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Material de Apoio UNIDADE 1 - Hermenêutica Jurídica

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Material de Apoio		 	 Prof. Dr. Vitor Hugo Mota de Menezes
HERMENÊUTICA JURÍDICA
1. Considerações gerais 
Inicialmente, cumpre esclarecer que a linguagem é a base das relações sociais e em razão disso, o direito sofre influência de como esta organiza o seu ordenamento jurídico (fazendo-se necessário saber interpretar as normas). 
É importante destacar que toda linguagem tem um certo grau não eliminável de incertezas, portanto, é inevitável que o intérprete produza, ou ajude a produzir, o sentido daquilo que interpreta, não por um lado isolado, mas num processo de construção que tenha contribuição dos diversos métodos e técnicas de interpretação, que damos o nome de hermenêutica.
O termo hermenêutica, de origem grega, é possivelmente oriundo de "Hermes", o deus que, na mitologia grega, foi considerado o inventor da linguagem e a escrita. Hermes, também, tinha a função de trazer as instruções dos deuses para o entendimento do ser humano, o que já mostra as ligações iniciais entre hermenêutica e a teologia. A hermenêutica surgiu primeiramente na teologia pagã, depois migrou para a teologia cristã, de onde migrou para a filosofia e só depois para o direito.
Dessa forma, o estudo da hermenêutica jurídica, ou seja, a técnica e os métodos para a correta interpretação das leis se torna fundamental para o estudo da ciência do direito. Justamente por isso, o presente material servirá de apoio para estudo apresentando a hermenêutica e os diversos métodos de interpretação. Insta ressaltar, que a hermenêutica não vem com um manual prático, ou um passo a passo do que seguir, mas o estudo, a pesquisa e a busca por sua compreensão e aplicação, demandam discussões filosóficas que merecem atenção dos operadores do direito.
Tanto a norma, quanto a construção da interpretação (sentido) da norma surgem nos debates, nas reuniões, nas sentenças proferidas por juristas e doutrinadores, razão porque torna-se necessário decifrar os processos de interpretação, compreensão, crítica e as formas de interpretação do ato comunicativo jurídico.
2. UMA BREVE VISÃO HISTÓRICA
O processo metodológico de interpretação iniciou-se através Santo Agostinho, através da obra "Da Doutrina Cristã", buscando uma compreensão das escrituras adotando a metodologia de interpretação literal e alegórica. Durante a idade média, Tomás de Aquino se destacou por tentar interpretar as escrituras com o pensamento de Aristóteles. Seguindo a este período,vem a Reforma protestante, pregando que a bíblia deveria ser a única fonte da fé, infalível e auto-suficiente, não devendo se utilizar de fontes externas para sua interpretação.
No século XIX, com o surgimento do protestantismo liberal, através de Schleiermacher[footnoteRef:1] a hermenêutica ingressou no ramo filosófico e nas ciências culturais.Ele propôs um método histórico-crítico para interpretação das escrituras. Schleiermacher achava que a bíblia era uma fonte histórico-literária e que tinha de ser separada a interpretação gramatical da interpretação técnica. [1: SCHLEIERMACHER, Friedrich D.E. Hermenêutica: arte e técnica da interpretação. 5.ed.Trad. Celso Reni Braida. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2006.] 
Dilthey[footnoteRef:2], levou a hermenêutica para o campo das atividades filosóficas, segundo ele o texto deveria ser estudado pelo contexto, e que o autor era o instrumento do "espírito da sua época". Graças a Dilthey e Schleiermach a hermenêutica cria uma teoria normativa de interpretação, surgindo uma hermenêutica jurídica Clássica. [2: DILTHEY, Wilhelm. “Origens da hermenêutica”, in: Textos de hermenêutica. Trad. Alberto Reis. Lisboa: Rés, 1984.] 
Contrapondo-se a este dois filósofos surgiram Heidegger[footnoteRef:3] e Gadamer[footnoteRef:4]. O primeiro descrevia a hermenêutica como uma filosofia e não uma ciência,deveria ser entendida de modo existencial e não metodológico. Este brilhante filósofo que apresentou pela primeira vez a idéia do círculo hermenêutico.São suas as palavras: "Devemos partir de uma pré-compreensão para chegarmos a uma compreensão mais elaborada (interpretação), pois se partíssemos do ´vazio´ não chegaríamos a nada". [3: HEIDEGGER, Martin. A essência da linguagem. In: A caminho da linguagem. Trad. Márcia de Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2003.] [4: GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.] 
Gadamer, seguindo a linha de pensamento de Heidegger, defendeu a hermenêutica existencial, que deveria ser o próprio objeto da filosofia. Com esta visão, o intérprete não chegaria, através de nenhum método, a verdade, pois o próprio método já estabeleceria, o ponto que se queria alcançar. Em sua visão, o método escolhido definiria o ponto final da interpretação. Ele via a interpretação como um diálogo entre o intérprete e o texto. Gadamer acreditava na teoria do círculo hermenêutico, com perguntas e respostas condicionadas a pré-conceitos e pré-juízos, sem o sentido pejorativo destas palavras em nossa atualidade.
O mais metódico dos filósofos apresentados até aqui era Friedrich Savigny[footnoteRef:5], fundador da hermenêutica jurídica clássica, voltada exclusivamente para o direito privado. [5: SAVIGNY, Friedrich Karl von. Sistema del Derecho Romano Actual. 2. ed. Tradução Jacinto Mesía; Manuel Poley. Madrid: Editorial de Góngora, [s/d]. t. I.] 
