas. Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso for necessário para o entendimento; 18 12°. O intérprete deve esforçar-se para reconhecer os vários tipos de assistência ao surdo e fazer o melhor para atender as suas necessidades particulares. CAPITULO 4 Relações com os colegas Fonte: hrf.se/sites/default/files/tsptolk.jpg 13°. Reconhecendo a necessidade para o seu desenvolvimento profissional, o intérprete deve agrupar-se com colegas profissionais com o propósito de dividir novos conhecimentos de vida e desenvolver suas capacidades expressivas e receptivas em interpretação e tradução. Parágrafo único. O intérprete deve esclarecer o público no que diz respeito ao surdo sempre que possível, reconhecendo que muitos equívocos (má informação) têm surgido devido à falta de conhecimento do público sobre a área da surdez e a comunicação com o surdo. 10. O INTÉRPRETE EDUCACIONAL 19 Fonte: gerenciador.tjma.jus.br O intérprete educacional é aquele que atua como profissional intérprete de língua de sinais na educação. É a área de interpretação mais requisitada atualmente. Na verdade, essa demanda também é observada em outros países: Nos Estados Unidos, em 1989, estimava-se que 22OO intérpretes de língua de sinais estivessem atuando nos níveis da educação elementar e no ensino secundário. (...). Atualmente, mais de um terço dos graduados nos cursos de formação de intérpretes são empregados em escolas públicas. Mais da metade dos intérpretes estão atuando na área da educação. (Stewart, D. et alli, 1998) Considerando a realidade brasileira na qual as escolas públicas e particulares têm surdos matriculados em diferentes níveis de escolarização, seria impossível atender às exigências legais que determinam o acesso e a permanência do aluno na escola observando-se suas especificidades sem a presença de intérpretes de língua de sinais. Assim, faz-se necessário investir na especialização do intérprete de língua de sinais da área da educação. O intérprete especialista para atuar na área da educação deverá ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como, entre os colegas surdos e os colegas ouvintes. No entanto, as competências e responsabilidades destes profissionais não são tão fáceis de serem determinadas. Há vários problemas de ordem ética que acabam surgindo em função do tipo de 20 intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas vezes, o papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel do professor. Fonte: grupovioles.blogspot.com.br/2 Os alunos dirigem questões diretamente ao intérprete, comentam e travam discussões em relação aos tópicos abordados com o intérprete e não com o professor. O próprio professor delega ao intérprete a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula ao intérprete. Muitas vezes, o professor consulta o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo ele a pessoa mais indicada a dar um parecer a respeito. O intérprete, por sua vez, se assumir todos os papéis delegados por parte dos professores e alunos, acaba sendo sobrecarregado e, também, acaba por confundir o seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo constituído. Vale ressaltar que se o intérprete está atuando na educação infantil ou fundamental, mais difícil torna-se a sua tarefa. As crianças mais novas têm mais dificuldades em entender que aquele que está passando a informação é apenas um intérprete, é apenas aquele que está intermediando a relação entre o professor e ela. Diante destas dificuldades, algumas experiências têm levado à criação de um código de ética específico para intérpretes de língua de sinais que atuam na educação. Em alguns casos, ao intérprete de língua de sinais é permitido oferecer feedback do processo de ensino-aprendizagem ao professor, por exemplo. Se esta possibilidade existe, poder-se-ia prever que o intérprete assumiria a função de tutoria mediante a supervisão do professor, o que em outras circunstâncias de interpretação não seria permitido. No entanto, isso poderia gerar muitos 21 problemas.... Os intérpretes-tutores deveriam estar preparados para trabalharem com as diferentes áreas do ensino. Se a eles fossem atribuídas às responsabilidades com o ensino, eles deveriam ser professores, além de serem intérpretes. E se estiverem assumindo a função de professores, por que estariam sendo contratados como intérpretes? Considerando tais questões, poder-se-ia determinar que o intérprete assumirá somente a função de intérprete que em si já se basta e caso seja requerido um professor que domine língua de sinais que este seja contratado como tal. Conforme apresentado em http://www.deafmall.net/deaflinx/ edcoe.html (2OO2), nos Estados Unidos já houve tal discussão e foi determinado ser antiético exigir que o intérprete assuma funções que não sejam específicas da sua atuação enquanto intérpretes, tais como: •. Tutorar os alunos (em qualquer circunstância) •. Apresentar informações a respeito do desenvolvimento dos alunos •. Acompanhar os alunos •. Disciplinar os alunos •. Realizar atividades gerais extraclasse Em http://www.deafmall.net/deaflinx/useterp2.html (2OO2), apresentam-se alguns elementos sobre o intérprete de língua de sinais em sala de aula que devem ser considerados: Em qualquer sala de aula, o professor é a figura que tem autoridade absoluta. Considerando as questões éticas, os intérpretes devem manter-se neutros e garantirem o direito dos alunos de manter as informações confidenciais. Os intérpretes têm o direito de serem auxiliados pelo professor através da revisão e preparação das aulas que garantem a qualidade da sua atuação durante as aulas. As aulas devem prever intervalos que garantem ao intérprete descansar, pois isso garantirá uma melhor performance e evitará problemas de saúde para o intérprete. Deve-se também considerar que o intérprete é apenas um dos elementos que garantirá a acessibilidade. Os alunos surdos participam das aulas visualmente e precisam de tempo para olhar para o intérprete, olhar para as anotações no 22 quadro, olhar para os materiais que o professor estiver utilizando em aula. Também, deve ser resolvido como