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Pá gi na !1 ! ! Curso Solução Pacífica de Conflitos ! ! ! Camila Pereira Linhares Advogada. Professora Universitária. Diretora Jurídica da Câmara de Mediação e Arbitragem do Conselho Regional de Engenharia - CMA/CREA. Mestre em Instituições Sociais, Direito e Democracia. Superintendente no Estado de Minas Gerais do CONIMA – Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem. ! ! 1. Aspectos Legais da Arbitragem 1.1. Legislação Nacional …………………………………………. 02 1.2. Sigilo na arbitragem em contratos administrativos …………….. 16 1.3 Arbitragem e o Novo CPC ……………………………………………..19 ! ! ! Aspectos Legais da Arbitragem Pá gi na !2 ! ! Aspectos legais da Arbitragem 1. Legislação Nacional da Arbitragem. Desde o início da vigência da Lei de Arbitragem, tem se observado o aumento gradual do interesse de advogados e partes pela utilização desse mecanismo de solução de controvérsias. ! Até o presente momento, predomina entre professores, pesquisadores e advogados que estudam e trabalham com a arbitragem a percepção de que o instituto tem passado por uma verdadeira revolução em nosso país, deixando de ser uma técnica de composição totalmente desconhecida, tal como ocorria antes de 1996, para se incorporar cada vez mais à cultura jurídica brasileira, particularmente à prática empresarial. A corroborar essa percepção estão as estatísticas de diversos órgãos arbitrais nacionais e internacionais – notadamente as estatísticas da Corte de Arbitragem Internacional da Câmara de Comércio Internacional (CCI), que revelam um crescimento extraordinário do número de arbitragens envolvendo partes brasileiras. (GABBAY; ALVES; LEMES, 2008). ! Com a regulamentação da arbitragem no Brasil através de uma lei própria, diante das vantagens inerentes ao instituto, como celeridade, especialidade do julgador, autonomia da vontade das partes, sigilo, dentre outras, e partindo da premissa de que no mundo globalizado perder tempo pode ser sinônimo de perder dinheiro; a via arbitral se destaca como alternativa de solução de controvérsias. ! Nesses modernos tempos, as coisas novas ficam velhas, antes mesmo de se tornarem conhecidas. E nesse laboratório global, não tem sentido o processo continuar a depender de carimbos e protocolos, de remessas e de aguardo de providências meramente burocráticas. (SILVA, 2010, p. 11). ! Pá gi na !3 ! ! A Lei de Arbitragem, promulgada em 1996 e recentemente alterada (2015), também conhecida pelo codinome Marco Maciel, dispõe, entre outros 1 temas, sobre a capacidade para postular no juízo arbitral, que tipos de conflitos são afeitos à arbitragem, como é realizada a escolha do procedimento arbitral e se a arbitragem pode ser de direito ou por equidade. Também trata sobre a convenção arbitral, discorre sobre a escolha dos árbitros e suas respectivas funções. Determina o prazo da sentença arbitral caso as partes não tenham convencionado prazo ao contrário, e dispõe sobre seus requisitos fundamentais da sentença. Expõe as hipóteses em que é permitido impetrar o pedido de anulação da sentença arbitral, além de estabelecer as condições para pleitear esclarecimento junto ao tribunal arbitral. Sobre a sentença arbitral estrangeira, a referida lei dispõe sobre a diferença da sentença arbitral doméstica através do critério de territorialidade e demonstra os requisitos necessários para pleitear a homologação da sentença no Brasil. A lei 13.129/15 trouxe alterações que de uma certa forma já estavam discutidas no meu acadêmico e em jurisprudências, foi acrescentado na lei de arbitragem a possibilidade da Administração Pública utilizar a arbitragem como forma de solução de conflitos. A criação da carta arbitral, instrumento de comunicação entre Poder Judiciário e Árbitros. A possibilidade de proferimento de sentença arbitral parcial. A possibilidade de medidas cautelares e de urgência perante o Poder Judiciário antes da constituição do Tribunal Arbitral. A proibição de lista fechada de árbitros e a possibilidade de retirada do sócio minoritário, em determinadas hipóteses que discordar da inclusão da cláusula compromissória no estatuto social da empresa. Necessário iniciar os comentários acerca da Lei de arbitragem em relação à capacidade para postular no juízo arbitral. Para ser parte em Concluído o trabalho de redação do anteprojeto, teve início o processo legislativo para sua 1 conversão em lei. Foi apresentado pelo Senador da República Marco Maciel ao Congresso Nacional em junho de 1992. O grupo de trabalho constituído por Selma Maria Ferreira Lemes, Pedro Antônio Batista Martins e Carlos Alberto Carmona para confecção do anteprojeto baseou-se na legislação espanhola de 1988 e na Lei-Modelo sobre a Arbitragem Comercial da UNCITRAL, além das disposições das Convenções de Nova York de 1958 e do Panamá de 1975. (TOMARÁS, 2001). Pá gi na !4 ! ! procedimento arbitral, é necessário ser capaz, independentemente de ser 2 pessoa física ou pessoa jurídica. Também é preciso possuir capacidade para contratar, sendo indiscutível afirmar que parte em procedimento arbitral é aquela que possui a capacidade de exercício do direito, afinal, a capacidade significa a aptidão que a pessoa tem de adquirir e exercer direitos. A