Friedereich Puchta[footnoteRef:6], discípulo de Savigny, teve méritos em conduzir a Escola Histórica a uma visão extremamente formalista do direito, dando origem a Jurisprudência dos Conceitos - Deveria ser extraído, por abstração, conceitos gerais de normas jurídicas gerais, depois em um segundo momento, extrair conceitos específicos dos gerais mediante aplicação do método dedutivo ou lógico-formal, criando-se assim uma pirâmide de conceitos, servindo depois de instrumental para integração das lacunas da lei. [6: Conforme HART, H. L. A. Jhering’s Heaven of Concepts. In: Essays in Jurisprudence and Philosophy. New York: Oxford University Press, 2001. p. 265-277.] 
Um pouco mais adiante na linha do tempo, surgiu Rudolf Von Ihering[footnoteRef:7], contrapondo-se a Savigny, classificou o direito como ciência cultural. Para Ihering "a sociedade é palco de uma luta de interesses e as normas jurídicas protegem aqueles interesses que conseguirem se impor socialmente". Ele também foi importante no desenvolvimento da interpretação teleológica, a partir da ênfase na sociedade. [7: IHERING, Rudolf von. A luta pelo direito. São Paulo: Martin Claret, 2000.] 
Seguindo a linha temporal surge Kelsen[footnoteRef:8], que classificou o Direito como ciência formal, como a matemática. Removendo desta tudo que estivesse ligado a valores sociológicos e políticos, buscando sempre a neutralidade. Kelsen deu um formato piramidal ao ordenamento jurídico, sendo que a mais geral ficava no topo e a mais específica na base. Em razão de não considerar o Direito como ciência do espírito, não deixou nenhum método hermenêutico,conforme deixou claro no oitavo capítulo de sua obra, que não há qualquer critério ou "meta-critério" que possa estabelecer que uma interpretação é melhor (mais acertada) que a outra. [8: KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.] 
Por fim, a atual hermenêutica,tem sido em grande parte influenciada nos pensamentos de Heidegger e Gadamer, apesar de utilizarmos as técnica e princípios clássicos de interpretação, recorre-se ao peso de cada norma correspondente à intensidade com que são vivenciadas na sociedade. Como para julgar, obrigatoriamente um juiz terá uma gama de pré-juízos e de pré-conceitos, essa bagagem irá influenciar no julgamento, tendo este uma forte conotação existencial. Até os que se utilizam da doutrina irão utilizar em seu julgamento uma interpretação dialética formada também com seus conceitos prévios.
No decorrer do tempo surgiram várias escolas de interpretação das leis, as quais serão objeto de estudo da Unidade II do Programade Ensino.
2. HERMENÊUTICA, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DO DIREITO
O estudo desta matéria exige que se estabeleça, inicialmente, uma distinção entre hermenêutica, interpretação e a aplicação do direito. Que são conceitos diversos, porém que estão sempre em um formato convexo, sendo parte do mesmo processo.
A hermenêutica tem como objetivo básico, a interpretação - esclarecer o sentido e o alcance das expressões jurídicas e a aplicação no caso concreto, porém ela não é exclusivamente um método de interpretação.
O jurista Vicente Ráo[footnoteRef:9], em sua brilhante obra " o direito e a vida dos direitos" apresenta-nos o seguinte conceito de hermenêutica: [9: Ráo, Vicente. O direito e a vida dos Direitos. 5. ed. Anotada e atualizada por Sandoval, Ovídio Rocha Barros – São Paulo: RT, 1999.] 
"A hermenêutica tem como objetivo investigar e coordenar por modo sistemático os princípios científicos e leis decorrentes, que disciplinam a apuração do conteúdo, no sentido e nos fins das normas jurídicas e a restauração do conceito orgânico do direito, para o efeito de sua aplicação;"
Neste conceito podemos observar que a hermenêutica possui um processo sistemático de interpretação, que se vale de métodos e leis científicas para apuração do conteúdo, ou seja a busca do sentido, para sua correta aplicação. A palavra interpretação é originária do latim e quer dizer "entre entranhas", e isso se deve a prática religiosa dos feiticeiros e adivinhos, que introduziam suas mãos entre as entranhas de um animal morto a fim de conhecer o destino das pessoas de obter respostas para o problema humano. De acordo com o livro “hermenêutica e a unidade axiológica da constituição" de Glauco Magalhães[footnoteRef:10]. [10: Magalhães Filho, Glauco Barreira. Hermenêutica e unidade axiológica da Constituição. 1. ed. Belo Horizonte:Mandamentos, 2001] 
"... os sacerdotes supremos do paganismo e os feiticeiros do passado falavam em uma linguagem extremamente obscura, o que tornava necessária a interpretação de seus pronunciamentos, levada a cabo pelos sacerdotes menores ou auxiliares. inicialmente por interpretação religiosa era casuística e desprovido de critério técnico, o que levava à indistinção entre hermenêutica (teoria científica) e interpretação (ato cognitivo)."
Hoje porém, a hermenêutica jurídica utiliza a interpretação como um dos processos de entendimento do sentido das normas, que apesar de ser convergente não tem o mesmo significado.
