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A influência do estrangeirismo na língua portuguesa

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A
INFLUÊNCIA DO ESTRANGEIRISMO NA LÍNGUA PORTUGUESA
RESUMO
Este texto discorre sobre a influência dos estrangeirismos na língua
portuguesa, descrevendo seus conceitos e sua importância ao longo do tempo. Os
empréstimos linguísticos e o aportuguesamento de palavras também serão
analisados, demonstrando, através de alguns exemplos, a grande presença de
palavras oriundas de outros idiomas na nossa língua, e examinando a possível
influência negativa dos estrangeirismos na identidade cultural brasileira.
Palavras-chave: Estrangeirismo; empréstimo; anglicismo; galicismo; vício de linguagem;
identidade cultural.
INTRODUÇÃO
Atualmente há uma grande discussão sobre a influência de estrangeirismos na
língua portuguesa, principalmente em relação à língua inglesa, e se tal
influência seria benéfica ou não à nossa língua. A maior controvérsia,
entretanto, tem sido sobre o uso exagerado desses estrangeirismos ultimamente,
muitas vezes em detrimento da língua portuguesa.
Esse artigo tem como objetivo definir o que é o estrangeirismo, mostrando sua
influência na nossa língua através dos tempos e a grande presença de termos em
inglês nos dias de hoje, principalmente devido à globalização e a dominação
norte-americana em nosso território.
Primeiramente, apresentamos um breve resumo histórico das influências externas
que o português sofreu durante sua evolução, desde a invasão árabe na Península
Ibérica, até a dominação francesa durante a época da colonização em terras
brasileiras, mostrando também como as línguas indígenas nativas contribuíram
para a formação do português brasileiro como conhecemos.
Outro ponto interessante a ser abordado é se a grande presença de termos vindos
do inglês está sendo prejudicial à língua e à cultura brasileira como um todo,
fazendo com que percamos nossa identidade.
Conceito e um pouco de história
Estrangeirismo é a utilização de palavra, expressão ou construção advinda de
língua estrangeira em substituição àquela correspondente em nossa língua, mesmo
que possua ou não um equivalente em português.
É apontado por muitos gramáticos como um vício de linguagem nos casos em que
são utilizadas apesar de haver um equivalente adequado. Alguns, mais puristas,
consideram o uso de qualquer estrangeirismo, mesmo aqueles que não possuam um
correspondente de igual valor, como barbarismo, ou mesmo idiotismo. Outros
gramáticos mais flexíveis consideram o emprego de palavras estrangeiras usadas
frequentemente, ou que tenham popularidade na nossa língua, como uma figura de
linguagem.
Como exemplos de estrangeirismos já consagrados em nossa língua temos: OK,
croissant, delivery, drive-thru, designer, fashion, jeans, link, cappuccino, internet, shampoo, site,
pizza, hot dog, réveillon, on-line, pink, spaghetti, short (=
bermuda).
O estrangeirismo na língua portuguesa não é, entretanto, um fenômeno recente. O
Português se originou do latim, que era considerado vulgar pelo fato de não
possuir sintaxe, morfologia, ou regras gramaticais. Aos poucos o Português foi
se aperfeiçoando e adquirindo palavras germânicas introduzidas pelos bárbaros
no século V, algumas árabes por volta do século VII, e até mesmo palavras
gregas. Também sofreu influências de outras línguas descendentes do latim, como
o francês, o espanhol e o italiano.
No Brasil, antes da chegada dos portugueses, a língua falada era de origem
indígena. A partir da colonização, o Português de Portugal foi imposto como
língua oficial. Entretanto, com a convivência com a cultura nativa, várias
palavras de origem indígenas, como o tupi, tupinambá e guarani, foram
acrescentadas à língua portuguesa ou sofreram um processo de aportuguesamento,
criando, assim, o Português utilizado no Brasil, com várias modificações da língua
original.
A língua africana também contribuiu para a formação do Português do Brasil.
