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COMO A RÚSSIA VIROU O JOGO E RECOMEÇOU A GUERRA FRIA. P. 18 OS PONTOS FORTES (E FRACOS) DO EXÉRCITO BRASILEIRO. P. 58 E SE OS EUA ENTRAREM EM GUERRA CONTRA O IRÃ? P. 36 A ARRANCADA DA CHINA RUMO À SUPREMACIA MILITAR. P. 26 AS ARMAS, O S EQ U I PAM E NTO S E AS E STR ATÉG IAS DAS 2 2 FO RÇAS ARMADAS MAI S LETAI S DA TE RR A . E D IÇ Ã O 4 06 -A • A G O S T O / 20 19 EX EM PL AR D IG IT AL A nd ro id e iP ad Capa - exercitos.indd 1 22/07/19 18:38 Parte_intro-ok.indd 2 11/07/19 15:53 E x é r c it o s d o m u n d o 0 0 EXÉrcitos do mundo Parte_intro-ok.indd 3 11/07/19 15:53 E x é r c it o s d o m u n d o 0 0 A Até a pessoa mais pacifista há de admitr que armas e os que as empu- nham exercem certo fascínio à espécie humana. E provavelmente sempre foi assim, desde que um de nossos an- cestais primeiro afiou a ponta de um galho para caçar gazelas. Das arma- duras e espadas de tempos idos aos caças e fuzis de assalto modernos, existe uma certa estétca peculiar li- gada aos instumentos de destuição – algo difícil de definir, certamente implacável e desumano, mas também de uma qualidade única. Tudo parece limpo, avançado, majestoso, intenso, cercado de uma aura de poder. Até, é claro, ser posto em ação, quando as consequências são bem menos esté- tcas e entamos no campo da mais abjeta miséria humana. Para além dessa apreciação tensa, conhecer os Exércitos do mundo é tentar entender seu futro. Procurar respostas para indagações muito pert- nentes. Quão poderosos são realmente os Estados Unidos? O que a Rússia e a China têm preparado para responder a isso? E o Irã, teria qualquer chance em uma guerra com os americanos? O que se dizer sobre conflitos mais locais, mas com capacidade destutva que poucos imaginam, como Índia versus Paquistão? Brasil e Venezuela? Como exatamente esses países se engajariam ente si, com que equipamentos, se- gundo qual doutina militar? Como as armas atômicas impedem a guerra? E como seria se fossem usadas? Como seria a Terceira Guerra Mun- dial? Quem estaria ao lado de quem? Como, afinal, a humanidade atngiria sua extnção pelo método barulhento? São perguntas, ente muitas outas, que espero terem sido respondidas a contento nesta revista. E, ao virar a últma página, que o leitor termine não só satsfazendo sua curiosidade sobre armas, exércitos e combate contempo- râneo, mas tenha uma ideia mais clara sobre como o mundo em que vivemos realmente funciona. E que jogos de poder, afinal, se escondem sob a face educada da diplomacia. Boa sorte a todos nós. E boa leitra! Fábio Marton Editor sinfonia da destruição Parte_intro-ok.indd 4 11/07/19 15:53 E x é r c it o s d o m u n d o 0 0 6 O Raio-X da Geopolítica 8 estados unidos 18 rússia 26 china 34 coreia do norte 36 irã 40 Índia 43 paquistão 44 israel 48 outras potências 54 venezuela 58 brasil índice Fotos: Getty Images Parte_intro-ok.indd 5 11/07/19 15:53 E x é r c it o s d o m u n d o 0 0 6 — exércitos do mundo OTAN — A Organização do Tratado do Atlântico Norte é uma forte aliança militar defensiva de 1949, criada em oposição ao bloco soviético, que foi admitindo novos membros. Com a queda da União Soviética, quase todos os países ex-comunistas da Europa Central e do Báltico aderiram. Hoje a Geórgia e Ucrânia, entre outros, buscam se juntar. O que se vê ao lado podia ser um mapa da Terceira Guerra. Ou a ilusão de entender um mundo em fluxo, com alianças pendendo ao sabor do vento, enquanto os tês maiores players globais tentam estabelecer seus interesses e as relações ente eles próprios se alteram. Com quem a China se aliaria? E a Turquia? A res- posta meses atás parece diferente da de hoje. O Ocidente definitvamente está brigado com a Rússia, mas, fora isso, tdo está ainda em jogo. Algumas potências regionais – partcu- larmente a Índia, que tem o segundo maior exército do mundo – fazem da ambiguidade uma tadição. Outos lugares estão em plena disputa – a África é um caso tão complicado, com Rússia e China fazendo fortes investdas em aliados ou ex-aliados dos EUA – que não tvemos remédio senão marcar a maioria da região como “disputada”. Algumas das alianças são mais sólidas que outas. O México pro- vavelmente não ficaria ao lado da Rússia ou China na Terceira Guerra, mas não é um aliado certeiro dos EUA como Colômbia e Brasil. O Raio X da Geopolítica entenda quem está com quem no mundo contemporâneo. Por Fábio Marton Parte_intro-ok.indd 6 11/07/19 15:53 E x é r c it o s d o m u n d o 0 0 — 7 Ocidente — Países que se alinham com os EUA e com a Otan ou parte da órbita tradicional dos EUA que não se aproximou das outras potências. rússia — A maioria desses países pertence à antiga órbita soviética, com Vladimir Putin tomando iniciativas para expandir o grupo. china — A China disputa principalmente o sudeste da Ásia, mas tenta estender seu poder pela África e tem o Paquistão como aliado. independentes — Potências que tentam jogar seu próprio jogo, aliadas ou não aos outros. No caso da Índia, inclui também sua órbita regional. Parte_intro-ok.indd 7 11/07/19 15:53 E x é r c it o s d o m u n d o 0 0 8 — exércitos do mundo o leviatã tudo é superlativo na indiscutível mais bem armada e avançada força do mundo. Por Fábio Marton Parte1.indd 8 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 — 9 1.281.900 efetivos 13.398 aeronaves 6.827 tanques 415 navios 10 porta- aviões 2.362 Caças 68 submarinos 2.831 bombardeiros /ataque a solo 6.185 armas nucleares ativas estados unidos PoPulação: 327 milhões oRçaMENTo MIlITaR: US$ 716 bilhões PRINcIPaIs alIados Otan, Israel, Austrália, Japão, Coreia do Sul, Paquistão, Arábia Saudita, Brasil PRINcIPaIs advERsáRIos Radicais islâmicos, Irã, Coreia do Norte, Síria, Rússia, China Parte1.indd 9 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 10 — exércitos do mundo n nove minutos. Foi o tempo que Osama bin Laden teve para pensar na vida, ente os helicópteros Blackhawk pousarem ao lado de sua fortaleza par- tcular em Abbottad, Paquistão, e ser executado sem cerimônia. Menos de 10 horas depois, seu corpo encontaria o fundo do Oceano Índico, amarrado a 140 kg de correntes. A mais espetacular ação de forças especiais neste século foi conduzida pelos Seals da Marinha, com helicóp- teros emprestados do Exército, a partr de uma base da Força Aérea, com su- porte de uma unidade de inteligência dos fuzileiros navais. É um exemplo da capacidade de entosamento da mais potente força militar do planeta, apoiada pela maior economia. Dinheiro fala e metalhadoras gri- tam. Os US$ 716 bilhões investdos pe- los americanos em 2018 representam mais de 30% de todo o gasto militar na Terra, são mais que o dobro que os US$ 224 bi da China, e mais que 15 vezes os US$ 44 bi da Rússia. E essa dinheirama é ainda assim apenas um dos elementos de seu real poder. Os Estados Unidos também são o número 1 em ciência e tecnologia, e, estando na América, possuem isolamento geográ- fico dos centos de conflito. Também têm a maior população de qualquer país ocidental. Por fim, ainda que sua reputação esteja caindo – segundo o Pew Research Center, 25% do mundo considerava os EUA uma “grande ame- aça” a seu país em 2013, versus 45% em 2018 –, 51% das pessoas do planeta têm uma visão positva dos EUA. O soft power é inescapável. A familiaridade criada pela gigantesca indústia cultral americana ajuda a obter a colaboração de muitos países. Enfim, tdo conspira em favor dos EUA. Mas o fato é que nem sempre o cavalo favorito leva. Team America Não é exagero dizer que os Estados Unidos se acham a polícia do mundo. Desde 2000, a doutina estatégica do país fala em full spectumdominance – “dominância em especto pleno”. Que basicamente quer dizer ser enorme- mente superior em tdo: em forças de terra, ar, mar, em domínio psicológico, em guerra biológica e cibernétca, e até no espaço sideral, com Trump tendo proposto a “Força Espacial” – um nome que parece saído de desenhos animados dos anos 1980, mas que pode acabar se tornando realidade. Soa como um plano de dominação mundial? O falecido dramatrgo bri- tânico Harold Pinter foi um dos que entenderam exatamente isso. Em seu discurso de aceitação do Nobel de li- teratra, em 2005, ele mencionou ex- plicitamente a dominância em especto pleno, dizendo que “os Estados Unidos agora são totalmente francos em colocar suas cartas sobre a mesa”. Outo conceito fundamental da dou- tina militar americana, mantdo desde os anos 1980, é o win-hold-win (“vença- -aguente-vença”, a capacidade de lutar duas guerras simultâneas, vencer uma primeiro, e depois dedicar-se à segunda. Essa postra imperial é um pouco irônica de um país que, em sua funda- ção, sequer acreditava na necessidade de uma força militar. A famosa – ou famigerada, dependendo de que lado você está no debate sobre as armas – Se- gunda Emenda da Consttição afirma: “uma milícia bem regulada sendo ne- cessária para a segurança de um Estado Lockheed Martin F-35 a Caça multifunção veLocidade Máx. (Mach 1,6) 1.976 k coMpriMento: 15,39 m envergadura: 11 m aLtura: 4,331 m peSo vazio: 13.151 kg peSo MáxiMo: 31.751 kg arMaMento: canhão giratório GAU- 22A 25 mm, mísseis, bombas convencionais ou atômica B61 Parte1.indd 10 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 — 11 “O F-35 deve ser, e quase certa- mente será, o último caça de ataque tripulado que o Departamento da Marinha irá comprar ou pilotar”, afirmou o secretário da Marinha Ray Mabus em 2015, referindo-se aos drones substituindo os caças pilotados por humanos num futuro visível. Isso não é consenso (veja mais na página seguinte). Se for o último, deve ir