capacidade é a regra, ou seja, pelo Código Civil toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil; a incapacidade é a exceção, ou seja, são incapazes aqueles discriminados pela legislação. A capacidade divide-se em dois tipos: a) capacidade de direito: em que a pessoa adquire direitos, podendo ou não exercê-los, e b) capacidade de exercício ou de fato: em que a pessoa exerce seu próprio direito. Com isso, pode-se concluir que todas as pessoas possuem capacidade de direito, mas nem todas possuem a capacidade de exercício do direito. ! Excluem-se, pois, do âmbito deste meio alternativo de solução das controvérsias os incapazes, as pessoas jurídicas irregulares (com a ressalva de que, eventualmente, seus dirigentes, porque se confundem com tais pessoas jurídicas, poderão sujeitar as questões à arbitragem) e as entidades despersonalizadas, a exemplo da massa falida, do condomínio, do espólio ou da herança jacente. Em relação a estas úl t imas, cabe observar que têm elas, excepcionalmente, capacidade processual (de ser parte), o que, porém, somente as legitima a apresentarem-se em processo judicial em nome próprio (art. 12, do CPC) – por expressa concessão da lei processual – o que não implica qualquer outra concessão de personalidade ou capacidade para fins distintos, especialmente para transigir sobre direitos e, a fortiori, para sujeitar-se à arbitragem. (ARENHART, 2005). ! Contrário à exposição de Arenhart e em conformidade ao defendido por esta autora, Cahali (2012, p. 94) advoga que: ! “Art. 3o. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os 2 menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade; Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único: A capacidade dos índios será regulada por lei especial”. (BRASIL, 2002). Pá gi na !5 ! ! Sob outra ótica, mesmo sendo entes despersonalizados, massa falida, espólio e condomínio (de edifícios), podem ser partes em procedimentos arbitrais, pois tem capacidade de contratar, e assim, de ser parte e estar em juízo. ! Quanto ao tipo de conflito aplicável às soluções pela via do juízo arbitral, só podem ser solucionados aqueles que versem sobre direitos patrimoniais disponíveis,ou seja, direitos que as partes podem transacionar sem interferência do Estado. Em uma análise geral, exclui-se do rol de direitos patrimoniais disponíveis no Brasil: direito criminal, tributário e de família. Assim, nas palavras de Macedo (2008, p. 27), conclui-se: ! Direitos patrimoniais disponíveis são aqueles sobre os quais o Estado não cria qualquer reserva decorrente da proteção dos interesses fundamentais da coletividade, cujos bens, sobre os quais giram as controvérsias, as partes podem dispor livremente. ! E para a elucidação sobre a disponibilidade de direitos patrimoniais, cita- se Cahali (2012, p. 95): ! Direitos não patrimoniais, pois, de plano são excluídos do juízo arbitral. E assim os direitos de personalidade (direito à vida, a honra, a imagem, ao nome), o estado da pessoa (modificação da capacidade, como interdição, dissolução do casamento, reconhecimento ou desconstituição da filiação, atributos do poder familiar, como guarda e regulamentação de visitas), ficam excluídos da arbitragem. Mas eventuais impactos patrimoniais destes direitos, como também do direito penal, conforme o caso, são arbitráveis (por exemplo, apuração do dano ex delicto, e partilha de bens na separação ou no divórcio). ! A arbitragem pode ser de direito, ou seja, pautada na observação da legalidade da solução a ser fornecida ao conflito de interesses que for submetido, utilizando o direito positivo como parâmetro ou por equidade. 3 Segundo Loquim (1980, p. 38): ! A arbitragem por equidade pode ser qualificada como uma renúncia das partes a eventuais direitos oriundos da aplicação da lei ao litígio. Como parte da doutrina afirma que o compromisso arbitral constitui “Aristóteles considerava a equidade como o corretivo do justo legal, ou seja, adequação da 3 norma ao caso concreto da forma mais equânime e razoável possível. Ou seja, é a correção da norma quando esta se mostra omissa ou não razoável, fazendo que esta atinja o fim social a que fora destinada. A equidade se manifesta no plano concreto, no ato de aplicação da norma pelo juiz, que diz o que diria o legislador se ali estivesse diante do caso particular e concreto.” (ANTUNES, 2011). Pá gi na !6 ! ! uma renúncia à utilização do Judiciário, a arbitragem por equidade também pode ser entendida como uma renúncia ao direito de ser julgado conforme o direito positivo. ! Na concepção de Câmara (2009), ! [...] a arbitragem de eqüidade terá, sobre a de direito, a imensa vantagem da especialização do árbitro. Basta pensar, por exemplo, numa arbitragem de eqüidade envolvendo conflito que diga respeito a uma questão de engenharia, ou química. A se levar tal lide ao Judiciário, o juiz fatalmente convocaria um perito no assunto para assessorá-lo, e dificilmente sua sentença teria orientação diversa, quanto aos fatos, daquela apontada pelo perito em seu laudo. Neste caso, com a arbitragem se poderá entregar a solução da controvérsia diretamente nas mãos do especialista, retirando-se da composição do conflito o juiz, que funcionaria aqui, em verdade, como um