A interpretação por meio de regras e processos especiais, procura realizar, praticamente, estes princípios e estas leis científicas; do outro extremo, a aplicação das normas jurídicas consiste na técnica de adaptação aos preceitos nela contidos e assim interpretados, as situações de fato que lhes subordinam. A hermenêutica lança mão da interpretação para alcançar o sentido preciso do sentido jurídico da norma e depois a aplica ao caso concreto.
Ficou bem claro assim, a distinção entre hermenêutica, interpretação e aplicação, três disciplinas distintas, sem ligação, porém com um foco em comum - interpretar e aplicar. Mais uma vez citando Vicente Ráo - "aquilo que as distingue é, tão-somente, a diferença que vai entre a teoria científica, sua prática e os diferentes modos técnicos de sua aplicação."
3. A INTERPRETAÇÃO - AUSLEGUNG E SINNGEBUNG
Existe um vocábulo usado pelos alemães, auslegung (que abrange o conjunto das aplicações da hermenêutica), que resume o significado de 2 termos técnicos ingleses - interpretations e construction, que parece ser mais amplo e ao mesmo tempo mais preciso do que a palavra portuguesa correspondente, qual seja “interpretação”. É nesse sentido que a interpretação larga de ser um processo reprodutivo (Auslegung) e torna-se um processo produtivo (Sinngebung).
Outro ponto importante e que deve ser levado em consideração é a impossibilidade do intérprete se colocar em outro lugar, ou seja, o acontecer da interpretação ocorre a partir de uma fusão de horizontes. Para interpretar, precisamos obrigatoriamente compreender, temos que ter uma pré-compreensão de algo que devemos interpretar (segundo Hans-Georg Gadamer), portanto o processo de interpretação é baseado em uma soma de conhecimentos previamente adquiridos, posto que ninguém interpreta, sem antes compreender.
No processo de interpretação, não necessariamente a interpretação jurídica, a primeira operação do raciocínio é a compreensão. Quando um emissor envia uma mensagem para um receptor este deve captar literalmente a mensagem do emissor com a preocupação gramatical do enunciado. Este tipo de interpretação gramatical é como dizemos, o primeiro passo para tradução das idéias do emissor.
Depois desta interpretação gramatical vem o que podemos denominar de interpretação stricto sensu, vista como a segunda operação do raciocínio. O receptor, depois de recepcionada e compreendida a mensagem do emissor, deve julgá-la, com seu posicionamento ou com o auxílio de julgamento de outros emissores, ou, ainda, por meio das duas atividades. 
No mundo jurídico, por muito tempo considerou-se que o receptor deveria ter a compreensão como atividade única e exclusiva na direção do processo de interpretação, estava restrito a mera interpretação gramatical, conforme o brocardo in claris cessat interpretatio (a lei é clara e, por ser clara, é isenta de interpretação). Sendo clara a mensagem, bastaria compreendê-la e aplicá-la no fato concreto, não passando para outras operações do raciocínio. Este método é em si nebuloso e incompleto, pois mesmo que a idéia esteja clara é preciso que o receptor depois de compreender a mensagem, venha a julgar e avaliar a informação vinda do emissor. 
Neste ponto Hans Kelsen afirmou que: "A norma é interpretada mesmo quando a lei é clara", e para Maximiliano[footnoteRef:11] "até o silêncio se interpreta" dado que ele traduz alguma coisa. Portanto tudo é passível de interpretação, desde o silêncio até a norma mais obscura. [11: MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica jurídica e aplicação do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1993.] 
Vencida esta fase prevalece hoje o entendimento hermenêutico jurídico de que a claridade é requisito essencial do ato comunicativo do emissor, mas que não completa a atividade do receptor, devendo este último, depois de compreender, julgar e avaliar a norma jurídica. Kelsen nos traz o seguinte pensamento: “... Portanto a norma não é apenas o pressuposto da interpretação mas o resultado da interpretação...". 
Visto através dos olhos deste brilhante Jurista, a norma deve ser interpretada de modo autêntico através de quem tem o dever de aplicar a norma (competência jurídica), não existindo desta forma uma única interpretação correta ou verdadeira, mas uma interpretação válida, dentro de um determinado limite (moldura).
4. PRÉ-CONCEITOS E PRÉ-JUÍZOS
O caráter produtivo (Sinngebung) da hermenêutica, apoiado em Gadamer, mostra que o processo de compreensão é fusão de horizontes, pois é impossível ao intérprete se colocar no lugar do outro, portanto compreender é um processo de fusão dos horizontes para si mesmo. Para compreender é necessário termos uma pré-compreensão, vinda necessariamente de pré-conceitos e pré-juízos presentes em todas as partes do processo de compreensão, para uma adequada compreensão da Constituição, devemos ter uma prévia teoria constitucional. Em outras palavras, um texto vai fazer vibrar algo que de certa forma já está, pelo menos em parte, presente em quem o interpreta. Via de regra, na hermenêutica jurídica temos a compreensão, a interpretação estrito senso e a crítica como os três processos necessários para a interpretação[footnoteRef:12]. [12: DAMIÃO, Regina Toledo. Curso de Português Jurídico. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2000.] 
Poderíamos então utilizar este método para a interpretação de normas jurídicas ou existem outros métodos mais acertados? De acordo com o jurista Vicente Ráo existem pelo menos cinco fases do ciclo da interpretação, devendo ser respeitadas por todo aquele que faz a interpretação de normas.