longe. Como prova o B-52, no ar há 64 anos, aviões são como carros cubanos: com a manutenção correta, continuam fazendo seu trabalho décadas após construídos. E o F-35, programado para durar até 2070, explica por que costuma ser assim: foi o projeto de aviação mais caro da história, superando US$ 400 bilhões – e com um custo estimado de operação, no futuro, de US$ 1,5 trilhão – 75% do PIB anual do Brasil, 7% dos States. É tanta grana que o projeto, custando mais que o dobro do previsto, por várias vezes quase foi tesourado pelo Congresso, e só terminou por- que já tinham investido demais para desistir. O projeto se propôs a subs- tituir todos os caças dos EUA, e foi praguejado por problemas, incluin- do um motor explodindo já na fase de treinamento, em 2014, e tendo que ser modificado pelo fabricante. No ano seguinte, finalmente era introduzido o caça furtivo (stealth), difícil de ser detectado por radar, capaz de decolar e pousar na verti- cal. As informações são passadas no capacete do piloto, com o visor atuando como tela – cada capacete custa US$ 400 mil. O F-35 foi usado pela primeira vez por Israel, em 22 de maio de 2018, depois em dois ataques contra o Talibã e o Estado Islâmico. Por ora, está indo bem. o último caça PROjETO AMBICIOSO PODE SER O FIM DE UMA ERA. — km/h o soldado americano iMproved outer tacticaL veSt — Pesando até 16 kg, é uma armadura dos dias modernos. Placas de cerâmica param a maioria das balas e, quando não param, geralmente reduzem a velocidade a ponto de o estrago ser sobrevivível. advanced coMbat heLMet — Introduzido em 2002, é capaz de aguentar balas padrão russo 7,62x39mm, como a das variantes de AK-47 – e até manter o operador cons- ciente, mesmo com o impacto percussivo. L-3 gpnvg-18 anviS — Os “quatro olhos” do equipamento para visão noturna usado na missão de extermínio de Osama Bin Laden servem para dar um ângulo de visão muito maior que o normal: 120 graus no lugar de 40. carabina M4 — Arma curta, ideal para o combate em ambientes fechados que frequentemente os americanos enfrentam. Substitiu o M-16 da era do Vietnã, usando o mesmo tipo de munição. Fotos: Divulgação Parte1.indd 11 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 12 — exércitos do mundo Desde a Guerra do Iraque, o icô- nico perfil do Reaper (geralmente confundido com seu antecessor visualmente idêntico, mas muito menos potente, o Predator) tornou-se sinônimo de “drone militar” na imaginação popular. E, desde 2011, a Força Aérea dos EUA tem treinado mais “pilotos” de Reapers que de qualquer outro tipo de aeronave. O drone operou milhares de operações, inclusive de puro e cru assas- sinato pela CIA, disparando seus mísseis contra casas de supostos terroristas. E o drone, que em breve deve entrar em sua terceira versão, demonstra a razão por que, ainda assim, os EUA desenvolveram o F-35, o avião mais caro da história: ele absolutamente não pode ser operado como um caça. É um veículo a hélice, com um terço da velocidade de um F-35. Mesmo se drones fossem supersônicos – e já existem pesquisas nesse sentido –, as câmeras oferecem visão limitada a seus operadores e, muito pior, com atraso. O famo- so lag conhecido pelos gamers. Operadores de drones baseados nos EUA recebem informações com segundos de atraso e a má- quina leva os mesmos segundos para responder. Um drone, assim, é perfeito para ataques sem risco em situações desiguais, mas não em combate direto, frente a frente com o inimigo. Por isso, a aposta para o futuro da aero- náutica está mais para drones controlados de aviões que uma força totalmente remota. morte robótica Os DROnEs IRÃO APOsEntAR Os CAçAs? — General atomics mQ-9 reaper Veículo aéreo não tripulado de combate enverGadura 20 m comprimento: 13 m altura: 3,81 m peso mÁXimo 8.255 kg operadores: 2 armamento: mísseis ar-terra AGM-14 velocidade mÁXima: 740 km/h Parte1.indd 12 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 — 13 livre, o direito das pessoas de manter e portar armas não será infringido”. As milícias seriam forças civis estaduais, fazendo o papel de um exército – o Exército Contnental, principal força na Revolução Americana, fora dispensado quase inteiramente em 1783. Quando a Segunda Emenda foi ratficada, em 15 de dezembro de 1791, já era obsoleta. A tentatva de usar milícias estaduais havia se provado um fracasso menos de um mês antes, quando o General St. Clair sofrera uma catastófica derrota conta os indígenas na Batalha de Wa- bash, em 4 de novembro. Isso mudou a opinião e, em junho de 1792, o Exército seria recriado, como Legião dos Estados Unidos, ganhando o nome oficial de Exército em 1794. De sua fundação até hoje, os EUA estariam envolvidos em guerras por 226 de seus 243 anos. O últmo ano de paz foi 2000. Os EUA têm cerca de 800 bases em 80 países, sem contar forças pequenas em embaixadas. guerra à americana Parece coisa de videogame. Durante a Segunda Batalha de Fallujah, em 10 de novembro de 2004, o sargento David G. Bellavia percebeu que seu grupo de combate estava preso numa casa sob fo- go inimigo. Largou então seu fuzil M-16, tomou em mãos uma metalhadora leve M249 e deu cobertra para que seu gru- po escapasse. Ao sair do bloco, percebeu que o veículo de combate de infantaria M2 Bradley que servia a seu grupo não seria capaz de vencer os insurgentes. Então pegou de novo seu M-16, entou na casa sozinho, e foi matando um por um, até chegar ao telhado. Pela ação dig- na de Rambo, ele se tornou, em junho de 2019, a única pessoa a sobreviver à Guerra do Iraque condecorada com a Medalha de Honra, a mais importantecomenda militar dos EUA. Ainda que os filmes gostem de res- saltar histórias como essa, o Exército dos Estados Unidos da América não é formado por heróicos individualistas. É uma força massiva – a terceira maior do mundo em número de soldados, que são ajudados por uma grande vanta- gem tecnológica. É composta por dez divisões, além de diversos ramos me- nores independentes. O maior cento de comando é o FORSCOM - United States Army Forces Command, em Fort Bragg, Virginia. As divisões são organizadas em brigade combat teams (BCT, “grupos de combate de brigada”), com cerca de 4 mil soldados de infantaria mais uni- dades de suporte e tanques. Os BCTs vêm em tês tpos: infantaria, styker e blindado. Todos contam com artlharia e suporte, como engenheiros e médicos. Um BCT de infantaria é o tpo mais rápido e básico, que se move em veícu- los com pouca proteção – os Humve- es. Também conta com uma força de helicópteros e é capaz de invasão por paraquedas. BCTs de blindados são, obviamente, forças focadas em veículos. O grosso aqui são os tanques M1A1 Abrams e o poderoso veículo de combate de in- fantaria M2 Bradley. E stykers são os BCTs formados em torno das diversas variações do tans- porte médio Styker. A diferença prin- cipal de um Styker para um Bradley é que usa rodas, não lagartas, então é bem mais ágil. Essa é uma topa “média”, ente o BCT de infantaria e o blindado. Em 2018, em meio a um downsizing por conta da redução de orçamento e conflito, vários BCTs começaram a ser tansformados em maneuver battalion task forces (“força-tarefa de manobras em batalhão”), que têm cerca de ¼ do tamanho de um BCT. A mudança não deve atingir a todos os batalhões e o resultado fica a se ver. Explicado o Exército, não é possí- vel falar dos EUA em combate sem mencionar sua especialidade desde a Segunda Guerra: o ataque pelo ar. Vamos a mais uma história. Era o começo da noite de 13 de abril de 2017 quando os terroristas do Estado Islâmico se dedicavam ao que quer que seja que terroristas fazem depois do jan- tar. Instalados no complexo de túneis que cavaram na província de Nangarhar, Afeganistão, haviam sofrido dezenas de ataques de drones de bombardeiros americanos, nos dias anteriores, sem qualquer resultado. Então morreram. Uma onda de pres- são capaz de arrancar a pele e liquefazer os órgãos atngiu-os no fundo de suas cavernas – isso quem morreu rápido, não soterrado ou queimado. No dia da explosão, foram reportados 36 mortos. Conforme forças americanas e afegãs inspecionavam os túneis, corpo após corpo trado, o número chegou a 96, incluindo quato comandantes. Civis afegãos, que viram a explosão e sent- ram o temor e casas rachadas a qui- lômetos dali, destuindo as janelas de suas casas, falaram em “ver o céu cair”. Foi o primeiro uso da maior bomba convencional da história – a MOAB, Massive Ordnance Air Blast (“Explosão aérea massiva de material”, carinhosa- mente apelidada de Mother Of All Bombs, “a mãe de todas as bombas”). Como manobra diplomátca, não pa- rece ter ido muito bem. O ex-presiden- te afegão, Hamid Karzai, afirmou que “isso não é a Guerra ao Terror, mas o inumano e extemamente brutal abuso de nosso país como campo de testes de novas e perigosas armas”. E o Taleban, vejam só, acusou os EUA de terrorismo. Por certa definição, é mesmo. A proposta da MOAB é também causar de sua fundação até hoje, os eua estiveram envolvidos em guerras por 226 de seus 243 anos. Parte1.indd 13 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 14 — exércitos do mundo pânico. A Força Aérea pode ter pouco contato com o inimigo – só se algo dá errado e um piloto termina capt- rado –, mas é a menos sutl de todas as armas. Sua função é ser o choque na doutina do choque e pavor. Algo que tem precedente nas legiões ro- manas e teve seu maior exemplo em Hiroshima e Nagasaki, mas só entou oficialmente nos manuais america- nos em 1996: quebrar o moral inimi- go antes que possa expressar reação. A Força Aérea dos EUA, com 321 mil efetvos, é de longe a maior e mais avançada