mero intermediário entre as pessoas e o expert. ! Cabe às partes a faculdade de escolher o caminho para o trâmite do procedimento arbitral. Vale dizer que o limite das partes reside em não ferir a ordem pública, os usos e costumes. Neste tópico ainda prudente mencionar 4 que as regras de direito a serem escolhidas pelas partes podem ou não ser vinculadas ao país sede da arbitragem. No Brasil, por questão cultural, a arbitragem de direito é mais usual do que a arbitragem por equidade. Alves realiza uma reflexão sobre a faculdade da escolha das partes e o limite preceituado na legislação: ! É fácil perceber, assim, que a arbitragem está inserida em um contexto de confronto entre autonomia privada e o devido processo legal, o que a difere do processo judicial: de um lado, existe ampla liberdade conferida às partes para regularem toda instituição e o procedimento de arbitragem e, de outro, existe a imposição da observância dos imperativos de ordem pública. (ALVES, 2011, p. 391). Em relação à convenção arbitral, a legislação define duas formas de arbitragem para a solução de conflitos: uma através da cláusula compromissória, em que as partes inserem previamente no contrato a previsão do uso da arbitragem para a solução de conflitos futuros; e outra por meio de “Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.§ 1º Poderão 4 as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.” (BRASIL, 1996). Pá gi na !7 ! ! convenção arbitral, através do compromisso arbitral, em que as partes, após a existência do conflito, abrem mão do foro convencional e optam por dirimir seus conflitos através da arbitragem. Câmara (2009, p. 28) faz a seguinte diferenciação entre os dois instrumentos: ! O compromisso tem, portanto, como pressuposto, uma controvérsia já surgida entre as partes, ao contrário da cláusula compromissória, a qual é celebrada antes de surgir a lide, e se refere a litígios futuros e eventuais. Assim sendo, após surgir a lide, podem as partes celebrar o compromisso arbitral, submetendo-se a um árbitro a composição da lide. ! No que se refere à manifestação de vontade das partes, Theodoro Júnior (2007, p. 37) discorre: ! [...] convenção abrange duas modalidades de negócio jurídico, ambas com força vinculante para as parte se com plena eficácia de eliminar a sujeição do litígio à Justiça estatal. São elas: a) a cláusula compromissória; e b) o compromisso arbitral. ! Fiuza (1995, p. 106-107) assim define a cláusula compromissória: ! É o pacto acessório pelo qual as partes convêm em submeter à jurisdição arbitral as disputas que surjam no transcorrer de determinada relação jurídica, em termos genéricos, sem menção à espécie de litígio nem ao nome dos árbitros. ! Entende-se necessário explicitar as formas das cláusulas compromissórias. Uma delas é classificada como cláusula compromissória vazia, em que as partes optam por solucionar eventuais conflitos por meio da arbitragem, mas não indicam quais os requisitos que facilitariam a instalação do procedimento arbitral, como, por exemplo, a indicação se a arbitragem será ad hoc ou institucional, qual será o número de árbitros, qual será o idioma, a 5 sede da arbitragem, se será de direito ou por equidade. Esse tipo de cláusula não invalida a solução dos conflitos por arbitragem, mas, caso as partes não optem, no momento da instauração do procedimento, por chegar a um “A expressão “ad hoc”, deriva do latim e significa “para isto”, “para determinado ato”. A 5 arbitragem será considerada “ad hoc” sempre que o tribunal for constituído exclusivamente para resolver determinada controvérsia, sem o concurso de uma instituição administradora. A arbitragem “ad hoc” é administrada pelas próprias partes, em sua fase inicial, e pelas partes em conjunto com os árbitros após a sua instituição.” (NEVES, 2006, p. 254). Pá gi na !8 ! ! consenso para preencher as lacunas, necessária será a celebração do compromisso arbitral judicial. Uma hipótese de ausência de consenso das partes, quanto às lacunas da cláusula compromissória, e desnecessidade da intervenção judicial é a cláusula que prevê a arbitragem institucional (normalmente uma Câmara Arbitral específica), devendo a referida instituição possuir um regulamento que preveja a omissão ou controvérsia estampada pelas partes. Quanto à cláusula compromissória patológica, prudente destacar que 6 se trata de uma cláusula compromissória de arbitragem inserida em eventual contrato, com algum vício de forma que inviabiliza a utilização da arbitragem, a não ser por retificaçãodas partes no momento da instauração da arbitragem. Um exemplo pontual por si só, é quando, em eventual contrato, as partes elegem a arbitragem para soluções de controvérsias e o foro de determinada comarca para a solução das mesmas controvérsias e não apenas para a análise de questões de urgência ou para a análise da licitude da própria cláusula compromissória. Necessário mencionar que a utilização da arbitragem é facultativa, não podendo as partes ser obrigadas a utilizar desta via para a solução de litígios. No entanto, tal escolha tem que ser clara, tanto na cláusula compromissória quanto no compromisso arbitral. Uma cláusula compromissória que tenha eleito a arbitragem “e” o foro de uma comarca