Duas operações iniciaisantecedem estas cinco fases, que todos que, juízes, juristas, administradores públicos, forem incumbidos de executar e aplicar as normas obrigatórias de direito, devem seguir:
a) a primeira, consiste na análise da situação de fato considerado em si e fora da esfera jurídica;
b) a segunda, a procura do indagar se esta situação é, ou não, disciplinada pelo direito e, em caso afirmativo, qual é a norma jurídica que se lhe deve aplicar e até que ponto a mesma situação dela se enquadra.
Por tenderem a um só e mesmo objetivo final, as duas operações são conexas; mas a elas se deve proceder sucessivamente e não concomitantemente. Vicente Ráo nos ensina:
"A primeira operação deve considerar a situação de fato na sua individualidade concreta, segundo o seu conteúdo de espírito e pensamento e de conformidade com sentimento que recebe no ambiente social em que se verifica. É operação preliminar, em relação a segunda, que se realiza, esta, sim no campo do direito."
Depois de alcançar o resultado através da operação preliminar é que a segunda operação se inicia, para descobrir como aquele fato já examinado incide ou não na tutela do direito normativo, e caso verdadeiro, qual a norma que a ele diz respeito.
Seguindo este método, o fato é analisado em confronto com o direito, que o submete ao processo de qualificação jurídica. E em que consiste a qualificação jurídica?
É a qualificação da situação de fato, isto é, no seu diagnóstico jurídico. Vamos citar um exemplo: quiseram, as partes, estipular um contrato? Que Contrato? De direito público ou de direito privado? civil ou comercial? Que espécie de contrato comercial ou civil? Existem normas jurídicas que o disciplinam? A surgindo dúvidas sobre uma cláusula particular, existe preceito normativo, que as resolva? Que preceito é esse? Legal, costumeiro, analógico, ou um princípio geral de direito? A resposta a todas essas indagações equivale a qualificação jurídica.
Mas, essas duas operações ainda não bastam. "Longo e árduo é o caminho que conduz as a aplicação do direito - Vicente Ráo". Depois de se descobrir qual a norma jurídica aplicável a espécie, preciso é, ainda, proceder a sua crítica formal e a sua crítica substancial. 
Em seguida, passa-se a interpretação da norma, investigando-se, segundo os princípios e leis científicas estabelecidas pela hermenêutica, qual é o seu fiel conteúdo e qual seu alcance, qual o seu sentido, quais seus fins; e na falta da norma, procede-se a operação dita integrativa do direito, que consiste na procura de um outro preceito, aplicável à espécie - deparamos então com um problema de lacuna do direito. Citando mais uma vez Vicente Ráo:
"E depois, só depois de todas essas operações, procede-se a adaptação do preceito normativo ao caso concreto, fechando-se, com esta ação terapêutica, o ciclo do tratamento jurídico da situação de fato. "
5. ADAPTAÇÃO DO PRECEITO NORMATIVO AO CASO CONCRETO
Cinco operações, ou fases, marca pois este ciclo de adaptação:
a) a análise direta do fato, ou diagnóstico do fato;
Tentamos nesta fase entender ou melhor, apreender esta realidade, que é em grande medida aquilo que interpretamos que ela seja. A realidade(fato) é apreendida pelo sujeito e reconstruída por ele. Processo subjetivo de apreensão do real.
b) sua qualificação perante o direito, ou diagnóstico jurídico;
Neste ponto, tentamos qualificar o fato em si, relacionando-o ao mundo jurídico.
c) a crítica formal e a crítica substancial da norma aplicável;
a crítica formal ou verificação formal da existência da lei, consiste em apurar a autenticidade formal da norma relacionada;a crítica substancial tende a apurar as condições da validade e vigência dos preceitos normativos.
d) a interpretação desta norma;
Impossível seria defini-la por uma fórmula universalmente aceita. Por enquanto, podemos aceitar a interpretação como sendo a operação lógica que, obedecendo aos princípios de leis científicos ditados pela hermenêutica e visando integrar o conteúdo orgânico do direito, apura o sentido e os fins das normas jurídicas, ou apura novos preceitos normativos, para o efeito de sua aplicação e as situações de fato incidentes na esfera do direito.
e) sua aplicação ou adaptação ou fato, ou caso concreto.
Consiste na sujeição de um fato da vida a uma regra jurídica correspondente, de modo a conseguir determinada conseqüência de direito.
6. O CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO
O conceito de interpretação varia de acordo com o sistema teórico adotado e este assunto tem grande variedade de doutrinas. Assim afirmava Vicente Ráo:
"Dessas doutrinas, um mas atribuem a interpretação o fim de descobrir a vontade do legislador; outras, o de apurar o sentido, ou o espírito da lei considerada em si, como ser autônomo, desligado de seus próprios antecedentes históricos; e outras, ainda, o de proteger e disciplinar as situações de fato segundo as necessidades sociais do momento em que as normas são aplicadas; outras mais, o fim de uma livre investigação do direito, para fim de si criar a norma reputada mais conveniente a ordem social. "
7. AS LEIS DE INTERPRETAÇÃO
A quem compete fixar as diretrizes e as regras da interpretação?