Devido à escravidão, negros de várias regiões da África foram trazidos ao
Brasil, cada qual utilizando um dialeto diferente, de acordo com sua
origem. Assim, aos poucos as palavras utilizadas pelos escravos foram
aportuguesadas ou inseridas em nosso idioma.
Mais tarde também tivemos influências europeias que acabaram alterando nosso
idioma. Por volta do século XVII, uma das línguas de maior importância para a
formação do português brasileiro foi o francês, devido principalmente às
músicas e à arte provençal. Um dos motivos da língua francesa ter sido bem
recebida no Brasil era por seu uso ser considerado elegante e relacionado às
classes mais abastadas da sociedade.
Após a independência, em 1822, o português sofreu influências de imigrantes
europeus que se instalaram principalmente no centro e no sul do país, o que
explica certas modalidades de pronúncia e algumas mudanças de léxico, os
famosos “sotaques”, existentes entre as regiões do Brasil, que variam de acordo
com o fluxo migratório que cada uma recebeu. Uma das línguas que mais
contribuiu para enriquecer nossa língua foi o italiano. Muitos consideram que o
estilo de falar do paulista foi fruto dessa influência, pois foi grande o
número de imigrantes da Itália que se instalaram em São Paulo a partir desse
período.
A influência norte-americana, a mais recente em nossa língua, deu-se a partir
da segunda guerra mundial. Com o imperialismo americano cada vez mais crescente,
e o predomínio de sua cultura através do cinema, música e televisão, inúmeras palavrasinglesas foram acrescentadas ao nosso vocabulário,
especialmente palavras ligadas ao lazer, esporte, alimentação e informática. A
partir do século XX, a distância entre as variantes portuguesa e brasileira do
português aumentou ainda mais, principalmente em decorrência dos avanços
tecnológicos, já que não existia um procedimento unificado para a incorporação
de novos termos à língua.
Dessa maneira, podemos constatar que mesmo sem os falantes perceberem a
influência dos estrangeirismos, várias culturas e vocábulos de diferentes
locais foram acrescentados à língua portuguesa e cada vez mais nosso idioma se
distinguia daquele utilizado em Portugal, como podemos observar no quadro
abaixo , que apresenta alguns exemplos de diferenças lexicais entre o Português
brasileiro e o europeu:
Tabela 1:
|Português brasileiro |Português europeu |
|Açougue / Açougueiro |Talho / Talhante |
|AIDS |SIDA |
|Band-Aid |Penso-rápido |
|Banheiro |Quarto de banho |
|Boliche |Bowling |
|Calça comprida |Pantalona |
|Cafezinho |Bica / Biquinha |
|Cooper |Jogging |
|Cross country |Corrida a corta-mato |
|Cueca |Boxer |
|Elegante |Gira |
|Embarcação |Galera |
|Fila |Bicha |
|Jeans |Calças de ganga |
|Jet ski |Mota de água |
|Laptop|Computador portátil |
|Meias masculinas |Peúgas |
|Mouse |Rato |
|Ônibus |Autocarro |
|Playground |Parque infantil |
|Quadrinhos |Banda desenhada |
|Restaurante |Casa de pasto |
| Tela (de TV) |Écran |
|Torcida |Claque |
|Trem |Comboio |
|Videogame |Videojogo |
Como já dito, a utilização de estrangeirismos é vista por grande parte dos
gramáticos como um vício de linguagem, que são, segundo a norma culta, palavras
ou construções que deturpam, desvirtuam, ou dificultam a manifestação do
pensamento, seja pelo desconhecimento das normas, seja pelo descuido do
emissor.
Barbarismo é um vício ou figura de linguagem que consiste no erro de
português, cometido na grafia ou na pronúncia. De acordo com o Dicionário Priberam, é o uso de palavras estrangeiras por ignorância
ou desprezo das vernáculas, emprego de palavras com significação que não lhes
pertence, ou incorreção prosódica ou ortográfica. A utilização de
estrangeirismos mal adaptados, como stress e croissant, são alguns exemplos de
barbarismo. Já o estrangeirismo bem-adaptado, que seja conveniente para
representar um conceito novo, sem substituto habitual, não é considerado
barbarismo.