da jurisdição estatal não elegeu a arbitragem; pois a regra é a utilização do Poder Judiciário para a solução de conflitos. No caso dessa eventual cláusula com a expressão “e”, se no momento da instauração do procedimento arbitral ambas as partes não ratificarem a intenção pela arbitragem, irá prevalecer a regra que favorece a análise do caso pelo Poder Judiciário, uma vez que a cláusula não foi clara ao especificar qual a forma de solução de conflitos a ser adotada. Lemes apresenta um paralelo entre cláusulas patológicas e vazias: ! Em estudo elaborado em 1974, Frederic Eisemamm denominou de clauses pathologiques 6 (cláusulas doentes) as cláusulas defeituosas, imperfeitas ou incompletas, que pela ausência de elementos mínimos suscitam dificuldades ao desenvolvimento harmonioso da arbitragem. (EISEMAMM, 1974, p. 20 apud FOUCHARD; GAILLARD; GOLDMAN, 1996, p. 283). Pá gi na !9 ! ! Essas cláusulas podem ser classificadas como cláusulas arbitrais (i) inválidas ou (ii) suscetíveis de validade. As primeiras (i) são cláusulas redigidas de tal forma incongruente, que da leitura não se pode aferir tratar-se de cláusula compromissória, tais como quando, apesar de receber a denominação de cláusula arbitral preveja procedimento que mais se assemelha à conciliação ou à mediação, bem como quando estabelece, na verdade, uma avaliação pericial. Cláusulas assim redigidas não permitem que se infira que as partes elegeram a arbitragem para solucionar a controvérsia existente e serão consideradas nulas e de nenhum efeito no que concerne à instância arbitral. Por sua vez as cláusulas suscetíveis de validade (ii) são as cláusulas arbitrais em branco ou vazias, que não esclarecem a forma de eleição dos árbitros ou o modo da arbitragem (institucional ou ad hoc), as que indicam erroneamente instituição arbitral ou de modo insuficiente, as que apenas indicam o local da arbitragem, as que prevêem arbitragem e, no mesmo documento ou em apartado, indicam o foro judicial (cláusulas contraditórias), as que a redação indica a arbitragem para solucionar questões referentes à execução do contrato, podendo subentender-se que as questões surgidas e referentes à resilição do contrato estariam excluídas (cláusulas ambíguas); enfim, na presença de cláusulas formuladas de forma ambígua, contraditória, deficiente, omissa ou imperfeita, todas incluídas no gênero de cláusulas arbitrais patológicas, doentes ou defeituosas demandam interpretação a ser efetuada, conforme o caso, pelas cortes judiciais, instituições arbitrais prima facie, e pelo tribunal arbitral ou árbitro único, que avaliarão a real intenção das partes, verificando a existência e validade da convenção de arbitragem naqueles moldes redigida. (LEMES in MARTINS; GARCEZ, 2002, p. 3). ! Em relação à cláusula compromissória cheia, ela não proporciona qualquer dúvida quanto à instauração do procedimento arbitral; traz todos os requisitos necessários para postulação da arbitragem. A existência da cláusula compromissória nos contratos implica, necessariamente, renúncia expressa à discussão judicial do conflito decorrente daquela relação contratual. O compromisso arbitral pode ser judicial ou extrajudicial. O primeiro é aquele necessário quando há recalcitrância de alguma das partes que convencionaram a arbitragem através da cláusula compromissória, sendo também utilizado em caso de cláusula compromissória vazia. Ou seja, o compromisso arbitral judicial tem como regra decorrer de uma cláusula compromissória prévia. Frise-se que com o advento da Lei n. 9.307/96 não é necessária a assinatura do compromisso arbitral ratificando a intenção da cláusula compromissória em solucionar conflitos via arbitragem; tal artifício só é utilizado em caso de redação incompleta de cláusulas ou resistência de alguma Pá gi na !10 ! ! das partes em postular a arbitragem. Neste último caso, não é regra ter que passar pelo compromisso arbitral judicial, visto que, se a parte que resistir tiver firmado contrato com cláusula compromissória cheia e tal contrato indicar uma instituição que tenha em seu regulamento previsão sobre revelia, não é necessário utilizar as faculdades do art. 8º da Lei n. 9.307/96. Já o compromisso arbitral extrajudicial é o pacto firmado consensualmente pelas partes para dirimir o problema presente pela arbitragem. A grande diferença entre os dois compromissos arbitrais citados é que o extrajudicial, para ter validade necessária, deve ser estabelecido por escritura pública ou assinado por duas testemunhas caso seja previsto em documento particular. Todavia, são requisitos essenciais para a celebração do compromisso arbitral, independente de ser judicial ou extrajudicial, a qualificação das partes 7 e do(s) árbitro(s), a matéria objeto da arbitragem e o lugar do proferimento da sentença arbitral. Demais requisitos, como local em que desenrolará a 8 arbitragem, prazo para apresentação da sentença arbitral, fixação e responsabilidade de pagamento dos custos arbitrais (despesas administrativas e honorários), e autorização para julgamento por equidade são requisitos desejáveis, mas não obrigatórios. A ausência de algum destes não invalida a convenção celebrada. Já a ausência de algum dos requisitos essenciais pode ser motivo