São estabelecidas pela doutrina e pela jurisprudência - respondem os principais autores, em sua generalidade, e assim explica Vicente Ráo:
"a) porque, resultantes da ciência jurídica pura, ou da atividade dos juízes e tribunais, esses ditames não permanecem inertes, antes acompanhando todas as transformações e vicissitudes da vida social, o que não aconteceria se fossem consolidadas em leis;
b) porque, se em leis se transformassem, as próprias normas interpretativas precisariam ser interpretadas, criando se, destarte, um verdadeiro círculo vicioso. "
Em síntese, todas as normas jurídicas estão sujeitas a interpretação, todas, sem exceção alguma - as leis, os atos do poder executivo, decretos, regulamentos, atos administrativos em geral, os usos e costumes, os princípios gerais do direito, os tratados e as convenções internacionais.
Cabendo à doutrina, à jurisprudência e à lei a tarefa de interpretar as norma jurídica, sua classificação possui três ramos: interpretação doutrinária, interpretação judicial e interpretação legal, também chamada legislativa ou autêntica. Claro que esta classificação depende da visão de cada autor e serve meramente para estudo das formas de interpretação. Norberto Bobbio[footnoteRef:13] apresenta em seu estudo a "interpretação segundo a letra e a interpretação segundo o espírito, ou ainda, interpretação estática e interpretação dinâmica e declarativa e integrativa(a analogia)". [13: Bobbio, Norberto. O positivismo jurídico: Lições de filosofia do direito. São Paulo: Ícone,1995] 
Bobbio apresenta em seu livro, positivismo jurídico - lições de filosofia do direito, os quatro meios de interpretação textual, citando "a interpretação é geralmente textual e em alguns outros momentos extra-textual; mas nunca será antitextual", não podendo de forma alguma ser extraído do texto algo que ali não esteja presente, mesmo que implicitamente, "nenhuma interpretação pode levar a soluções iníquas ou absurdas".
Savigny como já foi apresentado anteriormente, foi quem introduziu a hermenêutica no direito, vivificando a dogmática jurídica com o elemento crítico e elevando o direito à categoria de ciência. Graças a Savigny, que os chamados cânones tradicionais se estabeleceram, são eles:
a) a interpretação gramatical;
b) a interpretação lógica;
c) a interpretação sistemática;
d) a interpretação histórica.
8. INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
Bobbio se aproveitando destes conceitos dos cânones tradicionais de Savigny estendeu-os aos meios de interpretação textual, chamados meios hermenêuticos, e buscando no positivismo jurídico a reconstrução da vontade do que o legislador tentou expressar em uma lei, se vale destes meios hermenêuticos, que são:
a) meio léxico(filológico);
É oportuno primeiramente explicar o sentido de "léxico", que muitas vezes é erroneamente confundido com dicionário, vocabulário ou ainda como gramática. O léxico é reservadoà língua como um conjunto sistêmico posto ao usuário; é aberto e com um número infinito de palavras.
Este meio busca encontrar o significado dos termos usados pelo legislador, mediante uma comparação com textos lingüísticos nos quais os termos são utilizados. Também chamado de meio filológico, este meio consiste em um exame das palavras usadas pelo legislador, a fim de se apurar o sentido da relação, sendo um sentido comum. Vicente Ráo apresenta um método prático de 4 regras, a saber:
As palavras equivalem a primeira expressão das coisas, como as concebe o intelecto. Esse primeiro exame obedece ao processo gramatical ou filológico, que em múltiplas regras se desdobra, tais as seguintes, que apontamos como principais: 1º as palavras não devem ser, nunca, examinadas isoladamente, mas em seu conjunto e postas em confronto umas com as outras, consideradas como partes integrantes do texto;
2º se determinada palavra tem um sentido na linguagem comum e outro na linguagem jurídica, preferir-se-á este último, porque o direito tem sua linguagem própria, que o legislador deve conhecer;
3º mas possível é que o legislador haja empregado a linguagem comum e não a do direito e, neste caso, o exame da disposição, em seu todo, segundo a natureza jurídica da relação sobre a qual versa, revelará esta circunstância e determinará a adoção consequente do sentido comum do termo.
4º as palavras, comuns ou jurídicas, também podem ter sido usadas com impropriedade, equivocidade ou imprecisão; e, assim sucedendo, cumpre ao intérprete demonstrar a existência destes vícios e restabelecer ou reconstituir o preceito segundo a natureza da relação jurídica contemplada.
Depois destas quatro regras apresentadas, devemos observar que ao se aplicar a lei, não se pode atribuir outro sentido senão o que resulta claramente do significado próprio das palavras segundo sua conexão com a vontade do legislador. Para este fim o intérprete deve conhecer também as transformações pelas quais passam os sentidos das palavras com o correr do tempo. sobre isso Vicente Ráo escreve:
"O emprego e isolado da interpretação filológica e o abuso das regras gramaticais estagnam e mumificam o sentido dos textos, impedem sua adaptação as necessidades sociais sempre mutáveis e sempre revestidas de modalidades novas, dificultam a evolução natural do direito. Mas, apesar de todas essas cautelas, embora consiga apurar filologicamente o sentido do preceito normativo, o intérprete não se deve dar por satisfeito. E, principalmente, não deve ter apego ao sentido literal dos textos, abandonando os demais processos de interpretação. "
b) meio teleológico;
Diz Bobbio, que este meio, também chamado de interpretação lógica - expressão imprópria, na ótica deste jurista, visto que se trata de um meio interpretativo baseado na ratio legis, que nada mais é que o motivo ou finalidade para os quais a norma foi posta.