serão feitas as anotações referentes ao conteúdo, uma vez que o aluno surdo manterá sua atenção na aula e não disporá de tempo para realizá-las. Outro aspecto importante é a garantia da participação do aluno surdo no desenvolvimento da aula através de perguntas e respostas que exigem tempo dos colegas e professores para que a interação se dê. A questão da iluminação também deve sempre ser considerada, uma vez que sessões de vídeo e o uso de retroprojetor podem ser recursos utilizados em sala de aula. Ainda se podem levantar outros problemas que surgem em relação aos intérpretes em sala de aula. Por exemplo, o fato dos intérpretes interagirem com os professores pode levar a um problema ético, pois é natural travar comentários a respeito dos alunosdurante os intervalos. O código de ética prevê que o intérprete seja discreto e mantenha sigilo, não faça comentários, não compartilhe informações que foram travadas durante sua atuação. Assim, o código de ética dessa especialidade deveria também prever que ao intérprete fosse permitido apenas fazer comentários específicos relacionados à linguagem da criança, à interpretação em si e ao processo de interpretação quando estes forem pertinentes para o processo de ensino-aprendizagem. Outro aspecto a ser considerado na atuação do intérprete em sala de aula é o nível educacional. O intérprete de língua de sinais poderá estar atuando na educação infantil, na educação fundamental, no ensino médio, no nível universitário e no nível de pós-graduação. Obviamente que em cada nível deve-se considerar diferentes fatores. Nos níveis mais iniciais, o intérprete estará diante de crianças. Há uma série de implicações geradas a partir disso. Crianças têm dificuldades em compreender a função do intérprete puramente como uma pessoa mediadora da relação entre o professor e o aluno. A criança surda tende a estabelecer o vínculo com quem lhe dirige o olhar. No caso, o intérprete é aquele que estabelece essa relação. Além disso, o intérprete deve ter afinidade para trabalhar com crianças. Por outro lado, o adolescente e o adulto, lidam melhor com a presença do intérprete. Nos níveis posteriores, o intérprete passa a necessitar de conhecimentos cada vez mais específicos e mais aprofundados para poder realizar as interpretações compatíveis com o grau de exigência dos níveis cada vez mais adiantados da escolarização. 23 De modo geral, aos intérpretes de língua de sinais da área da educação é recomendado redirecionar os questionamentos dos alunos ao professor, pois desta forma o intérprete caracteriza o seu papel na intermediação, mesmo quando este papel é alargado. Neste sentido, o professor também precisa passar pelo processo de aprendizagem de ter no grupo um contexto diferenciado com a presença de alunos surdos e de intérpretes de língua de sinais. A adequação da estrutura física da sala de aula, a disposição das pessoas em sala de aula, a adequação da forma de exposição por parte do professor são exemplos de aspectos a serem reconsiderados em sala de aula. Fonte:blogbahiageral.com.br/ Cabe apresentar uma outra questão, há vários professores que também são intérpretes de língua de sinais. O próprio MEC está procurando formar professores enquanto intérpretes. Isso acontece, pois, alguns professores acabam assumindo a função de intérprete por terem um bom domínio da língua de sinais. Nesse caso, esse profissional tem duas profissões: a de professor e a de intérprete de língua de sinais. A proposta do MEC em formar intérpretes selecionando professores de a rede regular de ensino objetiva abrir este campo de atuação dentro das escolas. Assim, o "professor-intérprete" deve ser o profissional cuja carreira é a do magistério e cuja atuação na rede de ensino pode efetivar-se com dupla função: 24 1). Em um turno, exercer a função de docente, regente de uma turma seja em classe comum, em classe especial, em sala de recursos, ou em escola especial (nesse caso, não atua como intérprete). 2). Em outro turno, exercer a função de intérprete em contexto de sala de aula, onde há outro professor regente. 11. REGULAMENTO PARA ATUAÇÃO COMO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS Fonte: librasdiaria.files.wordpress.com Publicada no Diário Oficial no dia 2-9-2O1O, a Lei 12.319, de 1-9-2O1O, que regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LÍBRAS. O novo profissional terá competência para realizar interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; cursos de extensão universitária; e 25 cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. De acordo com a lei, até o dia 22-12-2O15, a União, diretamente ou por intermédio de instituições credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Veja a seguir a íntegra da Lei 12.319/2O1O: “LEI no- 12.319, DE 1o- DE setembro DE 2O1O Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LÍBRAS. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LÍBRAS. Art. 2o O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. Art. 3o (VETADO) Art. 4o A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - Cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; II - Cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Art. 5o Até o dia 22 de dezembro de 2O15, a União, diretamente ou por intermédio de credenciadas, promoverá, anualmente, exame nacional de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. 26 Parágrafo único. O exame de proficiência em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, linguistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior. Art. 6o São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências: I - Efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdo-cegos, surdo-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice- versa; II - Interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; IV - Atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e V - Prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. Art. 7o O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial: I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida; II - pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; III - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir;IV - Pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício profissional; V - Pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem; VI - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. Art. 8o (VETADO) Art. 9o (VETADO) 27 Art. 1O. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 1º de setembro de 2O1O; 189o da Independência e 122o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA 28 BIBLIOGRAFIA ARANHA, M. S. F. Inclusão social e municipalização. In: MANZINI, E. J. Educação especial: temas atuais. Marília, SP: UNESP, 2OOO, p. O1-O9. BASTOS, M. H. A experiência de uma implementação de um curso de Libras para professores da escola pública. 2OO9. 128 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro Universitário Moura Lacerda. Ribeirão Preto, SP, 2OO9. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política nacional de educação especial. Brasília: SEESP, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Subsídios para organização e funcionamento de serviços de educação especial. Brasília: SEESP, 1995. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei Nº. 9.394 de 2O de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_O3/Leis/L9394.htm>. Acesso em O2 fev. 2O11. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei Nº. 1O.436 de 24 de abril de 2OO2. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2OO2/L1O436.htm>. Acesso em 1O jan. 2O11. SMOLKA, A. L.; GÓES, M. C. R. (Org.). A Linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas, SP; Papirus, 1993. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico). GÓES, M. C. R. Com quem as crianças surdas dialogam em Sinais? In: LACERDA, C. B. F.; GÓES, M. C. R. (Orgs.) Surdez: Processos educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2OOO. p. 29-49. GÓES, M. C. R. Linguagem, surdez e educação. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2OO2. GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio interacionista. São Paulo: Plexus, 1997. MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer?São Paulo: Moderna, 2OO3. NORTHERN, J. L.; DOWNS, M. P. Audição em crianças. 3. ed. São Paulo: Manole: 1989. 29 PERLIN. G. T. T.; STROBEL, K. Fundamentos da educação de surdos. Florianópolis: Editora UFSC, 2OO6. SÁ, N. R. L. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: Editora UFA, 2OO2. SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. SKLIAR, C. Educação & exclusão: abordagens sócio antropológicas em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 1997. SKLIAR, C. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998. SKLIAR, C. A localização política da educação bilíngue para surdos. In: SKLIAR, C. (Org.). Atualidade da educação bilíngue para surdos. Porto Alegre: Mediação, 1999. p. O7-14. SKLIAR, C. Uma perspectiva sócia histórica sobre a psicologia e a educação dos surdos. In: SKLIAR, C. (Org). Educação & exclusão: abordagens sócio antropológicas em educação especial. Porto Alegre: Mediação 2OO1. p. 1O7-154. 30 ARTIGO PARA REFLEXÃO DISPONÍVEL EM: http://www.sieduca.com.br/2010/admin/upload/42.doc. AUTORA: Elaine Cristina Gonçalves ACESSO EM: 03/06/2016 MEDIADOR X INTERPRETE: A “Diferença” na Função e na Aprendizagem dos Alunos Surdos Elaine Cristina Gonçalves elainecrisg@bol.com.br Universidade Tuiuti do Paraná Resumo Este trabalho apresenta uma análise das possíveis diferenças entre a função de mediador e de intérprete na aprendizagem de alunos, dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Através da legislação e documentos normativos do Estado Paraná, busca-se identificar a definição e a diferenciação entre a função estabelecida para o mediador (anos iniciais do Ensino Fundamental) e para o interprete (anos finais do Ensino Fundamental), para posteriormente analisar como ocorre a aprendizagem dos alunos surdos em ambos os níveis do ensino fundamental acompanhados por ambos. Além, da investigação normativa e legal em sites do Estado do Paraná, realizou-se entrevista com duas professoras, que exercem ou já exerceram ambas as funções (mediador e interprete) para assim, buscar analisar as possíveis diferenças de aprendizagem. Para tanto, primeiramente se apresentará um esboço da construção histórica da formação de professores no Brasil, para entender como se deu o processo de consolidação e aprimoramento desses profissionais em nosso país. Também se discute, brevemente, a formação do educador para a Educação Especial, fundamentando- se nas ideias de Saviani (2009). Em seguida, apresenta-se uma discussão sobre a formação de mediador e de interprete, e sobre suas diferenças, fundamentando-se nas ideias de Goes (2000) e Lacerda (2000). Posteriormente, realiza-se uma análise dos dados coletados nas entrevistas e nos documentos normativos e legais, para compreender se há ou não diferenças na aprendizagem dos alunos surdos nos diferentes níveis do Ensino Fundamental por conta das distinções entre o papel de mediador e de interprete. As considerações apontadas como conclusivas, relatam o descaso ao atendimento do aluno surdo, por parte dos educadores dos diferentes níveis de ensino aqui analisados. Nos anos iniciais de Ensino Fundamental, assim chamado mediador, atua como um “professor ajudante”, que apoia não só na tradução da Língua de Sinais para o aluno surdo, como também, 31 desempenha as funções de mediar a aprendizagem desse e dos outros alunos da turma, além de colaborar com ideias para o planejamento diário da professora regente. Já os intérpretes que atuam nos anos finais de Ensino Fundamental, somente atuam como tradutores da Língua de Sinais e reclamam da falta de compreensão por parte dos professores regentes das diferentes disciplinas por não demonstrarem interesse em sanar determinadas dúvidas de seus alunos surdos. Palavras–chave: Educação, Formação de Professores, Educação de Surdos; Aprendizagem. Introdução A busca para entender a diferença entre a função de mediador e de intérprete, pode remeter à compreensão sobre se há ou não uma discrepância na aprendizagem de