O idiotismo é um vício de linguagem que consiste em traduzir, literalmente,
expressão ou termo que, em português, não faz sentido ou se demonstra,
gramatical e sintaticamente, errada. Como exemplo temos: Eu estou indo para
chamá-lo (traduzido de“I am going
to call him”em vez de “Eu vou chamá-lo”), ou “Estão chovendo
cães e gatos” (de “It is raining
cats and dogs”, em vez do equivalente “Está chovendo canivete”).
Empréstimos e Aportuguesamento
Um empréstimo representa generalizadamente a utilização de algo que pertence a
outro. Neste contexto, o empréstimo linguístico ocorre quando uma palavra de
uma língua integra o vocabulário de outra, geralmente por não haver um termo
equivalente nesta que possa ser usada em substituição. À medida que passa a
fazer parte da língua que a tomou emprestada, não sendo considerado estranho,
esse empréstimo passa a constar, inclusive, nos dicionários. Nas palavras de
Pedro Garcez:
Estrangeirismo é o emprego, na língua de uma comunidade, de elementos oriundos
de outras línguas. No caso brasileiro, posto simplesmente, seria o uso de
palavras e expressões estrangeiras no português. Trata-se de fenômeno constante
no contato entre comunidades linguísticas, também chamado de empréstimo. A
noção de estrangeirismo, contudo, confere ao empréstimo uma suspeita de
identidade alienígena, carregada de valores simbólicos relacionados aos
falantes da língua que originou o empréstimo.
(GARCEZ; Pedro, 2004, p. 15).
No momento do empréstimo, é comum haver o “aportuguesamento”, ou seja, a grafia
e a pronúncia da palavra são adaptadas para o português, como no exemplo de
abajur, que foi aportuguesada da forma em francês “abat-jour”.
Outras vezes, não há o aportuguesamento, conservando-se a forma original da
palavra, como em mouse, que veio do inglês “mouse”.
A maioria das palavras da língua portuguesa tem origem latina, grega, árabe,
espanhola, italiana, francesa ou inglesa. Essas palavras são introduzidas em nossa língua
por diversos motivos, sejam eles fatores históricos, socioculturais e
políticos, modismos ou avanços tecnológicos.
Durante a época da colonização, adotou-se no Brasil a língua portuguesa como
padrão. Mesmo assim, os vocábulos de origem indígena não deixaram de ser
empregados concomitantemente com os de origem europeia e africana. Na verdade,
o empréstimo linguístico já se registrava na própria língua portuguesa
europeia.
As pessoas, em geral, estão tão acostumadas com a presença dos estrangeirismos
que, muitas vezes, desconhecem que uma série de palavras têm sua origem em
outros idiomas. Veja a seguir uma lista com exemplos de  palavras que
passaram pelo processo de aportuguesamento, bem como a origem e definição de
cada uma delas:
Tabela 2:
|Idioma |Palavra original |Em português |
|Aramaico |abba |Abade |
|Francês |abat-jour |Abajur |
|Francês |atelier |Ateliê |
|Divehi |atolu |Atol |
|Francês |baguette |Baguete
|
|Uólofe |banana |Banana |
|Inglês |bungalow |Bangalô |
|Inglês |basket ball
|Basquetebol |
|Francês |bâton |Batom |
|Inglês |beef |Bife |
|Dharuk |bumariny
|Bumerangue |
|Cantonês |cha |Chá|
|Guguyimidjir |gaNurru
|Canguru |
|Hindi |gymkhana |Gincana |
|Grego antigo |hypokrisis |Hipocrisia |
|Tupi |jaguara |Jaguar |
|Algonquiano |moccasin |Mocassim |
|Inuit |qajaq |Caiaque |
|Checo |robotnik |Robô |
|Tungus |shaman |Xamã |
|Árabe |shiikh |Xeque |
|Cantonês |shî-yaÅ« |Soja |
|Italiano |squadrone |Esquadrão |
|Sânscrito |svastika-s |Suástica |
|Tonganês |ta-bu |Tabu |
|Nahuatl |tomatl |Tomate |
|Francês |tourisme |Turismo |
Essa utilização de palavras de outros sistemas linguísticos acontece, na
maioria das vezes, quando se importam objetos ou modelos que não possuem nomenclatura
equivalente na língua portuguesa. Para Câmara Júnior (1989, p. 269), os
empréstimos abrangem “(...)todas aquelas aquisições estrangeiras que uma língua
faz em virtude das relações políticas, comerciais ou culturais, propriamente
ditas, com povos de outros países”.