do mundo. Seus tês bombardeiros principais – o super- sônico B1, a “invisível” asa voadora B2 e o jurássico B-52 – são capazes de partr de casa, atacar em qualquer ponto do mundo e voltar numa só pernada. Isso é possível pelas bases espalhadas pela Europa (Reino Unido e Alemanha) e Ásia (Japão e Coreia do Sul), das quais partem cargueiros para suprir combustível no ar. cães do Diabo Vamos à Marinha. Está ficando en- tediante dizer que é “a maior e mais avançada do mundo”. Mas, no caso da Marinha americana, dá para adi- cionar: quão maior? Maior que as 13 posições seguintes somadas – das quais 11, aliás, são de aliados. Essa força não enconta oposição nos conflitos atais. Então a Marinha funciona como uma segunda Força Aérea, disparando mísseis e mandan- do aeronaves conta posições inimi- gas. Literalmente, aliás: a Marinha dos EUA é a segunda maior força aérea do mundo, com 3.700 aviões, em 11 porta-aviões (o maior deles, o Gerald Ford – veja na pág. 16 –, está em testes e não é considerado totalmente na at- va). Cruzadores, que atam principal- mente por mísseis. Submarinos são de dois tpos: ataque, conta submarinos e navios inimigos, e mísseis, conven- cionais e nucleares, conta alvos em solo. Por fim, destóieres e fragatas servem para defender o real poder de fogo nos outos navios. Lasers — Sim, eles têm lasers. Já funcionam: o AN/ SEQ-3, instalado primeiro no navio de transporte USS Ponce e depois movido para o USS Portland, com mais encomendados para 2022, é um sistema capaz de derrubar drones, mísseis de cruzeiro e paralisar pequenos barcos destruindo seus motores. Projetos de lasers letais, capazes de exterminar veículos e soldados inimigos, estacionaram na fase de testes. Isso porque, não deixe a ficção científica te enganar, o laser é, em geral, uma arma problemática. Uma mera cortina de fumaça, absorvendo parte da luz, o torna ineficiente. Mas essa não é uma opção em pleno ar. Como funciona à velocidade da luz, é ideal para tirar mísseis supersônicos do ar. exoesqueLetos — A força física não é inútil num soldado moderno. Uma limitação para o que ele pode fazer é o quanto de peso – munição, equipamentos e mantimentos – pode carregar. Os armamentos são limitados ao que um humano pode aguentar. E trabalhos como armar aviões com bombas e mísseis também exigem muque. Um exoesqueleto é um robô de vestir, replicando os membros humanos com força robótica. As Forças Armadas dos EUA e a Nasa vêm testando vários modelos, para usar na base em combate. armas magnéticas — Uma coisa que um navio movido a gerador nuclear produz de sobra: energia elétrica. Uma que não tem: espaço, ocupado por munições, milhares de toneladas de explosivos que tornam navios de guerra passíveis de serem destruídos com um só ataque. Do lado ofensivo, mísseis, a principal arma antinavio atual, estão se tornando obsoletos por medidas antimíssil, como metralhadoras computadorizadas e lasers. Solução: voltar aos tempos do canhão, com um projétil sem explosivo. Acelerado a até dez vezes a velocidade do som, o que o torna mais poderoso que explosivos químicos típicos. Canhões magnéticos já foram aprovados em laboratório. Espera-se que devam equipar navios na próxima década. O QUE VEM NO FUTURO? Parte1.indd 14 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 — 15 vencedor não invencível. — Blindagem composta com trama de urânio esgotado – material que emite pouca ou nenhuma radiação, e tem a vantagem de ser ainda mais denso que o chumbo. canhão de 120 mm, capaz de atingir alvos a 4 km – tão potente que dispensa explosivos, destrói tanques inimigos com a pura força cinética. Três metralha- doras, uma.50 e duas M240, com mais de 10 mil cartuchos na reserva. Um motor a turbi- na para alcançar respeitáveis (para um tanque de 72 tone- ladas) 67 km/h na estrada. você se sentiria invencível. e estaria errado. Tanques nunca foram ideais para o combate urbano. Ataques podem vir de qualquer direção, inclusive de cima e por trás – o que é péssimo: como são feitos para enfrentar outros tanques, a proteção se concentra na frente. 530 Abrams foram in- capacitados ou destruídos na Guerra do iraque. o exército dos eUA teve que adaptar seus Abrams com um Kit de Sobre- vivência Urbana. isso inclui blindagem reativa – uma placa que explode na direção con- trária, neutralizando o impac- to de projéteis inimigos. Mais proteção na traseira, trocar a metralhadora principal por uma controlada de dentro, e incluir uma proteção transpa- rente (para mirar através dela) nas outras. Metralhadoras são as principais armas contra gente a pé. M1A2 AbrAMs Tanque principal de batalha peso 71,2 t CoMpriMento: 9,77 m AlturA: 2,44 m lArgurA: 3,66 m tripulAção: 4 ArMAMento: canhão 120 mm cinético sabot, 1 metralhadora .50 remoto controlada, 2 metralhadoras 7,62 mm M240 Parte1.indd 15 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 16 — exércitos do mundo do tamanho do bolso do Tio Sam. — Por que os Estados Unidos decidi- ram lançar o maior navio de guerra já visto pela humanidade em 2017? Resposta chata: custos. (E irônica, porque, a US$ 13 bilhões, também é o mais caro já feito.) os porta-aviões da classe Gerald R. Ford foram pro- jetados para durar incríveis 90 anos, e só virar sucata em 2105, usando de 25% menos tripulação e sendo capazes de lançar 25% mais ataques por dia (até 270) que os também gi- gantes da Classe Nimitz, criados num tempo em que a Guerra Fria tornava mais fácil justificar ao Congresso os gastos. mas há também a resposta menos chata: os caças se tornaram pesados demais para sair com carga máxima de porta-aviões projetados nos anos 1970. Com sua catapulta magnética, os Gerald Ford põem no ar qualquer avião naval de hoje em dia. Também produzem mais eletri- cidade para uso interno – o que pode vir a calhar se sistemas de defesa por laser ou armas eletromagnéticas se tornarem comuns. Têm computado- res de bordo mais modernos e fáceis de atualizar. os gigantes do século 21 foram batizados em homenagem ao presidente que assumiu como vice de Richard Nixon em 1974 e perdeu as eleições em 1977, e é considerado pela marinha um grande herói da Segunda Guerra. Uss Gerald Ford Porta-aviões nuclear comprimento 337 M peso: 100.000 t larGUra: 78 m comprimento: 337 m altUra: 76 M Velocidade máxima: 30 nós (56 km/h) armamento: mísseis, metralhadoras computadorizadas, 90 aviões Parte1.indd 16 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 — 17 Mas uma das funções mais impor- tantes da Marinha é atar como base para uma quarta força. Nos EUA, os Marines são um quarto braço militar, uma força à parte, com uma cadeia de comando própria e um efetvo, com 186 mil combatentes, menor que o das de- mais, mas quase do tamanho de todo o Exército brasileiro. É uma força originalmente criada para ataques anfíbios, mas que vai muito além disso hoje. Na prátca, o Exército também faz ataques anfíbios, e os Marines também atam muito longe da água: ou não faria sentdo terem se envolvido no Afeganistão. Os marines, porém, estão quase sempre ente os primeiros a chegar, com suas forças tendo a capacidade de se mobilizar conta qualquer lugar do mundo em questão de dias. Na maior parte dos países, o mais próximo dos marines são os fuzileiros navais, uma parte geralmente ligada à Marinha e com números, equipamento e escopo bem mais modestos que os dos marines. De fato, a tadução mais comum para os marines é Corpo dos Fuzileiros Navais dos EUA. Mas ao se taduzir assim se perde algo de sua místca, a de uma força única no mundo. Em sua história, eles fizeram por merecer o apelido de Devil Dogs, tadução do alemão Teufel Hunden, como foram chamados na Primeira Guerra, em contaste ao Exército regular dos EUA. mad men Dito o que havia a ser dito sobre como os Estados Unidos fazem guerra, vamos terminar dizendo como eles a evitam – o que, é consenso ente historiadores mi- litares, impediu o país de precisar tavar guerras conta outas potências tecnoló- gicas nos últmos 74 anos. A doutina da Mutal Assured Destucton (“Destuição Múta Assegurada”) – MAD – manteve e mantém a paz com a garanta de que é impossível vencer uma guerra nuclear. Ambos os lados terminariam incinerados. Para garantr a MAD, existe a tíade nuclear: a capacidade de entegar essa destuição por mísseis lançados por ter- ra ou submarinos, e bombas de aviões. Os mísseis de terra são instalados em silos nucleares, bases subterrâneas mantdas em alerta constante. São a parte mais óbvia do arsenal. Os silos são equipados com mísseis LGM-30, que, cruzando o espaço a mais de 24 mil km/h, são capazes de sair de qualquer ponto dos EUA e atngir a Rússia ou a China em meia hora. Em sua ponta, uma ogiva única W87, com capacidade de 300 quilotons (kt; 20 vezes a bomba de Hiroshima), ou tês W78, de 350 kt cada uma. Os EUA já tveram mísseis bem mais potentes - o LGM-18 Pea- cekeeper, um projeto de 1986, 16 anos mais novo que o Minuteman III, podia levar até dez ogivas W87. Acordos com a Rússia levaram à sua aposentadoria. As armas nucleares modernas são menos potentes que as antgas. No lu- gar disso, vêm em grupos. O conceito de MIRV (sigla em inglês para “Míssil de Reentada Múltpla Independente Direcionada”) esteou em 1970, com o próprio Minuteman III carregando tês ogivas menos potentes, as hoje aposentadas W68. A carga se divide no espaço, e cada projétl independente pode ter seu próprio alvo. Um único míssil, assim, pode atngir até 14 deles. Além da economia na criação e manu- tenção de silos nucleares, um MIRV torna difícil o uso de contamedidas – um escudo antmíssil. É preciso um número de antmísseis nucleares mui- to maior que