de nulidade da sentença arbitral. Um ponto crucial do procedimento arbitral é a escolha dos árbitros, cuja função, conforme a legislação nacional, pode ser exercida por qualquer pessoa capaz e de confiança das partes. Caberá a ele dispor e atribuir direitos, agir Quanto à aplicação do compromisso arbitral no direito estrangeiro, José Cretella Neto 7 observa que: “A lei argentina apresenta exigências semelhantes às da lei brasileira, mas exige que o compromisso deverá, também incluir a estipulação de uma multa, a qual deverá ser paga pela parte que deixar de praticar os atos necessários para cumprir o estabelecido. Já a lei francesa apresenta menos exigência que a brasileira: o compromisso deverá conter apenas o objeto do litígio me a designação do árbitro ( ou dos árbitros), ou prever forma para sua designação”. (CRETELLA NETO, 2004, p. 78). Art. 10º da Lei n. 9.307/96 (BRASIL, 1996).8 Pá gi na !11 ! ! com imparcialidade, disponibilidade, discrição, competência, diligência e independência. O tribunal arbitral pode ser composto por árbitro único ou de 9 forma colegiada, desde que seja sempre em número impar. É faculdade das partes a escolha deste profissional, que deverá ser sempre pessoa física. 10 O árbitro, após ter sido indicado pelas partes e ter aceito o convite, tem grande poder no curso do procedimento arbitral; embora deva respeitar o pactuado pelas partes, deve agir como líder e impor determinações se necessário for. Ele não é árbitro da parte que o indicou nem da parte que está pagando seus honorários, caso estes não estejam sendo rateados. Depois de investido na função, é arbitro do procedimento sendo seu dever agir com lealdade e ética. Portanto, a atuação com ética deve ser regra para todos os atores da arbitragem: árbitros, partes, advogados e instituições de arbitragem. Mas, se o árbitro se deparar com violação da ética, deverá sancionar essa violação? Tal questionamentoé um dos obstáculos a serem superados pela arbitragem, sendo que no decorrer do presente trabalho será dada atenção merecida a esse aspecto. Se nada houver sido convencionado entre as partes na convenção arbitral ou no regulamento de eventual arbitragem institucional, o árbitro presidente será o mais idoso. A lei também destaca que, caso algum dos coárbitros se abstenha ou não possa assinar a sentença, esta será assinada pelos demais e o presidente do tribunal arbitral irá declarar tal fato. Quanto à produção de provas, embora não esteja previsto de forma expressa na Lei de Arbitragem quais delas poderão ser produzidas, qualquer meio de prova admissível em direito é admissível em sede arbitral. Martins (2008, p. 328) assim apresenta o assunto: “O campo das provas, na arbitragem, é bastante amplo e não se sujeita a um catálogo legal. Nesse Art. 13, § 6º, da Lei n. 9.307/96 (BRASIL, 1996).9 Art. 13, §§ 1º e 2º da Lei n. 9.307/96 (BRASIL, 1996).10 Pá gi na !12 ! ! particular, a produção probatória em sede de arbitragem se alinha com o sistema das provas do processo civil”. 11 Ratificando esse entendimento, Azevedo Neto (2012, p. 19) expõe que: “Todos os meios probatórios são admitidos na arbitragem: o depoimento pessoal das partes, a prova testemunhal, o depoimento das testemunhas técnicas, a exibição de documentos, a prova pericial”. Toda a instrução probatória na Lei n. 9.307/96 é prevista em um único artigo, que, segundo Maia Neto (2012, p. 91), ! [...] se coaduna com o bem elaborado estatuto arbitral, fundado no princípio da autonomia da vontade das partes, como expressamente estabelecido em seu artigo 2º, portanto, as regras eleitas ou estabelecidas guiarão o regime determinado para colheita das provas, inclusive pericial. ! A testemunha convocada para prestar depoimento em audiência arbitral, caso não compareça de livre e espontânea vontade, poderá ser conduzida de forma coercitiva, desde que seja realizado pedido ao Poder Judiciário e este defira tal procedimento. Vale dizer que em arbitragem não existe a figura da 12 carta precatória ou rogatória, prevista no Código de Processo Civil. Em arbitragem, eventual oitiva de testemunhas não é delegada para outro julgador, independente de ser jurisdição privada ou estatal. Cahali (2012, p. 220) assim esclarece: Não há carta precatória para a produção da prova oral, ou seja, não se transfere a oitiva para outro juízo (arbitral ou estatal). O que pode ser feito (e muitas vezes acontece) é a instauração da audiência no local onde as partes e testemunhas se encontram, diverso daquele onde se situa a instituição arbitral ou onde será proferida a sentença. ! Quanto à exibição de documentos que se encontram em posse de terceiro, estes poderão ser solicitados pelo Tribunal Arbitral diretamente à parte. Caso este não colabore amistosamente, caberá à parte interessada ingressar junto ao Judiciário pleiteando o referido documento ou, se for de “Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não 11 especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.” (BRASIL, 1973). Art. 22, § 2º, da Lei n. 9.307/96. (BRASIL, 1996).12 Pá gi na !13 ! ! interesse do tribunal arbitral, este solicitará ao Judiciário que tome a providência devida. Vale destacar que nenhuma pessoa está obrigada a fornecer documento em sede