Por vezes, as palavras emprestadas podem mudar de significado na língua de
destino, denominando-se neste caso de “falsos amigos”. Por exemplo, a palavra
portuguesa marmelada (doce de marmelo) foi tomada de empréstimo pela língua
inglesa como marmalade, não com o significado que tem
na nossa língua, mas significando geleia de laranja com pedaços de casca e
também usada para qualquer espécie de compota ou doce pastoso em geral.
Uma das maiores contribuições para a formação da língua portuguesa foram os
empréstimos linguísticos advindos do árabe. Durante cerca de oito séculos, a
Península Ibérica foi ocupada por povos árabes. Tal ocupação deixou grandes
marcas em nossa língua-mãe e, provavelmente, tenha sido a maior contribuição não-latina para o vocabulário português.
As palavras derivadas do árabe geralmente são relativas à geografia,
agricultura, arquitetura, astronomia, matemática, instituições jurídicas e
sociais, química, culinária e ao vestuário. Muitas destas palavras é facilmente
identificável, pois começa pelos prefixos al- (correspondente ao
artigo definido árabe “o”) ou od- (que
significa rio).
Existem várias listas com centenas de palavras portuguesas derivadas do árabe.
Estas são apenas algumas delas:
Tabela 3:
|Português |Árabe |Português |Árabe |
|Açafrão |Azzafaran |Arroz |Arruzz
|
|Açoite |Assaut |Azar |Azzahr
|
|Açougue |Assuk |Azul |Al-lzaward
|
|Açucena |Assusana |Azulejo |Al-zuleij|
|Açude |Assudd |Bafafá |Bafaf
|
|Açúcar |Assukar |Café |Qahwah
|
|Alazão |Al-Hiçân |Ceroulas |Sarawil
|
|Albatroz |Al-ghattas |Cotovia |Al-kutubia |
|Alcachofra |Alkharshof |Elixir |Al-Axir |
|Alcateia |Alkataia |Esmeralda |Zumúrrud
|
|Álcool |Alkohul |Fulano |Flan
|
|Alcorão |Alkuran |Garrafa |Karafâ
|
|Alecrim |Aliklil |Harém |Harim
|
|Alface |Al-khaç |Haxixe |Hashish
|
|Alfafa |Al-Hâfa |Imã |Imam
|
|Alfaiate |Al-khayyât |Laranja |Naranj
|
|Alfândega |Al-funduq |Limão |Laimun
|
|Algarismo |Alkawarizmi |Masmorra |Matmura |
|Algema |Aljami'a |Nora |Na'ûra
|
|Algodão |Alkutun |Papagaio |Babaga
|
|Algoz |Al-gozz |Prisão |Prasioner
|
|Alicate |Allikkát |Safra |Safaria|
|Almanaque |Almanakh |Sultão |Sultan
|
|Almirante |Amir-al-bahr |Tambor |Tanbur
|
|Almofada |Almukhadda |Xadrez |Xatranj
|
|Almôndega |Albundeca |Xarope |Sharab
|
|Armazém |Al-Makhzan |Zarabatana |Zarba
tãnâ |
A língua portuguesa sofreu grande influência do inglês e do francês. Tal
valorização de elementos pertencentes a outras sociedades sempre aconteceu na
história de nosso país. Desde o período da colonização, Portugal e outros países
da Europa serviam de referência para o Brasil e valorizava-se o que vinha de
lá, desde roupas e móveis até expressões e valores morais. Logo em seguida, a
França passou a ser o modelo a ser seguido, com a sofisticação na indumentária
e na decoração, enriquecendo nossa língua com vocábulos e expressões franceses.