Este meio teleológico, também conhecido como lógico-jurídico, busca como já foi citado anteriormente por Bobbio a razão que justifica e fundamenta o preceito - ratio legis. Esta razão ou motivo, deve conduzir o intérprete na busca da vontade e do pensamento que anima a própria norma, não no querer subjetivo do legislador. Deve então ser entendida como vontade objetiva da lei ou em última análise, vontade coletiva do Estado, que pode ser traduzida como vontade ou necessidade de segurança jurídica. "A essência da cooperação de uma coletividade, faz com que o conteúdo da vontade, que chegou a tornar-se obrigatória, deva considerar-se como sendo a vontade da coletividade"(Ennerecus Apud Maximiliano - hermenêutica e aplicação do direito).
c) meio sistemático;
Consiste na análise do texto da lei com a própria lei ou ainda com as demais leis do ordenamento, é a relação feita no interior da própria lei e a relação entre esta mesma lei e todas as outras. Este meio busca manter a coerência e unidade do sistema jurídico.
No direito positivo melhor se apura o sentido de uma lei quando se compara com todas as outras leis no conjunto em que faz parte. Assim nos ensina Maximiliano: "Por umas normas se conhece o espírito das outras, que estão ligadas todas, entre si, por identidade ou afinidade de princípios".
d) meio histórico.
Depois de percorrer os exames léxico, teleológico e sistemático, o bom intérprete continua sua tarefa no exame do meio histórico. Diz Bobbio - "... consiste na utilização de documentos históricos diferentes do texto legislativo... estudo dos trabalhos preparatórios...". O legislador revela a consciência comum do povo, dá forma e poder à solução de suas necessidades jurídicas, o Estado positiva o direito mas não o cria longe da realidade social. Esta realidade está sujeita a um processo de evolução, comum em toda sociedade. É imprescindível o estudo das necessidades sociais que provocaram o amadurecimento e criação desta norma, assim como os antecedentes históricos das normas jurídicas, que são representados pelos trabalhos legislativos de sua criação, dessa forma temos:
1) Necessidade do estudo circunstancial de criação da norma;
2) Estudo dos antecedentes históricos (trabalhos legislativos).
9. INTERPRETAÇÃO EXTRATEXTUAL
O principal método de interpretação extratextual é o raciocínio por analogia. A analogia é a operação lógica mediante a qual se suprem as omissões da lei, aplicando à apreciação de uma dada relação jurídica as normas de direito objetivo disciplinadoras de casos semelhantes.
Dois meios são utilizados no processo de interpretação extratextual, a do método indutivo (mediante a interpretação analógica), fundada no raciocínio por analogia(analogia legis), e o método dedutivo que consiste na descoberta do princípio encontrado no fato, e através deste princípio aplica-se norma semelhante, que use este mesmo princípio(analogia juris).
A analogia legis, utiliza uma forma de raciocínio semelhante ao silogismo, ou seja descobrir certas consequências já presentes nas premissas dadas. Esta analogia é encontrada através da ratio legis, "o elemento que induz um legislador a proibir a venda de livros obscenos é a obscenidade, podendo desta forma se extender a venda de filmes obscenos, pois os dois tem a mesma causa, a mesma razão da lei, que é obviamente a obscenidade", assim nos ensina Bobbio. Analogia legis é um termo que revela desde logo, idéia de proporção, de correspondência, de semelhança entre leis. Caracteriza-se pela aplicação da lei a caso semelhantes por ela previsto, ou seja, parte de um preceito legal e concreto, e faz a sua aplicação aos similares.
Vale aqui citar dois antigos brocardos do direito que dizem: Ubi eadem ratio ibi idem jus, isto é, onde houver o mesmo fundamento haverá o mesmo direito, ou Ubi eadem legis ratio ibi eadem dispositio - onde impera a mesma razão deve prevalecer a mesma decisão.
A analogia juris, não se baseia no raciocínio por analogia, mas sim em extrair filosoficamente os princípios gerais que disciplinam determinado ordenamento jurídico. Esta opção só pode ser utilizada quando não existe efetivamente nenhuma norma análoga ao caso concreto. Assim nos apresenta, oportunamente, Paulo Dourado de Gusmão[footnoteRef:14]: [14: GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo do Direito. 33. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 69-70.] 
..."que a analogia não deve ser confundida com os princípios gerais de direito, porque, em caso de recurso à analogia, existe norma expressa para um caso semelhante ao caso não previsto, ao passo que, para se recorrer a tais princípios é necessária a inexistência de norma expressa análoga. Esgotado o processo analógico, inexistindo norma do direito consuetudinário a ser aplicada, resta ao juiz apenas o recurso aos princípios gerais de direito".
Para Tércio Sampaio[footnoteRef:15], a analogia iuris é uma espécie de conjugação de dois métodos lógicos: a indução e a dedução. "Partindo de casos particulares, obtém-se um caso geral do qual resultam princípios os quais se aplicam, então dedutivamente, a outros casos." [15: SAMPAIO, Tércio Sampaio Ferraz. Introduçãoao Estudo do Direito: técnica, decisão, dominação. 
61. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 324-325.