alunos, nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Acredita-se que a aprendizagem do aluno se constitui da intervenção do educador. Essa intervenção, ou também, mediação, pode ajudar na elevação intelectual do mesmo, promovendo assim, uma elevação no nível de conhecimento e compreensão desse aluno, fazendo com que, algumas dificuldades sejam supridas. Em se tratar de educação a aprendizagem plena dos alunos, é uma das maiores metas do educador, isso não é diferente com o aluno surdo, qual pode necessitar de maiores aparatos pedagógicos para que a aprendizagem ocorra, como a preparação e formação de seus educadores e até mesmo com a formação e função desempenhada pela pessoa que o acompanha na tradução da língua, entre outros pontos relevantes. Para se fazer entender a função do professor, primeiramente se faz necessário uma retomada geral da formação do mesmo no Brasil, para em seguida discutira sua necessidade de conhecimento para atuar com a Educação Especial, apontada como uma modalidade educacional, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 93949/96. Em seguida, entender a formação continuada e a função exercida pelo professor mediador e interprete e sua interferência na aprendizagem dos alunos. Logo se faz uma análise perante os dados coletados nas entrevistas realizadas com as duas professoras do Município de Campo Largo, Paraná, para se entender como se dá o processo de aprendizagem dos alunos surdos dos anos finais e iniciais do ensino fundamental, além de denotar a preocupação das mesmas com a aprendizagem desses alunos. 32 Como metodologia de pesquisa, se utilizou como técnica de pesquisa a análise documental, retiradas do portal do Estado do Paraná, e entrevista com duas professoras que trabalham como mediadora e já trabalharam como interprete de alunos dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental. Dessa forma, o que se pode constatar é que há uma diferença entre a função do mediador e do intérprete de Libras nos anos iniciais e finais do ensino fundamental no Município, assim como, nos anos iniciais de Ensino Fundamental, assim chamado mediador, atua como um “professor ajudante”, que apoia não só na tradução da Língua de Sinais para o aluno surdo, como também, desempenha as funções de mediar a aprendizagem desse e dos outros alunos da turma, além de colaborar com ideias para o planejamento diário da professora regente. Já os intérpretes que atuam nos anos finais de Ensino Fundamental, somente atuam como tradutores da Língua de Sinais e reclamam da falta de compreensão por parte dos professores regentes das diferentes disciplinas por não demonstrarem interesse em sanar determinadas dúvidas de seus alunos surdos. Aspectos Fundamentais na História da Formação Docente no Brasil A preocupação com a formação docente só vem a repercutir no Brasil, nas duas últimas décadas, mesmo que sua discussão história anteceda-se com as ideias defendidas por Comenius (1630). Segundo Saviani (2009) a preocupação mundial com a formação do professor, principalmente voltada para a instrução população, acontece com a Revolução Francesa, no século XIX, assim, a mobilização dos países, influência a corte Portuguesa a prover ensaios educacionais no Brasil. Entre os anos de 1827 a 1890, surgem as Escolas de Primeiras letras, tendo um método único que o professor deveria dominar. Mas, como não haviam professores formados, em 1834, por meio da Promulgação do Ato Adicional, segundo Saviani “que coloca a instrução primária sob a responsabilidade das províncias (...) com a criação de Escolas Normais”. Ou seja, primeira aparição de uma instituição pública voltada para a formação do professor e que se estabeleceu sem modificações até o ano de 1890. Somente no ano 1890, algumas reformas educacionais na formação do educador foram instigadas no Estado de São Paulo, que provocaram algumas melhorias no ensino, provocando uma adaptação em outros Estados Brasileiros. 33 Essas reformas, segundo Saviani Foi marcada por dois vetores: enriquecimento dos conteúdos curriculares anteriores e ênfase nos exercícios práticos de ensino, cuja marca característica foram a criação da escola-modelo anexa a escola Normal – na verdade a principal inovação da reforma. (2009, p. 145) Muitos Estados enviaram professores para estagiar ou realizar “missões” em São Paulo para atuar nos cursos de formação. A organização de institutos de educação, surgem em nosso pais por volta dos anos de 1932 a 1939, com a finalidade de se abrir Uma nova fase com o advento dos institutos de educação, concebidos como espaços de cultivo da educação, encarada como objeto do ensino e também da pesquisa. (SAVIANI, 2009, p. 145). Com inspiração nas ideias pedagógicas da Escola Nova, aderindo-se no currículo a fundamentação teórica da mesma. Entre os anos de 1939 a 1971, alguns institutos de educação, passa a se consolidar como Universidades, enriquecendo assim, os cursos de formação de professores para o ensino secundário da época, mas, mantêm-se ainda alguns institutos de educação para a formação primária. Com o golpe Militar e com a Lei nº 5692/71, a escola de normalista para a se chamar, formação para o Magistério, que Saviani explica com Pelo Parecer nº 349/72 (Brasil – MEC-CFE, 1972), aprovado em 6 de abril de 1972, a habilitação especial do magistério foi organizada em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.200 horas), que habilitariam a lecionar até 4ª Série; e outra com a duração de quatro anos (2.900 horas), habilitando ao magistério até a 6ª Série do 1º Grau. (2009, p. 147) Além dessa modificação, se ampliou os problemas com a formação por causa da mudança do currículo, para então suprir essas falhas, ofereceu-se em 1892, o Projeto de Formação e aperfeiçoamento do Magistério (CEFAMs), alcançando pontos positivos, mas, destituído por falta de quórum. 