Depois os Estados Unidos passaram a ser o alvo dessas aspirações.
Galicismo ou francesismo é o uso de uma palavra ou expressão de origem
francesa, que manteve ou não a sua grafia original. Como exemplos de palavras
que mantiveram a sua forma original temos avalanche, cabine, madame e vitrine.
Outras sofreram aportuguesamento, como podemos observar nos exemplos abaixo:
boite para boate
ballet para balé
bâton para batom
bidet para bidê
bouquet para buquê
boutique para butique
buffet para bufê
champagne para champanhe
châlet para chalé
camelot para camelô
chic para chique
chauffeur para chofer
crochet para crochê
filet para filé
garage para garagem
garçon para garçom
mayonnaise para maionese
maquette para maquete
maquillage para maquiagem
marron para marrom
sabotage para sabotagem
toilette para toalete
À introdução de termos, locuções ou expressões próprios da língua inglesa, seja
devido à necessidade de designar objetos ou fenômenos novos, para os quais não
existe designação adequada na língua alvo, seja por qualquer motivo como, por
exemplo, dificuldades nas traduções, chamamos de Anglicismo.
Tanto o português de Portugal como o do Brasil incorporaram um número
considerável de anglicismos em décadas recentes. Alguns anglicismos foram
aportuguesados, outros permaneceram com a sua grafia original, como podemos
observar na relação abaixo:
Palavras inglesasaportuguesadas:
– Bife (“beef”, pedaço de carne de gado);
– Futebol (football);
– Handebol (handball);
– Tênis (de “tennis”, esporte, ou de “tennis shoes”, calçado);
– Videoclipe (de “videoclip”).
Usos de palavras ou expressões originais da língua inglesa:
– Browser (navegador, leitor de hipertexto);
– Cowboy (vaqueiro);
– Drag queen (travesti,
homem vestido de mulher);
– Hit (grande sucesso, canção que faz sucesso);
– Home theater (cinema em casa, aparelho para
produzir filmes com ótima qualidade);
– Home video (vídeo doméstico);
– Link (ligação – em informática);
– Mouse (rato: periférico de computador);
– Performance (desempenho, alta performance);
– Piercing (perfuração ornamental em orelhas, dentes,
umbigos etc.);
– Pub (bar, cervejaria);
– Ranking (classificação);
– Remake (regravação musical);
– Remix (mistura musical);
– Shopping center ou apenas shopping (centro de compras, centro comercial);
– Site (sítio, em informática).
Na época atual, observamos uma presença maciça de vocábulos advindos da língua
inglesa, por influência principalmente norte-americana, no país. Infante (2001,
p. 193) ressalta que “deve-se levar em conta que muitos empréstimos da língua
portuguesa atual do Brasil não ocorreram em Portugal e nas colônias africanas,
onde a influência cultural e econômica dos Estados Unidos é menor”. Essa grande
presença de empréstimos estrangeiros associa-se a uma valorização de tais
termos como elemento indicativo de elevada posição social ou de refinamento,
num processo de estereotipagem e de dominação. Assim, a grande influência atual
de termos em inglês em nossa língua deve-se à dominação da cultura
norte-americana, principalmente nas últimas décadas.
Infante (2001, p. 193) destaca que atualmente, na língua portuguesa do Brasil,
“a maior fonte de empréstimos é o inglês norte-americano”.
Destarte, a aquisição de empréstimos linguísticos, que inicialmente
representava a necessidade de se utilizar um vocábulo estrangeiro pela falta de
correspondentes na língua portuguesa, passou a ser empregada como recurso de
afirmação de identidade cultural. Usar o empréstimo linguístico se tornou uma
demonstração de eloquência e enriquecimento cultural. Ou, como Zilles aponta (2004, p. 28), falar inglês é mostrar-se um
indivíduo superior aos outros, capacitado para falar essa língua elitizada. O
estrangeirismo, por conseguinte, deixa de ser mera necessidade e passa a ser um
mecanismo de inclusão ou de exclusão de indivíduos numa determinada esfera
social.