] 
10. OS DENOMINADOS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
Hans Kelsen afirma em seu livro que não existe critério pelo qual podemos escolher esta ou aquela outra forma de interpretação, não existe portanto uma única interpretação correta da norma. Existe sim, a escolha da interpretação válida, e esta interpretação prevalecerá. Mas quais são os critérios para determinação da validade da interpretação? Existem vários métodos que os autênticos intérpretes lançam mão para conseguir a válida interpretação. Kelsen afirmava que o autêntico intérprete poderia ser o juiz, o legislador, o administrador, todo e qualquer um que tivesse o dever de aplicar a norma, esse dever de aplicação ele chamou de competência jurídica.
a. A interpretação doutrinária
Os juristas, ou estudiosos da ciência do direito, estudam casos isolados, reúnem fatos, experiências e através destes compêndios encontram lacunas no direito. Todo este material é então utilizado para compreensão e extração dos princípios do direito e a partir deles buscar aplicação e elucidação no caso concreto.
Hans Kelsen, que ganhou enorme notoriedade por buscar incessantemente uma teoria pura do direito, ou seja uma teoria com neutralidade axiológica. A teoria kelseniana do direito tinha a intenção de excluir da ciência jurídica as apreciações filosófica referentes a valores, e as sociológicas referentes aos fatos, tudo que estivesse ligado a Política. Citava em seus trabalhos que só através do jurista teórico era possível alcançar essa neutralidade, essa pureza necessária à interpretação da norma. Ele criticava pois, o trabalho do jurista prático, que em um momento volitivo escolhe um único sentido que satisfaça a necessidade do fato concreto. Nesse momento volitivo acaba a imparcialidade, a neutralidade do jurista e este escolhe uma única interpretação, valorada em seus princípios.
Sendo puramente teórica é a mais livre de todas as interpretações, esclarece Vicente Ráo:
"A interpretação doutrinária, ou científica, é obra dos juristas que, em seus tratados, compêndios, comentários, preleções, parecerem de estudos jurídicos em geral, analisam os textos a luz dos princípios filosóficos e científicos do direito. Não resulta da autoridade de quem a prática, por muito que o conceito e o prestígio de um jurista possam pesar e valer, resulta, sim, de seu caráter científico e especulativo, da força da convicção do raciocínio que envolve. "
b. A interpretação judiciária (jurisprudencial)
Resulta da atividade prática dos juizes e tribunais, que aplicam aos casos concretos os preceitos normativas de direito. Acertadamente nos ensina o eminente jurista Vicente Ráo:
O possui força obrigatória, mas só e unicamente sobre a espécie de fato, a que o respectivo julgamento se refere. Contudo, apesar da limitação de sua obrigatoriedade às espécies julgadas, bem revelam o alcance e a importância da interpretação judiciária, estes dois preceitos jurídicos fundamentais, os universalmente reconhecidos:
i. nem com o silêncio, a obscuridade ou a indecisão da lei, o juiz se exime de sentenciar ou despacha;
ii. a lei não pode excluir da apreciação do poder judiciário qualquer lesão de direito individual.
11.2.1 Pode a interpretação jurisprudencial afastar-se da interpretação científica ou doutrinária do direito?
Infelizmente isso acontece com excessiva freqüência. Devemos considerar entretanto, que o jurista, mesmo interpretando os textos, exerce também uma função propulsora do direito. Então o grupo de juízes e respectivos tribunais só tendem, em razão da própria natureza de suas funções, a adotar novas interpretações apenas quando consolidadas ou aceitas pela opinião de forma unânime, ou ao menos seguindo a tendência da maioria. A aproximação da interpretação cientifica é fundamental com a interpretação jurisprudencial, porém isto nem sempre acontece, visto que o processo de interpretação jurisprudencial,como já foi explicado anteriormente, é um processo volitivo,um processo de decisão e depende do entendimento(conhecimento) do juiz, que as vezes escolhe uma interpretação específica para o caso, nem sempre seguindo a tendência dominante entre os doutos.
11.2.2 A Síndrome de Abdula
Toda vez que surge no sistema normativo uma nova lei, os operadores do Direito, se tornam órfãos científicos à espera da jurisprudência dominante ou dos argumentos de autoridade(sic), esperando que o processo hermenêutico-dogmático lhes mostre o caminho correto, dizendo para eles o que é que a lei diz. Nesse comportamento se encontra a "síndrome de Abdula" explicado através de metáfora ppor Lenio Streck[footnoteRef:16]: [16: STRECK, Luiz Lenio. Hermenêutica Jurídica e (m) crise. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora. 2001.] 
" Pela história, Alá ditava o Corão para Maomé, que por sua vez, ditava para Abdula, o escrivão. Em determinado momento Maomé deixou uma frase interrompida. Instintivamente, o escrivão Abdula sugeriu-lhe a conclusão. distraído, Maomé aceitou como palavra divina o que dissera Abdula. Esse fato escandalizou o Escrivão, que abandonou o profeta e perdeu a fé. Abdula não era digno de falar em nome de Alá".
Não há exagero em fazermos uma analogia entre esta história e o que ocorre no cotidiano das práticas jurídicas. Assim como o personagem Abdula não sabia de sua força, os operadores do Direito não tem consciência de seu poder. Vivem aprisionados pela missão de apenas reproduzir os sentidos previamente dados por aqueles de fala autorizada, e esperam que a hermenêutica lhes aponte o caminho- da-verdade.