34 Somente em 1980, foram novamente levantadas algumas possíveis modificações nos cursos de licenciatura em Pedagogia, que para Saviani (2009, p. 148): À luz desse princípio, a maioria das instituições tendeu a situar como atribuição dos cursos de Pedagogia a formação de professores para a Educação Infantil e para as séries iniciais do ensino de 1º Grau (Ensino Fundamental). As alterações e preocupações expostas em relação à formação para a Educação infantil e anos iniciais do fundamental, são novamente ressaltadas na Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional, nº 9394/96, exigindo formação superior até a próxima década, promovendo assim, a formação aligeirada de alguns professores, com algumas instituições de cursos superiores à distância. Para Saviani a formação dos docentes no Brasil, por mais modificações propostas nos decorres dos séculos, “não se encontrou até hoje, um encaminhamento satisfatório” (2009, p. 148). Principalmente em se tratando de Educação Especial, a formação docente ainda continua em aberto, como afirma Saviani “não se pode dizer que a educação especial não tenha sido contemplada na legislação em vigor” (2009, p. 152), mas a questão aqui apontada é a formação desse educador. Pois para Saviani(2009) a resolução CNE/CP 1, de 2006, que definiu as diretrizes do curso de pedagogia, no artigo 5º, inciso X e artigo 8º, inciso III, trata rapidamente em dois momento de Educação Especial. Vê-se que, nos dois dispositivos, a referência a Educação Especial é claramente secundária. No primeiro caso, a menção não chega a ser modalidade de ensino, mas apenas a situa no rol das várias situações demonstrativas da consciência da diversidade; no segundo caso, limita-se a uma atividade complementar, de caráter opcional, para efeito de integração dos estudos. (SAVIANI, 2009, p. 153). Observando as ponderações de Saviani (2009) acredita-se que, a formação dos professores de ensino fundamental ainda é falha e que a educação especial é uma modalidade de ensino que precisa de um espaço específico para a preparação desses educadores. 35 Como integrantes do corpo docente de uma escola regular ou especial, o tradutor da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, também, segundo a Lei 12095/98, de 11 de março de 1998, estabelece que, o interprete deve possuir [...] domínio da Língua de Sinais; ¨ conhecimento das implicações da surdez no desenvolvimento do indivíduo surdo; ¨ conhecimento da comunidade surda e convivência com ela; ¨ formação acadêmica, em curso de interpretação, reconhecido por órgão competente; ¨ filiação a órgão de fiscalização doexercício dessa profissão; ¨ noções de linguística, de técnica de interpretação, e bom nível de cultura; ¨profissional bilíngue;¨ reconhecido pelas associações e /ou órgãos responsáveis-, ¨ interprete e não explicador; ¨ habilitado na interpretação da Língua oral, da Língua de Sinais, da Língua escrita para Língua de Sinais e da Língua de Sinais para a Língua oral. Formação: preferencialmente 3º grau Requisitos para o exercício da função. (PARANÁ, 1998, p. 1). Assim, não só há uma preocupação com a formação do professor regente, mas, também com a do tradutor da língua. A Função de Mediador e de Intérprete e suas Contribuições para a Aprendizagem dos Alunos Para atuar em uma escola regular do Estado do Paraná, o interprete de Libras, tal como estabelece a Lei 12095/98, precisa ter formação e estar devidamente habilitado. Mas, ao se referir à função exercida, essa legislação vigente no Estado do Paraná, apresenta uma divisão entre a função de interprete de Libras, para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, assim como, para o Ensino Médio. Segundo os dados de apoio, cedidos pela Secretaria de Educação Especial do Estado no Paraná (2009), ao intérprete de Libras (Língua Portuguesa/TILS – Área da Surdez), caberia a função de: [...] oferecer suporte pedagógico à escolarização de alunos surdos matriculados na Educação Básica, da rede regular de ensino, por meio da mediação linguística entre alunos (s) surdo (s) e demais membros da comunidade escolar, de modo a assegurar o desenvolvimento da proposta de educação bilíngue (Libras/Língua Portuguesa). (PARANÁ, 2009, p. 13). 36 A proposta denota, mediar à tradução da Libras/Língua Portuguesa, cabendo ainda ao interprete exercer maiores funções explicativas da fala do professor, mas não interagir no processo de aprendizagem do aluno, apenas exercer sua função de mediador da língua e não da aprendizagem. No que se refere à outra função, cabe, segundo a Secretaria de Educação Especial do Paraná, ao Professor de Apoio Permanente em Sala de Aula, “atuar em sala de aula como mediador e interlocutor no apoio à comunicação entre o aluno, o grupo social e o processo de ensino e aprendizagem. Esse serviço de apoio especializado é nos estabelecimentos do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos” (2009, p. 13). Observado as duas funções, pode-se perceber que quanto ao apoio permanente, há a preocupação com a aprendizagem do aluno e não somente com a interação social, como ocorre na função do tradutor/interprete. Segundo Góes, “tendo em vista que o ensinar-aprender somente se dá na dialogia, a qualidade da experiência escolar dos surdos depende das formas pelas quais a escola aborda a questão da linguagem e concebe a importância ou o lugar das duas línguas” (2000, p. 29). Pode-se perceber que a presença de um interprete é extrema relevância, não só para a inserção e comunicação social do surdo, mas, também, para a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo do mesmo. Essa forma de educação chama-se, Educação Bilíngue. Pois, acordo com Lacerda, O objetivo da Educação Bilíngue é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a língua de sinais e a língua do grupo majoritário. (2000, p. 54) A inserção da criança surda no ensino regular exige das autoridades responsáveis a presença de um tradutor da língua para que o aprendizado significativo ocorra, proporcionando a esse aluno o direito a igualdade perante a sociedade. Para Lacerda, 37 Quando se opta pela inserção do aluno surdo na escola regular, esta precisa ser feita com muitos cuidados que visem garantir sua possibilidade de acesso aos conhecimentos que estão sendo trabalhados, além do respeito por sua condição linguística e por seu modo peculiar de funcionamento. (2000, p. 55). Ao exposto acima, fica clara a necessidade de