De qualquer forma, é interessante ressaltar que não se pode, num mundo cujo
funcionamento tem se globalizado e cujas relações se fazem por meios como a
televisão e a Internet, isolar completamente uma cultura ou uma língua. Mais
importante seria tornar os usuários dessa língua cientes do fenômeno para que
essa adoção de estrangeirismos seja meramente uma opção. É preciso ter essa
consciência para que se faça melhor uso de tão rica troca.
A língua como identidade cultural
A identidade cultural de um país pode ser caracterizada por vários aspectos,
porém um dos mais importantes é a língua. É através dela que a comunicação
entre as pessoas é possível, possibilitando as relações afetivas e ideológicas
dentro ou fora de um grupo.
O Brasil, apesar de seu grande território, possui invejável homogeneidade
linguística, o que contribui para consolidar nossa identidade cultural.
Contudo, é impossível não ocorrer a influência de idiomas estrangeiros na nossa
língua, principalmente devido às relações entre os países, tanto na base
econômica como cultural, o que pode ser muito positivo para a evolução natural
da língua. O que se tem observado atualmente, no entanto, é uma invasão de
termos estrangeiros, muitas vezes sem sentido. Não é incomum vermos termos em
inglês espalhados pelas ruas e vitrines, sem sentido algum, como São Paulo
Fashion Week, home delivery, summer, sale, rent a car,
fast food, e outros.
O uso dos estrangeirismos tornou-se comum na língua portuguesa; recebemos novos
vocábulos como resultado das relações políticas, culturais e comerciais com
outros países. A entrada de elementos estrangeiros é um fenômeno
sociolinguístico ligado ao prestígio de um povo, e com a língua inglesa não é
diferente. As manifestações culturais receberam, durante séculos, contribuições
vindas da chegada de outros povos, da importação de objetos, da utilização
constante de termos associados a ações ou a expressões estrangeiras. Constata-se
que essa liderança idiomática é reflexo de vários fatores, entre o mais
relevante, a globalização. É perceptível e inegável a predileção por termos
estrangeiros por usuários de nosso idioma, resultando em influência na língua e
na cultura brasileira.
No entanto o que está sendo causa de algumas discórdias e de constantes
reportagens nos jornais é a maçante influência norte-americana, que não
acontece apenas na utilização de alguns termos, mas sim na substituição total
de vocábulos, muitas vezes motivados por modismo.
Na França, há uma forte campanha para manter a soberania da língua nacional sem
a interferência de outros idiomas. O governo francês indica palavras, com a
publicação de listas nos jornais, que podem substituir os termos estrangeiros,
tendo sido criada, inclusive, uma lei que proíbe a utilização de palavras
estrangeiras em documentos oficiais, na mídia e em lugares públicos.
No Brasil, algo parecido foi proposto pelo deputado Aldo Rebelo, do PCdoB-SP,
já aprovada pela Comissão de Educação da Câmara, faltando apenas o aval do
Senado. O projeto de lei tem como objetivo vetar o uso de expressões
estrangeiras em eventos públicos, nos meios de comunicação e em
estabelecimentos e produtos, sendo aceitas apenas palavras já integradas
oficialmente em nosso vocabulário oficial. Segundo o projeto, toda a vez em que
for usada uma palavra estrangeira para uma comunicação ao público, o emissor da
mensagem deve disponibilizar a tradução em português. Além disso, o deputado
defende que existam comissões para que sejam sugeridas expressões em português
para as palavras estrangeiras normalmente usadas, especialmente nas áreas
científicas e tecnológicas.
Muitos estudiosos concordam com a iniciativa de Aldo Rebelo, enquanto outros
admitem que certos estrangeirismos tornam a nossa língua mais rica, alegando
que tais influências são inevitáveis num mundo globalizado.