o de mísseis lançados. Ou um que os abata antes de se dividirem, muito mais complexo. A própria existência dos MIRVs explica por que existem submarinos nucleares e aviões. No caso de guerra, o primeiro alvo são os silos nucleares inimigos. Se cada míssil pode destuir dez deles, atacar primeiro se torna alta- mente ataente. Lá se vai a MAD. Assim surge a doutina do Segundo Ataque. A de que um país consiga des- tuir o inimigo mesmo depois de atn- gido. Um submarino nuclear é difícil de detectar e pode permanecer meses sem voltar à terra. Com isso, eles se mantêm em posições desconhecidas nos ocea- nos. Mesmo se o inimigo conseguisse destuir todos os silos e todas as ba- ses aéreas, ainda assim receberia sua resposta pelo mar. No caso dos EUA, por 18 submarinos da Classe Ohio, ca- pazes de carregar 24 mísseis Trident I e II cada, que por sua vez levam até 8 ogivas W76 (100 kt) ou W88 (475 kt). Os aviões – principalmente a asa voadora furtva B2 e os antgões B-52 – também cumprem a função de segun- do ataque. E têm outa vantagem: um avião com armas nucleares não pode ser diferenciado de um sem. Não carrega uma mensagem óbvia, como um míssil cruzando o espaço, facilmente detec- tável. Eles também são mais flexíveis em tpos de munição, incluindo a mais potente arma nuclear dos EUA, a bomba B83, com 1,2 megaton (mt), equivalente a 80 bombas de Hiroshima. A manutenção da MAD é um assunto extemamente tenso. Acordos da época da União Soviétca foram rasgados (veja mais na pág. 24). O desenvolvimento de escudos antmísseis pelos EUA também tem recebido crítcas da Rússia, porque podem dar aos americanos o poder de atacar sem retaliação. Partcularmente quando os EUA ameaçam instalá-los na Europa, o que permite atacar a Rússiasem tempo de reação. Ironicamente, a manutenção da paz deixa o mundo à beira da guerra. A AniquilAção MútuA AssegurAdA MAnteve A pAz coM A gArAntiA de que é iMpossível vencer uMA guerrA nucleAr. Parte1.indd 17 11/07/19 15:50 E x é r c it o s d o m u n d o E s t a d o s u n i d o s 0 0 18 — exércitos do mundo O ursO acOrdOu depois da decadência provocada pelo fim da urss, os russos voltaram com tudo. Por Tiago Cordeiro Parte2.indd 18 11/07/19 15:41 E x é r c it o s d o m u n d o R ú s s i a 0 0 — 19 1.013.128 efetivos 4.078 aeronaves 21.932 tanques 352 navios 1 porta- aviões 869 Caças 56 submarinos 1.459 bombardeiros /ataque a solo 6.940 armas nucleares ativas rússia PoPulação: 144,5 milhões oRçaMENTo MIlITaR: US$ 44 bilhões PRINcIPaIs alIados Síria, Venezuela, Sérvia, Armênia, Bielorússia, Cazaquistão, Moldávia PRINcIPaIs advERsáRIos Otan, EUA, Israel, Ucrânia, Geórgia, radicais islâmicos Parte2.indd 19 11/07/19 15:41 E x é r c it o s d o m u n d o R ú s s i a 0 0 20 — exércitos do mundo D depois de quase duas décadas de “cuidar” do quintal – as ex-repúblicas soviétcas, em partcular o confronto com grupos islâmicos da Chechênia –, as Forças Armadas da Rússia estão de volta ao cenário militar mundial. Nos últmos anos, o país anexou a Crimeia, reforçou suas posições no Leste Eu- ropeu, bombardeou bases da oposição na Síria, realizou testes em conjunto com as Forças Armadas da Venezuela, invadiu o espaço aéreo da Turquia e do Alasca, além do espaço marítmo da Inglaterra e do Japão, e quase tom- bou com um navio americano no mar da China Oriental. É muita coisa, para um país que, nos anos 1990, aceitava dinheiro dos Estados Unidos para ga- rantr a manutenção mínima de seus artefatos militares atômicos e, até dez anos atás, havia abandonado as bases militares muito distantes de casa... por falta de dinheiro para o combustível das aeronaves e das embarcações. É um cenário muito diferente, de fato. Desde o fim da União Soviétca, em dezembro de 1991, o que se via era a mais completa decadência. Navios em processo de constução foram simples- mente abandonados ou vendidos para a China, ao mesmo tempo em que 40% dos aeroportos militares não tnham condições de uso. Enquanto os russos sofriam para contolar a Chechênia, em 1996, quato pilotos de MiG-31 en- tavam em greve de fome – estavam desesperados, como dezenas de seus colegas, porque não recebiam salário fazia meses. Para colocar a conta em dia, foi preciso abandonar a manu- tenção de uma série de aeronaves e instalações militares. Demorou muito para que a Rússia se recuperasse do desmembramento da URSS. Milhares de soldados instalados nos países-satélites juraram lealdade aos novos presidentes dos locais onde estavam instalados, especialmente na Polônia e na Ucrânia. A tentatva de re- forma ao estlo neoliberal, intoduzida pelo primeiro presidente russo da nova fase, Boris Yeltsin, reduziu os quadros militares sem garantr a manutenção da infraestutra mais básica. Antgos aliados que viviam do suporte finan- ceiro soviétco, como Cuba e Angola, desmoronaram, o que também reduziu consideravelmente a influência global de Moscou. Até que Vladimir Putin subiu ao poder em 1999 – e por nada desceu. Desde então, ao longo destes 20 anos ele alterna ente as funções de presidente e primeiro-ministo. Putn, ente tantas ações, busca resgatar o stats de super- potência da era soviétca. Reatvando, por exemplo, as paradas militares gran- diosas e as exibições de navios e aero- naves de combate. Mas só conseguiu começar a mudar a sitação, de fato, a partr de um projeto de reforma total das Forças Armadas. Lançada em 2008, a iniciatva ainda demorou alguns anos para começar a mostar os resultados espantosos que, nos últmos anos, vêm impressionando (e preocupando) a co- munidade internacional. Cartão de visitas Veja o caso das ações militares na Síria. A partr de setembro de 2015, os russos enviaram 63 mil militares para fortale- cer as posições do governo de Bashar al-Assad, ditador do país desde 2000, atacando locais contolados por grupos opositores armados, alguns deles lide- rados pelo Estado Islâmico. Até que os russos começassem a se desmobilizar, Mikoyan MiG-35 Caça multifunção velocidade Máx. (Mach 2,23) 2.600 k coMpriMento: 17 m enverGadura: 12 m altura: 5,2 m peSo vazio: 19 Kg peSo MáxiMo: 24,5 kg arMaMento: canhão GSh-30-1, foguetes S-8, S-13, S-24, S-25L, S-250, suporte para até 500 quilos de bombas Parte2.indd 20 11/07/19 15:41 E x é r c it o s d o m u n d o R ú s s i a 0 0 — 21 O MIG-35 é a evolução dos caças MiG-29M/M2 e MiG-29K/KUB. Conta com sensores muito mais sofisticados do que os de seus antecessores: o novo sistema óptico de localização e os radares de varredura eletrônica ativa permitem monitorar até 30 alvos simultâneos, localizados em ar, terra ou mar. O piloto conta com display LCD multifuncional e óculos de visão noturna. O alcance do voo é 50% maior, proporcionado pelo motor Klimov RD-33 MK, que também permite alcançar o teto máximo de 17.500 metros – em situações de combate, o bocal de suas turbinas, capaz de mudar o fluxo de ar, aumenta a eficiência em até 15%. A velocidade máxima é mais de 30% maior que a alcançada pelo americano F-35, que ainda pesa cinco toneladas a mais. Seja na versão para um ou para dois ocupantes, o Mikoyan MiG-35 oferece dez estações de armamentos, incluindo metralhadoras, foguetes, mísseis e bombas, que podem ser dispostos de acordo com as necessidades de momento – o governo russo pretende exportar o modelo para o maior número possível de países, e por isso garante que o caça pode ser personalizado segundo a demanda. produto de exportação CAçA RUSSO é MAIS veLOz qUe SeU RIvAL AMeRICAnO. — 2.600 km/h o soldado russo coMunicação inteGrada — No sistema Ratnik, o Strelets (“Mos- queteiro”) é a parte digital. Cada soldado leva um computador portátil, do tamanho de um walkie-talkie, pelo qual recebe ordens. Sua locali- zação, pelo sistema Glonass (a versão russa do GPS), é transmitida a seu comandante, que pode visualizar todo o campo de batalha de seu tablet, e não só comandar seus soldados, como até ordenar ataques aéreos. Algo que já foi testado em combate na Síria. arMadura ratnik — Ratnik quer dizer “guerreiro” em russo. É um sistema que inclui uma armadura capaz de aguentar tiros repetidos e à queima-roupa de 7,62 x 39 mm (o padrão AK-47, mais potente que o da Otan). Pesa até 20 kg e cobre 90% do corpo. dinoSSauroS vivoS Ao longo da Guerra Fria, as For- ças Armadas russas produziram verdadeiros ícones da história militar. Do AK-47, lançado no ano do nome, foram produzidos 100 milhões. Não só é barato, como confiável em quaisquer condições de temperatura, alti- tude, umidade e pressão. Outro caso de sucesso espantoso é o bombardeiro estratégico Tupolev Tu-95. Apresentado em 1952, e fazendo o mesmo papel que o jato B-52 americano, é movido a hélice – e, chegando a 840 km/h, é o mais rápido e mais barulhento avião a hélice da história. Não existe nenhum plano de aposentá-lo até, pelo menos, o ano 2040. Foto: Divulgação Parte2.indd 21 11/07/19 15:41 E x é r c it o s d o m u n d o R ú s s i a 0 0 22 — exércitos do mundo T-15 ArmATA Veículo de combate de infantaria peso 48 t ComprimenTo: 8,7 m AlTurA: 3 m lArgurA: 3,5 m TripulAção: 3 operadores + 9 combatentes ArmAmenTo: Estação Bumerang-BM, carregada com canhões 2A42 de 30 mm, mísseis 9M133 Kornet- EM, metralhadoras PKT 7,62 mm parece, mas não é VCI russo é tão bem protegIdo que é ConfundIdo Com um tanque. — o nome é veículo de combate de infantaria (VCI). e sua função é completamente diferente de um tanque: carregar soldadosarmados até o front e combater junto a eles, provindo fogo de suporte, enquanto o tanque luta por si mesmo e aguenta a reação. VCI é um conceito contemporâneo muito bem adequado ao combate assimétrico contra pessoas, mais do que contra outros veícu- los. mas