arbitral caso não esteja sob o escopo da convenção de arbitragem, a não ser se tal obrigação advier de determinação judicial. Nesse sentido, Pucci (2012, p. 14) argumenta: “Em regra geral a arbitragem é restrita às partes abrangidas pela convenção de arbitragem (cláusula compromissória ou compromisso arbitral)”. Sobre o pedido de liminar ou cautelar, em caso de inserção de cláusula compromissória em contrato, é prudente mencionar que a parte poderá ingressar previamente no Judiciário e distribuir posteriormente a ação principal em sede arbitral. Tal medida, em alguns casos, pode vir a ser necessária se partir da premissa de que o procedimento arbitral em regra é célere; no entanto o mesmo necessita ter árbitro investido para o seu regular trâmite. ! Antes de instaurado o juízo arbitral, isto quer dizer, de os árbitros aceitarem a nomeação para dirimir o conflito abrangido pela cláusula compromissória, as partes podem se socorrer do Poder Judiciário para medidas cautelares, desde que de outra forma não tenham acordado na convenção de arbitragem. (PITOMBO, 2006, p. 109). ! À exceção de isolados regulamentos arbitrais, um deles o da Câmara de Comércio Internacional (CCI, 2012), que prevê o exame de eventual cautelar ao “árbitro de emergência”; a maioria das arbitragens institucionais necessita 13 da investidura do tribunal arbitral para eventuais deliberações materiais sobre o caso objeto do conflito. ! “Artigo 29. 1- A parte que necessitar de uma medida urgente cautelar ou provisória que não 13 possa aguardar a constituição de um tribunal arbitral (“Medidas Urgentes”) poderá requerer tais medidas nos termos das Regras sobre o Árbitro de Emergência dispostas no Apêndice V. Tal solicitação só será aceita serem recebida pela Secretaria antes da transmissão dos autos ao tribunal arbitral nos termos do artigo 16 e independentemente do fato de a parte que requerer a medida já ter apresentado seu Requerimento de Arbitragem. 2- A decisão do árbitro de emergência tomará a forma de uma ordem. As partes se comprometem a cumprir qualquer ordem proferida pelo árbitro de emergência. A ordem do árbitro de emergência não vinculará o tribunal arbitral no que tange a qualquer questão, tema ou controvérsia determinada em tal ordem. O tribunal arbitral poderá alterar, revogar ou anular uma ordem ou qualquer modificação a uma ordem proferida pelo árbitro de emergência.” (CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL, 2012, p. 33). Pá gi na !14 ! ! Com a inovação do árbitro de emergência, já usado por exemplo pela American Arbitration Association, todos aqueles que incluírem cláusulas de arbitragem CCI em seus contratos a partir do ano que vem poderão requerer tutelas antecipadas e medidas cautelares a um árbitro de emergência designado pela CCI com o objetivo específico de decidir questões urgentes antes mesmo da formação do Tribunal Arbitral. O árbitro deve ser indicado em até dois dias a partir do pedido de medida urgente. [...] As medidas emergenciais não substituem os árbitros: quando o Tribunal Arbitral for instaurado, a decisão poderá ser mantida, revista ou anulada pelos árbitros. (HENRIQUES, 2011). ! Em arbitragem também é permitida a figura da inspeção arbitral, prerrogativa do árbitro de ir “in loco” apurar algum fato. Nas perícias, as partes também têm a faculdade de indicar seus respectivos assistentes técnicos. Quanto ao prazo do procedimento arbitral, uma das vantagens da escolha pela arbitragem para a solução de controvérsias é que, caso as partes não tenham convencionado prazo em contrário, em no máximo seis meses contados do início da instituição da arbitragem, o prazo para proferimento da sentença arbitral dar-se-á por encerrado. Prudente mencionar que o 14 procedimento arbitral tem início a partir do momento que o último árbitro indicado aceitar o convite. 15 Cabe anulação da sentença arbitral proferida fora do prazo, daquela emanada por quem não podia ser árbitro, da que não aprecia todo o objeto da lide, assim como da sentença que examina de forma extra petita e a ultra petita. Para a sentença arbitral ser considerada nula por ter sido proferida fora do prazo, a parte interessada deve notificar ao árbitro para que proceda à decisão, sendo que este terá 10 (dez) dias para o proferimento da mesma. Caso não o faça, dar-se-á motivo a questionamento de eventual anulação. São requisitos da sentença arbitral: relatório, dispositivo, decisão, data e lugar. A ausência desses requisitos também enseja anulidade da sentença. Art. 23 da Lei n. 9.307/96. (BRASIL, 1996).14 Art. 19 da Lei n. 9.307/96. (BRASIL,1996).15 Pá gi na !15 ! ! O pedido de anulação da sentença arbitral tem prazo preclusivo de 90 (noventa) dias, contados da data de intimação da sentença arbitral. Viável analisar a possibilidade do pedido de anulação da sentença arbitral em sede de execução no momento preciso dos embargos declaratórios; no entanto, para que tal pedido seja apreciado, a parte deve atentar-se ao prazo, que não poderá ser posterior ao acima apresentado. Os requisitos de nulidade da sentença arbitral são dispostos de forma pontual na lei de arbitragem, portanto eventuais tentativas, sem motivos justificados, de anular a decisão arbitral representam um