O fato é que a língua, sendo um organismo vivo, está sujeita a sofrer mudanças,
transformações. Ela não é estática, inerte, imutável, e tais mudanças ocorrem
com todas as línguas. Marcos Bagno acrescenta que:
Embora os puristas se recusem a aceitar o fato, a ciência linguística já
demonstrou fartamente que as línguas não se desenvolvem, não progridem, não
decaem, não evoluem, nem agem conforme qualquer uma dessas metáforas, que
implicam um ponto final específico e um nível de excelência: as línguas
simplesmente mudam (...)
(BAGNO, Marcos. 2004, p. 70).
Outro ponto que dificulta a implantação de tal lei é a dificuldade na distinção
do que é ou não é estrangeirismo, pois, na verdade, todas as línguas têm
influências de outras línguas, e a língua portuguesa, como já dito antes, é uma
miscelânea de outras línguas e culturas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como hoje, políticos e linguistas tem criticado o uso de estrangeirismos
há muito tempo. Desde tempos remotos, os mais puristas já demonstravam sua
indignação pela “invasão” de termos estrangeiros no português, como o uso que a
burguesia fazia do francês e o macarrônico português falado pelos italianos.
Tal combate, entretanto, sempre foi feita de forma incoerente, pois não levavam
em consideração a própria construção e a história da língua portuguesa. É muito
difícil tentar alterar o uso de uma língua através de leis ou decretos. Se o
falante e a sociedade forem valorizadas, a língua será igualmente valorizada,
assim como toda a cultura.
Claro que esse assunto ainda será muito discutido, pois, como já explicitado, a
língua não é algo imutável, e o que é comum nos dias de hoje podenão ser mais
no futuro. É impossível querer refrear um processo que é natural.
Não se pode negar que o grande uso de estrangeirismos, principalmente aqueles
vindos da língua inglesa, é o reflexo de um mundo globalizado e não há como
impedir essas influências em nossa língua, ainda mais considerando a
importância norte-americana nos dias de hoje.
Não se pode negar a importância em se valorizar a língua e a cultura de nosso
povo, entretanto vivemos em uma sociedade democrática, e chega a ser um absurdo
proibir as pessoas de agirem e pensarem livremente. Temos que ter em mente que
cada indivíduo sabe discernir o que é importante e não é o uso de
estrangeirismos que vai fazer com que os indivíduos percam o apreço pelo
Brasil.
Na maioria das vezes, o uso de estrangeirismos é apenas mais um modismo dos
falantes, e acabará por permanecer somente o que for necessário, sendo que o
restante cairá no desuso, portanto não há motivos para se preocupar com uma “desculturalização brasileira”. Na verdade, a existência de
expressões e palavras estrangeiras em outra língua não a torna mais frágil ou
inferior a outras, nem afeta o patrimônio cultural da nação. Ao contrário,
temos que ter em mente que o intercâmbio de culturas é sinônimo de progresso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Graziela. Estrangeirimos: por que proibi-los? http://www.psicopedagogia.
com.br/artigos/artigo.asp?entrID=705 (acesso em 5 de
setembro de 2011).
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
CÂMARA Jr., Joaquim Mattoso. Princípios de linguística geral. Rio de Janeiro:
Padrão, 1989.
Dicionário Pribberam. http://www.priberam.pt (acesso
em 07 de setembro de 2011).
GARCEZ, Pedro; ZILLES, Ana Maria S. “Estrangeirismos: desejos e ameaças.” In:
Estrangeirismos: guerras em torno da língua, por Carlos Alberto FARACO, 15-30.
São Paulo: Parábola, 2004.
GOIS, Miguel Ventura Santos. A influência dos estrangeirismos na língua
portuguesa: um processo de globalização, ideologia e comunicação. http://www.
filologia.org.br/revista/40/A%20INFLU%C3%8ANCIA%20DOS%20ESTRANGEIRISMOS.pdf
(acesso em 29 de agosto de 2011).
IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2004.
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2001.
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http://www,etymonline.com (acesso em 15 de setembro de 2011).
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