um apoio de um interprete da língua, pois sem ela, o aluno surdo se torna incomunicável e não consegue se apropriar dos conhecimentos necessários. Assim, pode-se dizer que, o tradutor da Língua é um dos aparatos principais para a inclusão do surdo no ensino regular. Análise da Pesquisa. A análise a seguir, busca investigar as possíveis diferenças existentes entre a função do mediador e do interprete na aprendizagem de alunos, dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental Município de Campo Largo, PR, por meio dos pontos discutidos pelo Documento de Apoio da Secretaria Municipal de Educação Especial do Estado do Paraná (2009), vigente também em Campo Largo e por Lacerda (2000). A função do tradutor de Libras no Município de Campo Largo segue fielmente, como pode ser observado nas entrevistas realizadas com duas professoras que atuam e já atuaram no Município (aos iniciais do Fundamental) e pelo Estado (anos finais do Fundamental), ao proposto pela secretária do Estado, quanto aos serviços especializados. Constatou-se também, que há a presença de alunos inclusos no ensino regular do Município, tanto nos anos inicias e finais do ensino Fundamental, possibilitando a pesquisa. As duas professoras entrevistadas relataram que já atuaram tanto na função de interprete nos anos finais do fundamental, como também, nos anos iniciais como professoras de apoio permanente. Correspondendo assim, a real possibilidade de existência das diferentes funções do tradutor da língua. Pode-se extrair durante a entrevista com as professoras, que ambas demonstram maior interesse de trabalho com os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, pois de acordo com uma das entrevistadas 38 Acredito que, quando se trabalha como mediadora em sala de aula, o aproveitamento da aprendizagem do aluno se torna muito mais significativo, pois, acompanho diariamente o desenvolvimento do mesmo, além de participar ativamente na elaboração do plano de aula da professora, tirando dúvidas da mesma e combinando atividades que envolvam mais o aluno surdo, quanto aos outros alunos da turma. (Relato da professora entrevistada, 2010). Verifica-se que com o professor de apoio permanente e a relação direta do mesmo com o professor regente da turma, o aproveitamento da aprendizagem do aluno surdo se torna muito mais significativo. Já em relação a aprendizagem do aluno surdo, dos anos finais do fundamental, as professoras relatam que, por mais que a tradução da língua seja feita diariamente em todas as aulas, o interprete (assim denominado pólas entrevistadas) não consegue conversar e participar da elaboração do planejamento de todos os professores que trabalham na turma, além de, muitas vezes não terem a possibilidade nem mesmo de uma conversa informal com o professor sobre o aluno surdo e seu desenvolvimento. Uma das professoras entrevista relata ainda que Muitos dos professores fingem que o aluno não está presente, pois acreditam que a responsabilidade sobre o aluno, deve ser exercida, por nos interpretes. Não se preocupam em tirar suas dúvidas, quando o aluno pergunta alguma coisa, o professor nos olha e pede para que nos responda a dúvida do mesmo, sem ao menos perguntar se nós, interpretes, temos algumas dúvidas, pois nossa formação não está relacionada a disciplina ministrada por ele. (Relato da professora entrevistada, 2010). Assim, por mais que o interprete esteja presente diariamente na turma a função que lhe recai não está vinculada a sua formação inicial e continuada, mesmo que se tenha como exigência do Municípioe do Estado uma formação em nível superior, mas, vale lembrar que são diferentes disciplinas ministradas. Pois de acordo com Lacerda, “a interprete figura efetivamente como educador, atuando frente às dificuldades, dúvidas, questionamentos, ou distanciamento do aprendiz” (2000, p. 71), ou seja, o interprete atua como uma ancora para os alunos surdos, mas, se é produtivo ainda não se sabe. Considerações Finais 39 O que se verificou foi uma possível distinção na função do interprete e do professor de apoio permanente (mediação) , pois como interprete nos anos finais do ensino fundamental o professor só faz a mediação da língua, sendo seu apoio pedagógico fazer a tradução e mediar a aprendizagem por meio da mesma. Já nos anos inicias do ensino fundamental, o professor mediador ou de apoio permanente em sala, como o próprio nome já diz, permanece diariamente apoiando o professor da turma com a inclusão do surdo, realiza a tradução da língua, além de interagir na aprendizagem do mesmo. Sucintamente, pode-se verificar com a elaboração deste artigo uma preocupação com o aluno surdo incluso nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, mas, precisa um aprimoramento dos professores regentes para o tratamento com a inclusão de alunos surdos no ensino regular. Dessa forma, acredita-se que a formação do professor, mesmo em outros cursos de licenciatura, precisa conter em seu currículo a preocupação em formar o mesmo para conviver e atuar com alunos com necessidades educacionais especiais, inclusos na rede regular de ensino. Referências 40 GÓES, M. C. R; LACERDA, C. B. F. (Orgs.). Surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2000. PARANÁ, Governo do. Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional: Semana Pedagógica – 02 a 06 fevereiro de 2009. Disponível em: www.diadia.pr.gov.br/arquivo/file/deein_sem_ped_2009.pdf. Acesso em: 08/05/2010. SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, v. 14, nº40, jan/abr 2009. Disponível em: www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf Acesso em: 20/05/2010. 