o armata é feito para ser páreo com os tanques: possui medidas de combate ativas – um canhão computadorizado que destrói projéteis inimigos no ar –, e blindagem reativa, que explode para contrabalançar a força de projéteis inimigos. é algo bem à frente de outros VCI, inclusive o bradley americano. Vinha sendo testado, aqui e ali, desde 2012. mas a primeira leva capaz de seguir diretamente para o campo de batalha foi produzida em 2015. se o objetivo era impressionar, deu certo: o t-15 tem 48 tone- ladas, autonomia de 550 quilômetros e capaci- dade para transportar um verdadeiro arsenal. seu layout fora do padrão, com motor na frente, garante a segurança dos ocupantes. contra o tio Sam? a superioridade tecnológica ameri- cana não é garantia de vitória. “o padrão de equivalência de armamentos para comparar forças é da segunda guerra e está defasado. no contexto atual, não é necessário ter equi- valência militar”, afir- ma o cientista político Juliano Cortinhas, da universidade de brasília. para efeitos comparativos, o cenário global voltou a ficar dividido. “es- tados unidos, China e rússia são as três maiores potências militares”, diz o pro- fessor. “em termos de tecnologia, armas atômicas e potencial para realizar ataques cibernéticos, eua, rússia e China estão bastante nivelados.” Parte2.indd 22 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o R ú s s i a 0 0 — 23 em março de 2018, sua Força Aérea ha- via matado 86 mil pessoas – segundo o governo de Moscou, todas ligadas, de alguma forma, aos grupos que fazem oposição ao governo. Ao todo, foram 39 mil missões no país, que destuíram 120 mil alvos. Com apoio russo, o governo local, que vinha perdendo o contole de parte expressiva do território sírio, recuperou uma série de áreas, incluindo Alepo e faixas de fronteira com Israel e Jordânia. Para garantr essa recuperação a Assad, Moscou enviou desde os tadicionais caças Su-25 até os bombardeiros Tu- polev-160 (também utlizados pela Ve- nezuela) e Su-34, o principal avião de ataque de longo alcance do país, que começou a ser desenvolvido na década de 1980, mas só entou em operação em 2014. Também foram utlizados helicóp- teros de ataque Mi-24, Mi-28N e Ka-52. Para dar suporte aos ataques aéreos, navios de guerra foram posicionados no Mar Mediterrâneo, a partr de onde dispararam mísseis de cruzeiro. Foi a maior movimentação da Marinha russa desde o fim da URSS. Contou com o porta-aviões Almirante Kuznetsov, que recebeu o suporte dos contra- torpedeiros da classe Udaloy e do cruzador Pyot Velikiy. No final de 2018, os EUA anunciaram que iriam começar a retrar suas topas da Síria, arrefecendo o conflito. Mas a ação russa ainda pode ser retomada. Acontece que a Guerra Civil Síria mo- vimentou outos dois atores expressivos da região. Depois que 20 foguetes foram disparados conta bases militares de Is- rael nas Colinas de Golã, em maio de 2018, os israelenses acusaram a Guarda Revolucionária, força de elite iraniana, de ter agido de dento do território sírio. Em retaliação, Israel atacou posições do governo sírio, o mesmo que conta com suporte militar ostensivo da Rússia. O Irã respondeu fazendo ameaças verbais. Mas uma escalada de violência envolven- do Síria e Irã, dois fortes aliados russos, conta Israel, parceiro de longa data dos Estados Unidos, pode levar a uma nova onda de ataques na região. CAÇADOR DE CABEÇAS drone pode deixar os inimigos sem comando. — enquanto lutava para se reor- ganizar militarmente, a rússia perdeu a largada na corrida para desenvolver os drones militares. passou os últimos dez anos ten- tando tirar o atraso, mas os resul- tados ainda são mais motivo de especulação do que de análise. o sukhoi “okhotnik” (expressão que significa “caçador”) parece ser uma aposta promissora. desenvolvido desde 2011, com o objetivo de ser uma arma de precisão, capaz de atingir alvos estratégicos em solo inimigo, de forma furtiva (stealth), sem ser detectado por radar. seu primei- ro teste de voo foi em maio de 2019, e nada foi dito a respeito de que tipo de equipamento pode levar. Tem as dimensões de um caça grande e parece ser controlado remotamente não do solo, mas de um caça também furtivo, o novíssimo sukhoi su- 57, que, como o drone, ainda não entrou em operação. Um combo letal por si só, e também uma revolucionária forma de lutar. acredita-se que o par deva servir para abrir caminho para o arse- nal mais tradicional, destruindo as defesas, radares e sistema de comunicação inimigos. Sukhoi “okhotnik” Veículo aéreo não tripulado de combate peSo vazio 20.000 kg Comprimento: 19,8 m envergadura: 13,95 m operadoreS: 2 veLoCidade mÁXima: 1.000 km/h armamento: desconhecido Foto: Divulgação Parte2.indd 23 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o R ú s s i a 0 0 24 — exércitos do mundo Antes veio a Ucrânia. Na península da Crimeia, a facilidade com que os russos agiram, em 2014, deixou todos os membros da Otan, a Organiza- ção do Tratado do Atlântco Norte, de cabelos arrepiados. Para tomar da Ucrânia a faixa de 27 mil quilôme- tos quadrados de terras localizadas em ponto estatégico, os russos mal precisaram utlizar seu poder de fogo. A invasão deixou a Europa apreen- siva. O contngente militar espalhado pela vasta fronteira com a Rússia sal- tou de 13 mil para 30 mil soldados, e a Otan organizou quato frentes de resistência a possíveis ataques vindo de Moscou. Em outbro de 2018, a organização realizou na Noruega o exercício militar Trident Junctre 18, o maior desde o fim da Guerra Fria, com 45 mil soldados de 31 países, cerca de 150 aviões, 60 navios e mais de 10 mil veículos. Nova corrida armamentista Não parece ser o suficiente. Está cla- ro que a Rússia se tornou, novamen- te, um grande e incômodo vizinho, principalmente para os países do Leste Europeu não alinhados a ela, como a Polônia e a República Tcheca, ambas membras da Otan. Em reação à mobilização na Noruega, Putn fez questão de demonstar seu poderio em Vostok, no extemo leste, quan- do realizou o maior exercício militar promovido pelos russos desde 1981. Para isso, utlizou de impressionantes 300 mil homens, mil aeronaves e 900 tanques. Enquanto isso, a Polônia so- licita que os Estados Unidos constu- am uma base em seu território, a fim de desestmular quaisquer possíveis projetos russos de, mais uma vez, con- tolar o país vizinho. Em toca, oferece um aporte inicial de US$ 2 bilhões. No início de 2018, Putn fez mais uma provocação em relação ao res- tante do continente. Ele começou a renomear diferentes regimentos, terrestes, aéreos e marítmos, com os nomes de localidades europeias, como Berlim, Varsóvia e Talim (capi- tal da Estônia). O argumento oficial é homenagear locais importantes para a história militar da Europa. Mas não faltou quem tenha visto nos nomes uma espécie de lista irônica de pos- síveis alvos para algum ataque num futro possível. Enquanto faz exercícios militares de peso e ameaças veladas de grande impacto propagandístco, Putn pre- para uma novíssima geração de armas e equipamentos (confira os destaques ao longo destas páginas). Ele taba- lha amparado por um acontecimento importantíssimo: no dia primeiro de fevereiro de 2019, os Estados Uni- dos de Donald Trump se retraram do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, conhecido pela sigla em inglês, INF. Apenas um dia depois, os russos também abandonaram o acordo. Acontece que o Tratado INF, assi- nado em dezembro de 1987, foi uma grande conquista dos líderes Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev,que t- veram que se encontar por tês vezes até chegar aos termos do acordo. Na época, o acordo garantu, de forma inédita, a destuição de mais de 2.600 mísseis capazes de alcançar ente 500 e 5.500 quilômetos. Os mísseis in- termediários cruzam uma distância menor que os de longo alcance, o que leva menos tempo. Com isso, não permitem que o inimigo possa revidar. E, assim, anulam o concei- to de Destuição Múta Assegurada. Pois agora, assim que os dois países se retraram do INF, teve início uma corrida armamentsta acelerada. Os americanos, que dizem ter aban- donado o acordo diante dos programas russos de desenvolvimento de armas de curto alcance, em especial os mís- seis 9M729, capazes de alcançar 2.600 quilômetos, rapidamente anunciaram que estavam tabalhando em novas armas nucleares e fecharam novos contatos para a constução de mís- seis. Por sua vez, Putn vem revelando, torpedo poseidon — Em 2015, os americanos identificaram os primeiros sinais de que os russos estavam desenvolvendo um torpedo nuclear. O primeiro teste, ainda bastante discreto, foi realizado no Oceano Ártico, em 2016. Medindo 24 metros, o Poseidon seria capaz de se mover a 185 km/h e detonar no mar ogivas em torno de incríveis 200 megatons (quatro vezes a potência do maior artefato nuclear já construído, a Tsar Bomba), causando um tsunâmi de até 100 metros, capaz de arrasar cidades costeiras. exoesqueleto armado — Todo mundo está desenvolvendo exoesqueletos robóticos, mas a Rússia pensa grande. O exoesqueleto desenvolvido pela empresa de nome quase impronunciável TsNiiTochMash permitirá ao soldado disparar com uma mão só. Já existe um protótipo do equipamento, formado de fibra de carbono e alimentado por um motor. O modelo está em fases iniciais de testes. Ele é feito para ser usado com o sistema de combate Ratnik (mais na pág. 21). material invisível — Serve para uniformes militares, mas também poderá ser adaptado para tanques: a empresa estatal Rostec está desenvolvendo um material invisível ao olho humano. Ele atua como uma cobertura de camuflagem, que emite as