obstáculo à celeridade e retiram da arbitragem os benefícios a ela inerentes. Pela concepção de Pinto (2008, p. 256): “Em defesa da arbitragem, não se deve aceitar que a via seja tratada pelas partes e, em especial, pela que teve seus interesses contrariados pela sentença arbitral, como um estágio prévio ao contencioso judicial”. A sentença arbitral não é passível de recurso, mas, em caso de omissão, obscuridade, erro material ou contradição, pode-se solicitar ao tribunal arbitral pedido de esclarecimento, similar aos “embargos declaratórios” previstos no Processo Civil. Consequentemente, em regra não há em sede 16 arbitral possibilidade de alteração do mérito da sentença, já que não haveria recurso com foco de apelação. Mas a indagação pertinente a se fazer é se o pedido de esclarecimento em sede arbitral poderia ter efeitos infringentes; Carmona (2009) entende que sim. Sendo a arbitragem um sistema que utiliza os princípios do Código de Processo Civil (CPC), os “embargos declaratórios”, desde que tempestivos, devem ser sempre aceitos e podem sim modificar a sentença arbitral, em caso de obscuridade, por exemplo. Todavia os “embargos declaratórios” com efeito infringente devem ser utilizados em caso de “erro crasso”; é a última chance do tribunal arbitral de refletir sobre algum erro. A sentença arbitral doméstica (interna), para ser cumprida no Brasil, não precisa ser homologada; já a sentença arbitral estrangeira necessita ser Art. 30 da Lei n. 9.307/96. (BRASIL, 1996).16 Pá gi na !16 ! ! homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, embora na Lei de Arbitragem ainda esteja previsto que a competência seja do Supremo Tribunal Federal. Tal alteração de competência decorre da Emenda Constitucional n. 45/2004. ! O artigo 34 da referida lei distingue o laudo arbitral nacional do estrangeiro pelo local onde foi proferido o laudo. Essa distinção é de suma importância, pois o laudo arbitral proferido no Brasil e, portanto, nacional, tem automaticamente força executiva de título executivo judicial, enquanto que o proferido no exterior, para ter a mesma força executiva concedida ao laudo proferido no Brasil, precisa ser reconhecido pelo poder judiciário brasileiro. (RIBEIRO, 2008, p. 419). ! Para pleitear a homologação, a parte interessada deverá juntar ao seu pedido a convenção arbitral e a sentença arbitral original ou cópia autenticada pelo consulado; ambas, independente de serem cópia ou original, devem ser obrigatoriamente apresentadas com tradução juramentada. 1.2 Sigilo na arbitragem em contratos administrativos ! Uma das vantagens da arbitragem é o sigilo do procedimento arbitral. Talvez a proteção do sigilo deixe de ser necessária quando a entidade estatal atue como parte no procedimento arbitral. No caso de Administração Pública como parte, o princípio da publicidade prevalece em decorrência da representatividade da coletividade. Neste caso, a natureza privada cede ao interesse público. Um exemplo é uma controvérsia entre duas entidades controladas pelo governo ou uma entidade controlada pelo governo e outra privada. Neste caso o procedimento arbitral não pode ser sigiloso, vez que a coletividade é interessada, direta ou indiretamente. ! Ademais, segundo o art. 37 da Constituição Federal, a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios deve obedecer a alguns princípios, entre eles o da publicidade. Ou seja, a decisão arbitral não poderia ser mantida em sigilo. Segundo Lemes (in MARTINS; GARCEZ, 2002, p. 20): [...] faz-se mister esclarecer que efetivamente não existe uma regra fixa imutável quanto à privacidade, sigilo ou confidencialidade, tanto para as arbitragens eminentemente privadas, como para as arbitragens Pá gi na !17 ! ! estatais ou quase-estatais. Os acordos de confidencialidade ou sigilo (inclusive as disposições dos regulamentos de arbitragem),deverão ser respeitados, sob pena de serem cometidos ilícitos contratuais que, evidentemente, serão afastados diante de preceito legal que imponha a publicidade. [...] [...] tanto os interesses públicos devem ser respeitados e, portanto, a decisão arbitral receber a divulgação pertinente quando determinado por lei, mas também os interesses do concessionário deverão ser preservados, no sentido de manter a adequada privacidade nas audiências, bem como quanto aos documentos comerciais e estratégicos das empresas que instruírem o p r o c e s s o a r b i t r a l , s a l v o , evidentemente, disposição em contrário das partes ou d e t e r m i n a ç ã o legal. ! No estado de Minas Gerais, a utilização da arbitragem no âmbito da administração pública e de seus entes é regulamentada por lei específica, a Lei n. 19.477/11. Assim como a lei nacional, a lei mineira também não dispõe expressamente sobre o sigilo no curso do procedimento arbitral, mas ressalva que: ! Art. 3° A inclusão de cláusula compromissória em contrato celebrado pelo Estado e a estipulação de compromisso arbitral obedecerão ao disposto na Lei federal n° 9.307, de 1996, nas normas que regulam os contratos administrativos e nesta Lei, respeitados os princípios que orientam a administração pública, estabelecidos na Constituição da República e na Constituição do Estado. (MINAS GERAIS, 2011). ! Considerando