41 DISPONÍVEL EM: http://www.faesi.com.br/nucleo-de-pesquisa-cientifica/75-portal-do-saber/224-a- importancia-do-ensino-de-libras-na-educacao-fundamental AUTORES: CRISTIANE BASSANI** DILAINE APARECIDA SBARDELOTTO ACESSO EM: 02/06/2016 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE LIBRAS NA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL* CRISTIANE BASSANI** 42 DILAINE APARECIDA SBARDELOTTO *** RESUMO Este artigo tem por finalidade evidenciar a importância da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), para o desenvolvimento do surdo fazendo uma abordagem de sua origem enfatizando a importância do estudo da mesma e do seu ensinamento das escolas, especificamente na Escola Municipal Geraldo Caldani, situada em São Miguel do Iguaçu. Este artigo teve como objetivo promover a sociabilização de deficiente auditivo em uma sociedade dominante, a qual encontram-se educadores não qualificados nesta área de ensino e ambiente inadequado para o entendimento necessário do aluno em estudo, relevando as maiores dificuldades dos professores e quais as influências no processo ensino - aprendizagem que envolvem os pais. Baseando-se no princípio “igualdade de oportunidade” e “educação para todos”, é que se questiona a escolarização aos alunos considerados portadores de necessidades especiais, e um compromisso assumido pelo Brasil no combate à exclusão de toda e qualquer pessoa no sistema educacional de ensino. Obviamente enfrenta-se um desafio, tomar a escola um espaço aberto e adequado ao ensino inclusivo. Sabe-se que muitos obstáculos são encontrados, particularmente sobre os princípios da educação inclusiva para que atenda as especificidades de cada aluno portador de deficiência auditiva, mas para que haja uma verdadeira inclusão, é preciso que os professores também tenham apoio dos familiares do portador de deficiência, promovendo a acessibilidade do mesmo em classe de ensino regular para que possa adquirir incentivos a autonomia e o espírito crítico criativo e passe a exercer a sua cidadania. PALAVRAS – CHAVE: Inclusão, educação, deficiente auditivo, ensino de LIBRAS. INTRODUÇÃO Na discussão sobre a educação dos surdos, devem-se relevar as necessidades e dificuldades linguísticas dos mesmos. Atualmente, entende-se, na educação desses alunos, a primeira língua deve ser a de sinais, pois possibilitam a comunicação inicial na escola em que eles são estimulados a se desenvolver, uma vez que os surdos possuem certo bloqueio para a aquisição natural da linguagem oral. 43 O ensino de libras vem sendo reconhecido como caminho necessário para uma efetiva mudança nas condições oferecidas pela escola no atendimento escolar desses alunos, por ser uma língua viva, produto de interação das pessoas que se comunicam. Essa linguagem é um elemento essencial para a comunicação e fortalecimento de uma identidade Surda no Brasil e, dessa forma, a escola não pode ignorar no processo de ensino aprendizagem. A educação inclusiva se orienta pela perspectiva da diversidade, com metodologias e estratégias diferenciadas, com responsabilidade compartilhada, cuja capacitação do professor passa pelo conhecimento sobre a diversidade, com a família, responsabilidade para com o exercício da profissão. As transformações acontecem na atividade principal, quando o aluno está dentro da sala de aula. Este é o principal motivo de haver modificação, pois sem ela, não haverá mudança, considerando que as relações e a constituição do ser humano acontecem nas situações mais ocultas da vida. Segundo Quadros (1998, pg. 64), assim como as línguas faladas às línguas de sinais não são universais: cada país apresenta a sua própria língua. No caso do Brasil, tem - se a LIBRAS. O ensino de dessa linguagem é uma questão preocupante no contexto da educação dos surdos, pois o reconhecimento da importância do estudo da mesma no ensino de surdos, ainda é deixado de lado. Portanto há uma necessidade maior de reflexão no sentido de evidenciar a sua importância. De acordo com FRITH (1985,1990 p. 1503): “A dislexia do desenvolvimento consiste numa interrupção da progressão da leitura ao longo dos estágios logográfico, alfabético e ortográfico. Nessa dislexia, a criança tem dificuldades para progredir do estágio logográfico ao alfabético, e em desenvolver a rota fonológica. Assim, ela tende a fazer leitura visual de um conjunto limitado de palavras de sobrevivência de alta frequência que conseguiu memorizar, e comete erros visuais envolvendo a composição grafêmica das palavras”. A principal função da escola é possibilitar ao aluno adequar-se ao conhecimento ensinado pelo professor. Neste processo de ensino aprendizagem, os conceitos oferecidos pela escola interagem com os conceitos do senso comum aprendidos no cotidiano e, nessa interação é que a escola reorganiza os ensinamentos modificando-os, que se consolidam a partir do senso comum. 44 Para essas reflexões serem realizadas, as bases teóricas foram buscadas em estágios em salas de aula, em questionários aplicados a professores especializados e em bibliografia de outros autores como: Heloisa Maria Moreira Lima Salles, Enilde Faulstich, Orlene Lúcia Carvalho, Ana Adelina Lopo Ramos, CarlosSkiliar, entre outros, pois desenvolvem pesquisas e análises de suma importância apresentado no devido artigo. A LIBRAS – Linguagem Brasileira de sinais A libra, não é apenas uma linguagem, uma vez que prestam as mesmas funções das línguas orais, pois ela possui todos os níveis linguísticos e como toda língua de sinais, a LIBRAS é uma língua de modalidade visual-gestual, não estabelecida através do canal oral, mas através da visão e da utilização do espaço. Como a língua de sinais se desenvolve de forma, é lógico e aceitável que os surdos se comuniquem naturalmente utilizando as mãos, cabeça e outras partes do corpo, por estarem privados da audição. Sobre isto, SALLES (2004), menciona: “A LIBRAS é adotada de uma gramática constituída a partir de elementos Constitutivos das palavras ou itens lexicais e de um léxico que se estruturam a partir de mecanismos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos que apresentam também especificidades, mas seguem também princípios básicos gerais. É adotada também de componentes pragmáticos convencionais codificados no léxico e nas estruturas da LIBRAS e de princípios pragmáticos que permitem a geração de implícitos sentidos metafóricos, ironias e outros significados não literais. A LIBRAS é a língua utilizada pelos surdos que vivem em cidades do Brasil, portanto não é uma língua universal. ” Histórico da Língua Brasileira de Sinais na Educação de Surdos Não