cores do ambiente – ou seja, ele assume o tom predominante à volta. Por enquanto, o material rendeu um capacete. O próximo passo é completar os uniformes dos militares e, eventualmente, tanques e outros veículos. armas do futuro Parte2.indd 24 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o R ú s s i a 0 0 — 25 NAVIO À MODA ANTIGA CONTRA OS pORTA-AviõeS. — para os russos, tamanho é documento. A obsessão em demonstrar a grandeza do país produzindo equipamentos de guerra gigantescos é visível neste projeto dos anos 1980, lançado ao mar em 1998 e ainda o maior navio de comba- te já visto – isto é, um navio que ataca por si mesmo e não por aviões, sucessor dos antigos encouraçados aposentados na Segunda Guerra, supostamen- te tornados obsoletos pelos porta-aviões. O petr velikiy (pedro, o Grande) é poderoso. Transporta muito peso, muita gente e muitas armas. e foi projetado para neutralizar justamente os porta-aviões americanos, que são a base de sua Marinha. É equipado com uma série de armas capazes de atingir submarinos, embarca- ções e aeronaves. É um navio que se presta bem à propagan- da também. Já foi utilizado em apresentações militares em diferentes países, da Turquia à venezuela. Mais recentemente, vem sendo utilizado no Mar do Norte. e chegou a ser condu- zido até o Mediterrâneo, para participar do suporte para as operações russas em território sírio. No caminho até lá, passou por águas britânicas, e foi es- coltado de perto pelo destróier inglês HMS Dragon. PETR VELIKIY Cruzador PEso 28.000 t ComPRImEnTo: 252 m LARGURA: 230 m ALTURA: 28,5 m VELoCIdAdE máxImA: 32 nós (59 km/h) ARmAmEnTo: mísseis antiaéreos, antissubmarinos e canhões duplos de 130 mm contnuamente, armamentos nucleares capazes de atngir os EUA. Apresentado em março de 2018, o míssil Avangard nem parece um míssil. Lembra mais um espaçoplano (como o aposentado Ônibus Espacial). Ele seria capaz de fazer um voo imprevisível, desviando-se das defesas antimíssil americanas e se dividindo em MIRVs (vide pág. 17), tornando inúteis todos os sistemas de defesa atais. Outo novo míssil russo, o RS-28 Sarmat, é feito para escapar da detecção. Decola de forma rá- pida demais para ser notado por satélites infravermelhos e lança suas ogivas em órbita baixa, evitando radares. Sucesso parcial O novo esforço militar da Rússia vem fazendo muito barulho, mas o país ainda está longe do poderio de seus maiores adversários. Os americanos contnuam à frente. Em muitas oca- siões, o dinheiro russo não é o sufi- ciente – o país precisou, por exemplo, revisar para baixo a previsão de desen- volvimento e aquisição de um lote de jatos Sukhoi T-50; iria levar 52, mas os custos no desenvolvimento e as dificuldades econômicas pelas quais o país atavessa fizeram a compra ser reduzida para 12 unidades. Além disso, o plano de comprar 2.300 tanques T-14 até 2020 está sendo revisto, enquanto que tanques antgos, datados das décadas de 1970 e 1980, são refor- mados para dar conta do recado pelos próximos anos. Os erros em testes de novos modelos de mísseis são recorren- tes – o caso mais famoso é o do míssil de combustível sólido Bulava, que em 2009 explodiu e provocou uma aurora boreal bizarra na Noruega. O modelo voltou para as pranchetas, apenas para cair no Oceano Ártco durante uma nova tentatva de lançamento em 2013. Os russos parecem andar mais deva- gar do que anunciam. Mas estão em pé, e se movimentando em todas as dire- ções possíveis, se adaptando ao inimigo. Por ora, como na primeira vez, a guerra contnua fria. Até quando? Parte2.indd 25 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o R ú s s i a 0 0 26 — exércitos do mundo A voz do drAgão superpotência em ascensão faz uso de seus vultosos números – em dinheiro e gente. Por Tiago Cordeiro Parte2.indd 26 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o c H I N A 0 0 — 27 2.183.000 efetivos 3.187 aeronaves 13.050 tanques 714 navios 1 porta- aviões 1.222 Caças 76 submarinos 1.564 bombardeiros /ataque a solo 290 armas nucleares ativas china PoPulação: 1,386 bilhão oRçaMENTo MIlITaR US$ 224 bilhões PRINCIPaIS alIadoS Cuba, Coreia do Norte, Paquistão, Venezuela PRINCIPaIS advERSáRIoS Japão, Coreia do Sul, Vietnã, Taiwan, Estados Unidos, Índia Parte2.indd 27 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o c H I N A 0 0 28 — exércitos do mundo o o que faz uma superpotência? Não basta muita gente, ou uma economia expressiva. É preciso levar sua influ- ência para os mais distantes pontos do globo. Por essa definição bastante tadicional, nos últmos dois séculos o mundo teve tês superpotências: pri- meiro o Império Britânico, depois os Estados Unidos e a União Soviétca. A China quer entar para esse clube. Para isso, sabe que precisa romper com a tadição de isolamento em relação ao resto do planeta. Uma forma de alcançar esse obje- tvo é ampliar a influência econômica – assim, Pequim está gastando US$ 5 tilhões na constução da chamada nova rota da seda, que, ao longo das próximas tês décadas, vai conectar o país à África e à Europa, passando por dezenas de países asiátcos, com por- tos, rodovias e ferrovias. Já inaugurou, por exemplo, uma estada de ferro que cobre a distância de 12 mil quilômetos de Yiwu até Londres. A China também vem desenvolvendo um projeto de lon- go prazo para o contole e a exploração do Ártco, aproveitando as novas rotas marítmas produzidas pela mudança climátca e o derretmento de geleiras. Mas não é o suficiente: é preciso tam- bém exercer contole geopolítco – sus- tentado pelo braço forte das armas. Para isso, a China está investndo, e muito, em quantdade e qualidade, com tdo o que existe de mais avançadoem termos tecnológicos. O país parece pronto, in- clusive, a ir para a guerra aberta, pela primeira vez em quato décadas – o últmo conflito em que Pequim se en- volveu foi conta o Vietnã, em 1979. Uma superpotência deve definir cla- ramente quem são, em cada recanto do mundo, seus aliados e inimigos. Para os chineses, algumas escolhas vão se formando: Pequim prefere a Rússia aos Estados Unidos, o Paquistão à Índia, e qualquer país ao Japão. Na África e na América do Sul, por enquanto, o foco é no domínio econômico, mas existe uma tendência clara, de, por exemplo, dar suporte à Venezuela. Na África, Burkina Faso, um tadicional aliado de Taiwan (mais sobre isso daqui a pouco), mudou de lado do dia para a noite em 2018. made in china Quando um país começa a investir pesado em todo tpo de novo equipa- mento, alguns modelos dão certo, ou- tos não. Veja o caso do míssil balístco Dong Feng 21. Ele viaja a dez vezes a velocidade do som, tem alcance de 2 mil quilômetos e foi projetado para destuir um porta-aviões de uma vez só. Tudo indica que os primeiros tes- tes foram bem-sucedidos. O objetvo é claro: mandar um aviso para qualquer potência que decida navegar pelos ma- res da Ásia, em especial o Mar do Sul da China, onde o país vem instalando bases de apoio para suas embarcações, em faixas de mar que são consideradas águas internacionais. Desde os tempos da Guerra Fria, a China tem adotado a polítca de copiar e melhorar. Nem sempre dá certo. Os chineses desenvolveram o jato J-11B com base no russo Sukhoi Su-27SK. Criaram o J-31 a partir do america- no F-35. Nenhum dos dois modelos se equipara ao original, mas o J-15 é ainda pior: constuído a partr de um protótpo do avião russo Su-33 com- prado da Ucrânia em 2001, ele é pesado demais, tem problemas com os sistemas de contole de voo e já caiu diversas vezes. A imprensa local, contolada pelo Estado, a princípio tecia elogios ao J-15, Chengdu J-10 Caça multifunção veloCidade máx. (maCh 2,2) 2.450 k Comprimento: 16,43 m envergadura: 9,75 m altura: 5,43 m peso vazio: 9,750 kg peso máximo: 12.400 kg armamento: canhão automático Gryazev- Shipunov GSh-23, mísseis, bombas Parte2.indd 28 11/07/19 17:46 E x é r c it o s d o m u n d o c H I N A 0 0 — 29 Nos anos 1980, a China pre- cisava responder à geração de jatos desenvolvidos por Rússia e Estados Unidos, como o Mikoyan MiG-29 e o F-16. O Chengdu J-10 entrou em fase de testes em 1998, começou a ser produzido só em 2002 e passou a ser utilizado com regularidade pela Aeronáutica do país em 2016. Cada mo- delo custa aproximadamente US$ 27 milhões e a produção ultrapassa as 400 unidades. Trata-se de um dos caças mais confiáveis já produzidos pela China, ainda que o modelo tenha clara influência de fora: seguindo a vasta tradição de copiar projetos de outros países, a empresa fabricante, a Chengdu, desenvolveu o modelo com características curiosamente parecidas com o projeto de jato militar israelen- se, o IAI Lavi. E o motor é russo: o Lyulka-Saturn AL-31FN foi es- colhido depois que a produção do concorrente local, o WS-10 Taihang, emperrou. A aerodinâmica é um tanto instável, mas o sistema de con- trole dá o suporte necessário ao piloto, que atua dentro de um cockpit com 360 graus de visibilidade e conta com três telas de cristal líquido e um display no capacete. avião eclético CAçA SE INSpIROU NOS dOIS LAdOS dA CORTINA dE FERRO. — km/h quase de graça — O equipamento de um soldado americano custa US$ 17.500. O de um chinês, US$ 1.523. O preço não é só por conta da mão de obra barata chinesa, mas por uma deficiência: soldados chineses não recebem proteção nenhuma. Nem colete. roupa Camuflada — Feita com tecido leve, que seca rápido e dá ampla liberdade de movimentos em combate. rifle de assalto qBz-95-1 — Ao lado de uma baioneta e seis granadas de mão WY-91, formam o arsenal básico carregado por um soldado chinês. Produzido desde 1997, utiliza munição 5,8 x 42 mm. o soldado chinês Foto: Divulgação Parte2.indd 29 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o c H I N A 0 0 30 — exércitos do mundo VT-4 Tanque principal de batalha peso 52 t ComprimenTo: 10,10 m AlTurA: 2,30 m lArgurA: 3,40 m TripulAção: 3 ArmAmenTo: canhão de 125 mm, estação de metralhadoras RWS 12,7 mm e 7,62 mm Vt-4 O tanque high- tech é baratO para prOduzir em massa. — capaz de rodar 500 quilômetros sem parar e de alcançar até 70 km/h, o Vt-4 foi desen- volvido a partir de 2009 e lançado em 2014. no aspecto geral, lembra o russo t-64, de proje- to bem antigo. mas, internamente, é um dos mais bem equipados do mercado – conta com um sistema de mira que utiliza uma câmera e infravermelho para identificar oponentes, principalmente no escu- ro, e garantir a precisão do tiro, seja contra alvos terrestres, seja contra helicópteros voando baixo. a mira tem seu melhor desempenho em distâncias de até 100 metros. O sistema interno de segurança, em especial o contro- le contra incêndios, é automatizado e se utiliza de uma rede de sensores que fazem a leitura do ambiente em tempo real. O veículo também conta com um sistema antiexplosão, o gL5, que reduz o impac- to de ataques vindos de outros tanques. pro- duzido pela companhia chinesa norinco e tam- bém conhecido como mbt3000, o tanque abriga um comandante, um motorista (ele conta com três periscópios que, somados, ampliam seu ângulo de visão) e um atirador. uma versão modificada e ar- mada com uma estação de armas na traseira serve como veículo de combate de infantaria. De que laDo estaria a China na terCeira Guerra? há dois anos, seria difícil dizer. neste momento, com o azedamento das relações com os eua por conta da guerra comercial, tende a ser a rússia. quem se sai- ria melhor? a consultoria militar rand corporation rodou testes, simulando dezenas de diferentes cenários de conflitos. na maior parte deles, a china e a rússia se mostravam capazes de neutralizar rapidamente a influência americana e japonesa em seus quintais – em especial o Leste europeu, no caso russo, e o sudeste asiático, no caso chinês. no báltico, outra derrota americana. e mais: a simulação mostrou que os mísseis de longo alcance russos e chineses seriam capazes de atingir o território americano com força, destruindo suas principais metrópoles e neutralizando seu sistema de comunicação, incluindo os satélites. Os estados unidos e seus aliados iniciariam o conflito em desvantagem. Parte2.indd 30 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o c H I N A 0 0 — 31 que chamava de “tbarão voador”. Mais recentemente, tem evitado o assunto. Em outas áreas, o progresso tem sido considerável. Uma Marinha po- derosa, em especial, é fundamental para levar o poderio militar do país para muito mais longe. O governo vem constuindo novas unidades de todos os portes e para todas as utlidades. Está produzindo pelo menos 20 corvetas Tipo 056, projetadas para patrulhar sua costa, principalmente ao Sul, com armas antnavios e antssubmarinos – também contam com baterias antaé- reas. Os quato mísseis antnavios que cada 056 carrega alcançam o dobro da velocidade do som nas proximidades do ponto de impacto, o que dificulta enormemente a reação do adversário. No campo da espionagem, os chi- neses já contam com nove navios da classe Dongdiao, que utlizam enormes radares que monitoram a movimenta- ção de armamentos e veículos. futuro chinês Mas é no terreno das novas armas, ul- tatecnológicas – a produção totalmente original –, que a China mais se destaca. O país vem dando um salto tecnológico enorme neste século. De 2000 a 2008, quadruplicou os registos de patentes, em todas as áreas (não só militares).Em 2014, havia alcançado o número extaordinário de 801 mil patentes, me- tade do total do planeta inteiro, conta apenas 285 mil dos americanos. Muitas dessas invenções têm aplicação militar. Por exemplo, o veículo supersônico pla- nador DF-ZF. Trata-se de um míssil de velocida- de inacreditável, até Mach 10, ou 12 mil quilômetos por hora. Ele poderia penetar os sistemas de defesa aérea dos Estados Unidos, retrando assim, dos americanos, uma de suas maiores vantagens estratégicas ao longo do século 20: o isolamento geográfico de seu território. Um DF-ZF já foi testa- do: lançado até o fim da atmosfera, a cerca de 100 quilômetos do solo, ele passou a planar e acelerar. Em tese, ele o drone do povo barato, faz sucesso no mundo árabe. — em 19 de abril de 2019, o grupo ansar allah do Iêmen publicou um vídeo. celebra- vam entusiasticamente sua vitória: haviam derrubado um drone chinês. a cele- bração não é sem motivo: haviam tirado do ar o que para eles é um assassino. o pterodáctilo chinês entrega. comparado ao recém-apo- sentado Predator americano, custa 1/4 do preço (us$ 1 milhão a unidade) e leva até 200 quilos de bombas, mísseis ou equipamento de espionagem. como o Pre- dator, é um drone chamado de média altitude e grande autonomia – isto é, mais ade- quado a ataques a solo, vo- ando abaixo da altitude das linhas comerciais (o drone o faz entre 3 mil e 9 mil metros de altitude, sendo que essas começam nos 10,5 mil), ao longo de muitas horas – até dois dias no ar sem voltar. Isso o fez muito popular entre países do oriente médio e do norte da áfrica, como a síria, a arábia saudita e o egito. o drone já foi utilizado para atingir alvos do estado Islâmico em terras sírias e iraquianas. em março de 2017, as forças egípcias con- seguiram matar 18 militantes da insurgência no sinai com seus drones chineses. Chengdu PterodaCtyl I Veículo aéreo de combate não tripulado enVergadura: 14 M oPeradores: 2 ComPrImento: 9,04 m enVergadura: 14 m Peso máxImo: 1.100 kg armamento: mísseis ar-ar, bombas FT-10, FT-9, FT-7, GB7 e GB4 e mísseis BRM1, AKD-10 VeloCIdade máxIma: 280 km/h Fotos: Divulgação Parte2.indd 31 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o c H I N A 0 0 32 — exércitos do mundo poderia seguir então para qualquer lugar do planeta, carregando armas convencionais ou nucleares, sem chances de reação a tempo por parte dos adversários. A velocidade extraordinária também é o segredo de um novo canhão, que utiliza energia ele- tromagnética para lançar projé- teis com mais precisão. Instalado em destróieres, ele poderia ser utilizado para atingir, a partir do mar, alvos distantes, com gran- de velocidade: 2,5 quilômetros por segundo contra um alvo a até 199 quilômetros de distân- cia. A tecnologia, que também vem sendo testada por russos e americanos, poderia inclusive, na teoria, substituir o uso de foguetes para lançar satélites ao espaço. Além disso, canhões com esse poder de fogo pode- riam derrubar satélites inimigos, atingindo seriamente sua capa- cidade de comunicação. Navios chineses com armas desse tipo já foram vistos, e fotografados, nos últimos meses – sinal de que os testes seguem a todo vapor. A BATALHA da internet Recentemente, a União Europeia anunciou que está se preparando para fazer um exercício militar bem diferente: teinamento para testar as defesas e a capacidade de reação a ciberataques vindos da Rússia e da China. Esse é um risco bastante concreto. Na estmatva dos especialistas da revista ame- ricana Foreign Policy, algo ente 50 mil e 100 mil chineses tabalham atvamente no desenvolvimento de um “exército hacker”. Ao que parece, alguns ataques já aconteceram, com sucesso. A China costuma negar seu en- volvimento, é claro, mas já foi acusada de invadir servidores de órgãos de governo e de se- gurança de Austrália, Canadá, Índia e Estados Unidos – onde, em 2010, o Google detectou uma ação que conseguiu roubar dados a respeito de novos projetos da companhia. “A discussão na China so- bre cyberataques começou em 1990”, afirma a pesquisadora Lyu Jinghua, do Carnegie’s Cyber Po- licy Initatve, em artgo sobre o tema. “Impressionada por como as Forças Armadas americanas se beneficiaram da aplicação de tec- nologias novas na Guerra do Golfo, a China começou a perceber que não existe, no cenário atal, for- ma de se defender adequadamente sem utlizar as novas tecnologias, especialmente as tecnologias da informação.” Desde então, os chineses vêm desenvolvendo verdadeiras ar- mas de ataque aos computadores de outos países. O país também investe em sua própria rede de computadores e conexões de in- ternet, para evitar a dependência do exterior. “A China costuma utlizar o termo ‘oito King Kon- gs’ para se referir às principais companhias responsáveis pela estrutura da internet nos EUA: Apple, Cisco, Google, IBM, Intel, Microsoft, Oracle e Qualcomm”, escreve Lyu Jinghua. O objetvo é, diz ela, reduzir essa dependên- cia e “garantr a segurança de sua própria informação estatégica, produzida por áreas crítcas”. Uma superpotência do século 21 também vai precisar alcançar o espaço, um domínio que, com coisas como o sistema de locali- zação por GPS e seus satélites se tornando fundamentais na guerra moderna, é cada dia mais estaté- gico, e pode acabar vendo, se não batalhas de humanos, ao menos de mísseis antssatélite. Nisso a China vem tabalhando pesado. Já enviou, em janeiro de 2019, a sonda Chang’e 4 até o lado oculto da Lua, um feito inédito para qualquer país que não os EUA e a União Soviética/Rús- sia. O equipamento pousou na SUPERBOMBA — Os chineses agora têm sua própria “Mãe de todas as bombas”, maior e mais poderosa do que o primeiro artefato que ganhou esse apelido, o GBU-43/B dos EUA. A fabricante de armas Norinco foi a responsável pelo projeto, que só perderia, em potência, para bombas nucleares. Ela teria entre 5 e 6 metros de comprimento e seria mais leve do que a versão americana, que pesa 9.800 quilos. A