11.2.3 A visão de Kelsen no ato interpretativo
Hans Kelsen por não considerar o direito como uma ciência do espírito não deixou nenhum método ou formulação hermenêutica. Kelsen via a sentença como um ato de conhecimento, uma decisão que dependeria simplesmente do ato intelectivo. O juiz deveria encontrar uma interpretação dentre as várias possíveis na moldura normativa ou ainda na letra da lei. Essa escolha seria feita pelo juiz em harmonia com o seu conjunto de valores pessoais(pré-conceitos). É evidente que a hermenêutica aqui tratada não se coaduna com o decisionismo de Hans Kelsen, entretanto, a assertiva máxima de inexistência de "meta-critérios" para estabelecer qual a interpretação mais acertada serve para demonstrar que a questão fundamento encontra raízes na filosofia, dependendo da concepção individual baseado na época, religião, moral,e arte que o intérprete está inserido. Cada época organizou sua concepção de fundamento a partir da vigência de cada princípio, e aí sim, Kelsen se mostra muito importante. Kelsen através de seu oitavo capítulo de sua obra maior, deixou claro o rompimento com a interpretação verdadeira, encontrada através do Verdade e do Método(Gadamer), e passou a entender a interpretação como válida, vinda da pessoa com competência jurídica para determiná-la, através deste ponto de vista podemos afirmar que a Hermenêutica não mais será uma questão de método, passando a ser uma filosofia.
11. A FILOSOFIA INTERPRETATIVA
a. Análise dos textos como ato inicial da interpretação
Como se pratica interpretação? Seja qual for a doutrina que se adote, certo é que os textos consagradores de normas positivas de direito precisam ser analisados. E para conduzir e orientar a análise, vários processos existem, que não se excluem reciprocamente e, antes, se completam, até alcançarem o resultado final, e isto é, o resultado da interpretação, que é, em sua substância, una e incindível.
Quando falamos em regras de interpretação este princípio supremo jamais deve ser esquecido: tais regras, sejam doutrinárias ou legais, não constituem, nunca, um sistema perfeito infalível, cuja aplicação mecânica possa produzir, quase que por modo automático, o descobrimento do verdadeiro sentido da lei. Por seu caráter e e por sua função elas não passam de meros subsídios, ou critérios gerais que devem servir de guia e diretriz no processo lógico da investigação, pois este processonão se e efetiva mediante o uso exclusivo de uma série mas ao menos perfeita de regras de hermenêutica , mas exige, acima de tudo e, uma sutil instituição do fenômeno jurídico, um conhecimento profundo de todo o organismo do direito.
Por tudo que já foi exposto, será possível identificar, ou pelo menos utilizar algum método que sirva de base para interpretação da nova hermenêutica? Existem alguns parâmetros que podem ser escolhidos, porém como já ficou claro, a hermenêutica não é apenas um conjunto de métodos, mas uma filosofia.
As principais características do método da nova hermenêutica são:
i. Aberto - Mantendo-se aberta, o método hermenêutico pode ser suscetível a mudanças no sentido de um determinado texto. Isto se deve a dois fatores, o primeiro que um princípio nunca poderá ser aplicado a um único fato e depois da influência indireta da sociedade sobre o direito através de mecanismos internos.
ii. Dialógico - Essa característica tenciona a obtenção do fim buscado através do confronto de argumentações. Após a apreciação de toda a complexidade do texto examinado, o intérprete elegerá os princípios e decidirá em conformidade com a argumentação que julgar mais apropriada no contexto histórico, do consenso dos juristas e juízes para interpretação do texto. A nova hermenêutica jurídica não apenas enumera uma série de significados possíveis para a norma (Kelsen), deixando a escolha ao sabor do critério subjetivo do aplicador do Direito, mas fornece um caminho para a fundamentação e legitimidade da decisão.do
iii. Pragmática - Entre dois ou mais julgamentos plausíveis, a escolha será feita levando-se em conta o resultado mais eficaz ou socialmente mais satisfatório na decisão. A interpretação também deverá ser materialmente adequada, deve se ajustar ao segmento da realidade social que se inclui no âmbito da norma.
iv. Normativo - Apesar de necessitar de concretização, a variação de sentido é restrita a norma, vale mais uma vez lembrar a teoria de Kelsen da moldura como limite para interpretação.
12. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme mencionado alhures não existe um único modo de interpretação, um manual que possa ser seguido, justamente por isso, na ciência hermenêutica é o operador que unifica e normatiza o processo interpretativo. 
Vale lembrar que a hermenêutica é um meio e não um fim. Afinal, como nos ensina Luiz Streck:
"toda interpretação sempre será gramatical, porque deve partir de um texto jurídico; será inexoravelmente teleológica, atendendo aos fins sociais a que ela se destina e as exigências do bem comum; será obrigatoriamente sistemática, pois é impossível conceber um texto normativo que represente a si mesmo, sem se relacionar como todo, e assim por diante..."
Noutras palavras, buscar o sentido de algo é bem diferente do que criar um sentido para algo, sob pena do direito se tornar aquiloque os juízes dizem, por isso deve-se ter cautela ao aplicar a norma ao caso concreto, posto que o operador de direito não deve se sentir preso a conceitos estritamente doutrinários e nem se sentir subjugado pela "síndrome de Abdula". Deve entender a hermenêutica jurídica como uma filosofia interpretativa, com métodos(caminhos) elucidativos, porém sem um manual prático de interpretação.

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