se sabe certo onde surgiu a língua de sinais nas comunidades surdas, mas foram criadas por homens que tentaram recuperar a comunicação através dos demais canais por terem um impedimento auditivo. Não existem registros oficiais do 45 surgimento da língua de sinais no mundo. Alguns educadores, mesmo fracassando não mediam esforços para fazer os surdos falarem, inclusive no Brasil, já outros, criavam adaptações técnicas e metodologia especifica para ensinar os surdos levando em consideração as suas diferenças linguísticas. No entanto, vários surdos sinalizavam entre si, criando um momento propício para a constituição de uma língua de sinais. Desenvolvimento da pessoa surda A relação entre o homem e o mundo acontece mediada pela linguagem, porque permite ao ser humano planejar suas ações, estruturar seu pensamento, registrar o que conhece e comunicar-se. A língua é o principal meio de desenvolvimento do processo cognitivo do pensamento humano. Por isso a presença de uma língua é considerada fator indispensável ao desenvolvimento dos processos mentais. A disposição de um ambiente linguístico é necessária para que a pessoa possa sintetizar e recriar os mecanismos da língua. É através da linguagem que a criança percebe o mundo e constrói a sua própria concepção. Com bases na pesquisa realizada a Escola Municipal Geraldo Caldani, percebemos que os surdos possuem desenvolvimento cognitivo compatível de aprender como qualquer ouvinte, no entanto, os surdos que não adquirem uma língua, têm dificuldade de perceber as relações e o contexto mais amplo das atividades em que estão inseridos, assim o seu desenvolvimento e aprendizagem ficam fragmentados. Segundo Lúria (1986), os processos de desenvolvimento da linguagem incluem o conjunto de interações entre a criança e o ambiente tornando-se necessário desenvolver alternativas que possibilitem os alunos com surdez adquirir linguagem aperfeiçoando esse potencial. Quando uma criança surda tem acesso a sua língua natural, ou seja, a língua de sinais, ela se desenvolve integralmente, pois tem inteligência semelhante à dos ouvintes, diferindo apenas na forma como aprendem que é visual e não oral-auditiva. No entanto, a maioria das crianças surdas vêm de famílias ouvintes que não dominam a língua de sinais, e por isso, é essencial a imersão escolar na primeira língua das 46 crianças surdas, já que essa aquisição da linguagem permitem o desenvolvimento das funções cognitivas. A LIBRAS no contexto do Ensino Fundamental A escola é muito importante na formação dos sujeitos em todos os seus aspectos. É um lugar de aprendizagem, de diferenças e de trocas de conhecimento, precisando, portanto, atender a todos sem distinção, a, fim de não promover fracassos, discriminações e exclusões. Diferente dos ouvintes, grande parte das crianças surdas entram na escola sem o conhecimento da língua, sendo que a maioria delas vem de famílias ouvintes que não sabem a língua de sinais, portanto, a necessidade que a LIBRAS seja, no contexto escolar, não só língua de instrução, mas, disciplina a ser ensinada, por isso, é imprescindível que o ensino de LIBRAS seja incluído nas séries iniciais do ensino fundamental para que o surdo possa adquirir uma língua e posteriormente receber informações escolares em língua de sinais. O papel da língua de sinais na escola vai além da sua importância para o desenvolvimento do surdo, por isso, não basta somente a escola colocar duas línguas nas classes, é preciso que haja a adequação curricular necessária, apoio para os profissionais especializados para favorecer surdos e ouvintes, a fim de tornar o ensino apropriado a particularidade de cada aluno. Sobre isso Skliar menciona: Segundo SKLIAR (2005, p. 27): “ Usufruir da língua de sinais é um direito do surdo e não uma concessão de alguns professores e escolas”. A escola deve apresentar alternativas voltadas ás necessidades linguísticas dos surdos, promovendo estratégias que permitam a incursão e o desenvolvimento da língua de sinais como primeira língua. As diferentes formas de proporcionar uma educação à criança de uma escola, dependem das decisões político-pedagógicas adotadas pela escola. Ao optar por essa educação, o estabelecimento de ensino assume uma política em que duas línguas passarão a ser exercitadas no espaço escolar. 47 Preparação dos profissionais Deve-se pensar em uma preparação para os profissionais para incluir crianças com necessidades especiais no ensino fundamental, pois nesse processo, o educador irá estar diretamente interligado com esses alunos favorecendo o desenvolvimento das habilidades para a prática pedagógica, com o auxílio de um programa assistencial infantil, que atende essas crianças, que obrigatoriamente deve estar presente na escola. Quando ocorre o preconceito da sociedade quanto ao deficiente auditivo, é preciso que haja educadores qualificados e ambiente adequado para o atendimento aos alunos amenizando essa problemática, dando importância à perspectiva de atender as exigências da sociedade que só alcançará seu objetivo quando todas as pessoas tiverem acesso à informação e conhecimento necessário para a formação de sua cidadania. Em meio a discussões sobre os questionários aplicados a profissionais na escola Geraldo Caldani, releva que para o desempenho das atividades pedagógicas em relação às crianças com deficiência auditiva, devem receber assessoramento da equipe pedagógica e de intérpretes que atendem as necessidades dos alunos surdos inclusos no ensino regular. A inclusão do deficiente auditivo deve ser integral, acima de tudo, digna de respeito e direito a educação com qualidade atendendo aos interesses individuais e nos grupos sociais. A educação especial passa por uma transformação em termos da sua concepção e diretrizes legais. É preciso estabelecer um plano de ação político- pedagógico que envolva a inclusão das pessoas portadoras de necessidades especiais. Faz-se necessário lembrar que a Educação Especial delineia um processo de construção e compreensão de posicionamentos quanto às orientações e diretrizes atuais.
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