bomba ainda não foi batizada oficialmente, mas um vídeo promocional datado do final de 2018 indica que o armamento está pronto para ser acionado. MicRO-OndAS — Não é letal, mas não é algo pelo qual você gostaria de passsar. Um feixe de micro-ondas, na potência certa, é capaz de provocar dores horríveis no corpo todo, logo abaixo da pele. O governo chinês garante que esse é um projeto real, e que seria especialmente útil principalmente na ação contra o terrorismo. A princípio não deixa sequelas – assim que o aparelho é desligado, a vítima começa a voltar ao normal. Sua grande utilidade seria inviabilizar qualquer reação dos alvos. PORtA-AviõES nUclEARES — Parte do esforço de atualização da Marinha chinesa inclui o desenvolvimento de uma nova geração de porta-aviões, movidos por energia nuclear com catapultas eletromagnéticas para disparar as aeronaves. A iniciativa prevê a entrega de pelo menos seis desses novos modelos até o ano de 2035. Seria um salto qualitativo e quantitativo imenso, para um país que hoje tem apenas um porta-aviões ativo, o Liaoning, e um segundo em testes. ARMAS DO FUTURO Parte2.indd 32 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o c H I N A 0 0 — 33 um novo competidor parecido e páreo com os modelos adversários. — coerente com a meta de fazer frente ao poderio das embar- cações de guerra que os esta- dos Unidos mantêm circulando pelo mar do sul da china, o governo chinês está lançando para a água, com grande re- gularidade, seu mais impres- sionante artefato: o destróier Tipo 052d, um concorrente à altura da classe de destróieres americanos Us arleigh Burke, com os quais, aliás, se parece no aspecto exterior. o 052d é também um dos mais novos modelos produzidos em solo chinês – entrou em serviço em 2014e, desde então, já foram colocadas em operação 12 uni- dades. a embarcação utiliza um sistema avançado de rada- res, capaz de detectar dezenas de ameaças simultâneas, no ar e no mar, a uma boa distân- cia. conta também com dois lançadores, cada um capaz de disparar 32 armamentos de diferentes portes e calibres. e está preparado para transpor- tar um helicóptero, preferen- cialmente o transporte russo Kamov Ka-28 ou o modelo de ataque nativo Harbin Z-9c. a tripulação do destróier é de até 280 pessoas e a velocidade máxima, bastante expressiva, alcança os 55 quilômetros por hora. em números, é uma ame- aça à superioridade aeronaval americana. Tipo 052D Destróier peso 7.500 t Largura: 22 m ComprimenTo: 157 a 161 m aLTura: 17 m VeLoCiDaDe máxima: 30 nós (55 km/h) armamenTo: artilharia de 130 mm e 30 mm, mísseis terra-ar, terra- terra e antissubmarino, torpedos e lançadores de foguete ASW. maior e mais profunda cratera lunar, a chamada Bacia Polo Sul-Aitken. O Ocidente, em geral, celebrou os benefícios da conquista para a asto- nomia, mas percebeu também que a China está se tornando capaz de ex- plorar a Lua como base de apoio para saltos mais ousados. Em paralelo, o país também criou o Dong Feng-3, um míssil que, disparado a partr de um sistema de lançamentos KZ-11, seria capaz de aniquilar satélites americanos. A arma pode alcançar uma altra de 30 mil quilômetos a partr da superfície da Terra, o suficiente pa- ra atngir boa parte dos satélites em funcionamento. A China, aliás, é o segundo país com mais satélites de inteligência, vigilância e reconhecimento. Fica atás apenas dos Estados Unidos. Dos 120 artefatos desse tpo que Pequim já lançou ao espaço, metade são operados por militares. Os chineses estão ainda desenvolvendo protótpos de satélites blindados, que poderiam ser lançados conta outos e provocar danos. Ou seja, além de for- necer dados, esses equipamentos se- riam capazes de atngir artefatos dos concorrentes. É assim, apostando no poder ma- rítimo, nas armas ultratecnológicas de longo alcance e no controle do espaço que a China corre para che- gar à metade do século 21 como uma superpotência, capaz de dividir com os EUA (e talvez a Rússia) o destino do planeta. Parte2.indd 33 11/07/19 15:42 E x é r c it o s d o m u n d o c H I N A 0 0 34 — exércitos do mundo O RatO que Ruge 0 porta- aviões 30 armas nucleares ativas (incerto) CorEia do Norte PoPulação: 25,9 milhões oRçaMENTo MIlITaR: US$ 7,5 bilhões alIados China, Cuba, Madagascar, Zimbábue advERsáRIos Coreia do Sul, Japão, EUA 949 aeronaves 967 navios 458 caças 86 submarinos 498 bombardeiros /ataque a solo 1.280.000 efetivos 6.075 tanques Parte3.indd 34 11/07/19 15:35 E x é r c it o s d o m u n d o c o r e i a d o n o r t e 0 0 — 35 a A esquisitice começa pela estut- ra: tecnicamente, não existem Exército, Marinha e Aeronáutca norte-coreanos. O Exército do Povo da Coreia nem é um exército do país – é uma insttição do Partdo dos Trabalhadores da Coreia, que domina o país desde sua fundação em 1946. É dento desse exército – sob o comando direto do Supremo Líder King Jong-un, que por conta disso também tem o títlo de Marechal – que se lo- calizam cinco departamentos: Força Terreste, Marinha, Força Aérea, Força de Foguetes Estratégicos e Força de Operações Especiais. Em números absolutos, 1,280 milhão de atvos, é uma força respeitável – a quarta maior do mundo. Mas fica maior pondo em perspectva que, num país com menos de 26 milhões de pessoas, é 5% da população. Compare aos 0,16% do Brasil, 0,4% dos EUA ou 0,1% de Ín- dia e China. Fica ainda mais impressio- nante quando você considera as forças paramilitares, quase 6 milhões teina- dos e potencialmente capazes – como a Jovem Guarda Vermelha, universitários que são obrigados a um regime de tei- namento de quato horas por semana. No fim das contas, 25% da Coreia do Norte é militar ou paramilitar. E nem contamos os militares na reserva, que são mais de 6,3 milhões. Mas a vantagem para no pessoal. Pre- visivelmente, os equipamentos da Coreia do Norte são principalmente armas dos tempos da metade da Guerra Fria ou até antes. O país opera tanques soviétcos e chineses, inclusive 650 dos famosos T-34 soviéticos da Segunda Guerra. Mas também um número considerável de duas criações locais, o Chonma- -ho, atalização do T-62 soviétco, e o Pokpung-ho, uma amálgama de vários designs estangeiros - ninguém sabe o quão eficientes seriam na prátca. Os aviões também incluem algumas peças incrivelmente vintage, como o bombardeiro Ilyushin Il-28, que pri- meiro voou em 1948, e outas menos, como o MiG-29, de 1982. A Marinha é caso ainda mais crít- co. Com a Coreia do Norte tendo duas costas separadas pela Coreia do Sul, e sem acesso ao mar aberto, cada uma de suas duas alas simplesmente não poderia ajudar a outa em caso de guerra. Seus navios são antgos e lentos – a maioria do enorme número na página ao lado é de pequenas lanchas de patulha. arsenal de truques O trunfo real da Coreia do Norte é, já alvo de tantos embargos, nem ter a intenção de jogar “limpo”. Toda sua es- tatégia, em que pesem tantos soldados e tantas armas convencionais, é basea- da em guerrilha. Causar o maior dano ao invasor, a ponto de tornar o ataque inimigo politcamente insustentável. Autoridades dos EUA e Coreia do Sul afirmam que o país, mesmo tendo assinado o Protocolo de Genebra, que as proíbe, tem um arsenal considerável de armas químicas e biológicas. Um indí- cio disso teria sido o assassinato de Kim Jong-nam, o irmão mais velho do líder supremo, em 2017, com o agente ner- voso VX. E, ente muita especulação, surge até a exótca palavra “nano-armas” – o próprio Kim Jong-un acusou a CIA de tentar usar “nanoveneno” para as- sassiná-lo. Nanopartículas podem ser tóxicas sem causar reações químicas, causando dano físico, mais ou menos como amianto nos pulmões, só que mais rápido. A famosa “buckyball”, C-60, uma bolinha geodésica de car- bono, pode destuir células ao contato. Ficção científica? Que tal um fuzil laser? O “fuzil” ZM-87 tem mais de 20 anos. É uma criação chinesa dos anos 1990 e só é capaz de cegar, não cortar alguém em dois. Armas desse tpo são proibidas pelo Protocolo de Banimento de Armas Laser Cegantes da ONU, de 1995. Podem mutlar pilotos sem volta, mas também ser usadas para destuir sistemas de infravermelho. Outa arma exótca: torpedos huma- nos: com um mergulhador montado em cima, numa cadeira e exposto, são pilo- tados até o alvo. O mergulhador salta antes do impacto. Isso foi usado com sucesso na Segunda Guerra por italia- nos, alemães e ingleses. A história foi contada pelo dissidente Kang Myung Cheol, ao aparecer num barco de madei- ra na Coreia do Sul em 2010. Ele ainda falou que os pilotos são teinados para sobreviver em alto-mar por tês dias. Mas a cereja do bolo, é óbvio, são as armas nucleares. Apesar das ameaças e tentatvas desde o seu primeiro teste, em 2006, os líderes norte-coreanos sabem muito bem o quanto a sobrevivência de seu regime depende delas. Era então uma arma primitva, de primeira geração. Em 2017, fizeram um teste do que disseram ser uma bomba termonuclear, imensa- mente mais potente. Autoridades inter- nacionais, que avaliaram o resultado pelo abalo sísmico causado, não chegaram a um consenso se foi mesmo um artefato desse tpo. Tenham o que tenham, o míssil mais potente da Coreia do Norte, o Hwasong 15, supostamente é capaz de atngir Washington. É sob essa posição que as negocia- ções com o país ermitão estão andando. Em 30 de junho, Donald Trump se tor- nou o primeiro presidente americano a pisar no solo do país, junto com o presidente sul-coreano Moon Jae-in. O plano é desnuclearizar e integrar a Coreia do Norte. Mas o país irá aceitar abrir mão de seu único tunfo? País-ermitão é cheio de peculiaridades também em
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