que se deve respeitar os princípios que orientam a administração, a publicidade deve ser regra em arbitragem nos casos que têm como parte a Administração Pública. ! Segundo Oliveira (2005, p. 24): [...] do parágrafo 6º do artigo 13, pode inferir-se que o procedimento arbitral deverá desenvolver-se em caráter sigilo ou confidencialidade entre as partes. Pá gi na !18 ! ! ! Ora, em face do princípio da publicidade, previsto em sede constitucional, não é admitida qualquer forma de segredo no trato de assuntos públicos. A exceção consistiria nos contratos denominados sigilosos, nos termos da lei federal 8.159/91 e dos artigos 59 e 60 do decreto 4.553/02. Alias, aqui poderia ser incentivada a possibilidade de utilização do juízo arbitral para a solução de litígios que envolvam esses contratos, pois em jogo estariam informações e dados cujo conhecimento irrestrito ou divulgação poderiam acarretar risco à segurança da sociedade e do Estado. É recomendável que não seja competência da própria instituição de arbitragem e do tribunal arbitral, e sim da Administração Pública, dar publicidade aos atos de interesse da coletividade que transitam em sede arbitral. Cahali (2012, p. 228) discorre que: Cresce no Brasil a utilização do juízo arbitral envolvendo entidades públicas, nos quais, ao contrário das relações privadas, a confidencialidade é, no mínimo, indesejada pela esperada transparência dos atos para controle natural da gestão dos interesses públicos. Neste sentido, mais saudável será afastar-se do sigilo, mantendo apenas a obrigatoriedade da discrição do árbitro. A Administração Pública é subordinada a várias regras, tais como adequação da conduta da atividade pública. Embora essa adequação seja necessária, não se deve tomar acoisa pública gratuitamente, por exemplo, transmitindo informações de forma indiscriminada a jornalistas. A publicidade dos atos oficiais do procedimento arbitral deve ter certa disciplina. A publicidade impressa pode causar mal maior. A p e n a s q u a n d o necessário, o tribunal arbitral deverá fornecer informações inerentes a eventual procedimento arbitral. Também é de se ressaltar que, tratando-se de arbitragem institucional, deve-se entender que a instituição, como cartório que processa informações entre partes e árbitros e meramente como Pá gi na !19 ! ! administradora do procedimento arbitral, não é obrigada a dar informações a terceiros. ! Segundo Ferreira Netto (2009, p. 75): Os novos paradigmas da Administração Pública passam agora, sem sombra de dúvida, pelas alterações impostas na área contratual pública, vez que atualmente as características que mais se destacam nas características estatais são o vulto e a envergadura dos empreendimentos, para os quais o Es tado não pode d ispensar a colaboração do capital privado. ! Esta nova forma de conceber a participação privada nos contratos administrativos possibilita que estes contratos se compatibilizem com alguns princípios jurídicos do Direito Privado, tais como boa-fé, lealdade, confiança legítima e respeito aos compromissos assumidos, não obstante tenham como norte o interesse público que autoriza a invocação das cláusulas exorbitantes Uma solução quanto a publicidade do procedimento arbitral, seria que, quando houver administração pública envolvida, basta que o contrato vete o sigilo, já que, apesar de as partes geralmente preferirem, a Lei da Arbitragem não estipula a obrigatoriedade de processos sigilosos. ! 1.3 – Arbitragem e o Novo CPC. Em relação a arbitragem, o novo Código de Processo Civil, reitera a garantia da autonomia da vontade das partes na escolha pelo procedimento arbitral e reforça a interação entre Arbitragem e Poder Judiciário. O art. 189 incluiu o aspecto da confidencialidade, determinando segredo de 17 justiça para ações decorrentes de procedimentos arbitrais. “Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os 17 processos: IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo”.(BRASIL, 2015). Pá gi na !20 ! ! O novo CPC confirma a Arbitragem como um Instituto Jurisdicional reconhecido, garantido o direito das partes a optarem pela Jurisdição Arbitral. Inclui o princípio da inafastabilidade de jurisdição, desta forma, coloca-se um fim na teoria de Sentença Arbitral ser Inconstitucional e a falta de reconhecimento como jurisdição. A cooperação jurisdicional é operacionalizada mediante cartas com que um órgão jurisdicional solicita a outro a ajuda consistente em realizar ou fazer realizar atos do processo. A carta arbitral apresenta um vínculo de comunicação entre o órgão jurisdicional estatal e arbitral, que facilita profundamente o trabalho dos árbitros O CPC mantêm a sentença arbitral no rol de títulos executivos judiciais e a homologação da sentença arbitral estrangeira vêm prevista no artigo 960 , totalmente 18 em conformidade à lei de arbitragem vigente. Enfim, o Novo CPC perdeu a oportunidade de criar um capítulo especial para Arbitragem, mas o resultado é bom, traz menções relevantes e inovações que fortalecem o instituto. “Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação 18 de decisão estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado”. (BRASIL, 2015).
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